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Barbara Camila Nunes TCC 2021-1 (1)

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43
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
BÁRBARA CAMILA NUNES
LEI MARIA DA PENHA E MEDIDAS PROTETIVAS
PARA MULHERES TRANSEXUAIS	Comment by Rita: transexuais	Comment by Barbara Camila Nunes: 
São José
2020
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
BÁRBARA CAMILA NUNES
LEI MARIA DA PENHA E MEDIDA PROTETIVA
PARA MULHERES TRANSEXUAIS	Comment by Rita: transexual
Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel, na Universidade do Vale de Itajaí, Escola de Ciências Jurídicas e Sociais.
Orientador: Prof. Me. Rodrigo Mioto dos Santos
São José
2020
BARBARA CAMILA NUNES
LEI MARIA DA PENHA E MEDIDA PROTETIVA
PARA MULHERES TRANSEXUAIS	Comment by Rita: transexuais
Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Escola de Ciências Jurídicas e Sociais.
Área de Concentração: Direito Penal
São José, 14 de dezembro de 2020. 
Prof. Me. Rodrigo Mioto dos Santos
UNIVALI – Campus Kobrasol
Prof. MSc. Nome
Instituição
Membro
Prof. MSc. Nome
Instituição
Membro
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, que até hoje nas situações mais difíceis tem me guiado, principalmente nesse momento único no mundo o qual passamos. À meus pais, Sandro e Andrea, que sempre me deram apoio e fazem de tudo para que eu consiga realizar todos os meus objetivos, a todo momento me dando a assistência necessária. Obrigada por sempre apoiarem a minha escolha pela faculdade de Direito. Obrigada à meu noivo Bruno que nunca me deixou desistir e todo o tempo me incentivando, sendo meu exemplo de cumplicidade, paciência, dedicação e responsabilidade. Às minhas sobrinhas Alice e Isabela, para as quais sempre busco ser a melhor pessoa e que elas me vejam como exemplo. À minha irmã Bruna que sempre me ajudou quando precisei. Ao meu chefe e amigo Juliano, pois foi ele que me apresentou o tema e me deu todo o suporte e orientação para fazer esse trabalho.	Comment by Rita: aa	Comment by Rita: a	Comment by Rita: para as quais	Comment by Rita: A (o uso da crase antes de pronome possessivo é facultativo, porém tens que seguir um padrão no texto – aqui uma hora tu usas a contração do artigo com a proposição, em outras não). – marquei com destaca texto amarelo, dá uma corrigida. 
“Falar de igualdade entre mulheres e homens, meninas e meninos, é falar pela vida daquelas que não puderam ainda se defender da violência”.
Marielle Franco
Dedico esse trabalho 
a minha família e meu noivo, 
pelo seu carinho e amor incondicional. 
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o(a) Orientador(a) de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
São José, 14 de dezembro de 2020.
 Bárbara Camila Nunes
RESUMO	Comment by Rita: Não estão claros as hipóteses e o método. Usou verbos na terceira pessoa do plural (plural majestático)
A análise do presente trabalho versa sobre a aplicação da Lei Maria da Penha, Lei 11.340/2006 às transexuais do gênero feminino, analisando as medidas protetivas e sua aplicabilidade as mesmas, para coibir violência doméstica contra mulheres transexuais em situações de vulnerabilidade e fragilidade. Contudo precisamos fazer um estudo histórico da lei, como principal instrumento de proteção às mulheres. Analisar as possibilidades em que a lei é aplicada. Uma breve explicação quanto a diferença dos gêneros e transexualidade. Em relação à possibilidade de aplicar essa proteção às mulheres transexuais. Antes precisamos entender e diferenciar sexo de gênero, a orientação sexual da identidade de gênero neste ponto fica bem claro, a aplicação da lei não se trata apenas da opção sexual, mas sim, algo muito mais profundo do que isto. São apresentados neste trabalho algumas decisões dos tribunais brasileiros em diversos casos em que é possível a aplicação da lei.	Comment by Rita: às	Comment by Rita: à	Comment by Rita: São apresentados
Palavras-chaves: LEI MARIA DA PENHA - IDENTIDADE DE GÊNERO -DIREITOS - FUNDAMENTAIS - TRANSEXUALIDADE.	Comment by Rita: ?
RESUMO
El análisis del presente trabajo trata de la aplicación de la Ley Maria da Penha, Ley 11.340 / 2006 a las mujeres transexuales, analizando las medidas de protección y su aplicabilidad, para prevenir la violencia intrafamiliar contra las mujeres transexuales en situaciones de vulnerabilidad y fragilidad. Sin embargo, necesitamos hacer un estudio histórico de la ley, como principal instrumento de protección a la mujer. Analizar las posibilidades en las que se aplica la ley. Una breve explicación de la diferencia de género y la transexualidad. Respecto a la posibilidad de aplicar esta protección a mujeres transexuales. Antes necesitamos entender y diferenciar el sexo del género, lo cual es todavía muy dudoso para muchos, la orientación sexual de la identidad de género en este punto es muy claro en el trabajo que la aplicación de la ley no se trata solo de la opción sexual, sino de algo mucho más profundo. que esto, clasificando así quiénes pueden ser protegidos por la Ley Maria da Penha. Este trabajo presenta algunas decisiones de los tribunales brasileños en varios casos donde la aplicación de la ley es posible.
Palabras clave: LEI MARIA DA PENHA - DERECHOS - FUNDAMENTAL - TRANSEXUALIDAD.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	11
1 A LEI MARIA DA PENHA	14
1.1 O SURGIMENTO DA LEI 11.340 DE 2006 (LEI MARIA DA PENHA)	15
1.2 A APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA	17
1.3 O SUJEITO ATIVO E O SUJEITO PASSIVO NA LEI N. 11.340/06	18
1.4 AS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA	21
1.5 AS FORMAS DE VIOLÊNCIA SEGUNDO A LEI 11.340/2006	22
1.5.1 A violência física	22
1.5.2 Violência psicológica	23
1.5.3 Violência sexual	24
1.5.4 Violência patrimonial	25
1.5.5 Violência moral	25
 1.6 Violência De Gênero	26
2 GÊNERO E TRANSEXUALIDADE	28
2.1 CONCEITO DE GÊNERO	28
2.2 SIGNIFICADO DE GÊNERO	29
2.3 DIFERENÇA ENTRE GÊNERO E SEXO	32
2.4 ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO	33
2.5 A TRANSEXUALIDADE DO PONTO DE VISTA DA PSICOLOGIA	39
2.6 TRANSEXUALIDADE NO PONTO DE VISTA DO DIREITO	41
3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E PENAIS COMO GARANTIA DA MEDIDA PROTETIVA PARA CASO TRANSEXUAIS	44
3.1 A PRINCIPIOLOGIA CONSTITUCIONAL PROTETIVA	44
3.1.1 Dignidade Da Pessoa Humana	45
3.1.2 Proporcionalidade E Razoabilidade	46
3.1.3 Da Proteção Constitucional	48
3.3 A JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA E SEU POSICIONAMENTO	50
3.4 O PROJETO DE LEI DO SENADO N. 191 DE 2017	55
CONCLUSÃO	57
REFERÊNCIAS	59
INTRODUÇÃO
O objeto de pesquisa trata-se da Lei Maria da Penha e medidas Protetivas para as mulheres transexuais. Aplicação da Lei 11340/2006 e sua extensão quando se trata nos casos das mulheres Transexuais vítimas de violência doméstica. A violência contra a mulher nos âmbitos familiar, doméstico e íntimo assolam a humanidade desde a antiguidade, no entanto sabemos que atualmente a sociedade passa por uma constante evolução em relação a conceitos básicos sobre família, sexualidade, entre outros. No presente trabalho, fez-se uma análise sobre o surgimento da Lei Maria da Penha, os tipos de violência, sua importância para a sociedade, os direitos das pessoas transexuais, a possível aplicação da Lei em face dessas pessoas, os posicionamentos favoráveis e desfavoráveis e finalizando com casos concretos.
Este tema é marcado por uma relevante importância social, tratando sobre um tema atual que merece respaldo e uma maior cautela, principalmente buscando o melhor meio jurídico para proteger a pessoa transexual.
A finalidade da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) é de proteger as mulheres em relação a sua vulnerabilidade em relação aos homens, desta forma deve-se negar essa garantia quando se trata de mulheres transexuais? As mesmasse identificam com o gênero feminino embora tenham nascido homem. Sabemos que a Lei Maria da Penha foi criada para inibir agressões contra mulher em razão de seu gênero, porem, na atualidade os aspectos que enquadram um indivíduo como pertencente ao gênero feminino não podem ser os mesmos da época em que o referido dispositivo legal foi criado, o que interfere diretamente nos sujeitos que serão destinatários dos mecanismos de proteção nele elencados
 O presente trabalho faz uma apresentação sobre a Lei Maria da Penha, como ela surgiu, sua importância, os tipos de violência, as medidas protetivas, quem são as mulheres transexuais, e possível aplicação da lei paras as mesmas. Cabe ressaltar que o objetivo não é realizar estudo profundo sobre questões atinentes à sexualidade, mas para definição e análise do transexual se faz necessário abordar temas básicos, como o uso correto dos termos sexo e gênero, aspectos primários que diferenciam homossexuais, travestis e transexuais. O tema é polêmico e muito relevante socialmente, tratando sobre um tema atual que merece ser discutido, principalmente buscando o melhor meio jurídico para proteger a pessoa transexual. 	Comment by Rita: Penha
As conclusões deste trabalho foram obtidas por meio de uma pesquisa abrangente, pois foram utilizadas diversas fontes para a realização do trabalho. 
Os recursos usados foram: obras sobre o tema, diversas doutrinas, a Lei Maria da Penha, o Código Penal e o Código de Processo Penal, sem, contudo, ter-se esgotado os assuntos aqui debatidos. 	Comment by Rita: Os
O presente estudo se desenvolveu através dos métodos dedutivo e sistemático, utilizando-se de pesquisas bibliográficas, legais e jurisprudenciais. Após ser estudado o material do tema, a monografia, iniciou com os aspectos históricos com surgimento da Lei Maria da Penha, sua aplicabilidade e sua importância. 
No primeiro capítulo vamos abordar o surgimento da Lei Maria da Penha e sua aplicabilidade, um estudo geral sobre a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), citando o contexto em que foi criada, seus objetivos, e dedicando enfoque principal às medidas protetivas nela elencadas.	Comment by Rita: Inserir vírgula
No segundo capítulo entraremos no assunto de Gênero e transexualidade, procurou-se abordar como é visto pelas principais áreas que importam para o tema. Por fim serão abordadas decisões em relação ao assunto por meio de casos em que os parâmetros que levaram à construção do presente trabalho foram semelhantemente aplicados pelo judiciário brasileiro, ainda que de forma tímida, o que retrata a necessidade de tal tema ser abordado e aperfeiçoado juridicamente, levando em consideração que já se trata de uma realidade na sociedade brasileira e um projeto de lei para a modificação da Lei Maria da Penha.	Comment by Rita: abordadas
Após, foi feita uma análise sobre gênero, procurou-se abordar o que é ser transexual, estabelecendo a discussão sobre sexualidade biológica. 
Logo adentramos quanto à aplicabilidade ou não da Lei Maria da Penha às pessoas transexuais, abordando todas as discussões, os direitos e o reflexo da aplicação frente ao ordenamento jurídico brasileiro.	Comment by Rita: às
Em seguida, a discussão quanto à aplicabilidade ou não da Lei Maria da Penha às mulheres transexuais, abordando todas as discussões, os direitos e o reflexo da aplicação frente ao ordenamento jurídico brasileiro.	Comment by Rita: às
 Ao final demonstramos a necessidade de tal tema ser abordado e aperfeiçoado juridicamente, levando em consideração que já se trata de uma realidade na sociedade brasileira.
Ao final, firmando conclusões obtidas para as questões formuladas incialmente, demonstrando a importância sobre o tema, buscando uma solução para os casos atuais que merecem uma resposta do Estado.
1 A LEI MARIA DA PENHA
Para entendermos melhor o contexto do presente trabalho, precisamos em um primeiro momento adentrar no conceito histórico da sociedade. No Brasil Colônia, se prevalecia um sistema patriarcal, em que as mulheres eram destinadas ao casamento e as atividades domésticas, sendo submissas aos homens. (IANNI, 2002, p. 13).	Comment by Rita: um	Comment by Rita: a exemplo do que já acontecia.... (o conceito de sociedade não começa no Brasil Colônia, é bem anterior. Qual a fonte? Precisa reformular a redação.	Comment by Rita: delete	Comment by Rita: informar a fonte consultada
Pouco se tinha amparo penal a mulher naquela época, o que se protegia era sua religiosidade, castidade e posição social. Porém, ao mesmo tempo em que protegia a sexualidade da mulher, autorizava o homicídio da mulher caso cometesse adultério. (Chanter, p. 20, 2011)
No Brasil Império se inicia o processo do fortalecimento das mulheres, nessa época são reconhecidos alguns direitos, entre eles, o de estudo, que antes era apenas ao homem. 	Comment by Rita: informar a fonte consultada
Naquela época a Constituição do Império, de 1824 destacava a igualdade de todos perante a lei, porém, prevaleciam as discriminações, e os direitos dos homens acima dos direitos das mulheres. 	Comment by Rita: inserir vírgula	Comment by Rita: prevaleciam	Comment by Rita: Citar os artigos da Constituição do Império que tratam do tema
Já na Revolução Industrial, tem início a ingressão das mulheres no mercado de trabalho, porem as mulheres ainda eram comandadas pelos homens. (IANNI, p.25, 2002).	Comment by Rita: citar fonte consultada
Após grande luta pelos movimentos feministas, no ano de 1932, foi previsto no Código Eleitoral, promulgado pelo Decreto n. 21.076/1932, o direito ao voto para as mulheres. (Chanter, p. 16, 2011)
Em todos esses anos, se percebeu a necessidade da elaboração de uma norma que efetivasse a punição da violência contra as mulheres, principalmente por um fato ocorrido no ano de 1983 que tem como parte o tema deste trabalho. 	Comment by Rita: Rever redação - truncada
A Lei Maria da Penha tem esse nome em homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes, uma mulher cearense, que foi casada com Marco Antônio Herédia Viveiros, que a agrediu por 06 anos. (Chanter, p. 22, 2011)	Comment by Rita: a
Em 1983, Marco Antônio Herédia Viveiros, tentou matar Maria da Penha duas vezes, primeiro com um tiro de espingarda enquanto ela dormia, deixando-a paraplégica, já a segunda vez foi na tentativa de eletrocutá-la e afoga-la durante o banho. 	Comment by Rita: afoga-la
Após essas inúmeras tentativas de homicídio, Maria da Penha denunciou seu marido, Marco Antônio Herédia Viveiros, com intuito de buscar a punição dele. O processo permaneceu em aberto por muito tempo e somente após 20 anos o julgamento foi concluído, o agressor foi condenado, mas ficou apenas alguns meses recluso. (Chanter, p. 32, 2011)
Após toda essa demora e a impunidade de Marco Antônio Herédia Viveiros, Maria da Penha, com os defensores de direitos humanos, formalizaram uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, por tal razão o Brasil foi condenado por não dispor de mecanismos eficientes para coibir a prática de violência doméstica contra a mulher, sendo o país acusado de negligência, tolerância e omissão. A referida Comissão advertiu o Brasil para adotar medidas legais efetivas para punição do agressor. (Chanter, p. 29, 2011)
Sendo assim, devido a toda essa repercussão internacional, foi sancionada a Lei 11.340 de 07 de agosto de 2006, que popularmente ficou conhecida como Lei Maria da Penha.
1.1 O SURGIMENTO DA LEI 11.340 DE 2006 (LEI MARIA DA PENHA)
Sem dúvidas, a Lei Maria da Penha (11.340/06) é a principal legislação do Brasil de proteção às mulheres vítimas de violência doméstica. 
Possui essa nomenclatura em virtude da farmacêutica cearense Maria da Penha Maia Fernandes, conforme já mencionado uma das tantas vítimas de violência doméstica. A mesma sofreu dupla tentativa de homicídio por parte de seu marido Marco Antônio Heridia Viveros. A primeira tentativa aconteceu quando Marcos atirou contra Maria enquanto a vítima dormia. 	Comment by Rita: separa o sobrenome	Comment by Rita: reformular a redação – não dá pra entender
Na segundatentativa de assassinato (aconteceram duas) a vítima precisou realizar vários procedimentos cirúrgicos, porem ao final sofreu paraplegia irreversível. 	Comment by Rita: colocar entre parênteses (aconteceram duas)	Comment by Rita: a vítima 
Acordei de repente com um forte estampido dentro do quarto. Abri os olhos. Não vi ninguém. Tentei mexer-me, mas não consegui. Imediatamente fechei os olhos e um só pensamento me ocorreu: “Meu Deus, o Marco me matou com um tiro”. Um gosto estranho de metal se fez sentir, forte, na minha boca, enquanto um borbulhamento nas minhas costas me deixou ainda mais assustada. Isso me fez permanecer com os olhos fechados, fingindo me de morta, pois temia que Marco me desse um segundo tiro. (FERNANDES, 2010, p. 36, grifo do autor).	Comment by Rita: conferir e separar as palavras que ficaram grudadas- também colocar a fonte nas referências bibliográficas ao final
Semanas após Maria voltar do hospital, Marco tentou eletrocutá-la enquanto ela tomava banho. Como ocorre com a maioria das vítimas, Maria tinha medo de se divorcia de Marcos, devido ao seu histórico de agressividade com ela e suas filhas. Porem a última tentativa a motivou e fez com que Maria se separasse de Marco judicialmente. 	Comment by Rita: ao
No primeiro julgamento, ocorrido nove anos depois do crime, Viveros foicondenado a uma pena de 15 anos de reclusão, reduzida a 10 anos por se tratar de 25 réu primário. Em 1996, a decisão do júri foi anulada e o réu, sendo submetido a novo julgamento, foi condenado a 10 anos e 6 meses de reclusão. Recorrendo da sentença diversas vezes e valendo-se, inclusive, de práticas de corrupção, Viveros permaneceu em liberdade por dezenove anos, sendo preso em outubro de 2002, pouco antes de o crime prescrever. Pode-se afirmar que a conclusão do processo judicial e a prisão do réu só ocorreram graças às pressões da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que recebera o caso em 1998. (SANTOS, 2008, p. 24)
O caso de Maria da Penha ganhou grande repercussão nacional e internacional, o caso foi enviado à Comissão Interamericana de Direitos humanos, foi verificado a falta de compromisso do Estado Brasileiro no combate à violência doméstica. Ademais, a repercussão internacional expôs as fraquezas e necessidade de transformação radical do sistema criminal brasileiro, que era marcado pela falta de seriedade e morosidade em relação aos processos que envolviam situações de violência contra a mulher (SANTOS, 2008). Em virtude dos fatos narrados a Comissão Interamericana de Direitos Humanos publicou em 16 de abril de 2001 o relatório 54/2001. O referido documento trata da importância para entender a violência contra a mulher no Brasil e serve como base jurídica para a discussão sobre o tema, cinco anos após surgiu a Lei n°11.340/06, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha. 	Comment by Rita: Referido documento
O caso Maria da Penha se tornou emblemático, considerando que pela primeira vez um organismo internacional havia aplicado a "Convenção de Belém do Pará" e condenado um Estado soberano pelas violações de direitos humanos sofridas por um particular. Além disso, foi confirmado o atraso e negligência do Brasil quanto à erradicação da violência contra a mulher, o que explicitou a urgência em formular novos instrumentos normativos e políticas públicas de prevenção e proteção das mulheres (SANTOS, 2008)
 Esta lei determina garantia à proteção da mulher em relação ao agressor mantendo o mesmo preso e garante assistência econômica da mulher nos casos em que ela é dependente financeiramente do agressor. A lei é eficiente no que diz respeito à fiscalização e cumprimento das penas, o problema as vezes se encontra dentro da própria casa onde está a vítima. Por muitas vezes devido à opressão e violência a mesma não busca ajuda e não denuncia o agressor. A Lei Maria da Penha considera como violência doméstica qualquer ação ou omissão que causa à mulher morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. (artigo 7º da Lei 11.340 de 2006)	Comment by Rita: separe as palavras	Comment by Rita: ela	Comment by Rita: à
A "Lei Maria da Penha", ao enfrentar a violência que, de forma desproporcional, acomete tantas mulheres, é instrumento de concretização da igualdade material entre homens e mulheres, conferindo efetividade à vontade constitucional, inspirada em princípios éticos compensatórios. (PIOVESAN; PIMENTEL, 2007, p. 01)
Precisamos citar que o legislador assegura a proteção à mulher, independentemente de sua orientação sexual, porem isso será tratado mais adiante, quando formos estudar a aplicação da Lei em casos concretos, baseando-se em jurisprudências dos Tribunais brasileiros, conforme Artigo 5º, CF de 1988.	Comment by Rita: fonte da informação
1.2 A APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA
A lei em comento dispõe sobre as espécies de violência em seu artigo 7° (física, psicológica, sexual, patrimonial e moral). 	Comment by Rita: em comento
“Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularizarão, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.”
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ, 2018) os mecanismos da Lei 11.340/06 caracterizam-se por:
Definir a violência doméstica e familiar contra as mulheres. Estabelecer as formas de violência doméstica contra as mulheres como físicas, psicológicas, sexuais, patrimoniais e morais. Determinar que a violência doméstica contra a mulher, independentemente da sua orientação sexual, seja renunciada somente perante queixa ao juiz. São proibidas multas em dinheiro A mulher vítima de violência doméstica será notificada dos atos processuais, especialmente no momento da entrada e saída da prisão do agressor, devendo esta ser acompanhada por um advogado ou defensor em todos os atos processuais. Retirar dos tribunais penais especiais (Lei 9.099/95) a jurisdição para julgar crimes de violência doméstica contra as mulheres. Alterar o código do processo criminal para permitir que o juiz ordene a detenção preventiva quando há riscos para a integridade física ou psicológica das mulheres. Alterar a lei das execuções criminais para permitir ao juiz determinar o atendimento obrigatório do agressor programa de recuperação e reeducação. Determinar a criação de tribunais especiais para a violência doméstica e familiar contra as mulheres com competência direito civil e penal para cobrir questões familiares decorrentes da violência contra as mulheres. Se a violência domésticafor cometida contra uma mulher com deficiência, a penalidade será aumentada em 1/3. A lei prevê um capítulo específico para o atendimento pela autoridade policial para os casos de violência doméstica contra a mulher. À autoridade policial compete registrar o boletim de ocorrência e instaurar o inquérito policial (composto pelos depoimentos da vítima, do agressor, das testemunhas e de provas documentais e periciais), bem como remeter o inquérito policial ao Ministério Público. Pode concedidas diversas medidas protetivas de urgência para a mulher em situação de violência. Solicita ao juiz a decretação da prisão preventiva. O juiz poderá conceder, no prazo de quarenta e oito horas, medidas protetivas de urgência (suspensão do porte de armas do agressor, afastamento do agressor do lar, distanciamento da vítima, dentre outras), dependendo da situação. O juiz do juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher terá competência para apreciar o crime e os casos que envolverem questões de família (pensão, separação, guarda de filhos etc.). O Ministério Público apresentará denúncia ao juiz e poderá propor penas de três meses a três anos de detenção, cabendo ao juiz a decisão e a sentença final (BRASIL. Lei nº 11.340, de dia 07 de agosto de 2006 )requerer ao juiz, em quarenta e oito horas, que sejam.
Em seu Art. 1º a Lei 11.340/06 deixa expresso para que veio: 
“Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição federal, da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e erradicar a Violência contra a mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar (BRASIL. Lei nº 11.340, de dia 07 de agosto de 2006).”
1.3 O SUJEITO ATIVO E O SUJEITO PASSIVO NA LEI N. 11.340/06
A Lei 11.340/06 não se destina apenas ao casal homem e mulher, a lei se destina quem também está no vínculo familiar.
Será abordado sobre o sujeito ativo, que é aquele que por ação ou omissão causa a violência. Para a Lei Maria da Penha o sujeito ativo, por regrabaseia-se no marido, filho, companheiro, sogro, pai, entre outros parentes que se encaixam no rol do artigo 5° da Lei 11.340/06. Porém, também é possível a presença feminina no polo ativo. 	Comment by Rita: separar as palavras
De acordo com Maria Berenice Dias (2007, p.41): 	Comment by Rita: a referenciação desta obra ao final, não está completa
A empregada doméstica, que presta serviço a uma família, está sujeita à violência doméstica. Assim, tanto o patrão como a patroa podem ser agentes ativos da infração. Igualmente, desimporta o fato de ter sido o neto ou a neta que tenham agredido a avó, sujeitam-se os agressores de ambos os sexos aos efeitos da Lei. [...] Os conflitos entre mães e filhas, assim como os desentendimentos entre irmãs está ao abrigo da Lei Maria da Penha quando flagrado que a agressão tem motivação de ordem familiar. 
Sendo assim, atos de violência doméstica contra a mulher podem ser praticados pelo sujeito do sexo masculino e também pelo sujeito do sexo feminino, porem os atos praticados devem estar dentro artigo 5° da Lei 11.340/06. 
Vejamos uma situação de relações homoafetivas entre duas mulheres, neste caso é possível a aplicação da Lei Maria da Penha se a agressora ocupar posição de superioridade em relação à vítima.	Comment by Rita: Rever redação
Vejamos o caso a seguir: 
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. AMEAÇA. INJÚRIA. FATOS PRATICADOS POR COMPANHEIRA. RELAÇÃO HOMOAFETIVA. VIOLÊNCIA BASEADA NO GÊNERO. VULNERABILIDADE DA VÍTIMA. CONTEXTO DE DOMÉSTICO E FAMILIAR DE CONVIVÊNCIA CONFIGURADO. APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA. COMPETÊNCIA DO JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. Caracteriza-se o contexto de relação doméstica e familiar de convivência para fins da proteção especial da Lei nº 11.340/2006, quando os fatos ocorrem no âmbito de uma relação de afeto existente entre mulheres, na qual está presente situação de vulnerabilidade ou subordinação proveniente do gênero. Compete ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher processar e julgar requerimento de medidas protetivas de urgência e o respectivo inquérito policial e incidentes relacionados aos fatos caracterizadores de qualquer das formas de violência de gênero previstas na Lei Maria da Penha. Recurso em sentido estrito conhecido e provido. (Acórdão n. 983259, Relator Designado Des. SOUZA E ÁVILA, 2ª Turma Criminal do DF, data de julgamento: 24/11/2016, publicado no DJe: 29/11/2016.) 	Comment by Rita: De qual Tribunal?
A Lei Maria da Penha não ampara somente a companheira, ex-namorada, namorada, esposa, mas também protege a filha, sogra, avó, mãe, neta, etc., sendo necessário que esteja em diante de uma relação familiar, doméstica ou íntima de afeto.	Comment by Rita: que se esteja diante de
 A Lei 11.340/06 destaca muito bem que sempre será vítima a pessoa do sexo feminino. Porém, hoje há discussões em relação à aplicabilidade da referida lei aos transexuais. 
Segundo Maria Berenice Dias (2007, p.41): 
Neste conceito encontram-se as lésbicas, os transgênicos, as transexuais e as travestis, que tenham identidade com o sexo feminino. A agressão contra elas no âmbito familiar também constitui violência doméstica. Não só esposas, companheiras ou amantes estão no âmbito de abrangência do delito de violência doméstica como sujeitos passivos. Também as filhas e netas do agressor como sua mãe, sogra, avó ou qualquer outro parente que mantém vínculo familiar com ele podem integrar a polo passivo da ação delituosa. 
Ainda há muita discussão com relação à aplicação da Lei 11.340/06, destaca-se o posicionamento de Maria Berenice Dias (2010, p. 58): 
Lésbicas, transexuais, travestis e transgêneros, quem tenham identidade social com o sexo feminino estão ao abrigo da Lei Maria da Penha. A agressão contra elas no âmbito familiar constitui violência doméstica. Ainda que parte da doutrina encontre dificuldade em conceder-lhes o abrigo da Lei, descabe deixar à margem da proteção legal aqueles que se 21 reconhecem como mulher. Felizmente, assim já vem entendendo a jurisprudência. 
É necessário analisar com maior cautela os direitos das pessoas transexuais, pessoas que se consideram do sexo feminino e que estão em condição de vulnerabilidade buscando a proteção da Lei Maria da Penha para coibir a violência.
A Lei Maria da Penha surgiu com o intuito de proteger os direitos e dar garantias às mulheres, focando sempre no Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, garantindo os direitos fundamentais a todas, conforme encontra-se expresso no artigo 2° da referida Lei.	Comment by Rita: dar	Comment by Rita: às	Comment by Rita: no
A mulher transexual tem a condição de uma pessoa que detém uma identidade de gênero diferente da atribuída ao nascimento, desejando ser aceito e viver como sendo uma pessoa do sexo oposto. 	Comment by Rita: aceita
As mulheres transexuais também merecem a proteção de sua dignidade, devendo o judiciário, o legislador, realizar uma interpretação à luz do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, princípio esse, que é devidamente assegurado pelo Estado Democrático de Direito.
1.4 AS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
No capítulo II a Lei 11.304/06 aborda as medidas protetivas de urgência, essas mesmas buscam assegurar a manutenção da integridade física, moral, psicológica e patrimonial da mulher vítima de violência doméstica e familiar, desta forma garantindo a proteção jurisdicional. É o ponto mais importante na perspectiva deste trabalho, devem ser utilizadas no caso de risco eminente e são capazes de resguardar a integridade da mulher.	Comment by Rita: deletar	Comment by Rita: na perspectiva	Comment by Rita: são capazes 
As medidas protetivas podem ser concedidaspelo juiz, mediante pedido da ofendida ou a requerimento do Ministério Público (artigo 19, caput, da Lei 11.340/2006). Por serem de caráter provisório, poderão ser revogadas a qualquer tempo, bem como substituídas por outras de maior eficácia, de modo proporcional à efetiva proteção da ofendida, podendo culminar na prisão preventiva (artigo 20 da Lei 11.340/2006).
Para garantir o cumprimento da medida protetiva o juiz pode a qualquer momento requisitar apoio policial. As medidas protetivas elencadas pela Lei Maria da Penha podem ser divididas em duas modalidades: 
“a) medidas que obrigam o agressor ( Art. 22):
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor,
em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência,
entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao
órgão competente, nos termos da Lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o
limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio
de comunicação;
c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade
física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a
equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras
previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as
circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao
Ministério Público.
§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas
condições mencionadas no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22
de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou
instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a
restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor
responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de
incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o
juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.
§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto
no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de
1973 (Código de Processo Civil).”
b) medidas que favorecem a ofendida (Arts. 23 e 24):
“Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitário de proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos
relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar,
liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra,
venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização
judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; 
37
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e
danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo. “
Visto isso quando se confronta este entendimento ao assunto do trabalho, proteção de mulheres transexuais vítimas de violência doméstica, é possível se concluir pela aplicabilidade das medidas protetivas da Lei Maria da Penha, tendo em vista que possuem reconhecimento jurídico assegurado.
1.5 AS FORMAS DE VIOLÊNCIA SEGUNDO A LEI 11.340/2006
1.5.1 A violência física
É o uso da força, mediante socos, pontapés, empurrões, arremesso de objetos, queimaduras com líquidos ou objetos quentes, ferimentos com instrumentos pontiagudos ou cortantes que tenham por objetivo agredir a vítima, ofendendo sua integridade ou saúde corporal, deixando ou não marcas aparentes.	Comment by Rita: ou
Está presente no artigo 7° no inciso I da Lei 11.340/06, que se entende como qualquer conduta que ofenda a integridade física ou a saúde corporal da mulher.
Conforme Alice Bianchini (2016, p. 49): 
A percepção da sociedade sobre violência física foi objeto de estudo da pesquisa Instituto Avon, realizada no ano de 2011. Para 80% dos entrevistados, a violência física deve ser entendida como a prática de socos e chutes. Para 3% dos entrevistados, a violência física pode ser entendida até como a violência que acarreta a morte.
As lesões podem ser classificadas como, lesão de natureza leve, grave ou gravíssima, e será punido de acordo com a pena estabelecida para cada tipo de lesão. Conforme o Art. 129 do Código Penal, o crime ocorre no ato de “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano.”
1.5.2 Violência psicológica
Também conhecida como agressão emocional e pode ser tão grave quanto a agressão física, as marcas deixadas por esse tipo de agressão são invisíveis e podem comprometer o bem-estar emocional da mulher, causando danos irreparáveis.
Esse tipo de violência é descrito como qualquer conduta que lhe cause efetivamente um dano psicológico. 
Conforme Altamiro de Araújo Lima Filho (2007, p. 46): 	Comment by Rita: autor não referenciado ao final
É descrita como qualquer conduta causadora de dano emocional (perturbação do espírito, alteração psicológica penosa ante fato inesperado) e da qual decorra alternativamente: a) redução do amor próprio por prejudicar e perturbar o pleno desenvolvimento; b) degradação, isto é, aviltamento, rebaixamento; c) controle de ações (domínio, fiscalização de atos), comportamentos (condutas, procedimentos), crenças (convicções íntimas) e decisões (resoluções, deliberações). Observa-se que a conduta causadora de um dos danos emocionais enumerados (letra a, b e c) deve implicar necessariamente, também na alternativa, em 1) ameaça (vis compulsiva), anuncio de mal injusto e grave, através de palavra oral ou escrita, de movimentos corpóreos ou, ainda, por qualquer outro meio simbólico; 2) constrangimento, tolhimento do livre exercício do gozo da liberdade pessoal; 3) humilhação (menosprezo, rebaixamento moral); 4) manipulação (controle, dominação); 5) isolamento (segregação, imp0sição de solidão); 6) (tratamento injusto obstinado) 8) insulto (ofensa); 9) chantagem, obtenção de favores ou vantagens em troca de algo; 10) ridicularização (escárnio, zombaria, deboche); 11) exploração (obtenção de proveito, aproveitamento da boa-fé); 12) limitação do direito de ir e vir (impedir a liberdade de locomoção); 13) qualquer meio ocasionador de prejuízo à saúde psicológica (saúde mental ou à autodeterminação (direito de escolha pessoa). 
O problema está que a violência psicológica não é muito conhecida por boa parte das pessoas, pois pensam que as atitudes descritas no inciso II da Lei 11.340/06, não são consideradas algo tão grave e ilícito, sendo assim não é dada a devida importância como à violência física. 
Grande parte das mulheres sofrem com violência psicológica e nem mesmo tem consciência disso, não sabem que estão sendo vítimas de tal violência, acreditando que a única forma de violência é a física.
1.5.3 Violência sexual
É uma conduta que visa provocar na vítima constrangimento com o propósitode limitar a autodeterminação sexual da mesma, tanto pode ocorrer mediante violência física como através de grave ameaça, ou seja, com o uso da violência psicológica.
Tal violência se encontra no inciso III do artigo 7° da Lei 11.340/06, implica na conduta de forçar, constranger ou obrigar a mulher a praticar ou não relação sexual. 
Também é considerada violência sexual qualquer que seja a conduta que através de manipulação, chantagem, coação ou suborno, force ao abordo, à prostituição, ao matrimônio, à gravidez, induza a mulher comercializar sua sexualidade, à impeça de usar qualquer tipo de método contraceptivo ou à induza a utilizar sua sexualidade de forma indesejada.	Comment by Rita: a mulher	Comment by Rita: a	Comment by Rita: a
De acordo com Alice Biachini (2016, p. 53): 	Comment by Rita: autora não referenciada ao final
Os direitos sexuais pressupõem a livre exploração da orientação sexual, podendo a pessoa promover a escolha do parceiro(s) e exercitar a prática sexual de forma dissociada do objetivo reprodutivo. Deve ser assegurado o direito pratica sexual protegida de doenças sexualmente transmissíveis, além do necessário respeito integridade física e moral. Já os direitos reprodutivos devam em conta do número de filhos que um casal deseja ter, independentemente de casamento, sendo assegurado o direito ao matrimonio desde que haja concordância plena de ambos.	Comment by Rita: rever redação – faltam partes de palavras, letras...
 
Apesar de não ser essa modalidade de violência muito comentada na mídia, acontece frequentemente, visto que, muitos veem como obrigação da mulher ter relação sexual, quando o marido, namorado ou convivente bem entender.
1.5.4 Violência patrimonial
Ocorre quando o ato de violência implica qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.
Encontrado no inciso IV do artigo 7° da Lei Maria da Penha, tal violência trata-se de subtrair, reter, ou destruir bens pertencentes à mulher. 
 
Ainda, de acordo com Alice Biachini (2016, p. 55): 
O empoderamento econmico‐profissional das mulheres é um fenomeno decorrente das necessidades e consequências da Segunda Guerra Mundial. Apesar do tempo transcorrido, a superação de interditos culturais, sociais e legais de adquirir bens e deles livremente dispor, inclusive de rendimentos, não é, ainda, bata ha completamente vencida. Grande parte da população continua sendo educada vendo o homem como provedor necessario da familia, da justificando‐se e até buscando‐se a permanência dos homens na condição de chefes de familia, administrando e controlando os recursos financeiros da comunidade familiar, o que pode ser considerado uma forma de dominio e mesmo de chantagem para a imposição da vontade masculina e manutenção da reação desigual de poder entre g neros.ao matrimonio desde que haja concordância plena de ambos.	Comment by Rita: Rever redação – palavras truncadas
	
1.5.5 Violência moral
Entendida como qualquer conduta que configure em calúnia (imputar falsamente fato definido como crime), difamação (imputar fato ofensivo a sua reputação) ou injúria (ofender a dignidade ou decoro de alguém). São tipos que ocorrem concomitantes à violência psicológica.
Presente no inciso V do artigo 7° da Lei 11.340/06, a violência moral contra a mulher, que é resumidamente os conceitos do Código Penal dos crimes de calúnia, difamação e injúria.
Essa forma de violência está interligada com a violência psicológica, pois ambas envolvem de forma negativa o emocional da vítima, a diferença encontra-se nas ofensas, nas palavras proferidas a mulher. 
Explica Valéria Diez (2015, p. 108):	Comment by Rita: autora não está referenciada
A violência moral é uma das formas mais comuns de dominação da mulher. Xingamentos públicos e privados minam a autoestima e expõem a mulher perante amigos e familiares, contribuindo para seu silêncio. Apesar dos efeitos deletérios desse tipo de crime, a legis ação é manifestamente ineficaz e insuficiente para reprimi-los. Em primeiro lugar, os crimes contra a honra são de ação penal privada (art. 145 do Código Penal), o que dificulta a jurisdicionalização do crime. Mesmo que as vítimas tenham sido informadas na e delegacia quanto necessidade de promover ―queixa, como no conhecimento popular queixa é sinônimo de registrar boletim de ocorrência ou representar, a vítima pode acreditar que o simples registro do boletim seja suficiente.	Comment by Rita: rever redação – palavras truncadas
Uma vez demonstradas as formas de violência descritas no artigo 7° da Lei Maria da Penha, é possível concluir a importância da referida lei para a proteção da mulher, visto que, a violência doméstica vai muito além da agressão física, e o objetivo da Lei é justamente coibir quaisquer tipos de violência contra a mulher.	Comment by Rita: demonstradas
1.6 Violência De Gênero 
De acordo com Tamara Amoro gênero pode ser definido como uma construção histórica e social, explicada pela simbolização das diferenças anatômicas entre homens e mulheres (2013, p. 42): 
A discussão e a conceituação do termo gênero iniciaram-se no campo das ciências sociais, por impulso de teóricas femi$nistas que bus- cavam a desconstrução de teorias que, fundadas em aspectos biológicos, determinavam papéis sociais restritos e compulsórios para homens e mulheres, particularmente excluindo-as da arena pública e os apartando da esfera privada e do cuidado, respectivamente. Inicialmente, o termo foi bastante usado nas teorias da psicologia que discutiam os casos de transexuais e intersexos (década de 1950). Aos poucos, essa terminologia foi sendo também apropriada pelos movimentos sociais e por antropólogas feministas, tendo se tornado hoje um campo de estudos e análises. Importa notar que os estudos de gênero inseriam-se (e ainda se inserem) em um projeto político que visa implodir as assimetrias de poder historicamente construídas entre homens e mulheres. Ao longo do tempo, foram incorporadas a essa discussão também perspectivas de outras etnias e de classe social, complexificando a questão e conjugando a formação de hierarquias a partir do estabeleci- mento de valorações fundadas nestas três categorias, em intersecção. No direito, esse percurso resultou em impactos significativos, que contribuíram para o aprofundamento do processo de especificação dos sujeitos de direito, mas apenas em um segundo momento.
Para ser aplicada a Lei Maria da Penha neste grupo a violência tem por base uma questão de gênero, além disso, outro requisito para aplicação da lei, é que tenha relação com contexto doméstico ou familiar ou a existência de uma relação íntima de afeto, conforme determina o artigo 5° da Lei 11.340/06.
	Comment by Rita: Inserir uma frase (um tipo de gancho) remetendo o leitor para o tema que será tratado no cap que segue
2 GÊNERO E TRANSEXUALIDADE
2.1 CONCEITO DE GÊNERO
É necessário abordar a questão que fala sobre a identidade de gênero e a transexualidade. A transexualidade é considerada um fenômeno complexo. Em linhas gerais, caracteriza-se pelo sentimento intenso de não-pertencimento ao sexo anatômico, sem a manifestação de distúrbios delirantes e sem bases orgânicas (CASTEL, 2001, p.77). 	Comment by Rita: Falta referenciar
Sexo homem, sexo mulher não é um simples fato ou uma condição estática e sim "uma construção ideal forçosamente materializada através do tempo" (BUTLER, 2002, p.18).
Iniciando a reflexão de gênero em seu significado gramatical:
“O termo gênero é uma representação não apenas no sentido de que cada palavra, cada signo, representa seu referente, seja ele um objeto, uma coisa, ou ser animado. O termo “gênero” é, na verdade, a representação de uma relação, a relação de pertencer a uma classe, um grupo, uma categoria. Gênero é a representação de uma relação(...) o gênero constrói uma relação entre uma entidade e outras entidades previamente constituídas comouma classe, uma relação de pertencer(...) Assim, gênero representa não um indivíduo e sim uma relação, uma relação social; em outras palavras, representa um indivíduo por meio de uma classe (Lauretis, 1994, p. 210) .”
De acordo com Lauretis (1994) quanto à construção do gênero enquanto produto e processo:
“A construção do gênero é tanto produto quanto o processo de sua representação”. Para ela o “sistema sexo-gênero, enfim, é tanto uma construção sociocultural quanto um aparato semiótico, um sistema de representações que atribui significado (identidade, valor, prestígio, posição de parentesco, status dentro da hierarquia social etc.) a indivíduos dentro da sociedade. Se as representações de gênero são posições sociais que trazem consigo significados diferenciais, então o fato de alguém ser representado ou se representar como masculino ou feminino subentende a totalidade daqueles atributos social (Lauretis, 1994, p. 212).”
De acordo com Lauretis (1994, p. 216):
“Pois, se o sistema sexo-gênero é um conjunto de relações sociais que se mantém por meio da existência social, então o gênero é efetivamente uma instância primordial da ideologia, e obviamente não só para as mulheres. Além disso, trata-se de uma instância fundamental de ideologia, independentemente do fato de que certos indivíduos se vejam fundamentalmente definidos (oprimidos) pelo gênero, como as feministas culturais brancas, ou por relações de classe e raça, como é o caso das mulheres de cor.”
Afinal de contas, o que é uma pessoa transgênero? Pessoas podem se nomeadas como transgênero ou cisgenero, a última significa que você se identifica ao sexo atribuído biologicamente. Pessoas que não se identificam com o sexo atribuído são como anteriormente falado, transgêneros.	Comment by Rita: Separar as palavras
Infelizmente ainda nos dias atuais é possível ver um certo tipo de preconceito por pessoas trans, vistas como anormais, pois não se identificam com o sexo atribuído a si. A ideia de que o “normal” é se identificar com o sexo o qual nasceu é muito grande, e essas pessoas com muita dificuldade tentam se inserir na sociedade sem que sofram preconceito.
No Brasil essas pessoas têm muita dificuldade para aceitação na sociedade, não possuem acesso facilitado ao direito civil, ficam desamparadas, principalmente quando se trata do reconhecimento de sua identidade. Muitos sofrem inclusive violência física e psicológica. 	Comment by Rita: têm
De acordo com a organização internacional Transgender Europe (TGEU) que tem se concentrado em pesquisar experiências de pessoas trans e gênero-diversas com violência e criminalidade, no período de três anos entre 2008 e 2011, trezentas e vinte e cinco pessoas trans foram assassinadas no Brasil, sendo que grande partem eram mulheres trans. 	Comment by Rita: fonte não referenciada
Os motivos de tais crimes, se baseiam pelo fútil motivo de preconceito e ódio a essas pessoas, não aceitação e repudio de mulheres transexuais. 	Comment by Rita: Os motivos
2.2 SIGNIFICADO DE GÊNERO
De acordo com Scott gênero significa:
“Ora, o indivíduo não pode ser pensado sozinho: ele só existe em relação. Basta que haja relação entre dois indivíduos para que o social já exista e que não seja nunca o simples agregado dos direitos de cada um de seus membros, mas um arbitrário constituído de regras em que a filiação (social) não seja nunca redutível ao puro biológico (HÉRITIER, 1996: 288 – tradução minha). 	Comment by Rita: Heritier está nas referências – teve acesso ao original?
Por “gênero”, eu me refiro ao discurso sobre a diferença dos sexos. Ele não remete apenas a ideias, mas também a instituições, a estruturas, a práticas cotidianas e a rituais, ou seja, a tudo aquilo que constitui as relações sociais. O discurso é um instrumento de organização do mundo, mesmo se ele não é anterior à organização social da diferença sexual. Ele não reflete a realidade biológica primária, mas ele constrói o sentido desta realidade. A diferença sexual não é a causa originária a partir da qual a organização social poderia ter derivado; ela é mais uma estrutura social movediça que deve ser ela mesma analisada em seus diferentes contextos históricos (SCOTT, 1998: 15 – tradução minha).”
Sobre o estudo de um psicólogo norte-americano chamado Robert Stoller (1978), o mesmo estudou inúmeros casos de indivíduos considerados “hermafroditas” ou com os genitais escondidos e que, haviam sido chamados com o gênero oposto ao de seu sexo biológico: que é " mais fácil mudar o sexo biológico do que o gênero de uma pessoa". Para Stoller, uma criança aprende a ser menino ou menina até os três anos, momento de passagem pelo complexo de Édipo e pela aquisição da linguagem. Este é um momento importante para a constituição do simbólico, pois a língua é um elo fundamental do indivíduo com sua cultura.
Em relação a Saffioti (1992, p. 210) sobre construção de gênero ele diz:
Considera que não se trata de perceber apenas corpos que entram em relação com outro. É a totalidade formada pelo corpo, pelo intelecto, pela emoção, pelo caráter do EU, que entra em relação com o outro. Cada ser humano é a história de suas relações sociais, perpassadas por antagonismos e contradições de gênero, classe, raça/etnia.
Lauretis (1994), sobre o termo gênero, verifica que: 
O termo gênero é uma representação não apenas no sentido de que cada palavra, cada signo, representa seu referente, seja ele um objeto, uma coisa, ou ser animado. O termo “gênero” é, na verdade, a representação de uma relação, a relação de pertencer a uma classe, um grupo, uma categoria. Gênero é a representação de uma relação(...) o gênero constrói uma relação entre uma entidade e outras entidades previamente constituídas como uma classe, uma relação de pertencer(...) Assim, gênero representa não um indivíduo e sim uma relação, uma relação social; em outras palavras, representa um indivíduo por meio de uma classe (Lauretis, 1994, p. 210).
Seguindo o texto de Lauretis (1994), os conceitos de masculino e feminino, nas quais todas as pessoas que nascem são classificadas, formam um sistema de gênero. Vale destacar que:
Embora os significados possam variar de uma cultura para outra, qualquer sistema de sexo-gênero está sempre intimamente interligado a fatores políticos e econômicos em cada sociedade. Sob essa ótica, a construção cultural do sexo em gênero e a assimetria que caracteriza todos os sistemas de gênero através de diferentes culturas são entendidas como sendo sistematicamente ligadas à organização da desigualdade social (Lauretis, p. 212).
Uma das principais teses do texto de Lauretis (1994) quanto à construção do gênero:
A construção do gênero é tanto produto quanto o processo de sua representação”. Para ela o “sistema sexo-gênero, enfim, é tanto uma construção sociocultural quanto um aparato semiótico, um sistema de representações que atribui significado (identidade, valor, prestígio, posição de parentesco, status dentro da hierarquia social etc.) a indivíduos dentro da sociedade. Se as representações de gênero são posições sociais que trazem consigo significados diferenciais, então o fato de alguém ser representado ou se representar como masculino ou feminino subentende a totalidade daqueles atributos social (Lauretis, 1994, p. 212).
Lauretis (1994, p. 216), Diz ela: 
Pois, se o sistema sexo-gênero é um conjunto de relações sociais que se mantém por meio da existência social, então o gênero é efetivamente uma instância primordial da ideologia, e obviamente não só para as mulheres. Além disso, trata-se de uma instância fundamental de ideologia, independentemente do fato de que certos indivíduos se vejam fundamentalmente definidos (oprimidos) pelo gênero, como as feministas culturais brancas, ou por relações de classe e raça, como é o caso das mulheres de cor.
Desta forma, os autoresdefinemgênero:
Gênero é a organização social da diferença sexual percebida. O quenão significa que gênero reflita ou implemente diferenças físicas fixas e naturais entre homens e mulheres, mas sim que gênero é o saber que estabelecesignificados para as diferenças corporais. Esses significados variam de acordo com as culturas, os grupos sociais e no tempo, já que nada no corpo [...] determina univocamente como a divisão social será estabelecida. (Scott, 1994, p. 13) 
Cada indivíduo tem o direito de definir suas próprias identidades e esperar que a sociedade as respeite. Isso também inclui o direito de expressar nosso gênero sem medo de discriminação ou violência. Em segundo lugar, temos que ter o direito exclusivo de tomar decisões sobre nossos próprios corpos, e que nenhuma autoridade política, média ou religiosa violará a integridade de nossos corpos contra nossa vontade ou impedir nossas decisões acerca do que fazemos com eles (KOYAMA, 2001, p. 2).
Para Meyerowitz (2002), a transexualidade como o transexualismo se refere ao desejo da pessoa na mudança do seu sexo biológico:
A mesma pessoa pode se identificar como uma lésbica bem masculina em um momento da vida e como um transexual FTM em outro. [...] O desejo de mudar o sexo no corpo não corresponde necessariamente a algum comportamento erótico padrão ou desejo sexual. Em termos de atração sexual, muitos transexuais se identificam como heterossexuais, isto é, transexuais masculinos para femininos frequentemente se veem como mulheres heterossexuais, e transexuais femininos para masculinos se veem como homens heterossexuais. Mas alguns transexuais se identificam como (e são reconhecidos como) homossexuais, bissexuais ou assexuados. [...] Pelas definições mais comuns atualmente, transexuais não são intersexos, um termo usado para descrever pessoas que são normalmente chamadas de "hermafroditas" e "pseudo–hermafroditas", pessoas com condições físicas nas quais os genitais ou aparelho reprodutivo não se adequam exatamente à categoria de macho e fêmea. (MEYEROWITZ, 2002, p. 10 – Tradução minha).	Comment by Rita: quem traduziu
Afirma Lionço:
O que chama à atenção é o fato da descrição do transexualismo incluir, como critério diagnóstico, o desejo pela intervenção médica oferecida como solução para o dito transtorno, o que permite afirmar que o próprio saber médico é determinante na caracterização do tipo de quadro patológico, ou, dito em outros termos, a própria medicina estaria promovendo um certo ordenamento subjetivo. (LIONÇO, 2008, p. 3).
Gênero é entendido como relações estabelecidas a partir da percepção social das diferenças biológicas entre os sexos (Scott, 1995). Tal percepçãoestá fundada nos esquemas classificatórios que expõem os sexos masculino/feminino, sendo esta oposição homóloga e relacionada a outras: forte/fraco; grande/pequeno; acima/abaixo; dominante/dominado (Bourdieu, 1999). Essas oposições são arbitrárias e historicamente construídas:
A divisão entre os sexos parece estar na ordem das coisas(...) ela está presente, ao mesmo tempo, em estado objetivado (...) em todo o mundo social, e em estado incorporado, nos corpos e nos habitus dos agentes, funcionando como sistemas de esquemas de percepção, de pensamento e de ação (Bourdieu, 1999, p. 17).
2.3 DIFERENÇA ENTRE GÊNERO E SEXO
Ao entramos no assunto referente a gênero e sexo, surgem muitas dúvidas e confusão é feita, o principal é saber que gênero e sexo não são a mesma coisa.
Para a Lei 11.340/06 em relação ao agressor o sexo não importa, podendo ser o mesmo homem ou mulher.
O sexo é a característica biológica do ser humano, o mesmo é reconhecido ao nascimento ou até mesmo antes através de exames na gravidez. 
Já quando falamos de gênero o conceito é muito mais amplo, não se baseia no sexo, é uma construção social. 
Para Alice Biachini (2016, p. 58):
De acordo com o art. 5°, parágrafo único, a Lei n. 11.340/2006 deve ser aplicada, independentemente de orientação sexual, razão pela qual, na relação entre mulheres héteros ou transexuais sexobiogico não corresponde identidade de genero sexo masculino e identidade de gênero feminina), caso haja violência baseada no gênero, deve haver incidência do referido diploma legal. 	Comment by Rita: revisar redação – palavras truncadas
Deste ponto de vista a Lei Maria da Penha deve tratar a violência doméstica em virtude do gênero e não do sexo, para uma aplicação mais justa e protegendo as mulheres transexuais. 
2.4 ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO
Quando se fala de orientação sexual se trata de as formas de atração sexual e afetiva de cada pessoa. A orientação sexual cada um escolhe no decorrer da vida. 
Desta forma traduzindo o termo, significa pelo sexo ao qual cada um visa ter desejo sexual e afetivo. 
A orientação sexual divide-se em quatro classificações: 
1. Heterossexual: pessoa que sente atração sexual ou afetiva por outra pessoa do sexo oposto, exemplo: mulher sente atração por um homem, ou vice e versa. 
2. Homossexual: a pessoa possui desejo sexual ou afetivo por pessoa do mesmo sexo, exemplo: mulher tem atração por outramulher, ou homem sente atração por outrohomem. 
3. Bissexual: refere-se a pessoa que sente atração sexual ou afetiva por pessoas de ambos os sexos, tanto homem quanto mulher, exemplo: homem tem atração por mulher e por homem, mulher tem atração por homem e por mulher. 
4. Assexual: Neste caso, não há atração por sexo nenhum, à pessoa assexuada é totalmente indiferente a sexo, não possuindo nenhuma atração sexual ou afetiva por homem ou por mulher.
No site www.nacoesunidas.org é possível verificar o conceito do termo identidade de gênero: 
A identidade de gênero se refere à experiência de uma pessoa com o seu próprio gênero. Indivíduos trans possuem uma identidade de gênero que é diferente do sexo que lhes foi designado no momento de seu nascimento. A identidade de gênero é diferente de orientação sexual — pessoas transpodem ter qualquer orientação sexual, incluindo heterossexual, homossexual, bissexual e assexual. A publicação da Livres & Iguais enfatiza que ser trans não é uma doença e que a patologização é uma das causas primárias das violações de direitos humanos sofridas por pessoas transgênero. Alguns indivíduos trans buscam procedimentos de redesignação do sexo, incluindo intervenções cirúrgicas e tratamentos hormonais. Nem todos, porém, buscam tais medidas e elas nunca devem ser um requisito para o reconhecimento da identidade de gênero.; sexo masculino e identidade de gênero feminina), caso haja violência baseada no gênero, deve haver incidência do referido diploma legal.
Podemos usar como principais exemplos os travestis, transgêneros e os transexuais. 	Comment by Rita: exemplos de que?
Porém é importante ressaltar, que não se pode confundir identidade de gênero com orientação ou orientação sexual, uma pessoa trans não necessariamente será homossexual, não tendo ligação os dois termos, podendo alguém transexual ter qualquer orientação sexual, incluindo heterossexual, homossexual, assexual e bissexual. 	Comment by Rita: Porém
O conceito do termo travesti se refere a uma pessoa que não se identifica com o sexo que biologicamente nasceu e busca se vestir como pessoas do outro sexo. É a pessoa que inverte o uso de roupas, gestos, voz, e muitas vezes usa um nome social relacionado com o sexo desejado.
Já o transexual, se refere a uma condição de inconformismo com o sexo de origem biológica. Que muitas vezes a pessoa realiza a cirurgia de redesignação sexual, busca alterar o sexo ou tratamento hormonal, o mesmo não se sente bem no corpo em que nasceu desejando outra identidade de gênero. Para essas pessoas transexuais, acredita-se que a realização de mudança de sexo vai trazer a felicidade com o próprio corpo podendo assim se encaixar no mundo e na sociedade.
O termo transgêneroabrange as pessoas com identidade de gênero diversa do sexo biológico. 
A transexualidade é a condição de uma pessoa que detém uma identidade de gênero diferente da atribuída ao nascimento, desejando ser aceito e viver como sendo uma pessoa do sexo oposto. 
Para Maria Helena Diniz, (2014, p. 364), a transexualidade é quando um indivíduo se identifica psicologicamente com o sexo oposto:
Transexualidade é a condição sexual da pessoa que rejeitasua identidade genérica e a própria anatomia de seu gênero, identificando-se psicologicamente com o gênero oposto. Trata-se de um drama jurídicoexistencial, por haver uma cisão entre a identidade sexual física e psíquica. É a inversão da identidade psicossocial, que leva a uma neurose reacional obsessivo-compulsiva, manifestada no desejo de reversão sexual integral. Constitui, por fim, uma síndrome caracterizada pelo fato de uma pessoa que pertence, genotípica e fenotipicamente, a um determinado sexo ter consciência de pertencer ao oposto. O transexual é portador de desvio psicológico e permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo e tendência a automutilação ou autoextermínio. Sente que nasceu com o corpo errado, por isso, recusa totalmente o seu sexo, identificando-se psicologicamente com o oposto ao que lhe foi imputado na certidão de nascimento, apesar de biologicamente não ser portador de qualquer anomalia. Eis o motivo pelo qual Stoller fala em disforia de gênero, pois nítido são o sofrimento psíquico do transexual por fazer parte de um gênero e a sua dificuldade de convivência com a frustação de pertencer aos sexo não desejado. O verdadeiro transexual ou hermafrodita psíquico, como prefere Money, é um doente, não estando, portando, impelindo por libertinagem ou vício agir conforme o sexo oposto ao seu. Por tal razão é preciso respeitá-lo como ser humano, não considerando a aparência física que provoca ou sua preferencia sexual. É preciso respeitar sua dignidade, já que não foi favorecido pela sorte, sofrendo perturbação de identidade sexual, como dizem John Money e Gaskin, ou de esquizossexualidade, segundo Franchini. 
Para Holdemar Oliveira de Menezes (1978, p. 85), a transexualidade também é considerada como origem psicológica: 	Comment by Rita: não está nas referências
Transexualismo é a inadequação psicológica ao sexo somático, que é aquele denunciado pela genitália interna, pela genitália externa e pelos caracteres secundários; ou ainda, a não harmonização entre o sexo somático e o sexo psicossocial, com alterações no comportamento sexual do indivíduo.
 Para a APA – American PsychiatricAssociation, defende que ninguém nasce com um gênero, todo mundo nasce com um sexo biológico. Gênero é um conceito sociológico e psicológico, não é biológico, vejamos, <http://www.acpeds.org>
Ninguém nasce com um gênero. Todo mundo nasce com um sexo biológico. Gênero (consciência e percepção de si mesmo como homem ou mulher) é um conceito sociológico e psicológico; não é biológico objetivo. Ninguém nasce com consciência de si mesmo como homem ou mulher; essa consciência se desenvolve ao longo do tempo e, como todos os processos de desenvolvimento, pode ser prejudicada pelas percepções subjetivas, relacionamentos e experiências adversas de uma criança desde a infância. As pessoas que se identificam como "se sentindo como o sexo oposto" ou "em algum lugar no meio" não compreendem um terceiro sexo. Eles permanecem homens biológicos ou mulheres biológicas A crença de uma pessoa de que ela é algo que não é, na melhor das hipóteses, é um sinal de pensamento confuso. Quando um menino biológico saudável acredita que é uma menina ou uma menina biológica saudável acredita que é um menino, existe um problema psicológico objetivo que está na mente e não no corpo, e deve ser tratado como tal. Essas crianças sofrem de disforia de gênero. (...) De acordo com o DSM-5, até 98% dos meninos confusos quanto ao gênero e 88% das meninas confusas com relação a sexo acabam aceitando seu sexo biológico depois de passar naturalmente pela puberdade. 
Para quem defende a transexualidade como psicológica, se entende que tudo deriva do psicológico da pessoa transexual, sem alteração biológica, não tem como definir que o bebê venha nascer transexual, sendo tudo analisado após o nascimento do mesmo. É entendido como se psicologicamente a pessoa se veja como uma pessoa do sexo oposto e não como a pessoa que tenha nascido biologicamente no corpo errado. 	Comment by Rita: fonte?
Vale lembrar que não se deve confundir o homossexual com o transexual, tendo em visto que, o homossexual não se sente mal por pertencer ao sexo biológico, porém, possui atração e sentimentos pela pessoa do mesmo sexo. Já o transexual é um indivíduo que se considera diferente perante a sociedade por pertencer a determinado sexo, não se sentindo feliz, sendo considerado então, como "identidade de gênero". 
O indivíduo transexual apresenta, um desejo incontrolável de viver como pessoa do sexo oposto ao que nasceu, não necessariamente se sente atraída pelo mesmo, e para essas pessoas não existe qualquer argumento capaz de tirar a vontade da busca por essa mudança, sendo a cirurgia de redesignação muitas vezes necessária para a vida dessa pessoa, para conseguir a aceitação com seu próprio corpo.
 Há também alguns estudos de quem entenda que a origem da aversão sexual seja de origem biológica hormonal, pois o transexual já nasce com o desejo de pertencer ao sexo oposto. Quem que defendem que a transexualidade é questão biológica, explica que a pessoa nasce transgênero, e que não tem nada a ver com o meio em que vive, trazendo consigo desde criança, não sendo algo psicológico. O transexual desde criança demonstra não pertencer ao gênero que seus sexos biológicos, demonstra ter nascido no corpo errado. Na gestação, a identidade da pessoa, homem e mulher, é criada após o desenvolvimento dos órgãos sexuais. Já em relação aos transgêneros, existe uma hipótese, em que a ciência explica que a identidade não está em sintonia com o órgão sexual, posto isso, é desde o útero que a pessoa é considerada transexual. Alexandre Saadeh >https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-09082005115642/publico/Tesealexandre.pdf<,	Comment by Rita: Não está referenciado
Para o psiquiatra Alexandre >https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde09082005115642/publico/Tesealexandre.pdf< afirma que a transexualidade não é doença, o indivíduo não "vira" transexual, ele nasce assim, é uma "incongruência de gênero": 
Historicamente têm-se duas linhas de pesquisa: a que envolve fatores hormonais, que vem se desenvolvendo desde a década de 70 e evolui desde a busca de alterações quantitativas de hormônios até a influencia dos hormônios masculinos na diferenciação cerebral; e a que busca alterações genéticas e/ou cromossômicas. 
Em entrevista concedida ao Globo Repórter no dia 23 de setembro de 2016, o psiquiatra Alexandre Saadeh sobre o tema afirma que à origem pode ser biológica e começa na gestação :<http://g1.globo.com/globo-reporte>	Comment by Rita: Sobre o tema, 	Comment by Rita: a
Esse indivíduo tem um intenso sofrimento e uma sensação de inadequação ao seu sexo biológico. [...] A genitália se desenvolve para um lado e o cérebro para o outro. Isso vai se dar por influência de alguns hormônios e algumas substâncias que podem estar circulando pela placenta e pelo cordão umbilical. E aí esse cérebro feminino numa genitália masculina, ou ao contrário, cérebro masculino numa genitália feminina, pode explicar a questão da transexualidade. 
Ainda, em outra entrevista, dessa vez cedida em 20 de Junho de 2018 ao Diário Catarinense, o psiquiatra Alexandre Saadeh também explica que a origem pode ser biológica <https://www.nsctotal.com.br/>:
 [...] E existe alguma nova resolução em vista? O Conselho Federal de Medicina se reúne quase todos os meses para discutir uma nova resolução. Faço parte da comissão, porque os integrantes pensam ser importante a discussão e possível inclusão de crianças e adolescentes. Esta é uma nova realidade, que não existia. E são três grupos completamente diferentes: crianças, adolescentes e adultos. Para os adultos, hoje já está tudo preestabelecido, funcionando. As pessoas já podem mudar seu nome (o STF autorizou agora, não precisa de laudo, o que é ótimo, porque essa questão não tem nada a ver com medicina ou saúde; mas sim com questões burocráticas e do direito). Agora, para fazer as cirurgias ainda precisa de um aval psiquiátrico, e de umaequipe de saúde. É preciso ter o diagnóstico de transexualidade. Diagnóstico? Então transexualidade é uma doença? Não, um diagnóstico não significa que a pessoa está doente. Mas acontece que eu, como médico, preciso justificar o porquê da necessidade das cirurgias e procedimentos. Sem o diagnóstico vira um tratamento estético, uma plástica. E essa questão não é estética, não é plástica. É uma questão fundamental para a vida dessas pessoas. A transexualidade é uma incongruência de gênero. E precisa ser tratada como diagnóstico médico. Transtorno não é sinônimo de doença, mas as pessoas confundem. Tem que ter um diagnóstico, caso contrário não vai poder tomar hormônio, não vai poder fazer cirurgia. E quem está apto a fazer esse diagnóstico geralmente é o psiquiatra, que se dedica ao assunto. A ciência já explica a transexualidade? Existem bases biológicas, baseadas em pesquisas científicas, que indicam tendências da condição transgênero desde a primeira infância. Isso ajuda a entender por que crianças pequenas de três a quatro anos de idade já apresentam essa questão. Não existe ainda uma causa comprovada para essa inadequação entre o cérebro das pessoas trans e o sexo biológico que elas apresentam ao nascer. O que se sabe é que, durante a gestação, a identidade feminina ou masculina é formada no cérebro do bebê depois do desenvolvimento dos órgãos sexuais. No caso dos transgêneros, existe uma hipótese científica de que essa identidade não esteja em sintonia com o órgão sexual. A genitália se desenvolve para um lado e o cérebro para o outro. Isso vai se dar por influência de alguns hormônios e algumas substâncias que podem estar circulando pela placenta e pelo cordão umbilical. E aí esse cérebro feminino numa genitália masculina, ou ao contrário, cérebro masculino numa genitália feminina, pode explicar a questão da transexualidade. 
Do mesmo modo, os pesquisadores do Prince Henry‘sInstituteof Medical Research reforçaram a hipótese de influência genética para a transexualidade <www.ncbi.nlm.nih.gov>: 
Observamos uma associação significativa entre polimorfismos do gene AR mais longos e o transexualismo masculino para feminino. Repetições CAG mais longas no gene AR levam à redução da ligação da proteína AR ao coativador, devido à sua interação inibitória com o receptor, resultando em menor sinalização de testosterona, um mecanismo tipicamente envolvido na masculinização do cérebro durante o início desenvolvimento. Indivíduos do sexo feminino normalmente não têm o aumento de testosterona gonadal que ocorre em indivíduos do sexo masculino. Consequentemente, o gene AR não é ativado. É possível que uma diminuição nos níveis de testosterona no cérebro durante o desenvolvimento possa resultar na masculinização incompleta do cérebro em transexuais masculinos para femininos, resultando em um cérebro mais feminilizado e uma identidade de gênero feminina. Um estudo recente sobre transexuais femininos para masculinos identificou um polimorfismo de nucleotídeo único do CYP17 que foi significativamente associado à ocorrência de transexualismo. Esses indivíduos têm níveis mais altos de testosterona sérica do que os controles femininos, o efeito inverso do que é sugerido em nosso estudo do transexualismo de homem para mulher. O efeito que identificamos foi fraco; Assim, parece altamente provável que o transexualismo de homem para mulher seja devido a múltiplos fatores genéticos. 
No mesmo sentido, para Lemos (2008, p. 18), tratamentos psicológicos não oferecem resultados, a única solução seria a cirurgia de redesignação sexual: 
[...] a única solução para a recuperação da saúde do transexual é a cirurgia, que nada mais é do que a correção de algo que, notadamente, está errado [...], adaptando o corpo à mente do indivíduo, possibilitando-lhe a integração junto ao meio onde vive, até porque a intervenção cirúrgica não se apresenta como satisfação de uma fantasia, mas como uma forma de cura, uma necessidade terapêutica. [...] E, além disso, os tratamentos psicológicos não oferecem resultados significativos, pois o indivíduo não admite a transformação de seu sexo psicológico. A única solução, reprisese, é a cirurgia de transgenitalização. 
Por fim, frisa-se que não há uma data certa para o surgimento da transexualidade, há casos na história na humanidade que demonstram que desde muito tempo existem pessoas transexuais. Conforme Maria Helena Diniz, (2014, p. 366): 
Na história da humanidade sempre existiram e existirão desvios sexuais oriundos de desiquilíbrio hormonal, de desenvolvimento maior de um dos lóbulos cerebrais, de falha educacional etc. Muitos foram os transexuais, por exemplo, Henrique III da França, que, em 1577, chegou até mesmo a comparecer perante os deputados com traje feminino. François Timeléon, o Abade de Choisy, foi educado como uma menina e veio a ser embaixador de Luiz XIV do Sião. har es de Beaumont, hevaierd‘Eon, viveu 4 anos como homem e 34 como mulher, chegando a ser considerado rival da Madame Pompadour; além disso, foi usado por Luiz XV em missões secretas na Rússia e na Inglaterra, ocasiões em que deveria trajar indumentária feminina. 
O transexual é a pessoa que não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer, chamado de identidade de gênero.	Comment by Rita: rever redação – a transexualidade ou o transexual?
O transexual vive em uma situação de inconformismo com o sexo biológico que nasceu não se aceitando e não conseguindo viver bem, seja por sua origem psicológica ou biológica, o transexual deve ser tutelado pelo Estado, visando preservar sua dignidade, igualdade e liberdade.
2.5 A TRANSEXUALIDADE DO PONTO DE VISTA DA PSICOLOGIA 
Existem certas discussões em relação a forma como a psicologia atua frente uma pessoa transexual. É necessário rever a forma de atuação frente às pessoas transexuais, dando auxílio emocional, psíquico, reduzindo o sofrimento da pessoa transexual.
No ano de 2017, o juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, deferiu uma liminar permitindo a cura gay, ganhando forte repercussão junto à opinião pública, sendo alvo de muitas críticas. 
Na decisão o juiz buscou em apoiar a liberdade científica dos profissionais psicólogos, direito esse protegido pela Constituição Federal, sendo assim permitindo que o psicólogo atenda a pessoa que voluntariamente buscar orientação e terapias para reversão sexual, vejamos parte da decisão realizada em audiência no dia 15 de setembro de 2017 :<https://www.conjur.com.br>:
[...] Por todo exposto, vislumbro a presença dos pressupostos necessário para à concessão parcial da liminar vindicada, vis que: a aparência do bom direito resta evidenciada pela interpretação dada a Resolução n° 001/1990 pelo C.F.P., no sentido de proibir o aprofundamento dos estudos cientificas relacionados à (ré) orientação sexual, afetando, assim, a liberdade cientifica do País e, por consequência, seu patrimônio cultural, na medida em que impede e inviabiliza a investigação de aspectos importantíssimo da psicologia, qual seja, a sexualidade humana. O perigo da demora também se faz presente, uma vez que, não obstante o ato impugnado datar da década de 90, os autores encontram-se impedidos de clinicar ou promover estudos científicos acerca da (ré) orientação sexual, o que afeta sobremaneira os eventuais interessados nesse tipo de assistência psicológica. Sendo assim, defiro, em parte, a liminar requerida para, sem suspender os efeitos da Resolução n° 001/1990, determinar ao Conselho Federal da Psicologia que não a interprete de modo a impedir os psicólogos de promoverem estudos ou atendimento profissional, de forma reservada, pertinente à (re)orientação sexual, garantindo-lhes, assim, a plena liberdade cientifica acerca da matéria, sem qualquer censura ou necessidade de licença prévia por parte do C.F.P., em razão do disposto no art. 5°, inciso IX, da Constituição de 1988. 
Para alguns psicólogos, a homossexualidade como algo que pode ser mudado de alguma forma aumenta a violência, por passar a visão de um problema.
Em 2018, foi publicada a Resolução

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