Prévia do material em texto
Bévena Rodrigues Lopes Psicopatologia A consciência e suas alterações Definições básicas Podemos definir a consciência em 3 acepções diferentes. A definição neuropsicológica emprega o termo “consciência” no sentido de estado vígil (vigilância). Já a definição psicológica a conceitua como a soma total das experiências conscientes de um indivíduo em determinado momento. Por fim, a definição ético-filosófica o termo “consciência” refere-se à capacidade de tomar ciência dos deveres éticos e assumir as responsabilidades, os direitos e os deveres concernentes a essa ética Neuropsicologia da consciência O nível de consciência é o continuum de sensibilidade e alerta do organismo perante os estímulos, tanto internos como externos. As principais características e propriedades do nível de consciência são: 1. O nível de consciência facilita a interação da pessoa com o ambiente de forma adequada ao contexto no qual o sujeito está inserido 2. O nível de consciência adequado pode ser evocado tanto por estímulos externos ambientais como por estímulos internos, como pensamentos, emoções, recordações. 3. O nível de consciência pode ser modulado tanto pelas características dos estímulos externos como pela motivação que o estímulo implica para o indivíduo em questão. 4. O nível de consciência varia ao longo de um continuum que inclui desde o estado total de alerta, passando por níveis de redução da consciência até os estados de sono (variação normal) ou coma (variação patológica). Campo da consciência O INCONSCIENTE Para Freud existem duas classes de inconscientes, o verdadeiro e o pré-inconsciente. O inconsciente verdadeiro é inacessível a evocação voluntaria, só temos acesso por meio de técnicas especiais (hipnose, psicanalise, etc.) Já o pré-consciente é composto por representações, ideias e sentimentos suscetíveis de recuperação por meio de esforço voluntário Características funcionais do inconsciente • Atemporalidade – no inconsciente não existe tempo • Isenção de contradição – tudo é absolutamente certo, afirmativo • Princípio do prazer – visa evitar o desprazer e proporcional o prazer independente de ética ou realidade • Processo primário - uma ideia pode ceder a outra toda sua cota de energia (processo de deslocamento) ou apropriar-se de toda a energia de várias outras (processo de condensação). O inconsciente é dinâmico Alterações normais da consciência RITMOS CIRCADIANOS Os ritmos circadianos são oscilações endógenas autossustentadas do ritmo biológico no período de um dia de 24 horas Propriedades dos ritmos circadianos: 1. São sincronizados por pistas ambientais recorrentes como luminosidade 2. Permitem respostas eficientes para com o ambiente Bévena Rodrigues Lopes 3. Modulam a homeostase interna do cérebro 4. Se expressam em vários níveis do funcionamento do organismo SONO Sono e vigília é definido como estados comportamentais endógenos e recorrentes que expressam mudanças dinâmicas na organização da função cerebral e que otimizam aspectos como fisiologia, comportamento e saúde Características do sono 1. Estado reversível, expresso pela postura do repouso 2. Arquitetura neurofisiológica complexa 3. A duração e intensidade dos seus períodos afetam mecanismos de regulação homeostática 4. Efeitos restauradores Dividem-se as fases do sono em duas: o sono sincronizado, sem movimentos oculares rápidos (sono não REM), e o sono dessincronizado, com movimentos oculares rápidos – rapid eye movements (sono REM) Durante o sono não REM é dividido em 4 estágios • Estagio 1 – leve e superficial, atividade regular do EEG, de 4-6 ciclos por segundo • Estagio 2 – menos superficial, traçado do EEG com aspecto fusiforme, de 13-15 ciclos por segundo • Estagio 3 – sono mais profundo, EEG mais letificado, com ondas delta, atividade de 0,5-2,5 ciclos • Estagio 4 – sono mais profundo, predomínio de ondas delta e traçado letificado O sono REM não se encaixa em nenhuma dessas quatro fases citadas a cima. Há padrão de movimento oculares rápidos conjugados (movimentos oculares sacádicos), juntamente com relaxamento muscular, interrompido esporadicamente por contrações de pequenos grupos musculares, como os dos olhos O SONHO O sonho, fenômeno associado ao sono, pode ser considerado uma alteração normal da consciência. Freud afirmou que o trabalho do sono transforma os conteúdos latentes (inconscientes) do sonho original em conteúdos manifestos (conscientes) do sonho lembrado. Isso se dá por meio da condensação, deslocamento, e da figurabilidade Alterações patológicas da consciência ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS QUANTITATIVAS DA CONSCIÊNCIA Os diversos graus de rebaixamento de consciência são: 1º. Grau – obnubilação - turvação da consciência ou sonolência patológica leve. O indivíduo diminui a atenção para as solicitações externas, dirigindo-se para a sonolência 2º. Grau – torpor - O paciente está evidentemente sonolento; responde ao ser chamado apenas de forma enérgica e, depois, volta ao estado de sonolência evidente 3º. Grau – sopor - é um estado de marcante e profunda turvação da consciência, de sonolência intensa, da qual o indivíduo pode ser despertado apenas por um tempo muito curto, por estímulos muito enérgicos, do nível de uma dor intensa. 4º. Grau – coma - é a perda completa da consciência, não é possível qualquer atividade voluntária consciente PERDAS ABRUPTAS DA CONSCIÊNCIA Tal perda pode ser causada por fatores emocionais, neurofuncionais ou orgânicos de diversas naturezas. Lipotimia – perda parcial e rápida da consciência (dura segundos). A pessoa tem a sensação que vai desmaiar. É rápida e reversível Sincope – se caracteriza por perda abrupta e completa da consciência, juntamente com perda total do tônus muscular, pode ou não ser reversível Bévena Rodrigues Lopes SÍNDROMES PSICOPATOLÓGICAS ASSOCIADAS AO REBAIXAMENTO PROLONGADO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA Delirium é o termo atual mais adequado para designar a maior parte das síndromes confusionais agudas O delirium diz respeito, portanto, aos vários quadros com rebaixamento leve a moderado do nível de consciência, acompanhados de desorientação temporoespacial, dificuldade de concentração, perplexidade, ansiedade em graus variáveis, agitação ou lentificação psicomotora, discurso ilógico e confuso e ilusões e/ou alucinações, quase sempre visuais. Trata-se de um quadro que oscila muito ao longo do dia. Não se deve confundir delirium (quadro sindrômico causado por alteração do nível de consciência, em pacientes com distúrbios cerebrais agudos) com o termo “delírio” (ideia delirante; alteração do juízo de realidade encontrada principalmente em psicóticos esquizofrênicos ou em outras psicoses). Outras síndromes com rebaixamento prolongado do nível de consciência próximas ao delirium Estado onírico ou oniroide - alteração da consciência na qual, paralelamente à turvação da consciência, o indivíduo entra em um estado semelhante a um sonho muito vívido. O doente manifesta esse estado onírico angustioso gritando, movimentandose, debatendo-se na cama e apresentando, às vezes, sudorese profusa. Há geralmente amnésia consecutiva ao período em que o doente permaneceu nesse estado onírico. Alterações qualitativas da consciência 1. Estados crepusculares – obnubilação leve acompanhada de relativa conservação da atividade motora coordenada. Ocorre por causas frequentemente orgânicas (confusão pós-ictal, intoxicações, traumatismo craniano, etc.). 2. Estado segundo - caracterizado por uma atividade psicomotora coordenada, a qual, entretanto, permanece estranha à personalidade do sujeito acometido e não se integra a ela. Ocorre por fatores emocionais (choques emocionais intensos) 3. Dissociação da consciência - fragmentação ou a divisão do campo da consciência 4. Transe - alteração qualitativa da consciência que se assemelha a sonhar acordado, presençade atividade motora automática e estereotipada acompanhada de suspensão parcial dos movimentos voluntários 5. Estado hipnótico - estado de consciência reduzida e estreitada e de atenção concentrada, que pode ser induzido por outra pessoa