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DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE LEUCEMIAS CONTAGEM LEUCOCITÁRIA ELEVADA DECORRENTE DE REAÇÃO LEUCEMOIDE Em pacientes que não apresentam leucemia, contagens leucocitárias muito altas (geralmente superiores a 50 x 109/L) podem produzir uma lâmina de esfregaço de sangue periférico com aparência similar à da leucemia. Isso é denominado reação leucemoide, cujo tipo mais comum de reação é o granulocítico, embora também possam ocorrer reações linfociticas. O tipo granulocítico geralmente revela a presença de neutrófilos reativos no sangue periférico, com um desvio à esquerda (i. e., formas imaturas como bastonetes, metamielócitos e mielócitos). Normalmente, alterações do aspecto citoplasmático das células (p. ex., granulações tóxicas e produção de corpúsculos de Dõhle) também estão presentes. As causas de reação do tipo granulocítico incluem infecções bacterianas (p. ex., difteria), processos malignos (p. ex., doença de Hodgkin) e condições reativas (p. ex., granulocitose de rebote). Embora essas alterações sejam úteis, a proteína C reativa (PCR), uma proteína plasmática da fase aguda, aumenta e diminui rapidamente no início e na resolução da inflamação. A PCR parece ser um indicador mais precoce e mais sensível da inflamação e da infecção agudas (Seebach, 1997) e, atualmente, pode ser rapidamente mensurada pelos analisadores atuais. A reação leucemoide deve ser diferenciada da LMC e de outras condições mieloproliferativas. É importante notar que a enzima fosfatase alcalina do neutrófilo estará normal ou elevada na reação leucemoide granulodtica, mas baixa na LMC. CONTAGEM LEUCOCITÁRIA ELEVADA EM RAZÃO DA LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA (LMC) Atualmente, o diagnóstico definitivo da LMC baseia-se na demonstração do cromossomo Philadelphia (i. e., translocação BCR/c-abl entre os cromossomos 9 e 22) por meio da citogenética ou de técnicas moleculares. A detecção de anormalidades moleculares ou citogenéticas também tem importância diagnóstica (e pode ser prognóstica) em outras doenças hematológicas, incluindo a leucemia mieloide aguda, leucemia linfoblástica aguda, leucemia de célula T/linfoma e mielodisplasia. Hoje em dia é corrente o uso de técnicas moleculares para a detecção de estágios muito iniciais da doença, assim como para detectar doença residual mínima, isto é, a doença que pode estar aparente apenas no nível molecular. Por exemplo, a reação em cadeia de polimerase quantitativa pode ser utilizada para monitorar os níveis de translocação BCR/c-abl em pacientes com LMC sendo tratados com o inibidor de cinase Gleevec. CONTAGEM LEUCOCITÁRIA ELEVADA EM RAZÃO DA LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA (LLC) Quando os linfócitos parecem normais, mas em quantidade significativamente elevada em um paciente mais velho, a possibilidade de LLC deve ser considerada. Mais uma vez, técnicas moleculares como, por exemplo, citometria de fluxo e análise citogenética/hibridização in situ por fluorescência podem ajudar no estabelecimento do diagnóstico. Na LLC, linfócitos B neoplásicos serão encontrados para expressar um antígeno de diferenciação do leucócito humano incomum (mas característico), designado CDS, que é típico desta doença. Outros antígenos CD também podem ser detectados pela citometria de fluxo e tornarem-se úteis para a resolução de outros problemas diagnósticos hematológicos. LEUCOCITOSE EM RAZÃO DE LEUCEMIAS AGUDAS Tanto a leucemia mieloide aguda como a linfoide apresentam, em geral, uma contagem leucocitária acentuadamente elevada. Na leucemia linfoblástica, numerosos linfoblastos são observados no esfregaço de sangue periférico. As leucemias mieloides podem apresentar-se sob várias formas, incluindo mieloblástica, promielodtica, monoblástica/monocítica, mielomonocítica, eritroblástica e megacarioblástica. Novamente, a citometria de fluxo, imunofenotipagem, a cariotipagem e a análise molecular podem ajudar no estabelecimento do diagnóstico, assim como na definição do prognóstico. Aqui, é indicado que blastos de qualquer tipo em um esfregaço de sangue periférico levantam uma forte possibilidade diagnóstica de leucemia aguda. LINFOCITOSE A linfocitose é um aumento do número de linfócitos no sangue periférico. Os intervalos de referência são de ~ 1,5-4 xl09/L no adulto e de ~ 1,5-8,8 xl09 /L na criança. A linfocitose relativa (aumento do percentual de linfócitos) está presente em várias condições e é especialmente proeminente em distúrbios com neutropenia. A linfocitose não é comum nas infecções bacterianas agudas, mas em geral está associada a infecções virais (EBV, hepatite). EXAME DO ESFREGAÇO DE SANGUE O exame microscópico de um esfregaço de sangue em lâmina ou lamínula de vidro fornece informações úteis sobre todos os elementos formados do sangue. O processo de preparo de um esfregaço de sangue delgado provoca trauma mecânico às células. Do mesmo modo, as células são achatadas sobre o vidro durante a secagem, e a fixação e coloração envolvem exposição ao metanol e à água. Alguns artefatos acabam inevitavelmente sendo introduzidos, porém é possível minimizar essa ocorrência com uma boa técnica. ↳ Confecção e coloração dos esfregaços de sangue O exame do esfregaço de sangue constitui parte importante da avaliação hematológica. A confiabilidade da informação obtida é fortemente dependente de esfregaços bem confeccionados e bem corados, que são examinados de forma sistemática. Os esfregaços de sangue devem ser preparados o quanto antes, quando possível. ↳ Método da cunha Uma gota de sangue (2-3 mm de diâmetro) é colocada sobre a superfície plana de uma lâmina limpa e sem poeira, a cerca de 1 cm da extremidade. Com o auxílio do polegar e do indicador da mão direita, segura-se pela extremidade uma segunda lâmina (de espalhamento) apoiada contra a superfície da outra lâmina a um ângulo de 30 a 45°. Em seguida, ela deve ser puxada para trás, para que entre em contato com a gota de sangue. Após o sangue se espalhar, forma-se o ângulo entre as duas lâminas. A "lâmina de espalhamento" é puxada para a frente a uma velocidade moderada, até que todo o sangue tenha se espalhado formando um esfregaço razoavelmente fino. A lâmina de espalhamento deve ser limpa, seca e um pouco mais estreita que a primeira lâmina, de modo que as bordas possam ser examinadas com facilidade ao microscópio. As lâminas devem ser agitadas ao ar para que sequem com rapidez. Também podem ser secas com o auxílio de um ventilador elétrico. A espessura do esfregaço pode ser ajustada pela alteração do ângulo formado pela lâmina de espalhamento ou de acordo com a velocidade do espalhamento da amostra, ou ainda pela utilização de uma gota de sangue maior ou menor. A uma determinada velocidade, se o ângulo formado pela lâmina de espalhamento for aumentado, o esfregaço produzido será mais espesso. Com um determinado ângulo, se a velocidade com que a lâmina de espalhamento é puxada aumentar, o esfregaço também será mais espesso. O esfregaço não deve cobrir por inteiro a superfície da lâmina, e um bom esfregaço apresenta uma porção espessa e uma porção delgada unidas por uma transição gradual entre ambas. O esfregaço deve ter aspecto liso, uniforme e livre de cristas, ondulações ou buracos. A extremidade da lâmina de espalhamento deve ser absolutamente lisa, pois se for irregular fará com que o esfregaço apresente caudas desiguais com acúmulo de leucócitos. Os esfregaços de espessura ideal apresentam certa sobreposição de hemácias em boa parte de sua extensão, contudo essas células estão bem distribuídas e separadas acompanhando uma cauda fina. Quanto mais rápido o esfregaço seca ao ar, melhor é o espalhamento de células individuais sobre a lâmina. Uma secagem lenta (p. ex., sobcondições de tempo úmido) resulta em artefatos de contração das células. A lâmina pode ser identificada na extremidade fosca com o auxílio de um lápis, ou diretamente sobre a extremidade espessa do esfregaço. LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA (LMC) ↳ Características clínicas A LMC ocorre em adultos jovens e de meiaidade. A incidência específica para a idade, no entanto, aumenta acentuadamente após os 50 anos. O início é insidioso e o distúrbio pode ser descoberto de forma acidental em um exame de sangue de rotina. O paciente pode apresentar sintomas de anemia e perda de peso ou simplesmente se queixar de mal-estar. ↳ Características laboratoriais. A contagem de leucócitos em geral é superior a 50 xl09 /L e pode ultrapassar 300 xl09 /L. A contagem diferencial é característica. Há um espectro completo de células granulocíticas, de alguns poucos mieloblastos a neutrófilos maduros, com o número de mielócitos e metamielócitos superiores ao dos outros tipos celulares. A contagem absoluta de monócitos também está aumentada na maioria dos pacientes. A anemia normocítica está presente na maioria dos pacientes no momento do diagnóstico, e poucos normoblastos geralmente podem ser observados. A trombocitose está presente em mais da metade dos pacientes, enquanto menos de 15% deles apresenta trombocitopenia. A medula óssea apresenta uma hipercelularidade acentuada, principalmente como consequência da proliferação granulocítica, com todos os estágios representados. Em geral, há um aumento de precursores eosinófilos e basófilos. É bom lembrar que mesmo uma medula óssea típica não é diagnóstica de LMC. Por outro lado, na maioria dos casos, o diagnóstico pode ser estabelecido pelo exame de esfregaço de sangue periférico. LEUCEMIAS MIELOIDES AGUDAS A leucemia mieloide aguda (LMA) é a forma mais comum de leucemia aguda durante os primeiros meses de vida, mas durante a infância e a adolescência ela representa aproximadamente 1/3 das enfermidades. A avaliação inicial de um caso de com quadro de LMA baseia-se na contagem de 500 células do aspirado de medula óssea. Em primeiro lugar, é necessário calcular o percentual de células precursoras eritroides. O diagnóstico de LMA- eritroleucemia é estabelecido quando mais de 50% das células da medula óssea são precursores eritroides e quando os mieloblastos representam mais de 20% das células não eritroides remanescente, isto é, células nucleadas que não incluem precursores eritroides, linfócitos ou plasmócitos. Um achado útil no diagnóstico da LMA é a presença de corpúsculos de Auer, inclusões citoplasmáticas eosinofílicas semelhantes a bastonetes, derivadas de grânulos primários MPO- positivos. Corpúsculos Phi, os quais parecem cordões de grânulos eosinofílicos, derivam de microperoxissomos catalase-positivos. LINFOMA / LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA DE PRECURSORES DE CÉLULAS B ↳ Caracaterísticas clínicas. Esta categoria de processos malignos mais frequentemente manifesta-se como uma leucemia e é o protótipo da leucemia linfoblástica aguda (LLA). O outro tipo principal de LLA é o linfoblástico de precursores de células T, o qual é menos comum e tende a se manifestar como linfoma ou, de forma concomitante, como leucemia e linfoma. De modo geral, considera-se a LLA uma entidade clínica que é sutipada patologicamente e justifica uma análise geral. Em alguns casos, a manifestação é cutânea, óssea e/ou em linfonodos, sem envolvimento da medula óssea ( < 25º/o de blastos na medula óssea). Esses casos são designados como linfoma. A anemia está presente na LLA de precursores de células B quando as manifestações clínicas estão completamente desenvolvidas. Em geral, ela é normocítica. Com frequência, eritrócitos nucleados estão presentes. A trombocitopenia de grau moderado a acentuado é a regra. A contagem de leucócitos às vezes é muito alta (> 100 x l09 /L) e, com frequência, é discretamente elevada, mas o mais comum é ela estar normal ou diminuída. A célula predominante é o linfoblasto. ↳ Medula óssea No momento em que o paciente se torna sintomático, as células hematopoéticas e a gordura costumam ser substituídas por uma infiltração difusa de linfoblastos. O percentual de blastos costuma ser superior a 50%. A cromatina é difusa em algumas células, mas também pode apresentar condensação variável. Pode ser difícil distinguir os blastos dos linfócitos normais em crianças jovens. Blastos maiores com citoplasma mais abundante, nucléolos proeminentes e núcleos frequentemente irregulares (FAB L2) também ocorrem e tendem a predominar na LLA do adulto.
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