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1 Gabrielle Nunes GINECOLOGIA ENDÓCRINA: AMENORREIA A amenorreia é um sintoma caracterizado pela ausência de menstruação em uma época da vida em que a mesma deveria ocorrer, isto é, no menacme. Tem prevalência de 3% a 4%, excluídas as causas fisiológicas gestação, amamentação e menopausa. A amenorreia pode ser classificada em primária ou secundária para descrever respectivamente a ausência de menstruação sem a ocorrência de menarca ou após a menarca. De acordo com a origem e as manifestações clínicas podemos enquadrá-la como: de curta ou longa duração; de causa local ou sistêmica; funcional ou orgânica; primária ou secundária; AMENORREIA PRIMÁRIA Consiste na ausência de menstruação, sem nenhum quadro ou evidência de fluxo menstrual prévio. Deve-se ressaltar que esses quadros possuem baixa prevalência, cerca de 0,4% das mulheres púberes. A FALHA DA MENARCA, ISTO É, AUSÊNCIA DA PRIMEIRA MENSTRUAÇÃO ESPONTÂNEA, DEVE SER INVESTIGADA QUANDO: • A menarca não ocorreu aos 15 anos de idade em meninas com caracteres sexuais secundários presentes; • A menarca não ocorreu cinco anos após o início do desenvolvimento das mamas, se isso se deu antes dos 10 anos de idade; • Meninas em que, aos 13 anos de idade, se verifique completa ausência de caracteres sexuais secundários. ALGUMAS SITUAÇÕES DEVEM SER PARTICULARIZADAS: • Meninas com características sexuais secundárias presentes antes dos 15 anos, sem menstruar, porém, com dor pélvica cíclica. Nessa situação, deve-se iniciar a investigação devido ao risco de obstrução do trato genital; HÍMEN IMPERFURADO • Na presença de estigmas genéticos sugestivos, por exemplo, da síndrome de Turner, a investigação é iniciada independentemente da idade AMENORREIA RELACIONADA AO ÚTERO E A VAGINA Está relacionado ao útero e à vagina, envolvendo alterações em tais estruturas comprometem a formação da menstruação, ou que impedem o extravasamento da descamação uterina. HÍMEN IMPERFURADO Consiste em uma causa de amenorreia primária, de modo que essa alteração estrutural que bloqueia a saída do fluxo menstrual. O sangue não é liberado e consequentemente se acumula, de modo que mulheres nesse quadro apresentam dor pélvica mensal e cíclica, que corresponde à menstruação, a qual não será liberada. A esse quadro, dá-se o nome de criptomnorreia. A longo prazo, esse acúmulo de fluido pode aumentar o volume abdominal, cursando com distensão uterina em decorrência do acúmulo de líquido. • Evolução do quadro: hematocolpo > hematométrio > hematossalpinge > hemoperitônio • São mulheres com cariótipos e funções ovarianos NORMAIS. Complicações: esse acúmulo retrógrado de menstruação pode resultar no desenvolvimento de endometriose, bem como de suas complicações associadas, como dor crônica e infertilidade. Atenção: sintomas semelhantes ocorrem nos casos de septo vaginal transverso ou de atresia isolada de vagina. SÍNDROME DE ROKITANSKY Também é conhecido por agenesia mülleriana, na qual a paciente possui uma anomalia congênita na qual ela nasce sem útero, colo uterino, tubas uterinas e terço superior da vagina. Ocorre no período embrionário, no qual os ductos müllerianos (que dão origem ao terço superior da vagina, ao colo e corpo uterinos e às tubas uterinas) sofrem um processo de agenesia, a qual pode ser total ou parcial. • OBS: Os ductos de Müller estão associados também à formação dos rins, de modo que a Síndrome de Rokitansky é associada à malformação renal, devendo ser investigada nos casos de pacientes com essa condição. 2 Gabrielle Nunes Porque as mulheres apresentam caracteres sexuais secundários? Elas apresentam ovários. presentes. Logo, conclui-se que a ausência de menstruação não decorre da falta de estímulo hormonal, mas sim pela a ausência da estrutura funcional responsável pelo sangramento (útero). Tratamento: dilatações vaginais através das velas. SÍNDROME DE MORRIS Consiste em uma causa de amenorreia primária, na qual a paciente possui cariótipo 46, XY (pseudo-hermafroditismo masculino). Em pacientes com a síndrome de Morris, ocorre um fenômeno chamado de insensibilidade androgênica, no qual o corpo do feto possui ausência completa de resposta aos hormônios masculinizantes produzidos durante o desenvolvimento intrauterino, em decorrência de mutações nos genes dos receptores de androgênios, levando a um quadro de impedimento da ligação normal dos hormônios virilizantes. Nesse caso, a testosterona não gera o seu efeito de converter a genitália primitiva para pênis e escroto, resultando no aparecimento de uma vulva externamente. Associado a isso, como a paciente não possui um estímulo para a produção dos órgãos genitais femininos, a cavidade perineal não possui útero, ovários e os dois terços inferiores da vagina. • A paciente não apresenta caracteres sexuais secundários (algumas podem apresentar mamas pela alta conversão dos andrógenos em estrogênio), possuindo testículos, os quais geralmente se encontram aprisionados na região inguinal. APRESENTAÇÃO SÍNDROME DE ROKITANSKY SÍNDROME DE MORRIS PADRÃO DE HERANÇA Esporádica Recessiva ligada ao X CARIÓTIPO 46 XX 46 XY DESENVOLVIMENTO DOS SEIOS SIM SIM PELOS AXILARES E PUBIANOS SIM NÃO ÚTERO NÃO NÃO GÔNADAS SIM (OVÁRIOS) NÃO (TESTICULOS) TESTOSTERONA SIM (NÍVEIS FEMININO) NÃO (NÍVEIS MASCULINOS) ANOMALIAS ASSOCIADAS SIM NÃO ALTERAÇÕES RELACIONADAS AOS OVÁRIOS SÍNDROME DE TURNER A síndrome de Turner consiste em uma anomalia genética na qual a paciente possui cariótipo do tipo 45, X0. Diante da falta de um cromossomo X, essa síndrome traz consigo anomalias congênitas que resultam em disgenesia gonadal ou falência ovariana prematura, dada a atrésia acelerada dos ovócitos, de modo que as gônadas femininas sejam substituídas por uma estria fibrosa. SÍNDROME DE SAVAGE OU SÍNDROME DO OVÁRIO RESISTENTE 3 Gabrielle Nunes É uma síndrome rara em que os ovários possuem mutações quanto aos receptores de gonadotrofinas (FSH ou LH). Desse modo, essa insensibilidade ovariana não permite que haja o devido estímulo para que ocorra a produção dos hormônios esteroides femininos, impedindo assim, o funcionamento do ciclo menstrual. OUTRAS COUSAS PATOLOGIAS OU DISTÚRBIOS QUE ACOMETEM À HIPÓFISE HIPOPLASIA HIPOFISÁRIA: É uma anomalia congênita em que pode não ocorrer a produção de FSH e LH, ou haver uma produção extremamente baixa desses hormônios, assim como os demais hormônios hipofisários. PATOLOGIAS OU DISTÚRBIOS QUE ACOMETEM O HIPOTÁLAMO SÍNDROME DE KALLMANN: É uma anomalia congênita, nela ocorre a incapacidade de migração do GnRH, cursando com anosmia (incapacidade de reconhecer odores), caracterizando-se como uma síndrome genética relacionada ao bulbo olfatório, resultante de um distúrbio hereditário ligado ao cromossomo X. • Há uma mutação no gene KAL1, o qual codifica proteínas de adesão que são essenciais para a migração normal do GnRH e dos neurônios olfatórios. A Síndrome de Kallmann está associada à anomalias da linha média da face, como fenda palatina, agenesia renal unilateral, ataxia cerebelar, epilepsia, entre outros. 4 Gabrielle Nunes AMENORREIA SECUNDÁRIA Em mulheres em que a menarca já ocorreu, a ausência de menstruação, denominada amenorreia secundária, deve ser investigada quando a menstruação não ocorrer por três meses ou quando ocorrerem menos de nove menstruações ao longo de um ano. • A PRINCIPAL CAUSA DE AMENORREIA SECUNDÁRIA É A GESTAÇÃO AMENORRÉIA HIPOTALÂMICA AMENORREIA HIPOFISÁRIA - Traumatismo crânio-encefálico - Irradiação externa - Craniofaringioma - Adenoma hipofisário - Síndrome de Sheehan: necrose hipofisária - Fármacos: antidepressivos metoclopramida AMENORREIA OVARIANA AMENORREIA UTERINA ADQUIRIDA - Síndrome do ovário resistente (síndrome de savage) - Insuficiência ovariana prematura (menopausa precoce) - Síndrome de Ashermann AMENORREIA RELACIONADAAO ÚTERO E A VAGINA SÍNDROME DE ASHERMAN Consiste em uma causa de amenorreia secundária, caracterizada por um quadro de sinéquia (aderências na cavidade uterina) sintomática em decorrência de curetagem uterina ou puerperal, na qual as aderências formadas prejudicam o funcionamento correto do útero, levando ao impedimento da menstruação, bem como gerando infertilidade. Pode cursar com finas aderências, bandas densas e até obstrução total da cavidade uterina, sendo que esse processo patológico acaba por destruir a camada uterina basal, a qual gera o espessamento endometrial a cada ciclo, em resposta aos hormônios ovarianos. Desse modo, não há produção do tecido e nem o seu descolamento decorrente da queda de progesterona ao final do ciclo. Diagnóstico: histerossalpingografia. AMENORREIA SECUNDÁRIA RELACIONADA AOS OVÁRIOS SÍNDROME DOS OVARIOS POLICÍSTICOS Consiste em uma causa de amenorreia primária, bem como a causa mais comum de anovulação crônica com estrogênio presente. Desse modo, não ocorre a formação do corpo lúteo, nem a produção de progesterona, de modo que o útero permanece sob o estímulo do estrogênio, gerando um quadro de sangramento anormal, com ciclos muito espaçados, podendo chegar a mais de seis meses sem a presença de menstruação. INSUFICIÊNCIA OVARIANA PRECOCE Processo no qual a ação ovariana seja pequena ou simplesmente não ocorra, aliado à alta dosagem sérica de gonadotrofinas, dada a ausência de feedback negativo dos hormônios femininos. Apesar desse envolvimento central, ressalta-se que esse quadro resulta de um acometimento primariamente ovariano, não acometendo de forma patológica a hipófise ou o hipotálamo. A definição desse distúrbio consiste na perda de ovócitos antes dos 40 anos. OUTRAS COUSAS PATOLOGIAS OU DISTÚRBIOS QUE ACOMETEM À HIPÓFISE HIPOTIREOIDSMO Decorrente de baixa ação da tireoide, hiperprolactinemia, tumores hipofisários e infecções que alteram a funcionalidade da hipófise. O mecanismo pelo qual isso ocorre advém do fato que a redução dos níveis séricos de hormônios tireoidianos leva a um aumento compensatório do TRH (hormônio hipotalâmico que estimula a adeno-hipófise a produzir o seu hormônio 5 Gabrielle Nunes estimulador), o que leva a um aumento do TSH, que estimula os tireotrofos hipofisários, além de se ligar aos lactotrofos da hipófise, aumentando a secreção de prolactina. Essa alta de prolactina gera um aumento da dopamina central, que consiste no principal inibidor da secreção de prolactina (mecanismo de feedback negativo). Esse aumento de dopamina repercutirá no hipotálamo, alterando a secreção de GnRH, rompendo com a produção normal e cíclica das gonadotrofinas, de modo a impedir a ovulação. SÍNDROME DE SHEEHAN Casos de isquemia e necrose hipofisária por uma grave hipotensão pós-parto, geralmente em decorrência de sangramento puerperal importante ou por um choque hemorrágico. Como resultado, diferentes regiões da hipófise podem ser lesionadas, bem como a glândula inteira, levando a um quadro característico do déficit hormonal decorrente da área acometida. Nos casos em que são lesionadas as regiões responsáveis pela produção de LH e FSH, a perda da atividade gonadotrófica gera uma anovulação e, por consequência, amenorreia. ALTERAÇÕES FUNCIONAIS DO HIPOTÁLAMO Distúrbios capazes de desregular a produção do GnRH > amenorreia hipotalâmica CAUSAS: Transtornos alimentares, excesso de exercícios e estresse. DIAGNÓSTICO ANAMNESE Presença ou ausência de desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários (mamas e pelos)? O desenvolvimento deficiente sugere deficiência de estradiol. Crescimento estatural adequado para a idade? Retardo no crescimento pode estar associado à síndrome de Turner ou, menos frequentemente, à deficiência de hormônio do crescimento (GH). Qual o histórico menstrual? Regularidade dos ciclos prévios História familiar de puberdade atrasada? Sinais e sintomas de hiperandrogenismo (acne, hirsutismo, virilização)? Hiperandrogenismo pode indicar necessidade de avaliação mais detalhada de ovários e suprarrenais, além de detalhamento das medicações em uso. Estresse, alteração de peso, hábitos alimentares e atividade física, doenças crônicas, uso de medicamentos? Secreção nas mamas? Galactorreia pode associar-se à alteração no hormônio prolactina. Sintomas decorrentes de hipoestrogenismo como fogachos, secura vaginal? Sintomas característicos do climatério Ausência da menstruação imediatamente após parto (e, neste caso, se amamentou ou não) ou curetagem? A amenorreia após uma curetagem, sem nenhuma outra alteração, pode sugerir destruição endometrial. Um parto com sangramento exagerado e associado à agalactia pode sugerir necrose da hipófise, como o que ocorre na síndrome de Sheehan. EXAME FÍSICO O exame físico deve avaliar altura, peso e sua relação com altura (índice de massa corporal), e estágio de desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários (estágios de Tanner), exame das mamas (galactorreia). Avaliar a presença de estigmas genéticos, como na síndrome de Turner. Na presença de manifestações androgênicas, o hirsutismo, quando presente, deve ser classificado de acordo com o índice de Ferriman-Gallwey. O exame genital é anormal em 15% das amenorreias primárias, portanto deve ser realizado sempre. Em meninas virgens, o diagnóstico de hímen imperfurado pode ser feito pela simples inspeção genital. O diagnóstico de vagina curta será feito com o uso de um pequeno cotonete de colheita de swab ou um histerômetro introduzido pela abertura himenal. O exame também indicará se há sinais de hipoestrogenismo como atrofia genital. AVALIAÇÃO LABORATORIAL TSH, FSH, LH, Estradiol, Beta-HCG, prolactina EXAMES COMPLEMENTARES 6 Gabrielle Nunes USG pélvica: em casos de amenorreia primária, verificar a presença dos órgãos pélvicos femininos. CARIÓTIPO: em suspeita de síndromes genéticas. TC de crânio: pesquisa de anomalias hipofisárias ou hipotalâmicas, as quais podem estar relacionadas a hipoplasias, por exemplo. TESTE DA PROGESTERONA: a progesterona é administrada à paciente por 7 a 10 dias, simulando a segunda fase do ciclo menstrual, aguardando um possível sangramento endometrial. caso a paciente relate fluxo menstrual, concluímos que há estrogênio circulante, bem como que a paciente não estava ovulando e que o seu trato genital é pérvio. Nesse cenário, uma das hipóteses diagnóstica é um quadro de anovulação crônica. No caso de a paciente não menstruar, levantamos hipóteses relacionadas à ausência dos caracteres mencionados anteriormente, como ausência de estrogênio circulante (nesse caso, o endométrio não é estimulado previamente) ou por um trato genital impérvio. TESTE DO ESTROGÊNIO + PROGESTERONA: o estrogênio é administrado, simulando a primeira fase do ciclo e após isso, é administrada a progesterona, de modo a simular a segunda fase, do mesmo modo que o teste anterior. Diante disso, se a paciente apresentar sangramento menstrual, constata-se que havia pouco estrogênio circulante, bem como que a sua cavidade endometrial é normal. Logo, suspeita-se de acometimentos no compartimento III ou IV, os quais não estão sendo capazes de estimular o ovário de forma adequada, ou ainda no próprio compartimento II, que não está sendo capaz de produzir os seus hormônios corretamente. 7 Gabrielle Nunes ÍNDICE FERRIMEN-GALLWEY: avaliação dos efeitos da testosterona
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