Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Lavine Santos SOI V Objetivos: Compreender a fisiologia do sono Delinear os distúrbios do sono Abordar sobre classes farmacológicas utilizadas para trata distúrbios do sono. Descrever a higiene do sono Discorrer acerca das influências da automedicação entre profissionais de saúde Referência: Medicina da noite. O sono, cap 7. Flávio Magalhães e José Mataruna. 2007; Revista brasileira de neurologia. 2013. Disturbios do sono. O sono - um estado marcado pela diminuição da consciência, redução dos movimentos musculares esqueléticos e lentificação do metabolismo – tem função restauradora essencial e importante papel na consolidação da memória. É um processo neuroquímico orquestrado, envolvendo centros cerebrais promotores do sono e do despertar. A propensão ao sono depende de dois fatores principais: a quantidade acumulada de privação de sono e a fase do relógio circadiano, que aumenta o sono à noite. O sono é definido cientificamente como um conjunto de alterações comportamentais e fisiológicas que ocorrem de forma conjunta e em associação com atividades elétricas cerebrais características. É um estado comportamental complexo no qual existe uma postura relaxada típica, a atividade motora encontra- se reduzida ou ausente e há um elevado limiar para resposta a estímulos externos. O sono é reversível à estimulação. A vigília, em contrapartida, caracteriza-se por elevada atividade motora, por alta responsividade e por um ambiente neuroquímico que favorece o processamento e o registro de informações e a interação com o ambiente. A alternância entre sono e vigília ocorre de forma circadiana, sendo esse ciclo variável de acordo com idade, sexo e características individuais. Sua regulação homeostática envolve diversas citocinas e fatores neuro- humorais e endócrinos. O sono é ativamente gerado a partir de dois mecanismos que regulam o ciclo sono-vigília: (1) o impulso homeostático pelo sono, ou seja, substâncias que promovem o sono; (2) o ciclo circadiano, regulado pelo núcleo supraquiasmático do hipotálamo, que promove o despertar. O fator homeostático refere-se a aumento da sonolência após longos períodos de vigília pelo acúmulo de adenosina, já o fator circadiano refere-se a variações no estado de vigília e do sono fisiológico (tempo, duração e outras características) que mudam ciclicamente no decorrer do dia. Na parte da manhã após o despertar, a unidade homeostática de sono é praticamente nula e o fator circadiano gera influências excitatórias que levam ao despertar. Ao longo do dia, o impulso homeostático aumenta, assim como a atividade excitatória circadiana (output do núcleo supraquiasmático), no entanto essa atividade excitatória é reduzida à noite, resultando no início do sono. O ciclo sono-vigília encontra-se relacionado ao fotoperiodismo decorrente da alternância dia-noite, sendo influenciado pela luz ambiente durante o dia e pela produção de melatonina durante a noite – atua no início e na manutenção do sono. A regulação do ciclo sono-vigília pode ser prejudicada por alterações em qualquer um desses mecanismos. A luz é o fator mais importante na sincronização do relógio circadiano com o ambiente externo. A informação de luminosidade é trazida ao núcleo supraquiasmático pelo trato retino-hipotalâmico, e nesse local é feita a regulação do ciclo circadiano endógeno por meio do controle na secreção de melatonina. Os níveis plasmáticos de melatonina começam a aumentar entre 1 e 3 horas antes do horário normal de sono e tem seu pico próximo ao nadir (ponto mais baixo) da temperatura central corporal. Lavine Santos SOI V Neurotransmissores controlam o ciclo sono-vigília atuando em diferentes grupos de neurônios no cérebro. Neurônios no tronco cerebral produzem neurotransmissores, como a serotonina e a noradrenalina, que mantêm algumas partes do cérebro ativas enquanto estamos acordados. Outros neurônios, na base do cérebro, começam a sinalizar quando adormecemos. Esses neurônios parecem desligar; os sinais que nos mantêm acordados. O estagiamento neurofisiológico do sono é baseado no padrão das ondas cerebrais, na atividade muscular e no oculograma. As ondas cerebrais são avaliadas pelo eletroencefalograma (EEG) – ondas alfa, beta, teta e delta –, o nível de relaxamento muscular é visualizado pela eletromiografia (EMG) do mento e o oculograma (EOG), pelos movimentos oculares. Esses parâmetros são analisados a cada período de 30 segundos, que são denominados de “épocas”. Dois grandes estágios compõem o sono do adulto: o estágio NREM (75%) e o REM (25%). Estágios do sono Quando dormimos, geralmente passamos por cinco fases distintas do sono: estágios 1, 2, 3, 4 e REM. Estes estágios progridem num ciclo, do estágio 1 ao sono REM, e, então, o ciclo se inicia novamente com o estágio 1. Gastamos, em média, 50% do nosso tempo total de sono no estágio 2, cerca de 20% em sono REM e 30% nos demais estágios. Diferentemente dos adultos, os lactentes gastam cerca da metade do seu tempo de sono em sono REM. Estágio 1 Durante o estágio 1, que é superficial e fugaz, mergulhamos no sono, voltamos à vigília e podemos ser despertados com facilidade. No EEG, este estágio se caracteriza pela presença de ondas de baixa amplitude e freqüência de 3 a 7Hz (ondas teta). Nossos olhos movem-se muito lentamente e a atividade muscular torna-se gradualmente mais lenta. Quando despertamos a partir deste estágio, freqüentemente, é possível ter lembranças fragmentadas de eventos ambientais ocorridos no período. Muitas pessoas apresentam súbitas contrações musculares, conhecidas como mioclonias hípnicas, várias vezes precedidas de uma sensação de estar caindo. Estes movimentos súbitos são similares ao estremecimento que acontece quando levamos um susto. Estágio 2 Quando entramos no estágio 2, nossos movimentos oculares param, e nossas ondas cerebrais tornam-se mais lentas. Surgem os chamados complexos K, que são acompanhados por ocasionais surtos de 5 a 7 ondas de 12 a 15Hz, em forma de crescendo- decrescendo, os chamados fusos de sono. Estágio 3 No estágio 3, começam a aparecer ondas extremamente lentas (0,3 a 2Hz), as chamadas ondas delta, intercaladas por ondas menores e mais rápidas. Estágio 4 No estágio 4, as ondas são quase que exclusivamente de freqüência delta. Não- REM É muito difícil acordar alguém durante os estágios 3 e 4, que juntos são chamados de estágio delta ou de sono profundo. Neste estágio, não há movimento ocular ou atividade muscular. Pessoas acordadas durante o sono profundo não se orientam imediatamente e, freqüentemente, sentem-se grogues e desorientadas por alguns segundos depois que despertam. É comum, em crianças, a ocorrência de enurese noturna, terror noturno ou sonambulismo durante o sono profundo. Os estágios 1, 2, 3 e 4 são chamados em conjunto de sono não-REM. REM O sono REM tem várias características importantes: 1. É a forma ativa de sono, geralmente associada a sonhos e a movimentos musculares corporais ativos. 2. É mais difícil despertar o indivíduo por estímulo sensorial do que durante o sono de ondas lentas, e as Lavine Santos SOI V pessoas em geral despertam espontaneamente pela manhã, durante episódio de sono REM. 3. O tônus muscular está excessivamente reduzido, indicando forte inibição das áreas de controle da medula espinal. 4. Comumente, as frequências cardíaca e respiratória ficam irregulares, o que é característica dos sonhos. 5. Apesar da inibição extrema dos músculos periféricos, movimentos musculares irregulares podem ocorrer. Isso acontece em superposição aos movimentos rápidos oculares. 6. O cérebro fica muito ativo no sono REM, e o metabolismo cerebral global pode estar aumentado por até 20%. O eletroencefalograma(EEG) mostra padrão de ondas cerebrais semelhante ao que ocorre durante o estado de vigília. Esse tipo de sono, por isso, é também chamado sono paradoxal, porque é um paradoxo em que a pessoa possa ainda estar dormindo, apesar dessa grande atividade cerebral. Em resumo, o sono REM é o tipo de sono em que o cérebro está bem ativo. Entretanto, a pessoa não está totalmente consciente em relação ao ambiente, e, portanto, ela está na verdade adormecida. Neuroanatomia do Sono Vários estudos em animais mostraram que diferentes regiões do SNC regulam os diferentes estágios do sono e a vigília. O estímulo e o controle do sono NREM estão associados à ativação de neurônios GABAérgicos localizados no núcleo pré-óptico ventrolateral do hipotálamo anterior. Esses neurônios inibem os centros ativadores responsáveis pela vigília, como o sistema reticular ativador ascendente e o prosencéfalo basal. É importante lembrar que diversos neurotransmissores participam do sistema de alerta, incluindo a histamina, acetilcolina, dopamina, serotonina, noradrenalina e a hipocretina/orexina. Os mecanismos da vigília estão localizados no hipotálamo posterior/lateral e no prosencéfalo basal. A regulação do sono REM é feita a partir de núcleos pontinos. Esse modelo de regulação do sono-vigília corrobora a ação hipnótica dos benzodiazepínicos e barbitúricos, que são substâncias ativadoras de receptores GABA, assim como a ação da cafeína, inibindo a formação de adenosina – fator homeostático. Arquitetura normal do sono Uma vez que o sono e a vigília são influenciados por diferentes estímulos de neurotransmissores no cérebro, alimentos e medicamentos que alteram o equilíbrio desses estímulos são capazes de afetar nosso nível de alerta ou sonolência ou a qualidade do nosso sono. Bebidas cafeinadas, certas drogas, medicamentos anorexígenos e descongestionantes nasais estimulam algumas partes do cérebro e causam insônia. Muitos antidepressivos suprimem o sono REM. Grandes fumantes (os que fumam mais de 25 cigarros por dia) geralmente têm alteração na arquitetura do sono, com redução do sono profundo e do sono REM. Eles também tendem a acordar 3 a 4 horas depois de dormirem devido à abstinência de nicotina. Muitas pessoas que sofrem de insônia tentam resolver o problema com álcool. Se por um lado o álcool os ajuda a atingir mais rapidamente os estágios 1 e 2; por outro, rouba-lhes o sono REM e os estágios 3 e 4, que são os estágios mais restauradores. Portanto, o álcool tende a manter o indivíduo nos estágios superficiais de sono, nos quais podem ser acordados facilmente. Durante o sono REM, ocorre redução da capacidade de regulação da temperatura corporal. Por essa razão, temperaturas ambientais altas ou baixas podem interromper este estágio do sono. Se o sono REM é interrompido numa noite, nossos corpos não seguem a progressão cíclica do sono normal na próxima vez que adormecermos. A quantidade de sono de que uma pessoa necessita depende de vários fatores, incluindo a idade. Lactentes geralmente requerem cerca de 16 horas por dia, enquanto adolescentes necessitam de nove horas em média. Para a maioria dos adultos, 7 a 8 horas por noite parece ser a melhor quantidade de sono, embora haja pessoas que necessitam de apenas cinco horas e outras que precisam de dez horas de sono por dia. Mulheres nos primeiros três meses da gravidez necessitam freqüentemente de várias horas adicionais de sono. A quantidade de sono de que uma pessoa necessita aumenta se ela estiver privada de sono em dias anteriores. Lavine Santos SOI V Dormir muito pouco cria um débito de sono que necessita ser quitado para manutenção do bom funcionamento do organismo; caso contrário, ele irá inevitavelmente cobrar este débito. Parece ser impossível nos adaptarmos a dormir menos do que necessitamos. Embora possamos nos acostumar a um esquema com privação de sono, isto não acontece sem comprometimento do nosso julgamento, do tempo de reação e de outras funções que requerem perfeito estado de alerta. As pessoas tendem a ter sono mais leve e por períodos mais curtos à medida que envelhecem, embora geralmente necessitem da mesma quantidade de sono de que precisaram quando eram adultos jovens. Cerca da metade de todas as pessoas acima de 65 anos têm problemas freqüentes com o sono, como insônia . Os estágios de sono profundo (3 e 4) em muitos idosos freqüentemente se tornam mais curtos ou ausentes. Estas alterações podem fazer parte da própria velhice ou resultar de problemas médicos comuns no idoso e/ou de medicações usadas no tratamento desses problemas. Embora estejamos ainda tentando responder com exatidão à razão pela qual uma pessoa necessita dormir, estudos com animais mostraram que o sono é necessário para a sobrevivência. Alguns estudos sugerem que a privação de sono afeta negativamente o sistema imunológico. O sono parece necessário para que nosso sistema nervoso funcione normalmente. O sono muito curto deixa-nos no dia seguinte sonolentos e incapazes de nos concentrarmos. Também nos leva a falhas de memória e de desempenho físico e reduz nossa habilidade de realizar cálculos matemáticos. Se a privação de sono continua, podem-se desenvolver alucinações e alterações do humor. Alguns pesquisadores acreditam que o sono dá aos neurônios usados durante a vigília a chance de se desligarem e de serem reparados. Sem sono, os neurônios podem sofrer depleção de energia ou então ser poluídos por subprodutos da atividade celular normal que os levam a funcionar imperfeitamente. O sono também dá ao cérebro a chance de exercitar importantes conexões neuronais que, de outro modo, poderiam se deteriorar por falta de atividade. O estágio delta coincide com a liberação do hormônio do crescimento em crianças e adultos jovens. Muitas células do corpo também apresentam aumento da produção de proteínas e redução do seu catabolismo durante o sono profundo. Isto pode estar relacionado aos processos de reparo de danos celulares. A atividade em partes do cérebro que controlam as emoções, processos de tomada de decisão e interações sociais está drasticamente reduzida durante o estágio delta, sugerindo que este estágio do sono possa ajudar o indivíduo a manter o funcionamento emocional e social ótimo durante a vigília. Um estudo em ratos mostrou que certos padrões de neurotransmissão que, nesses animais são gerados durante o dia, repetiram- se durante o sono profundo. Esta repetição padronizada pode ajudar a codificar memórias e melhorar o aprendizado. Sono e ritmo circadiano Os ritmos circadianos são alterações regulares com características mentais e físicas que ocorrem no curso de um dia. Muitos ritmos circadianos são controlados pelo relógio biológico do corpo. Este relógioestá localizado no núcleo supraquiasmático, no hipotálamo, justamente acima do quiasma óptico. A luz captada por fotorreceptores na retina gera estímulos que, através do nervo óptico, chegam ao núcleo supraquiasmático. Os estímulos, a partir daí, atingem várias regiões cerebrais, inclusive a glândula pineal, que responde aos estímulos induzidos pela luz interrompendo a produção do hormônio melatonina. Os níveis de melatonina no organismo normalmente aumentam após o anoitecer, na escuridão. Isto leva as pessoas a se sentirem sonolentas. O núcleo supraquiasmático também controla funções sincronizadas com o ciclo sonovigília, incluindo temperatura corporal, secreção de hormônios, produção de urina e alteração na pressão arterial. Os ritmos circadianos podem ser afetados, em certo grau, por quase todos os tipos de sinalizadores externos de tempo, como o alarme do nosso despertador, o estardalhaço do caminhão de lixo e o horário das nossas refeições. A esses sincronizadores ou marcapassosexternos, chamamos de zeitgebers (do alemão, aquele que impõe o tempo). Quando viajantes passam rapidamente de um fuso horário para outro, ocorre uma ruptura dos seus ritmos circadianos, levando-os a sentir uma sensação Lavine Santos SOI V desconfortável conhecida como jet lag, ou distúrbio de fuso horário. Muitas pessoas totalmente cegas apresentam problemas crônicos para dormir porque as suas retinas são incapazes de detectar luz. Estas pessoas apresentam uma espécie de jet lag permanente e insônia periódica porque os seus ritmos circadianos seguem mais o seu ciclo inato do que o de 24 horas. Referências: Medicina da noite. O sono, cap 7. Flávio Magalhães e José Mataruna. 2007; Revista brasileira de neurologia. 2013. Disturbios do sono. A maioria dos pacientes procura atendimento médico por: dificuldade em iniciar o sono; dificuldade em manter o sono, com múltiplos despertares durante a noite; despertar cedo; sono não restaurativo; movimentos/comportamento anormais durante a noite; fadiga ou sonolência diurna; dificuldade de concentração; irritabilidade; ansiedade; depressão; dores musculares. Se um indivíduo se sente sonolento durante o dia, mesmo durante atividades maçantes, muito provavelmente ele não dormiu o suficiente durante a noite. Se ele rotineiramente adormece dentro de cinco minutos depois de deitar-se, provavelmente tem grave privação de sono e, possivelmente, um distúrbio do sono. Microcochilos ou episódios muito breves de sono, em situações que normalmente requerem o estado de alerta, são outra marca de privação de sono. Em muitos casos, os indivíduos, nessa situação, não têm consciência da ocorrência desses microcochilos. O sono e os distúrbios a ele relacionados desempenham um importante papel em grande número de enfermidades, podendo afetar quase todos os campos da Medicina. Como exemplos temos crises de asma e acidentes vasculares cerebrais (AVC) , que tendem a ocorrem mais freqüentemente durante a noite (as primeiras) e de manhã cedo (os últimos), talvez por causa de alterações hormonais, variações da frequência cardíaca e outros fatores associados ao sono. O sono também afeta de modo complexo alguns tipos de epilepsia; o sono REM parece ajudar a prevenir convulsões, enquanto o sono profundo pode facilitá- las. A privação de sono também pode desencadear convulsões em pessoas com alguns tipos de epilepsia. Distúrbios do sono ocorrem em quase todos os pacientes com doenças psiquiátricas, inclusive aqueles com depressão e esquizofrenia. Indivíduos com depressão, por exemplo, freqüentemente acordam nas primeiras horas da manhã e encontram dificuldade em voltar a dormir. A quantidade e a qualidade do sono também influenciam significativamente os sintomas dos distúrbios mentais. Atenção especial também deve ser dada a sintomas noturnos associados – roncos, respiração bucal, apneias, dispneia, refluxo gastroesofágico, nictúria, disfunção erétil, sonambulismo, bruxismo, movimento de pernas, paralisia do sono – e aos sintomas diurnos – sonolência, alterações de humor, queda da produtividade, dificuldade de concentração e memória, diminuição da atenção na condução de veículos, cataplexia e alucinações hipnagógicas. O uso de medicamentos também deve ser averiguado, assim como o de cafeína e bebidas energéticas. Insônia Insônia é definida como uma experiência de sono inadequado ou de má qualidade, caracterizada por dificuldade de iniciar ou manter o sono ou por um despertar muito cedo pela manhã, com efeitos negativos sobre o desempenho do indivíduo no dia subseqüente. A prevalência da insônia aumenta abruptamente durante a quinta década de vida. As pessoas com insônia freqüentemente se queixam de comprometimento da atenção, memória ou concentração, alteração do humor, sentimentos de Lavine Santos SOI V depressão, irritação ou ansiedade e comprometimento do seu desempenho no trabalho, casa ou escola. Por muito tempo acreditou-se que a insônia fosse um sintoma. Contudo, evidências recentes sugerem que ela não é simplesmente um sintoma de outra condição, mas sim uma desordem propriamente dita. Independentemente de ocorrer com outras doenças ou isoladamente, a insônia tende a ter um conjunto consistente de sintomas noturnos e diurnos. Além disso, o tratamento das condições associadas, sem atenção específica ao sono, pode não melhorar consistentemente a insônia. A insônia e as condições associadas podem seguir cursos diferentes e, em muitos casos, a insônia pode ser responsabilizada pela piora dessas condições. Atualmente, a ICSD-2 subclassifica a insônia como primária, ou secundária a uma etiologia médica, psiquiátrica, ou induzida por medicamentos. Sintomas de insônia primária podem ser agudos e autolimitados, ou crônicos e persistentes, por mais de três meses. Esta última situação pode constituir a insônia psicofisiológica, paradoxal ou idiopática. A insônia psicofisiológica é um transtorno comportamental em que existe aumento da preocupação sobre a incapacidade de dormir de forma adequada e suas consequências, o que também se chama de insoniofobia. O próprio esforço para dormir gera maior excitação psicológica e condicionamento negativo para o sono. A insônia paradoxal é uma queixa de insônia grave ou quase “total” que excede em muito as evidências objetivas de TS e não é compatível com o grau de déficit relatado durante o dia. A insônia aguda ou de curta duração, que freqüentemente é devida a uma situação temporária, como o estresse, o jet lag, a mudança ou perda de emprego ou de um relacionamento, pode durar até um mês, quando o paciente responde bem ao tratamento. Habitualmente, a insônia aguda está relacionada a um evento/situação de estresse, como mudança de emprego, perda de parente, problemas conjugais, prazos a serem cumpridos ou mudança no ambiente de dormir, também chamada de insônia de ajuste. A persistência da insônia por algumas semanas pode estar associada a doenças de curto prazo, recuperação cirúrgica ou um fator estressor mais prolongado. Toda insônia aguda possui potencial de cronificação se houver um fator perpetuante presente. A insônia crônica, ou de longa duração, persiste por um mês ou mais e pode ser secundária a causas clínicas, físicas ou psíquicas, a outros distúrbios do sono ou a medicações e outras substâncias. Apnéia do Sono A apnéia do sono é um distúrbio caracterizado pela interrupção da respiração durante o sono. Ocorre geralmente em associação com alterações primárias anatômicas das vias aéreas superiores, obesidade, perda do tônus muscular e envelhecimento. Estas alterações permitem que as vias aéreas colapsem durante a respiração, quando os músculos relaxam durante o sono. Neste caso, a apnéia é chamada de apnéia obstrutiva do sono (AOS). O distúrbio é usualmente associado ao ronco alto, embora nem todo mundo que ronca tenha apnéia. O ronco não associado à apnéia é chamado ronco primário. A apnéia, muito mais raramente, pode também ocorrer sem esforço respiratório, por descontrole do Sistema Nervoso Central (SNC) da respiração durante o sono, sendo chamada de apnéia central. Uma outra irregularidade respiratória associada à apnéia obstrutiva do sono é a hipopnéia durante o sono. Esta é caracterizada por uma redução do fluxo aéreo igualou maior do que 50% durante um período igualou maior do que 10 segundos. Durante um episódio de apnéia ou hipopnéia obstrutiva do sono, o esforço da pessoa para inalar ar cria uma sucção que colapsa a via aérea. Isto bloqueia o fluxo de ar por 10 segundos ou mais, enquanto a pessoa, dormindo, se esforça para respirar. Quando a saturação de oxigênio cai, a pessoa desperta ou, melhor dizendo, microdesperta (por uns poucos segundos apenas, sem que tome conhecimento do evento),por estímulo central, para que os músculos das vias aéreas superiores se contraiam, revertendo a obstrução e permitindo a entrada de ar nos pulmões. A pessoa pode inspirar ruidosamente ou arfar e, então, voltar a roncar. O ciclo pode se repetir centenas de vezes por noite. A apnéia do sono é responsável pela privação da oferta adequada de oxigênio ao organismo, o que pode levar a cefaléia matinal, diminuição da libido e ao declínio do funcionamento mental. Também está associada ao aumento da pressão arterial, arritmias cardíacas e Lavine Santos SOI V aumento do risco de infarto agudo do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais. Em alguns indivíduos de alto risco, a apnéia do sono pode mesmo levar à morte por insuficiência respiratória durante o sono. O diagnóstico polissonográfico é feito com base no índice de apnéia/ hipopnéia (IAH) , ou seja, no número desses eventos respiratórios por hora. Em adultos, considera-se normal um IAH inferior a cinco eventos por hora. Um IAH de 5 aIS/horas corresponde a uma síndrome de apnéia/hipopnéia obstrutiva do sono (SAHOS) leve; de 16 a 30/hora, moderada; e, acima de 30/hora, grave. Os pacientes com apnéia do sono não devem tomar medicamentos com efeito hipnótico, pois estes podem agravar a sua condição, impedindo-os que despertem para respirar. Hipersonias: Narcolepsia: A narcolepsia é um distúrbio neurológico crônico de causa genética autoimune que é desencadeado por uma disfunção da neurotransmissão das hipocretinas e com associação ao antígeno HLA DQBI. Os sintomas diagnósticos são sonolência excessiva crônica e cataplexia. As manifestações inespecíficas de sono REM são alucinações hipnagógicas, paralisia do sono e sono noturno fragmentado. Os cinco sintomas expostos constituem a pêntade característica da narcolepsia. A narcolepsia se inicia por volta dos 15 aos 25 anos de idade, sendo rara antes dos 5 anos de idade. Sua prevaléncia é de 0,018 a 0,040% da população geral, com discreto predomlnio no sexo masculino e igualmente distribuída em todos os grupos étnicos. A sonolência excessiva é a queixa de apresentação em 95% dos casos, sendo intensa, incapacitante, crônica e não progressiva. Costuma ser persistente ao longo do dia, mas também pode se manifestar com ataques súbitos e incontroláveis de sono. Os cochilos mesmo de curta duração, são reparadores, levando à redução temporária da sonolência por períodos variáveis de horas. É frequente o relato de sonho nesses cochilos diurnos. Casos com sonolência excessiva diurna mais intensa podem cursar com comportamentos automáticos e amnésia. A cataplexia é o sintoma mais específico e, portanto, patognomônico da narcolepsia, podendo ser o sintoma inicial cm 6 a 10% dos casos. Do ponto de vista clínico, é caracterizada como uma perda súbita total ou paralisia do tónus da musculatura voluntária (há preservação da musculatura ocular e respiratória) desencadeada geralmente por emoções positivas, principalmente riso, alegria, surpresa e, menos comumente, por raiva. O acometimento muscular é sempre bilateral. A consciência é preservada durante o episódio de cataplexia e há recuperação imediata do controle motor ao final do ataque. Alucinações hipnagógicas, paralisia do sono e sono noturno fragmentado são denominados sintomas auxiliares e não são específicos de narcolepsia, podendo estar presentes em voluntários normais ou em outros transtornos do sono. Alucinações hipnagógicas são sonhos que ocorrem na transição vigília-sono, acompanhadas por cognições de medo-terror, às vezes com fenômenos visuais e auditivos. A paralisia do sono caracteriza-se por uma incapacidade total para se mover ou falar, ocorrendo com mais frequência no início do sono ou ao despertar. Os episódios podem durar de 1 a 10 minutos, terminando subitamente após esforço mental ou por alguma estimulação sensorial externa. Alucinações hipnagógicas e paralisia do sono ocorrem em 40 a 80% dos narcolépticos, podendo diminuir ou desaparecer com a idade. A apresentação isolada de paralisia do sono ou alucinações hipnagógicas não constitui diagnóstico de narcolepsia. Paralisia do sono isolada ou familiar ocorre em 5 a 10% da população normal, inicia- se na adolescência e ocorre cm associação com sono irregular, privação de sono, uso de álcool e de drogas. • Narcolepsia tipo 1: presença de sonolência excessiva associada a cataplexia; no líquido cefalorraquidiano (LCR), os níveis de hipocretina 1 estão abaixo de 110 pg/ml. Esse tipo de narcolepsia está associado ao HLA DQB1. • Narcolepsia tipo 2: não há cataplexia e/ou não há deficiência de hipocretina no LCR, sendo imperativa a realização de TLMS para o diagnóstico. Síndrome de Kleine-levin: A síndrome de Kleine-Levin (SKL) típica cursa com surtos de hipersônia e sintomas associados, ocorrendo em ciclos que duram entre 3 e 80 dias, com uma média de 13 dias, e podendo ocorrer até dez episódios por Lavine Santos SOI V ano, com intervalos de 6 a 10 meses. A SKL é uma doença rara e autolimitada, que se inicia na adolescência e desaparece antes dos 25 a 30 anos de idade. Os surtos se desenvolvem em horas e são precedidos por pródromos como fadiga ou cefaleia. Durante a fase crítica, os períodos de sono têm 16 a 18 horas de duração e o paciente acorda geralmente para comer e para necessidades fisiológicas. Alterações como confusão mental e alucinações comportamentais com hipersexualidade podem ocorrer durante os surtos. Hipersônia idiopática: Transtorno de etiologia e prevalência desconhecida, a hipersônia idiopática é caracterizada por sonolência excessiva crônica, intensa e incapacitante. O período de sono principal é próximo do normal, entre 8 e 10 horas de duração, sem despertares e caracteristicamente não restaurador. Os cochilos são longos, durando de 3 a 4 horas, e classicamente não reparadores. Há grande dificuldade para despertar após o período principal de sono ou os cochilos, podendo ocorrer confusão mental ou embriaguez do sono. Não há fenômenos de sono REM, como paralisia do sono, alucinações hipnagógicas ou cataplexia, como na narcolepsia. A sonolência causa prejuízos neurocognitivos, comportamentos automáticos e acidentes. A hipersônia idiopática se inicia na segunda década de vida e raramente ocorre na infância ou na idade adulta. Parassonias Parassonia é o termo que se utiliza para definir experiências desagradáveis ou comportamentos motores durante o sono e/ou nas transições com o despertar. As parassonias primárias são classificadas de acordo com o estágio de sono em que ocorrem (REM, NREM ou transições) e as secundárias (transtornos de outros sistemas de órgãos que se manifestam durante o sono) podem ser classificadas pelo órgão ou sistemas envolvidos. Relacionados ao sono não REM Despertar confusional A maioria dos pacientes inicia o quadro clínico com sintomas antes dos cinco anos, com despertar confuso durante a primeira parte da noite. A forma da infância é benigna com resolução espontânea. A variante do adulto pode persistir durante longo tempo e apresentar comportamentos automáticos e inapropriados. Sonambulismo Pode persistir na adolescência ou raramente tem início nos adultos. Os pacientes não têm memória de suas ações. Terror noturno Ocorre em 2% a 3% de crianças e adultos. Caracteriza- se por sintomas motores e autonômicos intensos (taquicardia, taquipneia, dilatação pupilar e diaforese), incluindo gritos. É associado com sonhos, desorientação e amnésia após cada episódio. Os terrores noturnos, ligados ao sono NREM, ao contrário do pesadelo ao REM, fazem com que o indivíduo seja resistente ao consolo, têm término súbito e costumam ocorrer no início da noite. Transtorno alimentar relacionado ao sono Esse transtorno caracteriza-sepela ocorrência de episódios frequentes de ingestão alimentar durante o sono, associados com despertares confusionais. A ingestão alimentar causa sintomas sistêmicos e alterações de sono, bem como ganho de peso. Os episódios alimentares são caracteristicamente sem controle, ocorrendo após certo intervalo de sono noturno. Cerca de 65% dos casos ocorrem com o sexo feminino, com início entre 22 e 30 anos de idade. Em geral, os alimentos ingeridos não fazem parte da dieta normal. Costuma haver amnésia total ou parcial para o evento. Alguns pacientes podem ingerir comidas quentes demais, congeladas, cruas ou materiais não alimentares como cinzas de cigarro ou detergente, causando intoxicações. Não há relação com transtornos alimentares diurnos; por outro lado, 50% dos pacientes apresentam histórico de outros transtornos do sono, como SPI, sonambulismo, comportamento sexual durante o sono e AOS. Abuso de substâncias; abstinência de álcool, nicotina e cocaína; depressão e ansiedade, além de zolpidem, triazolam, lítio e agentes anticolinérgicos; pode induzir seu aparecimento. Lavine Santos SOI V Comportamento sexual durante o sono Esse transtorno é outra variante clínica de apresentação de despertar com confusão mental em adultos. Foi descrito originalmente em adultos jovens do sexo masculino com comportamento sexual normal durante a vigília, mas que apresentavam história pessoal ou fumiliar de transtornos do despertar do sono NREM. As manifestações caracterizam-se por atos sexuais, assédio sexual ou masturbação com vocalização obscena e ocorrem durante um despertar confusional. Esses comportamentos podem estar associados a sonambulismo ou comportamento alimentar. O comportamento sexual durante o sono pode ter implicações médico-legais. Enurese durante o sono A enurese é definida pela ocorrência de episódios recorrentes de emissão urinária durante o sono REM e NREM, pelo menos duas vezes por semana, após os 5 anos de idade. Enurese noturna é um transtorno de sono mais prevalente na faixa pediátrica, que acomete mais o sexo masculino (25%) que o feminino (15%). Na idade até 6 anos, além de 2% dos adultos. Antecedentes de história positiva de enurese na família são comuns. Os episódios de emissão urinária ocorrem em todos os estágios do sono, porém mais frequentemente no estágio N2 do sono NREM e menos em sono REM. O controle vesical noturno se completa até o quinto ano de vida, e a ausência de controle miccional após essa idade é considerada anormal. Estudo polissonográfico é indicado nos casos de histórico atípico ou em casos que não respondem às terapias convencional. Relacionados ao sono REM Transtorno comportamental do sono REM Geralmente, ocorre em homens acima de 50 anos, podendo manifestar-se também em mulheres e indivíduos mais jovens. Observa-se perda intermitente do sono REM, com hipotonia ou atonia muscular e presença de atividades motoras anormais durante o sono, causando lesões no próprio paciente ou no(a) companheiro(a). Existe associação com doença de Parkinson, atrofia sistêmica múltipla, doença de corpo de Lewy, degeneração corticobasal, atrofia olivopontocerebelar e paralisia supranuclear progressiva. Em alguns casos podem ser causadas por drogas como hipnóticos, antidepressivos tricíclicos, anticolinérgicos, inibidores de receptação de serotonina e uso de álcool. Pesadelos Os pesadelos são mais prevalentes em crianças, principalmente naquelas entre 6 e 10 anos de idade, mas diminuem com a idade. Os eventos causam sensação de medo, terror e/ou ansiedade. São comuns em pacientes que usam drogas anticolinérgicas, betabloqueadoras, antiparkinsonianas e na retirada de drogas supressoras do sono REM (antidepressivos tricíclicos, inibidores da MAO, lítio, anfetaminas, metilfenidato e clonidina). Os pesadelos fazem com que o sonhador desperte completamente e a sua lembrança é geralmente conservada. Transtornos dos movimentos Bruxismo Geralmente, tem início entre 10 e 20 anos, podendo persistir durante toda a vida. Ocasionalmente, casos familiares podem ser descritos. O bruxismo noturno é notado frequentemente durante os estágios 1 e 2 e no sono REM. Podem estar associados com distonia oromandibular e coreia de Huntington. Está associado à disfunção temporomandibular e desgaste dentário. Síndrome das pernas inquietas Geralmente, tem início na meia-idade ou em indivíduos mais velhos, com prevalência maior em mulheres (com pico de incidência entre 85 e 90 anos). Estudos familiares sugerem uma herança genética autossômica dominante. Os quatro aspectos fundamentais para o diagnóstico incluem: (1) urgência em movimentar os membros associados com parestesias e disestesias; (2) sintomas que se iniciam ou pioram com o repouso; (3) melhora parcial dos sintomas com o movimento; (4) piora dos sintomas no final da tarde ou à noite. Podem estar associados com deficiência de ferro, doença de Parkinson, insuficiência renal (principalmente quando submetidos à diálise), diabetes mellitus, artrite reumatoide, neuropatia periférica, gestação (acima de 20 semanas), uso de anti-histamínicos e antidepressivos. Desses pacientes, 80% têm movimento periódico das pernas. A síndrome das pernas inquietas (SPI), caracterizada por sensações de fervilhamento, picada ou formigamento nas pernas e pés, principalmente em Lavine Santos SOI V momentos de repouso e que obriga o paciente a movê- los para alívio do desconforto, está emergindo como um dos distúrbios do sono mais comuns, especialmente entre as pessoas mais idosas. Este distúrbio, que afeta 8% da população, segundo dados norte- americanos, leva à constante movimentação das pernas durante o dia e insônia à noite. Apesar da SPI grave ser mais comum em pessoas idosas, os sintomas podem se desenvolver em qualquer idade. Movimentos periódicos das pernas Esse transtorno é caracterizado por episódios repetitivos de movimentos dos membros durante o sono, mais frequentemente nos membros inferiores (pododáctilos, joelhos, quadril). Pode estar associado a despertares com fragmentação do sono. Pode também estar associado com deficiência de ferro. Referência: Clínica Médica, Usp, vol 6 Para o tratamento farmacológico da insônia podem ser utilizados vários tipos de fármacos: as benzodiazepinas, os barbitúricos (atualmente não utilizados), os hipnóticos não benzodiazepínicos, os antidepressivos, os antipsicóticos, entre outros. Os sedativos/hipnóticos são dos fármacos mais comumente prescritos na prática médica. A eficácia hipnótica define-se como a capacidade de uma droga induzir e manter o sono em pessoas com queixas de insónia transitória ou crónica. Os hipnóticos promovem o tratamento sintomático da insônia e o seu uso clínico envolve sempre o balanço risco-benefício. O aumento da dose é o maior preditor de efeitos secundários indesejáveis. Agentes hipnóticos Os hipnóticos são os agentes mais utilizados para insônia até o presente momento. São agentes sedativos, que facilitam o início e/ou a manutenção do sono noturno. Existem dois tipos de medicação hipnótica: os benzodiazepínicos (BZD) e os agentes hipnóticos não-benzodiazepínicos. Os dois tipos de agentes são agonistas no complexo receptor do neurotransmissor ácido gama amino- butírico (GABA-A), promovendo inibição sináptica em diversas regiões do SNC. Os hipnóticos benzodiazepínicos e não-benzodiazepínicos se ligam ao receptor GABA-A pós-sináptico, aumentando a intensidade e a duração dos efeitos inibitórios do GABA endógeno. O agente hipnótico tem como objetivo induzir o sono, aliviar os sintomas e melhorar o rendimento e o bem- estar no dia seguinte. O uso deve ser restrito idealmente a 3 dias ou até 4 semanas. Contudo, na prática clínica, é comuma ocorrência de situações de uso crônico de hipnóticos, principalmente nos casos de insônia associada a transtornos psiquiátricos ou outras doenças crônicas. 1.Hipnóticos não-benzodiazepínicos Existem três classes de hipnóticos não- benzodiazepínicos: ciclopirrolonas (zopiclone e seu isômero eszopiclona), zolpidem (imidazopiridina), zaleplon e ramelteon (indefuran). Os agentes disponíveis no Brasil, no momento, são: Zolpidem (10 mg): é indicado para insônias iniciais por possuir uma meia- vida curta (1,5 a 2,5 horas). Pode ser usado de forma contínua ou intermitente (quando necessário). O zolpidem possui menor grau de dependência e tolerância em comparação aos BZD, quando usado nas doses e duração de tratamento recomendado. O zolpidem pode ser usado cronicamente mantendo sua eficácia e segurança. Zopiclone (7,5-15 mg): promove efeitos comparativamente semelhantes ao dos BZD, mas podem causar gosto amargo e boca seca, enxaquecas, náusea, sonolência e pesadelos ao despertar. Apresenta potencial de dependência, abuso e alterações cognitivas semelhantes ao dos BZD. 2.Hipnóticos benzodiazepínicos Triazolam, midazolam e oxazepam são agentes BZD de rápido início de ação e meia-vida curta (1 a 3 horas), sendo especialmente úteis em casos de insônia inicial. Hipnóticos benzodiazepínicos de meia-vida intermediária (10 a 20 horas), como estazolam, flunitrazepam, diazepam, clonazepam e temazepam são drogas para insônia intermediária ou terminal. 3.Antidepressivos Apesar de serem potenciais agentes terapêuticos para o tratamento da insônia psicofisiológica, não há Lavine Santos SOI V estudos documentando sua eficiência, segurança e tempo de uso. Sugere-se que a farmacoterapia da insônia psicofisiológica com antidepressivos deve ser realizada por pelo menos 12 meses após se ter alcançado a remissão completa dos sintomas diurnos e noturnos de insônia. Agentes tricíclicos: antidepressivos tricíclicos, como amitriptilina, doxepina e imipramina, apresentam efeitos sedativos importantes em virtude do perfil anti- histamínico e anticolinérgico e pelo bloqueio dos receptores serotoninérgicos 5HT2A e 5HT2C. Os antidepressivos tricíclicos sedativos aumentam a latência do sono REM e reduzem a quantidade de sono REM, de sono de ondas lentas, do número e da duração dos despertares e da latência de sono. Trazodona: a trazodona possui efeitos sedativos determinados por suas ações anti-histaminérgica e agonista alfa adrenérgica alfa-1 e por efeito antagonista dos receptores 5TH2A e 5TH2C serotoninérgicos, levando também à redução da ansiedade sem efeitos anticolinérgicos. A trazodona melhora os sintomas subjetivos e os parâmetros polissonográficos objetivos, com aumento do tempo de sono, redução do tempo de vigília e redução da latência de sono. Hipotensão postural é um efeito colateral que ocorre mais comumente na terceira idade. Mirtazapina: a mirtazapina é um antagonista dos receptores 5TH2A e 5TH2C serotoninérgicos, bloqueador da recaptação da noradrenalina e anti- histamínico H1, com efeitos sedativos e ansiolíticos. Deve ser utilizada em doses de 15 mg/dia para a obtenção dos efeitos sedativos. Ganho de peso é um fator limitante da mirtazapina. Mianserina: é um inibidor fraco da recaptação da noradrenalina, cujo efeito sedativo ocorre pelo efeito anti- histamínico -1 e antagonismo dos receptores 5HT2A/2C. Deve ser utilizada em doses de 30 a 60 mg/dia. Inibidores da recaptação de serotonina, noradrenalina e dopamina: fluoxetina, sertralina, fluvoxamina, citalopram, excitalopram, paroxetina e inibidores duplos (serotonina e noradrenalina), venlafaxina, duloxetina e bupropiona não são primariamente indicados na insônia psicofisiológica por causarem fragmentação do sono e insônia. Transtorno comportamental de sono REM A primeira escolha para o tratamento do TCSREM primário é o clonazepam, que é extraordinariamente efetivo suprimindo a longo prazo os episódios de onirismo e os sonhos agitados em cerca de 90 a 95% dos casos, sem desenvolvimento de tolerância ou dependência. Curiosamente, a atividade eletromiográfica do mento não é suprimida totalmente, apenas os episódios de onirismo. Como segunda opção, quando o clonazepam ou outros benzodiazepínicos são contraindicados (i. e., doenças neurodegenerativas ou SAOS), usa-se a melatonina, os agonistas dopaminérgicos ou carbidopa/levodopa. Combinações de doses baixas de clonazepam, melatonina e pramixepole são efetivas e seguras. Outras drogas utilizadas são: clonidina, carbamazepina, gabapentina e bupropiona. O tratamento do TCSREM associado à síndrome de Parkinson, à demência de corpúsculos de Lewy e à atrofia de múltiplos sistemas é o mesmo que na forma idiopática da doença de Parkinson. A farmacoterapia deve ser complementada com medidas de segurança do ambiente de sono. Tratamento dos transtornos do despertar O tratamento deve incluir medidas de segurança no ambiente de sono, práticas de higiene de sono, hipnose, técnicas de relaxamento e psicoterapia antiestresse. As medicações utilizadas são: o benzodiazepínicos: clonazepam e diazepam,midazolam e oxazepam. O clonazepam é o agente mais usado com melhores resultados terapêuticos e excelente margem de segurança; o antidepressivos tricíclicos: imipramina, clomipramina, doxepina, amitriptilina e nortriptilina ou trazodona; o drogas antiepilépticas: carbamazepina Estimulantes para a sonolência excessiva O controle da sonolência diurna é importante para a melhora da qualidade de vida e a redução de riscos relacionados com condução de veículos e máquinas. Os agentes utilizados para sonolência excessiva são os estimulantes psicomotores do SNC. Lavine Santos SOI V As anfetaminas aumentam a neurotransmissão adrenérgica por aumento da liberação de dopamina das vesículas pré-sinápticas e pelo bloqueio da recaptação de dopamina e noradrenalina nos circuitos meso-córtico-límbico e locus ceruleus-córtex. Os efeitos colaterais simpático miméticos periféricos das anfetaminas são taquiarritmias, hipertensão arterial, tremor fino, sudorese e cefaleia, e as complicações psiquiátricas são ansiedade, agitação, irritabilidade, anorexia, psicose, alucinações e tiques. O metilfenidato atua de maneira semelhante às anfetaminas, com menores efeitos colaterais. Esse agente apresenta início de ação cm 2 horas e meia-vida de 3 a 5 horas, por vezes requerendo mais de uma dose ao dia; também existem apresentações de liberação lenta de 18 até 54 mg por dose, limitando o uso pa.ra uma vez ao dia. A modafinila é classificada como um estimulante atípico, porque atua de uma forma distinta dos estimulantes psicomotores tradicionais, aumentando a neurotransmissão noradrenérgica e dopaminérgica por inibição da proteína da recaptação da dopamina e da noradrenalina. Não causa efeitos autonômicos periféricos indesejados, agitação locomotora, tolerância e/ou dependência 14. Apresenta uma meia- vida mais longa (12 a 14 horas) do que os estimulantes tradicionais. Em geral, deve-se individualizar os horários e as dosagens das medicações estimulantes, sendo que as doses utilizadas variam entre 100 e 400 mg em uma única tomada matinal ou divididas em duas vezes. Tratamento da cataplexia, paralisia do sono e alucinações hipnagógicas Os antidepressivos noradrenérgicos e serotoninérgicos são eficientes no tratamento da cataplexia e dos fenômenos REM (paralisia do sono e alucinações hipnagógicas). Antidepressivos tricíclicos, como clomipramina (25-200 mg/dia), imipramina (10-100 mg/dia) e inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina, como venlafaxina (75-225 mg/dia), são clinicamente eficientes. O antidepressivo inibidor da recaptação de noradrenalina, reboxetina (2-10 mg/dia), é o agente mais eficiente no tratamentoda cataplexia. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina, como a fluoxetina (20-80 mg/ dia), a paroxetina (20-40 mg/dia) e a sertralina (50-150 mg/dia), são menos eficientes. Transtornos respiratórios do sono O tratamento clínico e cirúrgico da AOS é baseado nos índices de apneia e hipopneia (IAH), nos dados da oximetria e PaC02, no índice de despertares, na presença de sonolência excessiva mais intensa, na presença de comorbidades, como HAS, insuficiência cardíaca, doença coronariana, diabete e síndrome metabólica. Tratamento comportamental Algumas medidas são importantes, como evitar medicações e substâncias sedativas ou relaxantes musculares como BZD, fenobarbital, anti-histamínicos e álcool. A redução de peso resulta em efeitos positivos sobre os índices de apneia-hipopneia e dessaturação da oxiemoglobina e nos riscos cardiovasculares. Referência: Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (NEPTE-PUCRS) • Dormir apenas o tempo necessário para se sentir descansado. Se com 8 horas já se sente bem, evite dormir mais do que 8-9 horas, mesmo que não tenha compromisso no dia. • Crie uma rotina de acordar sempre no mesmo horário, independente se for fim de semana ou não e de ter tido insônia na noite anterior. Então, se o horário estabelecido for oito horas da manhã, policie-se para sempre acordar neste horário, mesmo que tenha dormido pouco por conta de insônia na noite anterior (p.ex. 4 horas). Você pode passar o dia com sono, mas isso vai ajudá-lo a regular seu ciclo circadiano (ciclo do sono). • Se você tem insônia à noite, recomenda-se evitar tirar qualquer forma de cochilo ao longo do dia. Depois que o sono estiver normal, não há problemas tirar pequenos cochilos. • A prática regular de exercícios ajuda a regular o ciclo circadiano. Contudo, é importante que esses exercícios sejam feitos em horários distantes da hora de dormir. Evite fazer exercícios 4 horas ou menos antes de dormir. O melhor horário para a prática dos exercícios é pela manhã. Lavine Santos SOI V • Mesmo que você não repare diretamente, dormir em ambientes barulhentos diminui a qualidade do sono e pode levar a insônia. Se certifique de que o lugar em que você dorme não tem muitos barulhos. Se o lugar em que dorme for barulhento, recomenda-se comprar um “tapa-ouvidos”. • Fazer um lanche leve antes da hora de dormir costuma a ajudar muitas pessoas a dormir. • Tomar um banho quente antes de dormir. • Evitar ingerir qualquer tipo de estimulantes depois das 18 horas. Estimulantes mais comuns são: café, coca cola, guaraná, chimarrão e alguns tipos de chá. • Evitar fazer atividades muito estimulantes na hora antes de dormir (p.ex. ver filmes de ação, games no computador/online) • Preferencialmente usar a cama apenas como lugar para dormir (evite trabalhar ou assistir televisão na cama). • Antes de dormir, faça alguma forma de relaxamento (p.ex. respiração). • Caso você tenha ido para a cama e não tenha conseguido dormir em 20 minutos, é melhor sair da cama e dar uma volta antes de tentar novamente (pode ler por alguns minutos, assistir um pouco de TV, etc.). • Se tiver tentado dormir por duas vezes sem sucesso, recomenda-se que vá para a cama e fique lá sem tentar dormir por 20 minutos. Se acabar dormindo, não tem problema, mas a ideia é ir para a cama sem o objetivo de dormir. (Referência: A automedicação entre profissionais de saúde – Revista Mineira) O uso de medicamentos para o benefício próprio e sem a devida prescrição é chamado automedicação. Nessas circunstâncias, o indivíduo não procura ajuda médica para solucionar aquilo que julga ser um problema de saúde, recorrendo a conselhos dos vizinhos, amigos ou familiares; consumindo sobras de antigos medicamentos que foram guardados; usando as suas prescrições ou de outras pessoas para comprar o mesmo fármaco, que em algum momento no passado foi efetivo. Mesmo que muitas vezes essa prática proporcione o alívio dos sintomas, efeitos indesejáveis podem ser experimentados, como enfermidades iatrogênicas, mascaramento de doenças evolutivas, intoxicações, reações adversas, interações medicamentosas, desenvolvimento de resistência e reações alérgicas. A automedicação minimiza os sinais e sintomas, mas por vezes não soluciona propriamente o problema e adiciona o risco de piora. Não é difícil observar no cotidiano a naturalidade com que a automedicação está inserida na vida das pessoas, cultuando a ideia de ser um benefício em qualquer circunstância. Além disso, a aceleração da vida contemporânea tem estimulado as pessoas a desejarem soluções imediatas para os males que as perturbam. A saúde passa, então, a ser mais um bem de consumo que pode ser adquirido por meio dos fármacos. Os profissionais da saúde encontram-se expostos a riscos biológicos, ergonômicos e psicossociais, por isso são mais suscetíveis à manifestação ou instalação de determinadas doenças em função do labor, o que também contribui para a necessidade de aliviar sintomas por meio da auto medicação. Entre trabalhadores da saúde têm sido relatado dores lombares, em membros inferiores, estresse, mudança de humor, transtornos do sono, varizes, entre outros. Os trabalhadores da saúde detêm conhecimento e acesso aos medicamentos disponíveis e passam a representar um grupo de destaque no que se refere à prática da automedicação.
Compartilhar