Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Camila Martins Macêdo Belo MED-UniFTC Delirium INTRODUÇÃO Quadro confusional AGUDO, secundário a CAUSAS ORGÂNICAS, de curso FLUTUANTE, caracterizado por alterações de: ✓ Nível de consciência →RNC ✓ Atenção ✓ Pensamento – geralmente, do conteúdo (delírio) ✓ Sensopercepção – alucinações (*visuais) ✓ Cognição ✓ Orientação ✓ Psicomotricidade – delirium hipoativo x hiperativo x misto Sinônimos: estado confusional agudo, encefalopatia metabólica ou psicose orgânica. EPIDEMIOLOGIA Muito mais incidente em IDOSOS, com doenças crônicas (nefropatias, hepatopatias, neoplasias). Pode acometer mais de 50% de idosos internados, chegando a 70-87% deles em UTI. o Lembrar que o delirium também pode ocorrer fora do ambiente hospitalar (ambiente comunitário). Taxa de mortalidade em pacientes internados: pode chegar a 22-76% (idosos/não idosos). Frequentemente subdiagnosticado: piora o prognóstico, aumenta o tempo de internação, aumenta a mortalidade e recuperação funcional. GRAVIDADE Quadro letal/grave Maiores taxas de mortalidade Prolonga tempo de hospitalização Maiores taxas de institucionalização (internação a longo prazo) Delirium Estado confusional agudo secundário a causas orgânicas de curso flutuante. Delírio Sintoma/ALTERAÇÃO do CONTEÚDO do PENSAMENTO. Delirium tremens Delirium secundário a Síndrome de Abstnência Alcoólica Camila Martins Macêdo Belo MED-UniFTC FISIOPATOLOGIA Indefinida. Hipótese mais aceita: mecanismo anticolinérgico → queda da acetilcolina. Fator que contribui: excesso de dopamina → medicações antiparkinsonianas elevam a dopamina e isso, pode piorar o delirium ou levar a psicose. CAUSAS 1. Intoxicação/abstinência (SPAs ou medicamentos) 2. Infecções/sepse (otite, ITU) - pode passar despercebida, pois muitos idosos não têm febre/infecções ocultas. 3. Imobilização 4. Cirurgias - pós-operatórios (de grande porte, ortopédicas) são grandes causas de delirium. 5. Queimaduras 6. AVC 7. Distúrbios hidroeletrolíticos agudos (principalmente Na, Ca, K) 8. Insuficiência renal 9. Insuficiência hepática 10. Hipo/hiperglicemia 11. Desidratação Camila Martins Macêdo Belo MED-UniFTC FATORES DE RISCO/PREDISPÕEM 1. Idade avançada (quanto > 65 anos, maior a chance) 2. Déficit cognitivo prévio (demências/retardo): ✓ Retardo - a pessoa nasceu com uma inteligência abaixo do normal ✓ Demência - declínio cognitivo em algum momento da vida 3. Múltiplas doenças crônicas 4. Etilismo 5. Déficits sensoriais – baixa acuidade visual, auditiva, ... 6. Episódios prévios de delirium 7. Baixo nível de escolaridade 8. Polifarmácia 9. Uso de cateteres e sondas 10. Transtorno depressivo prévio 11. Desnutrição Camila Martins Macêdo Belo MED-UniFTC Medicamentos que predispõem/precipitam: ✓ Antidepressivos (tricíclicos, mirtazapina, ISRS – alterações hidroeletrolíticas/hiponatremia) ✓ Anticolinérgicos (biperideno) ✓ Rifampicina, isoniazida, pirazinamida, etambutol (esquema RIPE) ✓ Vonau (menos pior), Dramin (intermediário), Plasil (o pior para delirium) ✓ Lítio (THB) QUADRO CLÍNICO Início agudo, curso flutuante Prejuízo da atenção (cognição), memória e orientação Pensamento delirante e/ou desorganizado Nível de consciência alterado/rebaixado Alucinações APM ou lentificação Alteração do ciclo sono-vigília TIPOS 1. Delirium hiperativo: inquietação, APM, agressividade. 2. Misto: oscilações. 3. Delirium hipoativo: lentificação psicomotora, letargia, obnubilação e torpor. ✓ É o mais comum. Na forma hiperativa é predominante a agitação e confusão, algumas vezes com agressividade e risco de auto e heteroagressão; na forma hipoativa, o paciente apresenta-se com nível de consciência rebaixado, geralmente apático, prostrado, sonolento e pouco contactante. A forma hipoativa, que com frequência passa despercebida mesmo entre os profissionais de saúde, se associa com pior prognóstico. Pode ocorrer ainda a forma mista, com alternância entre os dois polos. EXAME PSÍQUICO AVALIAÇÃO DA COGNIÇÃO Contar de 20 até 1 Dizer os dias da semana de trás para frente Testar orientação do paciente Memória: falar 3 palavras aleatórias, pedir para o paciente repetir imediatamente, e 5 minutos depois. Camila Martins Macêdo Belo MED-UniFTC CAM (Confusional Assessment Method) = Método de Avaliação de Confusão I. Mudança de estado mental aguda e flutuante? II. Desatenção? III. Pensamento desorganizado? IV. Alteração do nível de consciência? I e II são critérios obrigatórios. Camila Martins Macêdo Belo MED-UniFTC INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA O diagnóstico de delirium é clínico, realizado por meio de história clínica bem definida e exame físico minucioso. Exame físico minucioso (inclusive neurológico) Saber funcionalidade prévia: o que o paciente conseguia fazer antes? O que ele já não conseguia fazer? Investigar histórico clínico do paciente Avaliar medicações em uso Afastar uso de SPAs/intoxicação por medicamentos CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS (DSM-V) A. Distúrbio na atenção e vigília/consciência. B. Mudança na cognição, não explicada por patologia prévia ou demência. C. Início subagudo (horas a dias) e tendência a flutuar durante o dia. D. Evidência a partir da história, do exame físico ou dos achados laboratoriais indicando que as alterações são causadas por uma condição médica geral. PESQUISANDO AS CAUSAS Exames laboratoriais: hemograma, ureia, creatinina, sódio, potássio, cálcio, glicemia em jejum, TSH, T4L, AST, ALT, proteínas total e frações. Radiografia de tórax SN Sumário de urina SN Gasometria arterial, se dispneia Punção lombar se rigidez nucal TC de crânio se sinais de trauma Camila Martins Macêdo Belo MED-UniFTC DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DO PACIENTE CONFUSO Delirium Demência Depressão Início Agudo Insidioso Variável Curso Flutuante Progressivo Variação diurna Atenção Desatento Variável Pode estar prejudicada Memória Memória de curta duração prejudicada Mais prejudicada que atenção Pode estar prejudicada Orientação Desorientado Muito desorientado (estágios avançados) Normal Nível de consciência Rebaixada Normal Normal Psicose Sim Pode ocorrer em quadros avançados Mais comum em casos graves TRATAMENTO DELIRIUM HIPERATIVO E MISTO Usar medicações em dose baixa e só se risco de agressividade (principalmente em idoso) Contenção mecânica se necessário Não usar fenergan Não usar benzodiazepínicos Opções: o Haldol em dose baixa: 2,5-5 mg (VO e IM) o Risperidona 0,5-1 mg (VO) o Olanzapina 2,5-5 mg (VO e IM) o Quetiapina 25 mg VO Camila Martins Macêdo Belo MED-UniFTC Evitar contenção física do paciente* + quetiapina DELIRIUM HIPOATIVO Encontrar e tratar a causa de base Retirar/reduzir medicamentos sedativos + MEDIDAS COMPORTAMENTAIS (PARA TODOS OS TIPOS DE DELIRIUM): 1. Colocar calendários e relógios próximos ao paciente. 2. Deixar a luz do sol penetrar no quarto/UTI 3. Orientar o paciente (“hoje é dia tal, sou fulano, seu filho”)4. Evitar contenção física 5. Deixar objetos familiares no quarto 6. Alternativas não medicamentosas para ansiedade e sono (música, técnicas de relaxamento, de respiração...) 7. Estimular deambulação 8. Estimular autocuidado e comunicação 9. Evitar cochilos durante o dia 10. Adequar local para sono mais profundo à noite Camila Martins Macêdo Belo MED-UniFTC APLICAÇÃO: DELIRIUM Camila Martins Macêdo Belo MED-UniFTC CASO CLÍNICO 01 João, 79 anos, hepatopata crônico, foi internado em hospital clínico, na UTI, devido a quadro de RNC há 17 dias, ainda sob investigação diagnóstica. Tem apresentado alucinações visuais, inquietação, pornofonia e hipotenacidade. Hoje, tentou arrancar o acesso periférico e a sonda vesical, mas foi impedido e contido mecanicamente. Ao exame, agitado, pensamento desorganizado. 1. Qual a melhor conduta medicamentosa para o paciente João? (a) Haldol 5 mg 1 cp VO + Fenergan 25 mg 1 cp VO (b) Haldol 5 mg 2 amp EV (c) Clonazepam 0,25 mg 2 cp SL (d) Midazolam 15 mg 1 amp IM Nenhuma conduta da questão anterior é a ideal. As melhores opções seriam: ✓ Haldol 5 mg VO (1 ou ½ cp) ✓ Haldol 5 mg 1 ou ½ ampola IM ou EV - EV pensando no acesso que ele já tem, e para evitar “furadas”, ainda mais se ele fosse magrinho. ✓ Quetiapina 25 mg (1 ou ½ cp VO) ✓ Olanzapina 5 mg (1 ou ½ cp VO) ✓ Risperidona 0,5 ou 1 mg VO (comprimido ou solução) CASO CLÍNICO 02 Cleide, 89 anos, portadora de Alzheimer há 19 anos, iniciou há 3 dias quadro de tosse, febre, delírios persecutórios (acha que a família está envenenando sua comida), irritabilidade e raptos de agressividade. Foi internada, e a equipe da psiquiatria foi acionada para interconsulta. Já está em uso de antibioticoterapia. Como poderíamos ajudar, neste caso? Medidas comportamentais, rever a prescrição e medicamentos utilizados. 1. Sobre delirium, assinale a alternativa correta. (a) A mudança no nível de consciência não é critério diagnóstico, ocorrendo raramente nos idosos com delirium. ✓ O delirium é um estado confusional agudo secundário a causa orgânica e de curso flutuante. Envolve alteração/rebaixamento no nível de consciência e sua ocorrência é mais comum entre os idosos, principalmente aqueles que se encontram em ambiente hospitalar. (b) Pacientes idosos podem apresentar delirium como única manifestação de doença aguda. (c) Delirium e demência são dois espectros da mesma doença, sendo indistinguíveis na prática clínica. (d) De acordo com o CAM (Confusion Assessment Method), a redução na capacidade de atenção é o único critério obrigatório para o diagnóstico de delirium. ✓ Critérios obrigatórios: Mudança de estado mental aguda e flutuante + Desatenção. (e) Na maioria das vezes a causa do delirium é uma doença grave e de difícil reversão, como câncer e acidente vascular encefálico. Camila Martins Macêdo Belo MED-UniFTC 2. No quadro de delirium se tem comprometimento da consciência, nem sempre sendo fácil seu reconhecimento. Com frequência essa alteração é medida de forma indireta via: (a) pensamento. (b) sensopercepção. (c) atenção. (d) psicomotricidade. (e) consciência do eu 3. Com relação ao Delirium, marque a alternativa CORRETA: I - É um transtorno transitório e benigno e não altera o prognóstico do paciente. II - Pode ser a única manifestação de doenças potencialmente fatais. III - Apresenta flutuações da cognição no período de horas ou dias. IV - O diagnóstico de Delirium é feito através de exames laboratoriais, culturas, sendo necessário em alguns casos a realização de Tomografia Computadorizada de Crânio. V - A fisiopatologia do Delirium provavelmente está relacionada à depleção de Dopamina e elevação dos níveis de acetilcolina. VI - O tratamento consiste na abordagem dos sintomas neuropsiquiátricos com drogas antipsicóticas. TRATAR A CAUSA BASE. (a) Todas as alternativas são falsas. (b) Apenas uma afirmativa é verdadeira. (c) As afirmativas II, V e VI são verdadeiras. (d) As alternativas II e III são verdadeiras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Ellie Cheniaux – Psicopatologia 2. DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008. 3. DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – 5ª edição) 4. CID-10 5. KAPLAN, HI. & SADOCK, B. Compêndio de Psiquiatria. 9ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 2007. 2. SALVADOR, LUIZ Compêndio de Psicopatologia 6. FORLENZA, Orestes Vicente; MIGUEL, Eurípedes Constantino; BOTTINO, Cássio Machado de Campos; et al. Clínica psiquiátrica de bolso. [S.l: s.n.], 2014. 7. https://www.hcrp.usp.br/revistaqualidade/uploads/Artigos/172/172.pdf 8. http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/04/883001/03-estado-confusional-agudo.pdf http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/04/883001/03-estado-confusional-agudo.pdf
Compartilhar