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Cardiovascula� O coração normalmente se contrai de maneira coordenada, bombeando sangue por uma via determinada pelas valvas. A coordenação da contração é efetuada por um sistema de condução especializado. O ritmo sinusal normal é gerado por impulsos de marca-passo que se originam no nó sinoatrial (SA) e são conduzidos em sequência, através dos átrios, nó atrioventricular (AV), feixe de His, fibras de Purkinje e ventrículos. As características eletrofisiológicas do músculo cardíaco que o distinguem de outros tecidos excitáveis incluem: - atividade de marca-passo, que é elétrica e controlada pelos nós; - ausência de corrente de Na + rápida nos nós SA e AV, em que a corrente lenta de entrada de cálcio inicia os potenciais de ação; - potencial de ação prolongado, conhecido como platô, ocasionado pelo influxo de cálcio; - período refratário longo; - influxo de Ca 2+ durante o platô. Os eventos cardíacos são divididos em 4 etapas. Na fase 0, ocorre a despolarização rápida, com a abertura de canais de sódio, resultando em uma corrente rápida para o interior e termina quando os canais são rapidamente inativados. A corrente de sódio é bloqueada por fármacos antiarrítmicos, como a quinidina. Na fase 1, ocorre a repolarização parcial, sua fase rápida decorre da inativação dos canais de sódio e da abertura e fechamento rápidos dos canais de potássio, causando uma corrente transitória para fora. Na fase 2, conhecida como platô, os canais de cálcio voltagem-sensíveis se abrem, o que leva a uma corrente lenta para o interior (despolarização), o que equilibra a saída lenta de potássio (polarização). Na fase 3, ocorre a repolarização, com o fechamento dos canais de cálcio, e a abertura dos canais de potássio, resultando em uma corrente para fora, o que leva à repolarização da membrana. O resultado final dessa ação é o ganho de sódio e a perda de potássio, esse desequilíbrio é corrigido pela bomba de Na +/K + (ATPase). Na fase 4, conhecida como corrente espontânea, é uma despolarização gradual durante a diástole. Nela, ocorre o aumento da despolarização resultante do incremento gradual na permeabilidade ao sódio, essa despolarização espontânea A condução do impulso através do coração com o traçado do eletrocardiograma (ECG) correspondente. Há um retardo mais longo no nó atrioventricular (AV), onde o potencial de ação tem uma onda caracteristicamente lenta. A cardiopatia isquêmica causa arritmia, que pode levar à morte por fibrilação ventricular. A Onda P representa a despolarização do átrio. O complexo QRS representa a despolarização do ventrículo. Já a onda T representa a repolarização do ventrículo. A fibrilação atrial é uma contração caótica, que ocorre por uma desorganização da atividade elétrica no coração. Os distúrbios do ritmo cardíaco são classificados como arritmias, que, clinicamente, estão divididas quanto ao seu local de origem em atrial juncional ou ventricular; e quanto a frequência em taquicardia, quando ela está aumentada ou bradicardia, quando está diminuída. Essas arritmias causam palpitações e hipoperfusão cerebral, que leva a uma sensação de desmaio. E podem ser diagnosticadas através do ECG. Os tipos mais comuns de taquiarritmia são: - fibrilação atrial, em que os batimentos cardíacos são completamente irregulares; - taquicardia supraventricular (TSV), em que os batimentos cardíacos são rápidos, mas regulares; - taquiarritmias ventriculares sustentadas são muito menos comuns, porém muito mais graves; incluem a taquicardia ventricular e a fibrilação ventricular, nas quais a atividade elétrica nos ventrículos é completamente caótica e o débito cardíaco cessa. Já as bradiarritmias incluem vários tipos de bloqueio cardíaco, como, por exemplo, no nó AV ou SA e a parada completa da atividade elétrica, conhecida como parada assistórica. Existem quatro fenômenos básicos são subjacentes aos distúrbios do ritmo cardíaco: - retardo da pós-despolarização, que desencadeia batimentos ectópicos e é causado por uma corrente de entrada associada a cálcio intracelular anormalmente elevado; - reentrada, decorrente de bloqueio parcial de condução, que é facilitada quando partes do miocárdio são despolarizadas em decorrência de uma doença; - atividade ectópica de marcapasso, que é exacerbada pela atividade simpática; - bloqueio cardíaco, que advém de doenças no sistema de condução, especialmente do nó atrioventricular. Nos gráficos a seguir é possível ver o retardo da pós despolarização, causado por uma concentração de cálcio intracelular elevada. PDT é pós-despolarização tardia e PDP é a pós-despolarização precoce. A linha preta demonstra o funcionamento fisiológico normal e a rosa o indivíduo alterado. A liberação espontânea de cálcio dentro da célula faz com que ela se despolarize. Essa atividade elétrica alterada é a razão da arritmia. Na PDP, a pós-despolarização ocorre antes da célula terminar a repolarização. A elevação do cálcio ativa a troca Na+/Ca+. Nela, um cálcio sai da célula em troca de 3 sódios, resultando em um influxo de carga positiva e na despolarização da membrana. Na imagem podemos ver a pós despolarização em músculo cardíaco registrada no seio coronário de um cão na presença de norepinefrina. O primeiro estímulo (S1) causa um potencial de ação seguido por uma pequena pós-despolarização. À medida que diminui o intervalo S2-S3, a pós-despolarização fica maior (†) até que desencadeia uma série indefinida de potenciais de ação (‡). Normalmente, o potencial de ação cardíaco extingue-se depois de ter ativado os ventrículos, porque é cercado pelo tecido refratário, que acabou de atravessar. A reentrada ocorre quando o impulso excita regiões do miocárdio depois do período refratário, causando circulação contínua dos potenciais de ação. O impulso cardíaco trafega por uma via acessória e retorna ao local de origem, promovendo sua reativação. Essa reentrada pode ser causada por lesão do miocárdio. Na imagem, podemos ver como ocorre a geração do ritmo reentrante por uma área de miocárdio lesada. A área lesada (marrom) conduz apenas em uma direção. Isto perturba o padrão normal de condução e permite que ocorra circulação contínua do impulso. Vários fatores extrínsecos ao coração afetam seu desempenho de diversos modos, sendo particularmente importantes para o aumento de carga dois padrões de resposta: 1. o aumento da pressão de enchimento cardíaco (pré-carga), causado por aumento do volume sanguíneo ou por venoconstrição, que aumenta o volume diastólico, sistólico e, por isso, o débito cardíaco e a pressão arterial média. Nesse caso, tanto o trabalho cardíaco como o consumo cardíaco de oxigênio aumentam. 2. a constrição de vasos de resistência aumenta a pós-carga. O volume diastólico final e, por isso, o trabalho para o batimento, ficam inicialmente inalterados, mas o trabalho de batimento constante em face da resistência vascular aumentada reduz o volume sistólico e, portanto, aumenta o volume diastólico final. Como acontece com a pré-carga aumentada, o trabalho cardíaco e o consumo cardíaco de oxigênio aumentam. Na insuficiência cardíaca o débito não é suficiente para satisfazer as necessidades do organismo. O edema de tecidos periféricos (aparente nos membros inferiores) e dos pulmões (causando falta de ar) é uma consequência importante da insuficiência cardíaca, esse edema é causado pelo aumento da pressão venosa e retenção de sódio. O débito cardíaco é calculado pela multiplicação da frequência cardíaca pelo volume sistólico, e mostra o volume de sangue ejetado por minuto. Os principais fatores fisiológicos que regulam o fluxo coronariano são: - fatores físicos; - controle vascular por metabólitos; - controle neural e humoral. Fatores físicos: durante a sístole, a pressão exercida pelo miocárdio sobre os vasos que o atravessam é igual ou superior à pressão de perfusão, de modo que ocorre fluxo coronariano somente durante a diástole. A diástole é abreviada mais que a sístole durante a taquicardia, reduzindo o período disponível para perfusão do miocárdio.Durante a diástole, a pressão de perfusão efetiva é igual à diferença entre as pressões aórtica e ventricular. Logo, se a pressão aórtica diastólica cair ou se a pressão ventricular diastólica aumentar, a pressão de perfusão cairá, o mesmo ocorre com o fluxo sanguíneo coronariano. A estenose da valva aórtica reduz a pressão aórtica, mas aumenta a pressão do ventrículo esquerdo proximalmente à valva estreitada e costuma causar precordialgia isquêmica (angina) mesmo na ausência de coronariopatia. A imagem demonstra os fatores mecânicos que afetam o fluxo sanguíneo coronariano. A“janela” para o fluxo coronariano pode ser diminuída por: (1) encurtamento da diástole, quando aumenta a frequência cardíaca; (2) aumento da pressão diastólica final ventricular; e (3) redução da pressão arterial diastólica. O controle vascular por metabólitos é o mecanismo mais importante pelo qual o fluxo coronariano é regulado. Uma redução da pressão parcial de oxigênio (Po2 ) causa acentuada vasodilatação dos vasos coronarianos, mas tem pouco efeito sobre tiras isoladas de artéria coronária. Isto sugere que seja uma alteração nos metabólitos produzidos pelas células miocárdicas, e não a alteração da Po2 em si, que controla o estado dos vasos coronarianos, sendo a adenosina uma candidata popular a metabólito dilatador. Ou seja, a redução da Po2 promove a vasodilatação das coronárias via produção de metabólitos. Controle neural e humoral: os vasos coronarianos dispõem de uma densa inervação simpática, mas os nervos simpáticos (como as catecolaminas circulantes) exercem apenas um pequeno efeito direto sobre a circulação coronariana. Os grandes vasos coronarianos possuem receptores α-adrenérgicos que medeiam a vasoconstrição, enquanto os vasos menores têm receptores β2-adrenérgicos que têm efeito dilatador. Os vasos coronarianos também são inervados por nervos purinérgicos, peptidérgicos e nitrérgicos, e a inibição seletiva de NOS1 reduz em cerca de um terço o fluxo sanguíneo coronariano basal em pacientes com artérias coronárias angiograficamente normais. As respostas coronárias vasculares à atividade mecânica e metabólica durante o exercício ou eventos patológicos sobrepujam os efeitos endócrinos e neurais. O controle autônomo do coração influencia cada um dos aspectos da função cardíaca, ou seja, a frequência, o ritmo, a contração, o metabolismo e o fluxo sanguíneo do miocárdio. Os principais efeitos de atividade simpática sobre o coração são: - aumento da força de contração (efeito inotrópico positivo) - aumento da frequência cardíaca (efeito cronotrópico positivo); - aumento do automatismo; - repolarização e restauração da função após despolarização cardíaca generalizada; - redução da eficiência cardíaca (ex: o consumo de oxigênio aumenta mais que o trabalho cardíaco); - hipertrofia cardíaca (que parece ser mediada diretamente pela estimulação dos receptores adrenérgicos α e β do miocárdio, e não por alterações hemodinâmicas). Todos esses efeitos estão relacionados a ativação de β1, que promove a fosforilação dos canais de cálcio, aumentando sua probabilidade de abrir. A imagem mostra o transiente de cálcio em músculo cardíaco de rã. Nela, um grupo de células recebeu a injeção de um indicador fosforescente de cálcio, a equorina, que permite que a concentração de cálcio seja monitorada opticamente. A isoprenalina causa grande aumento na tensão e da concentração de cálcio transitória causado por um estímulo elétrico. A atividade parassimpática produz efeitos que são, em geral, opostos aos da ativação simpática. No entanto, contrastando com a atividade simpática, a divisão parassimpática do sistema nervoso tem pouco efeito sobre a contratilidade; seus efeitos principais são sobre a frequência e o ritmo, ou seja: - diminuição da frequência cardíaca e redução do automatismo; - inibição da condução AV. Esses efeitos resultam da ocupação de receptores muscarínicos (M2) da acetilcolina, inibindo a abertura de canais de cálcio do tipo L e abrindo canais de potássio, causando a hiperpolarização. Resumindo, a estimulação simpática prolonga o potencial de ação, enquanto a estimulação parassimpática o encurta. Nesta imagem vemos os efeitos da estimulação simpática e da norepinefrina. Já nessa, vemos os efeitos da estimulação parassimpática e da acetilcolina. Os principais efeitos dos peptídeos natriuréticos são: - aumento da eliminação de Na + e água pelo rim; - relaxamento da musculatura lisa vascular (exceto arteríolas eferentes dos glomérulos renais; ver adiante); - aumento da permeabilidade vascular; - inibir a liberação e/ou ações de vários hormônios vasoconstritores ou de retenção de sal e mediadores, incluindo aldosterona, angiotensina II, endotelina e hormônio antidiurético. Esses peptídeos exercem seus efeitos por combinação com receptores de membrana (receptores de peptídeo natriurético, NPRs, que existem em pelo menos dois subtipos, designados A e B). Sendo que, tanto o receptor NPR-A como o NPR-B incorporam um centro guanilil ciclase catalítico que, quando ativado, aumenta o GMPc intracelular. Cardiopatia isquêmica Consequências importantes da aterosclerose coronariana incluem: - angina (precordialgia causada por isquemia cardíaca); - infarto do miocárdio. A angina ocorre quando a oferta de oxigênio ao miocárdio é insuficiente para suas necessidades. A dor tem distribuição característica no peito, membro superior e pescoço, e é ocasionada por esforço físico, frio ou agitação. Clinicamente é dividida em estável, instável e variante. A angina estável é uma precordialgia previsível pelo esforço físico. É produzida por um aumento da demanda sobre o coração e, geralmente, é causada por um estreitamento fixo dos vasos coronarianos por ateroma. A terapia sintomática é direcionada para alterar o trabalho cardíaco usando nitratos orgânicos, β-bloqueadores ou antagonistas do cálcio, juntamente com o tratamento da doença ateromatosa subjacente, geralmente incluindo uma estatina (redução dos níveis de LDL) e profilaxia contra trombose com um antiagregante plaquetário, geralmente a aspirina. A angina instável, por sua vez, se caracteriza por dor que ocorre cada vez menos, por esforço físico, culminando em dor em repouso. O tratamento é o mesmo usado para infarto do miocárdio. Os fármacos anticoagulantes (aspirina e/ou um antagonista ADP como clopidogrel ou prasugrel) reduzem o risco de infarto do miocárdio nesta situação, e os fármacos antitrombóticos fazem um acréscimo a este benefício à custa de maior risco de hemorragia, e os nitratos orgânicos aliviam a dor isquêmica. Por fim, a angina variante é relativamente incomum, porém é mais grave; ocorre em repouso e é causada por espasmo coronariano, frequentemente associada à doença ateromatosa. A terapia é com vasodilatadores coronarianos (ex: nitratos orgânicos, antagonistas do cálcio). O infarto do miocárdio ocorre quando uma artéria coronária é bloqueada por um trombo. O evento pode ser fatal e é causa comum de morte, geralmente em decorrência de insuficiência mecânica do ventrículo ou por arritmia. Se a oferta de oxigênio continuar abaixo de um valor crítico, sobrevém uma sequência de eventos que levam à morte celular, detectada clinicamente pela elevação da troponina circulante (marcador padrão-ouro da lesão do miocárdio). A imagem a seguir mostra as sequências que levam da oclusão vascular à morte celular através da necrose ou apoptose. A apoptose pode ser um processo adaptativo em regiões hipoperfundidas, sacrificando alguns miócitos prejudicados, mas evitando, assim, o distúrbio da função de membrana e o risco de arritmia inerente à necrose. Em consequência, atualmente é incerto o benefício clínico de promover ou inibir esta via com fármacos. Clinicamente, para ser considerado infarto o indivíduo precisa apresentar pelo menos 2 dos seguintes sintomas: - alteração dos marcadores bioquímicos troponina e CKMB; - alteração do eletrocardiograma; - dor precordial, ou seja, o desconforto toráxico. Os fármacos com ação importante sobre o coraçãopodem ser divididos em três grupos: - fármacos que afetam diretamente as células do miocárdio. a. neurotransmissores autônomos e fármacos relacionados; b. antiarrítmicos; c. glicosídeos cardíacos e outros fármacos inotrópicos; d. fármacos e hormônios variados (ex: doxorrubicina, tiroxina, glucagon). - fármacos que afetam indiretamente a função cardíaca. Estes têm ações em outras partes do sistema vascular. Alguns antianginosos, como os nitratos, caem nesta categoria, assim como muitos fármacos usados no tratamento da insuficiência cardíaca, como diuréticos e IECAs. - antagonistas do cálcio. Estes afetam a função cardíaca por ação direta sobre as células do miocárdio e, também, indiretamente, por relaxamento da musculatura lisa vascular. Antiarrítmicos São classificados de acordo com seus efeitos eletrofisiológicos em: - classe I, que são os fármacos que bloqueiam canais de sódio sensíveis à voltagem. Esses são subdivididos em: Ia, Ib e Ic; - classe II que são antagonistas dos receptores β-adrenérgicos; - classe III, que são os fármacos que prolongam, substancialmente, o potencial de ação cardíaco; - classe IV, que são os antagonistas do cálcio. Os fármacos de classe I, bloqueiam os canais de sódio ligando-se a pontos na subunidade α, isso inibe a propagação do potencial de ação em muitas células excitáveis. O efeito característico sobre o potencial de ação é reduzir a velocidade máxima de despolarização durante a fase 0. O conceito central é de bloqueio de canais uso-dependentes, é isso que possibilita que todos os fármacos da classe I bloqueiem a estimulação de alta frequência do miocárdio que ocorre nas taquiarritmias, sem impedir que o coração bata em frequências normais. Os canais de sódio existem em três estados funcionais distintos: repouso, aberto e inativado. Os fármacos do tipo Ia, se ligam mais fortemente aos canais abertos ou refratários e bloqueiam os canais de sódio por dissociação intermediária (exemplo: disopiramida, procainamida e quinidina). Possuem um efeito atropínico que pode causar visão embaçada, boca seca, constipação e retenção urinária. Os do tipo Ib, se ligam a canais abertos durante a fase 0, esses canais ficam bloqueados no momento em que o potencial chega no pico, por isso, um batimento prematuro será abortado pois os canais ainda estão bloqueados. Eles fazem o bloqueio por dissociação rápida (exemplo: lidocaína). Seus efeitos adversos são causados, principalmente, por suas ações sobre o sistema nervoso central e incluem sonolência, desorientação e convulsões. Por fim, os do tipo Ic, inibem o sistema His Purkinje e usam a dissociação lenta para realizar o bloqueio (exemplo: flecainida e encainida). Os fármacos de classe II, compreendem os antagonistas dos receptores β-adrenérgicos. A epinefrina pode causar arritmias por seus efeitos sobre o potencial de marca-passo e sobre a corrente lenta de entrada de cálcio. As arritmias ventriculares após infarto do miocárdio são decorrentes, em parte, do aumento da atividade simpática, fornecendo uma fundamentação para usar β-bloqueadores nessa situação. A condução AV depende, criticamente, da atividade simpática; os β-bloqueadores aumentam o período refratário do nó AV e podem, portanto, impedir crises recorrentes de taquicardia supraventricular (TSV). Os β-bloqueadores também são usados para prevenir crises paroxísticas de fibrilação atrial quando estas ocorrem em situação de ativação simpática. O propranolol e o metoprolol são exemplos de fármacos de classe II. Os efeitos adversos dessa classe incluem a piora de broncoespasmo nos pacientes com asma, um efeito inotrópico negativo, bradicardia e fadiga. Já os fármacos de classe III se baseavam no comportamento incomum de um único fármaco, a amiodarona, embora outros, com propriedades semelhantes, como o sotalol, já tenham sido descritos. Tanto a amiodarona como o sotalol têm mais de um mecanismo de ação antiarrítmica. A característica especial que os define como fármacos da classe III é que prolongam o potencial de ação cardíaco. O mecanismo deste efeito envolve o bloqueio de alguns dos canais de potássio envolvidos na repolarização cardíaca, incluindo o retificador de saída. O prolongamento do potencial de ação aumenta o período refratário, sendo responsável por atividade antiarrítmica potente e variada, por exemplo, interrompendo taquicardias reentrantes e suprimindo atividade ectópica. No entanto, os fármacos que prolongam o potencial de ação cardíaco podem ter também efeitos pró-arrítmicos, notadamente uma forma polimórfica de taquicardia ventricular chamada torsade de pointes. O mecanismo da arritmia não foi ainda completamente elucidado; as possibilidades incluem aumento da dispersão da repolarização (p. ex., falta de homogeneidade espacial) e aumento da entrada de cálcio durante o potencial de ação prolongado, levando a aumento da pós-despolarização. A amiodarona pode causar taquicardia associada à síndrome de Wolff-Parkinson-White, além de ter efeito em muitas outras taquiarritmias supraventriculares e ventriculares, mas apresenta graves efeitos adversos, como rashes cutâneos fotossensíveis e anormalidades da tireóide. Os fármacos classe IV atuam bloqueando canais de cálcio sensíveis à voltagem, especificamente, os canais do tipo L. Eles tornam mais lenta a condução nos nós AS e AV, onde a propagação do potencial de ação depende da corrente de entrada lenta de cálcio, tornando mais lento o coração e extinguindo a TSV por meio de bloqueio AV parcial. Abreviam o platô do potencial de ação e reduzem a força de contração. A redução da entrada de cálcio reduz a pós-despolarização e, deste modo, suprime os batimentos ectópicos prematuros. São expressas classes funcionalmente distintas de canais de cálcio controlados por voltagem do tipo L no coração e na musculatura lisa vascular, e os bloqueadores dos canais de cálcio do tipo L, que atuam principalmente na musculatura lisa vascular (exemplo: nifedipino), aumentam indiretamente o tônus simpático através de seu efeito hipotensivo, causando o reflexo da taquicardia. O verapamil e diltiazem são exemplos de fármacos de classe IV, eles são administrado por via oral disponível em liberação lenta. Nesta imagem podemos ver as fases do potencial de ação em que cada uma dessas classes de fármaco tem seu principal efeito. A adenosina é produzida endogenamente e é um importante mediador químico. O receptor A1 é responsável por seu efeito no nó AV, pois, esses receptores estão ligados ao mesmo canal de potássio cardíaco ativado pela acetilcolina, e a adenosina hiperpolariza o tecido de condução cardíaco e, consequentemente, torna mais lenta a velocidade de elevação do potencial de marcapasso. Ela é administrada por via intravenosa para extinguir taquicardias supraventriculares (TSV), porém, apresentam efeitos adversos de curta duração que incluem precordialgia, falta de ar, tonturas e náuseas. Glicosídeos cardíacos Terapeuticamente, o glicosídeo cardíaco mais importante é a digoxina. Suas principais ações são sobre o coração, mas alguns dos seus efeitos adversos são extracardíacos, incluindo náuseas, vômitos, diarreia e confusão. Os efeitos cardíacos são: - redução da frequência cardíaca e da velocidade de condução nó AV, devido à atividade vagal aumentada; - aumento da força de contração; - distúrbios de ritmo, notadamente: – bloqueio da condução AV – aumento da atividade marcapasso ectópica. Uma das principais desvantagens de seu uso é a estreita margem entre eficácia e toxicidade. O mecanismo pelo qual eles aumentam a força de contração, ou seja, têm efeito inotrópico positivo, é a inibição da bomba sódio/potássio nos miócitos cardíacos. O mecanismo molecular que fundamenta o aumento do tônus vagal, ou efeito cronotrópico negativo, é desconhecido, porém também pode ser devido à inibição da bomba Na+/K+. Antianginosos A angina é tratada pelo uso de fármacos que melhoram a perfusão do miocárdio ou reduzem sua demanda metabólica, ou ambos. Dois dos principais grupos de fármacos, os nitratos orgânicose os antagonistas do cálcio, são vasodilatadores e produzem os dois efeitos. Já os β-bloqueadores, atuam reduzindo a frequência cardíaca e, consequentemente, reduzem a demanda metabólica. Os nitratos orgânicos relaxam os músculos lisos, principalmente, os vasculares, com isso, ocorre a diminuição da pressão venosa central, ou seja, a redução da pré-carga. Além disso, há um efeito acentuado sobre artérias musculares maiores, o que reduz a reflexão da onda de pulso dos ramos arteriais e, consequentemente, reduz a pressão central aórtica e a pós-carga cardíaca. O consumo de oxigênio pelo miocárdio se reduz em razão da redução da pré e pós-carga cardíacas. Eles são absorvidos pela mucosa sublingual e seu efeito dura 30 minutos. Após abrir o frasco de remédio, a validade é muito curta pois ele é extremamente volátil. Resumindo, a ação antianginosa dos nitratos envolve: - redução do trabalho cardíaco, pela redução da pré-carga (venodilatação) e da pós-carga (redução da onda reflexa arterial), levando à redução da necessidade de oxigênio pelo miocárdio; - redistribuição do fluxo coronariano em direção a áreas isquêmicas através de colaterais; - alívio do espasmo coronariano. Os antagonistas do cálcio são os fármacos que bloqueiam a entrada celular de cálcio através dos canais de cálcio, e não suas ações intracelulares. Alguns deles atuam sobre os canais do tipo L. Os antagonistas do cálcio do tipo L compreendem três classes quimicamente distintas: - fenilalquilaminas (ex: verapamil); - di-hidropiridinas (ex: nifedipino e anlodipino); - benzotiazepinas (ex: diltiazem). Esses fármacos se ligam à subunidade α1 do canal de cálcio do tipo L, mas em pontos distintos. Eles interagem alostericamente entre si e com a maquinaria de controle de passagem do canal, impedindo sua abertura e reduzindo a entrada de cálcio. Afetam, principalmente, o coração e a musculatura lisa, inibindo a entrada de cálcio causada por despolarização nesses tecidos. O efeito vasodilatador ocorre, principalmente, em vasos de resistência, reduzindo a pós-carga. Os antagonistas do cálcio dilatam os vasos coronários, o que é importante na angina variante. Causam o bloqueio AV, compensada pelo SNS (ex: taquicardia com nifedipino), além disso, possuem efeito inotrópico negativo por inibição do cálcio durante o platô. Eles são bem absorvidos por via oral e seus efeitos adversos incluem cefaléia e rubor, edema do tornozelo. Os β-bloqueadores são importantes na profilaxia da angina estável e no tratamento de pacientes com angina instável. Funcionam reduzindo o consumo cardíaco de oxigênio. Também reduzem o risco de morte após infarto do miocárdio, provavelmente através da sua ação antiarrítmica. Quaisquer efeitos sobre o diâmetro dos vasos coronários são de importância menor, embora esses fármacos sejam evitados na angina variante em razão do risco teórico de que aumentem o espasmo coronariano.
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