Buscar

Gênero, sexualidade e saúde

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UFV – Universidade Federal de Viçosa 
Matéria: MED 192 – Prática Profissional e Trabalho em Saúde II 
 
 
 
 
Sexualidade e Práticas sexuais 
- Sexualidade: é um aspecto central da vida 
do ser humano que abrange corpo, sexo, 
identidades, papéis e expressões de gênero, 
orientação sexual, erotismo, prazer, 
intimidade e reprodução. É influenciada pela 
interação de fatores biológicos, psicológicos, 
sociais, econômicos, políticos, culturais, legais, 
históricos, religiosos e espirituais. 
- Saúde sexual (OMS): um estado de bem-
estar físico, emocional, mental e social em 
relação à sexualidade, não é meramente a 
ausência de doença, disfunção ou debilidade. 
- Práticas sexuais: se referem a como cada um 
se relaciona sexualmente, incluindo transar, 
procriar e ter prazer. 
Heterocisnormatividade 
-Heterocisnormatividade é uma estrutura 
social que impõe, na definição do que seria 
permitido e autorizado ao ser humano, um 
padrão heterossexual (pessoa que tem 
atração pelo gênero “oposto”) e cisgênero 
(pessoa que se identifica com gênero 
designado ao nascimento). 
Sexo biológico 
- Sexo biológico é uma padronização de 
características físicas, de acordo com 
convenções e conceitos da biologia, para 
descrever diferentes espécies, sejam animais, 
vegetais e até fungos. 
- Na espécie humana, utilizam-se como 
parâmetros os cromossomos, a composição 
hormonal, a genitália e os caracteres sexuais 
secundários para a definição: 
→ Sexo masculino: XY, testosterona, pênis e 
testículos, distribuição de pelos e gorduras 
típicos. 
→ Sexo feminino: XX, estrogênio e 
progesterona, vagina, mamas, distribuição de 
pelos e gorduras típicos. 
Gênero 
- Gênero: é a dimensão social e histórica da 
construção e do entendimento dos 
significados do 
masculino/masculinidade/homem e do 
feminino/feminilidade/mulher. 
- Gênero é uma estrutura social que organiza 
relações, a divisão do trabalho, a distribuição 
da riqueza e da propriedade, o sistema 
político, a educação, a saúde, entre outras. 
- Papéis sociais de gênero: se referem às 
expectativas sociais de comportamentos, 
atitudes, funções, ocupação de espaços, 
responsabilidades e poderes atribuídos à 
feminilidade e à masculinidade. 
- Gênero designado: realizado a partir da 
visualização do sexo, em geral do genial, ao 
ultrassom ou “ao nascimento”. 
- Expressão de gênero: é a forma como a 
pessoa deseja se expressar, em um 
determinado momento e contexto em relação 
a padrões de gênero. 
- Identidade de gênero: se refere à convicção 
da pessoa de se reconhecer como homem, 
mulher, algo entre essas definições ou fora do 
contexto binário hegemônico. 
- Pessoa cisgênero: a identidade que ela tem 
de si mesma e o pertencimento de gênero 
projetado pela sociedade para que ela 
assuma coincidem. 
- Pessoa transgênere: não se identifica em 
algum grau com o gênero designado ao 
nascimento, constrói uma identidade diferente 
da que lhe propuseram e possui o desejo de 
UFV – Universidade Federal de Viçosa 
Matéria: MED 192 – Prática Profissional e Trabalho em Saúde II 
 
 
 
reivindica-la a partir de uma mudança na 
expressão de gênero. 
Transgeneridade/transexualidade 
- Transgeneridade: é a vivência de gênero de 
pessoas transgêneres. 
- Categorias de classificação médica: 
→ CID 10: F 64.0 – Transtorno da identidade 
sexual (transexualismo) 
→ CID 11 (2022): HA60 – Incongruência de 
gênero (condições relacionadas à saúde 
sexual) 
→ DSM 5: disforia de gênero – sofrimento e 
prejuízos de uma pessoa devido à 
transgeneridade. 
Orientação afetivo-sexual 
- Segundo a OMS, refere-se à 
atração/desejo físico, romântico ou emocional 
por outras pessoas. 
- Heterossexuais são pessoas que sentem 
atração por um gênero diferente do seu. 
- Homossexuais são pessoas que sentem 
atração por pessoas do mesmo gênero. 
- Bissexuais são pessoas que sentem atração 
por mais de um gênero. 
- Pansexuais são pessoas que sentem atração 
por pessoas independente do gênero. 
- Assexuais são pessoas que estão em um 
espectro de sentirem pouca ou nenhuma 
atração/desejo sexual por pessoas, apesar de 
poderem ter resposta a estímulos sexuais. 
- Homens cis que fazem sexo com homens cis 
(HcSHc) 
- Mulheres cis que fazem sexo com mulheres 
cis (McSMc) 
 
Desigualdades de gênero 
- “A frase mais lembrada do livro de Simone 
de Beauvoir, O segundo Sexo, ‘não se nasce, 
mas torna-se mulher’, remete a uma ideia 
fundamental do conceito: não é a biologia e 
nem o corpo, mas a vida social e a 
experiência individual moldada pelo contexto 
que constitui o ser mulher.” 
Enfrentamento do patriarcado 
- Patriarcado: é um sistema de crenças e 
organização da sociedade em que os 
homens, enquanto categoria social, exercem 
poder e dominação sobre as mulheres [e 
outras identidades de gênero], explorando-as 
de diversas maneiras. 
- Correlatos: machismo (discursos e 
comportamentos preconceituosos que 
recusam a igualdade de direitos entre 
gêneros em favorecimento dos homens) e 
misoginia (ódio às mulheres). 
- Feminismo: movimentos sociais e acadêmicos 
de luta pela emancipação das mulheres e 
redução das desigualdades de gênero. 
- Violência de gênero: é uma expressão do 
patriarcado e um grave problema de saúde 
pública. 
Primeira onda do feminismo 
- A primeira grande onda feminista, de um 
ponto de vista mais global, é identificada com 
os movimentos em massa de mulheres que 
irromperam na cena pública de vários países 
no final do século XIX e início do século XX, 
identificados com a luta pela isonomia e pelo 
sufrágio (voto). Tal identificação é correta, mas 
igualmente, reducionista, uma vez que deixa 
de apontar a riqueza das pautas e lutas de 
inúmeros grupos de mulheres daquele 
período. 
Segunda onda do feminismo 
- No plano da ação, a ideia geral passará a 
ser: libertar-se da opressão. No entanto, para 
as diferentes mulheres, em suas diferentes 
posições sociais e experiências de vida, a 
opressão era vivenciada de maneiras 
distintas. 
- Para muitas, a libertação no plano da 
sexualidade (pode ter prazer, ter mais de um 
UFV – Universidade Federal de Viçosa 
Matéria: MED 192 – Prática Profissional e Trabalho em Saúde II 
 
 
 
parceiro sexual ou expressar sua homo 
afetividade, por exemplo) era central e 
urgente. Para outras, a questão da opressão 
estava atrelada ao casamento e ao universo 
doméstico, assim como a impossibilidade de 
estudar ou ter uma profissão. Para milhares de 
trabalhadoras, no entanto, o cerne do 
problema seguia sendo o sistema econômico 
que as explorava: o capitalismo. E para a 
maioria delas, o racismo intensificava ainda 
mais a situação. 
- Em uma escala mais global, a segunda onda 
pode ser pensada como estendendo-se por 
um longo período (de 1940 até o início do 
século XXI), assim como ocorrera com a 
primeira. Talvez seu ponto mais visível tenha 
sido as manifestações de rua das décadas de 
1960 e 1970, em determinados países, mas 
ela seguiu refletindo no campo das artes, na 
formação de centros de pesquisa sobre a 
condição das mulheres, em milhares de 
publicações, no ingresso de feministas em 
variadas instâncias de poder, na mudança de 
leis e costumes, no amadurecimento de 
discussões e teorias, etc. 
Terceira onda do feminismo 
- Nos EUA, durante a década de 1980, a 
mídia começou a rotular mulheres 
adolescentes e na casa dos vinte anos como 
uma geração “pós-feminista”, que desfrutava 
de certos ganhos sociais (acesso à educação, 
a diferentes tipos de emprego...), dando a 
entender, igualmente, que os objetivos do 
feminismo haviam sido alcançados. Sob esta 
ótica, o feminismo deixava de ser algo 
necessário. 
- O ensaio de Rebecca Walker (Becoming the 
third wave, 1992), no entanto, documentava 
o sexismo persistente do início dos anos 1990 
e convocava as jovens a se unirem à luta 
feminista. Nesse sentido, ela invocava uma 
terceira onda, ao mesmo tempo que 
identificava-se com ela. A partir dali, feminista 
estadunidenses passaram a descrever as 
décadas seguintes como pertencentes a esta 
terceira onda. 
- Apesardas diferenças de contexto e de 
experiência de militância vários grupos de 
feministas têm produzido uma agenda 
interseccional pautada nas lutas antissexistas, 
antirracistas, anticapitalistas, anti-
homofóbicas, decolonialistas e ecofeministas. 
- Possuem em comum o enfrentamento de 
formas complexas e entrelaçadas de violência 
e opressão perpetradas por um sistema que 
poderíamos chamar de patríaco-capitalo-
racista de dominação. Para enfrenta-lo, uma 
articulação internacional tem sido organizada 
e fortalecida a cada ano. 
Gênero, performance e teoria queer 
- Butler problematiza qualquer 
essencialização, seja dos sexos, seja dos 
gêneros, bem como das distinções entre essas 
categorias: “Se o caráter imutável do sexo é 
contestável [transexualidade, transformações 
corporais], talvez o próprio construto 
chamado ‘sexo’ seja tão culturalmente 
construído quanto o gênero; a rigor, talvez o 
sexo sempre tenha sido o gênero, de tal forma 
que a distinção entre sexo e gênero revela-se 
absolutamente nenhuma. Se o sexo é, ele 
próprio, uma categoria tomada em seu 
gênero, não faz sentido definir o gênero como 
a interpretação cultural do sexo” 
- Gênero como performance: 
→ “O gênero é a estilização repetida do 
corpo, um conjunto de atos repetidos no 
interior de uma estrutura reguladora 
altamente rígida, a qual se cristaliza no tempo 
para produzir a aparência de uma substância, 
de uma classe natural de ser” 
→ “Ser mulher constituiria um ‘fato natural’ ou 
uma performance cultural, ou seria a 
‘naturalidade’ constituída mediante atos 
UFV – Universidade Federal de Viçosa 
Matéria: MED 192 – Prática Profissional e Trabalho em Saúde II 
 
 
 
performativos discursivamente compelidos, 
que produzem o corpo no interior das 
categorias do sexo e por meio delas?” 
- Butler visa abrir caminho para uma 
“construção variável da identidade”, que 
incluiria não só as lésbicas como também os 
transexuais e os intersexuais. Ela sinalizava, 
assim, o caráter construído de todas as 
identidades. 
- O termo queer é uma apropriação radical 
de uma palavra normalmente usada para 
insultar e ofender e que, ao ser apropriada, 
torna-se resistente a definições fáceis. A 
construção (ainda, e em constante, 
elaboração) do significado alternativo e 
positivo de queer se fez, a princípio, em um 
contexto específico das lutas dos movimentos 
gay, lésbico e feminista nos Estados Unidos e 
das reflexões dos correlatos grupos 
acadêmicos. 
- Tal contexto pode ser resumido como as 
crises internas dos movimentos pautados pela 
política da identidade, a recepção do pós-
estruturalismo por intelectuais feministas, gays 
e lésbicas e a epidemia do vírus HIV ao longo 
de década de 1980. Essa tensa mistura 
resultou em críticas radicais à possiblidade de 
identidades essencializadas de sexo e de 
gênero, abrindo espaço para uma categoria 
mais abrangente, elástica e atenta às práticas 
e ao grupos até então relegados a segundo 
plano. 
- O termo queer pode ser um guarda-chuva 
para todas as vivências de subjetividade que 
são oprimidas pela interseccionalidade das 
estruturas sociais hegemônicas 
heterocisnomatividade, do racismo e do 
capitalismo. 
Interseccionalidade 
- Olhar para os indivíduos como sujeitos 
sociais e integrais implica em reconhecer os 
distintos marcadores sociais de diferença a 
que estão submetidos de forma concomitante 
e como essas categorizações interagem entre 
si, gerando múltiplas formas de opressão. 
- A forma pela qual o racismo, o patriarcado, 
a opressão de classe e de sexualidade 
interagem entre si, sustentado pelo sistema de 
dominação capitalista/colonialista, 
colocando-os na centralidade da discussão 
sobre toda e qualquer forma de relação 
social e poder de vivência de marginalização, 
reconhecendo como esses marcadores sociais 
e diferença operam em interseção. 
Estresse de minorias 
- “Minorias” sociais: grupos sociais que 
embora possam ser numericamente maiores, 
vivem situação de marginalidade opressão e 
exclusão dos meios de produção material e 
subjetiva e não detêm o poder hegemônico 
de controlar a narrativa sobre si. 
- Segundo Meyer, estresse de minorias são 
violências e estresse a que pessoas de 
minorias sociais são submetidas: 
→ Eventos e condições LGBTIfóbicas, 
machistas e misóginas objetivas. 
→ A expectativa de eventos como esses e a 
vigilância contínua necessária para se 
proteger 
→ A internalização de atitudes e 
pensamentos sociais negativos (LGBTfobia e 
machismo internalizados) 
→ A ocultação ou não da identidade de 
gênero e orientação sexual, qualquer que seja 
o caminho enfrentará dificuldades. 
Violência de gênero 
- A ONU define violência de gênero como 
“qualquer ato de violência baseada no 
gênero que resulte ou possa resultar em dano 
ou sofrimento físico, sexual ou psicológico a 
uma mulher, incluindo ameaça a tais atos, 
coerção, privação arbitrária da liberdade, 
seja no âmbito público ou privado”. 
UFV – Universidade Federal de Viçosa 
Matéria: MED 192 – Prática Profissional e Trabalho em Saúde II 
 
 
 
- Segundo a OMS, 35,6% das mulheres 
sofrem violência física ou sexual ao longo da 
vida, com variação de 32,7% entre o conjunto 
de países desenvolvidos a 45,6% no 
continente africano. A probabilidade de 
agressão física ou sexual por parceiro íntimo 
é de 30%, mais de quatro vezes superior à 
probabilidade de agressão física ou sexual 
por agressor desconhecido, que é de 
aproximadamente 7% 
- Violência doméstica 
→ A cada dia cerca de 13 mulheres são 
assassinadas no Brasil. 
→ Segundo o Mapa da Violência 2015, dos 
4.762 assassinatos de mulheres registrados 
em 2013 no Brasil, 50,3% foram cometidos 
por familiares, sendo que em 33,2% destes 
casos, o crime foi praticado pelo parceiro ou 
ex. 
→ 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram 
violência em relacionamentos, aponta 
pesquisa realizada pelo Instituto Avon em 
parceria com o Data Popular (nov/2014). 
→ 98% da população brasileira já ouviu falar 
na Lei Maria da Penha e 70% consideram que 
a mulher sofre mais violência dentro de casa 
do que em espaços públicos no Brasil. 
→ No Brasil, no ano de 2019, 3.730 mulheres 
foram assassinadas (uma a cada duas horas). 
→ o período de 2008 a 2018, observa-se 
aumento de 4,3% da taxa de homicídios entre 
mulheres, em decorrência do aumento da 
vitimização de mulheres negras: enquanto a 
taxa de homicídios de mulheres não negras 
caiu 11,7%, a taxa entre as mulheres negras 
aumentou 12,4%. 
→ Em relação à violência sexual, o Brasil 
apresenta uma das mais altas prevalências de 
estrupo do mundo, com a ocorrência de um 
caso a cada oito minutos, de acordo com os 
dados de registros policiais. Estima-se que a 
subnotificação seja próxima de 90% dos 
casos, o que significa que esses números 
podem ser até dez vezes maiores. 
→ A violência contra a mulher associa-se a 
danos físicos e mentais, com manifestações de 
curto e longo prazo. Estudos que avaliaram a 
chance de adoecimento entre mulheres 
vítimas de violência demonstram aumento de 
1,52 vez de infecção por HIV, de 2,16 vezes 
de aborto induzido, de 1,56 vez de 
ocorrência de sintomas depressivos e de 4,54 
vezes de suicídio. Mulheres que possuem 
parceiro íntimo apresentam probabilidade 
três vezes maior de sofrer lesão física do que 
aquelas que não possuem. 
Violência obstétrica 
- Violência obstétrica consiste na apropriação 
do corpo da mulher e dos processos 
reprodutivos por profissionais de saúde, na 
forma de um tratamento desumanizado, 
medicalização abusiva ou patologização dos 
processos naturais, reduzindo a autonomia da 
paciente e a capacidade de tomar suas 
próprias decisões livremente sobre seu corpo 
e sua sexualidade, o que tem consequências 
negativas em sua qualidade de vida. 
- A violência obstétrica é violência de gênero. 
A obstetrícia é um ramo da medicina 
essencialmente misógino e machista. Há um 
viés de gênero na prática e na própria e na 
própria constituição do campo de 
conhecimento. 
- O saber médico é constituído em um modelo 
patriarcal quevê o corpo feminino como 
essencialmente defectivo. E é um modelo que 
reproduz a desigualdade e a hierarquia da 
sociedade. As mais pobres, as negras, as 
lésbicas sofrem mais episódios desse tipo de 
violência. A pesquisa “Nascer no Brasil” 
mostrou que essa manobra de Kristeller 
acontece em 37% dos nascimentos, em 36% 
dos casos se usa ocitocina no soro para 
UFV – Universidade Federal de Viçosa 
Matéria: MED 192 – Prática Profissional e Trabalho em Saúde II 
 
 
 
aumentar as contrações e “acelerar o parto” 
e a pesquisa da Fundação Perseu Abramo de 
2010 mostrou que 25% das mulheres se 
percebem vítimas de maus-tratos durante o 
nascimento dos seus filhos. 
- “Quer que seu filho morra?” “Na hora de 
fazer não gritou!” “No ano que vem você 
estará aqui de novo”. 
- Ouvir frases deste tipo de um profissional de 
saúde durante o parto, pré-natal ou puerpério 
é violência obstétrica. 
- Ser xingada, mandada que fique quieta 
quando está sentindo dor, ouvir gritos, 
chantagens e ameaças veladas, ser colocada 
em situações indignas e vexatórias, sofrer com 
dolorosos e diversos exames de toque 
interparto com o objetivo de treinar residentes 
ou estudantes são exemplos frequentes 
mencionados por Melânia Amorim, médica e 
professora de ginecologia e obstetrícia da 
UFGC. 
- No Brasil, chamam atenção particularmente 
os dados de violência obstétrica sofridas por 
mulheres negras em relação a oferta de 
analgesia: mesmo após controle para 
variáveis sociodemográficas, os dados 
indicam um menor uso de analgesia nas 
mulheres pretas e alguns estudos também 
evidenciaram uma menor oferta de 
procedimentos anestésicos no parto vaginal 
para mulheres pretas e pardas, com menores 
proporções ainda para as de menor 
escolaridade. 
Desigualdades em saúde para a 
população LGBTQIA+ 
- Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e 
Práticas da população Brasileira (2013), 
estimou-se a população de HSH em 3,5% dos 
homens e de MSM em 4,6% da população 
entre 15 e 64 anos respectivamente. 
- O censo de 2010 foi o primeiro a coletar 
dados sobre casais lésbicos e gays por meio 
de identificação de cônjuge ou parceira do 
mesmo sexo. 
- Não existe nenhuma condição de saúde que 
acometa mais pessoas LGBTQIA+ por fatores 
individuais. 
- A maior incidência de determinados agravos 
na população LGBTQIA+ resulta do processo 
de violência estrutural a que é submetida essa 
população. 
- O mais grave problema de saúde da 
população LGBTQIA+ é LGBTfobia: 
homofobia, lesbofobia e transfobia. 
- 43,2% de travestis e transexuais de um 
estudo de SP e RS disseram já ter deixado de 
procurar ajuda médica quando necessitavam, 
em razão de preconceitos que costumam 
ocorrer nesses espaços. 
- A ocorrência prévia de discriminação foi 
associada a um aumento de 6,7 vezes nas 
chances desses usuários evitarem a procura 
por serviços de saúde. 
- Discurso do tratamento como “qualquer 
outro usuário” é um dos principais empecilhos. 
- A LBGTfobia repercute em maior incidência 
de determinados agravos em: 
→ HIV: maior prevalência de HIV em HcSHc 
(18,4%) e entre mulheres trans e travestis 
passava de 30%. (população geral 0,4%) 
→ Saúde mental: a população LGBTQIA+ 
apresenta o dobro das chances de fumar, 
risco 3 vezes maior de suicídio e seis vezes 
mais propensa a autolesão não suicida, maior 
(1,4 a 2,4 vezes) incidência de depressão e 
ansiedade. 
→ Saúde cardiovascular e metabólica: o uso 
do estrógeno em pessoas trans esteve 
associado ao aumento do risco de problemas 
cardiovasculares e o da testosterona ao 
aumento da residência a insulina. 
→ Estima-se que a expectativa de vida de 
uma pessoa travesti é de 35 anos no Brasil. 
UFV – Universidade Federal de Viçosa 
Matéria: MED 192 – Prática Profissional e Trabalho em Saúde II 
 
 
 
→ A Transgender Europe (TGEU) relatou a 
existência de 2.609 homicídios informados de 
transgêneros em 71 países no período de 
2008 a 2017, tendo o Brasil o maior número 
de registros, ficando com o triste lugar de país 
que mais mata travestis e pessoas trans no 
mundo. 
→ No período de outubro de 2018 a 
setembro de 2019, 130 pessoas transexuais 
e travestis foram assassinadas no Brasil. 
→ No Disque 100 (Direitos humanos) foram 
registradas 1.720 denúncias de violações de 
direitos humanos dos LGBT, destas 193 foram 
de homicídios, 23 de tentativas e 423 de 
lesão corporal no ano de 2017. 
→ No SINAN, no ano de 2016, o número de 
casos de violência contra 
homossexuais/bissexuais foi de cerca de 
6.800, salientando que mais da metade das 
denúncias foram por causa da violência física, 
porém ainda há registros de violência 
psicológica e tortura. 
→ Na Pesquisa Nacional de Ambiente 
Educacional no Brasil, estudantes de 13 a 21 
LGBTQIA+: 73% e 68% dos jovens sofreram 
agressão verbal, e que 27 a 25% sofreram 
agressões físicas por conta de sua orientação 
sexual e identidade de gênero. 
Atenção à Saúde da População LGBTQIA+ 
- Política Nacional de Saúde Integral de 
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e 
Transexuais – Ministério da Saúde 2013 
→ Determinou a inclusão da garantia do uso 
do nome social para os usuários da saúde, na 
Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde. 
- Resolução N° 2.265, de 20 de setembro de 
2019, Conselho Federal e Medicina 
→ Dispõe sobre os cuidados específicos a 
pessoa com incongruência de gênero ou 
transgênero. 
Perguntas para rastreamento de violência por 
parceiro íntimo 
- Você foi atingida, chutada, socada ou de 
alguma outra forma ferida por alguém nos 
últimos 12 meses? Se sim, por quem? 
- Você se sente segura em seu relacionamento 
atual? 
- Existe um parceiro de um relacionamento 
anterior que está fazendo você se sentir 
insegura agora? 
Competências estruturais relacionadas 
a gênero 
- Incorporar a identificação de violência de 
gênero no meu “diferencial estrutural” – o 
problema de pressão, a depressão, a dor 
musculoesquelética, o diabetes e a DPOC 
“descompensados” podem ser violência de 
gênero. 
- Empregar habilidades de comunicação 
clínica para abordagem de pessoas em 
situação de vulnerabilidade social e violência. 
- Agir com humildade estrutural nessas 
situações – o que essas pessoas têm para me 
ensinar? 
- Orientar pessoas vítimas de violência sobre 
os dispositivos legais de proteção física, 
psicológica e reprodutiva (Lei Maria da 
Penha, Lei do Aborto Legal para casos de 
estrupo, disque 100) 
- Fazer a notificação epidemiológica do 
episódio/situação de violência

Outros materiais