Buscar

Prévia do material em texto

2
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA – UNAMA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – ICJ
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
SAMARA MIRANDA VASCONCELOS 
FEMINICÍDIO: 
o controle social do crime pelo Estado 
BELÉM/PA
2021
SAMARA MIRANDA VASCONCELOS 
 
FEMINICÍDIO: 
o controle social do crime pelo Estado 
Trabalho de conclusão de curso (artigo científico), apresentado ao Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ) da Universidade da Amazônia (UNAMA), como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Me. José Rafael Albarelli De Luca
BANCA EXAMINADORA 
___________________________________
Orientador: Prof. Me. José Rafael Albarelli De Luca
Universidade da Amazônia
___________________________________
Prof.(a):
Instituição: 
Apresentado em: ____/06/2021.
Conceito:_______________
BELÉM/PA
2021
FEMINICÍDIO: o controle social do crime pelo Estado[footnoteRef:1] [1: Trabalho de conclusão de curso (artigo científico), apresentado como requisito para obtenção do grau de Bacharelado em Direito. ICJ/UNAMA/2021.] 
Samara Miranda Vasconcelos[footnoteRef:2] [2: Acadêmica do curso de Direito/ICJ/UNAMA/2021/ E-mail: ] 
José Rafael Albarelli De Luca[footnoteRef:3] [3: Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Direitos Fundamentais pela Universidade da Amazônia (UNAMA). Professor de Ensino Superior. ] 
RESUMO
.
PALAVRAS-CHAVE: Feminicídio; Crime; Vida; Mulher.
ABSTRACT
.
WORD KEYS: .
SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO. 2 FEMINICÍDIO: CONCEITOS, TIPOS E QUALIFICADORA. 3 AS ESTATÍSTICAS DE FEMINICÍDIO, O MAPA DA VIOLÊNCIA E A OMISSÃO DO ESTADO BRASILEIRO. 4 A DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL ACERCA DA QUALIFICADORA DO FEMINICIDIO. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS. 6 REFERÊNCIAS.
1 INTRODUÇÃO
A violência praticada contra as mulheres e, consequência da evolução histórica de hábitos culturais que tem fundamentos em vários discursos patriarcais. São práticas e hábitos construídos ao longo das mudanças de gerações. A condição de mulher sempre foi de submissão e domínio familiar ao homem, e muitas formas de violência hoje são graças à incompreensão da condição atual feminina, que são portadoras dos mesmos direitos conferidos aos homens. 
O feminicídio é novo não existiam a previsão de uma pena maior para o fato de o crime ser cometido contra a mulher por razões de gênero, pela condição de ser do sexo feminino, portanto a previsão legal era enquadrada nos crimes de homicídio qualificado por motivo torpe (inciso I do § 2º do art. 121) ou fútil (inciso II) ou, ainda, em virtude de dificuldade da vítima de se defender (inciso IV). 
A bagagem cultural predominantemente patriarcal e machista pesa de tal maneira que muitas vezes pressupõe a ideia de que o homem tem o direito de fazer o que bem entender com a sua esposa, com sua filha, namorada etc.; e é exatamente quando a mulher se rebela empoderada e insubordinada que a maioria dos casos de feminicídio acontece. O homem que comete feminicídio não aceita uma mulher no mesmo patamar que o seu, exercendo a mesma atividade, ganhando o mesmo salário, fazendo as mesmas coisas que ele faz ou agindo da mesma maneira que ele age; e no momento que ocorre essa quebra de hierarquia, o crime aparece como uma solução, que vai recolocar cada um no seu devido papel e reestabelecer a estrutura do sistema. 
Diante disso o feminicídio surge como uma forma coercitiva, trazendo uma hediondez ao fato, a fim de punir e inibir esse agressor, o fazendo temer a punição que sofrera caso cometa tal delito, a qualificadora foi uma forma que o estado viu para coibir a violência sofrida por mulheres, por ser mulher, tentando banalizar e frear um crime que é tão grave. 
Assim, surge a problemática: O Estado brasileiro é omisso no controle social dos crimes de feminicídio?, bem como as seguintes questões norteadoras: O machismo determinante na sociedade patriarcal influencia nas decisões judiciais do crime de feminicídio?; As políticas públicas de gênero são eficazes no combate e controle do feminicídio? Acerca da qualificadora do feminicídio há divergência doutrinária?
O sistema patriarcal e machista e muito presente na sociedade como um todo e mesmo depois da Lei Maria da Penha onde se passaram a ter maiores discussões sobre a violência doméstica no país, ainda se fala muito pouco sobre feminicídio, a discussão ainda é muito restrita a grupos feministas, é poucas pessoas tem consciência do problema.
No entanto a necessidade em tipificar essa conduta descrita pelo legislador, geram instabilidades na aplicação desse tipo penal. O estado deve minimizar as fragilidades que surgem de forma a aperfeiçoar o dever de punir. 
Espera-se que esse estudo fortaleça o combate à violência contra as mulheres de modo que um dia se tenha mais segurança diante de algo que a terroriza muitas mulheres, a fim de passar pelo menos certeza de que sua denúncia não foi em vão, e que o poder público possa garantir a efetividade da lei, e diminuir consideravelmente a curto prazo esse crime bárbaro que esta alarmante na nossa sociedade. 
Destarte, o objetivo principal do presente trabalho é: Demonstrar que o estado brasileiro e omisso no controle social dos crimes de feminicídio, que e causado pelo atraso de pensamento a igualdade de gênero, diante do grande número de denúncias contra violência doméstica, tendo em vista o foco na negligencia do estado, o que de fato contribui, entre vários outros fatores para não eficiência da Lei Maria da Penha e para reprodução do feminicídio no pais. O principal motivo desse trabalho e encontrar a responsabilidade do estado em garantir os direitos humanos em relação a violação dos direitos e garantias através do crime de feminicídio. E que dentro desse contexto o estado e responsável pela manutenção dessa situação violadora. 
De outra banda, os objetivos específicos são os seguintes: Aferir por que o estado e omisso no controle social dos crimes de feminicídio; Analisar por que a divergência doutrinária nas qualificadoras do feminicídio; Demonstrar porque o machismo ainda e determinante nas decisões judiciais do crime de feminicídio.
Para obter resultados acerca dos problemas apresentados nesse estudo, foi feita pesquisa teórica e prática, inclusive utilizada a bibliografia que retrata uma espécie de violência contra mulher, silenciosa, porém muito perigosa. A hipótese deste trabalho de conclusão de curso se encontra na responsabilidade internacional do Estado em relação à defesa e garantia dos Direitos Humanos no ordenamento jurídico interno, mas principalmente, em relação à violação desses direitos através do crime de Feminicídio. Dentro deste contexto, o Estado é responsável pela manutenção desta situação violadora. Nucci vem trazendo as abordagens sobre as qualificadoras do crime de feminicídio. Além disso, as fontes documentais são essenciais, essas pesquisas estão dispostas na lei 13.104/2015 e a Lei 11.304/2006, lei que introduziu o feminicídio e a Lei Maria da Penha, respectivamente. Dentre outros autores utilizados para as referências bibliográficas, Maria Berenice Dias (2007), Marilia Cardoso Lopes (2015), Cezar Bitencourt (2015), Juliana Bezerra (2020), entre outros. 
Sendo assim, tal pesquisa foi realizada por uma abordagem qualitativa, uma vez que as ideias apresentadas devem percorrer pela análise das teorias e autores acima, mencionando qualificadoras que se sustentam através das divergências jurídicas tiradas de doutrinas para análise de teorias, a fim de estabelecer uma teoria principal acerca do estudo. Desse modo, inicialmente a presente pesquisa faz uma imersão para compreender os aspectos intrínsecos da qualificadora, ou seja, é necessário mais para aplicação da sanção penal, entender que o comportamento da sociedade são estruturais e que precisar ser cessado. Por consequência expõe as acepções jurídicas acerca da natureza jurídica da qualificadora, a fim de pontuar as principais teses jurídicas de onde e com quem está o erro de tantos casos, o estado realmente é omisso ou é machista. 
2 FEMINICÍDIO:CONCEITOS, TIPOS E QUALIFICADORA
 
O conceito de feminicídio foi utilizado pela primeira vez por Diana Russel em 1976, diante de um tribunal internacional sobre crimes contra as mulheres, realizado em Bruxelas, para caracterizar o assassinato de mulheres pelo fato de serem mulheres, definidas como terrorismo sexual ou genocídio de mulheres. Esse conceito descreve o assassinato de mulheres motivado pelo ódio, desprezo ou até mesmo sentimento de propriedade. O feminicídio e parte de um mecanismo de perpetuação da dominação masculina, estando profundamente enraizado na sociedade e na cultura. 
São expressões deste enraizamento a identificação de homens com as motivações dos assassinos, a forma seletiva com que a imprensa cobre os crimes e com que os sistemas de justiça e segurança lidam com esses tipos de caso. O fato da negação das mulheres com a existência do problema e atribuído à repressão ou até uma negação produzida pela experiência traumática do próprio terrorismo sexista, além da socialização de gênero, que a ideologia de gênero e utilizada para naturalizar as diferenças entre os sexos e impor estes padrões a papeis como se fossem naturais e constituintes da natureza humana. 
O feminicídio é o resultado fatal de múltiplas causas de violência contínua, como abusos, ameaças, perseguições, torturas, agressões físicas e psicológicas dentre outras modalidades criminosas, de acordo com o artigo 7 da Lei Maria da Penha (11.340/2006). 
A dominação patriarcal explica a desigualdade de poder que inferioriza e subordina as mulheres aos homens, estimulando o sentimento de posse e controle dos corpos femininos e o uso da violência como punição e mecanismo para mantê-las na situação de subordinação. Assim, o feminicídio significa mortes femininas que se dão sob a ordem patriarcal, uma forma de violência sexista que não se refere a fatos isolados, atribuídos a patologias ou ciúmes, mas expressa ódio misógino, desprezo às mulheres e constituem mortes evitáveis e, em grande maioria, anunciadas, já que grande parte representa o final de situações crescentes de violências. 
Saffioti (2004), define o patriarcado como sendo um sistema de dominação-exploração das mulheres. Seus principais elementos são: o controle da fidelidade feminina; a conservação da ordem hierárquica com a autoridade do masculino sobre o feminino, bem como dos mais velhos sobre os mais novos; e a manutenção dos papéis sociais: ao homem fica incumbida a responsabilidade da provisão material e a mulher pelos afetos e cuidado do lar. 
A lei Maria da Penha Maia nº 11.340 foi sancionada em 07 de agosto de 2006 exigiu-se uma mudança de postura, pois se estabelece a obrigatoriedade do respeito e da igualdade, criando mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar que consiste em: violência física, psicológica, sexual, patrimonial e a moral, elencados no artigo 7º da lei. Contudo, a lei 13.104/2015 promulga o chamado feminicídio que fora incluído no Código Penal Brasileiro passando a ser qualificadora do crime de homicídio, além de ser classificado como hediondo. A Lei 13.104/2015, dentre outras modificações que promoveu no Código Penal, alterou o seu art. 121, para incluir o feminicídio como circunstância qualificadora do homicídio. A lei do feminicídio considera o assassinato de mulher, como sendo uma condição especial da vítima, quando presentes “violência doméstica e familiar” ou “menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. Crimes qualificados são aqueles aos quais a lei acrescenta circunstâncias que alteram a própria pena em abstrato para patamar mais elevado. Para Cleber Masson a natureza da qualificadora do feminicídio é subjetiva, vejamos:
“o feminicídio constitui-se em circunstância pessoal ou subjetiva, pois diz respeito à motivação do agente. O homicídio é cometido por razões de condição de sexo feminino. Não há nenhuma ligação com os meios ou modos de execução do delito. Consequentemente, essa qualificadora é incompatível com o privilégio, que a exclui, afastando o homicídio híbrido (privilegiado-qualificado).” (MASSON, Cleber, Direito Penal, vol. 2, Parte especial, ed. 9º, Editora Forense pg. 44)
Conclui-se então que o feminicídio é uma qualificadora do homicídio doloso, de competência do Tribunal do Júri e expressamente rotulado como crime hediondo, sendo um delito praticado contra a mulher por razões da condição do sexo feminino, envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
A qualificadora do feminicídio possui caráter objetivo, pois para sua configuração basta que o crime seja cometido contra mulher por razões da condição de sexo feminino, ou seja, que a morte esteja vinculada à violência doméstica e familiar ou ao menosprezo ao gênero feminino. Sendo a qualificadora do feminicídio de natureza objetiva, no concurso de pessoas, perfeitamente se comunicará aos demais coautores ou partícipes (desde que ingressem na esfera de conhecimento dos agentes). Por fim, possível ter homicídio torpe e fútil juntamente com o feminicídio, por ser esta objetiva, enquanto aquelas subjetivas. 
3 AS ESTATÍSTICAS DE FEMINICÍDIO, O MAPA DA VIOLÊNCIA E A OMISSÃO DO ESTADO BRASILEIRO
No Brasil e difícil conhecer o feminicídio, não têm hoje dados oficiais disponíveis e nem pesquisas realizadas que sejam feitas a fim de dimensionar quantas mulheres morrem pela violência de seus maridos, companheiros ou ex-companheiros. A falta de dados oficiais que possibilite esse controle de mortes de mulheres e como se deu sua morte è o que mais dificulta os estudos sobre esse tema. De acordo com o atlas da violência e outros relatórios, revelam um quadro grave, e indicam também que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas. 
Em inúmeros casos, até chegar a ser vítima do feminicídio, essa mulher enfrenta vários outros tipos de agressões, como a própria Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), especifica no seu rol. Um dos estudos que fez uma dimensão dos crimes de feminicídio foi o mapa da violência 2015, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), que se dedicou a estudar a violência letal contra as mulheres e preencher a lacuna de dados sobre esse fenômeno. Essa pesquisa utilizou como fonte de dados às declarações de óbito do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde (MS), do período de 1980 a 2013. Com esse documento foi possível identificar que nesse intervalo de tempo morreram 106.093 mulheres, vítimas de homicídios. Apenas em 2013, foram 4.762 mulheres mortas. Por meio das declarações de óbito foi possível saber dados pessoais das vítimas, como idade, sexo, estado civil, profissão, naturalidade e residência. Mas, não foi possível caracterizar os homicídios como feminicídio nos termos da Lei 13.104/2015 por falta de informações sobre o autor do crime e de sua relação com a vítima (WAISELFISZ, 2015). 
De acordo com Waiselfisz (2015) o índice de violência contra a mulher tem crescido, consideravelmente. De acordo com o Mapa da Violência Contra a Mulher no Brasil, entre 1980 e 2010 o índice de feminicídio no País aumentou, sendo assassinadas neste período mais de 92 mil mulheres. Um fato relevante é que em 2006 as taxas de feminicídio eram de 4,2 por 100 mil mulheres, e no ano seguinte estas taxas diminuem de 3,9 para o mesmo número de mulheres. Este fato certamente está relacionado à institucionalização da Lei Maria da Penha em 2006. Ou seja, em 2007, primeiro ano de vigência efetiva da Lei Maria da Penha, houve uma leve queda nas taxas, entretanto, elas voltaram imediatamente a crescer de forma rápida até o ano 2010, igualando o máximo patamar já observado no País: o de 1996. Segundo a mesma pesquisa, divulgada pelo instituto Sangari, o número de homicídios de mulheres cresceu de 1.535 para 4.465, isto é, um percentual de 230% crescente. Ainda de acordo com Waiselfisz (2015), entre 2001 e 2011 aumentou em 17,2 %, isso representa mais de 48 mil mortes, sendo que somente em 2011 mais de 4,5 mil mulheresforam mortas no país. Em resumo, compreende-se que em 1980 o número de mulheres vitimadas era de 1.353, chegando a 4.762 em 2013. 
Constata-se então, que mesmo diante de uma pausa, a violência contra as mulheres cresceu, entretanto vale ressaltar que diante da criação da lei houve consideráveis aumentos nas denúncias, foi divulgado em que em 2014, foram realizadas 52.957 denúncias de violência contra a mulher. Ainda na mesma pesquisa de Waiselfisz (2015), foi constatado que, mulheres negras foram assassinadas em maior número entre 2003 e 2013, assim o feminicídio de negras saltou 54,2% em 10 anos. Em 2003, a taxa de feminicídio de negras em relação a mulheres brancas era de 22,9%, essa proporção subiu para 66,7% em 2013; assim, feminicídio de brancas caiu 9,8% entre 2003 e 2013. Outros dados assustadores onde mostram que mulheres assassinadas por seus parceiros no país, a organização mundial de saúde (OMS) estima que ocorra 5 feminicídio para cada grupo de 100 mulheres. Também em 07 de março de 2018, um levantamento de dados feito pelo G1, considerando dados relevantes a 2017, mostra que 12 mulheres são assassinadas, em média, no Brasil todos os dias sendo 946 feminicídio, ou seja, casos de mulheres mortas em crimes de ódio motivados pela condição de gênero. 
A entrada do estado como principal problema de violência doméstica e familiar se dá em 1970, as mulheres dos movimentos feminista começaram a denunciar seus parceiros pelas violências vividas em casa, bem como a impunidade no tratamento dos agressores perante o judiciário. Elas questionavam o entendimento de que essa violência era um tema do âmbito privado e que precisava ser tratado como problema social, e que necessitava de interferência do estado. O estado de direito tem como um dos seus fundamentos o controle da violência na sociedade. No que diz respeito à responsabilidade civil do Estado, vale destacar que o dever de reparação surge ao não agir para evitar as violações dos direitos em suas diversas causas, não somente nos casos em que medidas de cerceamento não forem aplicadas. A falha na execução das medidas preventivas acarreta prejuízos à coletividade, no caso, às mulheres que sofrem violência pela inoperância estatal. 
No ano de 2006, foi criada a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06), com o intuito de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Isto é, muito embora tenha ocorrido à evolução no que tange aos direitos das mulheres, ainda tiveram que ser desenvolvidas medidas para protegê-las contra agressões. No entanto, após a criação da lei retro mencionada, atualmente, ainda se discute sua eficácia para o combate da violência contra a mulher, já que, embora apresente garantias inovadoras, a norma legal não foi capaz de pôr fim às práticas abusivas.
A Lei Maria da Penha trouxe nova sistemática para a atuação do Estado perante os casos de violência contra a mulher. Na esfera criminal, ela apresentou penas mais rígidas aos agressores, assegurando sua punição, com o reconhecimento de sua responsabilidade. Já no âmbito cível, expõe algumas medidas protetivas a serem efetivadas pelo Estado, como, por exemplo, a separação judicial e de corpos. 
E, por fim, os resultados alcançados no presente estudo sugerem que a responsabilidade civil do Estado frente à violência contra a mulher não apresenta respaldo por parte dos Entes Federativos, cuja função, dentre tantas, refere-se à garantia dos direitos fundamentais assegurados constitucionalmente aos cidadãos. Frise-se, também, a ausência de divulgação sobre o tema em meios de fácil acesso às mulheres, razão pela qual, demonstra-se evidente a escassez de buscas em âmbito judicial, seja em virtude de atitudes omissivas do Estado, ou então pela tardança no trâmite de ações penais referente aos casos de violência contra as mulheres.
4 A DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL ACERCA DA QUALIFICADORA DO FEMINICIDIO.
4.1 O CASO DO “MILTINHO DA VAN” 
Dia 15 de abril de 2015, Milton Severiano vieira, conhecido como “Miltinho da van”, foi condenado pelo Conselho de Sentença do Tribunal do Júri da Comarca de Nova Iguaçu, há 40 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão e 32 dias multas, pelo crime de homicídio duplamente qualificado, pela sua noiva, Cícera Alves de Sena, dançarina de funk conhecida como Amanda Bueno, Pelo crime de homicídio duplamente qualificado de feminicídio e asfixia, foi fixada a pena de 29 anos e dois meses de reclusão, a briga que resultou em uma tragédia segundo relato do próprio réu, se deu por ciúmes, onde "Ela me contou sobre a vida dela, que havia sido garota de programa, que tinha um ex-marido traficante, e aí meu mundo caiu. Eu não acreditei", relatou. No dia do crime, Milton contou que bebeu durante o almoço com a ex-mulher, Ariane, que teria ligado pra ele na noite anterior. Ao deixar a ex em casa, Milton foi avisado pela filha que Amanda estaria "quebrando sua casa toda". Ainda segundo a filha, Ariane teria avisado a Amanda que estava almoçando com Miltinho. "Se ela não tivesse avisado, nada disso teria acontecido", afirmou. As imagens de segurança mostram o momento que a dançarina, Amanda Bueno, 29 anos, foi agredida e baleada antes de morrer, o noivo confessou que o assassinato, que teria sido motivado por ciúmes. 
Em depoimento, segundo seu advogado Hugo Assumpção, ele disse que teve um “surto” e que estava arrependido. No vídeo eles aparecem saindo pela porta, eles caem no chão do jardim e ele começa a bater com a cabeça dela no chão, depois começa desferir vários socos no rosto da vítima, já sem reação. Em seguida ele levanta pega uma arma e dispara contra Amanda. Em novembro de 2015, a 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu decidiu que Milton Severiano Vieira iria a júri popular por matar a ex-mulher. Miltinho asfixiou e agrediu a ex-mulher, atirou em seu rosto e ainda tentou limpar a cena do crime. O delegado disse que o crime foi motivado após uma discussão entre o casal. Amanda teria descoberto uma relação extraconjugal do companheiro. Ainda de acordo com Fábio Salvadoretti, Milton tinha duas passagens pela polícia por crime de violência doméstica. Ele revelou que duas ex-mulheres do acusado estiveram na DHBF e traçaram o perfil de comportamento do empresário de vans como um homem agressivo, principalmente quando fazia uso de bebida alcoólica. A polícia acredita que ele estivesse sob efeito de álcool no momento crime. O que resultou nessa tragédia.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossa sociedade tem um pensamento atrasado no que diz respeito à igualdade de gênero. Os gráficos comprovam um aumento significativo nas denúncias contra violência doméstica, ainda que se trate de um crime hediondo previsto no código penal art. 121, § 2º, IV, focaremos também na negligência do Estado que também contribui para baixa eficácia da lei Maria da penha no país. O objetivo e demonstrar a gravidade do feminicídio perante a sociedade fazê-los refletir e entender por que o Estado também e parte fundamental ao combate à violência doméstica e consequentemente ao feminicídio.
Embora muito presente na sociedade, o machismo e uma realidade de difícil percepção, até mesmo nas falas femininas há comportamentos que ao serem analisados, notamos presente um teor machista. Diante disso, ainda que indiretamente, podemos dizer que mesmo com toda evolução histórica que tivemos em relação ao gênero, o machismo ainda está intrínseco na sociedade brasileira e logo no sistema judiciário. Onde encontramos discursos machistas, maquiados, pelas autoridades de falas coloquiais. Os operadores do sistema de justiça criminal precisam olhar para a morte de mulheres e saberem quando registrá-las como feminicídio, em um processo que não é apenas técnico, mas também cultural, já que a morte de mulheres é de certa forma, naturalizada e as violências contra a mulher no cotidiano são aceitas e reproduzidas.
O governo brasileiro vem há mais de três décadas apostamos nesta política e os índices crescentes de criminalidade nos dão a certeza de que estamos fracassando. Isto seria, na verdade, uma tentativa de nossosgovernantes de se imiscuir do compromisso de implantações de políticas públicas sérias voltadas para a segurança pública, ao construírem novos tipos delituosos ou agravamento de penas. Ou seja, criando medidas repressivas punitivas ao invés de criarem medidas socioeducativas, através de políticas públicas mais satisfativas.
A lei do feminicídio complementa a Lei Maria da Penha no combate à violência contra mulher e pelo fato dela necessitar de complemento é considerado um ponto negativo, pois isso mostra que ela não está sendo suficientemente eficaz e necessita de complementação de outros instrumentos jurídicos. Por si só a Lei não está sendo suficiente para combater ou ao menos diminuir esses crimes, precisando de complemento para fortalecer a proteção e a punibilidade de quem pratica esse tipo de violência. 
Quando se trata de questão doutrinaria existem controvérsias entre os doutrinadores brasileiros, referentes à sua natureza qualificadora. Fala-se na existência de três correntes: a primeira corrente vale-se da afirmação de que esta qualificadora seria exclusivamente objetiva, pela condição de se referir à mulher ser vulnerável, a segunda corrente afirma que seria uma qualificadora objetiva no que tange o parágrafo 2º, I e subjetiva referente ao parágrafo 2º, II. Por fim, a terceira corrente afirma que esta qualificadora é exclusivamente subjetiva.
6 REFERÊNCIAS
http://jus.com.br/artigos/71903/feminicidio-e-a-omissao-do-estado
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151209_obstaculos_violencia_mulher_rm
http://www.huffpostbrasil.com/2017/10/01/3-perguntas-para-entender-a-dificuldade-da-justica-ao-julgar-crimes-de-genero_a_23217943/
http://jus.com.br/artigos/84986/feminicidio-no-brasil-a-qualificadora-como-instrumento-de-combate-a-violencia-de-genero
http://www.conjur.com.br/2019-ago-16/opiniao-punicao-nao-basta-combater-violencia-mulher
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2019/02/26/interna_diversao_arte,739837/livros-tratam-de-violencia-contra-a-mulher-e-feminismo.shtml 
http://guilhermenucci.com.br/notas-sobre-feminicidio/
DataSenado-Pesquisa-Violencia_Domestica_contra_a_Mulher_2013.pdf 
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). MAPA DA VIOLÊNCIA, 2015- Homicídios de mulheres no Brasil. Distrito federal. 2015. 
BITENCORT, Cezar Roberto. Código penal comentado, 9. Ed., São Paulo: Saraiva, 2015. 
ARDAILLON, Danielle. Quando A Vítima É Mulher: Análise De Julgamentos De Crimes De Estupro, Espancamento E Homicídio/ Danielle Ardaillon, Guitagrin Debert. Brasília: Conselho Nacional Dos Direitos Da Mulher, 1987.
BIANCHINI, Alice; Gomes, Luiz Flavio. Feminicídio: Entenda As Questões Controvertidas Da Lei 13.104/2015. Revista Síntese De DireitoPenal E Processual Penal, V. 16, N. 91, P. 9-30, 2015.
CELMER, E. G. Dominação Masculina: A Violência Simbólica Nossa De Cada Dia. In: ROCHELLE FELLINI FACHINETTO, FERNANDO SEFFNER E RENAN BULSING DOS SANTOS. (Org.). Educação Em Direitos Humanos. 25 ed. Porto Alegre: Editora Da Ufrgs, 2018, V., P. 123-138. Data Popular/Instituto Patrícia Galvão Mídia E Direitos (2013). 
 
Percepção Da Sociedade Sobre Violência E Assassinatos De Mulheres, Disponívelemhttp://www.Compromissoeatitude.Org.Br/Wpcontent/Uploads/2013/08/Livro_Pesquisa_Violencia.Pdf
JESUS, Damásio E. De, Direito Penal, Vol. 2, 22. Ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
KRONBAUER, José Fernando Dresch; MENEGHEL, Stela Nazareth. Perfil da violência de gênero perpetrada por companheiro. Saúde Pública, São Paulo, v. 39, n. 5, Out. 2005, p. 695-701.
ALVES, Isabela. OBSERVATORIO DO TERCEIRO SETOR. 189 mulheres foram vítimas de feminicídio durante a quarentena no Brasil. 04 de agosto de 2020. Disponível em: http://obsevatorio3setor.org.br/noticias/189-mulheres-foram-vitimas-de-feminicídio-durante-quarentena-no-brasil/. Acesso: 15 de dezembro de 2020. 
Lei do Feminicídio. Lei Nº 13.104, de 9 de março de 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm#art1>. Acesso em 07 set. 2016.
Lei Maria da Penha. Lei N.°11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2019/02/26/interna_diversao_arte,739837/livros-tratam-de-violencia-contra-a-mulher-e-feminismo.shtml 
Um soco na alma De Beatriz Schwab e Wilza Meireles. 62 páginas.
http://guilhermenucci.com.br/notas-sobre-feminicidio/