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Ana Elisa A. G. Medicina 2021.02 Leishmaniose Visceral ou Calasar Nas Américas, a protozoose é causada pela Leishmania (L.) chagasi, responsável pela LV americana ou calazar americano. Vetor: Lutzomyia longipalpis (inseto) Reservatórios: o cão e a raposa. A transmissão também se dá por meio de agulhas contaminadas. L. donovani (lndia) ou L. infantum (no Mediterrâneo). Disseminação do parasito em órgãos ricos em células do sistema fagocítico mononuclear, como o figado e o baço. Período de incubação: duração de meses (2 a 5 meses), mas existem relatos extremos, de dias até vários anos. Epidemiologia A transmissão também se dá por meio de agulhas contaminadas. Esse inseto contamina -se quando suga o sangue da pele dos canídeos infectados, ingerindo parasitos ali presentes. Existem ainda formas raras de transmissão da LV, como a congênita, via transplacentária. Migração populacional, o desmatamento, a expansão urbana desordenada e a adaptação do inseto vetor nas regiões periurbanas e urbanas. Fisiopatologia Os parasitas induzem a produção sistêmica de TNF-a (citocina que causa febre, caquexia, anorexia e pancitopenia). Em níveis moderados, TNF-a facilita a eliminação da Leishmania, mas em níveis muito elevados pode provocar expansão dos vasos sanguíneos e extravasamento de fluidos para o interstício, e até choque hipovolêmico. Por este motivo, o nível de TNF-a pode ser considerado um marcador prognóstico na leishmaniose visceral. Promastigota: vida extracelular, alongado e móvel. Pode ser encontrado no vetor transmissor (flebotomineo) e também nos meios de cultura utilizados para o diagnóstico da doença. Nos macrófagos de mamíferos, incluindo o homem, as formas amastigotas se multiplicam até destrui-los. Com a morte do macrófago, o parasito fica livre no meio extracelular, podendo ser novamente fagocitado por outros macrófagos ou ser ingerido por flebotomíneos (hospedeiro intermediário) após sugarem o sangue desses mamíferos infectados, refazendo-se o ciclo. Comprometimento do sistema fagocítico mononuclear - sua hipertrofia, hiperplasia e parasitismo, especialmente no fígado e baço. Verificam-se, além disso, alterações histopatológicas com depleção de linfócitos nas áreas T-dependentes do baço e de gânglios linfáticos. Ana Elisa A. G. Medicina 2021.02 Pulmões: pneumonia intersticial e focos de fibrose septal. Rins: comprometimento glomerular discreto, com hiperplasia e hipertrofia do sistema reticuloendotelial (células mesangiais), configurando-se uma glomerulite, com depósitos de lgG, lgM, fibrinogêoio e complemento. Manifestações Clínicas Febre irregular, anemia, desnutrição, estado geral comprometido, hepatoesplenomegalia e linfonodomegalias. Leishmanioma de inoculação: no local da picada do flebótomo infectante, e caracteriza-se por lesão papulosa, nodular ou ulcerada, com numerosos parasitas. É indistinguível das lesões de inoculação da leishmaniose tegumentar; a diferenciação se faz pela confirmação de leishmânias na medula óssea, fígado, baço e sangue; o teste de Montenegro é negativo. Leishmanoide: lesões generalizadas maculares, papulosas ou nodulares (lembra a (LCDP). Vias de cura sob tratamento específico. São lesões ricas em leishmânias. Teste de Montenegro: negativo. Distingue-se da LCDP difusa pelo fato de aparecer em doente com leishmaniose visceral prévia. Forma assintomática: corresponde à infecção inaparente e é detectada em indivíduos sem manifestação clínica em inquéritos epidemiológicos ou em áreas de transmissão, pela positividade da intradermorreação (leishmaniose) ou pela presença de anticorpos espedficos no soro. Forma oligossintomática: pode passar despercebida ou ser confundida com outras doenças infecciosas. Discreto comprometimento do estado geral. A suspeita clinica baseia-se na história de febre, discreta anemia, diarreia, emagrecimento e adinamia. Em geral, não se relata febre. Hepatomegalia normalmente está presente e não ultrapassa 5 cm, e a esplenomegalia é discreta e pode estar ausente. Hemograma normal ou com anemia, velocidade de hemossedimentação elevada e eletroforese de proteína normal. Forma clássica: é a doença plenamente manifesta. Crônica. Febre: geralmente alta e diária, tipicamente apresentando dois picos diários, podendo sofrer períodos de remissão espontâneo. Pode ser acompanhada de calafrios e ser seguida de sudorese. Manifestações hemorrágicas e gastrointestinais, respectivamente epistaxes, hematêmese, gengivorragias e quadros diarreicos, anorexia, enfraquecimento e emagrecimento, sinais clínicos de desnutrição grave, como cabelos secos e quebradiços, cílios longos e pele seca. Ao mesmo tempo, surge a palidez cutânea, que vai se acentuando, o paciente nota o aumento progressivo do volume abdominal, referindo desconforto no hipocôndrio esquerdo. Ocorre aumento gradativo do tamanho do fígado e sobretudo do baço. Sinal de bandeira: cabelo com dois a três tons de cor. Icterícia: pouco frequente (apenas nos casos graves e de evolução longa). Ana Elisa A. G. Medicina 2021.02 Diagnostico Mielograma: presença de amastigotas. Punção esplênica: mais difícil de ser feita. Reação de imunofluorescência indireta Elisa Teste rápido imunocromatográfico (IC): barato e não invasivo que requer uma gota de sangue total ou soro. Teste de aglutinação direta (DAT): baixo custo, com sensibilidade de 91 a 100%. Teste de aglutinação em látex: é simples, fácil de executar, barato, rápido, e pode ser usado como um teste de triagem. PCR Tratamento Internação: todos os pacientes com a forma grave, com alterações laboratoriais que podem ser consideradas fatores de mau prognóstico em decorrência de risco de infecção ou sangramento, como leucopenfa menor que 1.000/mL ou neutropenia grave (menor que 500/mm') e plaquetopenia abaixo de 50.000/mL. Glucantime: 20mg SB+5 (pela quantidade de sal de antimoniato/kg/dia por 20 a 40 dias (exceto em gestantes, cardiopatas, nefropatas e hepatopatas). Complícações Hemorragias e, sobretudo, as infecções bacterianas, sendo as pneumonias e as septicemias as potencialmente mais graves e podem levar ao óbito. Apesar da depressão da imunidade celular observada, não ocorre infecção disseminada por patógenos intracelulares. Reinfecção por HIV Pode ocorrer reativação da infecção leishmaniótica ou por um a forma alternativa de infecção, decorrente da inoculação intravenosa de Leislm1a11ia spp., por meio de compartilhamento de agulhas e seringas entre viciados em drogas (transmissão inter- humana), chamado de ciclo alternativo de transmissão. A triade clássica: febre, hepatoesplenomcgalia, pancitopenia. Astenia, emagrecimento e adenomegalias. O acometimento do trato gastrointestinal (TGI) é frequente, podendo ocorrer diarreia, desconforto retal, disfagia, odinofagia e epigastralgia. Lesões cutâneas variam de pápulas a úlceras, sendo únicas ou múltiplas; lesões atípicas caracterizadas por máculas ou pápulas disseminadas podem ser encontradas, mas as úlceras são mais comuns. Diagnóstico: pode ter implicações na abordagem da leishmaniose quanto à indicação terapêutica, ao monitoramento de efeitos adversos, à resposta terapêutica e à Ana Elisa A. G. Medicina 2021.02 ocorrência de recidivas. Portanto, deve-se oferecer a sorologia para HIV a todos os pacientes com LT, independentemente da idade, conforme as recomendações do MS. Leishmaniose Tegumentar ou Cutânea Evolução eminentemente crônica, que atinge exclusivamente a pele (tipo "botão do oriente") e, às vezes, tan1bén1 mucosas (tipo mucocutânea). Além de pele e mucosas, eventualmente afeta cartilagens. Úlcera de Bauru, nariz de tapir, botão do Oriente Causa: protozoário do gênero Leishniania. Transmição: picada de flebótomo fêmea infectado, que é o vetor da doença. L. tropica: leishmaniose cutânea, tipo botão do oriente. L. braziliensis: leishmaniose mucocutânea e cutânea. L. amazonenses: Pode ser responsável por formas cutâneas, cutâneo-mucosas ou com a forma tegumentar difusa. L. Guyanensis: quadro cutâneo com múltiplas lesões. L. launsoni L. naiffi: cutânea Epidemiologia Acomete mais homens que mulheres e mais adultos que crianças. Estima-se a prevalência no mundo de 12 milhões de casos. Zoonose primária de mamíferos silvestres como roedores, marsupiais, edentados e primatas. Garimpo, expansão agrícola c0m condições ambientais favoráveis à transmissão da doença. Patogênese As formas amastigotas ingeridas pelo flebótomo (Llltzomya) na picada nos animais infectados, depois de 4 a 7 dias, transformam-se em formas promastigotas. Após a introdução das formas amastigotas, os parasitas perdem o flagelo, transformando-se em formas aflageladas. Forma parasitária: amastigota (ovoide e sem flagelo) intracitoplasmática nos macrófagos; a maior ou menor quantidade de parasitas em determinada lesão vai depender, em última análise, do estado imunitário do hospedeiro. Na histopatologia verifica-se que as alterações na pele ou nas mucosas variam desde inflamação exsudativa aguda (conforme constatado na lesão hematogênica de 2 dias Ana Elisa A. G. Medicina 2021.02 de existência) até a formação de granuloma tuberculoide completo. Pode haver infiltração linfo-histiocitária ou plasmolinfo-histiocitária. Clareiras de Montenegro, ou centros claros de Buss: são acúmulos discretos de células epitelioides (estrutura tuberculoide incipiente); pode ocorrer, ainda, necrose e vasculite necrosante. Nesse contexto, as leishmânias são encontradas, em geral, em pouca quantidade, no interior dos macrófagos. Essas estruturas dependem, sobretudo, do linfócito T especificamente sensibilizado. Quando há falência imunológica, ou seja, inexistência de linfócitos T específico-sensíveis, observa-se verdadeira histiocitomatose, isto é, proliferação difusa de macrófagos plenos de leishmânias, como na forma difusa anérgica. Após a inoculação na pele, o parasita é fagocitado por macrófagos do hospedeiro e assume sua forma amastigota. Por se tratar de um parasita intracelular obrigatório, a imunidade celular - perfil de resposta Th1 - tem papel central no controle da infecção. Nos pacientes com resposta Th1 adequada, há produção de interferon-alfa e IL-2. O interferon-alfa é a citocina mais importante na eliminação de parasitas no interior dos fagolisossomos de macrófagos infectados. Ela induz a produção de espécies reativas de oxigênio e a transformação de células T CD4-naive em células Th1. Também faz parte deste processo a IL-12, que estimula células NK a produzirem interferon-a. O fator de necrose tumoral alfa (TNF-a) produzido pelos macrófagos e células natural killers (NK), quando em níveis moderados, também propicia o controle da infecção, ampliando a ativação de macrófagos pelo interferon-a. Sua produção é estimulada pela IL-2. Manifestações Clínicas O período de incubação varia de poucos dias a meses. Pápula eritematosa, única ou múltipla, 1 a 4 semanas após picada do inseto. Em áreas descobertas. Lesão evolui. Não há cicatrização da lesão. Morfologia da lesão: pode ser apenas a de um eritema com edema e infiltração, pápula, tubérculo, verrucosidade ou úlcera, medindo de alguns milímetros a centímetros. Começa como uma pequena pápula eritematosa, que pode surgir imediatamente após a picada do mosquito-pólvora, mas que comumente se desenvolve duas a quatro semanas mais tarde. A pápula cresce lentamente até alcançar 2 cm no decorrer de um período de várias semanas e adquire tonalidade violácea e escura. Por fim, a lesão torna-se crostosa no centro, com úlcera superficial e bordas endurecidas e elevadas = sinal do vulcão. Em alguns casos, o centro do nódulo torna-se hiperceratótico, formando um corno cutâneo. Pode haver desenvolvimento de pápulas-satélites pequenas na periferia da lesão e, em certas ocasiões, nódulos subcutâneos ao longo do trajeto dos vasos linfáticos proximais. A extensão periférica termina geralmente depois de dois meses, e o nódulo ulcerado persiste por mais três a seis meses ou por mais tempo. Em seguida, a lesão regride, deixando uma cicatriz ligeiramente deprimida. Em alguns Ana Elisa A. G. Medicina 2021.02 casos, a LC permanece ativa, com esfregaços positivos durante 24 meses (LC crônica não cicatrizada). A quantidade de lesões depende das circunstâncias da exposição e do grau de infecção do mosquito-vetor. Podem resultar em múltiplas lesões, até 100 ou mais. Úlcera: apresentação mais frequente, é circular, com bordas elevadas e infiltradas (em moldura), fundo com granulação grosseira e avermelhada, recoberta por exsudato discreto, seroso ou seropurulento. Involui espontaneamente após alguns meses (6 a 15), deixando cicatriz atrófica e apergaminhada, pigmentação salpicada, muitas vezes mais intensa na periferia, com arranjo que lembra os raios da roda de uma bicicleta, denunciando o ponto de inoculação nos pacientes com doença já avançada (forma mucosa). Lesões por disseminação hematogênica: São as leishmânides, que, normalmente, são lesões habitadas ou podem ser consequentes a antígenos ou restos da leishmânia. Na pele: papulopustulosas (impetigoides), ulcerocrostosas (ectimatoides), papulofoliculares (liquenoides), tuberosas (micro e macrotuberosas) com arranjos circinados ou em placas de aspecto lupoide, nódulos (raramente), vegetantes (úmidas ou secas), ulceronodulares e ulcerosas. Lesões hematogênicas: mucosas da boca, nariz, laringe, faringe e, menos frequentemente, órgãos genitais e conjuntiva. Algumas vezes, surgem lesões mucosas, destrutivas ou não, meses ou anos após o início da doença, em uma fase em que já não há lesões cutâneas, em que pese o achado eventual de leishmânias na mucosa nasal sem lesão clínica. A mucosa pode estar espessada, edematosa, friável, dolorosa e com odor fétido. Cruz de Escomel: refere-se à interseção dos septos fibrosos do palato que estão poupados e as lesões mamelonadas adjacentes; com o passar do tempo ocorrem úlceras, com destruição do septo cartilaginoso e, às vezes, subsepto, provocando a queda da ponta do nariz (aspecto buldogufoi rme), ulcerovegetante (polipose, em especial nas formas nasais, com aspecto ozeniforme). Úlcera típica: indolor, com formato arredondado ou ovalado, com bordas bem delimitadas e elevadas, fundo avermelhado e granulações grosseiras. Forma mucosa: lesões destrutivas localizadas na mucosa, em geral nas vias aéreas superiores. Ana Elisa A. G. Medicina 2021.02 Diagnóstico Suspeita clínico-epidemiológica associada a dados laboratoriais. Exame parasitológico direto, através de exame do raspado da borda da lesão, ou “in-print” feito com o fragmento da biópsia; histopatologia, intradermorreação, reação de Montenegro-IRM. Sorologia pode ser útil. Pesquisa de parasitas de esfregaço das lesões por meio da coloração de Giemsa. lntradermorreação de Montenegro com leitura de 48 a 72 horas, positiva com enduração maior de 5 mm. Histopatológico com coloração de hematoxilina eosina e com anticorpos com marcação com imunoperoxidase. Cultura cm meio de NNN. Isolamento do parasita cm animais como lramster. Sorologia com imunofluorescência, Elisa e aglutinação direta. Reação em cadeia da polimerase (PCR). Como há destruição do septo nasal, pode ter como diagnostico diferencial o uso de cocaína. Tratamento Deve-se fazer avaliação da função renal e das alterações cardíaca e hepática. Forma cutânea localizada: feito primordialmente de forma sistêmica com antimoniato de meglumina, 15mg/kg/dia. Menor tempode tratamento e menor dose. Leishmaniaguyanensis: preferencialmente o uso de isetionato de pentamidina como medicamento de primeira escolha Forma Disseminada: antimoniato de meglumina. Forma grave: isetionato de pentamidina Antimonial pentavalente (N·meti.lglucamina) - glucantima- na dose de 10 a 20 mg /kg/dia por 20 a 30 dias. Na prática, para adultos, usa-se 2 a 3 ampolas injetadas via intramuscular ou endovenosa lenta, diariamente. Ana Elisa A. G. Medicina 2021.02 Podem ocorrer efeitos colaterais como artralgias, mialgias, náuseas, vômitos e tosse. Deve-se fazer controle de transaminases, função renal e cardíaca antes e durante o tratamento. Em casos resistentes, recomenda-se anfotericina B por via endovenosa, gota a gota, em 6 a 8 horas, na dose de 50 mg (iniciar com 25 mg), associada a 50 mg de hidrocortisona solúvel cm soro glicosado 5%, diariamente ou em dias alternados até atingir a dose total de 1.200 a 2.000 mg. ~ cardio e nefrotóxica, e não se conhece sua segurança na gravidez e na lactação. A anfotericina B lisossomal é indicada em casos de nefrotoxicidade na dose de 1 a 3 mg/kg de peso, diluída 50 mg/100 mL, por via endovenosa em 30 a 60 minutos, diariamente, por 2 a 4 semanas. Outra opção é a pentamidina, apresentada em ampolas de 300 mg, adminjstrada na dose de 4 mg/kg, 3 vezes/ semana, por via intramuscular durante 5 semanas. Pode causar hipoglicemia e agravar o diabetes. Acompanhamento de 2 a 17 meses, realizando todos os exames para analisar risco de reinfecção.
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