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Calcificação patológica VetBia Bogliolo, patologia. Geraldo Brasileiro Filho. – 9. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Calcificação patológica Consiste na deposição de sais de cálcio em locais normalmente não calcificados. É uma lesão muito frequente, embora geralmente não traga consequências graves. Ocorrência Podem ser distróficas, quando predominam fatores locais como necrose; metastáticas, em casos de hipercalcemia. Há ainda calcificações idiopáticas, em que nenhum desses fatores está presente. Cálcio sérico e calcificação Os estoques de cálcio e de fosfato no organismo estão em constante mobilização, por meio de deposição, reabsorção e remodelação ósseas, absorção intestinal e excreção urinária. A precipitação de sais de fosfato de cálcio é facilitada em meio alcalino. Diferentes estruturas (e não somente cristais preexistentes) podem desencadear o processo de precipitação, funcionando como núcleo primário. A precipitação de sais de cálcio inicia-se com a formação de cristais de hidroxiapatita, os quais, por si mesmos, favorecem as contínuas formação e precipitação de novos cristais – núcleo secundário. *Mecanismos inibidores fisiológicos devem estar em constante operação, evitando que ocorra precipitação. Em tecidos não mineralizados, a calcificação é facilmente reconhecida por sua basofilia, que resulta em forte coloração pela hematoxilina. Precipitação de cristais pode ocorrer após necrose; a calcificação pode iniciar-se também em células vivas, podendo causar morte celular. Neste caso, a calcificação inicia-se em mitocôndrias, organelas particularmente suscetíveis de acumular cálcio. A concentração fisiológica de cálcio intracelular é mantida em níveis muito inferiores à do meio extracelular, por meio de bombas de cálcio na membrana citoplasmática. Degenerações celulares ou concentrações anormais de cálcio extracelular podem resultar em aumento na concentração de cálcio intracelular. Como as mitocôndrias apresentam concentração de cálcio maior que a do meio intracelular, tendem a acumular ainda mais cálcio quando este está aumentado no interior das células. A calcificação de mitocôndrias resulta em perda de função; quando muitas mitocôndrias em uma célula se calcificam, a célula morre. Calcificação distrófica É a que resulta de modificação local nos tecidos (distrofia significa alteração tecidual prévia). Várias modificações celulares ou teciduais favorecem a nucleação e a precipitação de cristais de cálcio. Restos necróticos são particularmente suscetíveis de deposição de cálcio, que ocorre, sobretudo, em locais com necrose caseosa, necrose por coagulação ou necrose gordurosa. *A calcificação associada a esteatonecrose encontrada na pancreatite aguda resulta da combinação de cálcio com ácidos graxos liberados pela ação da lipase pancreática sobre triglicerídeos. *Infartos (necrose isquêmica) de vários órgãos também podem calcificar-se. Calcificação patológica VetBia Áreas de necrose caseosa na tuberculose frequentemente se calcificam. Calcificação aparece também em cicatrizes, ateromas e cartilagens. Trombos venosos podem se calcificar, formando flebólitos. Em certos órgãos, como pâncreas e glândulas salivares, secreções em ductos podem calcificar-se, por vezes causando obstrução ductal. A calcificação de fetos mortos retidos produz litopédio. Em tecidos necróticos, a deposição de cálcio ocorre de maneira gradativa, iniciando-se por pequenos grânulos basofílicos periféricos, que, às vezes, apresentam aspecto em alvo (calcosferitas), resultantes da deposição concêntrica de cristais de hidroxiapatita. À medida que mais cálcio se deposita, os grânulos coalescem e formam faixas que se estendem gradativamente ao centro da lesão. *Os mecanismos propostos para explicar a formação de depósitos de cálcio incluem: (1) exposição de núcleos primários; (2) aumento local na concentração de fosfato e/ou de cálcio; (3) remoção de inibidores de calcificação. A exposição de núcleos primários parece ser necessária para iniciar a calcificação. Fosfolipídeos de membranas celulares representam núcleos primários, uma vez que o cálcio pode ligar-se a essas moléculas; ao cálcio, ligam-se, sobretudo, fosfatos, formando cristais inicialmente apoiados sobre elementos da própria membrana celular. Em tecidos necróticos e em placas ateromatosas, fosfolipídeos são abundantes, por vezes formando microvesículas. Outras moléculas ou estruturas parecem atuar como núcleos primários e iniciadores da calcificação, como fibras elásticas, fibras colágenas, proteínas desnaturadas, fosfoproteínas, ácidos graxos e bactérias. Calcificação metastática O cálcio reabsorvido do tecido ósseo em condições patológicas ocasiona, se não houver excreção adequada pelos rins, depósitos em outros locais. Tal calcificação corre caracteristicamente quando há hipercalcemia e, mais raramente, hiperfosfatemia. *A principal causa de hipercalcemia é a hipersecreção de paratormônio ou de moléculas semelhantes. O paratormônio eleva a calcemia porque estimula a atividade osteoclástica e a reabsorção óssea. *No hiperparatireoidismo primário, tumor (geralmente adenoma) ou hiperplasia de paratireoides são os responsáveis pela hipersecreção. *No hiperparatireoidismo secundário à insuficiência renal crônica, surge hiperplasia das paratireoides por causa da redução de cálcio sérico (com a insuficiência renal, ocorre retenção de fosfatos e queda de cálcio). Outra causa de aumento de paratormônio (ou de moléculas afins) é sua produção ectópica por neoplasias. *Acometimento extenso por neoplasias, como mieloma ou metástases disseminadas, pode provocar rápida destruição óssea, com aumento da calcemia. Os depósitos de cálcio metastáticos podem formar-se em qualquer local, mas especialmente em pulmões, rins, artérias sistêmicas, veias pulmonares e córneas. Os depósitos em vasos com sangue oxigenado (artérias sistêmicas e veias pulmonares) explicam-se pelo mesmo princípio, já que o sangue venoso é mais ácido que o arterial. Em calcificações metastáticas, a precipitação de cálcio inicia-se nas mitocôndrias. Calcificação patológica VetBia O próprio paratormônio favorece a entrada de cálcio nas células. Quando há morte celular, as células acabam envolvidas pela calcificação. A deposição de sais de cálcio também ocorre no compartimento extracelular, sendo as membranas basais dos pulmões e dos rins sítios particularmente suscetíveis. Os achados anatomopatológicos na calcificação metastática são característicos. Os órgãos apresentam-se muito endurecidos e calcários e rangem ao corte com faca. O pulmão adquire aspecto de fina esponja de banho (a comparação refere-se a esponjas marinhas, que são finamente calcárias). Nos rins, a deposição de cálcio nos túbulos produz nefrocalcinose, que acarreta prejuízo na função renal, com retenção de fosfatos e hiperparatireoidismo secundário, o que agrava a hipercalcemia. Calcificação metastática. A. Radiografia mostrando radiopacidade irregular em torno do fêmur proximal, na região do quadril. B. Aspecto histológico. Acúmulos de material basofílico, quebradiço, correspondendo a depósitos de cálcio no tecido fibroso.
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