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Fund Metod e Prat de Alfabetização_Revisão

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Prévia do material em texto

Fundamentos Metodológicos 
e Prática de Alfabetização
HARLEY GOMES DE SOUSA
Sobral/2016
Fundamentos 
Metodológicos e Prática 
de Alfabetização
Harley Gomes de Sousa
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 5
INTA - Instituto Superior de Teologia Aplicada
PRODIPE - Pró-Diretoria de Inovação 
Pedagógica
Diretor-Presidente das Faculdades INTA 
Dr. Oscar Rodrigues Júnior 
Pró-Diretor de Inovação Pedagógica 
Prof. PHD João José Saraiva da Fonseca 
Coordenadora Pedagógica e de Avaliação 
Profª. Sonia Henrique Pereira da Fonseca 
Professores Conteudistas
Harley Gomes de Sousa
Assessoria Pedagógica 
Sonia Henrique Pereira da Fonseca 
Transposição Didática
Adriana Pinto Martins
Cileya de Fátima Neves Moreira
Evaneide Dourado Martins 
Design Instrucional
Sonia Henrique Pereira da Fonseca
Revisora de Português 
Neudiane Moreira Félix
Revisora Crítica/Analista de Qualidade 
Anaisa Alves de Moura
Diagramadores
Fábio de Sousa Fernandes
Fernando Estevam Leal
Diagramador Web 
Luiz Henrique Barbosa Lima
Produção Audiovisual
Francisco Sidney Souza de Almeida (Editor)
Operador de Câmera 
José Antônio Castro Braga
Pesquisadora Infográfica
Anacléa de Araújo Bernardo 
Sumário
1
2
Palavra do Professor-autor ................................................................................... 09
Sobre os autores ..................................................................................................... 11
Ambientação ........................................................................................................... 13
Trocando ideias com os autores ........................................................................... 15
Problematizando ... ................................................................................................ 19
LER E ESCREVER: A HISTORICIDADE DA LÍNGUA
Viajando pelas cartilhas do ABC: e aprendia? .........................................................................22
Alfabetização, alfabetizado, analfabeto, alfabeto .................................................................26
Alfabetização e a construção de homens de consciência ................................................32
Alfabetização na pré-escola...........................................................................................................35 
Alfabetismo e Letramento: a gênese e caminhos no Brasil...............................................36
Letramento ou Alfabetismo? A cultura escrita da alfabetização .....................................42
A PEDAGOGIA DA LEITURA E DA ESCRITA NO 
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
As diferentes maneiras de pensar a leitura e a escrita ........................................................52
A geração Y e o conhecimento tecnológico da língua escrita .........................................54
Os domínios da linguagem e os contextos sociais de letramento .................................56
Práticas Pedagógicas de Alfabetização e Letramento .........................................................60
Ler para aprender a escrever .........................................................................................................62
Que escrita cabe à escola ensinar? .............................................................................................64 
Gêneros literais: lendo o mundo de formas diferentes. .....................................................67
Leitura Obrigatória...........................................................................................71
Revisando............................................................................................................73
Autoavaliação....................................................................................................77 
Bibliografia.........................................................................................................81
Bibliografia Web...............................................................................................82
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 9
Palavra do Professor
Prezado Estudante,
O material didático sempre foi considerado um valioso instrumento de trans-
missão de conhecimento. Mas hoje, com a facilidade de acesso à informação pelos 
meios midiáticos, ampliando à comunicação e criando um conceito novo sobre a 
arte de escrever através do suporte tecnológico, é possível dar aos materiais didá-
ticos maior qualidade, eficácia e estética para atender o leitor do mundo virtual. É 
para você, estudante do curso em EAD, que oferecemos este livro, com intuito de 
dialogar sobre Fundamentos Metodológicos e Práticas da Alfabetização. 
Os conteúdos de aprendizagem propõem que você seja o construtor do seu 
conhecimento. Para atender este objetivo, organizamos o livro em diversas etapas 
de aprendizagem, cuja condução será feita através dos ícones que criamos para se-
rem as setas que guiarão você no processo de aquisição do conhecimento.
Ressalta-se que as leituras não se tratam de modelos, regras ou formas de 
como ensinar a ler e escrever, ou de como executar o letramento. Espera-se que 
todos sejam capazes de realizar uma metacognição e contribuir com a alfabetização 
e letramentos de muitas crianças. 
O autor!
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 11
Sobre o Autor
Harley Gomes de Sousa, mestre em Políticas Públicas e Socieda-
de pela Universidade Estadual do Ceará – UECE. Pedagogo, Psicopeda-
gogo, Sócio e Conselheiro da Associação Brasileira de Psicopedagogia 
– Seção Ceará, registro 847. Tem experiência na área da educação, onde 
atua como Psicopedagogo Institucional, Professor de Ensino Superior 
e Palestrante, ministrando cursos, oficinas e workshops. Ex-Bolsista de 
Iniciação Científica da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento 
Cientifico e Tecnológico-FUNCAP.
aAMBIENTAÇÃO À DISCIPLINAEste ícone indica que você deverá ler o texto para ter uma visão panorâmica sobre o conteúdo da disciplina.
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 13
Seja bem-vindo estudante!
Vamos iniciar a disciplina, Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização, 
você terá a oportunidade de compreender melhor os caminhos que irão percorrer para sua 
atuação pedagógica. Neste material se dá o processo de aquisição da leitura e da escrita, as 
práticas sociais dessas áreas do conhecimento, considerando aspectos psicológicos, socio-
lógicos, históricos e linguísticos. 
Entende-se por alfabetização, segundo Soares (2011) o processo pelo qual o sujeito 
aprende o código escrito, ou seja, a habilidade de ler e escrever. Etimologicamente, estar 
alfabetizado significa codificar e decodificar o alfabeto. Enquanto o conceito de letramento 
vai além de apenas ler e escrever, diz mais respeito aos contextos de uso da tecnologia da 
língua oral e escrita e, a seu domínio. 
A disciplina Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização, tratam de refle-
xões acerca das práticas de leitura e escrita na atual sociedade brasileira, que apesar de uma 
cultura grafocêntrica, ainda convive com o analfabetismo e suas variáveis, como o analfabe-
tismo funcional. No material, encontrará reflexões analíticas sobre as linguagens, seus usos 
e os conhecimentos construídos na sociedade. Sobre os significados e os significantes da 
língua na vida das pessoas. 
Caro estudante, você terá a oportunidade de ler o livro Fun-
damentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização. As 
autoras explicitam as etapas pelas quais as crianças passam 
pensando sobre a língua escrita, até chegar a nível mais ele-
vado para que uma criança se considere alfabetizada, o nível 
alfabético. 
tiTROCANDO IDEIAS COM OS AUTORES A intenção é que seja feita a leitura das obras indicadas pelos(as) professores(as) autores(as), numa tentativa de dialogar com os teóricos sobre o assunto. 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 15
Trocando ideias com os autores
Agora é o momento em que você vai trocar ideias comos autores das 
obras indicadas.
Caro estudante, sugerimos que leia a obra 
Alfabetização e Letramento de Magda Soares. O 
analfabetismo no Brasil permanece na atualidade. 
Magda Soares especialista brasileira em alfabetização 
nos propõe algumas possibilidades de respostas 
para algumas perguntas pertinentes em relação 
as verdadeiras causas do fracasso do processo 
de alfabetização no Brasil. Ainda explana porque 
as estatísticas de baixo desempenho escolar nos 
primeiros ciclos revelam ainda índices preocupantes. 
A quem cabe essa responsabilidade?
SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. 6. ed. São Paulo: Editora 
Contexto, 2011.
Propormos também o livro Reflexões sobre 
alfabetização de Emília Ferreiro, onde a autora faz uma 
reflexão sobre a alfabetização para auxiliar os docentes na 
sua prática escolar. Ela aborda a representação da Linguagem 
e o processo de alfabetização enfatizando os dois lados 
do processo de ensino e aprendizagem: do educador e do 
estudante. Em suas palavras, a autora diz que é preciso de 
inovação pedagógica para dar oportunidades de interação 
com a linguagem e a escrita.
FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. 25. ed. São Paulo: Cortez, 
2010. 102 p. Questões da nossa época, 6. 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização16
GUIA DE ESTUDO
Após a leitura das obras, escolha uma e realize a resenha crítica e disponibilize na 
sala virtual.
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 17
PLPROBLEMATIZANDOÉ apresentada uma situação problema onde será feito um texto expondo uma solução para o problema abordado, articulando a teoria e a prática profissional.
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 19
A escola desde a sua gênese, trata a alfabetização como um processo de aquisição 
do alfabeto com um único objetivo: apropriar o sujeito do código escrito para ler, escrever, 
contar, conhecer os processos sociais, históricos, artísticos e científicos de geração em ge-
ração. Foi assim até 1980. 
A partir dessa década surgiu no Brasil o termo letramento como uma versão por-
tuguesa da palavra literacy da língua inglesa, que quer dizer, o sujeito que lê e escreve e 
envolve-se em práticas sociais de leitura e de escrita, segundo Soares (2010). A palavra jun-
ta-se ao termo alfabetização para significar um pleno desenvolvimento da pessoa que lê e 
escreve, especialmente fazer uso dessas habilidades em práticas sociais diárias. 
E você caro estudante, o que percebe na relação entre a alfabetização e letramento? 
Quais são as contribuições que o letramento traz para o processo da aquisição da leitura e 
da escrita? Que práticas de letramento a escola pode desenvolver para favorecer a alfabe-
tização?
GUIA DE ESTUDO
Após a leitura, faça uma reflexão sobre os questionamentos acima e desenvolva um 
texto transpondo suas ideias e disponibilize na sala virtual.
ApAPRENDENDO A PENSARO estudante deverá analisar o tema da disciplina em estudo a partir das ideias organizadas pelos professores autores do material didático.
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 21
1
LER E ESCREVER: A HISTORICIDADE 
DA LÍNGUA
CONHECIMENTOS
Conhecer as concepções, os significados e os significantes da aquisição da leitura e 
da escrita (alfabetização) e de seus contextos reais de uso (letramento), analisando 
o processo de internalização da linguagem oral e escrita.
HABILIDADES
Identificar os marcos históricos do desenvolvimento do processo de ensino e 
aprendizagem da leitura e da escrita, reconhecendo a sua importância para esta 
área da educação na contemporaneidade.
ATITUDES
Refletir sobre práticas de alfabetização e letramento na atual conjuntura 
educacional, sensibilizando aos educadores para romper com os paradigmas de 
antigas práticas pedagógicas de leitura e escrita.
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização22
Viajando pelas cartilhas do ABC: e aprendia?
O processo histórico do ensino e da aprendizagem da leitura e da escrita tem 
como principio o aparelhamento do trabalho pedagógico sugerido por Comenius, 
que sistematizou a aquisição da leitura e da escrita através da cartilha, um método 
que perpassou gerações, principalmente nos longos anos da escola tradicional. 
Atualmente, devido as tecnologias da informação e da comunicação, fruto de um 
processo de expansão e globalização do capitalismo, as cartilhas foram extintas e 
substituídas por livros didáticos, cadernos de atividades e até livros eletrônicos. 
Mas conhecer um pouco da história desse instrumento de alfabetização é 
importante para contextualizar as práticas pedagógicas de ensino e aprendizagem 
da linguagem escrita. Em plena ascensão do capitalismo comercial ou mercantilismo 
entre o século XV e XVIII, o trabalho manufatureiro ditava a nova ordem social da 
burguesia europeia. Foi nesse período que era preconizado pelos reformadores 
protestantes a importância da aquisição da leitura para conhecer a Bíblia. Dessa 
forma, Comenius, enquanto pastor protestante e burguês, cria no século XVII os 
fundamentos da escola moderna, cuja prática pedagógica se baseava em alguns 
princípios do capitalismo. Sua ideia foi substituir as grandes obras científicas e 
reduzir o trabalho docente num compêndio (livro didático), por isso criou-se a 
cartilha para ensinar a ler.
Para Cagliari (1988), as cartilhas surgiram muito antes das salas de 
alfabetização nas escolas, pois elas serviam de apoio impresso para quem queria 
aprender a ler e escrever em casa. Somente após a Revolução Francesa, com o 
surgimento das escolas, as cartilhas foram se transformando e se adaptando as 
mudanças. Inicialmente, o alfabeto, as letras e as sílabas eram estruturados em 
tabelas, depois veio exemplos de palavras e desenhos como suporte de leitura. Com 
o tempo surgiram pequenos textos, e consigo exercícios estruturais de configuração 
das palavras. O autor critica que as cartilhas não dispunham de exercícios de produção 
Comenius: Um bispo protestante da Igreja Moraviana, educador, cientista e 
escritor checo. Como pedagogo, é considerado o fundador da didática moder-
na. Seu nome era Jan Amos Komenský (em latim, Iohannes Amos Comenius; em 
português, Comênio; (nasceu em Nivnice, 28 de março de 1592 e morreu em 
Amesterdão, 15 de novembro de 1670).
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 23
textual, pois era tão forte o foco na avaliação e na fixação de aprendizagem, que elas 
não priorizavam o que os estudantes precisavam de fato aprender, por exemplo, 
ler. Era mais fácil o estudante decorar do que descobrir a magia e o caminho para a 
leitura. E quando os estudantes surpreendiam a professora, a mesma não sabia agir, 
pois estava presa a método cartilhesco. 
Reforça o autor, que as cartilhas inicialmente foram criadas para colaborar 
com a leitura, no entanto, passou a ser um instrumento de ensino de escrita, onde 
a leitura ficou em segundo plano em decorrência das atividades de escrita como: 
ditados, cópias, exercícios de análise fonética e roteiros de compreensão textual. 
É óbvio que sua organização estava estruturada de tal forma que levasse o 
aprendiz a conhecer as palavras com apoio de gravuras, bem como, as sílabas e as 
letras do alfabeto. Além disso, a escola definida por Comenius era uma escola que 
usava o lema “ensinar a todos”, ou seja, ao mesmo tempo, com o mesmo método, 
desrespeitando a individualidade e as diferentes formas de aprender. 
Basicamente, o método cartilhesco de fazer com que as crianças aprendessem 
a ler, não cabe a nós o mérito de avaliação. No entanto, é preciso ressaltar que, as 
técnicas e os métodos de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita tiveram 
cada uma em seu tempo sua utilidade, finalidade e objetivo, como tem hoje os 
livros didáticos. A primeira cartilha que se tem notícia foi publicada em 1853 em 
Lisboa, Portugal, pela Imprensa Nacional, denominado “Método Castilho” criado por 
Antônio Feliciano de Castilho. Esse método de alfabetização era considerado rápido 
e aprazível(agradável) de leitura, onde a cartilha tanto era usada pelas escolas como 
pelas famílias. Passados dois anos, Antônio Feliciano veio ao Brasil para divulgar seu 
método de alfabetização. Vejamos abaixo algumas imagens.
CASTILHO-1853 CENA DE SALA DE AULA - 1853
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização24
Pressupomos que uma das últimas obras do ensino cartilhesco, foi a cartilha 
“Casinha Feliz” de 1987 das autoras Iracema e Eloisa Meirelles, cujo método adotado 
é a concepção fônica do ensino da leitura, de forma efetiva, lúdica e criativa de 
alfabetizar. Mas foi a Cartilha da Ana e do Zé, que alguns de nós, ou alguns de 
seus pais, na década de 1980, aprenderam a ler e a escrever (imaginemos que sua 
publicação se deu em 1985). Se o interessou parte dessa história do ensino das 
cartilhas, recomendamos a visualizar algumas imagens (em anexo). 
Quando discutimos os instrumentos de alfabetização, paralelamente 
debatemos os seus métodos. Segundo Ferreiro (2010), há uma tradição polêmica 
sobre qual prática metodológica de alfabetização seria mais eficaz: analítico ou 
sintético, fonético ou global. 
Mas o que seria esses métodos: analítico ou sintético, fonético ou global?
Com o método sintético/fonético a criança aprenderá a fazer uma 
correspondência entre o som e a grafia, ou seja, entre o que se fala e o que se 
escreve (fonemas x grafemas), onde vai numa direção das partes para o todo: letra 
por letra, sílaba por sílaba e palavra por palavra, até chegar as frases e por fim ao 
texto. 
CARTILHA A CASA FELIZ
IRACEMA E ELOIA MEIRELES 
1987
CARTILHA DA ANA E DO ZÉ 
1985
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 25
Já com o método analítico ou global, popularmente conhecido como 
método “olhar-e-dizer”, a criança aprenderá a ler de maneira global ou audiovisual 
(vendo o todo), na qual vai numa direção do todo para as partes, a partir de unidades 
complexas (maiores) da linguagem, para depois decompor em unidades simples 
(menores): textos, palavras, frases sílabas e letras. 
O uso das cartilhas como ferramenta de alfabetização inclui-se no método 
sintético ou fonético. No entanto, seu método é particular, foi e é considerado um 
dos mais antigos sistemas de alfabetização, denominado de “método alfabético” 
ou “método de soletração”, onde as crianças decoravam as letras do alfabeto, suas 
combinações silábicas, e por fim as palavras, sentenças curtas (frases) e depois textos 
(historinhas). 
Seria, digamos um passo-a-passo (soletrar sílabas) até decodificar palavras, 
por exemplo, a palavras BOLA, b-o, bo, l-a, la = bola.
“A cartilha, mais do que qualquer outro tipo de livro didático, por ser uma 
obra simplificada e esquemática, pressupõe, por parte de 
quem a usa, um conhecimento profundo do conteúdo da 
obra e das técnicas de ensino e aprendizagem” (CAGLIARI, 
1998, p.24). Depois das cartilhas vieram os livrinhos que pouco 
contribuiu com o processo de aprendizagem das crianças. 
Este instrumento segundo o autor foi confeccionado para 
leitores com noções básicas de decifração da escrita, e aí 
está uma das grandes dificuldades dos estudantes.
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização26
Todo esse debate acerca dos métodos ou concepções ao longo dos anos, 
segundo Ferreiro (2010) não levou em conta as concepções das crianças sobre o 
sistema de escrita. É certo dizer segundo a autora que nenhuma prática pedagógica 
é neutra, umas vão levar a criança acreditar que o conhecimento está nos outros 
e deles vão receber algo; há outras em que o conhecimento já está estabelecido, 
fechado, imutável; e umas em que a criança será mero espectador do conhecimento, 
sem se quer questionar os seus porquês. Os métodos apresentados são formas 
como os estudiosos/autores conceberam o processo e o objeto da aprendizagem, 
se normais ou anormais, certas ou erradas, eles existiram, tiveram sua funcionalidade 
e, hoje servem de reflexões epistemológicas para novas construções. 
Alfabetização, alfabetizado, analfabeto, alfabeto
“A escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado 
do esforço coletivo da humanidade. [...] existe um processo de aquisição da 
linguagem escrita que precede e excede os limites escolares” (FERREIRO e TEBEROSKY, 
2010, p.44-45). Iniciamos esta sessão com a fala dessas 
renomadas estudiosas da psicolinguística, apenas para fazer 
referência que a alfabetização como um processo de aquisição 
(acesso) da leitura e da escrita, existe muito antes da criação 
das escolas. Significa dizer que o local de aprender não é 
privilégio apenas de um espaço instituído para tal fim (a 
escola), mas que em casa, na rua e em quaisquer outros 
espaços se aprende, como foi assim a concepção inicial 
quando as primeiras cartilhas foram criadas (se alfabetizava 
em casa) como instrumento de alfabetização. 
A alfabetização é a aquisição da linguagem oral ou escrita através do 
conhecimento e reconhecimento do código escrito, o alfabeto. Quando um sujeito 
em idade escolar consegue codificar (transferir a oralidade para a escrita – ato de 
escrever) e decodificar (ler o que está escrito), ele está alfabetizado. Para Soares 
(2011, p.16) “a alfabetização seria um processo de representação de fonemas em 
grafemas (escrever) e de grafemas em fonemas (ler) [...]”.
Sabendo disso, cabe destacar segundo a autora que a escrita não é uma 
mera reprodução da fala, mesmo que em alguns casos esta correspondência faça 
valer esta prerrogativa. Ler e escrever, para além da codificação e decodificação 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 27
também significam apreensão e compreensão de significados expressos na leitura 
e na escrita. 
Em seu sentido pleno, o processo de alfabetização deve levar à aprendizagem 
não de uma mera tradução do oral para o escrito, e deste para aquele, mas 
à aprendizagem de uma peculiar e muitas vezes idiossincrática relação 
fonemas-grafemas, de um outro código, que tem, em relação ao código oral, 
especificidade morfológica e sintática, autonomia de recursos de articulação do 
texto e estratégias próprias de expressão/compreensão (SOARES, 2011, p.17).
Desse modo, o processo de alfabetização em termos técnicos deve se 
dá quando um sujeito aprende o alfabeto e se torna autônomo e usa estratégias 
próprias de leitura, expressão e compreensão. Além disso, para compreender como 
o alfabeto funciona é preciso conviver com textos e analisar a composição das 
palavras, ou seja, fazer uma análise metalinguística, com um olhar criterioso para o 
som das palavras.
O debate acerca do conceito de alfabetização ultrapassa a técnica mecânica 
da língua escrita e a compreensão/expressão de significados, pois esses aspectos 
consideram a alfabetização como processo individual, como ressaltou a autora. 
Soares (2011) aponta um aspecto social do conceito, que depende também de 
predicados culturais, econômicos e tecnológicos. 
A alfabetização tem muito mais haver com um processo de pensar sobre 
a linguagem. “Mais que uma aprendizagem de habilidades, conceitos ou regras, o 
alfabetizando deve conquistar uma consciência metalinguística [...] e construir uma 
nova relação com a fala interior de modo a conciliar seus processos mentais às 
exigências da escrita [...] (COLELLO, 2004, p.24). Como o autor coloca, se passarmos 
a dar prioridade a escrita como elemento de expressão de ideias e a leitura como 
forma de compreensão do mundo, não há como recusar a necessidade de sintonia 
entre o pensamento e a linguagem, nem tampouco a mediação entre o falar e o 
escrever. 
Segundo ainda Colello (ibidem), “a capacidade de ler e escrever não depende 
exclusivamente da habilidade do sujeito em “somar pedaços de escrita”, mas, de 
compreender como funciona a estrutura da língua e o modo como é usada em 
nossa sociedade”. Compreendendo que a evolução no sentido de desenvolver-se 
bem a leitura e a escrita depende exclusivamente do sujeito, mas, quando se domina 
os caminhos da leitura e da escrita, o sujeito lêpara aprender, pois é lendo que se 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização28
aprende e é escrevendo que se evidencia o aprendizado. 
 Como já foi dito, a construção da escrita está absolutamente atrelada à 
linguagem oral, apesar de Ferreiro e Teberosky (1985, p.24) apontarem “[...] que 
nenhuma escrita constitui uma transcrição fonética da língua oral”. Para as autoras, 
o ato de escrever conecta-se a pensar sobre a escrita e não simples representação 
da fala. Essa afinidade escrita – fala é um recorte da teoria de Piaget, que as autoras 
empregaram para assegurar que o estudante aprende, sobremaneira agindo sobre 
as coisas do mundo, construindo suas categorias de pensamento e organizando seu 
próprio mundo.
Sabendo que Ferreiro (2010) reforça a ideia de que a escrita é um sistema de 
representação da linguagem e não uma transcrição gráfica das unidades sonoras, 
ela aponta que a escrita espontânea é o que há de mais belo e produtivo, porque se 
deve considerar mais os aspectos construtivos da escrita (o que se pensa quando se 
escreve) do que os aspectos gráficos (qualidade do traço, espaço, forma, orientação 
etc). 
Apontando que do ponto de vista construtivo a escrita infantil segue 
uma linha de evolução regular, Ferreiro (2010) distingue três grandes períodos 
do pensamento da criança ao refletir sobre a escrita. O primeiro seria o ato da 
criança em distinguir o que é desenho (representação icônica) e o que é escrita/
letras (representação não icônica); o segundo período (intrafigural), a criança busca 
diferenciar a quantidade mínima de letra por palavra (três) para ser lida, bem como a 
qualidade da escrita para ser interpretada (se as palavras têm as mesmas letras não 
é interpretável); o terceiro período, diz respeito à diferenciação interfigural, ou seja, 
o que a criança irá escrever na sequência precisa ser diferente do que aquilo que ela 
escreveu anteriormente. 
Quando Ferreiro e Teberosky (1985) realizaram o estudo da Psicogênese 
da Língua Escrita em Buenos Aires entre 1974-1976, concluíram que, quando as 
crianças estão no processo de aquisição da língua escrita, elas pensam e notam o 
código, suas características formais gráficas e suas interpretações, principalmente 
no que tange: a quantidade mínima e variedade de caracteres aceita pelo sujeito; a 
relação entre desenho e texto; o reconhecimento e nomeação das letras; a distinção 
entre letras e outros sinais gráficos e a orientação espacial da leitura e da escrita etc; 
e dessa pesquisa resultou na definição pelas autoras dos cinco níveis sucessivos e 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 29
hipotéticos da escrita: grafismo; pré-silábico; silábico; silábico-alfabético; alfabético. 
Abaixo, observemos as descrições e alguns exemplos:
Quadro 1 – NÍVEIS PSICOGENÉTICOS DA ESCRITA.
NÍVEIS CONCEITOS EXEMPLOS
1. GRAFISMO
Reprodução de modelo do que a 
criança identifica da forma básica.
2. PRÉ-SILÁBICA
Escrita se aproxima de letras; 
hipótese de quantidade mínima de 
letras e da variedade posicional.
 (permuta da ordem linear)
3. SILÁBICA
Hipótese da tentativa de sonorização 
das letras; cada letra vale uma 
sílaba. Escrita ora distante das 
letras, ora diferenciadas.
4.SILÁBICO-ALFABÉTICA
Hipótese de transição entre cada 
letra que vale uma sílaba e a 
sonorização das letras (conflito 
interno conceitual e a realidade 
exterior do sujeito).
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização30
Fonte: Figura 3-Hipósteses de Escrita (CARNEIRO, 2014, p.10).
Analisando o quadro acima percebemos que a capacidade de ler e escrever 
não depende exclusivamente da habilidade do sujeito em “somar pedaços de 
escrita”, mas, antes disso, de compreender como funciona a estrutura da língua e o 
modo como é usada em nossa sociedade (COLELLO, 2004, p.24). 
Neste sentido, “etimologicamente, o termo alfabetização quer dizer levar à 
aquisição do alfabeto, ensinar as habilidades de ler e escrever, processo de aquisição 
do código escrito, das habilidades de leitura e escrita” (SIMONETTI, 2007, p.17). E, 
observando o quadro 1, pode-se apregoar que um sujeito cognoscente (aquele 
que tem a capacidade de conhecer) para ser considerado alfabetizado, ele deve 
no mínimo se enquadrar no nível psicogenético 5, onde pensar sobre a escrita é 
refletir sobre sua própria escrita e analisar foneticamente cada articulação antes de 
escrever. Dessa mesma forma, não se pode apontar que um sujeito alfabetizado é 
aquele que sabe decodificar sílabas ou palavras isoladas, além daquele que não teria 
capacidade de redigir um texto adequado ortograficamente. 
A alfabetização tornou-se ao longo dos anos até sua atualidade, um processo 
de aquisição de ensino e aprendizagem do alfabeto, cuja técnica de ler, escrever, 
expressar e compreender a língua escrita e oral dará autonomia ao sujeito frente às 
práticas sociais de leitura e escrita. 
Longe de pensar que ler e escrever são apenas processos mecânicos, ou 
simplesmente técnicas, Colello (2004) traz uma importante discussão sobre a relação 
entre o que ela chamou de “educação do corpo inteiro” e o processo de aquisição da 
leitura e da escrita. O que ela denomina de “corpo inteiro” diz respeito à integração 
5. ALFABÉTICA
Hipótese de correspondência da 
escrita e valores sonoros (menor 
que a sílaba). Exige análise fonética 
antes de grafar.
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 31
imprescindível de três dimensões (psicomotora, cognitiva e socioafeitva) para a 
aprendizagem da linguagem oral e escrita. 
Uma criança em idade escolar que frequenta a escola traz consigo não só 
a fala, mas seu corpo, que é uma parte de sua linguagem, de sua comunicação. 
Referente à alfabetização, quando há uma educação do corpo, esse aspecto influencia 
positivamente na aprendizagem da leitura e da escrita, tanto em termos figurativos 
(escrita propriamente dita) como no significado e compreensão da ação de escrever, 
principalmente quando se registra a visão de mundo e o modo de ser das pessoas. 
Segundo Soares (2011), as discussões epistemológicas em torno do 
conceito de alfabetização não podem deixar de considerar algumas perspectivas 
que delimitam a natureza do processo da aquisição da leitura e da escrita, por ser 
um processo múltiplo, complexo, com diferentes facetas. Para ela, as perspectivas 
são: psicológicas, psicolinguísticas, sociolinguísticas e linguísticas. No quadro 2, 
discorremos informações sobre cada perspectivas. 
Quadro 2 – PERSPECTIVAS DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
PERSPECTIVAS ÊNFASE 
PSICOLÓGICAS
● Relação entre inteligência (QI) e alfabetização; 
● Relação entre aspectos fisiológicos, neurológicos 
e psicológicos da alfabetização; 
● Ideologia do dom (sucesso/fracasso na 
aprendizagem da leitura e escrita);
● Disfunções psiconeurológicas da leitura e da 
escrita. (afasia, dislexia, disgrafia, disortografia, 
disfunção cerebral mínima etc.)
PSICOLINGUÍSTICAS
● Abordagens cognitivas;
● Análise dos problemas linguísticos (maturidade 
linguística para aprender as relações entre 
linguagem e memória, a interação entre a 
informação visual e não visual no processo de 
leitura etc). 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização32
SOCIOLINGUÍSTICAS
● Usos sociais da língua;
● Problema dos diferentes dialetos (orais e 
escritos);
● Problema das diferentes funções de 
comunicação, usadas em diferentes situações 
sociais e com diferentes objetivos.
LINGUÍSTICAS
● Progressivo domínio de regularidades e 
irregularidades (relação entre sons e símbolos 
gráficos/fonemas-grafemas).
 Fonte: Elaboração Própria
Enfim, o processo de alfabetização é complexo e multifacetado, por isso, 
quando uma criança se encontra alfabetizada, ela não faz uso apenas de letras, sons 
e escritas, mas de muitos aspectos que compõem um conjunto de habilidades em 
linguagem. E uma das principais habilidades é a capacidade de ser sujeito de sua 
própria educação, de ser capaz de conscientizar-se da importância de sua autonomiapara sua formação cidadã. A seguir discutiremos a luz de Paulo Freire, a relação 
indissociável entre educação e transformação social.
Alfabetização e a construção de homens de consciência.
No inicio do século XX, por volta de 1932 no Brasil, os educadores Fernando de 
Azevedo, Anízio Teixeira, Lourenço Filho e outros intelectuais lideraram o movimento 
da Escola Nova, que consistia romper com uma escola de relações unilaterais, onde 
o ensino era baseado na transmissão do conhecimento e o professor era o centro 
do processo de ensino e aprendizagem. Na escola o estudante aprendia de forma 
tradicional e por muito tempo se alfabetizava com cartilhas do ABC. 
Escola Nova: Foi um movimento de mudança do ensino iniciado na Europa, 
América e Brasil por volta da metade do século XX. No Brasil, o Movimento Pioneiro da 
Escola Nova de 1932, teve seu desenvolvimento em decorrência das transformações 
econômicas, politicas e sociais pelas quais passavam o país, num contexto da crescente 
urbanização, ampliação da cultura do café, da industrialização e progresso econômico. 
Em virtude disso, surgiram contradições e desordens político-sociais e consigo uma 
mudança na visão intelectual brasileira. 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 33
A modernidade é palco de grandes mudanças e perspectivas. Surgem então, 
as teorias construtivistas e sociointeracionistas de Piaget, Vygotsky e Henri Wallon, 
que definiram em seus postulados como se dá o desenvolvimento cognitivo do 
sujeito, num constante movimento de interações e construções, entre o sujeito e o 
objeto do conhecimento dentro de um contexto histórico da busca pela autonomia 
e liberdade. Podemos citar Paulo Freire, um grande educador brasileiro, quando 
disse que a alfabetização é a forma de consciência política. 
Seu método de alfabetizar tornou-se mundialmente conhecido por ter uma 
carga ideológica e conscientização dialógica. Seu fundamento era a liberdade das 
massas de um estado ou condição de ingenuidade para um estágio de criticidade, 
cujo instrumento era o diálogo. Jamais reduziu a alfabetização ao “puro aprendizado 
mecânico da leitura e da escrita, mas como ato político, [...] ao projeto global de 
sociedade a ser concretizado [...]” (FREIRE, 1978, p. 14). 
O lugar da escola precisa ser um espaço que valoriza o processo de 
alfabetização como um ato de formar pessoas, conscientes de sua condição de seu 
poder de transformação. A escola precisa para além da leitura e da escrita, atuar como 
um agente de transformação, pois a alfabetização não é uma aprendizagem neutra, 
é um ato ideológico, político e social. Na realidade a escola age na alfabetização 
como se ela fosse um aprendizado neutro, sem relação com caráter político. O ato 
de ler e escrever para a escola não passa do ato instrumental para ter conhecimento, 
ou seja, a escola não reconhece na alfabetização um processo de construção de 
saberes e uma forma de conquista do poder político.
O processo de transformação social passa necessariamente pela escola. O 
vínculo entre educação e a mudança social tem sua gênese histórica na Revolução 
Francesa (1789-1799), início basicamente na era moderna, cujos ideais de liberdade 
e democracia deram também a escola um ar iluminista. “O homem deve ser sujeito 
de sua própria educação. Não objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém” 
(FREIRE, 1979, p.28). 
Para isso é necessário que a educação e o processo de alfabetização deem 
suporte ao homem para que ele mesmo se torne sujeito de sua própria história, como 
forma de participar ativamente da vida em sociedade. A sua consciência linguística 
mantém uma forte ligação com a consciência social, por isso “o domínio da língua 
tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização34
meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende 
pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento” 
(BRASIL, 1997, p.21).
“A educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não 
educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de educação, mas estes 
não são absolutos. O homem, por ser inacabado, incompleto, não sabe de maneira 
absoluta” (ibidem). Com isso, o professor exerce sobre o estudante uma influência 
motivadora para que o alfabetizando torne-se sujeito de sua alfabetização, que o 
permita passar por caminhos e meios que o leve a conhecer o conhecimento, isto é, 
o papel do professor não é apresentar o objeto ao alfabetizando pronto e acabado, 
mas proporcionar meios, o acesso, a motivação para curiosidade e o esforço da 
busca, pois só assim o ato de conhecer/aprender torna-se valoroso.
Soares (2011) traz uma relevante contribuição acerca da relação entre 
alfabetização e cidade, que inclusive escreveu em seu livro “Alfabetização e 
Letramento”, um capítulo para desmistificar o lado negativo e positivo dessa relação. 
O fato é que a alfabetização (o acesso a leitura e a escrita) não será condição única 
para o exercício da cidadania, uma vez que a conquista deste direito, requer uma 
série de outros como : políticos, econômicos, sociais, culturais etc. 
No entanto, em uma sociedade como a nossa: moderna, grafocêntrica 
(sociedade que é centrada na escrita), tecnológica, informativa e comunicativa, 
segundo a autora, enquanto uns tem posse total desses domínios linguísticos e sendo 
privilégios de determinadas classes sociais, assumindo com mais poder postos de 
trabalho, áreas sociais, recreativas e culturais, por vezes, a leitura e a escrita torna-se 
um instrumento de discriminação social. Por isso, que o acesso a todos a leitura e a 
escrita, indiscriminadamente, como ferramenta indispensável à vida política, social, 
profissional, econômica e cultural é condição necessária à cidadania, ultrapassando 
a mera técnica mecânica de ler e escrever. Educação, leitura e escrita é direito de 
todos, como arma de luta pela conquista da cidadania, e elemento imprescindível 
ao exercício da cidadania. 
A natureza da alfabetização supracitada anteriormente revela que sua 
complexidade e múltiplas concepções (perspectivas) têm origem e condicionantes 
diversos, bem como implicações na educação, como preconizou Soares (2011). 
A autora nos mostra que tais implicações vão desde os métodos, passando pelo 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 35
material didático, até chegar à formação do alfabetizador. Atualmente o sistema 
brasileiro de educação tem investido maciçamente na formação de professores, 
especialmente da educação infantil ao ensino fundamental menor, onde está 
localizada a alfabetização. 
Essas questões acerca de métodos, materiais didáticos e práticas pedagógicas 
serão tratadas na próxima unidade de estudo. Por hora, a alfabetização sinônimo de 
leitura e escrita, mas também de conscientização social, é um estado ou condição 
que está no mundo, não somente inserido num status de leitor ou escritor, mas 
de ser gente, agente transformador social. Para tanto, é preciso que o sujeito seja 
capaz de fazer uso de seu saber linguístico nas práticas sociais de leitura e escrita, 
fundindo numa relação entre alfabetização e letramento, assunto do nosso próximo 
tópico. 
Alfabetização na pré-escola
Em nossa literatura brasileira ou na nossa legislação não há nenhum 
indicativo, pelos menos a que temos acesso, que indica – criança na pré-escola é 
para aprender a ler e escrever aos cinco anos de idade. Ferreiro (2010) aborda esta 
discussão e busca desmistificar essa obrigatoriedade ou não. 
A autora aponta para o fato que as escolas quando diz que criança nessa 
idade não é pra ler e escrever ainda, ela incumbe-se de vasculhar e dar descaminho 
de tudo que está na sala de aula que acesse os pensamentos das crianças para 
a leitura e a escrita, é sumariamente escondido. Mas, há escolas que apoia esta 
campanha de que criança aos cinco anos de idade é para aprender a ler e escrever. 
Dessa forma, elamesma cuida para que o ambiente escolar e a sala de aula seja 
repleto de textos, cartazes, desenhos, números, etc. 
 Mesmo que esta decisão fique por conta da escola e da coordenação, as 
crianças só aprenderão quando lhes é ensinado. Contudo uma situação é certa – as 
crianças aprendem antes mesmo de chegar à escola. Assim, a autora conclui; “Com 
base nas investigações realizadas podemos afirmar que nenhuma criança urbana de 
seis ou sete anos de idade começa o primário com total ignorância da língua escrita” 
(FERREIRO, 2010, p. 97). 
 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização36
Portanto, a autora complementa, a sala da pré-escola deveria permitir a liberdade de 
experimentar os sinais escritos aos estudantes. E no lugar de estarmos preocupados 
com a questão se pode ou não crianças de cinco anos aprender a ler e a escrever na 
pré-escola, deveríamos dar a elas condições necessárias para aprender. 
Alfabetização e Letramento: a gênese e caminhos no 
Brasil
Há uma diferença conceitual no uso dos conectivos entre as duas palavras, 
nos dois usos. Ora eles parecem indicar alternativa e incompatibilidade, ou, 
complementaridade. Bem, Colello (2004) nos traz a fala de Ferreiro (2003) quando 
ela se refere ao termo Letramento, usado no Brasil, que a deixou surpresa, pois 
começou a usar o termo como substituto da alfabetização, virando sinônimo de 
decodificação, como sendo uma ação de contato com diferentes tipos de textos, 
para se chegar a uma compreensão do que se lê. Para a autora, isso seria um 
retrocesso na história da linguagem. Ela nega-se a aceitar que haja um momento 
para decodificação anterior a percepção da função social do texto. Por fim, aceitar 
tal argumentação é apoiar a velha razão da consciência fonológica. 
Abrimos esta sessão com a discussão, não desprezando o trabalho de 
Kato (1986) quando fez referência ao termo no seu livro - No mundo da escrita: 
uma perspectiva psicolinguística, mas, apenas para delinear que ela foi uma das 
primeiras a usar o termo no Brasil nesse período, e como disse: o uso do termo. 
Emília Ferreiro refere-se à utilização do vocábulo letramento se dirigindo a 
uso como retrocesso, uma vez que, como os textos até hoje trazem, alfabetização 
em inglês é literacy, e letramento em inglês é literacy. A funcionalidade de ambos 
os termos é a mesma: acesso a leitura e a escrita. Colello (2004) faz referência a 
Magna Soares, como uma das autoras da área que defende a complementaridade e 
o equilíbrio entre Alfabetização e Letramento. 
Quanto ao primeiro uso do termo “letramento” apresentamos que, a escola 
tem o papel de colocar a criança frente a frente com o mundo da escrita, fazendo com 
que o sujeito torna-se funcionalmente letrado, ou seja, capaz de usar a linguagem 
Alfabetização ou Letramento? Qual a melhor forma de usar o binômio 
no que se refere os atos de ler e escrever? 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 37
escrita para crescer e aprender individual e coletivamente. Podemos dizer que a 
norma culta da língua surge do letramento, pois é função da escola desenvolver 
no estudante a competência de dominar a linguagem falada, que é aceita pelas 
instituições. 
 
A autora apresenta o termo letramento como consequência da aprendizagem 
individual da leitura e da escrita para uso social, ou seja, o uso da norma culta da 
língua. A autora não explica o uso do termo e nem tampouco busca expor o conceito 
do termo. Ela, apenas se refere que é função da escola inserir o sujeito no mundo da 
escrita para que se torne letrado e consequentemente capaz de usar a linguagem 
para comunicação. 
 Segundo Silva (2011), dois anos depois, Leda V. Tfouni distingue alfabetização 
e letramento, dizendo que o primeiro se refere a um processo individual de aquisição 
de leitura e escrita (está alfabetizado), enquanto o segundo refere-se ao âmbito 
social da aquisição da escrita. No que diz respeito essa questão dual “a oposição 
feita entre a “alfabetização” e “letramento” será tanto mais rica quanto ela puder 
subsidiar o abandono de certas práticas pedagógicas que, durante anos, têm abafado 
a criatividade e a comunicação infantil” (COLELLO, 2004, p.122). 
 
Para concluir incialmente essa garimpagem pelo o uso do termo letramento, 
Silva (2011) nos apresenta o conceito de Kleiman (1995)
Podemos definir hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais 
que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em 
contextos específicos, para objetivos específicos [...]. As práticas específicas 
da escola, que forneciam o parâmetro de prática social segundo a qual o 
letramento era definido, e segundo a qual os sujeitos eram classificados 
ao longo da dicotomia alfabetizado ou não alfabetizado, passam a ser, em 
função dessa definição, apenas um tipo de prática – de fato, dominante – que 
desenvolve alguns tipos de habilidades, mas não outros, e que determina 
uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita. (KLEIMAN, 1995, p. 
19, apud SILVA, 2011, p.23-24)
De posse do conhecimento da leitura e da escrita, um sujeito pode-se 
considerar apto ou competente para se comunicar com o mundo, ser interlocutor 
e receptor de informações e comunicações. Segundo Cavazotti (2004), até certo 
período escolar do ensino tradicional os métodos de ensino e o material utilizado 
(a cartilha) deram conta das condições históricas próprias do aprendizado naquele 
período. Hoje, com a globalização, as tecnologias e a rapidez das informações, o 
mundo exige das pessoas e da escola novos métodos, recursos e patamares de 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização38
leitura e escrita, por isso que surge o termo letramento. 
A apropriação das competências de leitura e escrita pelo sujeito para agir no 
mundo, concorre para o conceito de letramento. Conforme Soares (2010), o termo 
Letramento (o verbete apareceu pela primeira vez no Dicionário Houaiss no Brasil 
em 2001), surgiu no Brasil na década de 80, usado pela primeira vez por Mary Kato 
em seu livro No mundo da escrita – uma perspectiva psicolinguística, como uma 
versão portuguesa da palavra literacy da língua inglesa (traduzida para o português 
como alfabetização), que significa: situação ou qualidade daquele que aprende a ler 
e escrever, que num plano individual seria estar alfabetizado e utilizar tal tecnologia 
(ler e escrever) e envolver-se nas práticas sociais de leitura e escrita.
Para a autora, o mundo está se tornando cada vez mais grafocêntrico, 
ou seja, uma sociedade centrada na escrita, exigindo das pessoas que sabem ler 
e escrever práticas sociais que modifiquem seu estado ou condição de estar no 
mundo, inclusive os aspectos linguísticos. 
A alfabetização de um lado se encarrega de ensinar/aprender a ler e a escrever, 
e por outro lado, o letramento dedica-se não somente em saber ler e escrever, mas 
mobilizar o cultivo da leitura e da escrita que privilegiem as demandas sociais de 
exercício dessas práticas. Embora, essas duas ações pedagógicas se distinguem no 
seu fazer, elas se completam, de modo que ensinam a ler e escrever em situações 
das práticas de leitura e escrita, tornando o estudante, tanto alfabetizado quanto 
letrado. 
Ficam evidentes as principais características que diferencia o letramento 
da alfabetização, especialmente o uso das competências de ler e escrever em 
contextos sociais de leitura e escrita. Por isso, se pressupõe que os termos não são 
consequentes, isto é, mesmo sendo alfabetizado um sujeito não estará letrado se 
este não fizer uso de sua capacidade de leitor e escritor, e assim, vice e versa. 
O letramento, ou ser letrado, ou estar letrado é muito mais complexo do 
que se imagina (apenas dizer que o letramento é uso da leitura e da escrita). É 
mais que isso, pois envolve uma complexa rede de significados de discursos, seja 
ele oral ou escrito. Segundo Cavazotti (2004) estar letrado é necessário o leitor ser 
capaz de apreender o sentido dos discursos, interpretando os elementos históricos,científicos e ideológicos que o instituem. Dominar os elementos da textualidade 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 39
que edificam o discurso oral e escrito, bem como os elementos materiais de sua 
decodificação (letras e sons).
Neste sentido, junto à ideia de Soares (2010), afirma Rojo (1998), que o 
processo de letramento tem indissociável ligação com a construção do discurso oral, 
e optar por uma visão socioconstrutivista do letramento e da escrita, constitui re- 
(pensar) às relações entre a linguagem oral e a escrita, porque “[...] o desenvolvimento 
da linguagem escrita ou do processo de letramento da criança é dependente, por 
um lado, do grau de letramento da instituição familiar [...], em seu cotidiano, de 
prática de leitura e de escrita” (ROJO, 1998, p.123).
“Com maior ou menor intensidade, o processo de letramento geralmente 
tem início muito antes do ingresso na escola e configura-se como saber fundamental 
no processo de alfabetização, explicando muitas vezes as diferenças no ritmo de 
aprendizagem dos alunos” (COLELLO, 2004, p.121). Ou seja, as práticas sociais de 
leitura e escrita antes do contato com elas nos muros da escola, dão condições e 
habilidades específicas aos estudantes que facilita sobremaneira o aprendizado da 
linguagem em termos do processo de aquisição da leitura e da escrita (alfabetização).
Porque a linguagem sendo uma forma comunicativa pessoal sua orientação 
se dá e se realiza num processo de prática social em distintos grupos sociais, como 
preconizou os estudiosos e professores que redigiram os Parâmetros Curriculares 
Nacionais de Língua Portuguesa. 
A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada por uma 
finalidade específica; um processo de interlocução que se realiza nas 
práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos 
distintos momentos da sua história. Dessa forma, se produz linguagem 
tanto numa conversa de bar, entre amigos, quanto ao escrever uma lista de 
compras, ou ao redigir uma carta — diferentes práticas sociais das quais se 
pode participar [...] (BRASIL, 1997, p.22).
Para Angela Kleiman (1995), o termo letramento se constituiu e é usado 
pelos motivos que seguem: sua essência acompanha o desenvolvimento do uso 
da escrita desde o século XVI; ampliou-se o poder de uso da escrita pelos grupos 
minoritários em detrimentos dos majoritários; substituir a tradicional alfabetização 
para explicar estratégias orais letradas de crianças que não são alfabetizadas, mas 
Você sabe por que o letramento é um processo que se inicia antes da 
escolarização e da alfabetização? 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização40
são consideradas letradas. Por isso, segundo a autora, as práticas sociais que se 
utilizam da escrita, como símbolo e tecnologia, especialmente na escola, como 
principal agência de letramento, ela volta-se não para ação de letrar (prática social), 
mas como uma prática de alfabetizar, enquanto processo de aquisição de códigos. 
As práticas sociais de que fala a autora, é uma ação de participação integral 
das pessoas que sabe ler e escrever na sociedade contemporânea, como reforça 
Brito (2005). Para ele, saber ler e escrever é condição necessária para o letramento. A 
participação para o autor é a capacidade de agir com autonomia intelectual, ou seja, 
ser capaz de “[...] decidir, calcular, planejar, intervir, criticar, transformar, solucionar, 
criar” (idem, p. 23). Essa capacidade tem um condicionante, ou mais de um – a 
aprendizagem da língua escrita e oral. Por isso letramento é um ato resultado de 
quem aprende a ler e escrever. 
Letramento é o resultado da ação de ensinar e aprender a ler e escrever. O 
estado ou a condição que adquire um grupo social ou um individuo como 
consequência de ter-se apropriado da escrita. (...) Já alfabetizado nomeia 
aquele que apenas aprendeu a ler e escrever, não aquele que adquiriu o 
estado ou a condição de quem se apropriou da escrita, incorporando as 
práticas sociais que as demandam (BRITO 2005, p.30, apud, SOARES, 1998, 
p. 20).
Como diz a autora, citando Soares (1998) não basta saber ler e escrever 
para ser letrado, é preciso fazer uso dessas habilidades, responder as demandas 
sociais diariamente. Brito (2005) indica que após a década de 1980 houve uma 
utilização indiscriminada com o conceito de letramento e semelhantes, que têm 
causado conflitos conceituais nas pesquisas e estudos. Por isso, a autora diz existir 
quatro termos conceituais em uso: letramento, alfabetismo, alfabetização e 
cultura escrita, que são análogos na forma e no conteúdo, principalmente no que 
equivalem no uso e na prática. Esclarece ainda que, o uso dos termos pode ser feito 
de modo complementar, o que leva a compreensão do significado da alfabetização 
em sua plenitude.
Atualmente, embora haja inúmeras definições para o binômio alfabetização 
e letramento, seja como aspecto de oposição ou de complementaridade, o que 
nos interessa aqui é configurar a nova tendência das práticas pedagógicas, usando 
a junção dos termos, como sugere Colello (2004) com o Modelo Ideológico de 
Alfabetização (opondo-se ao Modelo Autônomo), que chamou essa tendência de 
Alfabetizar Letrando. 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 41
Este modelo vincula-se as diversas formas das práticas de letramento, onde 
valoriza a sua simbologia cultural e o contexto de produção, quebrando um paradigma 
entre o momento de aprender e o momento de fazer uso da aprendizagem. Vale 
salientar que, os estudos da linguagem propõem um dinamismo entre descobrir a 
escrita (funções e manifestações) aprender a escrita (compreensão de regras e seu 
funcionamento) e usar a escrita (cultivo de suas práticas a partir de um referencial 
significativo para o sujeito). 
O autor nos apresenta o Modelo Ideológico em um esquema gráfico, 
vejamos:
Para o autor, o principio alfabetizar letrando está relacionada a uma nova 
condição cognitiva e cultural do processo de aquisição da língua escrita. Essa 
aquisição vem ampliando seu campo de atuação (pluralidade de práticas sociais), 
assim, vemos emergir letramentos, letramento social, escolar, científico, musical e 
informático etc. 
Modelo Autônomo: Modelo que prima pela a continuidade do uso da 
língua dominante, uma sociedade pauta no uso da norma culta da língua e prima 
pela assimilação do uso das normas linguísticas, desconsiderando o aluno e 
reforça o fracasso escolar.
ALFABETIZAR LETRANDO
APRENDER A ESCRITA
Fonte: COLELLO (2004, p.113)
DESCOBRIR A
 ESCRITA
USAR A 
ESCRITA
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização42
E esses letramentos são possíveis porque a nossa linguagem é histórica, é 
cultural e uma forma de estar no mundo. Segundo o PCNs de 1997, a nossa língua 
por ser um sistema simbólico carrega consigo uma história, que possibilita a nós 
significar o mundo e a realidade. Dessa forma, aprender a língua não é tão somente 
aprender palavras, mas os seus sentidos culturais e com eles os modos pelos quais 
as pessoas compreendem e interpretam os fatos e a si mesmas. 
 Enfim, se considerarmos a posição das autoras, que avaliam que o principio 
básico da concepção de letramento é mais do que a simples aquisição da escrita 
e seu código (alfabetização), mas que mantém forte ligação e indissociável com 
o processo de alfabetização, estaremos admitindo que letramento de fato é uma 
prática social, do uso das habilidades e competências de ler e escrever em sociedade, 
para se comunicar e se informar, para ser alguém no mundo em que a língua escrita 
e falada em sua quase totalidade domina as relações entre homens e mulheres. 
Letramento ou Alfabetismo? A cultura escrita da 
alfabetização
Estar alfabetizado e letrado é uma condição inerente à pessoa que 
sabe ler e escrever com independência e faz uso social dessa 
condição para melhor participar de sua vida em sociedade, uma vez 
que, diariamente somos envolvidos mesmo que involuntariamente 
em contextos de letramento e dealfabetização. Desde os primeiros 
raios solares, já estamos vendo o horário do relógio, pegando nas 
embalagens para preparar o café da manhã vendo letreiros, placas 
e sinais no percurso do trabalho.
Um sujeito que é capaz de diferenciar o que são letras e símbolos, que 
sabe distinguir o que são formas de comunicação escrita e falada, que faz uso 
desses mecanismos da linguagem para se comunicar, é uma pessoa considerada 
alfabetizada, mesmo aquelas que sabem minimamente registrar ou reconhecer 
palavras, escrever seu nome ou se comunicar através de um bilhete, por pequeno 
que seja. 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 43
A discussão chega num nível em que esse parâmetro de classificação a que 
nos referimos diz respeito ao que conhecemos como analfabetismo funcional, que 
consiste na condição daquele que consegue se comunicar muito pouco, segundo 
o padrão da norma para se considerar alfabetizada (alfabetizado pleno). Às vezes 
escreve apenas seu nome completo, lê palavras simples, sentenças curtas e pequenos 
textos, e algumas situações nem conseguem. 
Para o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) do Instituo Paulo 
Montenegro, é “considerada analfabeta funcional a pessoa que, mesmo sabendo 
ler e escrever algo simples, não tem as competências necessárias para satisfazer as 
demandas do seu dia a dia e viabilizar o seu desenvolvimento pessoal e profissional”. 
Consideramos que essas pessoas que são classificadas nesse estágio de comunicação 
certamente “perderam” a oportunidade de serem alfabetizadas na hora certa, seja 
por questões pessoais, ou até mesmo por questões metodológicas. E o tempo 
passou e não teve como recuperá-lo.
Com isso, indica-se que o ensino da leitura e da escrita para os analfabetos 
funcionais pode ter sido levado em conta a escrita apenas como transcrição da 
fala, ou até mesmo apenas como um ato mecânico e motor, sem levar em conta 
o que eles pensavam sobre a escrita. Assim, [...] quando a escrita é considerada 
um ato prioritariamente motor [...], a maior preocupação dos alfabetizadores recai 
no treinamento das habilidades responsáveis pelos aspectos figurativos da escrita 
(coordenação motora, discriminação visual e organização espacial) [...] (COLELLO, 
2004, p.17). Segundo o autor, nos parece bem claro, que ao conceber a alfabetização 
como um treinamento de habilidade (ler e escrever), o sujeito tem limitado sua 
capacidade de pensamento e da ação no mundo. 
Todos nós ao longo da vida aprendemos termos e palavras porque eles são 
passados de geração em geração, pois esse ato é cultural, isso é educação. Mas 
sobre alguns conceitos, precisamos nos aprimorar, especialmente quando muitos 
são desconhecidos. O termo analfabeto, segundo os dicionários portugueses é a 
pessoa que não sabe ler e nem escrever. Já o analfabetismo é o estado ou condição 
do analfabeto. 
E alfabetismo? Você sabe o que é? Qual a ideia você faz deste termo? 
Você já ouvir falar algo sobre ele?
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização44
Bem, para responder a essas questões, primeiro tem-se que esclarecer um 
ponto: o verbete alfabetismo não é tão comum entre nós, mas ele é o oposto 
(positivo) do analfabetismo (negativo), que quer dizer estado ou condição de 
alfabetizado. Segundo Soares (2011) é aquele que aprende a ler e a escrever. O 
uso da palavra é bem recente, porque as mudanças que ocorreram continuamente, 
e a realidade linguística, como diz a autora, não é suficiente saber ler e escrever, 
além desse domínio se quer o uso dessas habilidades, incorporando-a a seu viver, 
modificando seu estado/condição de sujeito numa sociedade alfabetizada e letrada, 
isso como decorrência desses saberes.
É nesse sentido que o termo alfabetismo se aproxima do termo letramento, 
ou até mesmo se assemelha, pois o sentido dos dois consiste na essência do uso 
social da leitura e da escrita. Soares (2011) afirma que o alfabetismo admite duas 
dimensões: a individual e a social. A primeira diz respeito à habilidade de um sujeito 
ler e escrever, ou seja, a competência da pessoa com a leitura e a escrita. A segunda 
faz referência a “[...] um fenômeno cultural, referindo-se a um conjunto de atividades 
sociais, que envolvem a língua escrita, e a um conjunto de demandas sociais de uso 
da língua escrita” (SOARES, 2011, p.30). 
Britto (2005) nos alerta para o fato de que o termo letramento vem sendo 
acompanhado da palavra letrado denotando o sujeito que tem letramento, e não 
como uma pessoa culta, erudita como trazem alguns dicionários. Associar letramento 
a tais conceitos tem dificultado a compreensão, além do mais, tem causado confusão 
com vários termos como alfabetizado, escolarizado e culto. O autor no quadro 
abaixo faz uma diferença conceitual de cultura escrita, letramento, alfabetismo 
e alfabetização, justamente para organizar as nossas reflexões. Sua intenção foi 
sintetizar os termos para que os mesmos se tornem de fácil compreensão. 
Fonte: BRITTO, 2011, p. 32
Cultura escrita – modalidade de organização social de base escrita, com 
implicações nas formas de produzir, viver, conhecer, representar.
Letramento – conjunto de práticas sociais de escrita e da leitura que 
definem os modos privilegiados de participar e produzir na sociedade de cultura 
escrita, tanto em ambientes escolares como em outros ambientes sociais.
Alfabetismo – conjunto de habilidades individuais de uso da escrita.
Alfabetização – processo de ensino e aprendizagem do sistema da 
escrita. 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 45
Revisando algumas literaturas disponíveis nesse contexto de classificação 
– alfabetizado, não alfabetizado, alfabetizado pleno ou alfabetizado funcional, 
verificou-se que o mais importante é indicar as práticas sociais desses grupos. Por 
isso, Vera Masagão Ribeiro e Roberto Castelli Junior, que coordenam o Indicar de 
Alfabetismo Funcional, do Instituto Paulo Montenegro, nos apresenta os níveis 
de alfabetismo, sendo o primeiro o analfabeto (dividido em dois grupos), e os demais 
alfabetismo 1(elementar) , 2 (intermediário) , 3 (proficiente), são eles: 
Quadro 3 – NIVEIS DE ALFABETISMO DO INAF
ANALFABETOS FUNCIONAIS
• Analfabeto - Corresponde à condição dos que não conseguem rea-
lizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases ainda 
que, uma parcela destes consiga ler números familiares (números de 
telefone, preços etc.);
• Rudimentar - Corresponde à capacidade de localizar uma informação 
explícita em textos curtos e familiares (como um anúncio ou um bilhe-
te), ler e escrever números usuais e realizar operações simples, como 
manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias ou fazer 
medidas de comprimento usando a fita métrica;
 FUNCIONALMENTE ALFABETIZADOS
Até a edição de 2011, este grupo era subdividido nos níveis Básico e 
Pleno.
A partir de 2015, buscando aprimorar a interpretação dos resultados, os 
respondentes passam a ser classificados em 3 níveis:
INDICAR DE ALFABETISMO FUNCIONAL
Criado no ano 2001, pelo Instituto Paulo Montenegro em parceria com 
a ONG Ação Educativa, é uma pesquisa que permite estimar os níveis de 
alfabetismo da população entre 15 e 64 anos e compreender seus deter-
minantes. Avaliando suas habilidades e práticas de leitura, de escrita e de 
matemática aplicadas ao cotidiano.
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização46
 Fonte: sitio do Instituto Paulo Montenegro: http://www.ipm.org.br/ 
O Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) divulgou o resultado da pesquisa 
de 2015, apontando uma reflexão sobre as relações entre o alfabetismo e o mundo 
do trabalho a partir de análises por setores da economia, níveis hierárquicos, tipo de 
relação de trabalho e para algumas funções específicas. Para entendermos melhor 
os resultados do INAF 2015 (tabela 1) é preciso conhecer a escala de proficiência do 
estudo (quadro 4), no qual são divididos em grupos e seus intervalos de pontuação 
nos testes práticos. 
• Elementar - As pessoas classificadasneste nível podem ser considera-
das funcionalmente alfabetizadas, pois já leem e compreendem textos 
de média extensão, localizam informações mesmo que seja necessário 
realizar pequenas inferências, resolvem problemas envolvendo ope-
rações na ordem dos milhares, resolvem problemas envolvendo uma 
sequência simples de operações e compreendem gráficos ou tabelas 
simples, em contextos usuais. Mostram, no entanto, limitações quando 
as operações requeridas envolvem maior número de elementos, etapas 
ou relações;
• Intermediário – Localizam informações em diversos tipos de texto, 
resolvem problemas envolvendo percentagem ou proporções ou que 
requerem critérios de seleção de informações, elaboração e controle de 
etapas sucessivas para sua solução. As pessoas classificadas nesse nível 
interpretam e elaboram sínteses de textos diversos e reconhecem figu-
ras de linguagem; no entanto, têm dificuldades para perceber e opinar 
sobre o posicionamento do autor de um texto;
• Proficientes - Classificadas neste nível estão às pessoas cujas habi-
lidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar 
textos em situações usuais: leem textos de maior complexidade, anali-
sando e relacionando suas partes, comparam e avaliam informações e 
distinguem fato de opinião. Quanto à matemática, interpretam tabelas e 
gráficos com mais de duas variáveis, compreendendo elementos como 
escala, tendências e projeções.
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 47
Quadro 4 – Cortes dos grupos de alfabetismo e intervalo na escola de 
proficiência do estudo especial INAF-2015
 Fonte: Relatório INAF/2015
Tabela 1 – Distribuição da população pesquisada por grupo de alfabetismo
 Fonte: Relatório INAF/2015
Conclui-se que, no Brasil em pleno século XXI, ano de 2015, a população de 
15 a 64 anos, 27% são analfabetos funcionais, numa amostra de 2002 participantes, 
545 pessoas, mais de ¼ tem poucas habilidades de leitura e escrita. Além disso, 
quase 50% das pessoas pesquisadas estão no nível elementar de alfabetização, 
ou seja, são capazes de ler uma ou mais unidades de um texto médio, realizando 
pequenas inferências e resolvem problemas básicos das operações matemáticas. 
E o mais surpreendente resultado, no sentido de desfavorável, apenas 8% dos 
pesquisados (161 de um universo de 1.457 alfabetizados) apresentou-se proficientes 
em compreender e interpretar textos em diversas situações cotidianas, e resolvem 
problemas com múltiplas etapas, operações e níveis de informações. 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização48
Parece-nos óbvio que quanto mais elevado o nível de escolaridade 
certamente é maior o nível de alfabetismo. Engana-se. A pesquisa mostra ainda que 
a relação entre a escolaridade e a distribuição nos níveis de alfabetismo não foi linear. 
Observamos: dos 2002 participantes, 5% não frequentaram a escola, 16% pararam 
ou concluíram no ensino fundamental - anos iniciais, 23% pararam ou concluíram 
o ensino fundamental - anos finais, 40% cursam ou concluíram o ensino médio, e 
17% cursam ou concluíram a educação superior. Ou seja, mesmo com pessoas tendo 
chegado ao ensino médio ou a educação superior, elas não conseguem alcançar a 
escala de alfabetismo proficiente.
Outros dados que faz toda diferença fazem-se necessário revelá-los. Dos 
2002 participantes da pesquisa, 48% são homens e 52% são mulheres, sendo que, 
54,5% dos analfabetos funcionais são do sexo masculino, mesmo as mulheres sendo 
maioria. Mas no que tange o nível mais alto da escala do alfabetismo – a proficiente, 
os homens ocupam o mesmo percentual – 54%. Sobre o quesito raça/cor, 46% 
dos entrevistados declaram-se pardos, e somente 13% disseram que eram negros, 
enquanto os brancos eram 38% e amarelos ou indígenas eram 2%. 
E no que tange o foco da pesquisa – a relação entre alfabetismo e o 
mundo do trabalho, 63% das pessoas pesquisadas estão trabalhando e, juntado 
os desempregados, os que procuram o primeiro emprego e os que não estão 
procurando, este percentual é de 18%. E como estudiosos indicam: quem tem menor 
desempenho escolar, são necessariamente aqueles que estão desempregados, 
justamente por não atender as exigências linguísticas do mercado. No entanto 
como já citado, a pesquisa em questão mostra o contrário, pois 1.267 pessoas estão 
trabalhando (67%).
Enfim, sabe-se que o princípio fundamental do alfabetismo é a aquisição 
das habilidades de ler e escrever com eficiência e eficácia, o que torna o sujeito uma 
pessoa consciente de suas práticas sociais de letramento, ou seja, do uso da língua 
escrita e falada, da comunicação e expressão e informação, socialmente construída e 
culturalmente edificada. Dessa forma, a partir do momento que se está alfabetizado, 
de posse dos recursos comunicativos em pleno desenvolvimento, o sujeito precisa 
apenas usá-lo de forma autônoma, como uma possibilidade de compreender 
o mundo e estar no mundo e com as pessoas. Esse é o verdadeiro sentido do 
alfabetismo e do letramento, o uso contínuo dos meios sociais de comunicação e 
informação em sociedade. 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 49
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização50
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 51
2
A PEDAGOGIA DA LEITURA E 
DA ESCRITA NO PROCESSO DE 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
CONHECIMENTOS
Compreender as práticas de linguagem oral e escrita, relacionando as habilidades 
de ler, interpretar e compreender textos, produzir e reescrever textos, numa 
perspectiva de informação e comunicação.
HABILIDADES
Identificar as diversas práticas e formas do uso da leitura e da escrita.
ATITUDES
Provocar reflexões e mudanças nas práticas pedagógicas de leitura e escrita de 
educadores alfabetizadores no contexto educacional brasileiro.
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização52
As diferentes maneiras de pensar a leitura e a escrita.
Quando algumas crianças começam a frequentar a escola a partir de dois e 
três anos de idade, elas têm os primeiros contatos com a cultura escrita: desenhos, 
letras, palavras e textos. A presença da escrita desde esse período até a fase da 
alfabetização (entre 6 a 8 anos) se apresenta de diferentes formas e finalidades. 
A “[...] escrita a mais adequada forma de expressão. O registro gráfico 
concretizado no ato de escrever é a extensão de outras possibilidades comunicativas 
(como, por exemplo, falar) que puderam ser adaptadas e organizadas numa nova 
linguagem” (COLELLO, 2004, p.11). O mundo é gráfico, isso não se pode negar. Seja 
sozinho, ou coletivo, as experiências com a escrita será particular para cada um de 
nós, mas a prática social é bem mais rica do que individualmente. Aqui não se quer 
negar os valores do conhecimento individual, mas de entendê-los nas práticas de 
uso sociais, como ressaltou Britto (2005). 
Por este entendimento, o autor nos apresenta as esferas de uso da leitura e 
da escrita, que nada mais é do que os contextos de inserção social correspondente 
as diferentes formas de utilização da linguagem, vinculados a cultura, a economia e 
a política. São sete esferas: da vida doméstica, da vida pessoal, da vida social, da 
informação e da participação, da vida profissional, da formação e instrução, e 
do lazer e entretenimento. 
A primeira esfera trata de ações domésticas em que se usa a leitura para ler 
listas, catálogos, produtos, rótulos, receita, bula de remédios, manual de instalação 
de um aparelho, etc. Quanto à escrita, se faz elaboração de lista de compras, 
bilhetes, avisos, recados, copiar receitas, organizar pasta de contas a pagar e caixa de 
documentos etc. Brito (2005) ressalta que este uso quando não é feito pela própria 
pessoa, por vezes pode ser feito por um parente ou um vizinho. 
Da vida pessoal, a leitura e a escrita se associa a produções individuais, 
como escrita de diários, cadernos de anotações, cartas, bilhetes, cópias de poemas, 
letras de músicas, fotografias e suas legendas. Noque tange a leitura, os impressos 
são os mais diversos como: recortes de jornais, revistas, folhetos místicos, santinhos, 
poemas e mensagens. 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 53
Britto (2005) comenta que na vida social, as atividades de leitura e escrita 
estão vinculadas com as relações que as pessoas mantêm socialmente, seja nos 
clubes, associações, círculos de amizade, igreja, sindicato etc. Dessa forma, as 
habilidades de ler e escrever estarão sempre relacionados com a dinâmica social de 
cada um. 
Na esfera da informação e da participação, o autor expõe que as formas 
como as pessoas se integram e se informam dos fatos do mundo são determinantes 
para suas ações de ler e escrever, seja pelos jornais impressos ou telejornais, rádio e 
revistas (leitura direta de textos escritos); seja através do diálogo com os familiares, 
amigos e colegas (leitura indireta). Na esfera profissional, os usos são diversos e 
referem-se à especificidade de cada trabalho. Porém, o autor ressalta que o uso da 
escrita é delimitado tendo em vista modelos e burocracia rigorosa. 
A esfera de formação e instrução, Britto (2005) diz que é pela educação 
escolar, como processo formal de formação que as pessoas têm acesso à leitura e a 
escrita, a uma diversidade de textos. Mas é nesta esfera que a formação também se 
dá pelo investimento pessoal de cada um na aquisição de impressos.
Por fim, o autor nos fala sobre a esfera do lazer e entretenimento, em 
que se aprende também pela brincadeira, lendo revistas, jornais, história em 
quadrinhos, fazendo palavras cruzadas. Além disso, há pessoas que preferem ler 
um romance, poesia etc. De qualquer forma, a leitura como produção e circulação 
de conhecimento sempre será bem vinda, sendo ela um investimento pessoal, ou 
coletivo (num projeto escolar ou na comunidade). Falar sobre as formas de produção 
e circulação do conhecimento é para Britto (2005) uma dinâmica desordenada, do 
ponto de vista que nem todo mundo produz conhecimento relevante, que vá ser 
admitida como interesse público e que mereça publicização e circulação. 
No entanto, o autor nos aponta algumas instâncias que privilegiam a 
produção e a circulação de conhecimento, como: as universidades, os centros 
de pesquisa, a escola, o poder público, as instituições sociais e a indústria da 
informação. Todos os espaços buscam priorizar a produção do conhecimento como 
mola propulsora para uma geração do futuro, a geração “Y”, a geração do milênio, 
que a cada dia produz e faz circular conhecimento através das redes sociais, dando-
lhes autonomia e protagonismo. 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização54
A geração Y e o conhecimento tecnológico da língua 
escrita 
“A língua escrita é um objeto de uso social, com uma existência social (e 
não apenas escolar)” (FERREIRO, 2010, p.38). Ela não é de domínio privado, e assim 
qualquer pessoa que seja alfabetizada pode escrever da forma que quiser, como 
quiser e onde quiser, pois o jeito como se comunica não importa, o relevante é a 
mensagem a ser transmitida, CERTO – ERRADO. Pois existem normas socialmente 
construídas e culturalmente aceitas e passadas de gerações em gerações porque se 
trata de um fato social – as regras da Norma Culta da Língua Portuguesa. 
 
Quando nascemos não sabemos falar, aprende-se por meio do contato 
social com a língua falada dos pais, irmãos, tios etc. Quanto maior e melhor o nível 
de conversação no ambiente familiar, melhor será o desenvolvimento linguístico 
(oral) da criança. Para aprender a escrever, mesmo que cheguemos a idade escolar, 
algumas crianças tem acesso a escrita e a leitura antes mesmo de ingressar na 
escola. Mas é na escola, que aprendemos através de ensinamentos periódicos e 
sistemáticos a Norma Culta da fala e da escrita.
O debate acerca da escrita nas redes sociais está presente em muitos artigos 
acadêmicos e trabalhos de conclusão de curso na atualidade, especialmente da área 
da linguística, por uma única razão, as pessoas que usam as tecnológias digitais e 
seus aplicativos estão desusando a Norma Culta da Língua Portuguesa. Diante dessa 
realidade real, alguns pontos podem ser abordados: o desuso é voluntário – porque 
os usuários não quererem perder tempo digitando longos textos e, por isso optam 
por abreviar as palavras; o desuso é involuntário – para aqueles que não querem ser 
classificados por analfabytes (analfabetos digitais) e serem ridicularizados em grupos 
nas redes sociais por escrever demais; ou o desuso é parasitário – para aqueles que 
vão de carona na moda da abreviação, mas na verdade não sabe escrever. 
Norma Culta da Língua Portuguesa:
Entendida como um conjunto de padrões linguísticos rigorosos que definem o 
uso correto de uma língua, no nosso caso – a Portuguesa. O estudo da gramá-
tica torna-se imprescindível para domínio perfeito de uma língua, para falar e 
escrever de forma correta.
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 55
De qualquer modo, o desuso da linguagem correta pela geração “Y” é um 
fato que não retrocederá. Mas os tipos apresentados são bem reais se analisarmos 
os motivos pelos quais usamos as abreviaturas na comunicação dos aplicativos 
ou apps (applications). É fato que essa nova linguagem internauta já denominada 
de internetês ou netspeak – é uma linguagem simples e informal, tornando a 
comunicação mais rápida (uso de códigos, abreviaturas, estrangeirismos) até mesmo 
com o uso de carinhas como os emoticons e bordões. É fato que esta linguagem 
por essas características, nada tem haver com o comprimento da Norma Culta da 
Língua Portuguesa. No entanto, é preciso ressaltar que ainda há pessoas que usam 
a linguagem correta, com direito a acentos e pontuações, especialmente porque há 
smartphones que seus corretores são maravilhosos. Vejamos a figura abaixo, que 
mostra como os internautas estão se comunicando por meio das abreviações e ao 
lado a decifração (tradução)
Fonte: https://digartmedia.wordpress.com/2013/05/28/a-linguagem-dos-
internautas/
Oi tudo bem?
Estou com saudades demais de 
você!
Quando você vem pra cá?
Tem novidades?
O Gustavo casou. Não consegui ir 
na festa. Qualquer dia vou te vê! 
Me adicione no Messenger ! Ou me 
segue no Twitter: @anapaula. Você 
tem Facebook? 
Beijos Renata
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização56
Veja há uma clara diferença nas janelas que indicam a contagem das palavras 
na figura e na decifração, ainda que, os caracteres sejam praticamente os mesmos. 
Mas, destacamos que a quantidade de palavras é a mesma, muito embora estejam 
abreviadas. Neste momento, o que nos preocupa é que essa nova modalidade de 
linguagem seja transferida para os meios formais de escrita, uma vez que, o hábito 
pode levar a uma rotina (de repente as pessoas esquecem que não estão no Facebook 
ou Messenger, Whatsapp ou Instagram e escrevam um texto oficial, trocando as 
palavras pelas abreviações), ou que a escrita formal seja de fato banalizada.
Vale destacar que, as pessoas que não são habituadas com esse tipo de 
linguagem internetês, acabam sendo vítima de intolerância, porque escreve de 
maneira correta como lhe foi ensinado. De maneira geral, o uso da linguagem pelos 
internautas não pode comprometer a função social da escrita, que é de inseri-los 
como um sujeito participativo em contextos sociais de leitura e escrita. E todos 
devem precisamente repensar o uso do “internetês”, pois a sua utilização como 
rotina pode causar prejuízos linguísticos e sociais. 
Os domínios da linguagem e os contextos sociais de 
letramento
Como já vimos a escrita não é a transcrição real da fala, apenas alguns 
elementos representam a oralidade, portanto, a escrita por natureza é uma 
representação simbólica que se codifica através dos sons da fala. Essa relação de 
representação denomina-se de princípio alfabético, pois congrega as percepções 
Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 57
dos sons da oralidade na escrita, por isso que é comum quando

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