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Hierarquia e Gerenciamento de Marcas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Vagner Novaes Tranche Revisão Textual: Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos Conceitos da Gestão de Marcas • Introdução; • Definição de Marca; • A Evolução das Marcas; • As Marcas na Contemporaneidade; • Tudo Pode Ter Uma Marca? • Elementos Institucionais de uma Marca. • Apresentar os principais conceitos que defi nem uma marca; • Abordar o processo de evolução das representações visuais de empresas, produtos e pessoas públicas; • Apontar as diferenças entre marca, símbolo, logomarca e logotipo; • Estudar brevemente as formas e aplicações das marcas. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Conceitos da Gestão de Marcas Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Conceitos da Gestão de Marcas Introdução Vivemos em um sistema político-econômico de modelo capitalista, cujos princi- pais objetivos são o Lucro e a Economia de mercado, resultantes da livre iniciativa da regulação do mercado, processo que ocorre por meio da oferta e da procura de produtos e serviços. Diariamente, somos impactados por uma infinidade de mensa- gens publicitárias que indicam os produtos e serviços que devemos consumir, os apli- cativos que facilitarão as nossas rotinas, os cantores e as bandas que farão sucesso no verão, o partido político que representará os nossos ideais... O fato é que diante de tantas informações que induzem ao consumo, seria humanamente impossível guardar todas as mensagens e marcas que nos são apresentadas, não é mesmo? Mas, você já parou para pensar que em uma situação de compra, ao nos depa- rarmos com diversas marcas de um mesmo produto, geralmente somos atraídos ou, ao menos, nos identificamos com uma marca específica? Para tomar a decisão de consumo, por via de regra, buscamos vantagens relacionadas ao preço, quali- dade, lembrança e tradição. Com o tempo algumas marcas foram tão bem posicionadas em nossas mentes, ao ponto de esquecermos ou trocarmos o nome original do produto. Os exemplos são inúmeros, mas, para ilustrar, elencamos algumas situações que provavelmente você já vivenciou: Para muitos homens, fazer a barba não é uma tarefa muito fácil. A grande maio- ria almeja um barbear perfeito e uma pele sem feridas ou irritações, e é justamente esta a promessa que os fabricantes de produtos para barbear utilizam em suas mensagens publicitárias. O fato é que boa parte dos usuários desse tipo de produto, ao solicitarem um aparelho de barbear em qualquer ponto de venda, muitas vezes utilizam a marca “Gillette” para se referir ao produto, mesmo que sua intenção seja adquirir uma marca menos expressiva ou um produto com um custo menor. Figura 1 – Aparelho de barbear ou “Gillette” Fonte: Wikimedia Commons 8 9 Anote aí! Para preparar um delicioso bolo de liquidificador você precisará de ovos, óleo, açúcar, farinha de trigo, leite, fermento e “Maizena”. Ao ler os ingre- dientes da receita, com certeza uma dona de casa conseguirá criar uma referência mental de cada item. Talvez, se no lugar da marca “Maizena” estivesse escrito “amido de milho”, tal referência não seria tão rápida. O produto é tão popular na cozinha brasileira que muitas empresas fazem o uso da marca para batizar produtos derivados, tais como o “biscoito de maizena”. Por fim, quem nunca ligou para uma pizzaria do bairro e pediu uma pizza com borda de Catupiry? Pois bem, Catupiry é uma das marcas de requeijão e outros derivados de queijo mais tradicionais do país. A marca nasceu em 1911, na estância hidromine- ral de Lambari, em Minas Gerais, e caiu no gosto popular dos brasileiros. As pizza- rias fazem o uso da marca, mas nem sempre usam o requeijão original da marca... Uma pena! Figura 2 – Maizena se tornou sinônimo de amido de milho Fonte: Wikimedia Commons Figura 3 – Catupiry – marca centenária Fonte: Divulgação É inegável que as marcas fazem parte das nossas vidas. Elas estão presentes nos locais que frequentamos, nos alimentos que consu- mimos, nas roupas que usamos, nos calçados que utilizamos para praticar esportes, enfim, estão presentes em tudo. O poeta Carlos Drummond de Andrade retratou no poema “Eu, etiqueta” a relação da sociedade com os bens de consumo. Também refletiu sobre a criação da identidade a partir do uso e divulga- ção das marcas como forma de construção da identidade do ser social. Acompanhe o poema a seguir. Figura 4 – Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro Fonte: Wikimedia Commons 9 UNIDADE Conceitos da Gestão de Marcas EU, ETIQUETA Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório, um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produto que nunca experimentei mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido de alguma coisa não provada por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda [...] Fonte: ANDRADE, C. D. Obra poética. Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989 Leia na íntegra o poema “Eu, etiqueta” e ouça a interpretação do poema na voz do ator Paulo Autran em: https://youtu.be/2MP3FnQFCYkEx pl or A seguir vamos estudar o conceito de marcas, conhecer elementos ligados à sua evolução e utilização no cenário mercadológico. Vamos acompanhar al- gumas histórias de sucesso e entender como é realizado o registro de nomes e elemen tos visuais. 10 11 Você já parou para pensar qual é a sua relação com as marcas? Você utiliza roupas ou outros artigos que evidenciam símbolos, logotipos, nomes de personalidades, bandas ou instituições famosas? Ao preparar uma listinha de compras, você já substituiu o nome do produto pela marcado fabricante? Ex pl or Definição de Marca Marca? Símbolo? Logotipo? Logomarca? Esses termos representam a mesma coisa? Apresentam significados diferentes? Podemos usar o termo marca para definir todo e qualquer sinal gráfico? Uma marca se limita apenas a um sinal gráfico? Para muitos estudantes e profissionais da área de comunicação e marketing, estas perguntas expressam dúvidas bastante recorrentes, capazes de gerar um estudo bem mais longo do que aquele que pretendemos trabalhar nesta unidade da disciplina “Hierarquia e gerenciamento de marcas”. Diversos estudiosos já se debruçaram sobre o assunto e apresentaram teorias e definições que convergem em alguns aspectos e divergem em outros. Para melhor compreendermos o assunto ora tratado, vamos nos empenhar na definição e com- preensão do conceito de marca e, no decorrer dos nossos estudos, retomaremos os demais termos geradores de dúvidas apresentados no início deste texto. Para começo de conversa, uma marca pode ser observada de maneira diferente por empresas e consumidores. De acordo com Pastore (2018, p. 16), sob a ótica das empresas, “marcas são ativos que devem gerar retorno [...] para consumidores, são elementos capazes de proporcionar felicidade, autoestima, autorrealização, segu- rança e outros diversos sentimentos e sensações”. David Ogilvy, fundador da agência Ogilvy & Mather, definia marca da seguinte forma: Marca é a soma intangível dos atributos de um produto: seu nome, em- balagem e preço, sua história, reputação e a maneira como ele é promo- vido. A marca é também definida pelas impressões dos consumidores sobre as pessoas que a usam; assim como pela sua própria experiência pessoal. (OGILVY apud STRUNCK 2007, p. 19) Para Ogilvy, todos os elementos que compõem um artigo que será comercializa- do têm o poder de representá-lo e, portanto, posicioná-lo na mente do consumidor. A pronunciabilidade do nome, a história que ele constrói no mercado de atuação, a forma como é divulgado e até mesmo o sentimento gerado na experiência do uso - tudo representa o produto. Apesar da coerência do pensamento, não devemos limitar ou reduzir a definição de uma marca aos benefícios funcionais que ela pode oferecer. De acordo com Strunck (2007), o objetivo da marca também é “criar benefícios emocionais que levam à sua fidelização”. A marca deve ser um fa- cilitador das escolhas do dia a dia mediante inúmeros impulsos de consumo que recebemos por diversos meios e suportes comunicacionais. 11 UNIDADE Conceitos da Gestão de Marcas David MacKenzie Ogilvy nasceu em 23 de junho de 1911, na Inglaterra, e faleceu em 21 de julho de 1999, aos 88 anos. Ogilvy foi um profissional da área da Publicidade e Propaganda e funda- dor da agência Ogilvy & Mather. Ele é conhecido mundialmente como “o pai da propaganda”. Figura 5 – David MacKenzie Ogilvy Fonte: Wikimedia Commons Ex pl or Gerir uma marca de sucesso não é tarefa das mais fáceis: envolve profissionais de design na arte de representá-la visualmente, profissionais de marketing para criar estratégias de contato com os consumidores e evolução do valor da marca, profissionais da comunicação na gestão da imagem e divulgação para os públicos de interesse. Nesse contexto, a AMA - American Marketing Association define marca como: “Um nome, designação, sinal, símbolo ou combinação dos mesmos, que tem o propósito de identificar bens e serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e de diferenciá-los de concorrentes” (AMA apud LUPETTI, 2010, p. 29). A definição da AMA descreve a marca como uma representação visual do pro- duto ou serviço, contudo não leva em consideração o papel do consumidor em sua constituição. Cristina Maria de Aguiar Pastore, em sua obra Gestão de marcas (2018), nos explica que: Se levarmos em consideração que toda marca é a representação mental que o consumidor atribui a ela, com base em todas as informações e referências prévias de que dispõe, então poderemos afirmar que a marca só existe porque existe um consumidor que atribui significado a ela. A marca passa a ser entendida, então, como significado que o consumidor atribui àquele nome, termo, símbolo, design ou qualquer outro elemento, não o elemento em si. [...] não existe marca se não há um sujeito atribuindo significado a ela. Sem os sentimentos, lembranças e outras associações do consumidor, as marcas seriam apenas elementos que nem de longe se pareceriam com o ativo estratégico que o negócio espera. Existem tantas marcas quantas pessoas interpretando e significando essas marcas – essa máxima deve ser seu norte quando pensar em branding. (PASTORE 2018, p. 18) 12 13 Com base nas informações apresentadas até aqui e, sem a pretensão de esgotar o assunto, podemos definir marca como: um nome, um sinal ou a junção de ambos com o objetivo de identificar bens, serviços e até mesmo pessoas públicas, com o intuito de diferenciá-los dos concorrentes a partir da identificação e decodifi- cação dos públicos de interesse. A Evolução das Marcas Desde os tempos mais remotos, o homem sentiu a necessidade de se comuni- car com os seus semelhantes e registrar, por meio de desenhos (símbolos), os acon- tecimentos de sua vida. Nas paredes das cavernas, o homem primitivo desenhava situações ou fatos que considerava expressivos ou que pudessem transmitir um aviso ou ensinamento para os seus pares. Sem utilizar símbolos convencionados, ou seja, comuns entre os membros da mesma comunidade, os nossos ancestrais mais dis- tantes registravam nas pedras os resultados da caça, as suas crenças e fenômenos naturais que observavam em meio aos locais que frequentavam, o sol, a lua, a chuva e os raios. Com o passar do tempo, os homens primitivos começaram a estabelecer um certo domínio e facilidade de interpretação dos símbolos e, segundo Strunck (2007;59), passaram a estabelecer uma “relação mística” capaz de evocar deuses, estabelecer regras de conduta em comunidade, registrar nascimentos, mortes e outros fenôme- nos que consideravam inexplicáveis. Figura 6 – Pintura rupestre na Serra Parque Nacional da Capivara – São Raimundo Nonato – Piauí Fonte: Getty Images Símbolos (ou glifos) que são usados na astronomia, astrologia e alquimia têm origem nas civilizações antigas. Egípcios, babilônicos e assírios já representavam símbolos planetários por meio de figuras que são de uso corrente até hoje. 13 UNIDADE Conceitos da Gestão de Marcas Objetos como artigos em cerâmica e obras de arte provenientes de civilizações greco-romanas retratam o uso de marcas que designavam no- mes, iniciais, emblemas e símbolos dos produto- res das peças. Alguns autores acreditam que no período da Antiguidade clássica havia um cos- tume grego, denominando sumbolon, que pode explicar o uso de marcas para identificação de grupos e seus membros. Vejamos: [...] marca é um símbolo cujo significado deriva de um antigo costume grego (sumbolon), que consistia em quebrar uma ardósia em pedaços e distribuí-los a cada membro de um grupo. Quando esse grupo se reen- contrava, os pedaços poderiam ser montados novamente, como que- bra-cabeça, e a identidade do grupo poderia ser confirmada. Assim, o termo grego sumbolon transformou-se em marca de reconhecimento, no qual se desenvolveu a expressão latina Symboloum. (LUPETTI, 2010, p. 29) No Japão, em 900 a.C., as famílias nobres aplicavam símbolos que as representavam em todos os seus perten- ces. A mesma prática era adotada na Idade Média, perío- do em que os brasões e cores institucionais identificavam reis e cavaleiros que comungavam de um mesmo ideal. A ciência e a arte de descrever os brasões de ar- mas e escudos medievais é chamada de Heráldica. Na Idade Média era importante diferenciar os participan- tes de uma batalha ou de um torneio. Mas não era só na identificação da monarquia e dos cavaleiros que as marcas estavam presentes. Elas já ti- nham o propósito de atrair consumidores aos fabri- cantes, atestar a qualidade dos artigos vendidos e garantira fidelidade dos clientes: No período medieval, além de atrair consumidores aos fabricantes dos produtos comercializados, as marcas tinham outras finalidades impor- tantes, como atestar a qualidade do produto e policiar quem rompia os monopólios das companhias da época. Em alguns casos, o uso de marcas se tornou obrigatório justamente para identificar os fabricantes de menor qualidade e permitir que os clientes tivessem a quem recorrer e respon- sabilizar caso houvesse algum problema. Essa obrigatoriedade era im- posta por leis que exigiam até mesmo que padeiros e ourives, por exem- plo, aplicassem suas marcas em cada pão vendido ou peça fabricada . ( PASTORE, 2018, p. 19) Figura 8 – Brasões e cores institucionais identificavam reis e cavaleiros na Idade Média Fonte: Getty Images Figura 7 – Símbolos planetários em alquimia Fonte: Getty Images 14 15 As Marcas na Contemporaneidade De acordo com Pastore (2018, p. 19), foi a partir do século XVII de nossa era que os produtores que exportavam mercadorias começaram a utilizar sistemati- camente as chamadas marcas próprias. No ocidente, as fábricas de remédios e tabaco foram consideradas as precursoras do conceito de branding na América do Norte. Os produtos precisavam de uma diferenciação visual, haja vista que a com- posição do produto apresentava características muito parecidas, o que confundia os consumidores no momento da aquisição dos artigos. Até mesmo produtos que eram vendidos a granel começam a receber um diferencial: as “marcas nacionais”. Os artigos comercializados em meados da década de 1860 começaram a ser emba- lados em massa e eram distribuídos em grande quantidade, diminuindo expressiva- mente as mercadorias em menor quantidade, vendidas a granel. Surgiam as marcas comerciais, que, bem mais tarde, nos primeiros anos da década de 1910, começa- ram a receber um toque do que conhecemos hoje como marketing. Estratégias de design de imagem e embalagem, preço e promoção começaram a potencializar as vendas destes artigos. Joan Costa, na obra A imagem da marca: um fenômeno social (2008), apre- senta um fato curioso sobre o mesmo período na Inglaterra: A promoção de marcas – não a dos produtos, que era algo diferente – iniciou-se entre 1880 e 1900. Era a época em que William Hesketh Lever, o gênio comercial que fundou a Lever, desenvolveu, contraria- mente à tradição, uma intensa campanha para a sua primeira marca: Sunlight. Esse sabão era vendido normalmente a granel, em barras de cor cinza e de qualidade desigual. E a Lever propôs-se a convertê-lo em um sabão de qualidade diferenciada e constante. O nome Sunlight foi escolhido entre uma lista de nomes possíveis oferecida por um agente de patentes de Liverpool, e mandou registrá-lo imediatamente. Ele sabia que era um nome perfeito (curto, chamativo, fácil de lembrar) e sabia o que fazer com ele. O que fez foi dar nome próprio e distintivo a um produto que até então tinha sido anônimo e praticamente igual aos outros sabões do mercado. Um dos concorrentes da Lever, Christopher Thomas, estava convencido de que aquele projeto era impossível e assim se manifestou: “A diferença de qualidade entre os diferentes sabões em barra é pequena ou quase nenhuma; todos são o mesmo sabão. Portanto, é impossível tentar criar uma demanda por meio da publicidade”. Mas a Lever embrulhou o seu sabão em material imitando pergaminho, colocou-o em uma caixa e o divulgou com toda a energia [...] suas vendas passaram de 3 mil toneladas, em 1886, para 60 mil toneladas em 1910. (COSTA, 2008, p. 68) 15 UNIDADE Conceitos da Gestão de Marcas Figura 9 – Embalagem do sabão Sunlight Fonte: Divulgação Tudo Pode Ter Uma Marca? Sim, tudo pode ter uma marca. Em sua definição, vimos que uma marca é “um nome, sinal ou a junção de ambos com o objetivo de identificar bens, serviços e até mesmo pessoas públicas”, ou seja, não se cria marcas apenas para identificar bens tangíveis e intangíveis, como refrigerantes ou prestadores de serviços, como uma seguradora ou um banco. Pessoas públicas, que utilizam seus nomes como re- presentação daquilo que comercializam, a própria imagem, também criam marcas fortes que possibilitam o reconhecimento do público consumidor e, acima de tudo, a oportunidade de renda por meio de licenciamentos, comerciais, patrocínios, etc. No Brasil e no mundo, são inúmeros os exemplos de personalidades que traba- lharam as suas marcas associadas a um grande número de produtos que negociam as licenças para uso da imagem. De acordo com Strunck (2007, p. 42), “o negócio do licenciamento teve origem em Hollywood, onde os estúdios tinham os direitos de imagem sobre os persona- gens dos desenhos animados”. [...] aos poucos muitas empresas foram descobrindo que poderiam tam- bém entrar nesse mercado com suas marcas, muitas delas ao realizarem as quantias que gastavam anualmente com advogados, em processos para impedir o uso sem autorização de suas marcas. A Gm chegou a gastar assim US$ 3 milhões em um ano para retirar do mercado bonés com a marca Chevy, camisetas Corvette e outros itens. Ora, se havia gente comprando esses produtos, seria mais lucrativo ganhar com sua produção do que gastar com sua proibição. (STRUNCK 2007, p. 42) O objetivo do licenciamento é gerar lucros a partir do uso da imagem pública associada a produtos e serviços de diversos segmentos, contudo este processo deve ser seletivo, de forma a “assinar” produtos e serviços que conceitualmente se liguem à imagem e não ofereçam riscos à reputação da pessoa pública. 16 17 Figura 10 – Propaganda da colônia Eliana Glamour Fonte: Divulgação Produtos que apresentam imagens de personagens ou grifes famosas sempre apresentam valor mais elevado quando comparados aos produtos sem a referida identidade visual. Diante desta afirmação, fica a pergunta: você compra produtos impulsionado(a) pela necessi- dade real do artigo ou influenciado(a) pelas marcas? Ex pl or Elementos Institucionais de uma Marca Voltemos a uma dúvida lançada no início desta unidade de estudo. Vamos tratar agora dos elementos institucionais de uma marca e definir o que é logotipo, logo- marca e símbolo. De acordo com Strunck (2007), os elementos que compõem uma identidade visual são divididos entre elementos principais e secundários. Segundo o autor, os principais são: • logotipo; • símbolo. Já os elementos secundários são: • cores; • alfabeto padronizado. Estes elementos são chamados de institucionais da marca porque seguem uma série de normas e especificidades estabelecidas pela empresa, geralmente presentes no manual de identidade visual da instituição. Quando da existência deste manual, nenhuma aplicação da marca poderá fugir daquilo que foi especificado, seja em um simples papel de carta ou seja em um vídeo institucional da empresa. A seguir, vamos conhecer as características e definições dos elementos institu- cionais da marca. 17 UNIDADE Conceitos da Gestão de Marcas Logotipo Logotipo é a representação, por meio de fontes tipográficas, de um nome ou marca. As letras que compõem um logotipo podem ser especialmente desenvolvi- das para atender a uma necessidade estética da empresa, produto, instituição ou personalidade que ela configura. Strunck (2007, p. 70) entende que este elemento é “a particularização da escrita” e completa: “Toda marca tem um logotipo” e “um logotipo sempre tem letras”. Vejamos alguns exemplos: Figura 11 – Logotipos Famosos Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons Símbolo Um símbolo pode ser definido como sinal gráfico capaz de remeter a um produto , serviço ou ideia. Qualquer desenho, quando reconhecido pelo público de interesse, pode ser considerado um símbolo, uma representação de uma marca, mas é impor- tante frisar que nem todas as marcas precisam de um símbolo. É possível separar os símbolos em grupos figurativos e abstratos, a saber: • Símbolos figurativos: podem ser classificados em ideográficos, fonográficos e icônicos. Vejamos: Quadro 1 – Classificaçãodos Símbolos Figurativos Figurativo ideográfico Figurativo fonográfico Figurativo icônico Os desenhos que representam a marca apresentam ideias ou conceitos embutidos. Ex.: Unilever e os ícones presentes na letra “U” representando os diversos segmentos de produtos oferecidos pela empresa. Letras que, diferentemente do logotipo, não formam uma palavra, mas têm o poder de representar a marca. Geralmente formam siglas. Ex.: P&G, de Protect e Gamble. Imagens que apresentam semelhan- ças do produto, serviço, personalida- de a que se propõem representar. Ex.: KFC e o seu fundador, o americano “Coronel Sanders”. • Símbolos abstratos: no primeiro olhar, podem não representar claramente o seu significado, mas com o tempo ganham sentido e significado no dia a dia do público alvo. 18 19 O símbolo da rede internacional de supermer- cados “Carrefour” é um bom exemplo de símbolo abstrato. Ele conta com uma forma geométrica que leva as cores da França, seu país de origem e tem a Letra “C” vazada ao centro. Uma surpresa para muitos consumidores desatentos, que descobrem a presença da letra depois de muitos anos de contato com a marca. Cor Padrão Marcas fortes e bem conceituadas perante os seus públicos de interesse pos- suem cores bem definidas, com o poder de representá-las mesmo que o logotipo ou o símbolo não sejam lembrados com tanta facilidade. Strunck (2007) reforça essa ideia: [...] Uma ou mais cores, que, sempre nos mesmos tons, sã usadas nas identidades visuais, são chamadas de cores padrão. Na maioria das ve- zes, passam, com o uso, a ter mais reconhecimento do que o logotipo e o símbolo. A Coca-Cola é vermelha. A Pepsi, azul. A BR é verde e amarela, a Shell, vermelha e amarela e a Ipiranga Azul e amarela. Estas cores estão intrinsicamente relacionadas às empresas que representam, fazem par- te de sua personalidade visual, podendo ser reconhecidas a grandes distâncias, antes mesmo que possamos ler seus símbolos ou logotipos. (STRUNCK, 2007, p. 79) Figura 13 – A cor é capaz de remeter ao produto Fonte: Divulgação Alfabeto Padronizado Por fim, uma marca forte deve contar com uma boa fonte tipográfica (alfabeto padrão) que complemente a identidade visual. Os manuais de uso da marca defi- nem os tipos de fontes que podem ser usados com a marca ou simplesmente para escrever textos em impressos administrativos. Strunck (2007) informa que existem centenas de alfabetos, que combinados com as suas variações (negritos, itálicos, condensados) oferecem inúmeras possibilidades de trabalho. Figura 12 – Carrefour – símbolo abstrato 19 UNIDADE Conceitos da Gestão de Marcas Figura 14 – Exemplo de fonte tipográfica – Helvética Fonte: Wikimedia Commons Muito bem, agora que você já está por dentro do assunto que trataremos ao lon- go da disciplina, faça as anotações dos pontos mais importantes, explore o material complementar e realize os exercícios propostos. Na próxima unidade, vamos estudar o que vem a ser “arquitetura de marcas” e compreender conceitos de tipologia, segmentação, extensão e ciclo de vida de uma marca. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Conheça a História da Unilever Conheça a história de William Hesketh Lever, fundador da Lever Brothers, e a construção de uma das maiores marcas do mundo: a Unilever. http://bit.ly/2YL4Wvl Blog “Design com Café” O blog “Design com Café” apresenta manuais de identidade de empresas de diversos setores. http://bit.ly/2HMh08I Conheça a Composição da Marca Unilever Conheça cada um dos ícones que compõem o símbolo da Unilever, que representa os diversos segmentos atendidos pela empresa. http://bit.ly/2W2UQcg Leitura Branding: O Impacto de uma Boa Gestão na Construção do Posicionamento e Valor de uma Marca Artigo do pesquisador Glauber Vilvert da Silva apresentado no XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul, realizado de 15 a 17 de junho de 2017. http://bit.ly/2HEGk1X 21 UNIDADE Conceitos da Gestão de Marcas Referências AAKER, D. A. On branding: 20 princípios que decidem o sucesso das marcas. Porto Alegre: Bookman, 2015. (E-book) _________. Relevância de Marca: como deixar seus concorrentes para trás. Porto Alegre: Bookman, 2011. (E-book) CHINEM, R. Introdução à comunicação empresarial. São Paulo: Saraiva, 2010. (E-book) COSTA, J. A imagem da marca: um fenômeno social. São Paulo: Edições Rosari, 2008. FLATLEY, M. Comunicação empresarial. 2ª edição. Porto Alegre: AMGH, 2015. (E-book) GRIFFIN, R. W. Comportamento organizacional: gestão de pessoas e organiza- ções. São Paulo: Cengage Learning, 2016. (E-book) KELLER, K. L.; MACHADO, M. Gestão estratégica de marcas. São Paulo: Pearson, 2006. (E-book) KUNSCH, M. M. K. Obtendo resultados com relações públicas: como utilizar adequadamente as relações públicas em benefício das organizações e da sociedade em geral. 2ª edição rev. São Paulo: Thomson, 2006. LINDSTROM, M. BrandSense: a marca multisensorial. Porto Alegre: Bookman, 2007. (E-book) LUPETTI, M. Administração em publicidade: a verdadeira alma do negócio. 2ª edição. São Paulo: Thomson, 2010. PASTORE, C. M. A. Gestão de marcas. Curitiba: InterSaberes, 2018. (E-book) SCHWERINER, M. R. Brandscendência: o espírito das marcas. São Paulo: Saraiva , 2010. (E-book) SERRALVO, F. A. Gestão de marcas no contexto brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2007. (E-book) STRUNCK, G. L. T. L. Como criar identidades visuais para marcas de sucesso: um guia sobre o marketing das marcas e como representar graficamente seus valo- res. 3ª edição. Rio de Janeiro: Rio Books, 2007. WHEELER, A. Design de identidade da marca: guia essencial para toda a equipe de gestão de marcas. 3ª edição. Porto Alegre: Bookman, 2012. (E-book) 22
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