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MedResumos – Fisiopatologia e Diagnóstico Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) Transmissão A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Ademais, o HIV está presente nos fluidos corporais, como o sangue, esperma, secreção vaginal e leite materno. Não obstante, infere-se que a efetividade da transmissão do vírus, varia de acordo com o tipo de secreção e modalidade de contato. Logo, têm-se os seguintes dados. - Sexual: o risco de transmissão a cada 10.000 exposições. Ademais, têm-se as seguintes porcentagens do risco de contaminação de acordo com o tipo de prática sexual: Sexo oral ativo: risco de 0,5%. Sexo oral receptivo: risco de 1%. Sexo vaginal ativo: risco 4,0%. Sexo vaginal receptivo: risco de 10%. Sexo anal ativo: risco de 6,5%. Sexo anal receptivo: risco de 50%. - Vertical: a transmissão vertical pode ocorrer em três estágios: pré-natal; intraparto; aleitamento materno. Há variações no risco de contaminação entre eles, no entanto, o estágio intraparto é o mais crítico, devido à exposição do bebê ao sangue e secreção materna. Ademais, sem as devidas intervenções durante esses três estágios, o risco de contaminação do bebê é de 25% a 35%. - Parenteral: principalmente entre usuários de drogas ou em acidentes com materiais biológicos. No que se concerne os acidentes com material biológico, o risco, em geral, é de 0,3%. O aumento dessa porcentagem terá variações quanto: Tipo de exposição, se foi picada de agulha ou espirro de sangue nas mucosas. Quantidade de sangue envolvido. Carga viral sanguínea. Uso ou não da profilaxia em até 72 horas. Tratamento O tratamento contra o HIV/AIDS consiste no uso de medicamentos antirretrovirais combinados (TARV). Atualmente, os medicamentos existentes são classificados em quatro grupos: A) Inibidores da enzima viral transcriptase reversa: inibidores nucleosídeos e nucleotídeos da transcriptase reversa; inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa. B) Inibidores da enzima viral protease: inibidores de protease. C) Inibidores da enzima viral integrase: inibidores de integrasse. D) Inibidores da internalização do vírus: inibidores de fusão; e antagonistas do CCR5. Ao todo, na indústria farmacêutica, existem 21 medicamentos, em 37 apresentações farmacêuticas distintas. Ademais, os princípios gerais da TARV consistem em associar três antirretrovirais, sendo dois análogos com outro de classe diferente. A indicação de uma classe medicamentosa não depende da genotipagem viral. Desse modo, determinar o genótipo do vírus só é indicado em situações de: pessoas que foram infectadas por parceiros em uso de TARV; gestantes e crianças infectadas pelo HIV; coinfecção com TB-HIV. “Atualmente, preconiza-se o início do TARV a partir do diagnóstico para HIV/AIDS, independentemente da contagem de CD4+”. Princípios da profilaxia pré-exposição (Prep) Utiliza-se o medicamento antirretroviral (Truvada – TDF/FCT). A profilaxia consiste no uso diário, antes da exposição, havendo eficácia que pode MedResumos – Fisiopatologia e Diagnóstico chegar a 100% se a adesão for corretamente adotada. Há poucos eventos adversos. Ademais, o público indicado para tal profilaxia são: homens que fazem sexo com homens (HSH); profissionais do sexo; usurários de drogas endovenosas; população trans. Dentro desse seleto grupo, deve-se obedecer aos seguintes critérios: 1. Relação sexual com penetração sem preservativo nos últimos 6 meses. 2. Episódios recorrentes de IST. 3. Uso repetido de profilaxia pós-exposição. 4. Parceria com pessoa infectada sem conhecimento que não conhece a própria carga viral. Princípios da profilaxia pós-exposição Deve-se iniciar tal profilaxia em até 72 horas. Ademais, utiliza-se a terapia antirretroviral durante 28 dias. Se esses prazos forem respeitados rigorosamente, a eficácia contra o estabelecimento de uma infecção chega a 99%. Ademais, só é indicado para pessoas que se expuseram a situações de sexo inseguro e, também, de exposição ocupacional. Diagnóstico Algumas proteínas virais são bases para os testes diagnósticos do HIV. Ademais, as mais importantes são: Env (gp160, gp 41 e gp41); Gag (p55, p24 e p21); pol (p66, p31 e p51). Não obstante, para o sucesso do diagnóstico, é importante entender a janela imunológica para cada marcador, seja ele antígeno ou anticorpo. Atualmente, existem os seguintes testes mais utilizados para o diagnóstico do HIV. Imunoensaio (IE) Existem quatro gerações de testes de imunoensaio. Entretanto, o mais utilizado é o de 4° geração, pois ele é capaz de detectar – simultaneamente - a proteína viral p24 e anticorpos específicos para anti-HIV. Um grande exemplo, amplamente utilizado, é o ELISA - que é um IE de 4° geração. Tal teste respeita a janela imunológica de 15 dias. Sua sensibilidade e especificidade é de 99%. É um exame feito em laboratório, e o resultado sai em algumas horas depois. Testes Rápidos (TR) De maneira geral, são imunoensaios simples, com resultados em até 30 minutos. A amostra pode ser obtida a partir da punção digital ou amostra de fluido oral. O teste detecta anticorpos através da interação deles com antígenos presentes no teste. Importante! Os portadores da doença que obedecem rigorosamente ao tratamento, onde a carga viral sanguínea é indetectável, são praticamente incapazes de infectar o parceiro com o HIV. Como é feito o diagnóstico, no Brasil, por meio de testes rápidos disponíveis? “Dois testes rápidos positivos de fabricantes diferentes, confirmam diagnóstico para HIV”. MedResumos – Fisiopatologia e Diagnóstico Patogenia Características do Vírus O vírus da imunodeficiência humana (HIV), é um retrovírus humano que pertence à família lentivírus. Ademais, foram isolados dois genótipos do HIV, sendo o HIV-1 e HIV-2, ambos com a mesma progressão clínica. O HIV-1 é o mais prevalente, e será discutido a seguir. Estruturalmente falando, o HIV-1 é esférico e contém núcleo cônico eletrodenso e cercado por um envelope lipídico – que deriva da membrana da célula hospedeira. Componentes do Núcleo A. p24: a principal proteína do capsídeo. Ademais, é o primeiro antígeno a ser alvo dos anticorpos. Esses últimos são identificados nos testes diagnósticos. B. p7 e p9: são proteínas do capsídeo nuclear. C. RNA: existem duas cópias. D. Enzimas: protease, transcriptase reversa e integrasse. A matriz proteica P17 envolve o núcleo viral. Já o envelope do vírus – constituído de uma dupla camada lipídica - contém as glicoproteínas gp120 e gp41, que são importantes para a interiorização do vírus na célula hospedeira. No que se concerne ao HIV- 1, ele possui os genes gag (codifica proteínas do núcleo), pol (codifica a transcriptase reversa, integrasse e protease) e env os quais codificam proteínas virais (gp120 e gp41). A priori, tais proteínas são traduzidas por proteases que as tornam proteínas maduras (existem fármacos que inibem a ação de tal protease). Ademais, existem os genes tat, ver, vif, nef, vpr e vpu que são responsáveis pela síntese e montagem das partículas virais. Gene tat: aumenta a transcrição de genes virais – replicação viral. Gene nef: estimula a ação da quinase intracelular, afetando a ativação das células T, aumento da replicação e infecção viral, reduz a expressão de CD4 e expressão de MHC nas células infectadas. A maior parte das mutações gênicas do vírus, acontecem nos genes responsáveis por expressarem as glicoproteínas do envelope. Tal situação explica o porquê da dificuldade para desenvolver uma vacina, uma vez que a resposta imunológica do hospedeiro, é direcionada ao seu envelope.Ademais, o HIV-1 é divido em dois grupos M e O. O primeiro é o grupo M – o mais comum – que contém subgrupos, designados de A a J. Cada subgrupo se difere quanto à distribuição geográfica, o meio de transmissão, o predomínio em determinado grupo humano. Ciclo de vida do HIV Os principais alvos do HIV são o sistema imunológico e o sistema nervoso central. Ademais, descreve-se, a seguir, a interação do vírus com o sistema imunológico do hospedeiro. Logo, o HIV infecta, preferencialmente, as células que contém o receptor CD4+ presentes, sobretudo, nos linfócitos T CD4+, macrófagos e células dendríticas. Além disso, MedResumos – Fisiopatologia e Diagnóstico existem os correceptores de quimiocinas CCR5 e CXCR4, que colaboram com o sucesso da infecção. Passo a passo da primeira infecção 1. Inicialmente, gp120 interage com o receptor CD4 – célula hospedeira. 2. O evento anterior, desencadeia alterações na membrana do hospedeiro, expondo os receptores de quimiocinas CXCR4 (maior presença nos LT-CD4+) ou CCR5 (maior presença nos macrófagos) que se ligam ao gp120. 3. Por conseguinte, a gp41 sofre alterações estruturais que o permite inserir-se na membrana da célula hospedeira. Tal evento, propicia a fusão do núcleo viral para o interior do citoplasma alvo. 4. Ocorre o rompimento da nucleoproteína viral, liberando o RNA do HIV no plasma. A partir daqui a enzima transcriptase reversa viral converte aquele RNA em DNA viral, que entra no núcleo da célula hospedeira. 5. A enzima integrase viral, entra no núcleo, e catalisa a integração do DNA viral ao genoma da célula hospedeira. Esse DNA integrado do HIV é denominado de provírus. 6. Nas LT-CD4+ que estão no estágio de repouso, o DNA viral permanece no citoplasma do hospedeiro sem ser transcrito. Já nas LT-CD4+ em proliferação, tal DNA se integra o DNA do genoma da célula hospedeira. Neste último evento, o provírus pode permanecer sem ser transcrito por meses ou anos – infecção latente. 7. Ademais, em algum momento, a transcrição torna- se completa, e as proteínas virais são sintetizadas, no citoplasma, a partir da tradução do RNA mensageiro viral. A partir daí, inicia-se a montagem das partículas virais. Tome nota: existem inúmeras cepas do HIV, com diferentes tropismos entre as células com o receptor de CD4. Ademais, a existência desses correceptores de quimiocinas, ajudam a explicar o porquê de algumas cepas infectarem, preferencialmente, uma linhagem de células em diferentes estágios de maturação e etc. Ou seja, há cepas que infectam tanto LT quanto macrófagos, mas outras que só infectam LT, por exemplo. MedResumos – Fisiopatologia e Diagnóstico Progressão da Infecção pelo HIV 1. Estágio agudo As primeiras células a serem infectadas pelo HIV são as LT-CD4+ de memória (expressam CCR5) nos tecidos linfoides das mucosas e, também, das células dendríticas. Essas últimas células, levam informações sobre o antígeno até os tecidos linfoides periféricos (ex: linfonodo e baço), para se comunicar com linfócitos T-auxiliares desses tecidos linfoides. Após alguns dias, inicia-se uma intensa replicação viral nos tecidos linfoides periféricos, onde o HIV contamina mais células imunes, além dos LT-auxiliares, têm os macrófagos e células dendríticas dessa região. A partir daí o paciente desenvolve a síndrome aguda do HIV, apresentando sintomas inespecíficos de uma doença viral qualquer. No entanto, depois de alguns dias, a resposta imunológica humoral e celular do hospedeiro, consegue controlar a infecção, havendo diminuição da viremia à níveis indetectáveis no sangue. A partir desse controle, o HIV entra no período de latência clínica. 2. Estágio crônico Também denominado de período de latência viral – que pode durar anos – ocorre depleção progressiva das células T CD4+. Inicialmente, o organismo até consegue repor novas células, no entanto, os vários anos de latência, desencadeia uma redução inexorável de LT-CD4+ nos tecidos linfoides e circulação sanguínea. Não obstante, há outros componentes do sistema imune que sofrem drásticas reduções e alterações. Não obstante, ocorre uma infecção crônica e progressiva nos tecidos linfoides periféricos. 3. Saída do estágio de latência Para que o ciclo viral se complete, é necessário que a sua fase latente seja ativada. Não obstante, parece que tal ativação acontece por estímulo das respostas imunes do próprio hospedeiro contra outros microrganismos. As citocinas liberadas nessas respostas, induzem a ativação das células infectadas com o genoma viral, e a partir daí, inicia-se um aumento na transcrição do DNA proviral do HIV, com consequente produção de vírions e lise de linfócitos T. Mecanismos de destruição das células T na infecção De modo geral, o HIV destrói as células T CD4+ a partir da infecção lítica dessas células, a destruição celular durante a replicação viral e a produção de vírions. Ademais, além desses mecanismos drásticos da lise celular dos LT, há outros mecanismos de destruição induzidas pelos vírus, tais como: A) Redução do n° de LT-CD4+ maduros: a partir da infecção direta das células progenitoras no timo ou pela infecção de outras células que secretam citocinas que contribuem para o amadurecimento dos LT-CD4. Portanto, ocorre depleção dos LT-CD4+ imaturos, precursores dos LT-CD4+ maduros. 1. Apoptose dos LT+CD4+: 2. Anormalidade na resposta imune: 3. Células T CD4+ não infectadas podem ligar o gp120 solúvel à molécula de CD40, levando a uma sinalização aberrante e apoptose. 4. As células T CD4+ infectadas podem ser destruídas por linfócitos T-auxiliares específicas para o HIV. Normalmente, a razão entre a quantidade de CD4+/CD8+ é um ou dois. No entanto, em pacientes, essa razão é de 0,5 ou menos. Infecção de Monócitos/Macrófagos pelo HIV A infecção pelo HIV ocorre nos monócitos/macrófagos teciduais, mas não naqueles que estão no sangue periférico. Acrescenta-se que os macrófagos são mais resistentes do que os LT, e por isso, conseguem manter o vírus em seu interior por muito mais tempo. Além disso, tais células são MedResumos – Fisiopatologia e Diagnóstico facilmente transportadas para outros tecidos do corpo, aumentando a disseminação do vírus. Nos estágios mais avançados da doença, onde há acentuada depleção dos LT, os macrófagos continuam sendo o local de replicação continuada. Diante disso, muitas funções dos macrófagos/monócitos são prejudicadas – inabilidade de realizar respostas microbicidas, por exemplo -. O que impacta da defesa imunológica contra outros patógenos. Infecção das Células Dendríticas pelo HIV Além das CDs da mucosa, as CDs foliculares nos centros germinativos dos linfonodos são reservatórios importantes do HIV. Tais células evidenciam a maior parte das partículas virais em sua superfície. Células B e outros linfócitos Ocorrem anormalidades nas respostas dos linfócitos B. Diante disso, a infecção por HIV induz a formação de complexos imunes circulantes e hipergamaglobulinemia, em decorrência da ativação policlonal dos LB. Isso acontece, devido a capacidade do HIV de estimular o expansão clonal e diferenciação dos linfócitos B. Além disso, os macrófagos infectados, secretam muita IL-6, que acentua a ativação dos LB. Diante dessa ativação espontânea, a resposta humoral a novos antígenos se torna prejudicada, tanto pela deficiência na comunicação com LT-auxiliares infectados, como também, da resposta de anticorpos a antígenos independentes das células T. Envolvimento do Sistema Nervoso Central Além dos tecidos linfoides, o sistema nervoso central é um importante alvo do HIV, sendo os macrófagos e as células da linhagem de monócitos emacrófagos (células da micróglia) os principais afetados no cérebro. Postula-se que os déficits neurológicos advêm, indiretamente, dos produtos virais e fatores solúveis produzidos pelos macrófagos/micróglia infectados pelo HIV. História natural da infecção pelo HIV Fase Aguda Clínica: doença autolimitante, caracterizada por sintomas inespecíficos como dor de garganta, mialgia, febre, erupção cutânea e, algumas vezes, meningite asséptica. Comportamento do vírus: elevada replicação viral e colonização disseminada dos tecidos linfoides periféricos, com modesta redução dos LT-CD4+. Resposta imune do hospedeiro: após alguns dias, início da resposta imune do hospedeiro, que consegue controlar a infecção. Ademais, é evidenciada a conversão sorológica e desenvolvimento de linfócitos T CD8+ específicas para o vírus. Com o passar dos dias, ocorre estabilização do número de LT-Cd4+. Fase Crônica Clínica: pacientes assintomáticos, mas pode haver outras manifestações mais “brandas” como a linfadenopatia persistente, Candida na boca ou herpres-zóster. Comportamento do vírus: replicação continuada no interior das células alvos, nos tecidos linfoides, durando anos. Resposta imune do hospedeiro: perda contínua de LT-CD4+, mas o corpo consegue repor essas perdas até um certo ponto. Mas com o passar do tempo, o corpo não consegue mais responder à essa depleção acentuada de LT-CD4+, havendo importante redução e o surgimento de doenças oportunistas. Fase de Crise Clínica: marca o início do estabelecimento da AIDS. Ou seja, ocorre um grave desequilíbrio das MedResumos – Fisiopatologia e Diagnóstico respostas imunes do hospedeiro, evidenciando a doença clínica. A partir daí os pacientes apresentam febre por meses, fadiga, perda de peso e diarreia. Nos exames laboratoriais, evidencia-se contagem de LT- CD4+ abaixo de 500 células/microL. Infecções oportunistas graves surgem, neoplasias secundárias e/ou manifestações neurológicas. Comportamento do vírus: intensa viremia. Referências Bibliográficas Robbins, patologia básica / Vinay Kumar... [et al] ; [tradução de Claudia Coana... et al.]. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2013. 928 p. : il. ; 28 cm Imunologia celular e molecular / Abul K. Abbas, Andrew H. Lichtman, Shiv Pillai ; ilustração David L. Baker ; [tradução Anderson de Sá Nunes, Soraya Imon de Oliveira]. - 9. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2019
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