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Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização da Criança O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Edna de Oliveira Telles Revisão Textual: Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco 5 Un id ad e O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem Nesta Unidade o principal objetivo é compreender a organização do trabalho pedagógico em salas de alfabetização para a promoção da aprendizagem, discutindo como fazer o planejamento e as intervenções necessárias para que as crianças se alfabetizem plenamente. Leia todo o texto com atenção, fique atento(a) às referências de material complementar, resolva as atividades propostas para esta Unidade e participe do fórum de discussão. Compreender a organização do trabalho pedagógico em salas de alfabetização para a promoção da aprendizagem. Compreender a importância do planejamento e da rotina na perspectiva do letramento. Entender em que consiste a sondagem, como organizá-la e utilizá-la na organização do trabalho pedagógico em salas de alfabetização. Compreender o desenvolvimento da leitura e da escrita como processo e a importância das intervenções do professor no trabalho com alfabetização. Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução • Conhecendo a turma da sala de alfabetização: a importância do planejamento e da rotina na perspectiva do letramento • A sondagem e a organização do trabalho pedagógico em salas de alfabetização • O desenvolvimento da leitura e da escrita como processo: a importância das intervenções docentes no trabalho com alfabetização Fonte: T hinkstock/G etty Im ages 6 Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem A disciplina Fundamentos teóricos e metodológicos da alfabetização de crianças é de grande relevância em sua formação no curso de Especialização em Alfabetização e Letramento. A compreensão dos principais aspectos que envolvem o debate sobre educação, alfabetização e letramento no Brasil – e que envolvem a intersecção de assuntos como currículo inclusivo; concepções de alfabetização; planejamento do trabalho em salas de alfabetização; ludicidade; cultura e letramento –, peças-chave na construção e acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem nas séries iniciais, necessitam de um conhecimento teórico e prático para que possam contribuir na direção de uma educação de qualidade. Atenta à tal necessidade, esta disciplina foi elaborada para que a formação na área seja significativa, em consonância com as reais necessidades da organização educacional e do mundo contemporâneo na perspectiva de uma educação emancipadora. Nesta Unidade você estudará como desenvolver e organizar o trabalho com alfabetização para a promoção da aprendizagem; como realizar um diagnóstico com as crianças no intuito de fazer um levantamento do que essas já sabem e o que precisam aprender em relação à escrita; como organizar os agrupamentos produtivos; como pensar a rotina considerando as diferentes modalidades organizativas; tal qual o desenvolvimento da leitura e da escrita a partir de textos significativos para as crianças. Para iniciarmos esta Unidade, reflita sobre as seguintes questões: O que você entende por planejamento? O que é a sondagem das hipóteses de escrita infantil? Como fazer a sondagem? Qual a melhor forma de organizar o trabalho pedagógico em salas de alfabetização? Tente responder essas perguntas a partir da experiência que tem na escola, seja como estudante, seja como profissional da educação. Ademais, adentre neste universo maravilhoso da construção do conhecimento, tomando contato com nossos textos e tirando suas próprias conclusões! Lembre-se que este conteúdo é de suma importância para sua formação pessoal e profissional e fará parte de sua trajetória ao longo da vida. Por isso, não limite seu empenho nesta jornada! Contextualização 7 Introdução Buscar atender aos objetivos da escola, traçar planos e metas para serem alcançados em determinado tempo são ações fundamentais para o seu funcionamento. Isso diz respeito ao planejamento, seja da gestão da escola ou de uma sala de aula. O planejamento faz parte do cotidiano de todas as pessoas. Desde as pequenas coisas, como planejar o que fará durante o dia e em que ordem, até organizar a agenda para não sobrepor compromissos, planejar gastos diante do valor que se tem em dinheiro, entre outras coisas. Segundo Oliveira (2007, p. 21), “planejar é pensar sobre aquilo que existe, sobre o que se quer alcançar, com que meios se pretende agir”. Mas quando falamos em escola, precisamos ter em mente que o planejamento tem um impacto muito maior, pois não traz consequências apenas para as nossas vidas, temos a responsabilidade de planejar o processo de ensino e a aprendizagem e somos responsáveis – como profissionais da educação – pela mediação de todo esse processo. Para o planejamento das salas de aula de alfabetização é muito importante conhecer os objetivos de ensino de cada fase, de cada ano do ciclo de alfabetização, saber o que as crianças precisam aprender – e que são seus direitos – e saber como aprendem, para que avancem em novas etapas e desafios. Além disso, não se pode esquecer que a perspectiva de ensino da língua deve ser a do letramento, buscando a realização de atividades que considerem os usos sociais da linguagem escrita, dentro e fora da escola. O planejamento da alfabetização deve ir além da leitura e da escrita porque alfabetização é muito mais do que a ideia de decodificação. A linguagem escrita é um sistema de notação dos sons da fala, mas compreender isso é apenas um dos conteúdos importantes, porque alfabetização é uma leitura de mundo e trabalhar na perspectiva do letramento é privilegiar uma leitura de mundo mais abrangente. É necessário planejar para que as crianças possam ir cada vez mais além. Ir além do “B com A, faz BA”. É necessário trabalhar a compreensão e a interpretação, a percepção do que está escrito e o que não está escrito, pois é sobre o mundo que a leitura e a escrita se relacionam. Em um trabalho bem planejado de alfabetização, a criança não apenas lerá e escreverá no sentido estrito. Quando se trabalha com a criança, deve-se considerar sua inteireza, pois essa é um sujeito histórico; social; cultural; brinca; sonha; relaciona-se; tem amigos; vive... sendo um ser social, a criança ocupa um lugar no mundo e age sobre esse. Nesse sentido e considerando todos esses aspectos, o planejamento demonstra respeito pela criança: é necessário pensar o que levar, o que ensinar, como levar, como não compartimentar o trabalho, tornando-o significativo para a criança. Um bom planejamento considera que a prática pedagógica adequada é aquela que se ajusta àquele a que se destina. Considerar isso é perceber a criança como sujeito de sua aprendizagem, como um ser que traz consigo uma série de aprendizagens, de hipóteses, de percepções sobre o mundo. E tem uma linguagem própria, que é a linguagem do lúdico, da brincadeira, ou seja, a criança aprende brincando. São várias dimensões entrecruzadas. É preciso considerar o ciclo da infância e sua linguagem, a ludicidade, a música, o jogo, as diversas infâncias... isso também significa não trabalhar pensando em uma criança abstrata, mas conhecer as crianças com as quais se trabalhará: 8 Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem onde vivem; como são suas famílias; quais suas condições; o que é significativo para as quais. O currículo não pode ser vazio, descolado do que acontece na vida infantil. Dizemos hoje algo como um ciclo de alfabetização – esse é o termo mais utilizado no Brasil – que dura, em média, três anos. Há outros nomes também, mas a ideia é a mesma: ter um tempo maior, um ciclo, onde se dará conta da alfabetização. Aqui cabe ressaltar que alfabetização vai além da aprendizagemda correspondência entre letras e sons. O ciclo de alfabetização vai muito além disso, do chamado “bê-á-bá”. São três anos para aprender muitas coisas. O desafio é, coletivamente, pensar o que e como se pode apresentar a essas crianças, que as professoras conheceram o que sabem e o que não sabem – a partir das expectativas de aprendizagem para o ciclo – e então ver o que é possível ao longo de um, dois e de três anos. O planejamento no ciclo de alfabetização precisa ser realizado coletivamente na escola, com o acompanhamento da coordenação pedagógica. Esse é um grande desafio em nossas instituições de ensino, pois sabemos o quanto é difícil reunir todos os professores, ter um tempo semanal, ou pelo menos quinzenal, dedicado a esse trabalho, com todos juntos; discorrendo sobre o que sabem seus alunos e o que precisam saber; trocando experiências; planejando projetos e ações; avaliando o processo; reorganizando rumos. A palavra reorganizar torna-se fundamental nesse processo, pois o planejamento precisa ser flexível, deve adequar-se às necessidades que vão surgindo no desenvolvimento do trabalho com as crianças. Nesse sentido, o projeto pode até estar presente, ter a “cara do grupo”, mas ainda não está pronto. A sala de aula é dinâmica, não dá para antever as dificuldades que os professores terão durante o processo. Às vezes, duas turmas da mesma etapa, do mesmo ano do ciclo, podem ser completamente diferentes. Surgirão questões específicas daquele grupo, daquela classe, daquela criança... É necessário analisar o que deu certo, o que não deu certo e reorganizar o planejamento. É nesse sentido que o trabalho coletivo é muito rico. É preciso tempo para que esses professores conversem e planejem coletivamente. Diante desse complexo cenário, apresentaremos agora como organizar um bom trabalho em classes de alfabetização. Conhecendo a turma da sala de alfabetização: a importância do planejamento e da rotina na perspectiva do letramento Para que um bom trabalho com alfabetização seja desenvolvido, faz-se necessário organizar intervenções para que as crianças avancem em suas hipóteses sobre a escrita e o conhecimento do mundo letrado. Isto é possível quando o professor conhece seus alunos; sabe em que hipótese de escrita cada um está; qual repertório possuem em relação à linguagem escrita, oral; organiza agrupamentos produtivos; considera tempo, espaço e materiais no planejamento do trabalho e acredita no potencial de cada um de seus alunos. Não é tarefa fácil, mas sem considerar todas essas variáveis, dificilmente se chega ao resultado esperado. 9 As boas intervenções são decorrentes de um planejamento com objetivos claros, onde o professor faz antecipações do que pode acontecer durante o desenvolvimento das atividades; propõe desafios; organiza bons agrupamentos – em relação ao diagnóstico das hipóteses de escrita; prevê o tempo – considerando as características dos alunos; faz boas perguntas – que propõe desafios, ou seja, colocar em cheque o que os alunos já sabem, através de situações- problema; sabe interpretar as respostas dos alunos – competência desenvolvida no exercício. Nesse sentido, boas atividades são aquelas onde: · Os alunos colocam em jogo tudo o que sabem e pensam sobre o conteúdo em torno do qual o professor organizou a tarefa; · Os alunos têm problemas a resolver e decisões a tomar em função do que se propõem a produzir; · O conteúdo trabalhado mantém as suas características de objeto sociocultural real, por isso, no caso da alfabetização, a proposta é o uso de textos e não de silabas ou palavras soltas; · A organização da tarefa garante a máxima circulação de informação possível entre os alunos, por isso as situações devem prever o intercâmbio e a interação entre os quais. E como iniciar o trabalho de alfabetização? A pergunta que vem à cabeça é: começo por onde? Digamos que você está entrando em uma classe de alfabetização pela primeira vez. A primeira coisa a se fazer é conhecer as crianças: quem são, do que gostam etc., isso pode ser feito de diversas formas. Para organizar o trabalho de ensino da leitura e da escrita, a primeira informação que todo professor deve ter é o conhecimento da hipótese de escrita de seu aluno. O que esse pensa; como escreve; o que sabe sobre cada um de seus alunos a respeito da capacidade de escrita. Essa é uma informação básica para que seja possível “desafiá-lo” com atividades que o façam refletir sobre o conhecimento. Em um número grande de situações é possível que identifiquemos o que pensa e como escreve nosso aluno através da observação de suas escritas espontâneas e da sondagem. Em outras situações precisaremos conversar com esse e com nossos colegas – professores, coordenadores, diretores e/ou outros profissionais – para conseguirmos entendê-lo e assim poder desafiá-lo. Para situações, como por exemplo, em que a criança ingressa na escola, devemos nos atentar que esse não é seu primeiro contato com o mundo escrito, pois sabemos que a escrita não é especialidade escolar, que muito antes de adentrar nessa instituição, a criança já a encontrou em vários lugares – publicidade, imprensa e práticas familiares. Por causa dessa presença da escrita na sociedade, quase todas as crianças já chegam à escola com algum conhecimento sobre a escrita. Assim, antes de iniciar seu trabalho, o professor deve fazer um diagnóstico de cada um dos seus alunos; para tanto, pode lançar mão de uma sondagem inicial. Seu principal objetivo não é rotular nenhuma criança. O recurso da sondagem da escrita serve para nos ajudar a identificar quais hipóteses as crianças têm acerca do funcionamento da língua, é ponto de partida para a organização do trabalho de alfabetização. Ressaltamos que apenas através do conhecimento da hipótese de escrita é que o professor estará apto a realizar mediações que permitam auxiliar na construção do conhecimento de como funciona o sistema de escrita alfabética. 10 Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem A sondagem e a organização do trabalho pedagógico em salas de alfabetização Até aqui tudo bem. Mas você deve estar se perguntando: o que é a sondagem? Como fazê-la? Existe uma forma correta de realização da sondagem? Conforme publicação da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (2006, p. 35-36): A sondagem é um dos recursos de que o professor dispõe para conhecer as hipóteses que os alunos ainda não alfabetizados possuem sobre a escrita alfabética e o sistema de escrita de uma forma geral. Ela também representa um momento no qual os alunos têm a oportunidade de refletir sobre aquilo que escrevem, com a ajuda do professor. A realização periódica de sondagem é também um instrumento para o planejamento do professor, pois permite avaliar e acompanhar os avanços da turma com relação à aquisição da base alfabética, fornecendo informações preciosas para o planejamento das atividades de leitura e de escrita, assim como para a definição das parcerias de trabalho entre os alunos (agrupamentos produtivos) e para fazer boas intervenções. A sondagem é uma atividade de escrita que envolve, num primeiro momento, a produção espontânea e sem apoio de outras fontes escritas de uma lista de palavras conhecidas dos alunos. Ela pode ou não envolver a escrita de frases simples. É uma situação de escrita que deve, necessariamente, ser seguida da leitura pelo aluno daquilo que ele escreveu. Por meio da leitura é que o professor poderá observar se o aluno estabelece ou não relações entre aquilo que ele escreveu e aquilo que ele lê em voz alta, ou seja, entre a fala e a escrita. Sugere-se que sejam realizadas sondagens avaliativas logo no início do ano, em fevereiro, no começo de abril e no final de junho durante o primeiro semestre de aula, depois ao final de setembro e ao final de novembro. Para fazer uma avaliação mais global das necessidades da turma, é interessante recorrer a outros instrumentos –inclusive a observação diária dos alunos – pois a atividade de sondagem representa uma espécie de retrato do processo do aluno naquele momento. E como esse processo é dinâmico e na maioria das vezes evolui muito rapidamente, pode acontecer de apenas alguns dias depois da sondagem os alunos terem avançado ainda mais. Pode acontecer também que haja dúvidas na interpretação da escrita da criança, por isso, o conhecimento que o professor tem do aluno no dia a dia da sala e aula é fundamental. Feitas essas observações, compartilhamos os critérios de definição das palavras que devem parte das atividades de sondagem: 11 • As palavras devem fazer parte do vocabulário cotidiano dos alunos e devem ser de um mesmo campo semântico (ou seja, um conjunto de palavras unidas pelo sentido, por exemplo, lista de animais, de brincadeiras, de comidas etc.), mesmo que eles ainda não tenham tido a oportunidade de refletir sobre a representação escrita dessas palavras; • A lista deve contemplar palavras que variam na quantidade de letras, abrangendo palavras monossílabas, dissílabas, trissílabas e polissílabas; • A primeira palavra a ser ditada deve ser a polissílaba, em seguida a trissílaba, depois a dissílaba e, por último, a monossílaba. Esse cuidado deve ser tomado porque, no caso das crianças escreverem segundo a hipótese do número mínimo de letras, poderão recusar-se a escrever caso tenham de começar pela palavra monossílaba. Com a hipótese da quantidade mínima de letras, a criança acredita que para que algo possa ser escrito, deve usar no mínimo três letras. Se ela estiver na hipótese silábica (onde a criança usa uma letra/signo para cada som da fala), ao ouvir uma palavra monossílaba, ela pode entrar em conflito e não escrever. Por isso, comece sempre pela palavra maior; • Evite palavras que repitam as vogais, pois isso também pode fazer com que as crianças entrem em conflito – por causa da hipótese da variedade – e também recusem-se a escrever; • Após o ditado da lista, dite uma frase que envolva pelo menos uma das palavras da lista, para que se possa observar se os alunos voltam a escrever essa palavra de forma semelhante, ou seja, se a escrita dessa palavra permanece estável mesmo no contexto de uma frase. Seguem abaixo exemplos de palavras para sondagem, segundo a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (2006, p. 36). Este exemplo é uma lista de alimentos: Mortadela Presunto Queijo Pão O menino comeu queijo 12 Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem É preciso tomar alguns cuidados ao conduzir a sondagem. Vejamos: Dicas para o encaminhamento da sondagem: · As sondagens deverão ser realizadas no início das aulas – em fevereiro –, início de abril, final de junho, final de setembro e ao final de novembro; · Faça a sondagem em uma folha sem pauta. Isso é proposital, pois assim será possível observar o alinhamento e a direção das escritas discentes; · Faça a sondagem com um aluno por vez, deixando o restante da turma envolvido com outras atividades que não solicitem tanto sua presença – como a cópia de uma cantiga, a produção de um desenho etc. Se necessário, peça ajuda ao coordenador, ao diretor ou a outra pessoa que possa lhe dar esse suporte; · Dite normalmente as palavras e as frases, sem silabar; · Observe as reações dos alunos enquanto escrevem. Anote aquilo que falarem em voz alta, sobretudo o que pronunciarem de forma espontânea – não obrigue nenhum estudante a falar nada; · Quando terminarem, peça para que leiam aquilo que escreveram. Anote em uma folha à parte como os alunos fazem essa leitura, se apontam com o dedinho cada uma das letras ou não, se associam aquilo que falam à escrita etc.; · Faça um registro da relação entre a leitura e a escrita. Por exemplo, o aluno escreveu KBO e associou cada uma das sílabas da palavra presunto a uma dessas letras que manuscreveu, então registre-as da seguinte forma: K B O (pre) (sun) (to) · Pode acontecer que, para presunto, outro aluno registre BNTAGYTIOAMU – ou seja, muitas e variadas letras, sem que seu critério de escolha dessas tenha alguma relação com a palavra falada. Nesse caso, se essa criança ler sem se deter em cada uma das letras, anote o sentido que o aluno usou nessa leitura; · Se algum aluno se recusar a escrever, ofereça-lhe letras móveis (SÃO PAULO, 2006, p. 36-37). Para organizar o trabalho pedagógico em salas de alfabetização – tendo o resultado das sondagens em mãos – deve-se fazer os agrupamentos produtivos e iniciar as intervenções. Mas o que são agrupamentos produtivos? Por que são importantes? Como organizá-los? De acordo com material elaborado por Cecília Prado (2007), partindo dos pressupostos de Vygotsky, ou seja, da importância do outro no processo de aprendizagem, é imprescindível falar da relevância do trabalho em pequenos grupos, geralmente em duplas, os chamados agrupamentos produtivos, que consistem em grupos de crianças com diferentes níveis de hipótese de escrita, porém aproximados, como intuito de realizar atividades de reflexão sobre o sistema de escrita alfabética. 13 Nas salas de aula, mais comumente as da rede pública, é comum encontrarmos grande número de alunos matriculados e também uma grande heterogeneidade de conhecimentos entre as crianças. Durante décadas acreditava-se que o ensino devia ser homogêneo, todos os alunos aprendendo no mesmo ritmo e ao mesmo tempo. Na busca da homogeneização várias estratégias foram adotadas: salas fortes, médias e fracas e, em alguns locais, dentro dessas salas, fileiras dos fracos, médios e fortes. O ensino organizado dessa forma apoiava-se na crença de que o aprendizado se dava em uma única mão: do professor para o aluno e que a aprendizagem era um ato individual. Hoje, contudo, sabemos que é na interação que os alunos aprendem, e que é papel da escola ensinar a todos! Atualmente também sabemos que para ensinar a todos, a escola precisa aprender a trabalhar com a diversidade. A diversidade na escola encontra diferenças individuais, de classes sociais, culturais, étnicas, físicas, de gêneros, de interesses, formas de aprendizagem etc. Com relação à identidade de pessoas e de grupos, é necessário que a escola adote uma perspectiva de respeito; no que concerne ao sucesso escolar, é necessário adotarmos medidas que contemplem as crianças em suas diferenças de aprendizagem. Dentro de uma sala de primeiro ano de alfabetização é comum encontrarmos crianças com maior e menor domínio do sistema alfabético. Assim, é papel do professor trabalhar essa diversidade de conhecimentos. Na busca de atendimento às demandas de aprendizagem, o professor deve oferecer atividades diferentes a distintas crianças ou grupos infantis. Uma forma equivalente de atividade pode ser proposta a todos – como por exemplo, uma atividade de escrita –, mas a proposta é diferenciada, de acordo com as possibilidades do aluno ou da dupla discente. Os alunos produzem o que é possível e o professor contribui fazendo intervenções de acordo com as diferentes aprendizagens, possibilitando, assim e dentro da diversidade, aprendizado a todos. Juntos, os alunos aprendem mais e melhor. Portanto, planejar situações em que sejam agrupados criteriosamente e possam trocar pontos de vista, negociar e chegar a um acordo são condições imprescindíveis no cotidiano da sala de aula. Os agrupamentos mais adequados aos alunos em processo de alfabetização são as duplas, porque essa forma de agrupamento incentiva a leitura e a escrita mesmo quando ainda não sabem ler e escrever convencionalmente. Agrupar criteriosamente as duplas exige uma organização prévia por parte do professor. É fundamental que o docente agrupe alunos alfabéticos e alunos não alfabéticos. Com os agrupamentos organizados, é interessante explorar algumas possibilidades de trabalho com nome próprio, listas, poemas, jogos, parlendas, trava línguas e outras brincadeiras com a linguagem.Devido à grande heterogeneidade nas salas de alfabetização, Cecília Prado (2007) adota os seguintes critérios de organização: · É mais eficaz montarmos duplas com hipóteses de escrita mais próximas, pois quando esses têm níveis de conhecimentos muito distantes, geralmente a criança que sabe mais realiza a atividade e o que sabe menos somente observa, tendo atuação quase nula. 14 Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem Agora vejamos os tipos possíveis de agrupamento: Alunos com hipótese de escrita pré-silábica e silábica sem valor sonoro não devem ser agrupados entre si. Como ambos ainda não estabeleceram relação entre a oralidade e a escrita, o ideal é que sejam agrupados a silábicos com valor sonoro, pois esses já usam letras correspondentes às utilizadas nas partes escritas. Vantagens desse tipo de agrupamento: · Para o pré-silábico: favorece um espaço de contradição para a criança que ainda não percebeu que a escrita representa a fala e utiliza outros critérios de análise; · Para o silábico sem valor sonoro: trabalhar com um aluno que faz uso do valor sonoro convencional permite pensar a respeito de quais letras utilizará; · Para o silábico com valor sonoro: possibilita utilizar seu conhecimento sobre o valor sonoro convencional das letras e explicitar esse seu saber a um parceiro, o que também o faz aprender. · Para o silábico com valor sonoro: ainda não apresenta dúvida da validade da hipótese silábica, portanto, a interação com alunos que utilizam diferentes critérios de análise dos seus pode ser produtiva para que progressivamente comece a considerar outras possibilidades. Com relação ao agrupamento entre si: quando as letras utilizadas para representar a escrita forem diferentes, criarão um conflito em que a convicção da hipótese de ambos com relação à letra a ser utilizada propiciará reflexões que os forçarão a negociar o uso de uma única letra, ou ampliarão suas reflexões, admitindo a possibilidade de representar um segmento sonoro com mais de uma letra – nesse caso estarão rumando para uma hipótese silábico-alfabética. Quando unirmos crianças nessa mesma fase é importante garantirmos que os alunos não compartilhem da mesma hipótese, por exemplo, ambos utilizarem as vogais na representação escrita de AEO para camelo. Vantagens desse tipo de agrupamento: · Para o alfabético: como é comum que alunos com essa hipótese escrevam não observando as convenções ortográficas de escrita e/ou observando algumas convenções ortográficas de escrita, esse agrupamento ajudará as crianças a refletirem sobre as convenções ortográficas; aqui caberá a cada membro da dupla explicitar o conhecimento já adquirido sobre essas convenções; Alunos com hipótese de escrita silábica com valor sonoro podem ser agrupados entre si ou com alunos com hipótese de escrita silábica alfabética. Estudantes com hipótese alfabética podem ser agrupados entre si ou com alunos na hipótese silábica alfabética. 15 · Para os alunos silábicos alfabéticos: como esses ora escrevem utilizando uma letra para cada sílaba, ora escrevem utilizando mais letras, a parceria com um aluno alfabético o auxiliará a ampliar sua hipótese, aproximando-se da etapa seguinte. Não é aconselhável que os agrupamentos sejam montados envolvendo crianças com conhecimentos muito díspares em relação à apropriação do sistema de escrita. Agrupar um pré- silábico com um alfabético pode não surtir grandes resultados. Todavia, caso o objetivo docente seja refletir sobre a linguagem que se escreve, o agrupamento citado poderá ser realizado, porque nesse caso é possível, por exemplo, que ao elaborar a reescrita de um conto caiba ao aluno com hipótese de escrita pré-silábica ditar o texto, enquanto ao aluno com hipótese de escrita alfabética redigi-lo, de modo que o agrupamento dependerá, então, do objetivo que se tem na realização da atividade. Em uma situação de aprendizagem como essa, ambos os alunos conseguem aprender como se organiza a linguagem que se usa para escrever. Ou seja, como se organiza o discurso escrito. É importante destacarmos que a montagem de agrupamentos – duplas – não exime o professor de seu papel interventivo. A primeira tarefa interventiva do professor é planejar cuidadosamente as duplas, visando à aprendizagem entre parceiros mesmo sem a intervenção docente. Durante o desenvolvimento da atividade, o professor deve circular entre as duplas e se ater a algumas dessas, instigando os alunos através da problematização das tarefas que estiverem desenvolvendo. Certamente não será possível ao professor acompanhar todas as duplas montadas, então, poderá registrar as intervenções e as hipóteses as quais conseguir acompanhar no dia para, na semana seguinte, privilegiar o acompanhamento de outros alunos. Lembre-se de modificar os agrupamentos sempre que necessário, levando em conta os conhecimentos discentes e os objetivos da atividade. A escolha das duplas não pode ser aleatória. Consulte suas sondagens e suas atuais observações sobre seu grupo de crianças (PRADO, 2007, p. 86-89). O trabalho com alfabetização precisa contemplar algumas situações didáticas importantes para o desenvolvimento da leitura, da escrita e da linguagem oral. Segundo a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (2006, p. 40-41), essas situações didáticas são: · Leitura realizada pelo professor; · Análise e reflexão sobre o sistema de escrita; · Comunicação oral; · Produção de texto escrito; · Leitura realizada pelo aluno. Para um melhor entendimento, organizamos um Quadro que traz os objetivos de cada situação didática, exemplos de algumas atividades, frequência e o que é importante cuidar e observar: 16 Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem Quadro 1. Situação didática Objetivos (o que e como os alunos aprendem) Exemplos de algumas atividades Frequência O que é importante cuidar e observar Leitura realizada pelo professor - Compreender a função social da escrita; - Ampliar o repertório linguístico; - Conhecer diferentes textos e autores; - Aprender comportamentos leitores; - Entender a escrita como forma de representação. Leitura em voz alta realizada pelo professor: - Textos literários; - Textos jornalísticos e sobre curiosidades (científicas e históricas). Diária – texto literário. Semanal – jornal e científicos. Oferecer textos de qualidade literária em seus suportes reais. Ler com diferentes propósitos. Análise e reflexão sobre o sistema de escrita - Refletir sobre o sistema de escrita alfabético, buscando fazer a correspondência entre os segmentos da fala e da escrita; - Conhecer as letras do alfabeto e sua ordem; - Observar e analisar o valor e a posição das letras nas palavras, visando a compreensão da natureza do sistema alfabético; - Compreender as regras de funcionamento do sistema de escrita. - Leitura e escrita dos nomes dos alunos da sala. - Leitura do abecedário exposto na sala. - Leitura e escrita de textos conhecidos de memória. - Leitura e escrita de títulos de livros, de listas diversas (nomes dos ajudantes da semana, brincadeiras preferidas, professores e funcionários), ingredientes de uma receita, leitura de rótulos etc. Diária (quando há na classe crianças não alfabéticas) Organizar agrupamentos produtivos. Garantir momentos de intervenções pontuais com alguns grupos de alunos. Solicitar a leitura (ajuste) do que é lido e/ou escrito pelo aluno. 17 Comunicação oral - Participar de diferentes situações comunicativas, considerando e respeitando as opiniões alheias e as diferentes formas de expressão; - Utilizar a linguagem oral, sabendo adequá- la às situações em que queiram expressar sentimentos e opiniões, defender pontos de vista, relatar acontecimentos, expor sobre temas etc.; - Desenvolver atitudes de escuta e planejamento das falas. Recontode histórias conhecidas ou pessoais, de filmes etc. Exposição de objetos, material de pesquisa etc. Situações que permitam emitir opiniões sobre acontecimentos, curiosidades etc. Duas vezes por semana Observar com atenção como as crianças se comportam em uma situação em que têm de ouvir e falar uma de cada vez. Identificar quais crianças precisam ser convidadas a relatar, expor etc. Produção de texto escrito - Produzir textos buscando aproximação com as características discursivas do gênero; - Produzir textos considerando o leitor e o sentido do que quer dizer; - Aprender comportamentos escritores. Produção coletiva em dupla e individual – de um bilhete, de um texto instrucional etc. Reescrita de textos conhecidos – coletiva, em duplas, individual. Uma vez por semana Envolver os alunos com escritas pré-silábicas na atividade –produzindo oralmente, ditando para o professor ou para o colega. 18 Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem Leitura realizada pelo aluno - Desenvolver atitudes e disposições favoráveis à leitura; - Desenvolver procedimentos de seleção de textos, buscando informações; - Explorar as finalidades e funções da leitura; - Ler com autonomia crescente; - Aprender comportamentos leitores. Roda de biblioteca com diversas finalidades: apreciar a qualidade literária dos textos, conhecer diferentes suportes de textos. Ampliar a compreensão leitora: leitura de textos que os alunos ainda não leem com autonomia, mas que pode ser mediada pelo professor (leitura de textos informativos, instrucionais, entre outros). Ler sem saber ler vencionalmente, utilizando índices fornecidos pelos textos. Uma vez por semana Ler várias vezes um mesmo texto com diferentes propósitos. Garantir que conheçam o conteúdo a ser explorado. Antecipar as informações que os alunos encontrarão nos textos. Fonte: Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (2006, p. 40-41). O desenvolvimento da leitura e da escrita como processo: a im- portância das intervenções docentes no trabalho com alfabetização Para que seus alunos possam ampliar seu conhecimento linguístico sobre uma variedade de gêneros textuais, aprender a ler com diferentes propósitos e, assim, construir procedimentos de leitura variados, bem como construir um repertório de textos e autores, sugerimos, a partir do Programa Escola Ativa (BRASIL, 2000), que o professor: 1 – Leia em voz alta todos os dias textos literários: contos tradicionais, histórias contemporâneas, lendas, contos de fadas; 2 – Leia com eles, em voz alta, todos os dias, parlendas, quadrinhas, trava- línguas, cantigas, poemas, adivinhas e outros textos memorizáveis. Os textos podem estar num cartaz no mural, em um papel, com cópia para cada aluno, ou mesmo escrito na lousa; 3 – Proponha momentos de leitura nos quais os alunos possam explorar livros, revistas e jornais livremente, como nos cantos de leitura. Momentos nos quais possam ler, com a ajuda do professor, com diferentes propósitos e também nos quais possam ler, ainda que com a ajuda do professor, informações presentes no ambiente escolar, ampliando o conhecimento que já possuem sobre a função da escrita; 19 4 – Leia um texto informativo em voz alta para seus alunos pelo menos uma vez por semana: artigos e notícias de jornal, textos informativos sobre temas científicos e, pelo menos duas vezes no mês, leia um texto instrucional, como regras de jogo e receitas culinárias; 5 – Convide os alunos a ler todos os dias os nomes dos colegas, as atividades do dia, o nome da escola, títulos das histórias conhecidas, títulos das cantigas e outros textos disponíveis na escola; 6 – Sempre que possível, leve o suporte no qual o texto que você selecionou foi impresso. Se for uma notícia, procure levar todo o jornal para que os alunos tenham contato com esse portador. Se for um verbete de enciclopédia, leve o volume do qual ele foi extraído. Se for um conto, leve o livro. Se for regra de um jogo, leve o folheto de instruções ou até mesmo a tampa da caixa do jogo; 7 – Aproveite os momentos de leitura em voz alta para favorecer a integração do trabalho de leitura e de escrita com as demais áreas do currículo; 8 – Redobre a sua atenção no momento de selecionar os textos, escolha sempre textos com qualidade, evitando as versões adaptadas, que simplificam o conteúdo e a linguagem do texto. Esses textos pouco contribuem para a formação de seus alunos enquanto leitores. E com relação à escrita: 1 – Proponha que seus alunos escrevam o próprio nome pelo menos em uma atividade durante o dia, consultando ou não o cartaz com os nomes da turma e também que que escrevam a data em pelo menos um de seus trabalhos do dia, copiando-o da lousa; 2 – Pelo menos uma vez por semana escreva uma lista de palavras cujo tema tenha significado no contexto do trabalho realizado até o momento. Pode ser uma lista com os nomes da turma organizados em ordem alfabética, dos nomes e da data de nascimento para a elaboração da “agenda de aniversários”, dos dias da semana, dos títulos das histórias lidas, dos nomes dos personagens preferidos, dos títulos das cantigas trabalhadas; 3 – Pelo menos uma vez por semana escreva cartas ou bilhetes, produzidos de forma conjunta com a turma. O assunto pode variar: bilhete para pesquisar os nomes dos familiares mais próximos, para pesquisar a letra de uma cantiga, para obter informações sobre a data de nascimento dos alunos e outros dados que possam vir a fazer parte da “agenda de aniversários”; 4 – Pelo menos uma vez por semana escreva a letra de uma cantiga, uma quadrinha, uma parlenda – eles podem ditar o texto para que você o escreva na lousa; 5 – Todos os dias, escreva na frente deles as atividades do dia, os nomes das duplas/grupos de trabalho, o título do texto que será lido no momento da leitura... assim eles podem observar um escritor mais experiente escrevendo e ampliar as noções que já possuem sobre os procedimentos que envolvem o ato de escrever. 20 Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem Agora vamos conhecer os textos que mais fazem sucesso entre as crianças em fase de alfabetização? Veremos o que são poemas, canções, cantigas de roda, adivinhas, trava- línguas, parlendas e quadrinhas, segundo o Programa Escola Ativa (BRASIL, 2000, p. 59-74, grifos nossos): As adivinhas, as cantigas de roda, as parlendas, as quadrinhas e os trava-línguas são antigas manifestações da cultura popular, universalmente conhecidas e mantidas vivas através da tradição oral. São textos que pertencem a uma longa tradição de uso da linguagem para cantar, recitar e brincar. A maioria deles é de domínio público, ou seja, não se sabe quem os inventou: foram simplesmente passados de boca a boca, das pessoas mais velhas para as pessoas mais novas. Os poemas servem para divertir, emocionar, fazer pensar. Geralmente têm rimas e apresentam diferentes diagramações. São textos com autoria, isto é, geralmente sabemos quem os fez. Todos nós conhecemos poemas, pois são textos de conhecimento popular. São parecidos com as canções, só que não são musicados. Alguns são feitos especialmente para crianças. Os poemas, assim como as quadrinhas e os trava-línguas, “brincam” com os sons das palavras e com o seu significado. “A poesia nada mais é do que uma brincadeira com as palavras. Nessa brincadeira, cada palavra pode e deve significar mais de uma coisa ao mesmo tempo: isso aí é também isso ali. Toda poesia tem que ter uma surpresa. Se não tiver não é poesia: é papo furado!” (José Paulo Paes – poeta). Convite Poema de José Paulo Paes Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião Só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam. As palavras não: quanto mais se brinca com elas mais novas ficam. Como a água do rio que é água sempre nova. Como cada dia que é sempreum novo dia. Vamos brincar de poesia? 21 Tenho Sede Canção de Dominguinhos e Anastácia Traga-me um copo d’água Tenho sede E esta sede pode me matar Minha garganta pede Um pouco d’água E os meus olhos pedem Teu olhar A planta pede chuva Quando quer brotar O céu logo escurece Quando vai chover Meu coração só pede Teu amor Se não me deres Posso até morrer. As cantigas de roda são textos que servem para brincar e divertir. Com bastante frequência se encontram associadas a movimentos corporais em brincadeiras infantis. Veja um exemplo: Cai balão Cai, cai balão cai, cai balão aqui na minha mão. Não cai não, não cai não cai na rua do sabão. As adivinhas servem para divertir e provocar curiosidade. São textos curtos, geralmente encontrados na forma de perguntas: O que é, o que é? Quem sou eu? Qual é? Como? Qual a diferença? Veja o exemplo abaixo: O que é, o que é que cai em pé e corre deitado? Resposta: a chuva. Os trava-línguas brincam com o som, a forma gráfica e o significado das palavras. A sonoridade, a cadência e o ritmo dessas composições encantam adultos e crianças. O grande desafio é recitá- los sem tropeços na pronúncia das palavras, conforme podemos observar a seguir: O rato e a Rita O rato roeu a roupa do rei de Roma, O rato roeu a roupa do rei da Rússia, O rato roeu a roupa do RodovaIho... O rato a roer roía. E a rosa Rita Ramalho do rato a roer se ria. As parlendas são conjuntos de palavras com arrumação rítmica em forma de verso, que podem rimar ou não. Geralmente envolvem alguma brincadeira, jogo, ou movimento corporal. Veja um exemplo. Boca de forno 22 Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem Forno Tira um bolo Bolo Se o mestre mandar! Faremos todos! E se não for? Bolo! As quadrinhas são estrofes de quatro versos, também chamadas de quartetos. As rimas são simples, assim como as palavras que fazem parte do seu texto: Roseira, dá-me uma rosa; Craveiro, dá-me um botão; Menina, dá-me um abraço, que eu te dou meu coração. É fundamental lembrar que: A presença desses textos na sala de aula favorece a valorização e a apreciação da cultura popular, assim como o estabelecimento de um vínculo prazeroso com a leitura e a escrita. Quando os alunos ainda não leem e escrevem convencionalmente, atividades de leitura e escrita com esses textos, que pertencem à tradição oral e as crianças conhecem de memória, podem possibilitar avanços nas hipóteses dos alunos a respeito da língua escrita (BRASIL, 2000, p. 71). Mencionaremos agora outro aspecto extremamente importante na organização do trabalho em salas de alfabetização: como organizar os conteúdos e as atividades de leitura e de escrita e como gerir o tempo. Nossa perspectiva tem como base o texto de Délia Lerner (2002) sobre leitura e escrita na escola. Para tanto, apresentamos as modalidades organizativas, com base na proposta de Lerner, que você confere a seguir: 23 Para finalizar, reiteramos a importância da intervenção docente em todas as atividades realizadas pelas crianças nas salas de alfabetização. Intervir é propor atividades que levem as crianças a colocar em jogo o que sabem, entrem em conflito, troquem informações com seus colegas e avancem; é observar as crianças quando e enquanto realizam as atividades e fazer questões pertinentes que as levem a pensar; é registrar o processo de desenvolvimento infantil, suas dificuldades e avanços. Sobre as diferentes modalidades organizativas: Projetos oferece contextos nos quais a leitura ganha sentido e aparece como atividade complexa para a realização de um propósito. Permitem uma organização mais flexível do tempo: segundo o objetivo que se persiga – somente alguns dias ou ao longo de vários meses. Os projetos de longa duração permitem a oportunidade de compartilhar com os alunos o planejamento das tarefas e sua distribuição no tempo. Atividades habituais aparecem de forma sistemática e previsível – uma vez por semana ou uma vez a cada quinze dias. Por exemplo: “A hora dos contadores de história”, “comentário de curiosidade científica” etc. Ao destinar momentos específicos e preestabelecidos que serão sistematicamente dedicados à leitura, comunica-se às crianças que se trata de uma atividade muito valorizada. Sequências de atividades estão direcionadas para se ler com as crianças diferentes exemplares de um mesmo gênero, distintas obras de um mesmo autor ou diferentes textos sobre um mesmo tema. No curso de cada sequência incluem- se atividades coletivas, em grupo e individuais. Situações independentes situações ocasionais – a professora encontra um texto que considera valioso ou os alunos propõe a leitura de algo –, nesses casos não teria sentido recusar a leitura só porque não tem relação com o que se está fazendo, nem “inventar” uma relação inexistente. Situações de sistematização – por exemplo: refletir sobre os traços que caracterizam as fábulas, construir coletivamente regras de ortografia (LERNER, 2002). 24 Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem Material Complementar Para saber mais sobre planejamento do trabalho com alfabetização, consulte as seguintes indicações: Leia o texto Se a maioria da classe vai bem e alguns não, esses devem receber ajuda pedagógica, de Telma Weisz e disponível em: · http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Profa/col_3.pdf, sobre o planejamento do trabalho de alfabetização com os alunos que apresentam maiores dificuldades; Leia o texto A prática de reflexão sobre a língua, disponível em: · http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Profa/col_3.pdf e que foi retirado dos Parâmetros Curriculares Nacionais, constantes no programa do Ministério da Educação para professores alfabetizadores; Leia a entrevista com o professor Claudemir Belintane, especialista em alfabetização, conversa intitulada Ouvir histórias e lendas é essencial para processo de alfabetização e disponível em: · http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/05/23/alfabetizacao.htm; Assista ao vídeo O planejamento do trabalho no ciclo de alfabetização, disponível em: · http://youtu.be/uezv48sdKHM, que mostra um debate sobre o que é específico do planejamento no ciclo de alfabetização, quais os desafios para planejar e como um bom planejamento pode ter impacto na aprendizagem infantil. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Profa/col_3.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Profa/col_3.pdf http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/05/23/alfabetizacao.htm http://youtu.be/uezv48sdKHM 25 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Programa Escola Ativa. Alfabetização: livro do professor. Brasília, DF: Fundescola, 2000. p. 59-74. LERNER, D. Ler e escrever na escola: o possível, o real e o necessário. Porto Alegre, RS: Artmed, 2002. OLIVEIRA, D. de A. Gestão democrática da educação: desafios contemporâneos. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. PRADO, C. de O. Fundamentos teóricos e metodológicos da alfabetização e práticas. Santos, SP: Unimes Virtual, 2007. SÃO PAULO (Município). Secretaria de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Projeto toda força ao 1º ano: guia para o planejamento do professor alfabetizador – orientações para o planejamento e avaliação do trabalho com o 1º ano do Ensino Fundamental, 2006. 26 Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem Anotações
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