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Paulo Gabriel da Silva Mota. Medicina UFR. Benzodiazepínicos INTRODUÇÃO • Os neurotransmissores excitatórios e inibitórios regulam vários processos, como: comportamento, sono, memória e a sensação de dor. Estes também estão relacionados a patologias, como epilepsias e neurotoxicidade. • As interações entre os canais iônicos, os receptores que regulam esses canais e os neurotransmissores aminoácidos são a base desses processos no SNC. • Os mais importantes neurotransmissores aminoácidos no SNC são o ácido γ-aminobutírico (GABA) e o glutamato. NEUROTRANSMISSÃO GABAÉRGICA E GLUTAMAÉRGICA • O SNC possui altas concentrações de aminoácidos que se ligam a receptores pós-sinápticos → agem como neurotransmissores inibitórios ou excitatórios. • O GABA é o principal neurotransmissor inibitório. • O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório. • Os neurotransmissores (NTs) aminoácidos produzem a resposta ao alterar a condutância de um ou mais canais iônicos seletivos. • Os NTs inibitórios provocam hiperpolarização da membrana (influxo de ânions ou efluxo de cátions). • Os NTs excitatórios provocam despolarização da membrana (influxo ou bloqueio do efluxo de cátions). • Os fármacos que modulam a neurotransmissão gabaérgica são de grande importância clínica. Eles incluem os benzodiazepínicos e os barbitúricos. • Os fármacos glutamatérgicos ainda são recentes ou experimentais. NEUROTRANSMISSÃO GABAÉRGICA • O GABA é o principal NT inibitório no SNC dos seres humanos. • As membranas da maioria dos neurônios e astrócitos do SNC expressam receptores de GABA → influenciam muitas funções neurais. • Os fármacos que modulam os receptores GABA afetam: o Reatividade e atenção o Memória o Sono o Tônus muscular o Ansiedade o São importantes também na epilepsia (hiperatividade neuronal) focal ou disseminada. RECEPTORES DE GABA • Existem dois tipos de receptores GABA: ionotrópicos e matabotrópicos. • Os receptores GABA ionotrópicos (GABAA e GABAC) são proteínas de membrana que se ligam ao GABA para abrir canais de cloreto intrínsecos. • Os receptores GABA metabotópicos (GABAB) são dímeros acoplados à proteína G que atuam via segundos mensageiros para modular as correntes iônicas. Receptores ionotrópicos (GABAA e GABAC) • Os receptores GABA mais abundantes no SNC são o GABAA. • São glicoproteínas transmembrana que apresentam cinco subunidades e um canal iônico central seletivo para o cloreto (Cl-) e que se abre na presença de GABA. • A maioria dos receptores GABAA sinápticos apresentam duas subunidades α, duas subunidades β e uma subunidade γ. • O GABA e seus agonistas se ligam em dois sítios na porção extracelular, entre as subunidades α e β. • Também existem vários outros sítios para a ligação de substâncias endógenas e/ou outros fármacos. • A ligação de duas moléculas de GABA a cada um dos sítios agonistas ativa o canal-receptor GABAA. • Como a [Cl-] extracelular é maior do que a [Cl-] intracelular, a abertura dos canais seletivos de cloreto desvia o potencial da membrana em repouso (-65mV) Paulo Gabriel da Silva Mota. Medicina UFR. para o potencial de equilíbrio do cloreto (-70Mv) → depsolarização da membrana, inviabilizando a condução do potencial ação. • Os receptores GABAC apresentam três subunidades e um canal iônico central, são restritos principalmente à retina e apresentam propriedades farmacológicas distintas. Receptores metabotrópicos de GABA (GABAB) • Os receptores GABAB são acoplados à proteína G. • São expressos principalmente na medula espinhal, mas em menor concentração do que GABAA. • O receptor GABAB interage com a proteína G, que inibe a adenil ciclase, abre os canais de K+ e fecha os canais de Ca2+ regulados por voltagem → ocorre hiperpolarização e as correntes excitatórias são inibidas. FÁRMACOS GABAÉRGICOS • Atuam sobre o metabolismo do GABA ou sobre a atividade do receptor gabaérgico. • A maioria atua sobre os receptores GABAA ionotrópicos → Há várias classes de fármacos que atuam ou sobre o sítio GABA ou sobre sítios alostéricos nesse receptor. • Esses agentes que ativam o GABAA são usados para sedação, ansiólise, hipnose, neuroproteção após trauma ou AVE e epilepsia. MODULADORES DOS RECEPTORES GABAA • Os principais representantes são os benzodiazepínicos e os barbitúricos. • Atuam em sítios de ligação alostéricos, aumentando a neurotransmissão gabaérgica. • Os benzodiazepínicos possuem efeitos sedativos, hipnóticos, amnésicos, miorrelaxantes e ansiolíticos. Em altas doses, podem causar hipnose e estupor. Porém, sozinhos, raramente provocam depressão fatal do SNC. • Os barbitúricos são fármacos da metade do século XX que ainda são usados para controle da epilepsia, da hipertensão craniana e como anestésicos gerais. BENZODIAZEPÍNICOS • São altamente seletivos e possuem alta afinidade. • Ligam-se a um único sítio dos receptores GABAA. • Atuam como moduladores alostéricos positivos, potencializando a regulação dos canais de cloreto na presença de GABA. • Não ativam diretamente os receptores GABAA na ausência de GABA, mas sim receptores mutantes → são agonistas alostéricos fracos. • Aumentam a frequência de abertura dos canais de cloreto quando há baixas concentrações de GABA. • Em concentrações elevadas de GABA (como nas sinapses), ocorre desativação prolongada do receptor GABAA → hiperpolarização da membrana. • Ou seja, os BDZ aumentam a potência aparente do GABA em até três vezes (deslocam a curva dose- resposta para a esquerda). • A modulação alostérica fraca dos BDZ em comparação com outros fármacos diminui o potencial de overdose fatal. Mas, administrados com outros sedativos ou hipnóticos, a margem de segurança diminui. Aplicações clínicas • São utilizados como: ansiolíticos, sedativos, antiepilépticos, relaxantes musculares e para Paulo Gabriel da Silva Mota. Medicina UFR. tratamento de ansiedade associada à depressão ou esquizofrenia. • Apresentam potencial de desenvolvimento de tolerância, dependência e adicção. Por isso, o uso deve ser intermitente. • Sedativos em procedimentos desconfortáveis e rápidos que geram dor aguda mínima, como endoscopia. Por exemplo, o midazolam (início rápido e ação curta) é usado como sedativo, ansiolítico ou amnésico. • Porrém, quando associados aos opioides, pode ocorrer uma potencialização sinérgica da sedação e da depressão respiratória. • Antes de anestesia geral, reduzem a necessidade de hipnóticos. • Muitos BDZ são prescritos para o tratamento da insônia: estelozam, flurazepam, triazolam, zolpidem → facilitam o início do sono e aumentam sua duração. Também diminuem a duração do sono REM (período de sonhos frequentes) e do sono de ondas lentas (sono profundo), mas aumentam o sono não REM estágio 2 (sono leve). ➢ Após uso prolongado, esses efeitos podem sumir devido à tolerância. • Em indivíduos sadios: alterações respiratórias similares ao sono natural sem alterações cardiovasculares significativas. • Em pacientes com doença pulmonar ou cardiovascular: pode haver depressão respiratória ou cardiovascular significativa em doses terapêuticas. • Em pacientes com lesão cerebral (AVC ou trauma): pode haver sedação profunda. • Os BDZ também são usados como antiepilépticos. O clonazepam (ação longa) é frequentemente utilizado assim, pois seu efeito anticonvulsivante não acompanha comprometimento psicomotor significativo. • Os BDZ reduzem a espasticidade do músculo esquelético ao aumentar a atividade de interneurônios inibitórios na medula espinhal. O diazepam é muito utilizado para atenuar espasmos decorrentes de lesões ou de distúrbios neuromusculares como a esclerose múltipla. É comum que essas doses terapêuticas causem sedação. Farmacocinética e metabolismo • Vias de administração:oral, transmucosa, intravenosa e intramuscular. • São rápida e completamente absorvidos por serem lipofílicos. • Não competem com outros fármacos ligados a proteínas. • Metabolizados pela CYP3A4 do citocromo P450, sendo excretados na urina como glicuronídios ou metabólitos oxidados. • Fármacos/drogas que inibem a CYP3A4 (etanol, cetoconazol, macrolídeos) → intensificam efeitos dos BDZ. • Fármacos que induzem a CYP3A4 (rifampicina, ompeprazol) → reduzem efeitos dos BDZ. • Pacientes com comprometimento da função hepática (incluindo idosos) → efeitos prolongados. Efeitos adversos • Segurança dos BDZ vêm da modulação limitada dos receptores GABAA. • Raramente provocam mortes (a não ser quando são administrados junto de outras drogas ou fármacos → etanol, opioides, ADT e outros depressores do SNC). • O etanol é, especialmente perigoso, pois inibe a CYP3A4. • A overdose por BDZ pode ser revertida com flumazenil, um antagonista dos BDZ. O flumazenil compete pela ligação dos sítios de alta afinidade dos BDZ no GABAA (antagonismo competitivo), mas não bloqueia efeitos dos barbitúricos ou do etanol. Tolerância e dependência • Uso crônico dos BDZ induz tolerância → redução da eficácia dos BDZ e dos barbitúricos. • Pode resultar: a) Da expressão reduzida de GABAA nas sinapses b) Do desacoplamento entre o sítio dos BDZ e o sítio do GABA • Interrupção súbita após uso crônico pode causar síndrome de abstinência → confusão, ansiedade, agitação e insônia.
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