Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ética Profissional MARCELA DUPONT SOARES Conteúdo Módulo I – Ética Definição e extensão do termo: os conceitos de ética e moral, considerando seus objetos, objetivos A mutabilidade da experiência ética A Ética e sua relação com os campos de saber: como se dá a relação da Ética com a religião, a política, o direito e a ciência Módulo II – A ética da Psicologia Os modos de subjetivação no Ocidente e especialmente no Brasil para entender a concepção de ética nesse espaço-tempo, refletindo sobre as práticas e discursos psicológicos e suas inter-relações com a ética Conteúdo Módulo III - FORMAÇÃO, PROFISSÃO E ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO Fundamentar e questionar sobre a relação psicológica e ética, acentuando o código de ética A Psicologia virtual A especificidade da ética no âmbito da clínica Referências Básicas 1. CAMARGO, Marculino. Fundamentos de ética geral e profissional. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. 2. COIMBRA, Cecília Maria Bouças. Psicologia, ética e direitos humanos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. 3. DUPAS, Gilberto. Ética e poder na sociedade da informação: de como a autonomia das novas tecnologias obriga a rever o mito do progresso. 2.ed. rev. ampl . São Paulo: UNESP, 2001. ÉTICA O que é o pensamento filosófico? Filosofia Temos a ideia de que o pensamento filosófico é função exclusiva de grandes pensadores, mas qualquer pessoa pode adotar postura filosófica por meio de atitudes críticas perante o mundo e situações cotidianas. Filosofia Atitude Filosófica – Pergunta Interrogar a si mesmo Atitude crítica Negativa: não ao censo-comum Positiva: Construção de novo conhecimento Filosofia Para que filosofia? Para não darmos nossa aceitação imediata as coisas sem maiores considerações Postura de não aceitar como obvias todas as coisas (questionar, olhar de outra forma) Filosofia Respostas que não estão prontas Exige interpretação do mundo Questionamentos acerca da realidade e das expectativas Processo de construção do conhecimento e de visão crítica sobre as relações humanas Filosofia “Navegar é preciso, viver não é preciso” Pompeu, general romano, século I a.C. Filosofia A construção do conhecimento se da por meio da evolução do pensamento crítico Mais do que buscar respostas já existentes, a missão é buscar as perguntas que ajudam a refletir de forma crítica sobre a realidade Galatea das esferas Salvador Dali, 1952 Madame Zborowska Amadeo Modigliani, 1918 Mulher chorando Pablo Picasso, 1937 Filosofia O que há em comum? Filosofia Tendência a racionalizar Inserir ao “caos” – “sair da caixinha” Filosofia No nosso dia a dia nós fazemos várias perguntas sobre eventos corriqueiros e muitas vezes não paramos para analisar o impacto dessas reflexões “Perguntar se está feliz?” O que é felicidade? Filosofia Na correria do dia a dia: tempo suficiente ? Vai dar tempo? Quero um dia com 36horas! O que é o tempo? Quem define o conceito de tempo? Filosofia Quando somos capazes de apreender a realidade, estamos realizando uma atitude filosófica de questionamento ao senso comum Filosofia Para Chauí (1995), independente do conteúdo a ser investigado, esta atitude filosófica pode se embasar em três características sobre a coisa, valor ou ideia: a) perguntar “o que” é e seu significado; b) perguntar “como” acontece e quais as suas relações que definem como tal; c) perguntar “por que” existe e como é, seja por sua origem ou causa. Moral e Ética A moral e a ética são indispensáveis no convívio humano, e, nos grupos sociais, estão intimamente relacionadas. Sem moral, a convivência humana torna-se impossível. Sem ética, torna-se lamentável, vergonhosa, mesquinha e infeliz. Moral e Ética Conduta ética, exige o agente consciente, isto é, o sujeito que sabe a diferença entre certo e errado entre bem e mal, entre permitido e proibido. A consciência moral conhece as diferenças e também avalia sua própria capacidade de julgar as condutas e de agir em consonância com valores morais. Moral e Ética Passa a responder de forma responsável por seus sentimentos e ações, pelas consequências do que sente e do que faz. Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida ética. Moral e Ética A forma principal de manifestação da consciência moral é a capacidade de escolher, entre as diversas alternativas, a partir de valores éticos, e decidir qual a melhor. Moral e Ética É nossa capacidade de avaliar e considerar as motivações pessoais, assim como as exigências da situação, as consequências tanto para si como para os outros, o ajuste entre meios e fins, a obrigação de respeitar as leis e normas estabelecidas ou de transgredi-las (se o estabelecido for injusto ou imoral). Moral e Ética Avaliar qual sua vontade nesse processo faz parte do campo ético. Você é o agente moral que vai perguntar: “Quero? Devo? Posso?” Moral e Ética O agente moral ativo controla interiormente suas paixões, inclinações, debate consigo mesmo e com os outros o sentido dos valores e dos fins estabelecidos, questiona como os valores devem ser respeitados ou transgredidos por outros valores superiores a esses Moral e Ética Agente moral ativo é autônomo e verdadeiramente livre. Ao ampliar a ciência do que quer, deve e pode Ainda Mais Moral e Ética Segundo Cotrim (2002) a Moral é o conjunto de normas, princípios e costumes que orientam o comportamento humano, tendo como base os valores próprios a uma dada comunidade ou grupo social. Moral e Ética A moral é normativa a partir de um conjunto de regras, valores, proibições e tabus que provêm de fora do ser humano, ou seja, que são cultivados ou impostos pela política, costumes sociais, religiões ou ideologias. Moral e Ética Para Cotrim (2002) a ética é um estudo reflexivo das diversas morais, no sentido de explicitar os seus pressupostos, ou seja, as concepções sobre o ser humano e a existência humana que sustentam uma determinada moral. Moral e Ética Segundo Cordi (2003, p.62), “ética é uma reflexão sistemática sobre o comportamento moral. Ela investiga, analisa e explica a moral de uma determinada sociedade”. Moral e Ética A ética define-se como o conhecimento, a teoria ou a ciência do comportamento moral. É através da ética que compreendemos, explicamos, justificamos, analisamos criticamos e, se assim quisermos, aprimoramos a moral da sociedade. A ética, em última análise, é a definidora dos valores e juízos que norteiam a moral. Moral e Ética Compete à ética, por exemplo, o estudo da origem da moral, da distinção entre comportamento moral e outras formas de agir, da liberdade e da responsabilidade e de questões como a prática do aborto, da eutanásia e da pena de morte. Moral e Ética Conforme Cordi (2003) a ética não diz o que deve e o que não deve ser feito em cada caso concreto, isso é da competência da moral. A partir dos fatos morais a ética tira conclusões elaborando princípios sobre o comportamento moral. Moral e Ética “diz-se de uma pessoa que ‘ela não tem ética’ para criticar seus comportamentos e atitudes; poder-se-ia muito bem chamá-la ‘imoral” Moral e Ética A ética define-se como o conhecimento, a teoria ou a ciência do comportamento moral. É através da ética que compreendemos, explicamos, justificamos, analisamos criticamos e, se assim quisermos, aprimoramos a moral da sociedade. A ética, em última análise, é a definidora dos valores e juízos que norteiam a moral. Moral e Ética Compete à ética, por exemplo, o estudo da origem da moral, da distinção entre comportamento moral e outras formas de agir, da liberdade e da responsabilidade e de questões como a prática do aborto, da eutanásia e da pena de morte. Moral e Ética Conforme Cordi (2003) a ética não diz o que deve e o que não deve ser feito em cada caso concreto, isso é da competência da moral. Apartir dos fatos morais a ética tira conclusões elaborando princípios sobre o comportamento moral. Moral e Ética Podemos afirmar que o conceito de Ética é mais amplo e rico do que o de Moral. Ética implica em reflexão teórica sobre moral e revisões racionais e críticas sobre a validade da conduta humana, sendo o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto, adequado ou inadequado, independentemente das práticas culturais. Moral e Ética Para Cordi (2003, p.64) “a moral é tanto um conjunto de normas que determinam como deve ser o comportamento quanto ações realizadas de acordo ou não com tais normas”. Moral e Ética desde a infância a pessoa está sujeita à influência do meio social por intermédio da família, da escola, dos amigos e dos meios de comunicação de massa (principalmente a televisão). Assim, ela vai adquirindo aos poucos princípios morais. Moral e Ética Mas a moral não se reduz ao aspecto social. À medida que o indivíduo desenvolve a reflexão crítica, os valores herdados passam a ser colocados em questão. Ele reflete sobre as normas e decide aceitá-las ou negá-las. A decisão de acatar uma norma é fruto de uma reflexão pessoal consciente que se chama interiorização. Moral e Ética Essa interiorização da norma é que qualifica o ato como moral. Caso não seja interiorizado, o ato não é considerado moral, é apenas um comportamento determinado pelos instintos, pelos hábitos ou pelos costumes. Moral e Ética A maneira como a consciência individual vai reagir diante das normas depende tanto de elementos referentes à pessoa (formação pessoal, caráter, temperamento) quanto de fatores e instituições sociais (regime político, organização social, sistema econômico, instituições culturais, meios de comunicação em massa) que podem criar possibilidades ou impor obstáculos à realização da moral. Moral e Ética A maneira como a consciência individual vai reagir diante das normas depende tanto de elementos referentes à pessoa (formação pessoal, caráter, temperamento) quanto de fatores e instituições sociais (regime político, organização social, sistema econômico, instituições culturais, meios de comunicação em massa) que podem criar possibilidades ou impor obstáculos à realização da moral. Moral e Ética Podemos dizer que pertence ao vasto campo da moral a reflexão sobre perguntas fundamentais como: • O que devo fazer para ser justo? • Quais valores devo escolher para guiar minha vida? • Há uma hierarquia de valores que deve ser seguida? Moral e Ética • Que tipo de ser humano devo ser nas minhas relações comigo mesmo, com meus semelhantes e com a natureza? • Que tipo de atitudes devo praticar como pessoa e cidadão? Moral e Ética • Que tipo de ser humano devo ser nas minhas relações comigo mesmo, com meus semelhantes e com a natureza? • Que tipo de atitudes devo praticar como pessoa e cidadão? Moral e Ética O sujeito moral ou ético, isto é, a pessoa, só pode existir se preencher as seguintes condições, conforme Chauí (2003): • Ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele. Moral e Ética • Ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade para deliberar e decidir entre as diversas alternativas possíveis. Moral e Ética • Ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e conseqüências dela sobre si e sobre os outros, assumi-la bem como às suas conseqüências, respondendo por elas. Moral e Ética • Ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto para escolher entre alternativas possíveis, mas o poder para autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta. Moral e Ética • Ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto para escolher entre alternativas possíveis, mas o poder para autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta. Moral e Ética Há de se notar que, hoje em dia, assistimos a uma valorização da palavra ‘ética’ em detrimento da palavra ‘moral Spitz (1995):“Esse termo (ética), que tomou uma importância cada vez maior, veio para aliviar o inextricável embaraço daqueles que desejariam falar em moral sem ousar pronunciar esta palavra” (p. 149). Debate O artigo 41 do Código de Ética veda ao médico abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido de seu representante legal. Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal. Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal. Argumentos: Alívio de sofrimento Falta absoluta de qualidade de vida (mesmo com cuidados paliativos) Autonomia de vontade do paciente Crenças religiosas Juramento de Hipócrates, segundo o qual a vida é tida como um dom sagrado e o médico não pode ser juiz da vida ou da morte de outrem. Direito de morrer? Trabalho (ENTREGAR 09/09) Formar psicólogos para quê e para quem? Trabalhos para apresentação duplas – Seminários Início das Apresentações (09.09) 1. Psicologia e Direitos Humanos 2. Psicologia e Políticas Públicas 3. Psicologia e Mídia 4. Ética e Pesquisa 5. Ato médico 6. Especialistas 7. Psicólogos sem fronteiras 8. Drogas e Redução de danos 9. Avaliação Psicológica Trabalhos para apresentação duplas - Seminário 10. Psicologia e Luta antimanicomial 11. Serviços psicológicos mediados por computador 12. Terapias Alternativas 13. Ética e Sexualidade 14. Ética e questões étnicas 15. Regulamentação das Psicoterapias no Brasil 16. Publicidade e Psicologia 17. Recrutamento e Seleção Ética e Direitos Humanos Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 É comum considerá-los como conquistas da civilização moderna contra a barbárie do mundo antigo, como frutos de uma evolução em direção ao progresso do chamado gênero humano Segundo Foucault (1979), a história clássica e oficial que nos tem sido ensinada é concebida como uma marcha contínua dos acontecimentos históricos em direção a uma teleologia que representaria o progresso, a civilização ou, mesmo, o fim da história. Assim, estágios antecedentes nos levariam obrigatoriamente a um futuro de perfeição ou à aproximação gradativa do que deve ser a perfeição. O mundo burguês nos faz acreditar nas qualidades da civilização moderna, desqualificando tudo o que o precedeu – o que se pode chamar de etnocentrismo histórico. “Qualificar de moderno é elogiar e despertar orgulho. Mais ainda é adjetivar de pós-moderno. Referir-se, porém, a algo ou alguém de medieval é quase como utilizar uma categoria de acusação, uma vez que esse tempo passou a ser considerado como uma época de bárbaros, como Idade das Trevas, como a noite de mil anos” (Rodrigues, 1999: 21). Portanto, o que chamamos de barbárie seria um corpo estranho à civilização, uma espécie de herança maldita que teima em persistir, uma oposição, uma dicotomia e não um paradoxo produzido pelo nosso mundo dito civilizado. Tal dicotomia entre civilização e barbárie é um produto do nosso tempo, visto que nunca se utilizou tanto esses dois conceitos, justamente em um momento em que a segurança torna-sea palavra de ordem. Com ela está o controle, a punição, a tutela, embora uma de suas funções seja, justamente, a de dissimulá-los e de naturalizá-los. Foucault ([1975-1976] 2002) caracteriza este momento da sociedade disciplinar, em especial a partir do final do século XVIII, como o “fazer viver e deixar morrer”, quando cada vez mais necessitamos que muitos morram para que outros possam viver. Por isso, precisamos jogar para fora do nosso tempo e atribuir ao “passado bárbaro” o horror que hoje vivemos – os genocídios, os extermínios, os doentes negligenciados, as torturas – Tal lógica, que nega os binarismos, pode ser encontrada também nos escritos de Marx ([1867] 1968), quando em O capital, por exemplo, explica o mecanismo por meio do qual a acumulação de capital produz, ao mesmo tempo, a riqueza e aquilo que é caracterizado como seu contrário, a miséria, imprescindível à existência de mais e mais riqueza. Direitos Humanos Os ideais da Revolução Francesa – igualdade, liberdade e fraternidade –, palavras de ordem da burguesia em ascensão, tornaram-se, a partir do fim do século XVIII, os fundamentos dos chamados direitos humanos. Tem-se, então, um determinado “rosto” para os direitos humanos desde a primeira grande declaração produzida no âmbito da luta realizada pela burguesia contra a aristocracia francesa, em 1789, até a mais recente declaração, a de 1948, quando, após a Segunda Grande Guerra Mundial, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU) em pleno período da chamada “guerra fria”. Os direitos humanos, portanto, têm apontado quais são esses direitos e para quem eles devem ser concedidos. Ou seja, se tomados em sua perspectiva histórica, tanto o humano como os direitos são construções das práticas sociais em determinados momentos, que produzem continuamente esses objetos, subjetividades e saberes sobre eles. Deleuze (1992) afirma que os direitos humanos – desde sua gênese – têm servido para levar aos subalternizados a ilusão de participação, de que as elites preocupam-se com o seu bem-estar, de que o humanismo dentro do capitalismo é uma realidade e, com isso, confirma-se o artigo primeiro da Declaração de 1948: “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. Entretanto, sempre estiveram fora desses direitos à vida e à dignidade os segmentos pauperizados e percebidos como “marginais”: os “deficientes” de todos os tipos, os “desviantes”, os miseráveis, dentre muitos outros. Os marginalizados de toda ordem nunca fizeram parte desse grupo que, ao longo dos séculos XIX, XX e XXI, tiveram e continuam tendo sua humanidade e seus direitos garantidos. Percebemos aqui como as diferentes práticas sociais, em diferentes momentos da história, vão produzindo diferentes “rostos”, diferentes “fisionomias”; portanto, diferentes objetos, diferentes entendimentos do que são direitos e do que é humano. Em vez de pensar os direitos como essência universal do homem, poderíamos, por meio de outras construções, garantir e afirmá-los como diferentes modos de sensibilidade, diferentes modos de viver, existir, pensar, perceber, sentir; enfim, diferentes jeitos de estar e existir no mundo. O normal, enquanto a-normal, é posterior à definição do normal, é a negação do normal, é a negação lógica deste. No entanto, é a anterioridade histórica do futuro anormal que provoca uma intenção normativa. O normal é o efeito obtido pela execução do projeto normativo, é a norma manifestada no fato. E o que constituiria a norma senão um conjunto de regras morais que impõem sua existência pela possibilidade de sua infração? Eis o que nos aproxima do pensamento de Alain Badiou (1999), quando ele nos diz que se a experiência do inumano é clara, a do humano é obscura, tendo em vista que é “o humano que delimita o ponto de aplicação dos direitos do homem” (Badiou, 1999: 47-48) “não havendo uma imagem definitiva e ideal d’O Homem só nos resta aceitar a tarefa sempre inconclusa de reinvenção de nossa humanidade, o que não se pode fazer sem o trabalho também constante da produção de outros modos de vida, de novas práticas” (Barros & Passos, 2005: 570). Reafirmamos que, se não entendemos os direitos e o humano como objetos naturais, obedecendo a determinados modelos que lhes seriam inerentes, podemos produzir outros direitos humanos: não mais universais, absolutos, contínuos e em constante evolução, mas a afirmação de direitos locais, descontínuos, fragmentários, processuais, em constante movimento e devir, múltiplos como as forças que os atravessam e os constituem. No Brasil Vieram quando “novos personagens entraram em cena” (Sader, 1988) lutavam por melhores condições de vida, trabalho, salário, moradia, alimentação, educação, saúde e pela democratização da sociedade. Estaremos longe, portanto, de uma nova ética afirmativa dos direitos enquanto não enfrentarmos o risco das revoluções, não mais das macrorevoluções, sempre fadadas ao fracasso, e sim das rupturas das revoluções moleculares de nossas práticas cotidianas de poder. A Ética e a Psicologia A ética deve ser o eixo norteador da atuação dos profissionais de psicologia (CARNEIRO et al., 2010). Nesse sentido, a graduação em Psicologia é um momento privilegiado de construção de sujeitos éticos. Código de ética profissional datado de 2005 Se concretizou no XII Plenário do Conselho Federal de Psicologia Pauta-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos (Organização das Nações Unidas [ONU], 1948), na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, dentre outros documentos (MATTOS & SHIMIZU, 2008). Percebe-se “a preocupação da Psicologia em exercer práticas não excludentes e não discriminatórias” (BERNARDI, 2010, p. 9) bem como o estímulo à reflexão de cada profissional sobre a sua atuação Sete princípios fundamentais: I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural. IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática. V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão. VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada.
Compartilhar