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Universidade Federal do Pampa - Campus Bagé Curso de Engenharia Química Disciplina de Laboratório de Engenharia Química II RECUPERAÇÃO DE ETANOL DE UMA MISTURA BINÁRIA ETANOL-ÁGUA POR DESTILAÇÃO COM REFLUXO AVEIRO, T¹., FAUSTINO, C¹., PACHECO, R¹., VERA, K¹. 1Universidade Federal do Pampa, Curso de Engenharia Química E-mail: tananebarcellos@hotmail.com RESUMO –A destilação é uma operação unitária de separação baseada na transferência de massa e no equilíbrio líquido-vapor. Esta técnica é realizada fornecendo-se calor a uma mistura líquida, que desta forma sofrerá uma vaporização parcial, obtendo-se duas fases, uma líquida e outra vapor com composições diferentes. A separação da mistura só é possível visto a diferença de volatilidade dos compostos. Ao atingir o ponto de ebulição o vapor produzido será rico nos componentes de menor ponto de vaporização, enquanto o líquido fica rico nos componentes menos voláteis. O experimento realizado teve como objetivo estudar a separação de uma mistura líquida etanol-água, assim como analisar os perfis de temperatura ao longo da coluna de destilação e as concentrações alcoólicas e frações molares obtidas , determinar a razão de refluxo real e a razão de refluxo mínima e relacionar os dados obtidos com o conceito de HETP. O perfil de temperatura encontrado foi condizente com o esperado assim como as concentrações alcoólicas e frações molares, visto que a maior porção de etanol, que é mais volátil que a água, está no destilado. A razão de refluxo real encontrada foi de 2,3128 e a razão de refluxo mínima foi de 1,6792. O valor de HETP encontrado foi de 7,43 cm. INTRODUÇÃO Dentre as operações unitárias, a destilação é uma operação utilizada para a separação de líquidos miscíveis através da diferença de volatilidade. Essa operação é baseada nos fundamentos de transferência de calor e massa, onde uma fase vapor entra em contato com a fase líquida, ocorrendo a transferências de massa do líquido pela vaporização e do vapor pela condensação. A fase líquida e a fase vapor contém os mesmos componentes, porém em quantidades diferentes (FOUST, 2012). O processo de destilação é amplamente empregado na indústria química. De acordo com Silva (2015) na destilação realizada em colunas verticais, uma mistura de componentes químicos é alimentada na coluna contendo diversos estágios de equilíbrio para ocorrer um maior contato entre as fases, obtendo-se maior grau de pureza dos componentes mais voláteis na corrente que sai do topo da coluna de destilação. Segundo Teixeira (2014), a coluna é dividida em duas seções: a de esgotamento localizada abaixo do local de alimentação e a de enriquecimento. A coluna de destilação com refluxo é composta por um condensador no topo e um refervedor no fundo da coluna, conforme a Figura 1: Figura 1: Módulo da coluna de destilação Fonte: Teixeira,(2014). O vapor percorre toda a coluna de destilação, onde entra em contato com o líquido e purifica-se a medida da sua trajetória ascendente. A coluna deve ter uma quantidade de pratos suficientes para que o vapor chegue ao topo da coluna e para que tenha uma composição adequada do componente mais volátil, logo o vapor passa pelo condensador onde uma parte do produto destilado retorna a coluna (refluxo) e a outra parte é retirada,o mesmo ocorre no refervedor. (TEIXEIRA, 2014). MATERIAIS E MÉTODOS Materiais Para realização do procedimento de destilação de uma mistura binária etanol-água foi utilizado o módulo didático apresentado na Figura 2. A coluna de destilação possui diâmetro interno de 5 cm e recheio randômico formado por anéis de Raschig de tamanho característico de 8 mm, a coluna é dividida em 7 módulos com alturas de recheio aproximadamente iguais. Figura 2: Módulo didático de destilação. Fonte: Autores, 2019. Metodologia Experimental Para realização do procedimento experimental foi dividido em duas condições de operação: razão de refluxo 2:1(nominal) e razão de refluxo zero. Para o início da destilação ajustou-se no painel elétrico a temperatura de 90°C e também ajustou-se o refluxador para uma razão de refluxo 2:1. Neste refluxo, foi coletada amostras em triplicata do destilado (topo) e refervedor (fundo), e foi coletada, com auxílio de uma seringa, uma amostra de vapor em um ponto da coluna para realização da picnometria. Para o experimento com refluxo zero, foi feito o teste de proveta, para determinação da vazão volumétrica do destilado. Este teste consiste em coletar determinado volume, e cronometrar o tempo necessário para a coleta deste volume. Metodologia de Cálculo Através de ensaios de picnometria líquida foram obtidos valores de massa específica para as amostras do destilado, do refervedor e do vapor coletadas, utilizando-se a Equação 1: (1)ρ = mV onde 𝘱 é massa específica, m é massa da amostra, e V é o volume real do picnômetro. Sendo conhecidas as massas específicas das amostras coletadas, foi possível encontrar valores para as frações mássicas de etanol e água em cada alíquota, através da condição que o volume da solução é proporcional a massa. Tendo as frações mássicas, determinou-se a massa de cada componente em solução, possibilitando assim, determinar o número de mols e a fração molar dos componentes presentes na mistura. Utilizou-se as Equações 2 e 3 respectivamente: (2)n = mMM (3)x = nn total onde n é o número de mols, m é a massa de cada amostra, MM é a massa molar, n_total é o número total de mols presente na amostra, e x é a fração molar. A vazão das correntes foi determinada através do balanço de massa no topo da coluna exposto na Equação 4: (4) V = L + D sendo V a vazão do vapor que deixa a coluna no topo, D a vazão do destilado e L a vazão de líquido que retorna a coluna. A razão real de refluxo foi determinada pela Equação 5: (5)RD = LD sendo R a razão de refluxo da coluna de destilação. A fim de comparar o refluxo com o refluxo mínimo, aplicou-se o método gráfico de McCabe e Thiele, representado na Equação 06: (6)Rmín = y −x′ ′ x −yD ′ sendo xD a fração molar do destilado, y’ a fração de etanol na fase vapor e x’ a fração de etanol na fase líquida. O número de estágio teóricos de equilíbrio e o número de estágios mínimos foram determinados utilizando o método gráfico de McCabe-Thiele. A determinação da eficiência do recheio na destilação (HETP) foi determinada segundo CALDAS et al., (2007) onde a sistemática baseia no conceito da altura equivalente a um estágio teórico, conforme apresenta a Equação 7. ET P (7)H = ZN sendo Z, a altura total do recheio necessário para obter a separação equivalente ao número de estágios teóricos, e N, o número de estágios teóricos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com base no experimento realizado foipossível determinar a concentração alcoólica e as frações molares de amostras coletadas do refervedor, ponto intermediário 4, e condensador da coluna de destilação. A concentração alcoólica foi obtida por meio de interpolação de valores tabelados, extraídos de Perry (1999). Já as frações molares foram calculadas a partir das Equações 2 e 3. Os resultados estão dispostos na Tabela 1. Tabela 1: Concentração Alcoólica e Fração Molar de Etanol. AMOSTRA XD (%) FRAÇÃO MOLAR ETANOL Produto de Topo 90,07 0,7800 Ponto 4 88,75 0,7551 Refervedor 10,99 0,0460 Constatou-se que a fração molar de etanol no produto de topo é bem maior que no produto de fundo, comprovando que houve transferência de componentes, visto que o componente mais volátil apresenta maior concentração no topo da coluna. O perfil de temperatura ao longo da coluna de destilação é ilustrado na Figura 3: Figura 3: Perfil da temperatura. O perfil de temperatura apresenta o comportamento decrescente do refervedor até o destilado. Nota-se também que, o gráfico do perfil de temperatura se comporta de forma constante quando esta se aproxima da temperatura de ebulição do azeótropo etanol-água, ou seja, o ponto no qual a mistura apresenta frações iguais para ambos os componentes tanto na fase vapor quanto na fase líquida, não podendo ser separada por métodos convencionais de destilação. A Tabela 2 apresenta os valores de Refluxo Real - RD , calculado por meio da Equação 5, Refluxo Teórico, Refluxo Mínimo - Rmín , calculado através da Equação 6, e a razão de RD por Rmín . Tabela 2: Razões de Refluxo. R real R mínimo R teórico (RD) (R mín) 2,3128 1,6792 2 1,377 Pode-se notar que a razão de refluxo real pelo refluxo mínimo obtida é menor que o refluxo nominal (2:1). Este valor indica que o processo está próximo das condições ótimas de operação, onde este valor é de aproximadamente 1,2. Para comparação, também foram encontrados valores de fração molar de acordo com a temperatura, por meio do diagrama de equilíbrio líquido-vapor (ELV), Tabela 13.1, de Perry (1999). Os valores são apresentados na Tabela 3. Tabela 3: Frações molares de etanol segundo diagrama ELV. VALORES DO DIAGRAMA T (x-y) - TEÓRICOS VALORES DE PICNOMETRIA - EXPERIMENTAIS xA yA XA YA Refervedor 0,06 0,35 0,046 0,32 Ponto 4 0,72 0,76 0,7551 0,78 Produto de Topo - - 0,78 0,81 Comparando, os valores encontrados por meio de picnometria foram similares aos do diagrama equilíbrio líquido vapor, com pontos coerentes, onde ocorre uma fração de etanol maior no produto de topo e menor no refervedor. Os valores de xA e yA teóricos não podem ser obtidos graficamente porque a temperatura no painel elétrico referente ao produto de topo (52,2º C), está abaixo à da temperatura de isotrópico (78,2ºC). Relaciona-se o número de estágios teóricos de equilíbrio e a altura de recheio da coluna de destilação através do conceito de HETP (Altura Equivalente ao Prato Teórico). O tamanho do HETP pode variar de 2 a 15 cm, como afirma Isenmann (2012). O número de estágios ideais para o experimento foi de 8, sendo assim HETP calculado através da Equação 7, igual a 7,4375. A tabela 4 ilustra os valores de HETP encontrados na literatura: Tabela 4: HETP encontrados na Literatura. Mccabe-Thiele 23,75 Equação de Fenske 20,89 Katayama(1968) 17,33 Nota-se uma diferença considerável entre o valor calculado e os encontrados na literatura. Provavelmente devido à diferença de dimensão característica dos anéis de Rasching, que na literatura é em média de 5,5 mm, enquanto que os utilizados no ensaio laboratorial foi de 8 mm. CONCLUSÃO A realização do experimento de destilação com refluxo 2:1 e zero, permitiu observar a influência dos fenômenos de transferência de calor e massa no processo de separação de uma mistura binária envolvendo etanol e água. Ao analisar o perfil de temperatura obtido observa-se que este apresentou um comportamento decrescente do refervedor até o destilado, conforme o esperado. Por ser um processo contínuo, e não sofrer perturbações ao longo do processo, chega-se ao estado estacionário e as temperaturas mantiveram-se constantes. Até que no topo da coluna, o calor é retirado, condensando a corrente de vapor e gerando uma corrente líquida. Isto causa o decréscimo da temperatura. O gráfico do perfil de temperatura se comporta de forma constante quando esta se aproxima da temperatura de ebulição do azeótropo etanol-água. A razão de refluxo real encontrada foi de 2,3128 e a razão de fluxo mínima foi de 1,6792. Estes valores condizem com o esperado para condições ótimas de operação. O valor encontrado para o HETP, utilizando a correlação de Peters, foi de 7,43 cm atendendo a faixa de valor esperado (entre 2 - 15), porém o HETP pode ser estimado pelo diâmetro da coluna, se este for considerado equivalente, assumindo o valor de 5 cm. NOMENCLATURA x Fração molar [-] xD Fração molar de etanol no destilado [-] 𝘱 Massa específica [M/L-3] MM Massa molar [M/MOL] n N° de mols [MOL] Rmín Razão de refluxo mínimo [-] RD Razão de refluxo real [-] D Vazão volumétrica de destilado [L³/T] L Vazão volumétrica de líquido [L³/T] V Vazão volumétrica de vapor [L³/T] V Volume [L³] REFERÊNCIAS FOUST, A.S. et al (2012), Princípios das Operações Unitárias. Ed. LTC, Rio de Janeiro. TEIXEIRA, A. C. (2003), Inferências em Coluna de Destilação Multicomponente. UFSC, Florianópolis- SC, 38p. (trabalho de conclusão de curso). SILVA, M. Modelagem e simulação de uma coluna de destilação para separação dos componentes reacionais do biodiesel em MATLAB. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal do Rio Grande do Norte ISENMANN, A.F. Operações Unitárias na Indústria Química. 2 ed. Timóteo: Edição do Autor, 2012. CALDAS, J. N.; LACERDA, A. I.; VELOSO, E.; PASCHOAL, L. C. M. Internos de Torres: Pratos & Recheios. 2ª ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2007.
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