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● Pergunta 1 ● 0 em 1 pontos ● Leia os diferentes depoimentos, cujas fontes foram omitidas propositadamente. Os testemunhos tratam da questão fundiária, seguidos de artigos da Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Depoimento 1 – proprietário de uma fazenda em Mato Grosso do Sul A minha propriedade foi conseguida com muito sacrifício pelos meus antepassados. Não admito invasão. Essa gente não sabe de nada. Estão sendo manipulados pelos comunistas. Minha resposta será à bala. Esse povo tem que saber que a Constituição do Brasil garante a propriedade privada. Além disso, se esse governo quiser as minhas terras para a reforma agrária, terá que pagar, em dinheiro, o valor que eu quero. Depoimento 2 – integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Sempre lutei muito. Minha família veio para a cidade porque fui despedido quando as máquinas chegaram lá na usina. Seu moço, acontece que eu sou um homem da terra. Olho pro céu, sei quando é tempo de plantar e de colher. Na cidade não fico mais. Eu quero um pedaço de terra, custe o que custar. Hoje eu sei que não sou sozinho. Aprendi que a terra tem um valor social. Ela é feita para produzir alimento. O que o homem come vem da terra. O que é duro é ver que aqueles que possuem muita terra e não dependem dela para sobreviver pouco se preocupam em produzir nela. Depoimento 3 – professor indígena kaiowá O que a gente sente é tristeza – me dizia [...] um professor indígena do tekoha Guaivyry. – Vocês chegaram aqui em cima dessa terra, dessa nossa casa, a gente chama tekoha porque quer ver ela demarcada. Ñande ypy tekoha [“nossa terra original”], ñanderamoi ñoñotyhague [“o lugar onde foram enterrados nossos antepassados”]. Cemitério é sinônimo de tekoha porque para o Kaiowá a morte tem significado! O branco não entende, essa é a essência do humano. A gente precisa da terra pra cuidar da morte, precisa lembrar do parente. Art. 184 – Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. Art. 231 – São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 13 jan. 2021. Em disputa de terras, em Mato Grosso do Sul (MS), três depoimentos foram destacados: o de um fazendeiro, o de um integrante de do MST e o de um professor indígena do coletivo kaiowá. A partir da leitura dos testemunhos e dos artigos da Constituição Federal, julgue os itens a seguir. I. A Constituição do país garante o direito à propriedade privada. Portanto, invadir terras e ocupá-las sem a devida observação desse preceito constitucional é crime, ferindo o direito de possuir propriedades e nelas empreender como assim o desejar. II. O MST é um movimento controlado por partidos políticos de esquerda cujo objetivo é a desestabilização do governo pela invasão de terras, em especial aquelas que contribuem, decididamente, pelo desenvolvimento econômico do país. III. As terras são fruto do árduo trabalho das famílias que a possuem, sendo passadas exclusivamente de geração para geração, principalmente aquelas que atendem à noção de função social da propriedade. IV. A intensa mecanização do campo, visando ao abastecimento dos mercados internacionais e o nacional, torna possível que um proprietário rural venha a se tornar um empresário do agronegócio, importante segmento econômico brasileiro e líder nas exportações. V. Para as populações indígenas, a terra não é algo que pode ser “possuído”, sendo um bem intransferível, completamente fora da lógica mercantilista Ocidental. Ela tem atributos sagrados e compõe parte da cosmologia que liga os vivos aos deuses e ancestrais. Nesse sentido, falar em propriedade, mesmo que voltada à subsistência de famílias camponesas, podendo vir a ser transferida em um documento de compra e venda, é uma noção estranha ao universo coletivista de várias etnias indígenas. Está correto o que se afirma em: Resposta Selecionada: Apenas I e V. Resposta Correta: I, IV e V. Comen tári o da res post a: Resposta incorreta: toda terra no nosso país deve atender ao dispositivo constitucional, que objetiva torná-la uma propriedade privada. Existem terras passadas por herança, mas essa não é a única forma de se aquisição. Além disso, as terras herdadas não atendem unicamente à função social da propriedade. Os movimentos sociais que lutam pela reforma agrária no nosso país, em especial o MST, não constituem em braço de ação social de partidos de esquerda, embora algumas campanhas políticas declarem abertamente apoiar algumas iniciativas. O objetivo do movimento é a luta pela terra, que deve ser democratizada e atender a interesses sociais da maioria dos brasileiros, voltada à produção agrícola que satisfaça o mercado interno e os interesses dos pequenos proprietários rurais. ● Pergunta 2 ● 1 em 1 pontos ● Leia a seguir duas afirmações do Barão de Montesquieu (1689-1755) a respeito da escravidão, extraídas de seu livro O espírito das leis: “[...] A escravidão não é boa por natureza; não é útil nem ao senhor, nem ao escravo: a este porque nada pode fazer por virtude; àquele, porque contrai com seus escravos toda sorte de maus hábitos e se acostuma insensivelmente a faltar contra todas as virtudes morais: torna-se orgulhoso, brusco, duro, colérico, voluptuoso, cruel.” “[...] Se eu tivesse que defender o direito que tivemos de tornar escravos os negros, eis o que eu diria: tendo os povos da Europa exterminado os da América, tiveram que escravizar os da África para utilizá-los para abrir tantas terras. O açúcar seria muito caro se não fizéssemos que escravos cultivassem a planta que o produz.” (MONTESQUIEU, 1997) MONTESQUIEU. O espírito das leis. São Paulo: Nova Cultural, 1997. Agora, analise as afirmações a seguir. I. A despeito de um amplo e poderoso fundamento moral e ético, alguns valores são desconsiderados em razão da influência e do poder econômico, relativizando as experiências humanas que desqualifica ao mesmo tempo que explora. II. O convívio com os europeus foi positivo tanto para as populações indígenas quanto para os segmentos afrodiaspóricos. Esse relacionamento atualizou suas civilizações na história da humanidade, tornando-as parte significativa dos principais eventos da principal civilização do globo, a europeia, e seu esforço de propagar os valores humanos por todo o planeta. III. A escravidão indígena, amplamente praticada entre os séculos XVI e XVIII, e a africana, comum a todo o período colonial e no Império, eram indefensáveis do ponto de vista filosófico, restando argumentos econômicos para sua relativização e aceitação, mesmo no alvorecer do século das luzes. IV. Os desígnios econômicos das nações surgidas do colonialismo, tanto na Europa como nas Américas, a partir do fim do século XVIII e no XIX, justificavam a contínua servidão de descendentes das populações ameríndias e a escravidão de africanos e seus descendentes, abrindo amplas possibilidades para uma cruel exploração do homem por seu semelhante. V. O preconceito e o racismo contra membros de coletividades indígenas ou descendentes afrodiaspóricos foi controlada, até os nossos dias, pela moral religiosa e pelas discussões filosóficas, em especial aquelas do Iluminismo sobre a natureza de todos os seres humanos, independentemente se estes nasceram sob o jugo da escravidão ou vivenciarem sua “liberdade natural”. Está correto o que seafirma em: Resposta Selecionada: I, III e IV. Resposta Correta: I, III e IV. Coment ário da resp osta : Resposta correta: independentemente dos valores que surgiram com o Iluminismo, os quais, com as revoluções burguesas, seriam a base jurídica das novas nações do Ocidente, os fundamentos morais e éticos eram reconhecidamente escamoteados diante das prerrogativas econômicas, o que terminava por justificar a servidão e a tutela indígenas e a contínua escravidão africana e de seus descendentes. ● Pergunta 3 ● 1 em 1 pontos ● As organizações não governamentais (ONGs), articuladas a outras entidades, como sindicatos e comunidades eclesiais com base na Igreja Católica, realizam inúmeros tipos de atividades e ações. Analise as afirmações a seguir, que tratam dessas organizações. I. Pressionam governos, instituições e empresas na função de agentes mediadores; interagem com a opinião pública, intermedeiam discussões e atuam na divulgação de conhecimento científico nas áreas em que trabalham. II. Constituem parte do chamado terceiro setor, agindo tanto como fiscais das atividades do Estado e como da iniciativa privada. Na área indigenista, atuam na promoção do debate acerca dos coletivos indígenas, de sua diversidade e de sua inestimável importância enquanto atores sociais portadores de direitos específicos – entre eles, o direito à diferença e às suas territorialidades ancestrais. III. Agem de forma participativa no quadro político mundial pressionando empresas e Estado em prol de seus objetivos específicos. Atuam, por exemplo, nas áreas de patrimônios ecológicos, direitos da criança, educação e pesquisa, defesa das populações vulneráveis, divulgação da ciência e da tecnologia etc. IV. Com fins lucrativos, voltam-se ao desenvolvimento socioeconômico, político e ou cultural dos grupos que as organizam, esquecendo-se das populações que pretendem atender. Está correto o que se afirma em: Resposta Selecionada: I, II e III. Resposta Correta: I, II e III. Comen tári o da res post a: Resposta correta: as ONGs, parte do universo do terceiro setor, são entidades sem fins lucrativos voltadas ao atendimento, execução e prestação de serviços em áreas de interesse público, mas sem a efetiva participação do Estado. Elas revelam uma importante atuação da sociedade civil organizada em prol dos mais variados interesses públicos e sociais. No caso das entidades indigenistas, elas atuam como interlocutoras, assessoras jurídicas e promotoras de suas causas, de modo a levar ao conhecimento público os dilemas e desafios que acometem os mais diferentes povos indígenas brasileiros. Também operam como entidades que pressionam governos e empresas a desenvolverem atividades mais responsáveis frente à comunidade, com o uso consciente dos recursos e pensando no desenvolvimento sustentável das populações vulneráveis. ● Pergunta 4 ● 1 em 1 pontos ● No início do século XIX, o naturalista e médico alemão Carl von Martius (1794-1868) viajava pelo Brasil recém-independente. Em suas viagens, ele observou a fauna e a flora brasileiras e, como era de costume naquele século, realizou observações sobre das populações indígenas com as quais se deparou. Refletindo a respeito o homem americano original, von Martius afirmara: Permanecendo em grau inferior de humanidade, moralmente, ainda na infância, a civilização não o altera, nenhum exemplo o excita e nada o impulsiona para um nobre desenvolvimento progressivo [...]. Esse estranho e inexplicável estado do indígena americano, até o presente, tem feito fracassarem todas as tentativas para conciliá-lo inteiramente com a Europa vencedora e torná-lo um cidadão satisfeito e feliz. (VON MARTIUS, 1982, p. 20) MARTIUS, C. von. O estado do direito entre os autóctones do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1982. Com base na reflexão de von Martius a respeito das populações indígenas brasileiras no século XIX, é correto afirmar que o médico: Respost a Selec ionad a: entendia que as populações indígenas tinham uma história que era impossível determinar, dado o seu estado selvagem e bruto, e desconsiderava os diferentes patrimônios étnicos-culturais dessas sociedades, reforçando a ideia da inevitabilidade de sua extinção e a importância da missão civilizatória europeia em deter, ao menos em parte, tal processo. Respost a Corre ta: entendia que as populações indígenas tinham uma história que era impossível determinar, dado o seu estado selvagem e bruto, e desconsiderava os diferentes patrimônios étnicos-culturais dessas sociedades, reforçando a ideia da inevitabilidade de sua extinção e a importância da missão civilizatória europeia em deter, ao menos em parte, tal processo. Comen tário da resp osta : Resposta correta: Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) era um cientista de sua época. Seguidor da taxonomia de Lineu, acreditava na diferença entre as “raças” humanas, entendo-as em um processo hierárquico no qual as populações nativas americanas ocupavam a base de uma longa jornada. Todavia, diferentemente de outros povos, dada a violência da conquista americana, Martius também percebera ser impossível entender a origem do homem americano e acreditava em sua inevitável extinção. ● Pergunta 5 ● 1 em 1 pontos ● Leia o texto a seguir, acerca do impacto das atividades do garimpo ilegal nas terras dos yanomami do fim dos anos de 1970 até a década de 1990. “[...] Tuberculose, malária e, menos dramática, mas inexorável, oncocercose, são doenças que mutilam ou matam, destroçando o equilíbrio demográfico de regiões inteiras. Por essas ondas de choque a tragédia yanomami ampliava-se a cada nova pista, a cada novo barranco, a cada novo acampamento garimpeiro. Não há comunidades imunes, nem as que ficam do outro lado da fronteira, em solo venezuelano. Com um efeito de metástase, o impacto da atividade garimpeira corrói artérias, veias e capilares da grande cadeia orgânica que é a sociedade yanomami. Nos dois primeiros anos de atividade garimpeira, estima-se que cerca de mil e quinhentos, ou 12,5% da população yanomami estimada no Brasil, morreram em consequência imediata da corrida do ouro. Se pensarmos em termos de proporção, isso equivale a cerca de 14,4 milhões de brasileiros, ou seja, uma hecatombe nacional. E hecatombe foi exatamente o que viveram os yanomami no Brasil nas vésperas do século XXI.” (RAMOS, 2008, p. 113) RAMOS, A. R. O paraíso ameaçado: sabedoria yanomami versus insensatez predatória. Antípoda: Revista de Antropologia & Arqueologia, Bogotá-Colômbia, n. 7, jul.-dez. 2008. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttex t&pid=S1900-54072008000200006&lng=en&nrm=is o. Acesso em: 12 jan. 2021. Agora, analise as afirmações a seguir. I. A destruição dos modos de vida de um povo, incapacitando sua relação com seu território, com profundos impactos sobre seu ser cultural, é etnocídio, tal qual definido pelo antropólogo Pierre Clastres em suas discussões a respeito de coletivos indígenas sul-americanos diante da forma de organização política predominante no Ocidente, o Estado. II. A invasão sistemática de terras indígenas, mesmo aquelas já devidamente reconhecidas e http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1900-54072008000200006&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1900-54072008000200006&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1900-54072008000200006&lng=en&nrm=iso demarcadas, por setores da sociedade nacional mais abrangente revela a fragilidade das políticas públicas indigenistas e ambientais, deixando, por assim dizer, um “espaço vazio” na atuação de um sem-número de atores sociais. Quer propositadamente, quer inadvertidamente, essa falta de cuidado contribui para a disseminação de doenças, muitas delas letais para as populações indígenas, tal qual ocorrera nas antigas reduções dos padres jesuítas e de outros religiosos nos séculos XVI e XVII. III. As guerras de extermínio e de escravidão ficaram no turbulento passado dospovos indígenas e de sua história de relacionamento com o processo de expansão da civilização Ocidental. IV. Os setores que atuam nessas frentes de expansão, seja em áreas indígenas ou em outros territórios, geralmente precários e vulneráveis, terminam, inadvertidamente, contribuindo para o conflito e a morte de indígenas. Todavia, tais setores têm pouca relação com grandes empresas e os circuitos mais “modernos” do capitalismo global, sendo considerados ‘párias’ em relação às atividades econômicas e interesses hegemônicos desse sistema globalizado. V. A ação do Estado nacional brasileiro diante da violência contra populações indígenas, envolvendo os mais diferentes atores sociais, oscila entre o ambíguo, o desestruturado e a omissão pura e simples, sendo parte integrante da continuidade do genocídio e do etnocídio dos coletivos indígenas em nosso país. Está correto o que se afirma em: Resposta Selecionada: I, II e V. Resposta Correta: I, II e V. Coment ário da resp osta : Resposta correta: a violência da qual os coletivos indígenas são alvo mostra a sistemática ausência do Estado brasileiro, de todos os poderes e níveis da federação. Essa falta de cuidado, ambígua e desestruturada, também pode ser vista como omissão diante das agressões de inúmeros setores, desde empresas sediadas no exterior até as que atendem ao agronegócio, de atividades extrativistas ilegais a lobbies de conglomerados interessados na exportação de commodities e matérias-primas, chaves para a economia capitalista globalizada. ● Pergunta 6 ● 1 em 1 pontos ● Atualmente, há diversas polêmicas em relação à demarcação de territórios indígenas. Novos instrumentos legais trouxeram insegurança jurídica no tratamento da temática indígena no que diz respeito ao reconhecimento, demarcação e homologação de suas terras. É correto afirmar que: Respost a Selec ionad a: a Constituição Federal, por meio do entendimento de que as terras tradicionalmente ocupadas e pleiteadas pelas populações indígenas são imprescindíveis à continuidade de seu modo de vida, define os processos de delimitação dos territórios, necessários à reprodução física e cultural nos marcos da própria Constituição. Respost a Corre ta: a Constituição Federal, por meio do entendimento de que as terras tradicionalmente ocupadas e pleiteadas pelas populações indígenas são imprescindíveis à continuidade de seu modo de vida, define os processos de delimitação dos territórios, necessários à reprodução física e cultural nos marcos da própria Constituição. Comen tário da resp osta : Resposta correta: independentemente de qualquer ação no Supremo Tribunal Federal (o chamado “marco temporal”, por exemplo), o que orienta a legislação indigenista é a Constituição Federal, que, nos artigos 231 e 232, reconhece as especificidades e necessidades das populações indígenas, inclusive estabelecendo diferentes atores sociais – do poder público, da sociedade civil organizada e das populações indígenas – como proponentes de ações que visam ao reconhecimento e à efetiva demarcação de terras indígenas. ● Pergunta 7 ● 1 em 1 pontos ● Leia o trecho a seguir. “[...] Entre os Guarani-mbya foi possível observar que a relação que estabelecem entre ambiente e espaço está intimamente ligada a categorias e conceitos específicos implicados com uma dinâmica de controle social e apreensão territorial que extrapola os limites físicos das aldeias e mesmo de um complexo regional geográfico. Pesquisas localizadas em algumas aldeias ou regiões, abrangendo aspectos econômicos, fundiários e culturais relativos aos grupos locais Guarani, têm sido produzidas. Mas, para verificar como os Guarani, enquanto sociedade, operam suas concepções geográficas e espaciais, é preciso observar como eles pensam e exercem sua ocupação em áreas e circunstâncias diversas. Especialmente no caso dos Guaranimbya, porque os grupos familiares que vão se compondo vão agregando pessoas de regiões, de origens e de vivências diversas, as quais ampliam suas reflexões a partir das condições locais de existência. Portanto, foram realizados levantamentos em aldeias e regiões de aspectos relativos ao meio físico e social diversificados, a fim de observar como as comunidades compõem seu espaço e se constituem em tekoa (aldeias) – lugar onde podem realizar seu modo de ser. (LADEIRA, 2008, p. 24) LADEIRA, M. I. Espaço geográfico guarani-mbyá: significado, constituição e uso. São Paulo: Eduem/Edusp, 2008. Tendo como base seus conhecimentos e nossas discussões, assinale a alternativa correta em relação aos coletivos guarani Ñandeva e Mbyá, localizados no litoral paulista, no Parque do Jaraguá e na Zona Sul do município de São Paulo. I. Não há nenhuma ligação mística-cosmogônica entre os guaranis do litoral de São Paulo e os remanescentes da Mata Atlântica e da Serra do Mar, sendo que tais populações ali se encontram por força de aldeamentos que ocorreram sob a supervisão de autoridades civis e eclesiásticas desde os tempos coloniais. II. As populações ou coletivos guaranis são “índios estrangeiros”, oriundos das nações vizinhas, que objetivam ganhos materiais dada a legislação indígena brasileira, a mais avançada da região. III. No litoral paulista e em outras regiões onde há tekoás ou tekoha guarani, há uma íntima ligação entre os seres humanos, os territórios sagrados e sua incessante busca pela Terra sem males. IV. Há uma relação profunda entre as matas remanescentes da Mata Atlântica, a Serra do Mar e o litoral paulista, onde os guaranis buscam exercer seu nhandereko ou modo de vida. Está correto o que se afirma em: Resposta Selecionada: III e IV. Resposta Correta: III e IV. Coment ário da resp osta : Resposta correta: Yvy marãey, a Terra sem males, é um tema recorrente na cosmovisão guarani. Essa ideia promove parte significativa dos movimentos populacionais e o estabelecimento de comunidades desde o fim do século XIX no litoral paulista, onde a Serra do Mar e a floresta litorânea remanescente, a Mata Atlântica, compõem parte importantíssima de sua relação sagrada com os ancestrais e a vida na Terra. ● Pergunta 8 ● 0 em 1 pontos ● Considere a definição de um dos mais importantes conceitos das ciências humanas e sociais, a noção de cultura, presente na obra Cultura, um conceito antropológico, de Roque de Barros Laraia (2001). Agora, analise as afirmações a seguir. I. A cultura, um fenômeno humano, está presente nas mais diferentes sociedades no tempo e no espaço. É impossível para os demais seres vivos animais desenvolver a faculdade de simbolizar e transmitir esses símbolos com a mesma complexidade e diversidade com que o fazem os diferentes seres humanos. II. A cultura é um fenômeno variado nas diversas sociedades humanas, daí sua principal característica: sua diversidade. Seu grau de originalidade e de síntese, com sua consequente pluralidade, depende da forma como foi elaborada e recriada, ao longo do tempo e do espaço, em diferentes sociedades, naquilo que chamamos de ação do homem em transformar a natureza (ação antrópica). III. A cultura é um fenômeno que varia conforme o favorecimento de características biológicas e geográficas, que determinam, por assim dizer, diferentes sociedades e etnias. Desse modo, a diversidade cultural e a existência de culturas superiores e inferiores dependem da maior capacidade de simbolizar e internalizar o meio ambiente por meio da capacidade criadora da espécie humana. IV. A cultura, mesmo sendo universal, manifesta-se em cada sociedade de maneira particular, sendo constituída por sistemas simbólicos que variam. Todavia, esse sistema simbólico universal – e, em sua manifestação, diverso –ocorre em um ser vivo dotado de unidade biológica, o gênero homo sapiens sapiens. Por isso, ao nascer, todo ser humano está biologicamente apto para ser socializado em qualquer cultura humana, não importando se o seu processo de socialização tenha sido iniciado em uma sociedade ameríndia, africana ou no Ocidente. Estão corretas: Resposta Selecionada: III e IV. RespostaCorreta: I, II e IV. Comen tário da resp osta : Resposta incorreta: os fenômenos culturais não são decorrentes de características genéticas ou biológicas de qualquer natureza, tampouco são transmitidos pelo “sangue”, sendo mais fruto de aprendizagem e contínuo condicionamento dentro de um universo simbólico de prescrições inerentes a qualquer grupo humano. A diversidade cultural é a forma como esses elementos simbólicos se materializam nos diferentes espaços que os homens transformam por meio de seu trabalho, ou ainda, de forma diversa ao longo da história das diferentes sociedades humanas. ● Pergunta 9 ● 0 em 1 pontos ● Observe a imagem a seguir. Trata-se de um selo comemorativo emitido nos anos 1970 pelo governo militar do Brasil. Fonte: spatuletail, Shutterstock, 2021. A partir da observação dos elementos do selo e de seus conhecimentos a respeito da temática indígena em nosso país, pode-se afirmar que a comemoração em função da qual o selo foi emitido tem relação com: Resposta Seleci onada : o fato de que os militares estão comemorando o Dia do Índio, com destaque à etnia yanomami, uma das principais guardiãs das fronteiras brasileiras com países limítrofes. Resposta Corret a: o fato de que os militares brasileiros comemoravam o país que “ia para frente”, que se desenvolvia e deixava para trás seu passado colonial. Comen tário da resp osta : Resposta incorreta: não havia, na concepção militar e autoritária do país, a exaltação da sociodiversidade brasileira e a defesa dos territórios ancestrais indígenas. Sua demarcação e gestão autônoma só foram garantidas, na forma da lei, pela Constituição de 1988, com a redemocratização de nosso país. A comemoração do dia do índio ou de qualquer outra festividade cívica com essa característica (como o 13 de maio) só ocorria de forma genérica e exaltando os valores da mestiçagem e da “democracia racial”, bases da construção de um imaginário nacional autoritário e hierárquico. ● Pergunta 10 ● 0 em 1 pontos ● Em 1906, há a criação do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, o MAIC. Naquela época, foi idealizada a criação de um serviço, dentro desse ministério, que contemplasse a temática dos autóctones ou silvícolas, como eram chamadas as populações indígenas naquele momento. O objetivo era retirar de agentes privados e das missões religiosas a prerrogativa do contato, assimilação e gestão dessas populações pelo Estado nacional. Diante das discussões a respeito das possibilidades de assimilação e civilização dos indígenas, surgiu uma figura paradigmática na história do indigenismo oficial brasileiro, o Marechal Cândido Rondon. O órgão criado e a ação indigenista naquele momento foram definidos como: Respost a Selec ionad a: Serviço de Proteção ao Índio (SPI), atual Funai, que objetivava a pacificação dos “índios bravos” e sua miscigenação com outras populações indígenas já aculturadas e suficientemente assimiladas que viviam junto à civilização. Respost a Corre ta: Serviço de Proteção ao Índio (SPI), atual Funai, cujo objetivo era fixar o indígena à terra e protegê-lo com o trabalho agrícola, de maneira a aumentar as possibilidades de sua inserção na civilização. Comen tári o da res pos ta: Resposta incorreta: embora houvesse inúmeras tendências de que o indígena fosse utilizado como “guardiães” das fronteiras nacionais, nenhum desses projetos foi realizado, pois se pensava que por meio do trabalho – em especial, o agrícola – fosse possível a progressiva incorporação do indígena na sociedade, em um processo que o faria abandonar seus hábitos selvagens e tribais por meio da valorização de seu trabalho. Naquele momento, não havia a percepção de que as populações indígenas compusessem uma experiência civilizacional humana distinta daquela observada no Ocidente e nas regiões que o europeu colonizou, tampouco que essas populações deveriam ser protegidas e, ao mesmo tempo, deixadas em territórios onde pudessem perpetuar seu antigo modo de vida, sua língua – enfim, sua cultura –, uma vez que havia a nítida ideia de que esses costumes seriam inferiores aos da sociedade brasileira.
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