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Prontuário do paciente e faturamento APRESENTAÇÃO Um dos instrumentos indispensáveis nos serviços de saúde, considerado inclusive por muitos autores como o "coração do hospital", é o prontuário. Trata-se de um documento que contém os registros e informações sobre o paciente, abordando questões relacionadas ao tratamento, medicamento, evolução clínica, procedimentos, entre outros dados extremamente necessários para o faturamento hospitalar. Assim, quando bem utilizado, o prontuário possibilita melhor comunicação entre as equipes e facilita o fluxo de informação, atuando, portanto, de forma fundamental nas contas hospitalares. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá as principais características e a relevância do prontuário do paciente, bem como os aspectos legais envolvidos e a atuação na cobrança de contas hospitalares. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir prontuário de paciente e sua importância para os envolvidos nessa relação.• Apresentar os aspectos legais relacionados ao prontuário do paciente.• Discutir a importância dos registros no prontuário do paciente para a cobrança da conta.• INFOGRÁFICO Conhecer o fluxo do prontuário no faturamento do SUS é importante para visualizar a sua relevância na elaboração das contas hospitalares. A partir das informações contidas nos prontuários e seu encaminhamento às equipes envolvidas, é possível contabilizar os itens utilizados desde o início até a saída do paciente da instituição de saúde. Neste Infográfico, veja como o prontuário do paciente atua como fonte de informação nos processos envolvidos no faturamento hospitalar. CONTEÚDO DO LIVRO Um dos instrumentos mais importantes para o setor de faturamento é o prontuário. Trata-se de um documento que registra procedimentos, medicamentos e diversas questões relacionadas ao atendimento do paciente que serão contabilizadas na conta hospitalar. Para isso, o registro adequado, bem como a gestão eficiente dessas informações, é fundamental para um bom desempenho do serviço de faturamento. Nesse contexto, é fundamental que o gestor tenha conhecimento dos processos envolvidos na gestão de prontuários, a fim de garantir que as informações sejam seguras e adequadas para a cobrança nas contas da instituição de saúde. No capítulo Prontuário do paciente e faturamento, do livro Faturamento e auditoria em saúde, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, conheça os principais aspectos de um prontuário, bem como a sua atuação no setor de faturamento. Além disso, saiba quais são os principais aspectos legais e éticos presentes nas informações envolvidas e os principais impactos que trazem ao serviço de faturamento. Boa leitura. FATURAMENTO E AUDITORIA EM SAÚDE Bárbara Foiato Hein Machado Prontuário do paciente e faturamento Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir prontuário de paciente e sua importância para os envolvidos na relação hospitalar. Apresentar os aspectos legais relacionados ao prontuário do paciente. Discutir a importância dos registros no prontuário do paciente para a cobrança da conta. Introdução O prontuário do paciente é um instrumento fundamental para a elaboração das contas hospitalares. Afinal, os registros contidos no prontuário fornecem informações sobre os tratamentos, medicamentos e equipamentos utilizados no atendimento ao paciente. Assim, o registro adequado dos itens envolvidos na assistência prestada ao paciente permite a cobrança do serviço. Devido aos impactos desses dados no setor de faturamento, é necessário que o gestor atente à qualidade e à adequação dos registros dos prontuários. Neste capítulo, você vai conhecer as principais características do prontuário e verificar qual é a relevância desse documento na instituição hospitalar. Você também vai estudar os principais aspectos legais e éticos envolvidos. Além disso, vai conhecer os impactos dessa ferramenta na elaboração das contas hospitalares. 1 Prontuário do paciente: principais características e relevância O modo como as informações são geridas em uma instituição é um fator funda- mental para a efi ciência dos serviços ali prestados. Nos hospitais, grande parte das atividades desenvolvidas implicam gerar e compartilhar informações sobre saúde, principalmente por meio de sistemas de prontuários. Os prontuários são documentos que buscam organizar e sintetizar informações relacionadas aos cuidados prestados ao paciente. De acordo com Furuie et al. (2003), trata-se de um conjunto de informações geradas, de caráter legal, sigiloso e científi co, sobre a situação do paciente na instituição de saúde. Os registros clínicos de pacientes ocorrem desde Hipócrates (460–377 a.C.), considerado o pai da medicina. Ao longo do tempo, eles sofreram alterações. Em 1889, William Worrall Mayo, fundador da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, passou a utilizar prontuários de forma individual, por paciente (BRANDT; MONZILLO, 2007). A partir disso, diversos tipos de prontuários foram aplicados nas instituições de saúde, sendo adaptados conforme as mudanças na sociedade. De acordo com Patrício et al. (2011, p. 122), “[...] a denominação inicial de ‘Prontuário Médico’ foi substituída por ‘Prontuário do Paciente’, devido às transformações na relação médico–paciente, com ênfase na defesa dos direitos dos pacientes [...]”. Entre essas transformações, pode-se destacar a mudança no foco do cuidado: se antes o cuidado era centrado na doença, hoje ele é centrado no paciente. Nesse sentido, o prontuário é composto por informações relaciona- das à identificação do paciente, à sua anamnese, à sua evolução, entre outros elementos. A seguir, veja os itens obrigatórios. Identificação do paciente: nome, data de nascimento, naturalidade, endereço, etc. Anamnese: exames físicos, exames complementares, resultados, diag- nósticos, tratamentos efetuados, etc. Relato médico: relato de todos os procedimentos realizados; é obriga- tório em casos emergenciais. Evolução do paciente: procedimentos aos quais o paciente foi subme- tido, profissionais que o atenderam, data e hora do atendimento, etc. É obrigatória a legibilidade da receita do profissional que atendeu o paciente. Além disso, o profissional também deve assinar o documento e informar o seu número de registro no Conselho Regional de Medicina (CRM). Prontuário do paciente e faturamento2 Assim, o prontuário do paciente, de acordo com Araújo e Mota (2020, p. 53), “[...] se configura como eixo central de todas as atividades desenvolvidas no âmbito das instituições de saúde, sejam as de natureza administrativa ou assistencial [...]”. Candido, Cunha e Munhoz (2018) argumentam que o prontuário tem a função de comunicar e diagnosticar, além de refletir o grau de compromisso da instituição com o paciente e de auxiliar na avaliação da qualidade da assistência prestada. Hummel (2010) discute que o prontuário do paciente é como o coração do hospital, sendo fundamental para o bom funcionamento dos diversos serviços na instituição de saúde. Por meio dos prontuários, é possível, por exemplo, verificar os óbitos ocorridos em uma instituição de saúde, o que auxilia a controlar a taxa de mortalidade. Outro exemplo é que, por meio dos prontuários, os procedimentos, medicamentos e outros serviços são registrados para posteriormente serem cobrados, visto que não é possível realizar o pagamento daquilo que não foi registrado. Assim, muitas são as justificativas que evidenciam a relevância dos prontuários para as instituições de saúde. Embora a estrutura mais tradicional do prontuário do paciente — isto é, manual e em papel — seja utilizada em muitas instituições, existem diversas discussões sobre as suas limitações. A seguir, veja alguns dos principais riscos do prontuário físico. Letra ilegível: prejudica o entendimentoda escrita. Desorganização: oriunda muitas vezes do grande volume de folhas em que as informações são anotadas. Perda de informação: também ocorre devido à quantidade de registros e folhas, que podem ser perdidos. Baixa mobilidade: o prontuário físico não permite acesso amplo, visto que as anotações em folhas limitam a visualização, isto é, as folhas só podem ser consultadas por quem tem acesso físico a elas. Falta de padronização: é comum que as anotações não sejam uniformes. Assim, a fim de aprimorar as funcionalidades dos prontuários, foram desenvolvidas técnicas digitais para o tratamento de informações de tais registros, dando origem ao prontuário eletrônico (FURUIE et al., 2003). No Brasil, a proposta de modelo de prontuário eletrônico surgiu em 2002, quando o Ministério da Saúde estipulou que um conjunto mínimo de informações sobre o paciente deveria ser inserido no prontuário. Tais informações deveriam ser fiscalizadas pelas comissões de revisão de prontuários das instituições de 3Prontuário do paciente e faturamento saúde. Cinco anos depois, em 2007, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou a utilização de sistemas informatizados para a gestão dos prontuários, estabelecendo normas técnicas de digitalização e autorizando a eliminação do prontuário físico (PATRÍCIO et al., 2011). Desse modo, o formato eletrônico surgiu com o objetivo geral de integrar as informações com mais eficiência, bem como de permitir uma consulta mais precisa e prática. Veja o que afirmam Furuie et al. (2003, p. 127): A integração de dados de diferentes sistemas torna possível uma redução na necessidade de transcrições manuais, que apresentam riscos de erros signi- ficativos. A capacidade de se implantar mecanismos de controle de acesso, sistemas de auditoria e assinaturas digitais assegura níveis de segurança maiores do que os equivalentes em papel. Idealmente, o Prontuário Eletrônico deve agregar todas as possíveis fontes de informação de um paciente, mesmo se a informação estiver distribuída em lugares ou mesmo países diferentes, e torná-las acessíveis às pessoas autorizadas. Assim, os autores comentam que a integração, a segurança e a acessibilidade são as características ideais dos prontuários eletrônicos (FURUIE et al., 2003). Patrício et al. (2011) apresentam outras vantagens do prontuário eletrônico: possibilidade de verificação do histórico de saúde do paciente (tratamentos, intervenções, características), legibilidade das informações, processamento contínuo dos dados, informações sistemáticas e facilidade na coleta e na emissão de informações (inclusive para faturamento). Entretanto, assim como a utilização do prontuário manual, a aplicação de prontuários eletrônicos traz desafios e riscos. Furuie et al. (2003) citam como desafios a geração de um modelo de dados e a necessidade de vocabulários e cenários comuns entre as instituições, para permitir uma troca de informa- ções uniforme. Patrício et al. (2011), por sua vez, mencionam o investimento financeiro, visto que programas e software podem ser caros, além de ser necessário treinamento para capacitar as equipes. Assim, os modos como as informações são gerenciadas nos prontuá- rios podem apresentar vantagens e desvantagens. Por isso, o método deve ser escolhido conforme o tipo de instituição e a necessidade. É comum que ambos os tipos de prontuários sejam usados simultaneamente; por exemplo: primeiramente as informações são geradas via prontuário manual, sendo posteriormente aplicadas à versão eletrônica. Prontuário do paciente e faturamento4 Para conhecer melhor o processo de transferência de informações para o prontuário, bem como a estrutura desse documento, leia o artigo “Estruturação da Evolução Clínica para o Prontuário Eletrônico do Paciente”, de Dorileo et al. (2006). Esse texto está disponível on-line; utilize o seu site de buscas preferido para encontrá-lo. 2 Aspectos legais do prontuário De acordo com a Justiça e os CRMs, o prontuário é um documento de valor ético e legal, visto que reúne informações pessoais, sigilosas, de caráter médico, científi co e legal. A Resolução CFM nº 1.638, de 10 de julho de 2002, defi ne o prontuário como: Documento único constituído de um conjunto de informações, sinais e imagens registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a conti- nuidade da assistência prestada ao indivíduo (CFM, 2002, documento on-line). Apesar da denominação “prontuário médico”, a qual foi amplamente utilizada, o prontuário é propriedade do paciente, que tem total direito sobre o documento, inclusive de cópia. A Resolução CFM nº 1.821, de 11 de julho de 2007, esclarece que o prontuário é do paciente, cabendo a sua guarda às instituições de saúde (ARAÚJO; MOTA, 2020). Além disso, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a manter o registro das atividades desenvolvidas, por meio de prontuários individuais, pelo prazo de 18 anos (BRASIL, 1990, art. 10, § 1º). Nesse contexto, a Resolução CFM nº 1.821/2007 surgiu no intuito de aprovar nor- mas técnicas relacionadas à digitalização e à utilização de sistemas informatizados para guarda e gestão dos documentos dos prontuários, permitindo a eliminação do papel. A opção por sistemas informatizados considera principalmente o crescente volume de documentos armazenados pelos vários tipos de estabelecimentos de saúde e os avanços da tecnologia da informação e das telecomunicações. 5Prontuário do paciente e faturamento Em 2018, foi estabelecida a Lei nº 13.787, de 27 de dezembro, que revoga a Resolução CFM nº 1.821/2007 e dispõe sobre a digitalização e a utilização de sistemas informatizados para a guarda, o armazenamento e o manuseio de prontuário de paciente com novas atualizações, tendo em vista a inclusão de todos os prontuários do paciente (não somente médico, mas também odon- tológico, de enfermagem, fisioterapêutico, etc.) (COLTRI; SILVA, 2019). A seguir, veja o que os artigos da Lei nº 13.787/2018 dizem a respeito da gestão dos prontuários eletrônicos do paciente: Art. 1º A digitalização e a utilização de sistemas informatizados para a guarda, o armazenamento e o manuseio de prontuário de paciente são regidas por esta Lei e pela Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Art. 2º O processo de digitalização de prontuário de paciente será realizado de forma a assegurar a integridade, a autenticidade e a confidencialidade do documento digital. [...] Art. 3º Os documentos originais poderão ser destruídos após a sua digitali- zação, observados os requisitos constantes do art. 2º desta Lei, e após análise obrigatória de comissão permanente de revisão de prontuários e avaliação de documentos, especificamente criada para essa finalidade. [...] Art. 4º Os meios de armazenamento de documentos digitais deverão protegê- -los do acesso, do uso, da alteração, da reprodução e da destruição não au- torizados. [...] Art. 5º O documento digitalizado em conformidade com as normas estabele- cidas nesta Lei e nos respectivos regulamentos terá o mesmo valor probatório do documento original para todos os fins de direito. [...] Art. 6º Decorrido o prazo mínimo de 20 (vinte) anos a partir do último registro, os prontuários em suporte de papel e os digitalizados poderão ser eliminados (BRASIL, 2018, documento on-line). Assim, até 2018, os prontuários eram guardados nas instituições por pelo menos 20 anos, quando em papel, e permanentemente, quando eletrônicos. Entretanto, a Lei nº 13.787/2018 estipulou que a guarda dos prontuários não necessita mais ser permanente. Como determina o art. 6º, a guarda é obrigatória por até 20 anos; decorrido esse tempo,o documento pode ser eliminado ou entregue ao paciente. Nesse processo, deve-se sempre preservar a intimidade do paciente e o sigilo e a confidencialidade das informações. O art. 6º, em um de seus parágrafos, aborda a possibilidade de haver prazos diferenciados para a guarda do prontuário, em papel ou digitalizado. Tais prazos poderão ser fixados em regulamento, de acordo com o potencial de uso em estudos e pesquisas nas áreas das ciências da saúde, humanas e sociais, bem como para fins legais e probatórios. Prontuário do paciente e faturamento6 Portanto, um ponto sempre prezado no contexto dos prontuários é a privaci- dade das informações. As informações registradas em prontuário são sigilosas e pertencem somente ao paciente. Se houver necessidade de compartilhar informações, a autorização do paciente será imprescindível. O direito ao sigilo e à privacidade são garantidos inclusive pela Constituição Federal de 1988. Veja o que pontuam Brandt e Mozillo (2007, p. 86): O seu conteúdo [do prontuário] pertence ao paciente e a custódia, às instituições da saúde. Estas são responsáveis pela segurança das informações por meio da sua guarda, integridade, confidencialidade, auditabilidade, disponibilidade, autenticação (possibilidade de verificação da autoria), autorização (associa- ção da autoria e respectiva permissão para o acesso) e legalidade (quando a autenticidade, origem, envio e recebimento de determinado documento não podem ser negados). Portanto, o direito fundamental à intimidade está previsto na Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso X, que estipula que são invioláveis a intimi- dade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de violação. Assim, não basta, por exemplo, que haja uma ordem judicial para a liberação de infor- mações do prontuário médico, pois é necessária a autorização do paciente. Portanto, quando há necessidade de compartilhar informações do prontuário do paciente, como em caso de pesquisas na área da saúde que coletam dados para a construção de estatísticas e indicadores, muitas vezes é solicitado o consentimento do paciente por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Nesse documento, “[...] é explicitado o consentimento livre e esclarecido do participante e/ou de seu responsável legal, de forma escrita, devendo conter todas as informações necessárias, em linguagem clara e objetiva, de fácil entendimento [...]” (BRASIL, 2012, documento on-line). O prontuário está discriminado no Código de Ética Médica (Resolução CFM nº 1.931, de 17 de setembro de 2009), e o Capítulo X traz informações acerca dos documentos médicos. A seguir, veja os princípios que fundamentam esse capítulo no que diz respeito aos prontuários dos pacientes: Art. 85. Permitir o manuseio e o conhecimento dos prontuários por pessoas não obrigadas ao sigilo profissional quando sob sua responsabilidade. Art. 86. Deixar de fornecer laudo médico ao paciente ou a seu representante legal quando aquele for encaminhado ou transferido para continuação do tratamento ou em caso de solicitação de alta. Art. 87. Deixar de elaborar prontuário legível para cada paciente. [...] 7Prontuário do paciente e faturamento Art. 88. Negar, ao paciente, acesso a seu prontuário, deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada, bem como deixar de lhe dar explicações necessárias à sua compreensão, salvo quando ocasionarem riscos ao próprio paciente ou a terceiros. Art. 89. Liberar cópias do prontuário sob sua guarda, salvo quando autori- zado, por escrito, pelo paciente, para atender ordem judicial ou para a sua própria defesa. [...] Art. 90. Deixar de fornecer cópia do prontuário médico de seu paciente quan- do de sua requisição pelos Conselhos Regionais de Medicina (CFM, 2010, documento on-line). Nesse sentido, é importante você lembrar que o prontuário reúne dados que remetem ao paciente e cujo sigilo é direito dele. Logo, é necessário que o gestor tenha conhecimento das normas, características e regras de gestão dessas informações, dados os impactos éticos e legais que possuem. Para aprender mais sobre as questões éticas e legais envolvidas no prontuário, leia o artigo “O prontuário do paciente e o dever legal e ético de registro dos profissionais da saúde: uma revisão literária”, de Gomes et al. (2020). Esse texto está disponível on-line; utilize o seu site de buscas preferido para encontrá-lo. 3 Impactos do prontuário na cobrança de contas hospitalares O faturamento é um serviço que possibilita a geração de contas hospitalares de uma instituição de saúde. Um dos principais instrumentos utilizados no faturamento é o prontuário, que contém informações sobre procedimentos realizados, medicamentos utilizados, equipe envolvida, entre outros itens que serão contabilizados e pagos. Assim, o prontuário trata-se de uma etapa que dá início à elaboração da conta hospitalar. De acordo com Zunta e Lima (2017, documento on-line), a conta hospi- talar se inicia quando o paciente entra no hospital. Durante seu tratamento, o paciente passa por diversos atendimentos e procedimentos, os quais serão documentados pela equipe profissional por meio do prontuário, sendo que “[...] a captura adequada destes dados gerará a cobrança, em vista disso deve Prontuário do paciente e faturamento8 haver fluidez destas informações para facilitar o fechamento da fatura [...]”. Dessa forma, a realização de auditorias nas instituições serve para gerenciar e fiscalizar os procedimentos e materiais a serem cobrados das fontes pagadoras, bem como para adequar as remunerações envolvidas. Nos processos de faturamento, é possível verificar irregularidades nas contas. Tais irregularidades podem ser oriundas dos prontuários, que são passíveis de erros e inconformidades, como letra ilegível, falta ou inadequação de dados. Quando os registros no prontuário são escassos ou inadequados, por exemplo, a assistência prestada ao paciente é comprometida, visto que por vezes faltam informações imprescindíveis para a aplicação de determinada abordagem, tratamento ou medicamento. Além disso, registros problemáticos também prejudicam a equipe de faturamento (SETZ; D'INNOCENZO, 2009). Guerrer (2012) desenvolveram um estudo a fim de analisar os impactos dos registros de informações no setor de faturamento de um hospital. Eles verificaram que itens registrados em prontuários, como materiais de inter- nação (gases, equipamentos), receberam ajustes positivos (inclusões na conta hospitalar), trazendo impactos financeiros significativos. Entretanto, os autores também constataram que ocorreram ajustes negativos (exclusões de itens da conta hospitalar) devido a informações inadequadas (relativas a alguns tipos de medicamentos, por exemplo), trazendo impacto financeiro negativo. Os autores concluíram que, se não fosse realizada uma pré-análise dos itens registrados nas contas hospitalares, haveria um significativo prejuízo financeiro para o hospital, que teria contabilizado materiais que sequer foram usados, situação conhecida como “glosa”. Setz e D'Innocenzo (2009) também analisaram as anotações dos prontuários de uma instituição hospitalar. Eles concluíram que as informações estavam corretas quanto à forma, mas incompletas e inadequadas. Isso ocasionava, por exemplo, a não administração de medicamentos prescritos, devido à ine- xistência de registros, afetando tanto o tratamento clínico do paciente quanto as contas hospitalares. Veja o que os autores afirmam: Quando esse registro é escasso e inadequado, compromete-se a assistência prestada ao paciente assim como a instituição e a equipe de enfermagem. Há um comprometimento da segurança e da perspectiva de cuidado do paciente, além da dificuldade para mensurar os resultados assistenciais advindos da prática do enfermeiro. A padronização dos registros (anotações e evoluções) de enfermagem é necessária, visto que existem falhas no que se referea ade- quações gramaticais da linguagem formal, exatidão, brevidade, legibilidade, identificação e terminologia técnica (SETZ; D'INNOCENZO, 2009, p. 317). 9Prontuário do paciente e faturamento Assim, mais uma vez é demonstrada a importância da auditoria para a identificação de inconsistências e erros nos prontuários. Ela possibilita tanto a correção de erros antes de serem inseridos nas contas hospitalares (o que oca- siona prejuízos financeiros) como o investimento em treinamento e capacitação, para evitar que os erros dos prontuários sejam refletidos na assistência prestada e tragam prejuízos ao tratamento do paciente (SETZ; D'INNOCENZO, 2009). Em relação à capacitação e à atualização da equipe envolvida no registro das informações no prontuário, é importante destacar alguns pontos. A equipe em questão pode ser composta por médicos, enfermeiros, técnicos de enfer- magem, nutricionistas, fisioterapeutas, técnicos em radiologia, entre outros profissionais da assistência direta. Além disso, ela pode reunir os profissionais que compõem a equipe administrativa e que de alguma forma se envolvem com o prontuário e com os seus registros: faturistas, recepcionistas, auxiliares de farmácia, secretárias de unidades ou de serviços administrativos, etc. O grande objetivo do treinamento das equipes é a padronização dos registros no prontuário, principalmente atualizando todos os profissionais envolvidos a respeito das negociações entre financiadores e prestadores de serviços de saúde. O prontuário registra todos os procedimentos médicos (incluindo honorá- rios, exames, medicamentos) que ocorrem durante a internação/atendimento de um paciente. A partir disso, as informações são inseridas num sistema, o qual é utilizado pelo setor de faturamento, que se vale de tal documento para o processamento da conta do paciente. Durante esse processo, devem ser checados os itens inseridos: é necessário verificar se estão de acordo com o ocorrido e se estão adequados à cobertura (de operadoras de saúde) ou ao estabelecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) — por meio da Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais (OPM), por exemplo. Assim, a cobrança depende muito da fonte pagadora (operadoras de saúde ou SUS). Entre as estratégias a serem utilizadas pelos gestores no setor de faturamento em relação aos prontuários, você pode considerar: o mapeamento do fluxo do prontuário dentro da instituição, de forma a identificar as atividades envolvidas desde a entrada do paciente até a cobrança dos serviços na conta hospitalar; a verificação de glosas e problemas presentes nas contas hospitalares; e a utilização de indicadores para a gestão da informação no faturamento. Como você viu ao longo deste capítulo, a utilização do prontuário no setor de faturamento é muito importante. Você deve compreender com clareza os principais aspectos legais e éticos envolvidos. Afinal, as informações pre- sentes nos registros têm potencial para impactar a perspectiva financeira da instituição, podendo trazer prejuízos que se refletem nas contas hospitalares. Prontuário do paciente e faturamento10 Para conhecer melhor as implicações dos prontuários na assistência a partir da pers- pectiva da auditoria, leia o artigo “Registros de enfermagem em prontuário e suas implicações na qualidade assistencial segundo os padrões de acreditação hospitalar: um novo olhar da auditoria”, de Morais et al. (2015). Esse texto está disponível on-line; utilize o seu site de buscas preferido para encontrá-lo. ARAÚJO, N. C.; MOTA, F. R. L. Prontuário de paciente: questões éticas. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 5, n. esp. 1, p. 52–67, 2020. BRANDT, R. A.; MONZILLO, P. H. Ética em saúde. Einstein: Educação Continuada em Saúde, São Paulo, v. 5, n. 4 pt 2, p. 142–143, 2007. BRASIL. 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Informações de enfermagem re- gistradas nos prontuários frente às exigências do Conselho Federal de Enfermagem. Revista Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 29, n. 1/3, p. 31–38, 2018. COLTRI, M. V.; SILVA, R. H. A. Prontuário do paciente: comentários à Lei 13.787/2018. RBOL-Revista Brasileira de Odontologia Legal, Ribeirão Preto, v. 6, n. 2, p. 89–105, 2019. FURUIE, S. S. et al. Prontuário eletrônico de pacientes: integrando informações clínicas e imagens médicas. Research on Biomedical Engineering, [s. l.], v. 19, n. 3, p. 125–137, 2003. GUERRER, G. F. F. Auditoria de contas em um hospital de ensino especializado em cardiologia e pneumologia: um estudo de caso. 2012. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. HUMMEL, G. S. ePatient: a odisseia digital do paciente em busca da saúde: as tecno- logias de informação e comunicação apoiando o paciente na busca da saúde e do bem-estar. São Paulo: STS, 2010. PATRÍCIO, C. M. et al. 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Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/238075164_Estru- turacao_da_Evolucao_Clinica_para_o_Prontuario_Eletronico_do_Paciente. Acesso em: 12 ago. 2020. GOMES, L. E. M. et al. O prontuário do paciente e o dever legal e ético de registrodos profissionais da saúde: uma revisão literária. Revista Eletrônica Acervo Saúde, [s. l.], v. 12, n. 7, 2020. Disponível em: https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/3615. Acesso em: 12 ago. 2020. MORAIS, C. G. X. et al. Registros de enfermagem em prontuário e suas implicações na qualidade assistencial segundo os padrões de acreditação hospitalar. Revista Acreditação: ACRED, [s. l.], v. 5, n. 9, p. 64–84, 2015. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/ articulo?codigo=5626617. Acesso em: 12 ago. 2020. Prontuário do paciente e faturamento12 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 13Prontuário do paciente e faturamento DICA DO PROFESSOR Quando o assunto é prontuário, um dos temas que tem sido amplamente discutido é a segurança e a privacidade dos dados envolvidos. Visto que trata-se de informação pessoal do paciente, é fundamental o conhecimento dos gestores do setor de faturamento sobre leis e normas que dizem respeito aos aspectos legais e éticos na utilização da informação, dado o envolvimento do setor com os dados do paciente. Nesta Dica do Professor, saiba mais sobre as principais normas e estratégias utilizadas na segurança da informação nos prontuários. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! NA PRÁTICA A informação no contexto hospitalar é fundamental para o bom desempenho dos serviços. Um dos instrumentos mais reconhecidos como meio de compartilhamento de informação é o prontuário, o qual apresenta limitações que podem atrapalhar o fluxo de comunicação entre as equipes e prejudicar a instituição. Neste Na Prática, conheça um estudo de caso realizado em um hospital com o propósito de avaliar a qualidade dos registros do prontuário e analisar como ele tem impactado no processamento da informação, que influencia diversos setores, como o de faturamento. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: O prontuário do paciente e o dever legal e ético de registro dos profissionais da saúde: uma revisão bibliográfica Leia este artigo que discute a relevância dos aspectos legais e éticos nos prontuários de pacientes. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A importância das anotações de enfermagem no processo de auditoria Leia este trabalho que teve como propósito analisar a relevância das anotações de informações de pacientes, muitas vezes por meio de prontuários, no processo de auditoria, o qual se reflete nas contas hospitalares. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Resolução CFM nº 1.638/2002 Conheça a resolução que define o prontuário médico e torna obrigatória a criação da Comissão de Revisão de Prontuários nas instituições de saúde. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Resolução CFM nº 1.821/2007 Leia a resolução que aprova as normas técnicas concernentes à digitalização e ao uso dos sistemas informatizados para guarda e manuseio dos documentos dos prontuários dos pacientes, autorizando a eliminação do papel e a troca de informação identificada em saúde. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Resolução CFM nº 2.218/2018 Conheça a resolução que revoga o artigo 10 da Resolução CFM nº 1.821/2007, de 23 de novembro de 2007. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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