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GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC artrite reumatoide CONCEITOS ✦ A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica e autoimune. Apesar de poder acometer diversos órgãos e sistemas (ou seja, é uma doença sistêmica também), sua apresentação clínica é caracterizada principalmente pelo envolvimento das articulações, num processo insidioso. ✦ Seu curso é tipicamente intermitente, marcado por períodos de remissão e atividade, mas sempre seguindo um processo contínuo de lesão tecidual. A patologia afeta especialmente a membrana sinovial e a cartilagem que reveste as articulações diartrodiais (são as articulações flexíveis, caracterizadas pela presença de bolsas sinoviais, que contém o liquido sinoval, que evita o desgaste ocasionado pelo atrito – é encontrado basicamente unindo ossos longos e apresentam grande mobilidade). ✦ A etiologia ela é multifatorial envolvendo genética, fatores ambientais, infecciosos e imunológicos. ✦ MARCO DA AR = SINOVITE CRÔNICA LEVANDO À FORMAÇÃO DE EROSÕES ÓSSEAS E À DEFORMIDADE ARTICULAR. EPIDEMIOLOGIA ✦ Acomete cerca de 1% da população geral. ✦ A proporção por sexo é de 3M : 1H (principalmente mulheres já na pós-menopausa). ✦ A faixa etária de acometimento é entre 50 – 75 anos. O aparecimento de AR acima dos 75 anos liga um alerta para começar a pensar em síndromes paraneoplasicas. ✦ 85% dos portadores apresentam o Fator Reumatoide positivo, sendo que 50% das pessoas tem o fator reumatoide positivo desde o início da doença. ✦ O tabagismo é considerado um dos fatores de risco mais bem estabelecidos para AR (fator de risco modificável). ✦ Outros fatores de riscos apresentados por alguns estudos são a exposição ocupacional à sílica, ao asbesto e à madeira. ✦ Um fator de risco, porém não totalmente estabelecido é o café... acredita-se que o consumo exagerado de café possa induzir a cintrulinização de proteínas (conversão de arginina em citrulina na articulação, sendo esta um fator facilitador para AR). Então a citrulina é o principal peptídeo associado a sinovite que vemos na AR, pois funciona como se fosse um “autoantígeno”. ✦ E pacientes com AR podem desenvolver (muito raramente) a síndrome de caplan que envolve AR + pneumoconiose. PATOGÊNESE ✦ A lesão histológica básica da AR, que inicia todos os eventos destrutivos articulares, é a inflamação das membranas sinoviais, conhecida como Sinovite. ✦ O elemento fundamental é a proliferação inflamatória da membrana sinovial (sinovite). O tecido inflamatório sinovial em proliferação é chamado de “Pannus”. ✦ Pode-se visualizar o pannus como uma espécie de “manto” que recobre as estruturas intra-articulares e que, por estar cronicamente inflamado, lesa por contiguidade os tecidos vizinhos, no caso a cartilagem articular e o tecido ósseo subjacente. A destruição final da cartilagem, dos ossos, dos ligamentos e dos tendões resulta, entre outros fatores, da produção local de enzimas proteolíticas, como é o caso da colagenase secretada na interface entre o pannus e a cartilagem. ✦ Inflamação da membrana sinovial → leva ao aumento de células e mediadores inflamatórios como TNF-alfa, IL1 e IL6 → isso levará formação de um tecido granulomatoso (pannus) → com o tempo levará a destruição articular e deformidade. ✦ O pannus explica a maior parte da fisiopatologia que envolve a AR. Por exemplo, porque dói as articulações mais de manhã e tem rigidez matinal? Durante o sono, existe o repouso articular que faz acumular muita célula inflamatória na articulação (o pannus, como na imagem), e aí de manhã GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC por conta desse acúmulo de células inflamatórias, o paciente sente dor e a rigidez... com o passar do tempo, com a movimentação da articulação, essas células inflamatórias basicamente vão sendo drenadas e vai diminuindo a dor. ✦ Outro fator relacionado a patogênese envolve a associação com alelos HLA DR4-DRB1 → formação de epítopo compartilhado (sequência similar de aminoácidos, então criada reatividade, autoimunidade) → facilitam o desenvolvimento de células T reativas (TCD4+). Pode haver aumento de anticorpos 5 – 10 anos antes do desenvolvimento da doença em si. Além disso, como sabemos que existe a questão da secreção de autoanticorpos, um deles é o FATOR REUMATOIDE e o outro que é muito específico da AR é o ANTI-CCP (anti peptídeo citrulinado). ✦ OBS: A AR em atividade → aumento da frequência de doença periodontal, há maior prevalência de AR naqueles que apresentam inflamação sinovial → soro e líquido sinovial podem apresentar anticorpos contra Porphyromonas gingivalis, Tannerela forsythensis e Prevotella intermedia. QUADRO CLÍNICO ✦ Poliartrite crônica (> 6 semanas): (1) acometendo grandes e pequenas articulações; (2) simétrica e aditiva (não necessariamente acometer as mesmas articulações dos dois lados); (3) erosiva; (4) pega mais mãos e pés, mas poupa interfalangianas distais e as pequenas articulações dos pés; (5) poupa o esqueleto axial (exceto a coluna cervical). ✦ Pode ter sinais inflamatórios: dor, calor local, aumento de volume e limitação à movimentação. ✦ Rigidez matinal com duração > 1h. ✦ Evolução para deformidade e incapacidade funcional (a gente tenta ao evoluir não deixar evoluir dessa forma). ✦ Na inspeção é possível observar as sinovites. Faremos a palpação articular com a técnica dos 4 pontos, principalmente em na interfalanges e punhos. ✦ OBS: Sinovite é um achado no exame físico que a gente vai encontrar na artrite reumatoide e em outros quadros inflamatórios articulares também, então não é patognomônico. ACHADOS EXTRA-ARTICULARES ✦ De manifestações extra articulares a gente vê pouco hoje em dia porque tratamos, sendo mais comum em pacientes com AR de longa data. Podem ter nódulos subcutâneos, vasculite, episclerite (síndrome de sicca = síndrome de sjogren), nódulo pulmonar e pleurite. Podemos ter também algo que é muito raro como a síndrome de felty (associação entre anemia, esplenomegalia e neutropenia), síndrome de sjogren secundária (a maior relação/associação que existe na reumatologia é a AR e a síndrome de sjogren), mononeurite mútipla, síndrome do túnel do carpo e aumento do risco cardiovascular. LABORATÓRIO ✦ Fator reumatoide (está positivo em diversas doenças, mas recebe esse termo “reumatoide” por ter sido encontrado primeiro na AR). GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC ✦ Ac anti-peptídeos cíclicos citrulinados (é o principal marcado da AR, mais que o FR que está positivo em diversas doenças). ✦ Vamos pedir provas de fase aguda, ou seja, provas inflamatórias (VHS e PCR). ✦ Geralmente o paciente apresenta anemia normo-normo (doença crônica). ✦ O ácido úrico entra como exame para diagnóstico diferencial, por exemplo, gota. ✦ Sorologias – VHB, VHC, HIV, parvovírus B19, rubéola e doença de lyme – para diagnóstico diferencial. ✦ OBS 1: fator reumatoide e anti-ccp são negativos em 50% dos casos iniciais. ✦ OBS 2: podemos pedir também o FAN que é um exame utilizado para identificar doença autoimune. IMAGEM ✦ O polegar da mão a esquerda parece ter um desvio ulnar, então eu observo isso no RX. Nessa mesma mão eu vejo um polegar que tem uma subluxação. ✦ Osteopenia periarticular – essa parte mais radiopaca das articulações, uma coloração mais preta nas articulações dos dedos. ✦ Erosões no polegar da mão a esquerdo, dedo indicador da mão a direita com erosão e um cisto no dedo médio da mão direita. ✦ Na mão a direita pode perceber um aumento do tecido de partes moles na região de punho. ✦ Podemos ver basicamente de achado no RX do paciente com AR: aumento de partes moles; osteopenia periarticular; erosões; redução do espaço articular; subluxações e anquilose (fusão de superfícies articulares). ✦ Essa mão acima é uma mão normal! DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ✦ Infecciosas: virais (hepatite B e C, rubéola e pavovírus B19). ✦ Espondiloartrires (maiscomum em pessoas jovens, logo, fala contra a AR por conta do aparecimento mais juvenil). ✦ Psoriásica. ✦ Osteoartrite de mãos. ✦ Doenças difusas do tecido conjuntivo (DDTC): LES e Sd. Sjorgen. DIAGNÓSTICO GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC ✦ Pontuação de 6 ou mais pontos = AR. ✦ FR é muito sensível e pouco especifico para AR. FATORES DE MAU PROGNÓSTICO ✦ Início em idade precoce. ✦ FR altos títulos (lembrando que uma vez que o FR se positiva, ele sempre será positivo, por isso muito sensível e pouco especifico). ✦ Anti-CCP+. ✦ VHS e/ou PCR persistentemente elevados. ✦ Artrite acometendo > 20 articulações. ✦ Acometimento extra-artciular. ✦ Erosões nos 2 primeiros anos de doença. ✦ OBS: para doenças autoimunes nós não falamos sobre cura, mas sim sobre controle. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO ✦ Reconhecimento e tratamento precoce; ✦ Encaminhamento para reumatologista; ✦ Decisões terapêuticas devem ser compartilhadas com o paciente; ✦ Uso precoce de DMARD (drogas modificadoras da doença); ✦ Almejar remissão ou baixa atividade da doença; ✦ Educação do paciente; ✦ Intervenções psicossociais; ✦ Reabilitação – repouso, exercício, terapia ocupacional – ganho de ADM (arco de movimento) e evitar atrofia muscular, proteção articular e órtese (dispositivo que ajuda as pessoas a aumentar mobilidade); ✦ Aconselhamento nutricional; ✦ Intervenções para reduzir o risco cardiovascular e de osteoporose; ✦ Cessar tabagismo; ✦ Imunização – influenza, pneumocócica, dT e hepatite B. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO ✦ O tratamento medicamento será idealizado sempre, ou seja, sempre vai tratar com medicamento. Os DMARD que são drogas utilizadas para controle nós temos: metotrexato (1ª escolha), cloroquina, sulfassalazina, leflunomida e biológicos (anti-TNF e outros). Podemos utilizar também anti-inflamatório não hormonal e corticoide em dose baixa. A cloroquina não retarda a progressão radiológica, mas é uma droga modificadora da doença. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC CONDUTA ✦ Sempre começar com metrotexato (recomendado). ✦ bDMARD são os biológicos. SEGUIMENTO ✦ Terapia com DMARDs deve ser iniciada logo após o diagnóstico de AR. ✦ O tratamento deve objetivar a remissão ou redução da atividade da doença... critérios para remissão DAS/DAS28 < 2,6 (pouco rigorosos). ✦ Monitorização deve ser frequente em doenças ativas (1-3 meses) e se não há melhora em 3 meses ou o alvo não foi alcançado em 6 meses a terapia deve ser reajustada. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC
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