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CINESIOTERAPIA Gabriela Souza de Vasconcelos Técnicas e métodos cinesioterapêuticos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar técnicas e métodos cinesioterapêuticos com valor terapêutico. Relacionar as diferenças existentes entre os métodos e técnicas cinesioterapêuticos. Planejar intervenções práticas utilizando os métodos e técnicas cinesioterapêuticos. Introdução Ao planejar o programa de reabilitação física de cada paciente, o fisiotera- peuta deve levar em conta inúmeros fatores, que vão desde os resultados da avaliação cinético-funcional até sua habilidade em aplicar determi- nada técnica ou método cinesioterapêutico. Com o desenvolvimento e crescimento da profissão, existem muitas técnicas cinesioterapêuticas à disposição dos fisioterapeutas nos dias de hoje. Por isso, é importante co- nhecer essas técnicas e entender os seus princípios e suas aplicações, pois elas podem ser de grande valia para a recuperação física dos pacientes. Neste capítulo, você conhecerá os métodos e técnicas cinesiotera- pêuticos, entenderá as diferenças entre eles e como eles são aplicados nas intervenções fisioterapêuticas. 1 Métodos e técnicas com valor terapêutico Atualmente, a fi sioterapia conta com inúmeros métodos e técnicas cinesio- terapêuticos para auxiliar e promover o processo de reabilitação física dos pacientes. De acordo com Dutton (2010), os métodos e técnicas cinesiotera- pêuticos são mais efi cazes se estiverem apoiados nas abordagens orientadas para problemas e necessidades funcionais dos pacientes, bem como para os objetivos acordados mutuamente na avaliação cinético-funcional. Além disso, segundo Prentice (2012), os protocolos de reabilitação física e as progressões devem ser baseados principalmente nas respostas fi siológicas dos tecidos a lesões e no modo como os vários tecidos cicatrizam. Os métodos e técnicas cinesioterapêuticos são aplicados com o intuito de diminuir a dor, controlar a inflamação, favorecer o processo de cicatrização e melhorar a força, a flexibilidade, a coordenação e a propriocepção, além de proporcionar reeducação neuromuscular e funcional e o retorno às atividades cotidianas e esportivas (KISNER; COLBY, 2017). Diante disso, uma grande diversidade de técnicas cinesioterapêuticas pode ser utilizada para comtemplar esses objetivos fisioterapêuticos e favorecer a plena recuperação do paciente. Além das técnicas cinesioterapêuticas mais comumente divulgadas, como McKenzie, Pilates, Total Resistance Exercises (TRX) e treinamento funcional, existem outras que podem ser aplicadas com muito sucesso durante o processo de reabilitação física, como método Feldenkrais, série de Williams, método Klapp, método isostretching, técnica de Alexander, Escola de Postura ou Escola de Coluna e integração psicofísica de Trager (BLACKBURN; PORTNEY, 1981; FELDENKRAIS, 1997; RE- DONDO, 2001; DUTTON, 2010; IUNES et al., 2010; GARCIA et al., 2011; KISNER; COLBY, 2017). De modo geral, essas últimas técnicas citadas fazem parte de técnicas integrativas, que combinam terapias complementares ou holísticas com prática fisioterapêutica convencional. Seu objetivo é cuidar do praticante como um todo, ou seja, o tratamento é da pessoa e não da doença em questão. Além disso, elas empregam todas as modalidades terapêuticas possíveis, em vez de um número limitado, e permitem que os pacientes, sempre que possível, usem abordagens de autocuidado e participem das decisões relacionadas à sua saúde (DUTTON, 2010). Mesmo com esse enfoque mais holístico a respeito da cura e do in- divíduo, todas essas técnicas cinesioterapêuticas visam a recuperação da elasticidade natural dos músculos, o fortalecimento muscular e o es- tabelecimento de padrões motores ideais para otimizar a proteção das articulações e dos tecidos moles adjacentes. Em resumo, essas técnicas podem ser aplicadas para manter, recuperar e prevenir disfunções cinético- -funcionais (DUTTON, 2010). A escolha das técnicas para cada caso será baseada no resultado da ava- liação cinético-funcional, na habilidade e conhecimento do fisioterapeuta em aplicar determinada técnica, na familiarização com os objetivos terapêuticos Técnicas e métodos cinesioterapêuticos2 de cada técnica e na necessidade do paciente. O foco principal dessas técnicas cinesioterapêuticas é aliviar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e de- sempenhar um papel importante na educação dos pacientes contra os excessos habituais (PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2017). Os métodos e técnicas cinesioterapêuticos abordados neste capítulo têm o objetivo de aliviar os sintomas, orientar e educar os pacientes e corrigir desequilíbrios musculares mediante a recuperação do comprimento normal dos músculos. De acordo com Dutton (2010), isso é fundamental nas intervenções fisioterapêuticas, pois as relações ideais de tensão–comprimento e de forças acopladas asseguram a manutenção da cinemática articular normal, ou seja, padrões de movimentos satisfatórios e indolores. 2 Comparação entre os métodos e técnicas cinesioterapêuticos Existe uma grande diversidade de técnicas e métodos cinesioterapêuticos que podem complementar ou até mesmo servir como tratamento único de diversas disfunções cinético-funcionais, principalmente aquelas relacionadas com a má postura corporal e com dores crônicas na coluna vertebral (BLACKBURN; PORTNEY, 1981; FELDENKRAIS, 1997; REDONDO, 2001; DUTTON, 2010; IUNES et al., 2010; GARCIA et al., 2011). Método Feldenkrais Trata-se de um método de educação somática e um processo de autodescoberta com base em movimentos corporais. Esse método é considerado uma forma de reprogramar o sistema nervoso e reeducar o corpo a executar de maneira correta os padrões de movimentos funcionais. Os padrões de movimentos são desenvolvidos pela promoção de dois aspectos: a consciência através do movimento (CAM) e a integração funcional (IF). A CAM costuma ser feita em grupo, mediante a execução de movimentos exploratórios suaves com o uso de comandos verbais, enquanto o aspecto IF envolve aprendizados individuais e a realização de movimentos não habituais, com sugestão tátil de um profi ssional treinado. De acordo com Feldenkrais (1997), os dois aspectos visam alterar 3Técnicas e métodos cinesioterapêuticos os padrões antigos e criar novas formas de movimento, de forma lenta, sem pausa e sem dor ou desconforto. De acordo com o método, as dores e restrições aos movimentos não resultam de defeitos físicos reais ou de deteriorações inevitáveis causadas pela idade, e sim do uso habitual inadequado, gerando fadiga, incapacitação e dor. Por isso, o objetivo do criador do método, Dr. Moshé Feldenkrais, era fazer com que os indivíduos se movimentassem com relaxamento e autoconsciência, minimizando os esforços e maximizando a eficiência. Além disso, de acordo com o Dr. Feldenkrais, o antídoto é reaprender determinados movimentos funcionais e posturais, fundamentados na forma como as pessoas se comportam durante o desenvolvimento na infância. O desenvolvimento desse método está baseado em cinco princípios (FELDENKRAIS, 1997): 1. Auto-organização. 2. O comportamento é dinâmico e flexível. 3. A perturbação é o instrumento das mudanças. 4. A escolha é imprescindível. 5. O desenvolvimento humano segue uma sequência lógica. O método também pode ser realizado em meio líquido, aproveitando os fatores físicos da água na reabilitação física do paciente. Qualquer pessoa pode praticar esse método, desde que a tolerância do paciente em relação aos exercícios seja respeitada. Pacientes em fase aguda de lesão, por exemplo, devem executar todas as posturas com máximo de conforto, em movimentos leves e suaves e em pequenas amplitudes. Segundo Feldenkrais (1997), conforme o quadro clínico for melhorando e o paciente tolerando exercícios mais complexos, a prática pode incluir exercícios com maior dificuldade e amplitude de movimento.Série de Williams A série de Williams é um programa de exercícios desenvolvido originalmente por Paul Williams, em 1937, com o objetivo de reduzir a dor e promover estabilidade de tronco em pacientes com dor lombar crônica (BLACKBURN; PORTNEY, 1981). Essa série de exercícios inclui movimentos de fl exão, tanto da coluna quanto do quadril, com o propósito de reduzir a dor e estabilizar o tronco, desenvolver ativamente os músculos fl exores e alongar passivamente os músculos extensores lombossacros. Blackburn e Portney (1981) afi rmam que os exercícios enfatizam a inclinação posterior da pelve, que é essencial para obter resultados satisfatórios no tratamento. Técnicas e métodos cinesioterapêuticos4 Conforme o criador do método, os pacientes que apresentavam dores lom- bares crônicas possuíam em sua maioria alterações degenerativas esqueléticas secundárias a lesões dos discos intervertebrais. Além disso, ele acreditava que o ser humano força seu corpo a se manter ereto, levando a uma deformação da coluna, redistribuindo o peso pelo corpo nas proximidades dos discos inter- vertebrais da coluna cervical e lombar. Assim, a permanência em pé por muito tempo aumentaria a lordose lombar, comprimindo a parte posterior do disco (L1 a S1) e acelerando o processo degenerativo (BLACKBURN; PORTNEY, 1981). Método Klapp O método Klapp foi criado por Rudolph Klapp em 1940. Consiste em alon- gamento e fortalecimento da musculatura do tronco por meio de posições em quatro apoios e de joelhos, semelhante aos qua drúpedes. O desenvolvimento dessas posturas foi baseado nos estudos e observações realizados por Klapp, que permitiram constatar que os quadrúpedes não apresentavam escoliose, enquanto os humanos, pela ação da gravidade na posição bípede, desenvolviam essa patologia (IUNES et al., 2010). Método isostretching O método isostretching é uma ginástica postural global que combina a realização de exercícios de alongamento e fortalecimento muscular, bem como de conscien- tização postural. Segundo Redondo (2001), esse método visa principalmente o reforço da musculatura profunda que em grande parte sustenta a coluna vertebral. As características em que se baseia o método são: consciência pelo desper- tar da imagem mental e o conhecimento do próprio corpo pela correção dos exercícios; mobilidade por alongamentos musculares, movimento do quadril e do diafragma; tonicidade pelo autocrescimento e pelas contrações isométricas; controle respiratório e domínio das sensações da posição (REDONDO, 2001). Para se aprofundar no tema e encontrar mais informações sobre a utilização do método isostretching em ambiente aquático, consulte o artigo científico “Método isostretching em ambiente aquático e a melhora da flexibilidade muscular de idosos”, de Suzane Rodrigues Oliveira Cubas e Danieli Isabel Romanovitch Ribas. 5Técnicas e métodos cinesioterapêuticos Técnica de Alexander A técnica de Alexander abrange uma série de exercícios respiratórios e posturais, cujo objetivo é conscientizar os pacientes sobre os desequilíbrios estruturais, as diferentes formas de movimentação e as tensões excessivas produzidas pelas atividades cotidianas. De acordo com essa teoria, o principal refl exo corporal, conhecido como controle primário, localizado na área do pescoço, controla todos os outros refl exos. A disfunção nessa área, resultante do aumento da tensão no pescoço, provoca o recuo da cabeça, alterando a relação entre o pescoço e as costas, o que leva a tensões em outras partes do corpo (DUTTON, 2010). Com base nisso, Alexander sugeriu três diretrizes: 1. libere o pescoço; 2. deixe a cabeça se movimentar para a frente e para cima; 3. deixe a coluna alongar e alargar. O objetivo da primeira diretriz é eliminar quaisquer excessos de tensão nos músculos do pescoço, enquanto a segunda orienta o movimento da cabeça para frente e para cima, pois se os músculos do pescoço estiverem relaxados, a cabeça se movimenta suavemente nessas direções. Duntton (2010) afirma que a última diretriz acontece quando a segunda é cumprida; a partir daí, a coluna se alonga e a caixa torácica fica mais “alargada” pela retração dos ombros. Escola de Coluna ou Escola de Postura A Escola de Coluna (do inglês Back School) foi desenvolvida na Suécia pela fi sioterapeuta Mariane Zachrisson-Forssell, em 1969 (GARCIA et al., 2011). Ela tem um caráter educativo que possibilita um engajamento ativo do paciente no seu tratamento e serve para orientá-lo sobre aspectos da anatomia e biome- cânica lombar e sobre a realização de adequações ergonômicas e posturais que contribuem para o manejo da dor (BORGES et al., 2011). Segundo Garcia et al. (2011), essa estratégia de educação e prevenção serve tanto para melhoria da postura corporal quanto para tratamento de dores lombares. Nos seus diversos serviços, a Escola de Coluna oferece abordagens multi- disciplinares de reeducação postural, sendo que a maior parte dos programas inclui avaliação e orientação médica, nutricional, social, psicológica e diversas Técnicas e métodos cinesioterapêuticos6 atividades teóricas e práticas, inclusive atividades físicas. A curto prazo, a Escola de Coluna tem por objetivo reduzir a dor, estimular o repouso adequado e enfatizar o prognóstico favorável que ocorre na maior parte dos casos. A longo prazo, visa ensinar noções de postura, ergonomia e mecânica corporal, além de melhorar o condicionamento físico das pessoas, na tentativa de prevenir episódios de dores lombares (CARAVIELO et al., 2005). Integração psicofísica de Trager A integração psicofísica de Trager foi criada no início do século XX pelo Dr. Milton Trager. De acordo com Dutton (2010), trata-se de uma intervenção multifacetada, que consiste em uma série de movimentos leves, suaves e indolores que facilitam a liberação de padrões físicos (e mentais) profun- dos, gerados por postura inadequada, traumas, tensão e maus hábitos de movimentação. A técnica tem por objetivo promover mobilidade e diminuir a dor em pacientes com diferentes diagnósticos, como paralisia cerebral, disfunção espinhal, dor espinhal crônica e artrite. Essa abordagem divide-se em dois componentes: trabalhos de mesa e mentástica. Os trabalhos de mesa consistem em uma série de movimentos suaves e indolores, semelhantes às técnicas de mobilização geral. O fisioterapeuta deve movimentar o corpo do paciente passivamente, observando e sentindo o envolvimento dos te- cidos. O principal objetivo é gerar sensações de suavidade e de liberdade de movimentação em todo o corpo. O corpo todo é mobilizado, a fim de produzir sensações de relaxamento e bem-estar pela inibição do sistema simpático e pela facilitação do sistema parassimpático. Já a mentástica é um sistema de movimentos ativos cuja finalidade é aumentar a sensação de bem-estar proporcionada pelos exercícios relacionados aos trabalhos na mesa. Em vez de estimular os pacientes a controlar os movimentos, como nos exercícios tradicionais, a mentástica incentiva-os a abandonar esse tipo de controle. Os pacientes aprenderão a sentir os sinais de dor e de fadiga, bem como a mudar os sintomas alterando os movimentos. Ao longo do tempo, os pacientes aprendem a se movimentar confortavelmente e a liberar a tensão (DUTTON, 2010). No Quadro 1, são abordadas todas essas técnicas recém-examinadas, as principais características de cada uma delas, assim como suas respectivas aplicabilidades. 7Técnicas e métodos cinesioterapêuticos Técnica Características da técnica Indicações da técnica Método de Feldenkrais É um método de educação somática e um processo de autodescoberta com base nos movimentos. É aplicado para reprogramar o sistema nervoso e ree- ducar o corpo a executar de maneira correta os padrões de movimentos funcionais. Não requer uma con- dição clínica específica, podendo ser aplicado em caso de má postura, do- res crônicas, reeducação postural, entre outros. Série de Williams É uma série de exercíciosque inclui movimentos em flexão, tanto da coluna quanto do quadril, com o propósito de reduzir a dor e estabilizar o tronco, desenvolver ativamente os músculos flexores e alongar pas- sivamente os músculos extensores lombossacros. Disfunções cinético-fun- cionais da coluna lombar (dor crônica, hérnia de disco, entre outras). Método Klapp É um método que consiste em exercí- cios de alongamento e fortalecimento da musculatura do tronco por meio de posições em quatro apoios e ajoe- lhado, semelhantes aos quadrúpedes. Escoliose. Método isostretching É um método que combina a conscien- tização postural com a realização de exercícios de alongamento e de forta- lecimento muscular, principalmente da musculatura profunda que sustenta a coluna vertebral. Reeducação postural e disfunções cinético- -funcionais da coluna vertebral. Técnica de Alexander Uma série de técnicas respiratórias e posturais, cujo objetivo é conscientizar os pacientes sobre os desequilíbrios estruturais, as diferentes formas de movimentação e as tensões excessivas produzidas pelas atividades cotidianas na região do pescoço. Disfunções cinético- -funcionais na região da coluna cervical e pescoço. Quadro 1. Comparação entre as técnicas cinesioterapêuticas (Continua) Técnicas e métodos cinesioterapêuticos8 3 Planejamento de intervenções cinesioterapêuticas A avaliação cinético-funcional permite identifi car os objetivos fi sioterapêu- ticos e, a partir disso, determinar as condutas práticas, incluindo as técnicas cinesioterapêuticas, que farão parte de cada tratamento Os benefícios e a apli- cabilidade das técnicas cinesioterapêuticas são indiscutíveis e podem agregar alto valor à intervenção fi sioterapêutica. Segundo Dutton (2010) e Kisner e Colby (2017), uma grande variedade de disfunções cinético-funcionais pode ser prevenida ou tratada com essas técnicas cinesioterapêuticas. Vejamos caso a caso os efeitos da aplicação dessas técnicas sobre as dis- funções cinético-funcionais. Fonte: Adaptado de Feldenkrais (1997), Blackburn e Portney (1981), Iunes et al. (2010), Redondo (2001), Dutton (2010) e Garcia et al. (2011). Técnica Características da técnica Indicações da técnica Escola de Coluna Método que tem caráter educativo, possibilita um engajamento ativo do paciente no seu tratamento e serve para orientar o paciente sobre aspec- tos da anatomia e da biomecânica lombar e a realização de adequações ergonômicas e posturais que contri- buem para o manejo da dor. Reeducação postural e dores lombares. Integração psicofísica de Trager É uma intervenção multifacetada que consiste em uma série de movimentos leves, suaves e indolores, que facilitam a liberação de padrões físicos (e men- tais) profundos, que foram gerados por postura inadequada, traumas, tensão e maus hábitos de movimentação. Pode ser aplicado em diferentes diagnósticos, como paralisia cerebral, disfunção espinhal, dor espinhal crônica e artrite. Quadro 1. Comparação entre as técnicas cinesioterapêuticas (Continuação) 9Técnicas e métodos cinesioterapêuticos Disfunções cinético-funcionais da coluna lombar Como disfunções da coluna lombar, é possível incluir dores crônicas inespecífi - cas, hérnias de disco, processos degenerativos discais, desequilíbrios posturais, entre tantas outras disfunções que geram dor, tensão muscular e prejuízos à função física dos pacientes (MACEDO; DEBIAGI; ANDRADE, 2010). Em relação às técnicas abordadas até o momento, é possível preparar uma sessão que englobe várias posturas de técnicas diferentes ou então aplicar uma única técnica cinesioterapêutica, desde que seja respeitada a condição clínica do paciente (fase da lesão, limitações, tolerância às técnicas, etc.). Entre as técnicas, estão: método de Feldenkrais, série de Williams (Figura 1), método isostretching, Escola de Coluna e integração psicofísica de Trager. Embora elas sejam aplicadas de formas diferentes, todas pretendem aliviar os sintomas, melhorar a flexibilidade e a força muscular — principalmente dos estabilizadores do tronco — e melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida dos pacientes (FELDENKRAIS, 1997; DUTTON, 2010; IUNES et al., 2010; MACEDO; DEBIAGI; ANDRADE, 2010; GARCIA et al., 2011). Figura 1. Exemplo de um exercício da série de Williams utilizado para o tratamento da dor lombar crônica. Fonte: Mitch Medical Healthcare (2019, documento on-line). Alterações posturais As alterações posturais se caracterizam por modifi cações no alinhamento cor- poral, produzindo um excesso de tensão muscular. Isso geralmente é resultado Técnicas e métodos cinesioterapêuticos10 de compensações que geram ainda mais tensão e favorecem o desenvolvimento de deformidades. Como exemplos de alterações posturais, podemos citar escoliose, hipercifose torácica, anteriorização da cabeça (retifi cação cervical) e hiperlordose lombar. Monte-Raso et al. (2009) afi rmam que os métodos e técnicas cinesioterapêuticos podem ser aplicados nesses casos, desde sejam levados em conta as condições clínicas do paciente, como intensidade da dor, fase da lesão, tolerância à aplicação da técnica, entre outras. Especificamente para o tratamento da escoliose, a indicação é o método de Klapp. A escoliose é uma deformidade postural que produz uma diminuição da força muscular nos músculos extenso res lombares quando comparados com indi- víduos sem escoliose (BASSANI et al., 2008). Por isso, os exercícios preconizados pelo método de Klapp, que imitam posturas em quatro apoios (Figura 2), posturas assimétricas de alonga mento e geram o fortalecimento dos músculos extensores da coluna, são indicados para o tratamento da escoliose (IUNES et al., 2010). Figura 2. Exemplo de um exercício do Método Klapp utilizado para o tratamento da escoliose. Fonte: Iunes et al. (2010, documento on-line). Por sua vez, a tensão gerada pela anteriorização da cabeça pode ser tratada por meio da técnica de Alexander, mediante a qual é possível melhorar a postura, diminuir a tensão muscular e melhorar a qualidade do movimento da região cervical (DUTTON, 2010). Já hipercifose torácica e a hiperlordose lombar, além das demais alterações posturais, podem ser tratadas por meio do método isostretching. De acordo com Moraes e Mateus (2005), esse método consiste em exercícios isométricos 11Técnicas e métodos cinesioterapêuticos excêntricos, em que o tempo de manutenção das posturas é regido por três expirações profundas e prolongadas, nas posições deitado, sentado, em pé, utilizando bola e bastão, conforme as posturas escolhidas pelo fisioterapeuta para atender as necessidades de cada paciente. Déficit de equilíbrio e perda da funcionalidade Em função do processo de senescência, indivíduos sofrem uma perda da funcio- nalidade e da independência, além de défi cit de equilíbrio e prejuízos ao padrão normal de marcha (SANGLARD et al., 2007). Assim como nos demais exemplos, as técnicas cinesioterapêuticas podem ser utilizadas para melhorar o défi cit de equilíbrio e a perda da funcionalidade, levando em conta as condições clínicas de cada paciente. Para isso, é possível aplicar o método de Feldenkrais, a técnica de Alexander, a integração psicofísica de Trager e o método isostretching. As postu- ras e movimentos dessas técnicas podem ser aplicadas para melhoria da postura corporal, aumento da fl exibilidade e da coordenação e alívio de dores relacionadas com tensões musculares. Além disso, em função dos movimentos gerarem deslo- camento do centro de massa em diferentes direções e com várias bases de suporte, eles podem ser aplicados para melhoria do equilíbrio corporal (FELDENKRAIS, 1997; SANGLARD et al., 2007; MONTE-RASO et al., 2009; DUTTON, 2010). BASSANI, E. et al. Avaliação da ativação neuromuscular em indivíduos com escoliose através da eletromiografia de superfície. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 12, nº. 1, p. 13–19, jan./fev. 2008. Disponível em: https://nutrifisio.com.br/site/wp-content/uplo-ads/2018/12/avaliacaodaativacaoneuromuscularemindividuoscomescolioseatraves- daeletromiografiadesuperf40707.pdf. Acesso em: 11 jun. 2020. BLACKBURN, S. E.; PORTNEY, L. G. Electromyographic activity of back musculature during Williams' flexion exercises. Phys. Ther., v. 61, nº. 6, p. 878–885, 1981. BORGES, R. G. et al. Efeitos da participação em um grupo de coluna sobre as dores muscu- loesqueléticas, qualidade de vida e funcionalidade dos usuários de uma unidade básica de saúde de Porto Alegre – Brasil. Motriz, v. 17, nº. 4, p. 719–727, out./dez. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/motriz/v17n4/a17v17n4.pdf. Acesso em: 11 jun. 2020. CARAVIELLO, E. Z. et al. Avaliação da dor e função de pacientes com lombalgia tratados com um programa de escola de coluna. Acta Fisiatr., v. 12, nº. 1, p. 11–14, 2005. Disponível em: https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/publisher.gn1.com.br/actafisiatrica.org.br/ pdf/v12n1a03.pdf. Acesso em: 11 jun. 2020. Técnicas e métodos cinesioterapêuticos12 DUTTON, M. Fisioterapia ortopédica, exame, avaliação e intervenção. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. FELDENKRAIS M. Caso Nora: consciência corporal como fator terapêutico. São Paulo: Summus, 1997. GARCIA, A. N. et al. Efeitos de duas intervenções fisioterapêuticas em pacientes com dor lombar crônica não-específica: viabilidade de um estudo controlado aleatorizado. Rev. Bras. Fisioter., v. 15, nº. 5, p. 420–427, set./out. 2011. Disponível em: https://www. scielo.br/pdf/rbfis/v15n5/pt_AOP022_11.pdf. Acesso em: 11 jun. 2020. IUNES, D. H. et al. Análise quantitativa do tratamento da escoliose idiopática com o método klapp por meio da biofotogrametria computadorizada. Brazilian Journal of Physical Therapy, v. 14, nº. 2, p. 133–140, maio 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-35552010000200008. Acesso em: 11 jun. 2020. KISNER, C.; COLBY, L. A. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 6. ed. Barueri: Manole, 2017. MACEDO, C. de S. G.; DEBIAGI, P.C.; ANDRADE, F. M. de. Efeito do isostretching na resis- tência muscular de abdominais, glúteo máximo e extensores de tronco, incapacidade e dor em pacientes com lombalgia. Fisioterapia em movimento, v. 23, nº. 1, p. 113–120, jan./mar. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/fm/v23n1/11.pdf. Acesso em: 11 jun. 2020. MITCH MEDICAL HEALTHCARE. What are flexion exercises Williams exercises when are they appropriate. 2019. Disponível em: https://www.mitchmedical.us/spine-secrets/ what-are-flexion-exercises-williams-exercises-when-are-they-appropriate.html. Acesso em: 13 jun. 2020. MONTE-RASO, V. V. et al. Efeito da técnica isostretching no equilíbrio postural. Fisioterapia e pesquisa, v. 16, nº. 2, p. 137–142, abr./jun. 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/ pdf/fp/v16n2/08.pdf. Acesso em: 11 jun. 2020. MORAES, S. M. S.; MATEUS, E. C. L. O método isostretching no tratamento da hipercifose torácica. Fisioterapia Brasil, v. 6, nº. 4, p. 311–313, jul./ago. 2005. PRENTICE, W. E. Fisioterapia na prática esportiva uma abordagem baseada em compe- tências. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. REDONDO, B. Isostretching a ginástica da coluna. Piracicaba: Skin, 2001. SANGLARD, R. C. F. et al. A influência do isostretching nas alterações dos parâmetros da marcha em idosos. Revista Brasileira Ciência e Movimento, v. 15, nº. 2, p. 63–71, 2007. Disponível em: https://bdtd.ucb.br/index.php/RBCM/article/viewFile/750/753. Acesso em: 11 jun. 2020. Leitura recomendada CUBAS, S. R. O.; RIBAS, D. I. R. Método isostretching em ambiente aquático e a melhora da flexibilidade muscular de idosos. Geriatr., Gerontol. Aging, v. 11, nº. 1, p. 37–41, jan./mar. 2017. 13Técnicas e métodos cinesioterapêuticos Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Técnicas e métodos cinesioterapêuticos14
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