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1 Bibliografia: João Benedito Conceito • Etimologia: ausência de menstruação. É a ausência da menstruação em uma época da vida em que deveria ocorrer habitualmente, isto é, no menacme. Este último é o período que vai da menarca até a menopausa. Não é o período fértil da mulher, porque imediatamente após a menarca e antes da menopausa, a mulher tem uma queda de fertilidade. • Prevalência = 3-4% apresentam amenorreia como um quadro patológico. • Menarca no Brasil = 12,2 anos, nos EUA = 12,8 anos Antigamente era o oposto, mas em virtude da melhor qualidade de vida das mulheres americanas, do ponto de vista nutricional, elas têm uma menarca um pouco mais próxima da dos países tropicais. Talvez a glândula pineal, nos países tropicais, influencie na menarca nas mulheres de países mais ensolarados. Nos países nórdicos, a idade da menarca também vem se aproximando da idade dos países tropicais. Classificação Há várias formas de se classificar a amenorreia suscintamente temos: • Amenorreia primária: a da mulher que nunca menstruou. Habitualmente sendo caracterizada após os 13 ou 14 anos de idade, associada à ausência de caracteres sexuais secundários, ou após os 15-16 anos, independentemente da presença ou não destes caracteres. • Amenorreia secundária: é a ausência de menstruações no período igual ou superior a três ciclos consecutivos em mulheres que já tiveram anteriormente, pelo menos um ciclo espontâneo. Ou mulheres que apresentam menos de 9 menstruações por ano. Outras formas de classificação • Amenorreia fisiológica: períodos da vida da mulher que normalmente elas não menstruariam, ou seja, antes da menarca, após menopausa, durante gravidez e amamentação. • Amenorreia patológica: representa distúrbio da cadeia neuroendócrina ou do sistema canalicular que origina e exterioriza a menstruação. Também resulta do comprometimento da economia por doenças sistêmicas de outras glândulas (tireoide, suprarrenais) ou iatrogênicas. Classificação de acordo com a topografia do eixo gonadal • Causas hipotalâmicas, hipofisárias, gonadais, canaliculares. Amenorreia falsa ou verdadeira • Amenorreia falsa ou criptomenorreia é apenas a falta de exteriorização do sangramento menstrual. O fluxo não se torna evidente por um obstáculo a seu escoamento. São causas congênitas (agenesia de vagina ou do colo uterino, septo vaginal transverso etc.) ou adquiridas (sinéquias cervicais ou vaginais). Anamnese Na amenorreia, temos que avaliar, durante uma anamnese e exame físico, todas essas queixas: • Dor progressiva cíclica, como baixo ventre, após aparecimento dos caracteres secundários, sem menstruação. Tal dado poderá sugerir obstrução ao fluxo (criptomenorreia) • Desenvolvimento das mamas e dos caracteres sexuais secundários: pesquisar alteração do ponto de vista genético. o Ausentes: infantilismo sexual; nos indicará ausência de função ovariana, portanto, hipogonadismo. o Compatíveis com o sexo ou não: CS2+, heterossexual. • Massas regionais inguinais: pode corresponder a gônadas ectópicas. Síndrome de Morris? • Desenvolvimento pôndero-estatural: Síndrome de Turner, Deficiência de GH • Distúrbios nutricionais e alimentares • Estado psicológico, emocional e vivencial • História familiar, ocorrência de outros casos e suas evoluções • Sinais de hiperandrogenismo • Anomalias dos órgãos genitais externos e presença de massas inguinais 2 • Retardo ou anormalidade do crescimento corporal. • Estigmas genéticos Na amenorreia secundária, valorizar: • Tipo menstrual da mulher: TM seriam quatro números em uma fração. o Primeiro número: idade da menarca o Segundo número: quantidade de dias que a mulher permanece menstruada o Terceiro número: periodicidade do ciclo da mulher. o Embaixo dos três números, diz o volume sanguíneo por menstruação. o Exemplo: tipo menstrual “12/3 a 4/28 a 30”. Embaixo desses três números, teríamos o denominador, que seria o volume de sangue menstrual. A média seria 30 ml por ciclo menstrual. Acima de 80 ml, classificamos como HUD. • Uso anterior de drogas e/ou medicamentos (hormônios, psicotrópicos, anabolizantes), radioterapia, quimioterapia. • Exercício físico excessivo, preocupação demasiada com a estética corporal. • Situação emocional, conjugal, familiar social: separação abandono, desemprego, instabilidade financeira. • Abortamento e procedimentos anticonceptivos com manipulação intrauterina • Hemorragia intraparto, amamentação ou não • Operações e procedimentos ginecológicos prévios: cauterizações, curetagens, histeroscopias, miomectomias, complicações. • Descarga papilar láctea ou serosa, uni ou bilateral, espontânea ou à expressão • Sinais de hiperandrogenismo: pele oleosa, acne, hirsutismo. • Sinais de falência ovariana: fogachos, distúrbios menstruais, dispareunia e sintomas neuropsíquicos. • Fadiga, febre, queda de estado geral, calafrios noturnos, associados a contato com portadores de doenças orgânicas importantes, como tuberculose. Exame físico • Lembrar de verificar: anomalias dos genitais e presença de nódulos nas regiões ínguino-crurais. Observar os caracteres sexuais secundários e a presença ou não de pelos axilares e pubianos. Avaliar a cronologia do desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários. Presença de estigmas nas suspeitas de disgenesias gonadais. Critérios de Marshall e Tanner Quando avaliamos uma mulher com amenorreia, precisamos classificar em qual estágio se encontra a telarca. Da mesma forma, temos que avaliar em que estágio se encontra o desenvolvimento da pubarca. Para que haja um desenvolvimento normal da mulher na adolescência, começa-se com crescimento ponderal como um todo. Portanto, é necessário que ela atinja um peso e uma estatura ideal. Só então que o organismo libera, respectivamente, telarca, pubarca e menarca. • Na amenorreia primária: o Peso, estatura, envergadura, medida superior (pubo-vértice) e medida inferior (pubo-pé) (hipogonadismo) o Estigmas de Turner (disgenesias gonadais) o Massas inguinais (Testículos?) o Genitália externa e interna (estados intersexuais, hiperplasia adrenal, anomalias congênitas) o Discrepância entre idade cronológica e desenvolvimento corporal (infantilismo) • Na amenorreia secundária: o Estado nutricional e ponderal (obesidade, desnutrição, anorexia, diabetes, disfunção tireoidiana). Avaliação do índice de massa corporal (IMC) o Hirsutismo, acne, estrias, acantose: desfeminização, virilização, tumores virilizantes de ovários ou suprarrenais, alterações suprarrenais. o Galactorreia: iatrogenia, hiperprolactinemia funcional ou adenoma hipofisário. 3 o Genitália externa e interna: anomalias, iatrogenias. o Trofismo da pele da vulva e volume uterino e ovariano: níveis estrogênicos. Exames complementares Devem ser seletivamente indicados: • Radiografia de punho e mão: saber se a mulher apresenta um crescimento ósseo compatível com a idade cronológica. Avaliar idade óssea e índice de Pyle. • Colpocitologia: Índice de Frost, indica se existe a presença de estrogênio ou não. • Glicemia: DM, SOP, hipertecose ovariana. • Ultrassonografia pélvica: útero e ovários. • Dosagem de FSH e estrogênio: hipopituitarismo, hipogonadismo. • Dosagem de FSH/LH e PRL: SOP, hiperprolactinemia funcional, prolactinoma. • Cromatina sexual e sobretudo nos casos em que esta se apresente percentualmente baixa (mosaico?) ou ausente (XO, XY?), cariótipo (disgenesias, anomalias genéticas). • Radiografia da sela túrcica (?), tomografia ou RNM: agenesia, degeneração, tumores. • Ultrassonografia de abdômen (suprarrenal) e transvaginal. • Dosagem de T (total e livre), 17 OH-P, S-DHEA: hiperfunção/tumor de ovário e suprarrenal. • Dosagem de TSH ultrassensívele T4 livre: hipertireoidismo ou hipotireoidismo. Diagnóstico Chegando uma paciente com amenorreia, sem diagnóstico dado pela anamnese e exame físico, começa- se a investigação laboratorial e de imagens. O primeiro exame solicitado é o TSH. Quando temos um aumento de TSH, principalmente no hipotireoidismo, este hormônio estimula a produção de prolactina. Todos os nossos hormônios hipofisários são produzidos através de estímulos, com exceção da prolactina. Esta última está baixa em todos nós, por causa do fator inibidor da prolactina. Toda vez que encontramos um aumento de TSH, ele é capaz de estimular a produção de prolactina, a qual vai fazer com que haja um bloqueio da produção de FSH e LH. A prolactina só deveria estar elevada durante a amamentação. Investigação e diagnóstico da hiperprolactinemia ou síndrome hiperprolactinêmica • Raio X, tomografia, ressonância. o Hoje em dia, não se faz mais raio X da sela túrcica, porque o valor de normalidade do laudo do raio-X dessa região é muito variado. Nós podemos encontrar, dentro da sela túrcica com valor normal à radiografia, microadenomas que seriam responsáveis pela produção de uma prolactina. ▪ Microadenoma: tumor hipofisário que mede menos de 10 mm ou 1 cm. ▪ Macroadenoma: é maior que 10 mm ou 1 cm e vai alterar o tamanho da sela túrcica, do ponto de vista radiológico. Não interessa para nós darmos diagnóstico de macroadenomas, porque eles já deformam a sela túrcica e já podem estar comprometendo outros locais. Um exemplo é a compressão do quiasma óptico na mulher com lesões nessa região, o que traduz alterações de campimetria visual. PRL- regulação do eixo A prolactina sofre influência de diversos fatores. A presença de prolactina normal na mulher significa que ela 4 tem uma estrutura neuroendócrina sadia. Então, é importante lembrar que tudo isso interfere na produção para mais ou para menos. Etiologia da Sd. hiperprolactinêmica • Causas idiopáticas: afastando as fisiológicas, é a mais frequente. Tumor hipofisário é a causa mais importante, mas não é a mais prevalente. • Causas fisiológicas: gravidez, lactação, recém- nascido, sono, coito, exercício físico, estresse, primeiras 2 horas pós-prandiais, estímulo dos mamilos. • Causas farmacológicas o Antagonistas dopaminérgicos: fenotiazinas (clorpromazina, butirofenonas (haloperidol), benzaminas (hemtoclopramida, sulprida, veraliprida). o Drogas depletoras da dopamina: alfa- metildopa, reserpina. o Drogas que atuam por meio de mecanismos não dopaminérgicos: estrogênios, progestagênios, antidepressivos tricíclicos (inibidores da MAO), opiáceos, cocaína, TRH. Todas essas drogas interferem na hiperprolactinemia. Então, um psiquiatra tem que se lembrar das medicações que ele faz uso, e vai ver que as mulheres que usam antagonistas dopaminérgicos podem ter hiperprolactinemia, que altera o ciclo menstrual. Da mesma forma, cardiologistas também tem que preocupar com a vida sexual das suas pacientes. • Causas patológicas o Tumores hipofisários: prolactinomas, acromegalia, síndrome da sela vazia, secção da haste hipofisária, tumores não secretores, angiossarcoma. o Lesões hipotalâmicas: histiocitose, sarcoidose, granuloma eosinófilo, tumores (craniofaringiomas, meningeomas, disgerminomas), radioterapia. o Produção ectópica por tumores: carcinoma broncogênico, hipernefroma. o Doenças endocrinometabólicas: hipotireoidismo, doença de Addison, hiperplasia adrenal, insuficiência renal crônica, Síndrome de Nelson, hepatopatia crônica. o Doenças e lesões irritativas da parede torácica: herpes zoster, mastectomias, toracotomias, mastoplastias, dermatite atópica, queimaduras. A seguir, observar sela túrcica, que passa no osso esfenoide, muito próxima ao quiasma óptico. Mulheres que sofrem mastectomia ou até mamoplastia poderão ter um reflexo neuroendócrino, estimulando a hipófise a produzir prolactina. Uma queimadura torácica poderá sugerir para a mulher que ela está em amamentação. Tratamento clínico • Agonistas dopaminérgicos o Bromocriptina: dose média de 7,5 mg/dia (durante as refeições), iniciar com 1,25 mg/dia. É o usado no dia a dia. Inicia com doses pequenas por causa dos efeitos colaterais. o Lisurida: 0,1 – 0,2 mg/dia (após as refeições). Não tem no Brasil. • Afinidade pelo receptor da dopamina o Cabergolina: 0,5 a 3,0 mg/2x/semanas. É a preferência hoje em dia, porque tem menos efeitos colaterais, porém é muito mais cara. Efeitos colaterais: cefaleia, hipotensão ostostática, náuseas e vômitos, alucinação (< 1%), fadiga, cólica abdominal, congestão nasal, depressão, tontura. Tratamento cirúrgico • Ressecção transfenoidal seletiva o Sequelas: diabetes insipidus, fístulas do líquido cérebro-raquidiano, PAN- hipopituitarismo. 5 o Recorrência: 10-80% • Radioterapia: pode substituir também o tratamento cirúrgico, as pode levar às mesmas sequelas. O tempo de tratamento da hiperprolactinemia é ad eternum, ou seja, para toda a vida. No entanto, se a mulher engravida, suspende-se esses medicamentos. Lembre-se que, a partir do momento que a mulher faz uso dos remédios, a prolactina cai e há liberação de GnRH, FSH, LH, ela passa a ovular e, se ela não deseja engravidar, temos que associar ao tratamento clínico um método contraceptivo. Muitas vezes as mulheres não conseguem engravidar e descobrem que é por hiperprolactinemia. Investigação na presença de PRL em níveis normais • Teste da progesterona: administra-se um progestagênio – progesterona sintética. Como faz o teste da progesterona? Apesar de encontrarmos muitos falsos positivos e negativos, é importante que esse teste seja feito. Então normalmente utilizaremos o AMP (acetato de medroxiprogesterona), já apresentado na aula anterior. Esse AMP é usado 10 mg/dia durante 5 dias. Após finalizar a medicação, no máximo com 7 dias, a mulher sangra, ou seja, o teste foi positivo (não interessa que sejam apenas algumas gotas de sangue, é considerado positivo). Por que a mulher sangrou? A progesterona só age no endométrio se ele tiver sido previamente estimulado pelo estrogênio. Então, se esta mulher sangrou, significa que ela tinha estrogênio. Isso nos dará o diagnóstico de anovulação, então teremos que tratar com indução de ovulação. No entanto, se, ao fazer o teste da progesterona e, passados os 7 dias, a mulher não menstruar, é preciso investigar se ela não tem estrogênio. Então, o que se faz é o teste estroprogestativo, que consiste em dar um contraceptivo hormonal oral combinado. Esta mulher, durante 21 dias, vai fazer uso desse contraceptivo, suspenderá e, com sete dias, ela deveria menstruar. Se isso não ocorrer, daremos o diagnóstico de uma insuficiência do trato excretor (será falado mais adiante). Se, ao suspender o contraceptivo, a mulher menstrua, o teste é positivo, então, faz-se artificialmente o que o organismo dela deveria fazer, que é a produção de progesterona e estrogênio. Então, temos que saber porque o ovário dela não produz estrogênio. Será que a causa é hipofisária? Então, solicita o FSH, alguns autores associam LH também. Se a dosagem vir altíssima significa que, pela retroalimentação positiva, há uma insuficiência gonadal, ou seja, a hipófise está estimulando a gônada, ao produzir altíssimas dosagens de FSH e LH. Se as mulheres não menstruam, significa uma insuficiência gonadal, que será citada mais adiante. No entanto, se as dosagens de FSH e LH vierem baixas, temos sempre que lembrar da aula de ciclo menstrual – retroalimentação ou feedback. Deve-se identificar se a causa é na hipófise ou se é hipotalâmica. Assim, pode-se solicitar o GnRH que, se baixo, a causa é hipotalâmica, se alto, a causa é hipofisária. Do ponto de vista prático, não fazemos o testedo GnRH, porque é um teste muito oneroso e nós, através de uma imagem da sela túrcica ou de uma RNM ou TC do crânio, poderemos afastar uma causa tumoral, quer hipotalâmica, quer hipofisária. No entanto, a própria clínica é capaz de fazer essa diferenciação. Diagnóstico da insuficiência ovariana prematura Consiste em uma insuficiência ovariana antes dos 40 anos, levando a uma menopausa precoce. Deve-se solicitar o cariótipo em todas as mulheres nessa situação, 6 mesmo que ela já tenha gestado e tendo vários filhos, pois isso não é normal. Se tiver um mosaicismo, com a presença de um cromossoma Y, esta mulher deverá ser castrada (retirada das gônadas), porque a presença de um cromossoma Y dentro de uma gônada poderá levar a uma malignização, então é uma prevenção de um câncer de gônada. Poderemos também investigar outras situações, que são mais raras. • Cariótipo cálcio, fósforo, cortisol matinal, T4 livre, TSH, anticorpos tireoidianos, hemograma e velocidade de sedimentação, proteínas totais, relação albumina/globulina, fator reumatoide, anticorpo antinúcleo. Classificação etiológica da amenorreia • Compartimento I: distúrbios do trato excretor. • Compartimento II: distúrbios gonadais. • Compartimento III: distúrbios hipofisários. • Compartimento IV: distúrbios hipotalâmicos. Compartimento I 1. Anomalias Mullerianas: agenesia uterina, cavidade uterina ausente, agenesia endometrial, síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser, septo vaginal transverso, hímen imperfurado. Se um óvulo X é fecundado por um espermatozoide Y, teremos um embrião XY, caracterizando o conceito de sexo genético. O embrião XY tem um gene chamado SRY, que levará ao desenvolvimento dos testículos. O testículo será então o sexo gonadal. Esse testículo começa a secreção de um hormônio chamado HAN – hormônio anti-mulleriano. Como o próprio nome diz, ele inibe o ducto de Muller, que iria dar origem aos caracteres sexuais femininos. Como esse HAN inibe o ducto de Muller, a testosterona estimula o ducto de Wolff, levando às características sexuais masculinas. Isso é o que denominamos de sexo fenotípico. Se o óvulo X for fecundado por um espermatozoide X, teremos um embrião XX. Esta gônada primitiva, por não ter o SRY, ela não vai desenvolver o testículo. Então o ovário tem um desenvolvimento passivo, ou seja, se não existir SRY, nós vamos ter o desenvolvimento de um ovário duas semanas depois que iria haver o desenvolvimento do testículo. Isso é o que chamamos de sexo gonadal – presença do ovário. A gônada primitiva poderá ser desenvolvida tanto como testículo quanto como ovário. Sob a ação do SRY, essa gônada se desenvolve do centro da glândula para a periferia, é um crescimento centrífugo. No entanto, se não existe o SRY, a gônada primitiva tem um crescimento de fora para dentro, ou seja, um crescimento centrípeto. Isso é básico, inclusive, para entender o câncer de ovário. Como não existe a produção do HAN, o ducto de Wolff regride passivamente, e o de Muller evolui passivamente. O ducto de Muller dará origem a todos esses órgãos genitais femininos. Abaixo, formação da vagina. Observa-se que apenas a sua porção inferior provém do seio urogenital. Os 2/3 superiores vêm do ducto de Muller. A seguir, cortes longitudinais do feto, mostrando a evolução do útero e vagina com septação e separação da porção urinária da genital. Agenesia vaginal e uterina 7 Poderá ser uma agenesia só de vagina, ou de vagina + útero. A mulher com essa síndrome de Rokitansky poderá ter o útero presente em 2 a 7% dos casos. Então, o mais comum é encontrar a agenesia total. As meninas ficam sem menstruar, mas todos os meses têm uma dor intensa e a barriga cresce cada vez mais. Elas têm o útero presente, mas não conseguem liberar o fluxo menstrual, porque elas têm agenesia vaginal – criptomenorreia. Há, portanto, um aumento de sangue menstrual dentro do útero, e chegará um momento em que o órgão não sustentará mais esse hematométrio. Assim, o sangue passará para as tubas (hematosalpinge), que complica com hemoperitôneo e operação de urgência por peritonite química. Hoje em dia, tenta-se fazer um tratamento clínico em mulheres que não tenham útero. Então, é fundamental saber se essas mulheres têm útero ou não. No caso das mulheres com agenesia total, espera-se que ela tenha interesse de começar a sua vida sexual, para se fazer um método denominado de Frank Walbrek. • Método de Frank Walbrek: faz um molde para forçar essa área, que é uma vagina com tecido conjuntivo frouxo. O molde iria, constantemente, 10 minutos por dia, forçando a formar uma cavidade compatível com o coito. Hoje em dia, as mulheres não aceitam muito bem esse método de forçar um trajeto com um molde de vidro ou de madeira para que se possa ter coitos. Assim, optamos pelo uso de vibradores (leva 3 semanas). “Essa mulher consegue ter orgasmos maravilhosos!!!!!” Hímen imperfurado O próprio exame ginecológico vai mostrar o hímen imperfurado com muito sangue translúcido, devido ao sangue acumulado na vagina. A cirurgia resolve. 2. Síndrome de Asherman Ocorre após curetagem uterina muito abrasiva, em que se retira a camada basal do endométrio, assim, a mulher deixa de menstruar. Faz histerosalpingografia, com administração de contraste na cavidade uterina. O resultado são áreas negativas, que se mostram comprometidas pela curetagem. 8 Faz histeroscopia e, com ela, visualiza as sinéquias e faz desbridamento delas. Por fim, introduz DIU para afastar as duas faces do endométrio, a fim de evitar formação de nova sinéquia, bem como se administra estrogênio em alta dosagem – o estradiol promove mitoses. Em três meses, retira DIU. A mulher voltará a gestar. 3. Ginatresias adquiridas: uso de cáusticos, tuberculose, esquistossomose, infecções por DIU e DIP. 4. Outras patologias: miomas uterinos, pólipos endometriais, câncer de colo uterino, câncer de endométrio, sequela de eletro ou criocauterização do colo uterino. Compartimento II 1. Agenesia gonadal: poderá ser levada por doenças virais, contaminação ambiental e doenças metabólicas na gestação. 2. Síndrome do ovário resistente: doença autoimune, em que o ovário não tem receptores para FSH e LH. A laparoscopia com biópsia e estudo histoquímico confirma. 3. Insuficiência ovariana prematura: menopausa precoce. • Prevalência: 1% • Afecção genética • 50% das amenorreias primárias • 12% das amenorreias secundárias 4. Radioterapia ou quimioterapia 5. Disgenesias gonadais (DGI) • Gônado-somáticas ou Síndrome de Turner ou variantes (DGS): incidência = 1/2130 nativivas. • Puras (DGP) • Mistas ou assimétricas (DGM) Entre as disgenesias gonadais, a principal é a síndrome de Turner. O diagnóstico pode ser dado desde a 12ª semana intraútero, com translucência nucal e investigação do osso nasal dos fetos. Durante a gestação, acompanha-se um linfedema de todas as pacientes com síndrome de Turner, as quais podem ter mais de 60 estigmas genéticos. O estigma mais frequente é a baixa estatura. 6. Pseudo-hermafroditismo feminino (PHF) • Hiperandrogenismo fetal: a criança já nasce com a deficiência enzimática. o Hiperplasias congênitas das adrenais (deficiências enzimáticas de 21- hidroxilase, 11-hidroxilase e 3- hidroxiesteróidodesidrogenase). o Neoplasias virilizantes do recém-nascido • Hiperandrogenismo materno o Tumor masculinizante ovariano ou adrenal o Ingestão de substâncias androgênicas pela mãe (iatrogenia) • Virilização transitória da gravidez (insuficiência de aromatase placentária) 9 • Idiopático: maioria dos casos. 7. Pseudo-hermafroditismo masculino (PHM) • Defeitos da função testicular o Insensibilidade das células de Leydig ao HCG o Deficiência da síntesede testosterona por deficiência enzimática (ocorrem também na adrenal, com exceção da 17 (OL-D): 20- 22 desmolase ou P450 SCC ▪ 3-hidroxiesteróidodesidrogenase ▪ 17-hidroxilase ou P450c 17 ▪ 17-20 desmolase ▪ 17-hidroxiesteróide desidrogenase (17 (OL-D)) • Anormalidades da síntese e/ou ação do fator inibidor dos ductos de Muller: síndrome da hérnia útero-inguinal no homem. • Defeitos na função dos tecidos-alvo da ação androgênica: feminização testicular o Insensibilidade dos receptores de testosterona (síndrome de Morris), parcial. o Deficiência da enzima 5 a-redutase, com insuficiente transformação da testosterona em diidrotestostetona (hipospádia períneo-escrotal pseudovaginal). o Síndrome de Swyer: sistema Muller palpável, testosterona com níveis femininos normais e falta de desenvolvimento sexual. Síndrome de Morris é o mais frequente. A mulher tem como sexo genético XY, como sexo gonadal, testículos, e como sexo hormonal, também masculino, porque os testículos produzem testosterona. No entanto, o quarto sexo (sexo fenotípico) é feminino, porque a mulher não tem receptores androgênicos, ela tem uma produção de testosterona normal como qualquer homem, o problema é que ela não é utilizada, sofre aromatização, e transforma androgênios em estrogênios. Ela nasce, e o sexo legal, que é o quinto conceito de sexo, é feminino. Ela tem vagina e vulva, mas a vagina é curta (lembrar que o terço distal da vagina vem do ducto urogenital, e não do ducto de Muller inibido pelo gene SRY). Ela não tem útero nem trompas, mas tem o fenótipo de genitália feminina. Na adolescência, os androgênios sofrem aromatização e se transformam em estrogênio. Por isso elas vão ter mamas femininas e fenótipo feminino. Por ter o Y, ela tem uma estatura maior do que as outras mulheres. Tem dois outros problemas além desse crescimento ponderal, elas não têm pubarca nem axilarca, porque elas não têm di-hidrotestosterona. Lembre-se que a testosterona não tem efeito nos receptores, quem faz o efeito é a di-hidrotestosterona. A testosterona entra no folículo piloso, sofre ação da 5-alfa-redutase e se transforma em di-hidrotestosterona, com a função de formar os caracteres sexuais secundários masculinos. As duas enzimas fundamentais para entender a síndrome de Mollis são: aromatase e 5-alfa-redutase. Além do mais, vamos encontrar a presença de tumorações, que muitos acham que seria uma hérnia inguinal, mas nada mais são do que um testículo criptorquídico, que tem que ser retirado quando a mulher atinge de 18 a 21 anos. Todo testículo que não esteja em sua bolsa escrotal e não tenha sua função completamente realizada tende a se malignizar. O sexto sexo é o feminino, ela foi criada como mulher e quer ser uma mulher. É o sexo social. Devemos abordar com muito cuidado, pois é uma das entidades que mais leva ao suicídio. “Para a mulher, não chama de testículo, chama de ovário. Fala que precisa ser retirado para não malignizar.” Compartimento III 1. Câncer hipofisário 2. Tumores neurológicos: craniofaringiomas, glicomas, tumores metastáticos e cordomas. 3. Acromegalia 4. Doença de Cushing 5. Adenoma hipofisário 10 6. Gomas, tuberculomas, depósito de gordura 7. Aneurisma da artéria carótida interna 8. Obstrução do aqueduto de Sylvius 9. Síndromes genéticas (Laurence-Moon-Bieol e de Prader – Willi) 10. Síndrome de Sheehan: é o que mais interessa na ginecologia. A hipófise é um órgão que cresce muito durante a gestação, no entanto, não é acompanhado de um crescimento da vascularização. Então, as mulheres que têm hemorragia muito importante durante o quarto período do parto, elas têm que fazer hemotransfusão, a fim de evitar isquemias e necroses da glândula hipófise. Normalmente, a primeira área que sofre é a produtora de prolactina. As mulheres se queixam que não conseguem amamentar. Se a hemorragia for mais importante, a hipófise, além da agalactia, vai ser comprometida na área produtora de LH e FSH, cursando com amenorreia. Sendo mais agressiva, afeta área produtora do TSH, levando ao hipotireoidismo. Se a hipófise for toda destruída, também haverá insuficiência adrenal. O ginecologista faz reposição hormonal feminina e o endocrinologista faz o restante. 11. Síndrome de sela vazia (PRL aumentada) Deficiência congênita do diafragma da sela, permitindo uma extensão do espaço subaracnóideo para dentro da fossa hipofisária, também: hipertensão liquórica, cirurgia, RTP, infarto de tumor hipofisário. Compartimento IV 1. Amenorreia hipotalâmica: o estresse psicológico leva ao aumento do CRH, com consequente elevação do cortisol e redução da secreção opiácea endógena. Isso reduz a frequência dopaminérgica dos pulsos do GnRH, o que leva à alteração no estímulo de FSH e LH. É comum as mulheres apresentarem amenorreia pelo excesso de estresse. 2. Anorexia e bulimia: síndrome de Wilgeforts – anorexia nervosa. 3. Perda de peso: perda de proteínas, principal constituinte dos hormônios hipofisários. 4. Exercícios físicos: perda de gordura corporal, dispêndio de energia, estresse, anabolizantes. • ↓ FSH e LH, ↑ PRL, ↑ ACTH, ↑ GH, testosterona, ↑ endorfinas, ↓ T3 e T4, ↑ CRH → ↑ GnRH. 5. Pseudociese: mulheres que querem engravidar, emocionalmente, param de produzir FSH e LH. 6. Síndrome de Kallman • Hipogonadismo hipogonadotrófico com anosmia. • Sulcos olfatórios hipoplásicos ou ausentes no rinencéfalo (RM): não migração dos axônios olfatórios, como neurônios GnRH da placa olfatória do nariz (embriologia) • Defeito de um gene no braço curto do cromossoma X • Anomalias ósseas, renais, lábio leporino, fenda palatina. 7. Amenorreia pós-pílula: bloqueio hipotalâmico transitório. 8. Terapia de reposição corporal
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