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AULA 1 Manuella Soussa Braga Odontopediatria - 2021/2 - 8º período EXAME CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E PLANO DE TRATAMENTO EM ODONTOPEDIATRIA FATORES IMPORTANTES A SEREM CONSIDERADOS 1. É a primeira consulta para muitas crianças; 2. Falta informações clínicas sobre a criança; 3. Condutas de comportamento são desconhecidas; 4. Qual é a necessidade de tratamento da criança? O comportamento da criança pode variar bastante, inclusive pelo tipo de tratamento que ela precisa (se está sentindo dor por um tratamento de urgência, se é cirúrgico, restaurador ou preventivo, por exemplo). Mesmo que a criança se comporte mal e não deixe realizar nenhum procedimento, é preferível fazer um procedimento mais simples do que mandar essa criança para casa sem ter feito nada. PRIMEIRA CONSULTA A presença dos pais é extremamente importante. A consulta deve ser o mais agradável possível. Nos casos de urgências, mesmo que a criança tenha dor, abscesso ou outros problemas, o dentista deve ser compreensivo e se mostrar amigo da criança. EXAME CLÍNICO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Anamnese Exame Clínico Completo Exame Radiográfico Diagnóstico Prognóstico Plano de Tratamento A anamnese é uma oportunidade para conhecer a criança. Dirija as perguntas à ela sempre que possível! FICHA CLÍNICA Registrar informações do paciente: - saúde geral - condições da cavidade bucal - condições dos dentes - odontograma - condições de higiene oral (índice de placa) - presença de patologias Fornecer dados para o profissional elaborar: - diagnóstico - prognóstico - terapêutica - planejamento do tratamento O planejamento do tratamento envolve outras áreas da odontologia, bem como áreas da medicina em geral (encaminhamento). Deve-se registrar a síntese diagnóstica no final da ficha clínica. Registrar o orçamento e o controle de pagamento. Obter a autorização dos pais ou responsáveis para execução do tratamento proposto (é ideal a assinatura do responsável nessa parte concordando com o orçamento e planejamento do profissional). Todo procedimento realizado nesse paciente deve ser anotado na ficha clínica (ideal a assinatura do responsável também). Avaliar os resultados obtidos pelo tratamento realizado e apresentar o relatório final daquele paciente (se compareceu a todas as consultas, comportamento da criança e da família). Registrar os retornos do paciente. A ficha clínica é um instrumento legal de grande importância. IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE Nome da Criança Data de Nascimento e Idade Nome dos Pais Endereço Telefone (mais de um) Escola e Turno Grau de Escolaridade Nome do Médico ou Pediatra Classificação da Criança no Prontuário Infantil TIPO I (prevenção) A criança não apresenta cárie ou outras doenças. Faz selante, flúor etc. TIPO II (dentística) A criança apresenta cavidades pequenas e, olhando num primeiro momento, vê que a necessidade dela é apenas dentística. TIPO III (endodontia-dec.) A criança apresenta indicação para endodontia. AULA 1 Manuella Soussa Braga Odontopediatria - 2021/2 - 8º período EXAME GERAL Feita a partir do momento que a criança entra na clínica. Estatura e Peso x Idade Movimentos Linguagem Pele (mais amarelada - hepatite; mais vermelho - febre) Mãos (se chupa dedo, se rói unha) Anamnese - conheça seu paciente! 1. História Dental Normalmente, a queixa principal dos pacientes são os dentes anteriores por conta da estética. No entanto, a criança pode apresentar muitas lesões cariosas nos dentes posteriores e, por isso, deve-se resolver os dois problemas, orientando aos pais que o problema vai além da estética dos anteriores (porque eles podem não ver). É importante perguntar se a criança já foi ao dentista antes, quanto tempo faz e como transcorreu o tratamento (experiências bem como comportamento). É válido lembrar que saber o comportamento passado da criança não é decisivo, já que ela pode variar esse comportamento de consulta para consulta e de dentista para dentista. Prontuário Infantil Gestação: ( ) normal ( ) problemas ________________ A mãe que teve problemas durante a gestação, como infecção, podem levar ao nascimento de crianças com defeito no esmalte, por exemplo. Parto: ( ) normal ( ) a fórceps ( ) cesariana Parto a fórceps pode lesionar a ATM do bebê. Nascimento: ( ) normal ( ) def. congênito ( ) prematuro Crianças que nasceram prematuras ou com baixo peso podem ter atraso na erupção dentária. 2. História Médica a. passada - já esteve hospitalizada? Na história médica, deve-se obter informações sobre possíveis doenças da infância (catapora, caxumba, sarampo, varicela, coqueluche etc) e doenças sistêmicas (cardiovasculares, anemia falciforme, alergias, febre reumática, doenças infecciosas, asma, hemorragias, icterícias, convulsões, alergias etc). Para saber das possíveis doenças da criança, pode-se iniciar perguntando se ela já esteve hospitalizada e o motivo da internação. Os responsáveis podem não se lembrar de todas as doenças. Ainda, é interessante a assinatura nesse campo do prontuário. Perguntar também o tratamento realizado (medicamentos utilizados e cirurgias realizadas) e relacionar alterações dentais atuais com doenças sistêmicas passadas e tratamentos realizados. b. atual Questionar aos responsáveis sobre possíveis problemas de saúde atuais e medicações utilizadas. 3. Antecedentes da Criança a. pré-natal, natal e pós-natal Anomalias de cor, forma, estrutura, efeitos de drogas e distúrbios metabólicos na época de formação dos dentes. 4. Antecedentes Hereditários Algumas doenças são hereditárias, portanto os pais, irmãos e familiares às vezes devem ser questionados. Prontuário Infantil Já sofreu algum traumatismo nos dentes? ( ) sim ( ) não Como foi o acidente? ___________ Quais dentes? _____ Inicialmente, só um dente pode apresentar alguma manifestação do traumatismo. Porém, se mais dentes estiverem envolvidos, algumas manifestações tardias podem ocorrer (calcificações, reabsorções, necrose etc). A criança herdou alguma característica facial ou dental da família? É importante explicar essa pergunta à mãe. “Os dentes da criança parecem com os dos pais?”. 5. Hábitos a. higiene Quem escova os dentes? Quantas vezes ao dia? Qual dentifrício é utilizado? Tem flúor? Qual a quantidade de dentifrício utilizado? Pedir que traga a escova na próxima consulta. A princípio, deixar que a família coloque a quantidade de pasta que está acostumado e, a partir disso, orientar a quantidade certa. Dependendo da idade da criança e da quantidade de pasta, ela pode deglutir e isso vai influenciar na formação do dente permanente. AULA 1 Manuella Soussa Braga Odontopediatria - 2021/2 - 8º período Orientar aos pais que não deixem a pasta de dente disponível facilmente para a criança pegar (principalmente aquelas que comem pasta). É comum que elas queiram escovar os dentes toda hora só para comer a pasta, levando a uma sobredosagem de flúor na corrente sanguínea e fluorose nessa criança. b. alimentares Investiga-se se a criança faz aleitamento, toma chás noturnos ou mamadeira e como é o uso do açúcar em casa (se toma achocolatado, se o suco é adoçado etc). Fazer a entrega do diário de dieta ao paciente. No retorno, circula quantas refeições com açúcar tem na dieta e a frequência de refeições. c. nocivos Investigar se acriança chupa chupeta, dedo e língua, se rói unha ou se tem bruxismo, por exemplo. 6. Comportamento Psicológico a. criança em casa e na escola Tímida, dócil, comportada, expansiva, agressiva, nervosa, caprichosa, doente. b. conduta dos pais Batem, castigam, conversam, impõe limites, ignoram, proteção excessiva (geralmente uma criança doente), chantagem etc. c. criança no consultório Coopera, tímida, medrosa, mimada, teimosa, rebelde, agressiva. EXAME CLÍNICO Durante o exame clínico, o profissional deve estar atento e utilizar todos os sentidos humanos para análise dos sinais apresentados pelo paciente. Para isso, utiliza-se manobras clínicas, como: Inspeção - visão Palpação - tato Percussão - audição Auscultação - audição Avaliação da função Teste de Vitalidade Não é proposto fazer teste de vitalidade na criança, pois o objetivo desse teste é provocar dor, fazendo com que ela fique desconfiada do dentista e se comporte mal. Como fazê-lo? O exame clínico é feito de acordo com a faixa etária e nas condições que a criança permite. Os bebês podem ser examinados pela técnica “joelho a joelho”). Outra opção é utilizar uma maca que tem um buraco para encaixar as perninhas da criança e a mãe fica na frente segurando-a. Nas duas técnicas, a mãe deve segurar as mãos da criança, pois a sua primeira reação seria levar a mão na mão do dentista para tirar. Uma criança de 3-4 anos, geralmente quer ficar no colo da mãe (é ideal que aceite isso nas primeiras condutas mas que depois peça para ela sentar sozinha). A criança maior já fica sentada na cadeira sozinha para exame clínico convencional. EXAME EXTRABUCAL REGIONAL Lembre-se que o exame geral é feito a partir do momento que a criança entra na clínica. Neste, deve restringir-se a cabeça. Cabeça perfil, tamanho, forma e assimetria Cabelos qualidade, cor e espessura Olhos posição e orientação na face, reação diante da luz, comprometimento de visão e inflamação Ouvidos posição das orelhas e distúrbios auditivos Nariz tamanho, localização, forma e função Pescoço palpação ganglionar da cabeça e pescoço (nódulos com sensibilidade e aumento de volume) ATMs palpação e auscultação da ATM, observar presença de deslocamento, desvios, ruídos e dor Um caso de assimetria da cabeça é a anquilose da ATM devido ao nascimento à fórceps que pode ser unilateral ou bilateral, levando a um crescimento deficiente da mandíbula. É muito importante que seja feito um diagnóstico precoce dessa condição, pois quanto mais cedo realizar a cirurgia de deslocamento desse côndilo calcificado, maior o sucesso no crescimento anterior, prevenindo essa assimetria na face. Quando a criança está na dentição mista, há contatos prematuros que podem gerar distúrbios passageiros ou que podem agravar ainda mais a ATM. AULA 1 Manuella Soussa Braga Odontopediatria - 2021/2 - 8º período EXAME INTRABUCAL 1. Exame dos Tecidos Moles Região o que observar? Possíveis Alterações Lábios Inspeção e Palpação Coloração, textura, selamento e integridade. Na face interna do lábio superior, deve-se observar o freio labial (altura, inserção e integridade). Ao tracionar o lábio superior, há uma possibilidade de isquemia da papila lingual. Queilite Angular (etiologia multifatorial, podendo estar relacionado com deficiências nutricionais, AIDS etc.). Mucocele (comum quando os dentes anteriores inferiores estão erupcionando). Mucosa Vestibular Observa-se o ducto da parótida, sua cor e integridade. Lesões traumáticas (crianças que mordem a mucosa depois de uma anestesia local, por exemplo). Aftas (não se deve insistir em trabalhar do lado que essa criança está sentindo dor pela presença de aftas ou outras lesões). Palato Duro e Palato Mole Examina-se a cor, altura, rugosidades palatinas e integridade. Fendas palatinas, petéquias etc. Orofaringe Examina-se a forma, tamanho, cor e integridade das tonsilas. Úvula bífida, tonsilas hipertrofiadas. Assoalho Bucal Examina-se a integridade, freio lingual, anquiloglossia e glândulas sublingual e submandibular. Rânula. Língua Observa-se a tonalidade, forma, tamanho e patologias. Glossite Rombóide Mediana - lesão inflamatória causada pela candida albicans; Língua Fissurada - distúrbios de desenvolvimento em 0.5 a 5% da população (essas duas patologias merecem uma atenção especial durante a higiene pela possibilidade de bactérias se alojarem na região provocando uma infecção); Língua Geográfica - etiologia desconhecida, afeta de 8 a 12 anos e 1 a 2% da população, sendo 4 vezes mais comum em crianças; Mordedura de Língua - mais na lateral de língua, comum em adolescentes devido ao estresse. Gengiva Examina-se cor, contorno, textura e alterações. Cisto de Erupção - presente tanto na dentição decídua quanto na mista, sendo que a coloração azulada por conta da hemorragia é característico desse cisto, o tratamento é cirúrgico ou proservação com orientação dos pais; Gengivoestomatite Herpética Aguda - alimentos quentes e salgados machucam a região, então a criança geralmente se alimenta de comidas geladas e mais líquidas/pastosas, pode-se utilizar sprays com anestésicos tópicos (cepacaína, p. ex.) para aliviar os sintomas durante alimentação; Gengivite Medicamentosa; Cistos Hemorrágicos; Fístulas. 2. Exame dos Tecidos Duros Como trabalhamos com a dentição decídua, mista e permanente, é importante conhecer a cronologia de desenvolvimento dentário e a sequência favorável de erupção. Exame da Dentição Decídua Sequência Favorável de Erupção Incisivo Central Inferior Incisivo Lateral Inferior Incisivo Central Superior Incisivo Lateral Superior Primeiro Molar Inferior Primeiro Molar Superior Canino Inferior Canino Superior Segundo Molar Inferior Segundo Molar Superior A erupção dos primeiros molares decíduos indica o primeiro levante de mordida do paciente, estabelecendo o primeiro contato entre a arcada superior e inferior. AULA 1 Manuella Soussa Braga Odontopediatria - 2021/2 - 8º período Na presença de dentes neonatais, é preciso realizar radiografias para ver se o dente é da série ou um supranumerário antes de definir o tratamento. A dentição decídua pode apresentar um arco do tipo 1 ou tipo 2 de Baume. O arco tipo 1 apresenta diastemas generalizados, além do espaço primata. O tipo 2 não tem esses diastemas. A maior vantagem do arco tipo 1 é que tem espaço para erupção dos permanentes, compensando essa discrepância de diâmetros. O arco tipo 1 também oferece uma maior facilidade de limpeza. A presença de espaços primatas também serve para compensar a discrepância do diâmetro dos dentes. A relação distal do 2º molar decíduo guia a erupção do primeiro molar permanente. A perda de um segundo molar decíduo traz prejuízo para erupção do primeiro molar permanente. Observa-se também a chave de canino. Na dentição decídua, há uma ausência da curva de Wilson e de Spee. A linha de oclusão é plana, já que a dentição decídua é implantada verticalmente na sua base óssea. Em relação à sobressaliência/sobremordida, o ângulo interincisal decíduo é de 180º e o ângulo interincisal permanente é de 108%. Também podeser encontrada casos de maloclusão, como mordida aberta, que pode ser provocada pela chupeta ou hábitos deletérios como chupar dedo. O hábito deve ser removido. A mordida cruzada posterior esquelética deve ser intervida. Exame da Dentição Permanente Sequência Favorável de Erupção Primeiro Molar Inferior Primeiro Molar Superior Incisivo Central Inferior Incisivo Lateral Inferior Incisivo Central Superior Incisivo Lateral Superior Canino Inferior Primeiro Pré-Molar Inferior Segundo Pré-Molar Inferior Primeiro Pré-Molar Superior Segundo Pré-Molar Superior Canino Superior Segundo Molar Inferior Segundo Molar Superior A erupção ectópica do primeiro molar permanente é comum, podendo fazer com que ele fique impactado pela coroa do segundo molar decíduo. Se essa impacção for pouca, pode voltar para o lugar, porém se for muito intensa, vai provocar reabsorção da porção distal do segundo molar decíduo e a sua esfoliação. A fase do patinho feio é a abertura em leque dos incisivos antes da erupção dos caninos. É uma fase fisiológica e o dentista não pode interferir. Exame dos Dentes Observa-se o índice da placa (biofilme), além da escovação supervisionada e profilaxia. É feito com espelho, sonda e pinça. O odontograma também deve ser feito. Verifica-se: - Integridade dos dentes - Cárie crônica e ativa - Fraturas - Patologias A cárie dentária é uma doença de ordem comportamental e socioeconômica com o envolvimento de fatores secundários e determinantes ou principais. A presença de patologias pode impedir a erupção dos dentes. Exames Complementares - Exame Radiográfico Radiografias Interproximais Radiografias Periapicais (é modificada) Radiografia Panorâmica - Exames de Laboratório Plano de Tratamento ● Emergências ● Tratamento Sistêmico ● Educação do Paciente ● Tratamento Preparatório AULA 1 Manuella Soussa Braga Odontopediatria - 2021/2 - 8º período ○ Adequação do Meio Bucal ○ Remoção de Focos ● Selantes ● Tratamento Restaurador ● Ortodontia Preventiva ou Controle de Maloclusão ● Aplicação Tópica de Flúor Sequência do Plano de Tratamento: Emergências Alterações Pulpares e Periapicais (dor) Traumatismos Estomatites Sequência do Plano de Tratamento: Médico Sistêmico Crianças com problemas de saúde geral, consulta-se o médico da criança. Em casos de dúvidas, encaminha-se ao pediatra para avaliação. Sequência do Plano de Tratamento: Educação do Paciente Revelação de Placa Orientações de Higiene Bucal tipo de escova dental técnica a ser empregada (Fones ou Bass) dentifrício utilizado, quantidade e frequência uso do fio dental (pela mãe) Raspagem Supra-Coronária Orientações da Dieta Sequência do Plano de Tratamento: Tratamento Preparatório Adequação do Meio Bucal Selamento das Cavidades CIV IRM Exodontias Tratamento Endodôntico Pulpotomia Pulpectomia Selantes de Fóssulas e Fissuras Sequência do Plano de Tratamento: Tratamento Restaurador Alguns fatores como idade, grau de destruição do dente, condições do osso de suporte, época de esfoliação do dente e espaço perdido devem ser considerados. Sempre se inicia o tratamento restaurador do último dente na cavidade para o primeiro, pois são os dentes que esfoliam por último. Sequência do Plano de Tratamento Ortodontia Preventiva ou Controle da Maloclusão Mantenedores de Espaço Avaliação das Necessidades de Tratamento Ortodôntico Tratar, Acompanhar ou Encaminhar ao Ortodontista Sequência do Plano de Tratamento: Controle Periódico Feito de 6 em 6 meses ou 3 em 3 meses. O tempo depende da atividade de cárie, do aspecto das lesões de cárie, hábitos alimentares e hábitos de higiene bucal. Sequência do Plano de Tratamento: ALTERAÇÃO NA SEQUÊNCIA Pode ser alterada de acordo com o paciente e outras situações, por exemplo: procedimentos endodônticos podem ser deixados por último em pacientes pequenos e o encaminhamento ao ortodontista pode ser feito no início do tratamento.
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