Buscar

Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização da Criança - uni II

Prévia do material em texto

Fundamentos Teóricos 
e Metodológicos da 
Alfabetização da 
Criança
O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção 
da Aprendizagem
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Ms. Edna de Oliveira Telles
Revisão Textual:
 Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
5
Un
id
ad
e O Planejamento do Trabalho com Alfabetização 
para a Promoção da Aprendizagem
Nesta Unidade o principal objetivo é compreender a organização do trabalho pedagógico em 
salas de alfabetização para a promoção da aprendizagem, discutindo como fazer o planejamento 
e as intervenções necessárias para que as crianças se alfabetizem plenamente.
Leia todo o texto com atenção, fique atento(a) às referências de material complementar, resolva 
as atividades propostas para esta Unidade e participe do fórum de discussão.
Compreender a organização do trabalho pedagógico em salas de alfabetização 
para a promoção da aprendizagem.
Compreender a importância do planejamento e da rotina na perspectiva do letramento.
Entender em que consiste a sondagem, como organizá-la e utilizá-la na organização 
do trabalho pedagógico em salas de alfabetização.
Compreender o desenvolvimento da leitura e da escrita como processo e a 
importância das intervenções do professor no trabalho com alfabetização.
Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• Introdução
• Conhecendo a turma da sala de alfabetização: 
a importância do planejamento e da rotina na 
perspectiva do letramento
• A sondagem e a organização do trabalho 
pedagógico em salas de alfabetização
• O desenvolvimento da leitura e da escrita 
como processo: a importância das intervenções 
docentes no trabalho com alfabetização
Fonte: T
hinkstock/G
etty Im
ages
6
Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem
A disciplina Fundamentos teóricos e metodológicos da alfabetização de crianças é de grande 
relevância em sua formação no curso de Especialização em Alfabetização e Letramento.
A compreensão dos principais aspectos que envolvem o debate sobre educação, alfabetização 
e letramento no Brasil – e que envolvem a intersecção de assuntos como currículo inclusivo; 
concepções de alfabetização; planejamento do trabalho em salas de alfabetização; ludicidade; 
cultura e letramento –, peças-chave na construção e acompanhamento do processo de ensino 
e aprendizagem nas séries iniciais, necessitam de um conhecimento teórico e prático para que 
possam contribuir na direção de uma educação de qualidade.
Atenta à tal necessidade, esta disciplina foi elaborada para que a formação na área seja 
significativa, em consonância com as reais necessidades da organização educacional e do 
mundo contemporâneo na perspectiva de uma educação emancipadora.
Nesta Unidade você estudará como desenvolver e organizar o trabalho com alfabetização 
para a promoção da aprendizagem; como realizar um diagnóstico com as crianças no intuito de 
fazer um levantamento do que essas já sabem e o que precisam aprender em relação à escrita; 
como organizar os agrupamentos produtivos; como pensar a rotina considerando as diferentes 
modalidades organizativas; tal qual o desenvolvimento da leitura e da escrita a partir de textos 
significativos para as crianças.
Para iniciarmos esta Unidade, reflita sobre as seguintes questões:
O que você entende por planejamento? O que é a sondagem das hipóteses de escrita 
infantil? Como fazer a sondagem? Qual a melhor forma de organizar o trabalho pedagógico 
em salas de alfabetização?
Tente responder essas perguntas a partir da experiência que tem na escola, seja como 
estudante, seja como profissional da educação.
Ademais, adentre neste universo maravilhoso da construção do conhecimento, tomando 
contato com nossos textos e tirando suas próprias conclusões! 
Lembre-se que este conteúdo é de suma importância para sua formação pessoal e profissional 
e fará parte de sua trajetória ao longo da vida. Por isso, não limite seu empenho nesta jornada!
Contextualização
7
Introdução
Buscar atender aos objetivos da escola, traçar planos e metas para serem alcançados em 
determinado tempo são ações fundamentais para o seu funcionamento. Isso diz respeito ao 
planejamento, seja da gestão da escola ou de uma sala de aula. 
O planejamento faz parte do cotidiano de todas as pessoas. Desde as pequenas coisas, como 
planejar o que fará durante o dia e em que ordem, até organizar a agenda para não sobrepor 
compromissos, planejar gastos diante do valor que se tem em dinheiro, entre outras coisas. 
Segundo Oliveira (2007, p. 21), “planejar é pensar sobre aquilo que existe, sobre o que se quer 
alcançar, com que meios se pretende agir”. Mas quando falamos em escola, precisamos ter em 
mente que o planejamento tem um impacto muito maior, pois não traz consequências apenas 
para as nossas vidas, temos a responsabilidade de planejar o processo de ensino e a aprendizagem 
e somos responsáveis – como profissionais da educação – pela mediação de todo esse processo. 
Para o planejamento das salas de aula de alfabetização é muito importante conhecer os 
objetivos de ensino de cada fase, de cada ano do ciclo de alfabetização, saber o que as crianças 
precisam aprender – e que são seus direitos – e saber como aprendem, para que avancem em 
novas etapas e desafios. Além disso, não se pode esquecer que a perspectiva de ensino da 
língua deve ser a do letramento, buscando a realização de atividades que considerem os usos 
sociais da linguagem escrita, dentro e fora da escola. 
O planejamento da alfabetização deve ir além da leitura e da escrita porque alfabetização 
é muito mais do que a ideia de decodificação. A linguagem escrita é um sistema de notação 
dos sons da fala, mas compreender isso é apenas um dos conteúdos importantes, porque 
alfabetização é uma leitura de mundo e trabalhar na perspectiva do letramento é privilegiar 
uma leitura de mundo mais abrangente.
É necessário planejar para que as crianças possam ir cada vez mais além. Ir além do “B com 
A, faz BA”. É necessário trabalhar a compreensão e a interpretação, a percepção do que está 
escrito e o que não está escrito, pois é sobre o mundo que a leitura e a escrita se relacionam.
Em um trabalho bem planejado de alfabetização, a criança não apenas lerá e escreverá no 
sentido estrito. Quando se trabalha com a criança, deve-se considerar sua inteireza, pois essa é 
um sujeito histórico; social; cultural; brinca; sonha; relaciona-se; tem amigos; vive... sendo um 
ser social, a criança ocupa um lugar no mundo e age sobre esse. 
Nesse sentido e considerando todos esses aspectos, o planejamento demonstra respeito pela 
criança: é necessário pensar o que levar, o que ensinar, como levar, como não compartimentar 
o trabalho, tornando-o significativo para a criança.
Um bom planejamento considera que a prática pedagógica adequada é aquela que se ajusta 
àquele a que se destina. Considerar isso é perceber a criança como sujeito de sua aprendizagem, 
como um ser que traz consigo uma série de aprendizagens, de hipóteses, de percepções sobre o 
mundo. E tem uma linguagem própria, que é a linguagem do lúdico, da brincadeira, ou seja, a criança 
aprende brincando. São várias dimensões entrecruzadas. É preciso considerar o ciclo da infância e 
sua linguagem, a ludicidade, a música, o jogo, as diversas infâncias... isso também significa não 
trabalhar pensando em uma criança abstrata, mas conhecer as crianças com as quais se trabalhará: 
8
Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem
onde vivem; como são suas famílias; quais suas condições; o que é significativo para as quais. O 
currículo não pode ser vazio, descolado do que acontece na vida infantil.
Dizemos hoje algo como um ciclo de alfabetização – esse é o termo mais utilizado no Brasil – 
que dura, em média, três anos. Há outros nomes também, mas a ideia é a mesma: ter um tempo 
maior, um ciclo, onde se dará conta da alfabetização. Aqui cabe ressaltar que alfabetização 
vai além da aprendizagemda correspondência entre letras e sons. O ciclo de alfabetização vai 
muito além disso, do chamado “bê-á-bá”. São três anos para aprender muitas coisas. O desafio 
é, coletivamente, pensar o que e como se pode apresentar a essas crianças, que as professoras 
conheceram o que sabem e o que não sabem – a partir das expectativas de aprendizagem para 
o ciclo – e então ver o que é possível ao longo de um, dois e de três anos. 
O planejamento no ciclo de alfabetização precisa ser realizado coletivamente na escola, com o 
acompanhamento da coordenação pedagógica. Esse é um grande desafio em nossas instituições 
de ensino, pois sabemos o quanto é difícil reunir todos os professores, ter um tempo semanal, 
ou pelo menos quinzenal, dedicado a esse trabalho, com todos juntos; discorrendo sobre o que 
sabem seus alunos e o que precisam saber; trocando experiências; planejando projetos e ações; 
avaliando o processo; reorganizando rumos. A palavra reorganizar torna-se fundamental nesse 
processo, pois o planejamento precisa ser flexível, deve adequar-se às necessidades que vão 
surgindo no desenvolvimento do trabalho com as crianças. Nesse sentido, o projeto pode até 
estar presente, ter a “cara do grupo”, mas ainda não está pronto. 
A sala de aula é dinâmica, não dá para antever as dificuldades que os professores terão 
durante o processo. Às vezes, duas turmas da mesma etapa, do mesmo ano do ciclo, podem 
ser completamente diferentes. Surgirão questões específicas daquele grupo, daquela classe, 
daquela criança... É necessário analisar o que deu certo, o que não deu certo e reorganizar o 
planejamento. É nesse sentido que o trabalho coletivo é muito rico. É preciso tempo para que 
esses professores conversem e planejem coletivamente. 
Diante desse complexo cenário, apresentaremos agora como organizar um bom trabalho em 
classes de alfabetização. 
Conhecendo a turma da sala de alfabetização: a importância do 
planejamento e da rotina na perspectiva do letramento
Para que um bom trabalho com alfabetização seja desenvolvido, faz-se necessário organizar 
intervenções para que as crianças avancem em suas hipóteses sobre a escrita e o conhecimento 
do mundo letrado. Isto é possível quando o professor conhece seus alunos; sabe em que hipótese 
de escrita cada um está; qual repertório possuem em relação à linguagem escrita, oral; organiza 
agrupamentos produtivos; considera tempo, espaço e materiais no planejamento do trabalho e 
acredita no potencial de cada um de seus alunos. Não é tarefa fácil, mas sem considerar todas 
essas variáveis, dificilmente se chega ao resultado esperado. 
9
As boas intervenções são decorrentes de um planejamento com objetivos claros, onde o 
professor faz antecipações do que pode acontecer durante o desenvolvimento das atividades; 
propõe desafios; organiza bons agrupamentos – em relação ao diagnóstico das hipóteses de 
escrita; prevê o tempo – considerando as características dos alunos; faz boas perguntas – que 
propõe desafios, ou seja, colocar em cheque o que os alunos já sabem, através de situações-
problema; sabe interpretar as respostas dos alunos – competência desenvolvida no exercício. 
Nesse sentido, boas atividades são aquelas onde:
 · Os alunos colocam em jogo tudo o que sabem e pensam sobre o conteúdo em torno do 
qual o professor organizou a tarefa;
 · Os alunos têm problemas a resolver e decisões a tomar em função do que se propõem 
a produzir;
 · O conteúdo trabalhado mantém as suas características de objeto sociocultural real, por isso, 
no caso da alfabetização, a proposta é o uso de textos e não de silabas ou palavras soltas;
 · A organização da tarefa garante a máxima circulação de informação possível entre os 
alunos, por isso as situações devem prever o intercâmbio e a interação entre os quais. 
E como iniciar o trabalho de alfabetização? A pergunta que vem à cabeça é: começo por onde?
Digamos que você está entrando em uma classe de alfabetização pela primeira vez. A 
primeira coisa a se fazer é conhecer as crianças: quem são, do que gostam etc., isso pode ser 
feito de diversas formas. Para organizar o trabalho de ensino da leitura e da escrita, a primeira 
informação que todo professor deve ter é o conhecimento da hipótese de escrita de seu aluno. 
O que esse pensa; como escreve; o que sabe sobre cada um de seus alunos a respeito da 
capacidade de escrita. Essa é uma informação básica para que seja possível “desafiá-lo” com 
atividades que o façam refletir sobre o conhecimento.
Em um número grande de situações é possível que identifiquemos o que pensa e como escreve 
nosso aluno através da observação de suas escritas espontâneas e da sondagem. Em outras 
situações precisaremos conversar com esse e com nossos colegas – professores, coordenadores, 
diretores e/ou outros profissionais – para conseguirmos entendê-lo e assim poder desafiá-lo. 
Para situações, como por exemplo, em que a criança ingressa na escola, devemos nos atentar 
que esse não é seu primeiro contato com o mundo escrito, pois sabemos que a escrita não é 
especialidade escolar, que muito antes de adentrar nessa instituição, a criança já a encontrou em 
vários lugares – publicidade, imprensa e práticas familiares. Por causa dessa presença da escrita 
na sociedade, quase todas as crianças já chegam à escola com algum conhecimento sobre a 
escrita. Assim, antes de iniciar seu trabalho, o professor deve fazer um diagnóstico de cada um 
dos seus alunos; para tanto, pode lançar mão de uma sondagem inicial.
Seu principal objetivo não é rotular nenhuma criança. O recurso da sondagem da escrita 
serve para nos ajudar a identificar quais hipóteses as crianças têm acerca do funcionamento da 
língua, é ponto de partida para a organização do trabalho de alfabetização. Ressaltamos que 
apenas através do conhecimento da hipótese de escrita é que o professor estará apto a realizar 
mediações que permitam auxiliar na construção do conhecimento de como funciona o sistema 
de escrita alfabética.
10
Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem
A sondagem e a organização do trabalho pedagógico em salas 
de alfabetização
Até aqui tudo bem. Mas você deve estar se perguntando: o que é a sondagem? Como fazê-la? 
Existe uma forma correta de realização da sondagem?
Conforme publicação da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (2006, p. 35-36):
A sondagem é um dos recursos de que o professor dispõe para conhecer 
as hipóteses que os alunos ainda não alfabetizados possuem sobre a escrita 
alfabética e o sistema de escrita de uma forma geral. Ela também representa 
um momento no qual os alunos têm a oportunidade de refletir sobre aquilo que 
escrevem, com a ajuda do professor. 
A realização periódica de sondagem é também um instrumento para o 
planejamento do professor, pois permite avaliar e acompanhar os avanços da 
turma com relação à aquisição da base alfabética, fornecendo informações 
preciosas para o planejamento das atividades de leitura e de escrita, assim 
como para a definição das parcerias de trabalho entre os alunos (agrupamentos 
produtivos) e para fazer boas intervenções. 
A sondagem é uma atividade de escrita que envolve, num primeiro momento, 
a produção espontânea e sem apoio de outras fontes escritas de uma lista de 
palavras conhecidas dos alunos. Ela pode ou não envolver a escrita de frases 
simples. É uma situação de escrita que deve, necessariamente, ser seguida 
da leitura pelo aluno daquilo que ele escreveu. Por meio da leitura é que o 
professor poderá observar se o aluno estabelece ou não relações entre aquilo 
que ele escreveu e aquilo que ele lê em voz alta, ou seja, entre a fala e a escrita.
Sugere-se que sejam realizadas sondagens avaliativas logo no início do ano, em 
fevereiro, no começo de abril e no final de junho durante o primeiro semestre 
de aula, depois ao final de setembro e ao final de novembro. Para fazer uma 
avaliação mais global das necessidades da turma, é interessante recorrer a outros 
instrumentos –inclusive a observação diária dos alunos – pois a atividade de 
sondagem representa uma espécie de retrato do processo do aluno naquele 
momento. E como esse processo é dinâmico e na maioria das vezes evolui muito 
rapidamente, pode acontecer de apenas alguns dias depois da sondagem os 
alunos terem avançado ainda mais. Pode acontecer também que haja dúvidas 
na interpretação da escrita da criança, por isso, o conhecimento que o professor 
tem do aluno no dia a dia da sala e aula é fundamental.
Feitas essas observações, compartilhamos os critérios de definição das palavras 
que devem parte das atividades de sondagem:
11
• As palavras devem fazer parte do vocabulário cotidiano dos alunos e devem 
ser de um mesmo campo semântico (ou seja, um conjunto de palavras unidas 
pelo sentido, por exemplo, lista de animais, de brincadeiras, de comidas etc.), 
mesmo que eles ainda não tenham tido a oportunidade de refletir sobre a 
representação escrita dessas palavras;
• A lista deve contemplar palavras que variam na quantidade de letras, 
abrangendo palavras monossílabas, dissílabas, trissílabas e polissílabas;
• A primeira palavra a ser ditada deve ser a polissílaba, em seguida a trissílaba, 
depois a dissílaba e, por último, a monossílaba. Esse cuidado deve ser tomado 
porque, no caso das crianças escreverem segundo a hipótese do número 
mínimo de letras, poderão recusar-se a escrever caso tenham de começar pela 
palavra monossílaba. Com a hipótese da quantidade mínima de letras, a criança 
acredita que para que algo possa ser escrito, deve usar no mínimo três letras. Se 
ela estiver na hipótese silábica (onde a criança usa uma letra/signo para cada 
som da fala), ao ouvir uma palavra monossílaba, ela pode entrar em conflito e 
não escrever. Por isso, comece sempre pela palavra maior;
• Evite palavras que repitam as vogais, pois isso também pode fazer com que as 
crianças entrem em conflito – por causa da hipótese da variedade – e também 
recusem-se a escrever;
• Após o ditado da lista, dite uma frase que envolva pelo menos uma das 
palavras da lista, para que se possa observar se os alunos voltam a escrever essa 
palavra de forma semelhante, ou seja, se a escrita dessa palavra permanece 
estável mesmo no contexto de uma frase.
Seguem abaixo exemplos de palavras para sondagem, segundo a Secretaria Municipal de 
Educação de São Paulo (2006, p. 36). Este exemplo é uma lista de alimentos:
 Mortadela
 Presunto
 Queijo
 Pão
 O menino comeu queijo
12
Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem
É preciso tomar alguns cuidados ao conduzir a sondagem. Vejamos:
Dicas para o encaminhamento da sondagem:
 · As sondagens deverão ser realizadas no início das aulas – em fevereiro –, início de 
abril, final de junho, final de setembro e ao final de novembro;
 · Faça a sondagem em uma folha sem pauta. Isso é proposital, pois assim será possível 
observar o alinhamento e a direção das escritas discentes;
 · Faça a sondagem com um aluno por vez, deixando o restante da turma envolvido 
com outras atividades que não solicitem tanto sua presença – como a cópia de uma 
cantiga, a produção de um desenho etc. Se necessário, peça ajuda ao coordenador, 
ao diretor ou a outra pessoa que possa lhe dar esse suporte;
 · Dite normalmente as palavras e as frases, sem silabar;
 · Observe as reações dos alunos enquanto escrevem. Anote aquilo que falarem em voz 
alta, sobretudo o que pronunciarem de forma espontânea – não obrigue nenhum 
estudante a falar nada;
 · Quando terminarem, peça para que leiam aquilo que escreveram. Anote em uma 
folha à parte como os alunos fazem essa leitura, se apontam com o dedinho cada 
uma das letras ou não, se associam aquilo que falam à escrita etc.;
 · Faça um registro da relação entre a leitura e a escrita. Por exemplo, o aluno escreveu 
KBO e associou cada uma das sílabas da palavra presunto a uma dessas letras que 
manuscreveu, então registre-as da seguinte forma: 
K B O
(pre) (sun) (to)
 · Pode acontecer que, para presunto, outro aluno registre BNTAGYTIOAMU – ou seja, 
muitas e variadas letras, sem que seu critério de escolha dessas tenha alguma relação 
com a palavra falada. Nesse caso, se essa criança ler sem se deter em cada uma das 
letras, anote o sentido que o aluno usou nessa leitura;
 · Se algum aluno se recusar a escrever, ofereça-lhe letras móveis (SÃO PAULO, 
2006, p. 36-37).
Para organizar o trabalho pedagógico em salas de alfabetização – tendo o resultado das 
sondagens em mãos – deve-se fazer os agrupamentos produtivos e iniciar as intervenções. Mas 
o que são agrupamentos produtivos? Por que são importantes? Como organizá-los? 
De acordo com material elaborado por Cecília Prado (2007), partindo dos pressupostos de 
Vygotsky, ou seja, da importância do outro no processo de aprendizagem, é imprescindível 
falar da relevância do trabalho em pequenos grupos, geralmente em duplas, os chamados 
agrupamentos produtivos, que consistem em grupos de crianças com diferentes níveis de 
hipótese de escrita, porém aproximados, como intuito de realizar atividades de reflexão sobre o 
sistema de escrita alfabética.
13
Nas salas de aula, mais comumente as da rede pública, é comum encontrarmos grande 
número de alunos matriculados e também uma grande heterogeneidade de conhecimentos 
entre as crianças. Durante décadas acreditava-se que o ensino devia ser homogêneo, todos os 
alunos aprendendo no mesmo ritmo e ao mesmo tempo. Na busca da homogeneização várias 
estratégias foram adotadas: salas fortes, médias e fracas e, em alguns locais, dentro dessas salas, 
fileiras dos fracos, médios e fortes. O ensino organizado dessa forma apoiava-se na crença de 
que o aprendizado se dava em uma única mão: do professor para o aluno e que a aprendizagem 
era um ato individual.
Hoje, contudo, sabemos que é na interação que os alunos aprendem, e que é papel da 
escola ensinar a todos! Atualmente também sabemos que para ensinar a todos, a escola precisa 
aprender a trabalhar com a diversidade. A diversidade na escola encontra diferenças individuais, 
de classes sociais, culturais, étnicas, físicas, de gêneros, de interesses, formas de aprendizagem 
etc. Com relação à identidade de pessoas e de grupos, é necessário que a escola adote uma 
perspectiva de respeito; no que concerne ao sucesso escolar, é necessário adotarmos medidas 
que contemplem as crianças em suas diferenças de aprendizagem. 
Dentro de uma sala de primeiro ano de alfabetização é comum encontrarmos crianças 
com maior e menor domínio do sistema alfabético. Assim, é papel do professor trabalhar essa 
diversidade de conhecimentos. 
Na busca de atendimento às demandas de aprendizagem, o professor deve oferecer atividades 
diferentes a distintas crianças ou grupos infantis. 
Uma forma equivalente de atividade pode ser proposta a todos – como por exemplo, uma 
atividade de escrita –, mas a proposta é diferenciada, de acordo com as possibilidades do aluno 
ou da dupla discente. Os alunos produzem o que é possível e o professor contribui fazendo 
intervenções de acordo com as diferentes aprendizagens, possibilitando, assim e dentro da 
diversidade, aprendizado a todos. 
Juntos, os alunos aprendem mais e melhor. Portanto, planejar situações em que sejam 
agrupados criteriosamente e possam trocar pontos de vista, negociar e chegar a um acordo são 
condições imprescindíveis no cotidiano da sala de aula. 
Os agrupamentos mais adequados aos alunos em processo de alfabetização são as duplas, 
porque essa forma de agrupamento incentiva a leitura e a escrita mesmo quando ainda 
não sabem ler e escrever convencionalmente. Agrupar criteriosamente as duplas exige uma 
organização prévia por parte do professor. É fundamental que o docente agrupe alunos 
alfabéticos e alunos não alfabéticos. Com os agrupamentos organizados, é interessante explorar 
algumas possibilidades de trabalho com nome próprio, listas, poemas, jogos, parlendas, trava 
línguas e outras brincadeiras com a linguagem.Devido à grande heterogeneidade nas salas de alfabetização, Cecília Prado (2007) adota os 
seguintes critérios de organização: 
 · É mais eficaz montarmos duplas com hipóteses de escrita mais próximas, pois quando 
esses têm níveis de conhecimentos muito distantes, geralmente a criança que sabe mais 
realiza a atividade e o que sabe menos somente observa, tendo atuação quase nula.
14
Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem
Agora vejamos os tipos possíveis de agrupamento:
Alunos com hipótese de escrita pré-silábica e silábica sem valor sonoro não devem ser 
agrupados entre si. Como ambos ainda não estabeleceram relação entre a oralidade e a 
escrita, o ideal é que sejam agrupados a silábicos com valor sonoro, pois esses já usam 
letras correspondentes às utilizadas nas partes escritas.
Vantagens desse tipo de agrupamento:
 · Para o pré-silábico: favorece um espaço de contradição para a criança que ainda não 
percebeu que a escrita representa a fala e utiliza outros critérios de análise;
 · Para o silábico sem valor sonoro: trabalhar com um aluno que faz uso do valor sonoro 
convencional permite pensar a respeito de quais letras utilizará;
 · Para o silábico com valor sonoro: possibilita utilizar seu conhecimento sobre o valor 
sonoro convencional das letras e explicitar esse seu saber a um parceiro, o que também 
o faz aprender. 
 · Para o silábico com valor sonoro: ainda não apresenta 
dúvida da validade da hipótese silábica, portanto, a interação 
com alunos que utilizam diferentes critérios de análise dos 
seus pode ser produtiva para que progressivamente comece 
a considerar outras possibilidades. 
Com relação ao agrupamento entre si: quando as letras 
utilizadas para representar a escrita forem diferentes, criarão um 
conflito em que a convicção da hipótese de ambos com relação 
à letra a ser utilizada propiciará reflexões que os forçarão a 
negociar o uso de uma única letra, ou ampliarão suas reflexões, 
admitindo a possibilidade de representar um segmento sonoro com mais de uma letra – nesse caso 
estarão rumando para uma hipótese silábico-alfabética. Quando unirmos crianças nessa mesma fase 
é importante garantirmos que os alunos não compartilhem da mesma hipótese, por exemplo, ambos 
utilizarem as vogais na representação escrita de AEO para camelo.
Vantagens desse tipo de agrupamento:
 · Para o alfabético: como é comum que alunos com 
essa hipótese escrevam não observando as convenções 
ortográficas de escrita e/ou observando algumas convenções 
ortográficas de escrita, esse agrupamento ajudará as crianças 
a refletirem sobre as convenções ortográficas; aqui caberá 
a cada membro da dupla explicitar o conhecimento já 
adquirido sobre essas convenções; 
Alunos com hipótese 
de escrita silábica com 
valor sonoro podem 
ser agrupados entre si 
ou com alunos com 
hipótese de escrita 
silábica alfabética.
Estudantes com hipótese 
alfabética podem ser 
agrupados entre si ou 
com alunos na hipótese 
silábica alfabética.
15
 · Para os alunos silábicos alfabéticos: como esses ora escrevem utilizando uma letra para 
cada sílaba, ora escrevem utilizando mais letras, a parceria com um aluno alfabético o 
auxiliará a ampliar sua hipótese, aproximando-se da etapa seguinte. 
Não é aconselhável que os agrupamentos sejam montados envolvendo crianças com 
conhecimentos muito díspares em relação à apropriação do sistema de escrita. Agrupar um pré-
silábico com um alfabético pode não surtir grandes resultados. Todavia, caso o objetivo docente 
seja refletir sobre a linguagem que se escreve, o agrupamento citado poderá ser realizado, 
porque nesse caso é possível, por exemplo, que ao elaborar a reescrita de um conto caiba ao 
aluno com hipótese de escrita pré-silábica ditar o texto, enquanto ao aluno com hipótese de 
escrita alfabética redigi-lo, de modo que o agrupamento dependerá, então, do objetivo que se 
tem na realização da atividade. 
Em uma situação de aprendizagem como essa, ambos os alunos conseguem aprender como 
se organiza a linguagem que se usa para escrever. Ou seja, como se organiza o discurso escrito. 
É importante destacarmos que a montagem de agrupamentos – duplas – não exime o professor 
de seu papel interventivo. A primeira tarefa interventiva do professor é planejar cuidadosamente 
as duplas, visando à aprendizagem entre parceiros mesmo sem a intervenção docente.
Durante o desenvolvimento da atividade, o professor deve circular entre as duplas e se ater 
a algumas dessas, instigando os alunos através da problematização das tarefas que estiverem 
desenvolvendo. Certamente não será possível ao professor acompanhar todas as duplas 
montadas, então, poderá registrar as intervenções e as hipóteses as quais conseguir acompanhar 
no dia para, na semana seguinte, privilegiar o acompanhamento de outros alunos.
Lembre-se de modificar os agrupamentos sempre que necessário, levando em conta os 
conhecimentos discentes e os objetivos da atividade. A escolha das duplas não pode ser 
aleatória. Consulte suas sondagens e suas atuais observações sobre seu grupo de crianças 
(PRADO, 2007, p. 86-89).
O trabalho com alfabetização precisa contemplar algumas situações didáticas importantes 
para o desenvolvimento da leitura, da escrita e da linguagem oral. Segundo a Secretaria 
Municipal de Educação de São Paulo (2006, p. 40-41), essas situações didáticas são: 
 · Leitura realizada pelo professor;
 · Análise e reflexão sobre o sistema de escrita;
 · Comunicação oral;
 · Produção de texto escrito;
 · Leitura realizada pelo aluno.
Para um melhor entendimento, organizamos um Quadro que traz os objetivos de cada situação 
didática, exemplos de algumas atividades, frequência e o que é importante cuidar e observar:
16
Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem
Quadro 1.
Situação 
didática
Objetivos (o que 
e como os alunos 
aprendem)
Exemplos de 
algumas atividades
Frequência
O que é 
importante 
cuidar e observar
Leitura 
realizada pelo 
professor 
- Compreender a função 
social da escrita;
- Ampliar o repertório 
linguístico;
- Conhecer diferentes 
textos e autores;
- Aprender 
comportamentos leitores;
- Entender a escrita 
como forma de 
representação.
Leitura em voz 
alta realizada pelo 
professor:
- Textos literários;
- Textos jornalísticos 
e sobre curiosidades 
(científicas e históricas).
Diária – texto 
literário.
Semanal – jornal e 
científicos.
Oferecer textos de 
qualidade literária 
em seus suportes 
reais.
Ler com diferentes 
propósitos.
Análise e 
reflexão sobre 
o sistema de 
escrita
- Refletir sobre o sistema 
de escrita alfabético, 
buscando fazer a 
correspondência entre os 
segmentos da fala e da 
escrita;
- Conhecer as letras do 
alfabeto e sua ordem;
- Observar e analisar o 
valor e a posição das 
letras nas palavras, 
visando a compreensão 
da natureza do sistema 
alfabético;
- Compreender as regras 
de funcionamento do 
sistema de escrita.
- Leitura e escrita dos 
nomes dos alunos da 
sala.
- Leitura do abecedário 
exposto na sala.
- Leitura e escrita de 
textos conhecidos de 
memória.
- Leitura e escrita de 
títulos de livros, de 
listas diversas (nomes 
dos ajudantes da 
semana, brincadeiras 
preferidas, professores 
e funcionários), 
ingredientes de uma 
receita, leitura de 
rótulos etc.
Diária (quando há 
na classe crianças 
não alfabéticas)
Organizar 
agrupamentos 
produtivos.
Garantir momentos 
de intervenções 
pontuais com 
alguns grupos de 
alunos.
Solicitar a leitura 
(ajuste) do que é 
lido e/ou escrito 
pelo aluno.
17
Comunicação 
oral
- Participar de diferentes 
situações comunicativas, 
considerando e 
respeitando as opiniões 
alheias e as diferentes 
formas de expressão;
- Utilizar a linguagem 
oral, sabendo adequá-
la às situações em que 
queiram expressar 
sentimentos e opiniões, 
defender pontos de vista, 
relatar acontecimentos, 
expor sobre temas etc.;
- Desenvolver atitudes de 
escuta e planejamento 
das falas.
Recontode histórias 
conhecidas ou 
pessoais, de filmes etc.
Exposição de objetos, 
material de pesquisa 
etc.
Situações que 
permitam emitir 
opiniões sobre 
acontecimentos, 
curiosidades etc.
Duas vezes por 
semana
Observar com 
atenção como 
as crianças se 
comportam em 
uma situação 
em que têm de 
ouvir e falar uma 
de cada vez. 
Identificar quais 
crianças precisam 
ser convidadas a 
relatar, expor etc.
Produção de 
texto escrito
- Produzir textos 
buscando aproximação 
com as características 
discursivas do gênero;
- Produzir textos 
considerando o leitor e 
o sentido do que quer 
dizer;
- Aprender 
comportamentos 
escritores.
Produção coletiva em 
dupla e individual – 
de um bilhete, de um 
texto instrucional etc.
Reescrita de textos 
conhecidos – coletiva, 
em duplas, individual.
Uma vez por 
semana
Envolver os alunos 
com escritas 
pré-silábicas 
na atividade 
–produzindo 
oralmente, ditando 
para o professor ou 
para o colega.
18
Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem
Leitura 
realizada pelo 
aluno
- Desenvolver atitudes e 
disposições favoráveis à 
leitura;
- Desenvolver 
procedimentos de 
seleção de textos, 
buscando informações;
- Explorar as finalidades 
e funções da leitura;
- Ler com autonomia 
crescente;
- Aprender 
comportamentos leitores.
Roda de biblioteca 
com diversas 
finalidades: apreciar 
a qualidade literária 
dos textos, conhecer 
diferentes suportes de 
textos.
Ampliar a 
compreensão leitora: 
leitura de textos que os 
alunos ainda não leem 
com autonomia, mas 
que pode ser mediada 
pelo professor (leitura 
de textos informativos, 
instrucionais, entre 
outros).
Ler sem saber ler 
vencionalmente, 
utilizando índices 
fornecidos pelos textos.
Uma vez por 
semana
Ler várias vezes 
um mesmo texto 
com diferentes 
propósitos.
Garantir que 
conheçam o 
conteúdo a ser 
explorado.
Antecipar as 
informações que os 
alunos encontrarão 
nos textos.
Fonte: Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (2006, p. 40-41).
O desenvolvimento da leitura e da escrita como processo: a im-
portância das intervenções docentes no trabalho com alfabetização
Para que seus alunos possam ampliar seu conhecimento linguístico sobre uma variedade de 
gêneros textuais, aprender a ler com diferentes propósitos e, assim, construir procedimentos de 
leitura variados, bem como construir um repertório de textos e autores, sugerimos, a partir do 
Programa Escola Ativa (BRASIL, 2000), que o professor:
1 – Leia em voz alta todos os dias textos literários: contos tradicionais, histórias 
contemporâneas, lendas, contos de fadas;
2 – Leia com eles, em voz alta, todos os dias, parlendas, quadrinhas, trava-
línguas, cantigas, poemas, adivinhas e outros textos memorizáveis. Os textos 
podem estar num cartaz no mural, em um papel, com cópia para cada aluno, 
ou mesmo escrito na lousa;
3 – Proponha momentos de leitura nos quais os alunos possam explorar livros, 
revistas e jornais livremente, como nos cantos de leitura. Momentos nos quais 
possam ler, com a ajuda do professor, com diferentes propósitos e também nos 
quais possam ler, ainda que com a ajuda do professor, informações presentes 
no ambiente escolar, ampliando o conhecimento que já possuem sobre a função 
da escrita; 
19
4 – Leia um texto informativo em voz alta para seus alunos pelo menos uma 
vez por semana: artigos e notícias de jornal, textos informativos sobre temas 
científicos e, pelo menos duas vezes no mês, leia um texto instrucional, como 
regras de jogo e receitas culinárias;
5 – Convide os alunos a ler todos os dias os nomes dos colegas, as atividades 
do dia, o nome da escola, títulos das histórias conhecidas, títulos das cantigas e 
outros textos disponíveis na escola;
6 – Sempre que possível, leve o suporte no qual o texto que você selecionou 
foi impresso. Se for uma notícia, procure levar todo o jornal para que os alunos 
tenham contato com esse portador. Se for um verbete de enciclopédia, leve o 
volume do qual ele foi extraído. Se for um conto, leve o livro. Se for regra de 
um jogo, leve o folheto de instruções ou até mesmo a tampa da caixa do jogo; 
7 – Aproveite os momentos de leitura em voz alta para favorecer a integração do 
trabalho de leitura e de escrita com as demais áreas do currículo;
8 – Redobre a sua atenção no momento de selecionar os textos, escolha 
sempre textos com qualidade, evitando as versões adaptadas, que simplificam 
o conteúdo e a linguagem do texto. Esses textos pouco contribuem para a 
formação de seus alunos enquanto leitores.
E com relação à escrita:
1 – Proponha que seus alunos escrevam o próprio nome pelo menos em uma 
atividade durante o dia, consultando ou não o cartaz com os nomes da turma e 
também que que escrevam a data em pelo menos um de seus trabalhos do dia, 
copiando-o da lousa;
2 – Pelo menos uma vez por semana escreva uma lista de palavras cujo tema tenha 
significado no contexto do trabalho realizado até o momento. Pode ser uma lista 
com os nomes da turma organizados em ordem alfabética, dos nomes e da data de 
nascimento para a elaboração da “agenda de aniversários”, dos dias da semana, 
dos títulos das histórias lidas, dos nomes dos personagens preferidos, dos títulos 
das cantigas trabalhadas; 
3 – Pelo menos uma vez por semana escreva cartas ou bilhetes, produzidos de 
forma conjunta com a turma. O assunto pode variar: bilhete para pesquisar os 
nomes dos familiares mais próximos, para pesquisar a letra de uma cantiga, 
para obter informações sobre a data de nascimento dos alunos e outros dados 
que possam vir a fazer parte da “agenda de aniversários”;
4 – Pelo menos uma vez por semana escreva a letra de uma cantiga, uma 
quadrinha, uma parlenda – eles podem ditar o texto para que você o escreva 
na lousa;
5 – Todos os dias, escreva na frente deles as atividades do dia, os nomes das 
duplas/grupos de trabalho, o título do texto que será lido no momento da 
leitura... assim eles podem observar um escritor mais experiente escrevendo e 
ampliar as noções que já possuem sobre os procedimentos que envolvem o ato 
de escrever. 
20
Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem
Agora vamos conhecer os textos que mais fazem sucesso entre as crianças em fase de 
alfabetização? Veremos o que são poemas, canções, cantigas de roda, adivinhas, trava-
línguas, parlendas e quadrinhas, segundo o Programa Escola Ativa (BRASIL, 2000, p. 59-74, 
grifos nossos):
As adivinhas, as cantigas de roda, as parlendas, as quadrinhas e os trava-línguas 
são antigas manifestações da cultura popular, universalmente conhecidas e 
mantidas vivas através da tradição oral. São textos que pertencem a uma longa 
tradição de uso da linguagem para cantar, recitar e brincar. A maioria deles é de 
domínio público, ou seja, não se sabe quem os inventou: foram simplesmente 
passados de boca a boca, das pessoas mais velhas para as pessoas mais novas.
Os poemas servem para divertir, emocionar, fazer pensar. Geralmente têm 
rimas e apresentam diferentes diagramações. São textos com autoria, isto é, 
geralmente sabemos quem os fez. Todos nós conhecemos poemas, pois são 
textos de conhecimento popular. São parecidos com as canções, só que não são 
musicados. Alguns são feitos especialmente para crianças. Os poemas, assim 
como as quadrinhas e os trava-línguas, “brincam” com os sons das palavras e 
com o seu significado.
“A poesia nada mais é do que uma brincadeira com as palavras. Nessa 
brincadeira, cada palavra pode e deve significar mais de uma coisa ao mesmo 
tempo: isso aí é também isso ali. Toda poesia tem que ter uma surpresa. Se não 
tiver não é poesia: é papo furado!” (José Paulo Paes – poeta).
Convite
Poema de José Paulo Paes
Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião
Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia
que é sempreum novo dia.
Vamos brincar de poesia?
21
Tenho Sede
Canção de Dominguinhos e Anastácia
Traga-me um copo d’água
Tenho sede
E esta sede pode me matar
Minha garganta pede
Um pouco d’água
E os meus olhos pedem
Teu olhar
A planta pede chuva
Quando quer brotar
O céu logo escurece
Quando vai chover
Meu coração só pede
Teu amor
Se não me deres
Posso até morrer.
As cantigas de roda são textos que servem 
para brincar e divertir. Com bastante frequência 
se encontram associadas a movimentos 
corporais em brincadeiras infantis. Veja um 
exemplo:
Cai balão
Cai, cai balão
cai, cai balão
aqui na minha mão.
Não cai não, não cai não
cai na rua do sabão.
As adivinhas servem para divertir e provocar 
curiosidade. São textos curtos, geralmente 
encontrados na forma de perguntas: O que é, 
o que é? Quem sou eu? Qual é? Como? Qual 
a diferença? Veja o exemplo abaixo:
O que é, o que é que cai em pé e corre 
deitado?
Resposta: a chuva.
Os trava-línguas brincam com o som, a forma gráfica e o significado das palavras. A sonoridade, 
a cadência e o ritmo dessas composições encantam adultos e crianças. O grande desafio é recitá-
los sem tropeços na pronúncia das palavras, conforme podemos observar a seguir:
O rato e a Rita
O rato roeu a roupa do rei de Roma,
O rato roeu a roupa do rei da Rússia,
O rato roeu a roupa do RodovaIho...
O rato a roer roía.
E a rosa Rita Ramalho
do rato a roer se ria.
As parlendas são conjuntos de palavras com arrumação rítmica em forma de verso, que 
podem rimar ou não. Geralmente envolvem alguma brincadeira, jogo, ou movimento corporal. 
Veja um exemplo.
Boca de forno
22
Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem
Forno
Tira um bolo Bolo
Se o mestre mandar!
Faremos todos!
E se não for?
Bolo!
As quadrinhas são estrofes de quatro versos, também chamadas de quartetos. As rimas são 
simples, assim como as palavras que fazem parte do seu texto:
Roseira, dá-me uma rosa;
Craveiro, dá-me um botão;
Menina, dá-me um abraço,
que eu te dou meu coração.
É fundamental lembrar que:
A presença desses textos na sala de aula favorece a valorização e a apreciação da 
cultura popular, assim como o estabelecimento de um vínculo prazeroso com a 
leitura e a escrita. Quando os alunos ainda não leem e escrevem convencionalmente, 
atividades de leitura e escrita com esses textos, que pertencem à tradição oral e 
as crianças conhecem de memória, podem possibilitar avanços nas hipóteses dos 
alunos a respeito da língua escrita (BRASIL, 2000, p. 71).
Mencionaremos agora outro aspecto extremamente importante na organização do trabalho 
em salas de alfabetização: como organizar os conteúdos e as atividades de leitura e de escrita e 
como gerir o tempo.
Nossa perspectiva tem como base o texto de Délia Lerner (2002) sobre leitura e escrita 
na escola. Para tanto, apresentamos as modalidades organizativas, com base na proposta de 
Lerner, que você confere a seguir:
23
Para finalizar, reiteramos a importância da intervenção docente em todas as atividades 
realizadas pelas crianças nas salas de alfabetização. Intervir é propor atividades que levem as 
crianças a colocar em jogo o que sabem, entrem em conflito, troquem informações com seus 
colegas e avancem; é observar as crianças quando e enquanto realizam as atividades e fazer 
questões pertinentes que as levem a pensar; é registrar o processo de desenvolvimento infantil, 
suas dificuldades e avanços. 
Sobre as diferentes modalidades organizativas:
Projetos  oferece contextos nos quais a leitura ganha sentido e aparece como 
atividade complexa para a realização de um propósito. Permitem uma organização 
mais flexível do tempo: segundo o objetivo que se persiga – somente alguns dias ou 
ao longo de vários meses. Os projetos de longa duração permitem a oportunidade de 
compartilhar com os alunos o planejamento das tarefas e sua distribuição no tempo.
Atividades habituais  aparecem de forma sistemática e previsível – uma vez 
por semana ou uma vez a cada quinze dias. Por exemplo: “A hora dos contadores 
de história”, “comentário de curiosidade científica” etc. Ao destinar momentos 
específicos e preestabelecidos que serão sistematicamente dedicados à leitura, 
comunica-se às crianças que se trata de uma atividade muito valorizada.
Sequências de atividades  estão direcionadas para se ler com as crianças 
diferentes exemplares de um mesmo gênero, distintas obras de um mesmo autor 
ou diferentes textos sobre um mesmo tema. No curso de cada sequência incluem-
se atividades coletivas, em grupo e individuais.
Situações independentes  situações ocasionais – a professora encontra um 
texto que considera valioso ou os alunos propõe a leitura de algo –, nesses casos 
não teria sentido recusar a leitura só porque não tem relação com o que se está 
fazendo, nem “inventar” uma relação inexistente. Situações de sistematização 
– por exemplo: refletir sobre os traços que caracterizam as fábulas, construir 
coletivamente regras de ortografia (LERNER, 2002).
24
Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem
Material Complementar
Para saber mais sobre planejamento do trabalho com alfabetização, consulte as seguintes 
indicações:
Leia o texto Se a maioria da classe vai bem e alguns não, esses devem 
receber ajuda pedagógica, de Telma Weisz e disponível em: 
 · http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Profa/col_3.pdf, 
sobre o planejamento do trabalho de alfabetização com os alunos que 
apresentam maiores dificuldades;
Leia o texto A prática de reflexão sobre a língua, disponível em: 
 · http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Profa/col_3.pdf 
e que foi retirado dos Parâmetros Curriculares Nacionais, constantes no 
programa do Ministério da Educação para professores alfabetizadores;
Leia a entrevista com o professor Claudemir Belintane, especialista em 
alfabetização, conversa intitulada Ouvir histórias e lendas é essencial para 
processo de alfabetização e disponível em:
 · http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/05/23/alfabetizacao.htm;
Assista ao vídeo O planejamento do trabalho no ciclo de alfabetização, 
disponível em: 
 · http://youtu.be/uezv48sdKHM, 
que mostra um debate sobre o que é específico do planejamento no ciclo de 
alfabetização, quais os desafios para planejar e como um bom planejamento 
pode ter impacto na aprendizagem infantil.
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Profa/col_3.pdf
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Profa/col_3.pdf
http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/05/23/alfabetizacao.htm
http://youtu.be/uezv48sdKHM
25
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Programa Escola Ativa. 
Alfabetização: livro do professor. Brasília, DF: Fundescola, 2000. p. 59-74.
LERNER, D. Ler e escrever na escola: o possível, o real e o necessário. Porto Alegre, RS: 
Artmed, 2002.
OLIVEIRA, D. de A. Gestão democrática da educação: desafios contemporâneos. 7. ed. 
Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
PRADO, C. de O. Fundamentos teóricos e metodológicos da alfabetização e práticas. 
Santos, SP: Unimes Virtual, 2007.
SÃO PAULO (Município). Secretaria de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Projeto 
toda força ao 1º ano: guia para o planejamento do professor alfabetizador – orientações para 
o planejamento e avaliação do trabalho com o 1º ano do Ensino Fundamental, 2006.
26
Unidade: O Planejamento do Trabalho com Alfabetização para a Promoção da Aprendizagem
Anotações

Continue navegando