Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde APRESENTAÇÃO Você sabia que as receitas provenientes do mercado de saúde suplementar triplicaram na última década, o que compreende o período entre os anos de 2010 e 2020? Esse fato denota a importância dos planos de saúde na geração de receita (faturamento) dos hospitais, clínicas e laboratórios. Além de evidenciar a importância de conhecer os critérios adotados para faturamento dos serviços prestados e as ferramentas de cobrança comumente utilizadas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá algumas tabelas referenciais utilizadas no faturamento de honorários médicos e Serviços Auxiliares de Diagnóstico e Tratamento (SADT), conhecerá os critérios e a aplicação prática da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) e terá acesso aos conceitos e critérios adotados nos manuais de cobrança de serviços hospitalares. Além disso, compreenderá o contexto do mercado de saúde suplementar brasileiro, as relações entre os diferentes atores e a importância dos contratos com as operadoras de planos de saúde na geração de receita das empresas prestadoras de serviços. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir as principais tabelas de honorários médicos e Serviços Auxiliares de Diagnóstico e Tratamento (SADT). • Identificar as tabelas e o manuais orientadores de cobranças de serviços hospitalares.• Reconhecer a importância dos contratos com as Operadoras de Planos de Saúde (OPS) como ferramenta de faturamento. • INFOGRÁFICO No mercado de saúde, o preço de alguns serviços são definidos previamente pelo mercado (operadoras de planos de saúde, governo, concorrência, etc.); logo, cabe às empresas prestadoras de serviços gerenciarem seus custos e despesas, a fim de atingir a lucratividade almejada. Caso os custos e despesas forem superiores à receita, as empresas prestadoras de serviços incorrerão em prejuízo. Neste Infográfico, você verá mais sobre como os preços dos serviços prestados por clínicas, hospitais e laboratórios aos beneficiários de operadoras de planos de saúde são definidos. CONTEÚDO DO LIVRO O mercado de saúde suplementar brasileiro é composto por diversos atores, sendo que os beneficiários, os prestadores de serviços e as operadoras de planos de saúde têm um papel de destaque. Para que as empresas prestadoras de serviços de saúde entreguem um serviço de qualidade aos seus usuários e obtenham bons resultados, é essencial que os seus colaboradores compreendem os critérios para faturamento dos serviços prestados e as ferramentas de cobrança disponíveis. No capítulo Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde, da obra Faturamento e auditoria em saúde, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você terá acesso às tabelas referenciais utilizadas para definição dos valores dos serviços prestados e será capaz de entender como a utilização correta dos critérios apresentados pode contribuir para o sucesso das empresas prestadoras de serviços de saúde. Boa leitura. FATURAMENTO E AUDITORIA EM SAÚDE Vanessa Martins Pires Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir as principais tabelas de honorários médicos e Serviços Auxiliares de Diagnóstico e Tratamento (SADT). Identificar as tabelas e os manuais orientadores de cobranças de serviços hospitalares. Reconhecer a importância dos contratos com as Operadoras de Planos de Saúde (OPS) como ferramentas de faturamento. Introdução Neste capítulo, você vai conhecer algumas tabelas utilizadas como referência para a cobrança de honorários médicos e SADT pelas OPS. Você também vai conhecer a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) e sua aplicação prática. Além disso, vai acessar conteúdos presentes nos manuais que orien- tam as cobranças de serviços médicos e hospitalares. A ideia é que você compreenda conceitos essenciais para executar as atividades de fatura- mento e cobrança dos serviços médicos e dos SADT. Por fim, você vai ler sobre o mercado de saúde suplementar brasileiro e verificar a importância dos contratos com as OPS para a geração da receita das empresas que prestam serviços hospitalares, como clínicas médicas, laboratórios e hospitais. 1 Tabelas de honorários médicos e SADT Atualmente, mesmo os hospitais e clínicas vinculados ao governo municipal, estadual ou federal que prestam serviços à população têm se relacionado com OPS. Os hospitais e clínicas de natureza privada usualmente captam recursos de diversas fontes, entre elas: Sistema Único de Saúde (SUS), usuários parti- culares e planos de saúde. Como os hospitais privados são gerenciados com a finalidade de gerar lucro, eles desenvolvem atividades que vão além da sua atividade-fim. Assim, exploram serviços de apoio, como restaurantes, lojas e serviços de hotelaria, além de investir em patrocínio, publicidade e merchandising. Devido à necessidade de gerar resultados, os hospitais privados preocupam- -se com a manutenção de suas relações comerciais com OPS, médicos e clientes (SALU, 2014). Conforme a Lei nº. 9.656, de 3 de junho de 1998, uma empresa que opera planos de saúde deve desempenhar as seguintes atividades: Prestação continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preço pré ou pós estabelecido, por prazo indeterminado, com a finalidade de ga- rantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde, pela faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou serviços de saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou referenciada, visan- do a assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral ou parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante reembolso ou pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do consumidor (BRASIL, 1998, documento on-line). Teoricamente, os preços de diárias hospitalares e taxas de sala devem ser compostos com base nos custos fixos e variáveis de cada unidade em relação ao faturamento. Posteriormente, aplica-se a margem operacional desejada, a fim de se atingir determinada lucratividade. A composição dos custos pode envolver (SALU, 2014): 1. salários e encargos dos funcionários alocados em cada unidade; 2. rateio de custo das utilidades (energia, água, telefone, etc.); 3. custo de manutenção direta dos equipamentos, mobiliário, etc.; 4. depreciação e amortização dos ativos imobilizados e intangíveis; 5. rateio dos impostos e taxas; 6. rateio do aluguel da área física (quando aplicável). Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde2 Contudo, na relação comercial entre as OPS e as empresas que prestam serviços hospitalares, existem serviços cujo valor as empresas não possuem autonomia para definir. Muitas vezes, isso ocorre porque as OPS já definiram as tarifas inerentes a cada procedimento em tabelas de honorários médicos e SADT. Nesses casos, como o preço dos serviços já foi definido previamente, cabe à instituição hospitalar gerenciar seus custos e despesas, a fim de manter a sua lucratividade. Afinal, caso seus custos e despesas sejam superiores ao valor repassado pelas OPS em algum procedimento, a instituição terá de arcar com o prejuízo (SALU, 2014). Observe o Quadro 1, a seguir, para ver como se organizam as tabelas que norteiam a definição dos preços praticados em empresas que prestam serviços hospitalares. Repare nos produtos e serviços ofertados pelas empresas e no modo como os preços são definidos. Aqui, você vai estudar especificamente a CBHPM, que está vigente no momento. Todavia, você também vai conhecer as tabelas da As- sociação Médica Brasileira (AMB). Ambas envolvem honorários médicos e SADT. Fonte: Adaptado de Salu (2014). Produto/serviço Definição do preço Medicamentos Brasíndice MateriaisSimpro ou própria Materiais de alto custo Negociação Gases Negociação Diárias e demais taxas hospitalares Negociação Honorários médicos AMB ou CBHPM SADT AMB ou CBHPM Pacotes de serviços Negociação Quadro 1. Definição dos preços dos produtos e serviços hospitalares Antes do surgimento das tabelas AMB e CBHPM, cada operadora criava seus próprios códigos e procedimentos, conforme interesses específicos. Os honorá- rios médicos e valores cobrados pelos procedimentos e diagnósticos não eram reajustados corretamente, o que prejudicava economicamente o sistema de saúde. 3Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde A tabela AMB, posteriormente denominada “Lista de Procedimentos Médicos” (LPM), possui características semelhantes às da tabela CBHPM. Contudo, conta com versões mais antigas, cujos códigos e procedimentos foram migrados e correlacionados com aqueles presentes na tabela CBHPM. Por exemplo, o procedimento denominado “endoscopia digestiva alta” possui o código 23010037 na tabela AMB 99 (CBR, 2018), referente ao ano de 1999, e o código correlacionado na tabela CBHPM é 4.02.01.12-0 (AMB, 2018). A tabela AMB foi criada em 1990, com a edição da tabela AMB 90, atualizada pela AMB 92 (1992). Ela utilizava o Coeficiente de Honorários (CH) para o cálculo da remuneração de profissionais e serviços prestados. O valor do CH era acordado entre as OPS e os prestadores de serviços, mas, em função da inflação, em alguns períodos os reajustes não refletiam a realidade. Em 1996, a AMB lançou a LPM 96, atualizada em 1999 (LPM 99). Com a evolução da medicina, novos procedimentos e exames de diagnóstico vão sendo oferecidos, e as tabelas precisam acompanhar essa evolução, por isso têm de ser atualizadas continuamente. A principal diferença entre as tabelas AMB 90 e 92 e as LPM 96 e 99 era que as tabelas LPM contemplavam os valores a serem remunerados de forma fechada, “prontos”. Ou seja, o valor em reais a ser cobrado das OPS já vinha impresso, o que acabava “congelando” os preços. Em função disso, as LPMs foram menos utilizadas do que as AMBs, servindo como base para comparação. A CBHPM é uma publicação da AMB que consolida e classifica os proce- dimentos realizados pela medicina brasileira. A edição de 2018, por exemplo, conta com 4.752 procedimentos. Em termos técnicos, a classificação considera a complexidade técnica, o tempo de execução, a atenção requerida e o grau de treinamento necessário para a realização de cada procedimento. A tabela CBHPM tem como objetivos hierarquizar os procedimentos médicos e servir como referência para estabelecer faixas de valores pelos serviços prestados (AMB, 2018). Na Figura 1, a seguir, veja um recorte da tabela CBHPM na seção destinada aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos endoscópicos. A tabela CBHPM pode indicar o número de auxiliares e insumos necessários para a realização dos procedimentos, se necessário. Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde4 Figura 1. Tabela CBHPM — procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Fonte: AMB (2018, p. 148). Como você viu, o procedimento endoscopia digestiva alta, código 4.02.01.12- 0, listado na Figura 1, tem um porte 4A e um custo de 12,585 (segundo a CBHPM de 2018). É importante que você saiba interpretar essas informações. Primeiramente, a definição do porte dos procedimentos varia ao longo do tempo e pode sofrer reajustes, considerando algum indicador inflacionário como padrão de referência e as devidas comparações entre os diversos atos médicos. Isso envolve elementos como complexidade técnica, tempo de execução, atenção requerida e grau de treinamento exigido. A pontuação estabelecida conta com 14 portes e três subportes (A, B e C) (AMB, 2018). 5Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde A definição de custo operacional, por sua vez, demanda a utilização da Unidade de Custo Operacional (UCO), que considera, entre outros custos e despesas: depreciação de equipamento, despesas com manutenção, mobiliário, aluguéis e folha de pagamento. Os custos e as despesas que compõem a UCO devem estar diretamente relacionados aos procedimentos médicos, e o valor definido também sofre reajustes periodicamente (AMB, 2018). Para o cálculo do valor monetário do custo operacional, deve-se multiplicar a quantidade de UCOs da tabela pelo valor vigente. Anualmente, a comissão da CBHPM da AMB reajusta os valores. Nos anos de 2016, 2017, 2018 e 2019, os valores da UCO foram, respectivamente: R$ 19,36, R$ 19,69, R$ 20,47 e R$ 21,07. No Quadro 2, a seguir, veja os valores definidos para os diferentes portes em outubro de 2019. Os valores foram divulgados pela AMB, que corrigiu os valores anteriormente vigentes a partir do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Es- tatística (IBGE). Fonte: Adaptado de SBP (2019). 1A R$ 23,46 5C R$ 1.026,02 10B R$ 2.501,71 1B R$ 50,64 6A R$ 1.118,37 10C R$ 2.641,24 1C R$ 82,21 6B R$ 1.214,05 11A R$ 2.754,85 2A R$ 117,18 6C R$ 1.310,39 11B R$ 2.896,38 2B R$ 167,43 7A R$ 1.405,40 11C R$ 3.044,55 2C R$ 207,63 7B R$ 1.508,39 12A R$ 3.150,86 3A R$ 302,47 7C R$ 1.634,63 12B R$ 3.290,39 3B R$ 397,48 8A R$ 1.736,95 12C R$ 3.568,80 3C R$ 486,51 8B R$ 1.830,64 13A R$ 3.756,17 4A R$ 581,52 8C R$ 1.929,64 13B R$ 3.950,19 4B R$ 669,22 9A R$ 2.030,63 13C R$ 4.167,46 4C R$ 762,25 9B R$ 2.145,57 14A R$ 4.411,98 5A R$ 849,95 9C R$ 2.267,83 14B R$ 4.632,58 5B R$ 938,98 10A R$ 2.380,78 14C R$ 4.892,38 Quadro 2. Valores dos portes Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde6 A seguir, veja o cálculo do valor de uma endoscopia digestiva alta. São considerados os dados presentes na Figura 1, os valores apresentados no Quadro 2 e a UCO de 2019 (R$ 21,07). Procedimento: endoscopia digestiva alta Código: 4.02.01.12-0 Porte: 4A Custo operacional: 12,585 Agora veja o cálculo do custo: Porte 4A + (12,585 × UCO) R$ 581,52 + (12,585 × R$ 21,07) R$ 581,52 + R$ 265,17 R$ 846,69 Na próxima seção, você vai conhecer os critérios adotados nos manuais de cobrança de serviços hospitalares. Esses manuais ajudam a nortear as cobranças de diárias, taxas, utilização de equipamentos e outros serviços de saúde cujos critérios não estão previstos nas tabelas AMB e CBHPM. 2 Manuais de cobrança de serviços hospitalares A cobrança de serviços hospitalares deve levar em conta os itens que, embora sejam fundamentais para a assistência ao paciente, não se enquadram como honorários, procedimentos médicos ou SADTs (cobrados via CBHPM), nem como materiais e medicamentos (cobrados via Brasíndice ou Simpro). Como exemplo, você pode considerar as diárias, as taxas, os aluguéis de equipamentos, os procedimentos de enfermagem e outros itens não previstos em tabelas de cobranças de serviços de saúde. Manuais padronizados de cobrança de serviços hospitalares foram criados em alguns estados do Brasil, mediante a união de esforços de representantes de hospitais e das OPS. Eles discutiram e elaboraram em conjunto algumas rotinas que são seguidas para a negociação de ressarcimento pelos serviços prestados. Em geral, esses manuais contemplam a descrição dos procedimentos e dos critérios de cobrança, porém não contemplam valores. Por exemplo, eles descrevem, conceitualmente, o procedimento de nebulização e o critério de cobrança (inclui material ou não inclui material). A utilização desses manuais 7Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde tem como objetivo facilitar a negociação entre as partes. Nesse sentido, a definição de valores é negociada entre as OPS e os prestadores de serviços, devendo constar como um anexo do contrato firmado entre as partes. No Rio Grande do Sul, por exemplo, em 2000 foi elaborado o Manual de Utilização e Cobranças Hospitalares. Esse manual tem o objetivo de forne- cer uma orientação adequada a todos os participantes do sistema de saúde suplementar no processo de remuneração dos serviçosprestados. O Manual de Utilização e Cobrança de Serviços Hospitalares surgiu por meio de uma parceria entre o Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde (IAHCS) e dirigentes de saúde (IAHCS, 2000). O Manual do IAHCS busca orientar todos os participantes do sistema de saúde no processo de remuneração dos serviços prestados, lembrando que as cobranças hospitalares devem ser definidas nos contratos entre instituições hospitalares e OPS. A falta de clareza contratual permite a interpretação dúbia entre as partes, levando a problemas relacionados à cobrança e ao pagamento no futuro (MOTTA, 2009). Os manuais de cobrança podem ser estruturados por grupos de itens correlacionados, para facilitar a sua localização. O Manual do IAHCS, por exemplo, apresenta as diárias como um desses itens, indicando as principais diferenças entre os tipos de acomodação (suíte, apartamento, quarto privativo, quarto semiprivativo e enfermaria). Ele também detalha informações sobre a diária do Centro de Terapia Intensiva (CTI), do centro de neonatologia e do acompanhante. Além disso, especifica o que está incluso no valor da diária e detalha os itens que podem ser cobrados à parte (IAHCS, 2000). O manual ainda apresenta o item uso de salas. Nele, são listadas, entre outras, a sala cirúrgica, a sala de parto, a sala de pré-parto, a sala de pequenos procedimentos, o centro de recuperação (ou sala de recuperação) e a sala de observação ambulatorial. A gasoterapia, por exemplo, é tratada de forma específica no manual e é descrita por 12 subitens (oxigênio, aspiração, nebu- lização, etc.) (IAHCS, 2000). No item serviços de enfermagem, são descritos de forma detalhada alguns procedimentos realizados pela equipe de enfermagem; também são indicados os materiais inclusos na cobrança. Entre os serviços, estão cateterismos, aspi- rações, curativos, lavagens e tricotomias. A cobrança do serviço de nutrição e dietética consta em uma seção no manual, com o detalhamento dos tipos de dietas indenizáveis, bem como das avaliações, acompanhamentos e consultas nutricionais (IAHCS, 2000). Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde8 No item equipamentos, são elencados os principais equipamentos hospi- talares, com sua descrição e a forma como deve ser feita a cobrança (por dia, por hora, por seção). A cobrança dos equipamentos é realizada para cobrir os gastos de sua manutenção e de sua depreciação. Sob o ponto de vista das OPS, esse custo é uma cobrança de aluguel pelo uso dos equipamentos (IAHCS, 2000). Por fim, o manual ainda apresenta as taxas administrativas, outros servi- ços e algumas cobranças específicas para os serviços de emergência. A lógica do Manual do IAHCS (2000) e de outros manuais semelhantes é o modelo de remuneração fee for service: todos os itens utilizados pelo paciente serão cobrados individualmente. Na próxima seção, você vai conhecer melhor essa forma de remuneração. A realização das cobranças dos itens discutidos só será viável se os serviços prestados forem devidamente registrados nos prontuários dos pacientes e se forem previstos nos contratos firmados entre as OPS e as empresas prestadoras de serviços de saúde. 3 Contratos com OPS e faturamento A saúde suplementar tem um papel relevante no mercado de saúde brasileiro — tanto pelo crescimento signifi cativo dos planos de saúde privados como pela importância que ela adquiriu no sistema de saúde brasileiro. A saúde suplementar abrange um mercado composto por “[...] 71 milhões de benefi ci- ários vinculados a planos de saúde, 1.469 OPS e milhares de prestadores de serviços hospitalares (hospitais, clínicas, laboratórios, profi ssionais da saúde)” (ANDRÉ, 2016, p. 193). Na Figura 2, a seguir, veja as relações entre os principais atores do mercado de saúde suplementar. Atente em especial aos beneficiários dos planos de saúde, aos prestadores de serviços em saúde e às OPS. 9Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde Figura 2. Relações entre os principais atores do mercado de saúde suplementar. Fonte: Adaptada de André (2016). A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), vinculada ao Ministério da Saúde, regula as ações realizadas entre os principais atores mencionados. Você ainda deve considerar a importância da indústria de insumos no supri- mento de materiais, insumos e produtos. Por sua vez, o Poder Judiciário e os órgãos de defesa do consumidor atuam como meios para a resolução de eventuais conflitos. O instrumento que rege a relação entre as OPS e os prestadores de serviços em saúde é o contrato firmado entre eles. Os contratos podem prever as tabelas de procedimentos a serem utilizadas, as tabelas de materiais e medicamentos, o uso de órteses e próteses, as diárias, as taxas e os SADT. Como o mercado de saúde muda continuamente, devido aos avanços tecnológicos e ao surgimento de novas técnicas e tratamentos, os contratos firmados devem ser atualizados ou acrescidos de aditivos contratuais, a fim de contemplar eventuais adaptações ao que foi previsto no contrato inicial (MARQUES, 2015). A forma de cobrança dos serviços prestados pelas empresas de saúde está diretamente relacionada ao tipo de remuneração adotada. A remuneração das instituições que prestam serviços hospitalares pode ser dividida em fee for service (pós-pagamento) e modelos alternativos (pré-pagamento e for- mas mistas). O fee for service é o sistema de pagamento tradicionalmente utilizado; a remuneração do trabalho médico e dos serviços hospitalares se Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde10 dá mediante o pagamento por procedimento individual, item a item. A conta de um paciente em um hospital, por exemplo, pode conter: diárias, taxas de sala, procedimentos de enfermagem, taxas de uso de equipamentos, insumos, exames, tratamentos, materiais de consumo, medicamentos, etc. A diária global e o procedimento gerenciado (pacote) seriam modelos alternativos ao fee for service (TAKAHASHI, 2011). Takahashi (2011) analisou o mercado de saúde suplementar paulistano e identificou que a forma de remuneração fee for service predomina nos contratos entre as OPS e os hospitais. Essa forma de remuneração pode ter como consequências a sobreutilização dos serviços de saúde e o aumento dos preços unitários dos planos de saúde. Estabelecer e manter contratos com as OPS é muito importante para as instituições que prestam serviços médicos e SADT. Isso se deve tanto ao crescimento do número de beneficiários dos planos de saúde quanto à participação de mercado alcançada pelas OPS na última década. Conforme dados da ANS, as receitas de contraprestações do mercado de saúde suple- mentar triplicaram na última década, passando de R$ 74 bilhões em 2010 para R$ 213 bilhões em 2019, desconsiderando outras receitas operacionais (ANS, 2020). Mesmo que o Brasil seja um país continental em termos geográficos, que as suas regiões possuam características distintas e que haja heterogeneidade na organização do sistema de saúde, as participações pública e privada na oferta de serviços de saúde combinam-se de diversas formas, tornando-se complementares. Nas Regiões Sudeste e Sul, por exemplo, as instituições privadas representam 80% dos estabelecimentos que prestam serviços em saúde, configurando-se como um amplo mercado a ser explorado (AZEVEDO et al., 2016). O mercado de saúde suplementar tem uma representatividade significa- tiva na economia brasileira, o que acentua a importância da relação entre as empresas que prestam serviços de saúde e as OPS. Para que essa relação beneficie ambos os atores, é necessário compreender os critérios que norteiam a cobrança dos serviços prestados. Isso implica conhecer as diferentes tabelas de honorários médicos e SADT, os manuais orientadores de cobranças de serviços hospitalares e as diretrizes contratuais, temáticas discutidas ampla- mente neste capítulo. 11Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde AMB. CBHPM:Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos. Barueri: Manole, 2018. ANDRÉ, A. M. Gestão estratégia de clínicas e hospitais. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. ANS. Dados gerais. Brasília, DF: ANS, 2020. Disponível em: http://www.ans.gov.br/perfil- -do-setor/dados-gerais. Acesso em: 30 jun. 2020. AZEVEDO, P. F. et al. A cadeia de saúde suplementar no Brasil: avaliaç ã o de falhas de mer- cado e propostas de polí ticas. São Paulo: Insper, 2016. Disponível em: https://www. insper.edu.br/wp-content/uploads/2018/09/estudo-cadeia-de-saude-suplementar- -Brasil.pdf. Acesso em: 12 ago. 2020. BRASIL. Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998. Dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde. Brasília, DF: Presidência da República, 1998. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9656.htm. Acesso em: 30 jun. 2020. CBR. Confira a atualização da tabela CBHPM divulgada pela AMB. São Paulo: CBR, 2018. Disponível em: https://cbr.org.br/confira-atualizacao-da-tabela-cbhpm-divulgada- -pela-amb. Acesso em: 30 jun. 2020. IAHCS. Manual de utilização e cobrança dos serviços hospitalares. Porto Alegre: IAHCS, 2000. MARQUES, S. M. F. Manual de auditoria de contas médicas. Rio de Janeiro: Medbook, 2015. MOTTA, A. L. C. Auditoria de enfermagem: nos hospitais e operadoras de planos de saúde. 4. ed. São Paulo: Iátria, 2009. SALU, E. J. Administração hospitalar no Brasil. Barueri: Manole, 2014. SBP. Comunicado oficial CBHPM. São Paulo: SBP, 2019. Disponível em: https://www.sbp. com.br/fileadmin/user_upload/COMUNICADO_CBHPM__2019_2020_.pdf. Acesso em: 20 jul. 2020. TAKAHASHI, A. C. D. Análise do modelo de remuneração hospitalar no mercado de saúde suple- mentar paulistano. 2011. Dissertação (Mestrado) – Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2011. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Ferramentas de cobrança das operadoras de planos de saúde12 DICA DO PROFESSOR Como as empresas prestadoras de serviços em saúde de natureza privada devem buscar a geração de resultados positivos (lucro), os gestores dos hospitais, das clínicas médicas e dos laboratórios preocupam-se com a manutenção de suas relações comerciais com os clientes, com as operadoras de planos de saúde e com os médicos, enfermeiros, auxiliares e demais prestadores de serviços. Nesta Dica do Professor, você conhecerá algumas características das relações entre as operadoras de plano de saúde e as empresas prestadoras de serviços. Também compreenderá a importância dos contratos com as operadoras de plano de saúde na geração de faturamento das empresas prestadoras de serviços. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! NA PRÁTICA O mercado de saúde suplementar tem uma representatividade significativa no Brasil. Diversos atores compõem esse mercado, tendo destaque para as relações estabelecidas entre os beneficiários dos planos de saúde, os prestadores de serviços em saúde e as operadoras de planos de saúde. Neste Na Prática, confira as práticas de negociação que envolvem as empresas operadoras de planos de saúde e os prestadores de serviços. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Regulação do mercado de saúde suplementar Para ampliar os seus conhecimentos sobre a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), instituição responsável pela regulação e controle das operadoras de planos de saúde no Brasil, acesse o link a seguir. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Composição do mercado de saúde suplementar No link a seguir, você terá acesso a um livro e poderá consultar dados de uma pesquisa sobre a concentração e as características da concorrência entre operadoras de planos de saúde no Brasil. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Tabelas referenciais: AMB, LPM e CBHPM No link a seguir, você terá acesso a diferentes versões das tabelas AMB, LPM e CBHPM. Indica-se a consulta dos documentos a fim de fixar os conhecimentos discutidos no decorrer desta Unidade de Aprendizagem. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Compartilhar