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Andressa Marques – medicina UFR LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO (LES) INTRODUÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS →Doença inflamatória crônica, autoimune, de etiologia pouco conhecida, decorrente de um desequilíbrio do sistema imunológico e de produção de autoanticorpos; →Os autoanticorpos são dirigidos contra várias proteínas celulares com consequente formação de imunocomplexos que quando se depositam em vasos de pequeno calibre, acabam causando vasculite e disfunção do local acometido; → Desencadeado por uma série de fatores, entre eles genéticos, ambientais, infecciosos, substâncias químicas, hormônios sexuais e fatores emocionais; →A interação desses múltiplos fatores leva à quebra da tolerância imunológica com desenvolvimento de autoanticorpos – levando a lesões em órgãos alvo →É uma doença polimórfica – com envolvimento de órgão e tecidos nas mais diversas combinações e em graus diferentes de gravidade; →Acomete principalmente as articulações, a pele, as células sanguíneas, os vasos sanguíneos, as membranas serosas, os rins e o cérebro; →O LES tem períodos de exacerbação de atividade inflamatória intercalados com períodos de remissão parcial ou completa; →Pode cursar com sintomas constitucionais, artrite, serosite, nefrite, vasculite, miosite, manifestações mucocutâneas; sendo a FADIGA, a queixa mais prevalente no LES em atividade →Alterações clínicas ou laboratoriais isoladas não são suficientes para realizar o diagnóstico EPIDEMIOLOGIA →Muito mais prevalente em mulheres na idade reprodutiva (9 vezes mais frequente em mulheres), com os primeiros sinais e sintomas se iniciando entre a 2ª e 3ª décadas de vida; proporção de 10:1 nessa faixa etária →No Brasil estima-se uma incidência aproximada de 4,8 a 8,7 casos por 100.000 hb/ano; →Mais prevalente em afrodescendentes; ETIOLOGIA →É multifatorial, com participação de fatores genéticos, epigenéticos, hormonais, ambientais e imunológicos. Andressa Marques – medicina UFR →Tem alta prevalência entre gêmeos monozigóticos (29 vezes maior que na população geral) e também nos parentes de primeiro grau; →A associação entre LES e deficiência de algumas proteínas do sistema complemento, especialmente C1q e C4 é bem determinada; →Além dos genes predisponentes, como TREX1 e DNAse1, há também associação com alguns alelos do MHC com o LES, principalmente os alelos DR2 e DR3 de classe II; →O papel patogênico dos hormônios baseia-se na hipótese de imunomodulação; os estrógenos têm papel estimulador de várias células imunes, como macrófagos, linfócitos T e B. Logo, favorecem a adesão dos mononucleares ao endotélio vascular, estimulam a secreção de algumas citocinas, com oIL- 1 e expressão de moléculas de adesão e MHC. →A via do IFN do tipo 1 também é regulada positivamente pelo estrogênio e negativamente pelos progestágenos; →Os estrogênios também têm ação semelhante às moléculas de BLyS/BAFF, reduzindo a apoptose das células autorreativas e acelerando a sua maturação, especialmente das células B com alta afinidade pelo DNA; →Dentre os fatores ambientais vale ressaltar o papel da luz ultravioleta (UV) – a exposição solar determina a apoptose de queratinócitos com subsequente expressão de moléculas como RNP, Ro, nucleossoma e fosfolipídeos nos corpúsculos apoptóticos, a secreção de citocinas (IL-1, IL-6, TNF- alfa, GM-CSF) com amplificação da reposta imune, além de promover a ativação de macrófagos e processamento de antígenos, o que desencadeia uma resposta inflamatória sistêmica. →Por outro lado, os vírus são potentes estímulos para a ativação da resposta imune e existem evidências da interface entre a infecção por vírus Epstein-Barr (EBV), citomegalovírus (CMV) e pelo Mycobacterium tuberculosis com o LES. →Ademais, é necessário lembrar que o uso de algumas medicações, especialmente hidralazina e isoniazida, podem não só provocar sintomas similares, mas também atuarem como gatilho para as manifestações da doença; →O tabagismo, que é o 2º fator ambiental mais associado ao desenvolvimento de LES, também reduz os efeitos terapêuticos da hidroxicloroquina; PATOGENIA →LES se caracteriza por vários defeitos no sistema imune por perda da autotolerância, que resultam em um processo que começa na quebra da homeostasia celular e culmina com a produção anormal de autoanticorpos; →Os autoanticorpos podem aparecer anos antes dos primeiros sintomas da doença; →Entre os distúrbios da regulação imune, destacam-se: Aumento da expressão de IFN-alfa, especialmente durante os períodos de atividade inflamatória Redução do número e função das células T citotóxicas e supressoras Aumento do número e atividade dos linfócitos T CD4+ (helper) Ativação policlonal de células B autorreativas, incluindo hiperatividade, decorrente dos defeitos determinados genética ou epigeneticamente Andressa Marques – medicina UFR Defeitos da tolerância dos linfócitos B, relacionados aos defeitos na apoptose e deficiência de complemento Aumento da expressão de BLyS/BAFF, gerando redução da apoptose dás células produtoras de autoanticorpos Aumento da ativação dos toll-like receptors (TLR) e dos níveis de IFN-alfa. Defeitos na sinalização entre as células T e B, com consequente redução da expressão de IL- 2 e do número de células T regulatórias; Redução do clearance dos imunocomplexos circulantes e do material apoptótico pelos macrófagos; Aumento do microquimerismo fetal e dos níveis de micropartículas contendo material nucleico e que podem funcionar como estímulos para a autoimunidade; Aumento da sinalização dos TLR7 e TLR9 nas células B, dendríticas e plasmáticas; Aumento do processo conhecido como NETose, que é uma forma de apoptose específica dos neutrófilos e que libera uma espécie de “rede” composta por DNA ligado a proteínas e que é capaz de estimular a produção de IFN-alfa e anti-DNA, por meio da ação do TLR9. QUADRO CLÍNICO MANIFESTAÇÕES GERAIS →Anorexia e perda de peso; →Febre de origem indeterminada em menos de 5% dos pacientes, mas, pode ser um primeiro sinal da doença, e em torno de 42% dos pacientes podem ter febre como manifestação do lúpus ativo →Linfoadenopatia generalizada ou localizada, com predomínio das cadeias cervical e axilar →Hepato e/ou esplenomegalia MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS →São extremamente importantes para o diagnóstico →Identificadas em 70% dos pacientes no início da doença e em até 80-90% na sua evolução; →As principais lesões são: Lúpus cutâneo agudo Lúpus cutâneo subagudo Lúpus cutâneo discoide →A principal lesão cutânea é o rash malar ou eritema em “asa de borboleta” -identificada em 30 a 60% dos casos, sendo altamente fotossensível (eritema malar e no dorso do nariz, preservando o sulco naso labial) Andressa Marques – medicina UFR →Após o controle da atividade inflamatória, essas lesões podem evoluir com hiperpigmentação, confundindo-se com o cloasma gravídico; sua forma generalizada é conhecida como rash maculopapular ou dermatite lúpica fotossensível e se apresenta como erupção exantematosa ou morbiliforme generalizada; →O lúpus bolhoso e necrose epidérmica tóxica são também outras formas de lesões agudas da doença, juntamente com a fotossensibilidade. →O lúpus cutâneo subagudo se manifesta como placas eritematosas descamativas em áreas expostas e com intensa fotossensibilidade, habitualmente associado ao anticorpo anti-Ro (SS-A). As lesões são simétricas, superficiais, nãocicatriciais, localizadas em áreas foto-expostas. Iniciam com pequenas pápulas eritematosas, progredindo para lesões anulares policíclicas ou papuloescamosas (psoriasiformes). →A lesão discoide no seu início é caracterizada por placa eritematosa que evolui deixando uma cicatriz central hipopigmentada com atrofia, preferencialmente identificada na face, no couro cabeludo, no pavilhão auricular e no pescoço; (manifestam-se por placas eritematosas cobertas por uma escama aderente – inicialmente são hiperpigmentadas e evoluem com uma área central atrófica, com ausência de pelos). →As úlceras orais e nasais, em geral indolores, são achadas em cerca de 1/3 dos pacientes; →Alopecia pode ser identificada em até 50% dos casos e tem relação com maior atividade da doença; →20 a 70% dos pacientes apresentam vasculite cutânea que podem se manifestar como lesões puntiformes palmoplantares, purpúricas, urticariformes, úlceras e necrose digital; →O FRy, caracterizado por alterações vasculares (vasoconstrições e vasodilatações) que determinam mudança na coloração das extremidades (palidez, cianose e rubor), está presente em cerca de 16 a 40% dos pacientes e geralmente sua presença está associada dos anticorpos anti-RNP (pode ser a primeira menifestação da doença). MANIFESTAÇÕES ARTICULARES →O envolvimento articular é a manifestação mais encontrada, depois dos sintomas constitucionais, sendo detectado em mais de 90% dos pacientes durante a evolução da doença; →Presença de artralgia e/ou artrite possibilita forte suspeita diagnóstica; →Na maioria das vezes observa-se uma poliartrite simétrica, aditiva, por vezes com rigidez matinal, semelhante a AR; →Outro achado importante é a artropatia de Jaccoud, caracterizada por desvio ulnar dos dedos e deformidades reversíveis do tipo “pescoço de cisne” decorrentes do acometimento inflamatório de tendões e ligamentos. Andressa Marques – medicina UFR →Necrose asséptica de múltiplas articulações, principalmente da cabeça do fêmur, pode ocorrer, particularmente naqueles pacientes em uso de glicocorticoides em dose elevada por longos períodos. →Perda óssea com aumento do risco de osteoporose e fraturas geralmente está associada com uso crônico de GC e deficiência de vit D associada à baixa exposição solar. →Necrose de osso: MANIFESTAÇÕES PULMONARES →O envolvimento pulmonar ou pleural ocorre em cerca de 50% dos pacientes; →Dentre as manifestações pulmonares, a pleurite é a mais frequente e ocorre em 30 a 60% dos pacientes; →Derrame pleural é observado em 16 a 46% durante o curso da doença; →Menos comumente encontra-se hipertensão pulmonar e pneumonite lúpica. A hipertensão pulmonar geralmente é de intensidade leve a moderada, sendo encontrada em 12 a 23 % dos casos. →O quadro agudo da pneumonite cursa com febre, tosse, hemoptise, pleurisia e dispneia, detectada em até 10% dos pacientes. →Apesar de mais rara, a síndrome do pulmão encolhido também pode ocorrer, levando a instalação aguda/subaguda de dispneia, em que existe redução dos volumes pulmonares frente à elevação de diafragma, determinando uma restrição da função pulmonar; (miopatia diafragmática – parte do diafragma tem uma fraqueza, fica com descoordenação, o paciente tem dispneia e no exame de imagem aparece um pulmão menor que o outro) →Hemorragia alveolar difusa também pode ocorrer, condição que determina dispneia de início súbito, associada a tosse, hemoptises (presentes em apenas 50%), febre e infiltrados pulmonares difusos, e associada à marcada redução dos níveis de hemoglobina. →Hipertensão pulmonar pode ocorrer em decorrência da própria doença ou secundária a valvopatia cardíaca, doença intersticial pulmonar ou embolia pulmonar. MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS →A pericardite é a manifestação cardíaca mais comum do LES, podendo ser clínica ou subclínica e ocorre em até 55% dos pacientes; →O derrame pericárdico geralmente é pequeno e detectável apenas por ecocardiograma (raramente evolui para tamponamento ou pericardite constritiva); →A miocardite está frequentemente associada à pericardite, ocorrendo em cerca de 25% dos casos Andressa Marques – medicina UFR →Acometimento valvar é frequentemente detectado pelo ecocardiograma e o espessamento valvar é a alteração mais encontrada; →A endocardite de Libman-Sacks caracteriza-se por lesões verrucosas, especialmente localizadas nas valvas aórtica e mitral, sendo descritas em até 43% dos pacientes; →A endocardite apresenta um curso clinico silencioso, podendo em raros casos, evoluir com eventos tromboembólicos e endocardite infecciosa. Episódios tromboembólicos também podem estar associados à presença de anticorpos antifosfolípides e ao uso crônico de GC ou de anticoncepcional oral. →Doença arterial coronariana é outra manifestação muito importante nos pacientes com LES, estando relacionada com processo acelerado de aterogênese e determinando por morbidade e mortalidade precoces. MANIFESTAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS →São subdivididas em SNP e SNC e podem ser atribuídas ao LES desde que afastas outras causas que as expliquem melhor. →Os sintomas podem ser divididos em eventos primários (danos imunomediados no SNC) e secundários (repercussão da doença em outros órgãos ou complicações terapêuticas). SISTEMA NERVOSO CENTRAL SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Crises convulsivas Meningite asséptica Cefaleia (incluindo enxaqueca e HIC benigna) Doença cerebrovascular Síndrome desmielinizante Mielopatia Desordem do movimento (coreia) Mielopatia Estado confunsional agudo Desordens de ansiedade Disfunção cognitiva Alterações do humor Psicose Polirradiculoneuropatia desmielinizante inflamatória aguda (Síndrome de Guillain-Barré) Desordens autonômicas Mononeuropatia Miastenia gravis Neuropatia craniana Plexopatia Polineuropatia Andressa Marques – medicina UFR →Considerando os sintomas psiquiátricos, a convulsão e a psicose podem constituir-se na primeira manifestação isolada da doença. (tem que descartar a possibilidade da psicose estar ligada ao uso de GC); MANIFESTAÇÕES RENAIS →Na prática clínica, manifestações de doença renal ocorrem em cerca de 50 a 60% dos pacientes, sendo a hematúria e a proteinúria persistentes os achados mais encontrados; →A nefrite lúpica pode cursar com síndrome nefrítica ou nefrótica, consumo de complementos, positivação de anti-DNA (quando ele fica mais alto pode estar tendo lesão de órgão alvo e quando mais baixo pode indicar uma melhora do quadro – ou seja, é um dos poucos que pode ser utilizado para acompanhar a atividade da doença), e nas formas mais graves, trombocitopenia e perda de função renal. →É bastante utilizada a classificação histológica proposta pela International Society of Nephrology e pela Renal Patholgy Society. →As classes I e II abrangem as glomerulonefrites (GN) cujo depósito de imunocomplexos atinge o mesângio, sem ou com hipercelularidade mesangial, respectivamente. →A GN focal (classe III) compromete menos de 50% do total de glomérulo; →A classe IV (GN difusa) envolve 50% ou mais dos glomérulos, além disso, é ainda subdividida em acometimento segmentara ou global. →A classe V compreende a GN membranosa e a classe VI, a esclerose glomerular. →As classes de GN devem ser identificadas de acordo com o predomínio de lesões ativas e/ou crônicas. →O sedimento urinário ativo, definido pela presença de hematúria (especialmente se com dismorfismo de padrão glomerular),leucocitária e cilindros celulares, é um dos parâmetros mais importantes para caracterização de GN em atividade. →A proteinúria, medida em 24 horas ou inferida pela relação proteinúria/creatininúria (R P/C) em uma amostra isolada de urina, também pode indicar atividade inflamatória. →A redução da filtração glomerular, a proteinúria nefrótica e a presença de HAS sugerem maior gravidade e pior prognóstico. →Classificação da glomerulonefrite (GN) do LES: Andressa Marques – medicina UFR MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS →Leucopenia a linfopenia são encontradas com alta frequência; →A plaquetopenia pode ser a primeira manifestação de doença e pode preceder em anos outras manifestações clínicas; →Clinicamente observam-se petéquias ou equimoses, principalmente em MMII, além de fenômenos hemorrágicos; →O achado mais frequente é a anemia de doença crônica EXAMES LABORATORIAIS NO LES QUE IDENTIFIQUEM: ANORMALIDADES IMUNOLÓGICAS →As anormalidades imunológicas são as mais características e incluem a presença de autoanticorpos e redução do complemento; →A maioria dos pacientes (>98%) tem o teste de FAN positivo em títulos altos, em particular durante os períodos de atividade de doença. Andressa Marques – medicina UFR ACOMETIMENTO DE ÓRGÃO OU SISTEMA ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS INESPECÍFICAS →A investigação de autoanticorpos auxilia no diagnóstico da doença [anti-dsDNA (40%), anti-Sm (35%) e anti-P (15%)], no acompanhamento da atividade de doença [anti-dsDNA (renal), antip (psicose)] e não caracterização do quadro clínico [anti-dsDNA (renal), anti-P (SNC) anti-Ro/SSA e anti-La/SSB (Síndrome de Sjogren secundária, síndrome do lúpus neonatal e lúpus cutâneo subagudo) e anticorpos antifosfolipídeos (SAF associada ao LES). →O consumo de complemento (C3, C4 e complemento hemolítico total) é uma característica da doença que auxilia no diagnóstico e acompanhamento do paciente; →Exames que refletem o envolvimento de órgãos alvo: Hemograma – anemia, leucopenia, trombocitopenia por atividade de doença e droga Exame de sedimento urinário – proteinúria, hematúria, leucocitúria, cilindrúria Biópsia renal – classe histológica da nefrite Enzimas musculares – miosite Enzimas hepáticas – hepatite, toxicidade à droga RM – atividade do SNC e infecção Eletroneuromiografia – neuropatia periférica →Os quadros hematológicos e renais devem ser avaliados sempre, os demais são de acordo com a suspeita de acometimento de órgão/sistema →Os exames que refletem alterações inflamatórias são inespecíficos. No lúpus, a PCR não costuma se elevar muito, exceto quando existe infecção associada. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL INFECÇÕES: virais CMV, Epstein-Barr, parvovírus B19, HIV, hepatite B e hepatite C, além de bacterianas como endocardite, tuberculose, sífilis e hanseníase DOENÇAS AUTOIMUNES: artrite reumatoide – particularmente na fase inicial dos quadros articulares (verificar positividade de anti-CCP, fator reumatoide e radiografia das mãos); doença mista do tecido conjuntivo – por possuir manifestações que se sobrepõem ao LES (considerar títulos elevados de anti-RNP); síndrome de Sjogren – quadro de manifestações Andressa Marques – medicina UFR extra glandulares que podem ser observadas no LES (verificar presença de xeroftalmia e xerostomia, além da positividade de anti-Ro e anti-La); vasculites sistêmicas primárias, doença de Behçet, doenças inflamatórias intestinais, dermatomiosite/polimiosite. OUTRAS DOENÇAS HEMATOLÓGICAS: doenças linfoproliferativas, púrpura trombitopênica idiopática (PTI), púrpura Trombocitopênica trombótica (PTT), doença de Kikuchi, esclerose múltipla, entre outras; DIAGNÓSTICO →Se baseia na combinação de manifestações clínicas e alterações laboratoriais, desde que outras doenças sejam excluídas; →A atividade da doença pode ser avaliação usando a combinação de anamnese, exame físico, testes funcionais específicos e estudos sorológicos. →Existem também vários índices com sensibilidade semelhante, para avaliar a atividade da doença, tais como: SLEDAI, SLAM e BILAG. A detecção de lesão irreversível ou sequela decorrente da doença pode ser medida por meio do SLICC/ACR DAMAGE INDEX. →O Systemic Lupus Disease Activity Index (SLEDAI) é um índice global que mede a atividade da doença nos últimos 30 dias por meio de 24 medidas objetivas de manifestações clínicas e laboratoriais, sendo considerado um índice reprodutível e de fácil utilização na clínica. →Critérios de classificação do LES – 2019 (última atualização) Andressa Marques – medicina UFR # Pontuação total para classificar: > ou = 10. (se dentro de um mesmo domínio o paciente apresentar mais de um critério eu só vou contar o que pontua mais/ não se soma os pontos dentro de um mesmo domínio!) A pontuação do critério renal é maior nas classes iii e iv porque o objetivo é diagnosticar enquanto ainda tem tempo de atuar e melhorar o curso da doença. →O objetivo dos critérios é a uniformização das populações para estudos científicos – todavia, como possuem altas sensibilidade e especificidade na prática clínica, começaram a ser utilizados para diagnosticar a doença TRATAMENTO →A principal causa de falha no tratamento é a não adesão ao mesmo; MEDIDAS GERAIS →Aconselhamento, suporte e orientação por meio de tratamento multidisciplinar para o paciente e seus familiares. Informar sobre a doença e sua evolução, possíveis riscos e os recursos disponíveis para o seu diagnóstico e tratamento. Transmitir otimismo e motivação para estimular a aderência ao tratamento e o cumprimento dos projetos de vida. →Orientação dietética para a prevenção e controle de osteoporose, dislipidemia, obesidade e HAS. Dar preferência para uma dieta balanceada, com baixo teor de sal, carboidratos e lipídeos, especialmente nos pacientes usuários crônicos de GC. →Suplementação de cálcio e vitamina D deve ser considerada para todos os pacientes; (com relação a distribuição pelo SUS, compete ao estado a compra e distribuição aos municípios- mas, sempre falta) →Estimular exercícios físicos aeróbicos, exceto nos períodos de importante atividade sistêmica da doença. →Orientações a respeito da anticoncepção para as mulheres – havendo a necessidade do uso de ACPO, dar preferência para aqueles sem ou com baixa dose de estrogênio. Não é aconselhado o uso de ACPO em pacientes com LES e história de doença cardiovascular ou risco aumentado para a ocorrência de fenômenos tromboembólicos. Recomenda-se evitar a concepção com medicamentos contraindicados na gestação. →Lúpus na gestação: mulheres lúpicas geralmente têm fertilidade preservada e durante a gestação as complicações obstétricas são maiores, assim como o risco de exacerbação da doença, especialmente no puerpério. O prognóstico é melhor para ambos, mãe e feto, quando a doença está em remissão há pelo menos 6 meses antes da concepção. →Durante a gestação tem uma maior prevalência de pré-eclâmpsia, eclampsia, sofrimento fetal e morte fetal, principalmente em mulheres com nefrite lúpica e presença de anticorpos antifosfolípides. →O tratamento pode ser realizado com uso de GC e antimaláricos, além de todos os cuidados e orientações recomendadas para os demais pacientes com LES. Imunossupressão geralmente não contraindicados durante a gestação. →Lúpusneonatal: condição caracterizada por graus variados de bloqueio cardíaco fetal, trombocitopenia, alterações hepáticas e cutâneas relacionadas com a passagem transplacentária de Andressa Marques – medicina UFR autoanticorpos maternos, especialmente o anti-Ro/SSA e anti-La/SSB. O tratamento do bloqueio cardíaco fetal depende da gravidade e é realizado com GC que atravessam a barreira plancentária, trais como dexametasona ou betametasona. As demais manifestações tendem a ser leves e geralmente estarão envolvidas até o 6º mês de vida da criança. →Proteção contra luz solar e outras formas de irradiação ultravioleta, por meio de barreiras físicas, como roupas longas, gola alta e uso de chapéus. Evitar exposição direta ou indireta ao sol, lâmpadas fluorescentes ou halógenas →Avaliação ginecológica anualmente, com a realização de exame clínico das mamas e do colo do útero para detecção de displasia cervical causada pelo HPV →Avaliação oftalmológica a cada 6 a 12 meses, especialmente naqueles pacientes em uso de antimaláricos →Consulta odontológica periódica para preservação da saúde oral →Vacinação anual contra o vírus da gripe e vacinação pneumocócica a cada 5 anos. →Em pacientes com LES e em uso de imunossupressores, deve-se evitar o uso de vacinas com vírus vivos atenuadas; →Suspensão do tabagismo. →Realizar teste cutâneo para tuberculose (reação de Mantoux) antes da introdução dos medicamentos imunossupressores. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO →O controle da atividade da doença é realizado principalmente pelo uso de corticoides e imunossupressores, fármacos que possuem vários efeitos colaterais como hipertensão arterial, diabete, osteoporose e neoplasias, entre outros. →É necessário identificar e predizer a atividade da doença para um planejamento adequado →Provas sorológicas podem ser utilizadas para a avaliação da atividade da doença, sendo as mais importantes a dosagem de anticorpos anti-dsDNA, níveis de complemento e de seus produtos e os níveis séricos de interleucinas, especialmente IL-6, IL-10 e IL-16. →Não há um único marcador sorológico que se correlacione com a atividade da doença, é particular em cada paciente e deve ser levado em consideração a avaliação de forma global. →Entre os medicamentos utilizados, podem ser citados o uso de antimaláricos (cloroquina e hidroxicloroquina) e glicocorticoides (GC), independente do órgão ou sistema afetado pela doença. O uso de hidroxicloroquina foi avaliado em ensaio clínico randomizado comparado com placebo em pacientes com atividade leve avaliada pelo escore SLEDAI. CORTICOIDE →Os GC são os fármacos mais utilizados no tratamento do LES e as suas doses diárias variam de acordo com a gravidade de cada caso. →Tendo prednisona como padrão vira oral, as doses podem ser divididas em: Dose baixa: 0,125 mg/kg/dia Dose moderada: 0,125 a 0,5 mg/kg/dia Dose alta: 0,6 a 1 mg/kg/dia Dose muito alta: 1 a 2 mg/kg/dia Andressa Marques – medicina UFR Pulsoterapia com GC: aplicação endovenosa de metilprednisolona (15 a 20 mg/kg/dia), administrada em 1 hora, habitualmente por três dias consecutivos. →Em função dos inúmeros efeitos colaterais, o objetivo é conseguir uma remissão da doença para poder diminuir a dose dos medicamentos e chegar a zero. →O tto dependerá da extensão e da gravidade do comprometimento cutâneo. Recomenda-se aos doentes não se expor ao sol devido à relação ente a radiação UV-B e fotossensibilidade e outras lesões cutâneas do LES. O uso de GC tópico, como a dexametasona, para lesões isoladas também pode ser considerado. As lesões do lúpus cutâneo subagudo costumam responder bem com uso de antimaláricos isolados ou em combinação com a terapia tópica. Nos pacientes com lesões cutâneas disseminas recomenda-se o uso de GC sistêmico e associação com imunossupressores; →Em pacientes que apresentam manifestações cutâneas refratarias ao GC e aos antimaláricos, pode- se associar MTX na dose de 10 a 20 mg/semana, podendo ser aumentado até 25 mg/semana ou AZA; →Talidomida também é uma opção, em caso de pacientes que não apresentem risco de engravidar; →A prevalência do LES vem aumentando, uma vez que a mortalidade vem diminuindo ao longo dos anos, devido ao desenvolvimento de novas opções terapêuticas, como também o surgimento de exames imunológicos e genéticos mais sensíveis e específicos para se realizar um diagnóstico mais precoce. →Esse aumento na sobrevida nos leva a considerar a ocorrência de sequela e incapacidade pela própria doença ou pelo tratamento de pacientes com LES, que podem envolver cuidados pessoais, locomoção, destreza, comportamento, comunicação, disposição e outras atividade; →Por se tratar de uma doença crônica incurável, o objetivo do tratamento baseia-se na supressão da atividade da doença, que é reversível, como também na prevenção contra o surgimento de danos orgânicos causados pela doença e de efeitos colaterais secundários aos fármacos utilizados, além do controle de comorbidades associadas. →Durante o acompanhamento clínico do paciente com LES, o médico deve avaliar o indivíduo, buscando responder aos seguintes questionamentos: se houve melhora, piora ou se a doença se manteve estável; se a presença de dano irreversível se deve à doença ou ao tratamento instituído; qual a percepção do Andressa Marques – medicina UFR paciente a respeito de seu estado de saúde e qualidade de vida, uma vez que esta, muitas vezes, difere da percepção do médico. →Em pacientes que sobrevivem por mais de 10 anos, a causa de morte com frequência não está relacionada com a atividade de doença, e sim com os danos crônicos causados pela doença ou por sua terapêutica. →Para a descrição do prognóstico em LES, os pacientes devem ser avaliados para a atividade da doença, danos acumulados durante a doença, como também para a qualidade de vida. →FORMAS DE AVALIAR DANOS ACUMULADOS: →PARA AVALIAR O NÍVEL DE ATIVIDADE DA DOENÇA:
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