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@medcomath_ h Definição Acidente vascular encefálico é definido por uma lesão encefálica secundária a um mecanismo vascular e não traumático, caracterizado pela instalação súbita de um déficit neurológico, geralmente focal, de rápida evolução, com duração maior que 24 horas (ou menor, quando leva o paciente à morte). É conhecido também como acidente vascular cerebral (AVC) ou derrame cerebral, mas sua nomenclatura mudou para abranger todo o encéfalo, visto que estruturas do tronco cerebral, diencéfalo e cerebelo também podem sofrer esses eventos vasculares. Os AVEs são classificados como isquêmicos (AVEi) ou hemorrágicos (AVEh), em relação ao processo fisiopatológico subjacente. Os AVEi são os mais comuns, representando até 85% dos casos, e têm como fatores de risco principais a HAS e a fibrilação atrial (portanto, fatores de risco modificáveis). Já os AVEh, correspondendo a 15% dos casos, têm como principais fatores de risco a HAS, angiopatia amilóide (condição comum em pacientes com idade avançada), má formações vasculares (MAV) e uso de drogas ilícitas, em especial a cocaína (principalmente após as primeiras 48 horas de uso). Epidemiologia Atualmente, é 2ª causa mais comum de óbito no mundo (atrás apenas da cardiopatia isquêmica, mostrando a predominância dos eventos vasculares como causas de morte), e é o distúrbio neurológico mais incapacitante. No Brasil, é a causa mais freqüente de óbito da população adulta, e corresponde a grandes gastos anuais nos setores de saúde pública – portanto sua prevenção é de interesse não só para a saúde, mas para a economia nacional. A hipertensão arterial é o principal fator de risco para ambos os tipos de AVE, isso porque é importante causa de aterosclerose de artérias carótidas e vertebrais, causando o AVE isquêmico, além de ser um dos fatores responsáveis pela formação dos aneurismas de Charcot-Bouchard, pequenos aneurismas que promovem fragilidade vascular e contribuem para o AVE hemorrágico quando rompidos, em geral durante um pico hipertensivo. . Fisiopatologia Acidente vascular cerebral isquêmico O AVE isquêmico é causado por uma obstrução súbita do fluxo arterial encefálico, devido, na maioria das vezes, a uma causa embólica (trombo proveniente de circulação distante) ou, mais raramente, trombótica (o trombo é formado na própria artéria envolvida no AVE). Quando não é possível determinar a causa do AVE, o denominamos AVE criptogênico.. O AVE criptogênico é responsável por grande partes dos AVEs. Embora não tenha fisiopatologia esclarecida, estudos sugerem que seja decorrente de embolia paradoxal através de um forame oval patente no coração, ou que seja causado por êmbolos provenientes de placas ateromatosas instáveis da aorta ascendente. Têm, em geral, quadro clínico semelhante aos AVEs isquêmicos embólicos. Nas primeiras 24 horas após o AVE, métodos como o PET scan podem delimitar as áreas infartadas e as zonas de penumbra A interrupção do fluxo sanguíneo subsequente gera isquemia, privando neurônios e células gliais de oxigênio e glicose, e causando disfunção neuronal (quando o fluxo cerebral de oxigênio cai abaixo de 20ml/100mg/ min). Caso essa não haja reversão dessa situação, acontece o infarto do núcleo isquêmico, a morte do tecido e uma lesão irreversível. Acidente Vascular Encefálico @medcomath_ h Ao redor da região infartada, existe a zona de penumbra, onde um mecanismo de extração aumentada de oxigênio apesar do baixo fluxo permite que a lesão causada seja potencialmente reversível, contanto que o fluxo sanguíneo seja restaurado (por recanalização do vaso ocluído ou circulação colateral, altamente dependente da pressão arterial – por isso, é preciso ter cuidado no controle da PA na fase aguda do AVE isquêmico!) Arterioembólico O êmbolo é proveniente de uma artéria – em geral, uma placa aterosclerótica instável principalmente em artérias carótidas ou vertebrais (logo, como vimos, a HAS é fator de risco para AVE isquêmico arterioembólico por causar aterosclerose nessas artérias!) Após o infarto neuronal, instala-se principalmente o edema citotóxico (intracelular, devido ao desbalanço da bomba de Na/K pela falta de ATP), mas o edema vasogênico também pode acontecer (mais raramente e principalmente nos estágios tardios do infarto, extracelular, por extravasamento do líquido dos vasos para o parênquima em razão da permeabilidade capilar aumentada), e têm seu pico de 3-4 dias após o AVE, podendo causar complicações como hipertensão intracraniana e herniação cerebral. Nas primeiras 48 horas após o AVE, há migração de neutrófilos e monócitos para a região infartada, contribuindo para a inflamação local e edema cerebral. Após cerca de 10 dias, o edema citotóxico é resolvido, e a zona infartada fica nítida na fotografia. Após esse período, as células fagocitárias produzem necrose de liquefação nessa região, deixando um aspecto cístico pelo centro liquefeito. Ataque transitório isquêmico O Ataque isquêmico transitório (AIT) é um evento também isquêmico, mas não pode ser considerado AVE visto que trata-se de um déficit neurológico focal reversível, transitório, e de duração inferior a 24 horas. Em geral, é proveniente de causas arterioembólicas, e um pequeno número de casos advém de trombose em evolução. Além de ter manifestações clínicas semelhantes ao AVE isquêmico, é também um fator de risco para o mesmo: Cerca de 25% dos AVEs isquêmicos são precedidos de ataques isquêmicos transitórios, muitas vezes não identificados. Se o AIT do tipo sintomas transitórios com infarto (TSI) faz lesão irreversível, como diferenciá-lo do AVE isquêmico? Pelo tempo, visto que o AIT tem sintomas com tempo inferior a 24 horas. Além disso, a região infartada do TSI costuma ser bem inferior que a do AVE isquêmico. Entretanto, seu reconhecimento é importante por se tratar de uma condição com altíssimo risco para AVE isquêmico. Já o AVE hemorrágico ocorre pela ruptura de estruturas vasculares cerebrais, fazendo compressão das estruturas encefálicas e causando isquemia secundária e edema. Pode ser devido a uma Hemorragia Intraparenquimatosa (HIP), quando o sangramento acontece dentro do parênquima cerebral, principalmente devido à fragilidade da parede vascular e rompimento dos aneurismas de Charcot-Bourchard (causados pela adaptação do vaso à HAS); ou devido a uma Hemorragia Subaracnóidea (HSA), quando o sangramento ocorre entre as meninges aracnóide e pia-máter, principalmente pelo rompimento de aneurismas saculares. Quanto maior a extensão do sangramento e o volume do hematoma, maior será a hipertensão intracraniana e pior será o prognóstico. Além disso, outros fatores podem piorar esse prognóstico, como a presença de sangue nos ventrículos (hemoventrículo) ou hemorragia subaracnóidea. Esses parâmetros são analisados na Escala de Fisher modificada, criada inicialmente para análise seletiva de hemorragias subaracnóideas mas hoje utilizada para mensurar prognóstico de qualquer AVE hemorrágico. O hematoma aumenta de tamanho nas 12-36 horas seguintes ao AVE, pela inflamação local, contribuindo para a piora clínica e para o pior desfecho. Ao comprimir as estruturas encefálicas que contém os neurônios do sistema reticular ascendente, (responsáveis pela vigília), como o tálamo e mesencéfalo, o sangramento provoca rebaixamento do nível de consciência e até coma. @medcomath_ h Clínica Devemos ter em mente que o AVE é uma doença tempo- dependente, ou seja, reconhecer precocemente seus sinais clínicos é de extrema importância para se agir rápido no tratamento e aumentar as chances de recuperação completa. Os sinais e sintomas dependem da área acometida do encéfalo; por isso, ter conhecimento da anatomia vascular encefálica e das suas regiões de irrigaçãoé de extrema importância para a avaliação clínica. O encéfalo é irrigado por dois sistemas arteriais: um mais anterior (sistema carotídeo) e outro mais posterior (sistema vertebrobasilar). A depender da região infartada no AVE isquêmico, diferentes manifestações clínicas podem ser observadas: Sistema carotídeo • Artéria oftálmica: alterações visuais monoculares • Artéria cerebral anterior: sinais de frontalização, déficit motor e sensitivo na região proximal do membro superior contralateral • Artéria cerebral média: déficit motor; perda sensorial em face ou membro superior; afasia de Wernick (área da compreensão da fala) e Broca (área motora da fala) no hemisfério dominante; Neglingência no hemisfério não dominante; hemiplegia fascio- braquio-crural (por atingir cápsula interna); síndrome piramidal contralateral (por interrupção da via corticoespinhal) Sistema vertebrobasilar • Artéria cerebral posterior: cefaléia ipsilateral, alterações de memória, hemibalismo, alterações do campo visual, rebaixamento do nível de consciÊncia, déficit sensitivo, alterações de funções nervosas superiores • Artéria vertebral ou cerebelar póstero-inferior: síndrome bulbar (vertigem central, disfagia, náuseas, vômitos, nistagmo e ataxia ipsilateral) e síndrome de Horner ipsilateral (ptose palpebral, anisocoria, perda da sensibilidade térmica e dolorosa em face ipsilateral, disartria e nistagmo para o lado infartado) A artéria mais afetada pelo AVE isquêmico é a cerebral média, afetando locais irrigados por essa artéria, enquanto as mais atingidas pelo AVE hemorrágico são os ramos perfurantes. Se incluem nesse quadro paresias e parestesias plenas ou no lado contralateral à artéria afetada, alterações na visão, afasias, rebaixamento de nível de consciência, tontura e distúrbios de marcha (principalmente nos AVEs cerebelares), cefaléias súbitas (muito relacionadas à HSA), dentre outros. O chamado “AVC isquêmico maligno” ou “infarto maligno cerebral” é definido como o infarto de mais de 50% do território de irrigação da artéria cerebral média, representando grande parte do hemisfério cerebral, e têm mortalidade de 80% apesar do tratamento conservador adotado, sendo uma importante causa de morte encefálica No AVE hemorrágico, os sintomas aparecerão de acordo com o local em que a hemorragia esteja concentrada. Os locais mais acometidos na Hemorragia Intraparenquimatosa (HIP) são: Putâmen, Tálamo, Cerebelo e Ponte. @medcomath_ h • Hemorragia no putâmen: Costuma atingir a cápsula interna, cursando com quadro súbito de hemiplegia fasciobraquiaquicrural contralateral. Desvio do olhar conjugado contrário à hemiplegia também pode ocorrer. Aqui, a hemorragia pode se estender e causar hemoventrículo. • Hemorragia talâmica: Também atinge a cápsula interna, gerando os mesmos sintomas da hemorragia no putâmen, associada a hemianestesia para todas as sensibilidades. Pela extensão da hemorragia ao hipotálamo e teto do mesencéfalo, são comuns: desvio dos olhos em direção ao nariz, ou para o lado da hemiplegia; pupilas mióticas; anisocoria com pupila menor ao lado da hemorragia (síndrome de Horner) e afasia talâmica. É comum a hemorragia se estender ao terceiro ventrículo. • Hemorragia de cerebelo: gera quadro idêntico ao AVE isquêmico cerebelar (náuseas, vertigem central, vômitos e ataxia cerebelar aguda). Têm grande efeito expansivo, podendo comprimir o IV ventrículo e levar à hidrocefalia obstrutiva, piora da HIC e coma. A complicação mais temível é a herniação através do forame magno e conseqüente compressão de estruturas como amígdalas cerebelares e bulbo, levando à apnéia súbita e morte. • Hemorragia de ponte: Tem um quadro muito característico: quadriplegia súbita, coma e pupilas mióticas e fototorregentes, além de perda dos reflexos oculocefálicos. Decerebração, hiperpneia e hiperidrose são achados comuns, e a letalidade é alta: quase 90% dos casos. A hemorragia lobar (ou seja, dos lobos frontal, parietal, temporal e occipital) é um tipo de HIP que acomete principalmente os idosos, em razão de sua causa: a angiopatia amilóide que ocorre nesta idade, a rotura de microvasos subcorticais cujas paredes contém depósitos amilóides. Os pacientes com doença de Alzheimer são, portanto, ainda mais propensos a esta condição. Já na Hemorragia Subaracnóidea (HSA), o quadro clínico é caracterizado por uma súbita cefaléia holocraniana de forte intensidade (a “pior da vida”), do tipo “tunderclap” ou em “trovoadas”, podendo evoluir com síncope, vômitos, rigidez de nuca e sinais de meningismo e associada ou não a déficit neurológico focal – o principal é a paralisia do nervo oculomotor, gerando anisocoria, diplopia e estrabismo divergente. Crises convulsivas são uma complicação freqüente nestes casos. A escala de Hunt-Hess é a principal utilizada para determinação clínica do prognóstico, e também como definidora de condutas. Diagnóstico Escala FAST: É usada na triagem para reconhecimento rápido de sinais clínicos de AVE, baseada na escala de suspeita pré-hospitalar de Cincinnati, que se baseia em Face (paralisia facial), Arms (fraqueza nos MMSS), Speech (alterações de fala) e Time (tempo dos sintomas). Déficit neurológico focal súbito > 15 minutos = internação e exame de imagem! Saber o tempo do início de sintomas é essencial, já que a janela terapêutica para se fazer uma trombólise intravenosa no caso de AVE isquêmico é de apenas 4,5 horas. Saber o tempo do início de sintomas é essencial, já que a janela terapêutica para se fazer uma trombólise intravenosa no caso de AVE isquêmico é de apenas 4,5 horas. @medcomath_ h Escala NIH: A escala frequentemente utilizada para quantifcar o défcit neurológico é a National Institute of Health (NIH), podendo ser executada de forma rápida por uma ampla gama de profssionais da saúde. Ela avalia o déficit do AVE através da pontuação de 15 parâmetros, variando de 0 (sem déficit) a 42 (maior déficit). Os parâmetros são: nível de consciência observado, orientação no tempo (em relação a mês e idade), resposta a comandos, olhar, campo visual, movimento facial, função motora de membros superiores e inferiores, ataxia de membros, sensibilidade, linguagem, articulação da fala, e extinção ou desatenção durante o exame. • Tomografia Computadorizada sem contraste: é o exame de imagem de escolha, por ser mais acessível e ter boa sensibilidade. Recomenda-se realizá-la em duas etapas: ◊ A primeira TC na chegada do paciente (importante na exclusão do AVE hemorrágico e também diagnóstico de possíveis tumores, sangramentos meníngeos e intraparenquimatosos) ◊ A segunda TC após 72 horas do início dos sintomas (TC de controle e definidora da anticoagulação do paciente no caso de AVE isquêmico). A primeira TC deve estar laudada em menos de 45 minutos para se proceder ao tratamento o mais rápido possível. Lembrando que este NÃO é o exame para diagnóstico de pequenos infartos corticais e subcorticais, ou daquelas lesões localizadas em fossa posterior. O escore ASPECTS é usado para avaliação do dano isquêmico na TC de crânio do AVE isquêmico, subdividindo o território de irrigação da artéria cerebral média (ACM) em 10 regiões que serão avaliadas em dois cortes: o primeiro na altura do tálamo e núcleos da base e o segundo acima dos núcleos da base. A TC normal corresponde a um escore ASPECTS de 10, e o escore 0 se refere à isquemia difusa de todo o território da ACM. Cada área hipodensa na TC sem contraste diminui um ponto no escore. Pacientes com escore menor ou igual a 7 têm um maior risco de transformação hemorrágica e pior evolução neurológica. @medcomath_ h Em caso de suspeita de HSA e TC normal, devemos realizar uma punção liquórica – que apresentará sangue se nas primeiras 12 horas após o evento, e aspecto xantocrômico(amarelado, devido à conversão de hemoglobina em bilirrubina) após esse período • Ressonância Magnética com difusão: mais sensível que a TC, diagnóstica área isquêmica muito precocemente, tendo mais acuracia que a TC no AVEi; porém, é um exame que demora e não tão acessível, é a TC é superior à RM na hemorragia subaracnoidea. Muito útil nos casos de dúvida se há AVE na TC, ou então nos pacientes com janela terapêutica desconhecida ou fora da janela, para se avaliar melhor a zona de penumbra. Além disso, é o exame de escolha para avaliação da fossa encefálica posterior, região que não pode ser bem avaliada na tomografia. • Coagulograma: Devemos esperar seu resultado antes de realizar a trombólise (no caso de AVE isquêmico) caso haja história de uso de anticoagulantes ou suspeita de alterações. • Outros exames laboratoriais: Uréia, Creatinina, Eletrólitos, hemograma completo, gasometria, marcadores de necrose miocárdica e ECG também devem ser realizados nesses pacientes. Não atrasam a trombólise. Para o diagnóstico etiológico, podemos utilizar de outros exames, como: • Angiotomografia helicoidal: faz rápida análise dos grandes vasos intra e extracranianos e permite reconhecer obstruções e estenoses nos grandes vasos; quando comparada à angiografia cerebral, apresenta grande acurácia na identificação de obstrução de grandes vasos. • Doppler transcraniano: determina a artéria intracraniana obstruída no AVE isquêmico • Ecocardiograma: podemos verificar causas de AVE isquêmico, como aneurisma vorticular de ventrículo esquerdo, doença de chagas... • Doppler de carótidas: permite verificar aterosclerose Tratamento Objetiva preservar a vida, limitar o dano cerebral, diminuir as incapacidades e evitar repetição do AVE. O manejo na urgência é oposto em cada tipo de AVE: No isquêmico, queremos desobstruir as artérias e permitir maior afluxo sanguíneo para o cérebro, enquanto que, no hemorrágico, precisamos controlar o sangramento. AVE Isquêmico Medidas de suporte: • Suporte respiratório: não necessitam de suplementação de oxigênio, exceto em casos em que a oximetria de pulso indicar uma saturação menor que 92%. • Temperatura: a temperatura corporal deve ser monitorada e mantida dentro da faixa normal, próxima aos 36,5 °C, isso leva a uma redução na morbimortalidade dos pacientes com AVCI. Já a hipertermia aumenta a liberação de radicais livres no tecido isquêmico, eleva a atividade metabólica neuronal, além de alterar a atividade de alguns neurotransmissores. @medcomath_ h • Monitorização cardíaca: é obrigatória nas primeiras 24 horas, pois as arritmias cardíacas geralmente estão presentes no período pós-AVCI, e algumas delas são causadoras de eventos isquêmicos. • Pressão arterial: Se hipertensão arterial: não baixar no primeiro dia. Exceto quando PA > 220 x 120 mmHg; Droga de escolha: Nitroprussiato de Sódio (0,5 mcg/ kg/min) 24 horas após Trombolítico se PA > 185 x 110 mmHg. Nos pacientes não submetidos à trombólise, somente administrar anti-hipertensivos se PA > 220x120mmHg. • Glicemia: deve ser monitorada de 6/6 horas; Deve-se descartar a hipoglicemia, que isoladamente já causa lesão cerebral. Se hiperglicemia, iniciar insulina se glicemia > 140-185 mg/dL nas primeiras 24 horas, pois indicam pior desfecho clínico, sendo necessária intervenção terapêutica para hiperglicemia. Outras medidas: • Paciente deve permanecer deitado com a cabeceira do leito elevada a 30º • Manter nutrição adequada: a dieta deve ser iniciada nas primeiras 48 horas. • Monitorizar: Natremia (diariamente, normal 135-145 mEq/l) e Hidratação (se necessário, usa-se ringer lactato) • Deve-se evitar a hiper-hidratação e o uso de soro glicosado (pelo risco de hiponatremia dilucional e hiperglicemia) Medidas específicas: • Antiagregante plaquetário: o ácido acetilsalicílico (AAS) é a droga de escolha no AVE, podendo ser usado em pacientes sem indicação de rtPA e como forma de prevenção de recidiva, na posologia 100 a 325mg/dia VO. • Heparina: Deve ser usada na dose profilática para tromboembolismo venoso, e não a heparinização plena. Usa-se HNF 5000 UI 8-12h ou HBPM (enoxaparina 40mg SC/ dia). O anticoagulante oral de escolha é a warfarina sódica. • Trombolítico: Devemos considerar a possibilidade de terapia trombolítica endovenosa (TEV) com ativador de plasminogênio tecidual recombinante (rtPA) se os pacientes preencherem os critérios de inclusão e não tiverem contra-indicações absolutas. O mais utilizado é o Alteplase, na posologia 0,9mg/ kg EV, 10% em bolo e o restante em 1 hora. Ela diminui as seqüelas, mas não reduz a mortalidade, quando iniciada até 4,5 horas do início dos sintomas. Critérios de inclusão da TEV: Idade > 18 anos; diagnóstico de ACVI em qualquer território cerebral; evolução < de 4,5 horas até a infusão do trombolítico; TC de crânio sem evidências de hemorragias; possibilidade de se estabelecer precisamente o horário do início dos sintomas; paciente ou familiar responsável capacitado a assinar termo de consentimento informado. Critérios de exclusão da TEV: • Uso de anticoagulantes orais ou TP > 15 segundos (INR > 1,7); uso de heparina nas últimas 48 horas e PTTa elevada; • AVC ou traumatismos cranioencefálicos (TCE) grave nos últimos 3 meses; • História pregressa de alguma forma de hemorragia cerebral (HSA, AVCH); • TC de crânio mostrando evidências de hemorragias ou edema cerebral em desenvolvimento; • PAS > 185 mmHg ou PAD > 110 mmHg (medidas em 3 ocasiões, com 10 minutos de intervalo); • Sintomas melhorando rapidamente; @medcomath_ h Após verifcar os critérios de inclusão e exclusão, é necessário: • 2 acessos venosos periférico. • Controle rigoroso de PA (PA < 180 x 105 mmHg nas 24 horas após trombolítico). • Evitar acesso venoso central ou punção arterial antes da trombólise até 24 após. • Evitar sondagem vesical ante e após 30 minutos da trombólise. • Evitar sonda nasogástrica antes e nas 24 horas após a trombólise. Trombólise: uso de rt-PA com dose total = 0,9 mg/kg, até no máximo de 90 mg, sendo 10% da dose em bolus EV e 90% em 60 minutos, de preferência em bomba de infusão. • Cuidados pós trombólise: manter a cabeceira a 0º nas primeiras 24 horas, e depois a 30º; PA e NIHSS a cada 15 min por 2h, depois a cada 30 min por 6h, depois a cada 1h por 24h (objetivo é manter PA < 6h; idade ≥ 18; oclusão de carótida interna ou ramo M1 da artéria cerebral média; NIHSS ≥ 6. Cirugia descompressiva: Existem estudos que mostram benefício da craniectomia descompressiva precoce, quando realizada até 48 horas da instalação do AVC, em pacientes com infarto maligno da ACM, idade < 60 anos, e pacientes que apresentam condições clinicas; o que propiciou redução da mortalidade e um número maior de pacientes com evolução favorável. Tratamento das principais complicações agudas Edema cerebral: O tratamento inicial começa com algumas medidas também profiláticas, como o controle de PA e a elevação da cabeceira. Em casos em que a hipertensão intracraniana é uma urgência (PIC>20mmHg), medidas como o uso de diuréticos osmóticos e descompressão cirúrgica podem ser adotadas. Transformação hemorrágica: o uso precoce do AAS pode aumentar o risco dessa complicação, além de ser influenciada por fatores como localização da isquemia, tamanho e mecanismo. Eventos petequiais pequenos não têm importância clínica em comparação aos hematomas parenquimatosos, que evoluem com deterioração neurológica. Convulsões: em geral, acontecem nas primeiras 24 horas após o AVEi. Hoje, a profilaxia anticonvulsivante com fenitoína está indicada apenas se secundária AVE hemorrágico Aqui, devemos aproveitar a “golden hour”, ou seja, a primeira hora depois do AVE, para promover cuidados intensivos e avaliar a necessidade de cirurgia. Para pararo sangramento, temos que: fazer controle rígido da PA e reverter possíveis coagulopatias. A avaliação de um neurocirurgião também é necessária, embora as indicações de reversão cirúrgica ainda sejam restritas e pouco estabelecidas. Hemorragia intraparenquimatosa O tratamento da HIP é basicamente de suporte: pacientes com RNC devem ser intubados, suportados por ventilação mecânica, bem como monitorização hemodinâmica com cateter de PA invasiva e, na maioria das vezes, um cateter ventricular para a monitorização da PIC (pressão intracraniana). Controle da PA: Busca manter PAS < 140mmHg e PAM. @medcomath_ h Reversão de coagulopatias: É direcionada de acordo com a causa base, e realizada reversão quando RNI > 1,4. Aqui, é essencial saber as medicações de uso do paciente e quando foi a última dose, visto que muda a conduta de acordo com o uso de antiagregantes ou anticoagulantes! A neurocirurgia de drenagem do hematoma pode ser necessária se: • Hematoma cerebelar > 3 cm ou entre 1-3 cm com repercussão neurológica; • Hematoma lobar ou putaminal volumoso, com extensão para a periferia e repercussões clínicas Obs.: A instalação de uma derivação ventricular externa (DVE) está indicada na presença de hidrocefalia com repercussão clínica. Hemorragia subaracnóidea Assim dado o diagnóstico, o paciente deve ser internado na UTI e avaliado por um neurocirurgião. Se estiver dentro das primeiras 72 horas após o início dos sintomas e tiver pontuação < III na escala de Hunt-Hess, o exame padrão ouro a ser realizado é a arteriografia cerebral, para localizar o aneurisma. Após constatação do aneurisma, a cirurgia de clipagem aneurismática é a primeira escolha (já que é a medida mais eficaz para prevenir ressangramento, a complicação com maior letalidade da HSA). Uma outra abordagem possível para o aneurisma é a terapia endovascular com embolização. Se houver RNC, uma monitorização invasiva da PIC deve ser realizada (o procedimento de escolha é o cateter intraventricular, já que tem caráter diagnóstico e terapêutico, permitindo a drenagem do LCR). Se o aneurisma não for clipado, a PA sistólica deve ser mantida entre 140- 150mmHg, com o uso de nitroprussiato de sódio. A manutenção de altos níveis pressóricos traz elevado risco de ressangramento, enquanto uma PA muito baixa aumenta o risco de vasoespasmo. O uso de anticonvulsivantes, como a fenitoína 100mg IV a cada 8 horas, hoje está indicado apenas se o paciente apresentou crise convulsiva em algum momento. O uso de nimodipino 60mg via enteral a cada 4h é indicado pois há a prevenção de seqüela neurológica do vasoespasmo, e seu uso deve ser mantido até o 14º dia após o evento. O vasoespasmo é uma das principais complicações da HSA e é reconhecido pelo surgimento de novo déficit focal a partir do 3º dia. O tratamento dessa condição baseia-se nos “3 Hs”: hemodiluição hipervolêmica (com 3l de soro fisiológico isotônico) e hipertensão (se o aneurisma já foi clipado, pode se deixar a PAS chegar a níveis até 200mmHg).
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