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CICLO MENSTRUAL Define-se ciclo menstrual normal como aquele com 28 ± 7 dias, fluxo durando 4 ± 2 dias, e perda média de 20 a 60mL de sangue. Por convenção, o primeiro dia de sangramento vaginal é considerado o primeiro dia do ciclo menstrual. Os intervalos entre ciclos menstruais variam entre as mulheres e, com frequência, em uma mesma mulher em épocas diferentes de sua vida reprodutiva. Em um estudo envolvendo mais de 2.700 mulheres, os intervalos entre os ciclos menstruais foram mais irregulares nos dois primeiros anos após a menarca e nos três anos antes da menopausa. Especificamente, é comum haver tendência a intervalos mais curtos durante a fase inicial de transição até a menopausa, mas tal tendência é seguida por prolongamento no intervalo na fase final de transição. O ciclo menstrual varia menos entre 20 e 40 anos de idade. Quando observado sob a perspectiva da função ovariana, o ciclo menstrual pode ser definido em fase folicular pré-ovulatória e fase lútea pós-ovulatória. As fases correspondentes no endométrio denominam-se fase proliferativa e fase secretora. Para a maioria das mulheres, a fase lútea do ciclo menstrual é estável, durando entre 13 e 14 dias. Consequentemente, variações no período do ciclo normal geralmente resultam de variações na duração da fase folicular. OVÁRIO Morfologia ovariana O ovário humano adulto é oval, com 2 a 5 cm de comprimento, 1,5 a 3 cm de largura e 0,5 a 1,5 cm de espessura. Durante os anos reprodutivos, cada ovário pesa entre 5 e 10 g. O ovário é formado por três partes: região cortical externa, que contém o epitélio germinal e os folículos; região medular, formada por tecido conectivo, células contráteis tipo mioide e células inters- ticiais; e um hilo, que contém vasos sanguíneos, vasos linfáti- cos e nervos que entram no ovário. Os ovários têm duas funções inter-relacionadas: geração de oócitos maduros e produção de hormônios esteróides e peptídeos que criam um ambiente no qual é possível haver fertilização e subsequente implantação no endométrio. As funções endócrinas do ovário estão intimamente correlacionadas com o surgimento e o desaparecimento morfológico dos folículos e do corpo lúteo. Embriologia do ovário O ovário se desenvolve a partir de três fontes celulares prin- cipais: (1) células germinativas primordiais, que surgem da endoderme da vesícula umbilical e se diferenciam no oogô- nio primário; (2) células epiteliais celômicas, que se desenvol- vem em células da granulosa e (3) células mesenquimatosas da ponte gonadal, que se transformam no estroma ovariano. As células germinativas primordiais são identificadas na vesícula umbilical logo na terceira semana de gestação. Essas células iniciam sua migração para a ponte gonadal durante a sexta semana de gestação e geram os cordões sexuais primários. Não é possível distinguir o ovário dos testículos por critérios histológicos até aproximadamente 10 a 11 semanas da vida fetal. Após atingirem a gônada, as células primordiais continuam a se multiplicar por meio de sucessivas divisões mitóticas. Iniciando na 12 semana de gestação, um subgrupo de oogônios entra em meiose para se transformar em oócitos primários. Os oócitos primários são circundados por uma única camada de células da granulosa achatadas, criando um folículo primordial. Perda de oócitos com a idade Todos os oogônios se desenvolvem em oócitos primários ou sofrem atresia. Com base nos conhecimentos atuais sobre a função ovariana, a geração pós-natal de oócitos é impossível, o que é muito diferente da situação observada no sexo mascu- lino, em que espermatozoides são produzidos continuamente durante toda a vida adulta. Em trabalhos recentes sugeriu-se que células-tronco ovarianas seriam capazes de gerar oócitos maduros, mas esse campo de pesquisa é altamente controverso. O número máximo de oogônios é atingido na 20 semana de gestação, ocasião em que de 6 a 7 milhões de oogônios estão presentes no ovário. Aproximadamente 1 ou 2 milhões de oogônios estão presentes no momento do nascimento. Menos de 400 mil estarão presentes no início da puberdade, dos quais menos de 500 destinados a ovular. Portanto, a maioria das células germinativas se perde por atresia. Atualmente há fortes evidências de que a atresia folicular não é um processo passivo e necrótico, mas um processo ativo com controle hormonal preciso, denominado apoptose. A apoptose inicia-se na vida intrauterina e persiste ao longo de todo o período reprodutivo. Divisão meiótica durante a maturação de oócitos Conforme mencionado anteriormente, os oogônios primários entram em meiose na vida intrauterina para se transformarem em oócitos primários. O desenvolvimento desses oócitos é inibido na prófase I, durante a divisão meiótica. A divisão meiótica prossegue na ovulação, em resposta ao pico de LH. Uma vez mais, ocorre inibição do processo, desta feita na me- táfase meiótica. Acredita-se que essa inibição da meiose antes da ovulação resulte da produção de um inibidor de maturação de oócitos (OMI, de oocyte maturation inhibitor) pelas células da granulosa. A meiose somente se completa se houver fertilização. A conclusão da primeira divisão meiótica dentro do oócito resulta na produção de um corpo polar que contém material cromossômico e uma quantidade mínima de citoplasma. Com a conclusão da meiose, após a fertilização, ocorre a extrusão de um segundo corpo polar. O núcleo materno, denominado pró-núcleo, funde-se com o pró-núcleo paterno para gerar um pré-embrião com cariótipo 46,XX ou 46,XY. Células do estroma O estroma ovariano contém células intersticiais, células de tecido conectivo e células contráteis. Dessas, as células de tecido conectivo proporcionam apoio estrutural para o ovário. As células intersticiais que circundam folículos em desenvolvimento diferenciam-se em células tecais. Sob estimulação das gonadotrofinas, essas células aumentam de tamanho e armazenam lipídeos, o que é característico de células produtoras de esteroides. Outro grupo de células intersticiais encontra-se no hilo ovariano, sendo, portanto, conhecidas como células hilares. Essas células se assemelham às células testiculares de Leydig, sendo que hiperplasia ou alterações neoplásicas nas células hilares podem resultar em virilização em razão de secreção excessiva de testosterona. A função normal dessas células é desconhecida, embora sua íntima associação com vasos sanguíneos e neurônios sugira que possam transportar sinais sistêmicos para o restante do ovário. PRODUÇÃO DE HORMÔNIOS PELOS OVÁRIOS Esteroidogênese ovariana O ovário em funcionamento normal sintetiza e secreta hor- mônios esteroides sexuais – estrogênios, androgênios e pro- gesterona – com padrão de controle preciso que, em parte, é determinado pelas gonadotrofinas hipofisárias, FSH e LH. Os produtos secretórios mais importantes da biossíntese de esteroides pelos ovários são a progesterona e o estradiol. Entretanto, o ovário também secreta estrona, androstenediona e 17a−hidroxiprogesterona. Os hormônios esteróides sexuais desempenham papel importante no ciclo menstrual preparando o útero para implantação do óvulo fertilizado. Se a implantação não ocorrer, a esteroidogênese ovariana declina, o endo- métrio degenera e ocorre a menstruação. Teoria das duas células da esteroidogênese ovariana A biossíntese do estrogênio exige a ação combinada de duas gonado- trofinas (LH e FSH) sobre dois tipos de células (célula da teca e célula da granulosa). Originalmente proposto por Falck em 1959, esse conceito é conhecido como teoria das duas células na esteroidogênese ovariana. Até o estágio antral final do desenvolvimento folicular, a expressão do receptor de LH limita-se ao compartimento tecal, e a expressão do receptor de FSH limita-se às células da granulosa. As células da teca expressam todas as enzimas necessárias à produção de androstenediona. Isso inclui níveis elevados de expressão do gene CYP17, cujo produto enzimático catalisa a 17-hidroxilação – etapa limitante para a taxa na conversão de progesterona em androgênio. Essa enzima está ausentenas células da granulosa, o que as torna incapazes de produzir o precursor necessário para a produção de estrogênio. Portanto, as células da teca são a fonte primária de precursores estrogênicos das células da granulosa. Em resposta à estimulação do LH, as células tecais sintetizam androgênios, androstenediona e testosterona. Esses androgênios são secretados no líquido extracelular e se difundem pela membrana basal até as células da granulosa fornecendo os precursores para a produção de estrogênio. Ao contrário das células tecais, as células da granulosa expressam níveis elevados de atividade aromatase em resposta à estimulação do FSH. Portanto, essas células convertem, com eficiência, androgênios em estrogênios, principalmente em estradiol, que é um estrogênio potente. Em resumo, a esteroidogênese ovariana depende da ação de LH e FSH atuando de forma independente, respec- tivamente, sobre as células tecais e da granulosa CONTRACEPÇÃO Para as mulheres em idade reprodutiva, as necessidades contraceptivas ou a gravidez programada devem ser discutidas anualmente. O aconselhamento contraceptivo deve incluir a instrução sobre os métodos, seu uso, eficácia, efeitos colaterais, benefícios não contraceptivos e contraindicações. Os métodos atualmente estão agrupados de acordo com sua efetividade e não mais em função do tipo de contracepção. Os considerados de primeira linha são aqueles mais efetivos e caracterizados pela facilidade de uso. Esses métodos requerem mínima motivação da usuária ou intervenção e apresentam índice de gravidez não desejada inferior a 2 em 100 durante o primeiro ano de uso. Como esperado, esses métodos de primeira linha proporcionam a maior duração de efeito contraceptivo e requerem o menor número de consultas de retorno. Entre os métodos de primeira linha estão dispositivos intrauterinos, implantes contraceptivos e diversos métodos de esterilização feminina e masculina. A redução do número de gravidezes indesejadas é mais facilmente obtida aumentando-se o uso desses métodos de primeira linha. Os métodos de segunda linha incluem contraceptivos hormonais sistêmicos disponíveis em comprimidos orais, injeção intramuscular, adesivos transdérmicos ou anéis transvaginais. Somados, a taxa de fracasso esperado varia entre 3 e 9% durante o primeiro ano. Esta taxa alta provavelmente é reflexo de uso inadequado sem nova dosagem no intervalo apropriado. Os sistemas automatizados de lembrete para esses métodos de segunda linha têm se mostrado ineficazes. Os métodos de terceira linha incluem métodos de barreira para homens e mulheres, assim como métodos de consciência corporal, como as tabelas com base no ciclo menstrual. A taxa de fracasso esperada varia entre 10 e 20% no primeiro ano de uso. Contudo, a eficácia aumenta com o uso consistente e correto. Entre os métodos de quarta linha estão as formulações espermicidas, com taxa de insucesso entre 21 e 30% no primeiro ano de uso. O coito interrompido é tão imprevisível que alguns autores concluíram que não faz parte dos métodos contraceptivos. Lactação Aproximadamente 20% das mulheres que amamentam ovulam em torno do terceiro mês de pós-parto. A ovulação frequentemente precede a menstruação e essas mulheres correm risco de gravidez não planejada. Para as mulheres que amamentam de forma intermitente deve-se iniciar contracepção efetiva como se não estivessem amamentando. Além disso, a contracepção é essencial após a primeira menstruação, a não ser que se esteja planejando nova gravidez. Dos métodos disponíveis, o dispositivo intrauterino de cobre em lactantes está na categoria 1 ou 2, ou seja, as vantagens consistentemente superam os riscos. Considerando que os contraceptivos orais contendo apenas progestogênio têm pouco efeito sobre a lactação, eles são preferidos por alguns para serem usados por até seis meses nas mulheres que estejam praticando aleitamento materno exclusivo. A contracepção apenas com progestogênio pode ser iniciada com seis semanas de pós-parto para aquelas que estejam praticando aleitamento materno exclusivo, ou com três semanas, caso o aleitamento não seja exclusivo. A contracepção com combinação de hormônios pode ser iniciada seis semanas após o nascimento, caso o aleitamento esteja bem estabelecido e o estado nutricional do lactente esteja sendo acompanhado. Também pode ser iniciada com quatro semanas de parto se a aderência ao acompanhamento previsto para o pós-parto for uma preocupação e se não houver risco de tromboembolismo venoso (TEV). As preocupações acerca do uso de contraceptivos orais durante aleitamento estão baseadas em possibilidades teóricas e biologicamente plausíveis – mas não comprovadas – de que os progestogênios sistêmicos interfeririam com a produção de leite. É importante ressaltar que os contraceptivos hormonais não parecem afetar a qualidade do leite materno. Quantidades mínimas dos hormônios são excretadas no leite materno, mas não há relatos de efeitos adversos nos lactentes. Adolescência e perimenopausa No caso das adolescentes, o aconselhamento sobre métodos contraceptivos deve idealmente ser realizado antes do início da atividade sexual. Na perimenopausa, a ovulação se torna irregular e a fertilidade oscila. Entretanto, é possível haver gravidez. É importante ressaltar que a gravidez em idade materna avançada implica riscos aumentados de morbidade e mortalidade relacionados com a gestação. As mulheres nesse grupo também podem apresentar problemas clínicos coexistentes capazes de contraindicar alguns métodos. Finalmente, os sintomas da perimenopausa podem estar presentes nesse grupo e talvez sejam aliviados com os métodos hormonais. Ciclo menstrual: 21 a 35 dias. - Fase folicular: em torno de 14 dias Começa no primeiro dia do ciclo, primeiro dia de sangramento menstrual. No início dessa fase, a concentração de estrogênio e progesterona é baixa, o que leva à produção do FSH, que age estimulando o desenvolvimento de folículos nos ovários. Posteriormente, os folículos começam a aumentar a produção de estrogênio. - Fase ovulatória: 16 a 32 horas Aumento súbito do hormônio luteinizante (LH). Estimula o rompimento do folículo ovariano para que o óvulo seja liberado. A fase ovulatória termina após o óvulo ser liberado. - Fase lútea (após liberação do óvulo): até 14 dias O folículo rompido forma o corpo lúteo que, além de estrogênio, produz maior quantidade de progesterona. Quando não há gestação o corpo lúteo regride, interrompe a produção de hormônios e é absorvido. Os níveis de estrogênio e progesterona diminuem e o endométrio, que não consegue mais se manter, se descama, dando início à menstruação. Anticoncepção: Primeira linha: dispositivos intrauterinos, implantes contraceptivos e diversos métodos de esterilização feminina e masculina. Segunda linha: contraceptivos hormonais sistêmicos disponíveis em comprimidos orais, injeção intramuscular, adesivos transdérmicos ou anéis transvaginais. Terceira linha: métodos de barreira para homens e mulheres, assim como métodos de consciência corporal, como as tabelas com base no ciclo menstrual. Quarta linha: espermicidas.
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