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FREIRE, José Ribamar Bessa. Cinco ideias equivocadas sobre os índios. O saber construído a partir de nós. Caderno CENESCH. 2009. Camile C. de Carvalho É muito importante entendermos as ideias equivocadas referentes aos índios para assim, entendermos a história do Brasil, uma vez que, sem esse conhecimento não é possível compreender o Brasil na sua conjuntura atual . Contudo, entender as sociedades indígenas não se trata apenas de conhecer o outro, o diferente, essa compreensão implica indagações sobre a própria sociedade que se vive. É necessário atentar-se ao fato de que, as ideias equivocadas não são apenas o único "fardo" a ser carregado, tal fato é reflexo do pouco que foi feito para procurar entender esse tema importante que pouco se produz conhecimento e resulta na deformação na imagem do índio, na escola, na televisão, nos jornais em toda a sociedade brasileira. Nesse sentido, cabe então refletir, por que os cursos não possuem a disciplina de história indigena em seus currículos? Por muito tempo, a justificativa das academias era de que não se tinha documentos escritos sobre a história indigena. A USP tentou verificar se isso era verdade, a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha elaborou um projeto de âmbito nacional, dirigido pelo historiador John Monteiro, num trabalho muito paciente de quase 2 anos, e assim, encontraram milhares de documentos a respeito dos índios em todo país. Segundo o autor, com essas pesquisas, encontrou-se vários documentos sobre os índios em todo o território nacional, desde 1500 até os dias de hoje, mas sem sombras de dúvidas o que mais interessava era o Rio de janeiro, onde verificou-se que até o século XX, existiam ainda grupos resistindo. Dessa maneira, a primeira ideia equivocada que se tem sobre os índios, é que eles constituem um único bloco, compartilhando os meus costumes, crenças, culturas e a mesma língua, reduzindo ao senso comum que, "índio é tudo igual", o índio genérico. São essas ideias equivocadas que reduzem culturas diferentes a entidades supre étnicas, são mais de 200 etnias, falando 180 línguas diferentes que vivem no Brasil, cada uma possui sua história e dinâmicas próprias. O segundo equívoco é, considerar as culturas indígenas como atrasadas e primitivas, a verdade é que as culturas indígenas não são atrasadas e nem primitivas como durante se pensaram os colonizadores, que consideravam a língua indigena inferiores, pobres e atrasadas, do ponto de vista linguístico não existe língua pobre ou língua rica, o que realmente existe são falantes, formando estruturas sociais e ocupando posições privilegiadas sustento a ideia de que são superiores. Contudo, não foram apenas a cultura e a língua que foram consideradas como atrasadas, a religião indigena também foi alvo do catolicismo guerreiro, vistas como superstições. O processo colonial em conjunto com a catequese fizeram de tudo para acabar com a cultura indigena. Nesse processo de dominação e conquista, as ciências indígenas também são desvalorizadas, o conhecimento indigena são desprezados e ridicularizados, como negação da ciência e da objetividade. O terceiro equívoco na perspectiva do autor, é o congelamento das culturas indígenas, a visão do povo brasileiro de um índio nu ou de tanga no meio da floresta de arco e flecha, e quando não se enquadra nessa generalização é considerado um não índio. O quarto equívoco, está em achar que os índios fazem apenas parte do passado do Brasil, consequência do colonialismo que taxou primitivas às sociedades indígenas, em consonância obstáculo à modernidade e ao progresso. Os índios não apenas fazem parte do passado brasileiro como também estão inseridos na modernidade, não podem ser considerados primitivos apenas por não viverem o paradigma ocidental. O quinto equívoco e não menos importante, pode ser considerado retrato do quarto equívoco, é não considerar a existência indigena na identidade brasileira. Devido os europeus dominarem politicamente e militarmente os demais povos a tendência que foi construída é considerarem apenas como vencedores a matriz europeia, ignorando as culturas africanas e indígenas, empobrecendo o brasil ao apresentarem apenas uma parte dele. Dessa forma, os portugueses e posteriormente os brasileiros durante 5 séculos acreditaram que os índios eram seres atrasados e apenas a matriz europeia representava a civilização, portugueses e brasileiros passaram a acreditar que a obrigação deles era civilizá-los. Nesse processo, muitas etnias foram massacradas e os índios colocados como pertencentes de um passado incômodo e distante do país. Essa situação apenas foi modificada a partir da constituição brasileira de 1988. A partir de um esforço dos índios e apoiadores em busca de um reconhecimento sobre a existência indigena no território brasileiro, por muito tempo e ainda hoje é repassado um índio generalizado, e não o índio que convive conosco, pessoas humanas de carne e osso, assim, como eu e você. Portanto, é preciso buscar construir novos significados, novas realidades e uma interculturalidade pautada em construir novas realidades sem abandonar suas próprias tradições. É necessário abandonar a ignorância e reforçar o conhecimento indigena na sociedade, é preciso reconhecer os saberes indígenas, a ciência, artes refinadas, literaturas, poesias, músicas e religiões como pertencentes da nossa sociedade e da história do Brasil.