Prévia do material em texto
1 APRENDIZAGEM – UM RETROCESSO DOS MENOS FAVORECIDOS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19 Eloisa Consuelo Suzin / RA 1814410: Professor Orientador: Dr. Wilson da Silva. RESUMO O propósito deste artigo é refletir sobre a aprendizagem em tempos de pandemia, quais as perdas ou ganhos que estão influenciando a educação de crianças do ensino fundamental neste momento. Refletir sobre como a proposta encontrada para a continuidade das aulas neste momento possa ter influenciado em retrocesso ou avanço da educação para os objetivos escolares propostos pela BNCC e que devem ser alcançados pela escola. Como metodologia foi feita revisão bibliográfica será feita identificando os pensamentos dos autores como Piaget e Vygotsky, na tentativa de explicar a importância das relações sociais para que a aprendizagem possa acontecer e quanto este momento tem sido prejudicial para a educação, principalmente dos alunos menos favorecidos que não possuem condições de terem à disposição as ferramentas virtuais necessárias. Como conclusão, tem-se que todos, à sua maneira estão fazendo o que se está ao alcance para encarar a realidade imposta de quarentena e isolamento social, mas isso não está sendo suficiente para conter os retrocessos que já estão sendo mensurados através de várias pesquisas. A indicação que se faz, portanto, é a de uma garantia de políticas públicas futuras que garantam o nivelamento desta geração de alunos em um futuro próximo. Palavras-chave: Aprendizagem. Retrocesso escolar. Pandemia. INTRODUÇÃO O momento histórico atual do ano de 2020/21 tem sido ímpar pois uma pandemia que ataca o sistema imunológico e respiratório, conhecido por Covid -19, já amplamente estudada e divulgada através de vários artigos, tem feito com que milhões de pessoas ao redor do mundo estejam perdendo a vida. Como uma doença nova e desconhecida dos médicos e cientistas, ainda não existem remédios para a cura, mesmo que muitos estejam se utilizando dos já existentes para encontrar um caminho preventivo para diminuir os efeitos da doença e evitar a morte. A produção de vacinas eficazes tem seguido lenta para alcançar a população mundial, visto que estas estão sendo produzidas e aplicadas de forma emergencial. Com isso, todas as atividades sejam elas escolares, de trabalho ou lazer foram suspensas por bom tempo, retornando apenas aquelas que conseguiram se adaptar ao sistema virtual, com o uso da tecnologia e ferramentas disponíveis em um primeiro momento, e em seguida de forma presencial ou hibrida com a observação aos protocolos sanitários adotados. 2 O foco deste trabalho se dará por compreender quais as perdas ou ganhos que estão influenciando a educação de crianças do ensino fundamental neste momento, com um olhar mais atento não apenas às que possuem tal tecnologia a disposição, mas aquelas que não a possuem ou as que não tem acesso por tempo suficiente para acompanhar o ensino. A questão abordada não será a falta de empenho de instituições escolares, sejam elas municipais, estaduais ou federais, públicas ou privadas, nem sobre o trabalho dos profissionais de educação que acompanham estas crianças em seu desenvolvimento, muito menos sobre as políticas sociais, mas o desenvolvimento do aluno propriamente dito neste novo formato de aulas virtuais neste momento específico. O retorno à escola em ambiente presencial ainda será demorado e a preocupação com o aprendizado deve ser mensurado e verificado pois, ao contrario do que muitos pensam, mesmo os que tem todos os aparatos tecnológicos tem tido perdas em seu desenvolvimento. Deve-se levar em consideração o emocional, a troca entre aprendentes para que exista a aprendizagem então vem a pergunta: como está se dando esta aprendizagem neste momento? Estar na frente do computador ou entregar tarefas em papel não é certeza de interiorização do aprender. A metodologia utilizada é a de revisão bibliográfica dos mais diversos autores e pesquisadores, bem como artigos e notícias de jornais, revistas e meios virtuais deste momento atípico, trazendo dados de pesquisas atuais. O CENÁRIO ATUAL PREOCUPANTE EM MEIO A PANDEMIA. A REALIDADE DAS FAMÍLIAS. As escolas estão funcionando de forma virtual, não que esta seja a escolha da sociedade, mas porque a necessidade assim exige. Vejamos o que nos traz Patrícia Behar em seu artigo: “O Ensino Remoto Emergencial e a Educação a Distância não podem ser compreendidos como sinônimos, por isso é muito importante, no contexto que estamos vivendo, clarificar esses conceitos. O termo “remoto” significa distante no espaço e se refere a um distanciamento geográfico. O ensino é considerado remoto porque os professores e alunos estão impedidos por decreto de frequentarem instituições educacionais para evitar a disseminação do vírus. É emergencial porquê do dia para noite o planejamento pedagógico para o ano letivo de 2020 teve que ser engavetado” (Behar, 2020) 3 Durante este período de pandemia, através de vários relatos, aos quais nos apoiamos para este artigo, principalmente de sites de notícias, vários tem sido os motivos elencados na tentativa de explicar o porquê o aprendizado tem sido ou não deficiente. Algumas possíveis explicações para refletirmos são: • Falta de ferramentas para acessar as aulas remotas (celular, computador, internet) • Vínculo com o professor “As barreiras com o ensino remoto podem reduzir o vínculo de crianças e adolescentes com a escola e ser um fator para o abandono dos estudos, segundo especialistas. O número total de 5,1 milhões sem acesso à escola é próximo ao que Brasil registrava 20 anos atrás, em 2000.” (Marques, 2021) • a falta de condições, sejam elas quais forem, da família conseguir auxiliar sua criança nas tarefas escolares, tirando-lhes as dúvidas e, muitas vezes explicando novamente o que o professor explicou, mas não ficou claro. • aluno que já normalmente tinha uma dificuldade de aprendizagem onde, na escola utilizava a sala de recursos e piorou com a pandemia. • Falta de disciplina nas tarefas e rotinas feitas em ambiente de estudo EAD • As trocas de conhecimento com os colegas durante o período de aula são importantes para a aprendizagem, o que nem todos tem acesso aos moldes do Meeting onde os colegas estão online ao mesmo tempo. • Falta de maturidade do aluno; • Falta de estimulo diante do estresse do momento. Enumo, citando Lazarus & Folkman, 1984 nos traz a luz sobre o conceito da psicologia importante para compreensão do conceito “A literatura define como situações estressoras aquelas com as quais o indivíduo se vê com dificuldades para lidar, por estarem além de sua capacidade de enfrentamento, ou aquelas nas quais ele se avalia como impossibilitado de lidar com os conflitos internos gerados por esse evento” (Enumo, 2020) Completa ainda que “a saúde mental não é apenas a ausência dos transtornos mentais, mas inclui características positivas como o bem-estar e as estratégias adaptativas de manejo do estresse” 4 Como exemplo, o site de notícias G1 Educação nos traz o seguinte relato: “Lorenzo Marques, 10 anos, não consegue se concentrar nas aulas remotas. Muda de tela no celular, faz um exercício e já esquece, fica impaciente. Até o vocabulário mudou, depois de tanto tempo vendo vídeos na internet, segundo a mãe. Ele passou do 4º para o 5º ano durante a pandemia. Ao final de 2021, vai terminar o primeiro ciclo do ensino fundamental na Escola Estadual Brasílio Machado e avançar para aulas com matérias mais complexas, que exigem maior capacidade de interpretação e pensamento abstrato. Mas a mãe Vivian Monteiro, de 39 anos, diz que ele está estagnado. "Aprender eu acho que ele não aprendeu. Ele pega a lição, faz na hora, vira a página e depois esquece", afirma.” (Oliveira, 2021) Outro aluno, também de 10 anos nesta mesma reportagem de Oliveira (2021) contaque divide o único celular com mais dois irmãos, e que a professora faz vídeo chamada de uma hora, duas vezes por semana. A mãe percebe que o filho regrediu em seu aprendizado. Assim como o citado acima, muitos são os casos iguais em todo o Brasil e porque não dizer no mundo. AS PESQUISAS JÁ PUBLICADAS O mesmo site G1 já citado anteriormente nos traz relatos estudos que estão sendo feitos sore o tema “Uma pesquisa divulgada nesta semana afirma que os estudantes estão com déficit de aprendizagem. A avaliação foi feita com 20,7 mil alunos do 5° e 9º anos do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio, todos da rede pública estadual de SP. O maior prejuízo está nos alunos mais novos, do 5º ano. Comparado a exames de proficiência (que mede os conhecimentos em escala) feitos em 2019, é como se estes estudantes não só deixassem de avançar ao longo de 2020, mas também regredissem em relação a índices anteriores. O resultado acende um alerta para a educação e os impactos na aprendizagem.” (Oliveira, 2021) Dificuldades existem em todo o território nacional, mas algumas regiões são mais afetadas, basicamente pela falta de estrutura social e econômica. “Os dados do estudo, compilados a partir de pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que as crianças entre 6 e 10 anos em áreas rurais das regiões Norte e Nordeste são mais atingidas pela exclusão escolar na pandemia. A ausência da escola também é maior entre crianças indígenas, pretas e pardas” (Marques, 2021) https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/04/27/sp-estima-de-1-a-11-anos-o-tempo-para-recuperar-aprendizagem-de-lingua-portuguesa-e-matematica-perdida-por-alunos-na-pandemia.ghtml 5 Sobre este assunto a pesquisa da UNICEF também nos traz um fator preocupante em relação ao aprendizado ou a falta dele: “A pandemia tem atingido crianças e adolescentes desproporcionalmente, sobretudo, aqueles que vivem nas famílias mais pobres. A queda da renda familiar, a insegurança alimentar e, praticamente, um ano de afastamento das salas de aulas terão impactos duradouros na vida de meninas e meninos”, diz Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil.” (UNICEF alerta: situação de crianças e adolescentes se agravou consideravelmente após nove meses de pandemia, 2020) Na abertura do curso de Formação Continuada Territorial a Distância, a Secretaria da Educação do Estado da Bahia, por meio do Instituto Anísio Teixeira, realiza uma transmissão ao vivo da palestra do educador António Nóvoa, (2020) ao qual comenta sobre uma grave questão, consequência deste momento onde 90% das escolas do mundo estiveram fechadas, exigindo que o professor se reinvente de forma a estar próximo aos alunos, das necessárias adaptações nos métodos para ensinar. Quando se interrompe o percurso escolar de um aluno, quando deixa de se assegurar essa continuidade educativa ou pedagógica, sobretudo para os alunos mais frágeis, isso pode significar que eles nunca mais possam voltar para a escola, exemplo disso é na África quando na epidemia de ebola. Na sequência foi verificado que as crianças das regiões mais pobres não voltaram para a escola, aumentando ainda mais as desigualdades dos que dependem unicamente da escola para a aprendizagem. A preocupação deste artigo está não somente nas classes mais abastadas que tem condições de terem aulas remotas, apoio da família, auxilio de professores particulares, estrutura de internet e acesso as varias ferramentas para que seu aprendizado, e mesmo assim tem apresentado defasagem no aprendizado, mas aos que tem seu domicilio em regiões mais pobres do país. A lei maior do país, a nossa constituição cidadã de 1988, em seu artigo 205 diz que: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” Constituição da República Federativa do Brasil, 1988 (1988). Da mesma forma, a Lei 9394/96 em seu artigo 4º e parágrafo 1º. Diz: “O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - 6 educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade. “ (LEI Nº 9.394, 1996) Mas através destas evidências aos quais nos deparamos diariamente nos jornais, revistas, pesquisas de várias instituições educacionais não podemos dizer que a educação, neste momento esteja sendo um direito de todos e muito menos acessível, assim como nos traz Ribeiro, G. & Lima, K: (2020) “Contudo, não podemos dizer que se trata de uma Educação acessível, uma vez que é complicado chegar a todos os que desejam possuir uma formação e uma grande parte desse público não possui acesso e/ou familiaridade com o mundo digital. Podemos até considerar que esta “Educação acessível” representa um “mundo paralelo” para aqueles que ficam de fora. Tais dificuldades são vistas durante a pandemia, havendo alunos de todas as idades que são prejudicados por não possuírem acesso a um smartphone e à internet de banda larga.” (Ribeiro, G., & Lima, K., 2020) A pandemia nos trouxe perdas em todas as áreas, sejam de entes queridos que perderam suas vidas com a doença, sejam econômicos com a perda de empregos e fechamento de empresas, seja pela falta de alimentação decorrente desta, além das dificuldades em se adaptar ao novo modelo emergencial de educação, assim como vemos no texto abaixo: “Ter suprimentos básicos inadequados (por exemplo, comida, água, roupas ou acomodação) durante a quarentena foi uma fonte de frustração e continuou associado com ansiedade e raiva 4-6 meses após o lançamento. Não conseguir atendimento médico regular e prescrições também parecia ser um problema para alguns participantes” (Samantha K Brooks, 2020) Estas são apenas algumas das dificuldades que geram em todos estresse emocional com aumento ou diminuição do sono e apetite, angustias, sentimentos de solidão, diminuição de interesse das atividades, encontrando-se também sintomas relacionados a saúde mental causados pelo isolamento social necessário. A UNICEF também relata que “O longo tempo de fechamento de escolas e o isolamento social têm impactado fortemente a aprendizagem, a saúde mental e a proteção de crianças e adolescentes”, haja visto aumento considerável de violência doméstica e contra a criança. Já estão sendo feitas pesquisas e estudos por diversas instituições sobre o tema e, todos nos apontam para a mesma realidade. Vejamos o que nos diz o 7 resultado da pesquisa da Universidade de Juiz de Fora, mostrando que o impacto maior está nos alunos mais novos. “Estudo indica que o impacto na aprendizagem causado pela pandemia da Covid-19 é maior entre alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental da rede pública estadual. A avaliação foi aplicada pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF) em estudantes do 5º e o 9º anos do Ensino Fundamental e a 3º série do Ensino Médio, no início do ano letivo 2021, da Secretaria Estadual da Educação (Seduc-SP).” (Estudantes dos anos iniciais tiveram regressão na aprendizagem durante a pandemia, mostra avaliação, 2021) Através deste estudo, surgiu a tabela 1 abaixo, com resultados anteriores e atuais, nos trazendo em números este retrocesso ao qual podemos ver tanto em Língua Portuguesa quanto em Matemática, sendo a margem de erro da pesquisa de 1,2 pontos para mais ou para menos. Etapa Proficiência SAEB 2017 (final do ano letivo) Proficiência SAEB 2019 (final do ano letivo) Proficiência SAEB 2021 (início do ano letivo) Diferença de Proficiência (Amostra 2021 – SAEB 2019) LINGUA PORTUGUESA 5º. EF 225,8 223,4 193,8 -29,6 9º. EF 256,6 261,6 250,4 -11,2 3º. EM 266,0 279,1 268,2 -10,9MATEMÁTICA 5º. EF 238,8 242,6 196,4 -46,3 9º. EF 253,6 261,7 247,9 -13,8 3º. EM 263,2 273,5 255,3 -18,2 Tabela 1 - (Estudantes dos anos iniciais tiveram regressão na aprendizagem durante a pandemia, mostra avaliação, 2021) O quadro acima nos indica que as perdas de conhecimento são verdadeiras e, portanto, as várias notícias trazidas no início deste artigo são válidas, bem como o problema sugerido sobre quais as perdas ou ganhos que estão influenciando a educação de crianças do ensino fundamental neste momento. Podemos verificar que os valores alcançados nas duas disciplinas foram todos abaixo do ano de 2017, havendo retrocesso de mais de 4 anos. Nota-se que a maior dificuldade entre as séries 8 está no 5º ano, sendo o retrocesso mais grave da matemática 46,3 pontos, podendo representar até 10 anos de atraso. A pesquisa publicada no site The Lancet, em fevereiro de 2020, nos traz dados reais e alarmantes quanto a condição psicológica e emocional ao qual pessoas expostas à quarentena e isolamento passam. Esta pesquisa foi feita em 10 países, incluindo pessoas afetadas por outras doenças que não a COVID, além disso foi baseada em 3166 artigos encontrados onde destes, somente 24 foram realmente aproveitados para tal revisão publicada. Vejamos o que se traz em relação as crianças: “Um estudo comparando sintomas de estresse pós-traumático em pais e crianças em quarentena com aqueles que não estavam em quarentena descobriu que os escores médios de estresse pós-traumático eram quatro vezes maiores em crianças que tinham sido colocadas em quarentena do que naqueles que não estavam em quarentena. 28% (27 de 98) dos pais em quarentena neste estudo relataram sintomas suficientes para justificar o diagnóstico de um transtorno de saúde mental relacionado ao trauma, em comparação com 6% (17 de 299) dos pais que não estavam em quarentena. (Samantha K Brooks, 2020) A mesma pesquisa nos traz vários outros sintomas, de modo geral, que afeta a população pesquisada: “Todos os outros estudos quantitativos apenas pesquisaram aqueles que estavam em quarentena e geralmente relataram alta prevalência de sintomas de sofrimento e desordem psicológica. Estudos relataram sintomas psicológicos gerais, perturbação emocional, depressão, stress, baixo humor, irritabilidade, insónia, sintomas de estresse pós-traumático, (avaliado no Impacto da Escala de Eventos de Weiss e Marmar -Revisado), raiva, e exaustão emocional. O baixo humor (660 [73%] de 903) e a irritabilidade (512 [57%] de 903) destacam-se como tendo alta prevalência. Pessoas em quarentena por estarem em contato próximo com aqueles que potencialmente têm SARS relataram várias respostas negativas durante o período de quarentena: mais de 20% (230 de 1057) relataram medo, 18% (187) relataram nervosismo, 18% (186) relataram tristeza e 10% (101) relataram culpa. Poucos relataram sentimentos positivos: 5% (48) relataram sentimentos de felicidade e 4% (43) relataram sentimento de alívio. Estudos qualitativos também identificaram uma série de outras respostas psicológicas à quarentena, como confusão, medo, raiva, dor, dormência e insônia induzida pela ansiedade.” (Samantha K Brooks, 2020) COMO APRENDEMOS – UMA PINCELADA DE PIAGET E VYGOTSKY O conceito de aprendizagem é como esta se dá no intelecto do aprendente, em diferentes níveis e de diversas formas, devendo haver o despertar do interesse para 9 aquilo ao qual se está aprendendo, acontecendo desde o nascimento até a morte seja formal ou informal, de forma cumulativa e individual. Oliveira F.G., 2014 também nos traz uma reflexão sobre Del Prette e Del Prette (2001) quando diz: “A construção de conhecimento em sala de aula depende da competência do professor e do interesse do aluno em aprender, pois apenas falar a matéria na aula é insuficiente; não basta que o aluno memorize os conhecimentos para que os utilize na prática; não adianta criar situação agradável na sala de aula, se o aluno não está interessado em aprender. O professor precisa desenvolver sensibilidade na observação dos seus alunos, capacidade de perceber os progressos reais e potenciais dos mesmos” (Oliveira F. G., 2014) Portanto, minha primeira reflexão se dá em de que forma o professor poderá alcançar seu aluno de forma a identificar seu progresso ou dificuldades se não tem a proximidade que havia em sala de aula, visto que, como já mencionado acima, grande parte dos alunos não conseguem ter acesso a vídeo aulas com o professor presente na plataforma em tempo suficiente para a interação. Oliveira F.G. (2014) nos traz sobre Jean Piaget que “o conhecimento é resultado da interação entre o sujeito e a realidade que o cerca. [...] sustenta que o sujeito adapta-se ao meio, para organizar suas condutas e a realidade exterior.” (pg87) Sua base está em descrever os processos de sucessivas assimilações e acomodações, onde o erro é bem visto para a construção do aprendizado. “Segundo Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo do aluno se dá por meio da interação social, ou seja, de sua interação com outros indivíduos e com o meio”, (Silva, s.d.) ou seja, nas relações sociais que a pessoa estabelece durante a vida, sendo a escola um local privilegiado onde professor e aluno constroem o saber. A vontade, interesse do aprendente, bem como aspectos afetivos e porque não dizer emocionais, fazem a diferença no aprendizado. “Vygotsky menciona, explicitamente que um dos principais defeitos da psicologia tradicional é a separação entre os aspectos intelectuais, de um lado, e os volitivos e afetivos de outro, propondo a consideração da unidade entres esses processos. Coloca que o pensamento tem origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção. Nessa esfera estaria a razão última do pensamento e, assim, uma compreensão completa do pensamento humano só é possível quando se compreende sua base afetivo-volitiva.” (Yves de La Taille, 2019) O autor também nos traz o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, uma vez que cada indivíduo é diferente do outro, com suas habilidades, com suas 10 dificuldades e assim, desenvolvendo a seu modo, a seu tempo, sendo necessário o colega para lhe mostrar outras possibilidades para resolver a mesma questão ou a de lhe apresentar conhecimentos que a ele ainda não lhe pertencia. Este conceito nos revela muito a preocupação deste artigo quando se questiona como o aluno terá esta diversidade de informações e assim ampliar os horizontes de seu conhecimento se não houver a possibilidade de interagir com outros. Nem todos são autodidatas, nem todos tem acesso à internet para, através de programas específicos como youtube ou os mais simples de busca, possam aprender com a interação que se faz necessária através desta ferramenta. VYGOTSKY salienta que as possibilidades que o ambiente proporciona ao indivíduo são fundamentais para que este se constitua como sujeito lúcido e consciente, capaz, por sua vez, de alterar as circunstâncias em que vive. Nesta medida, o acesso a instrumentos físicos ou simbólicos desenvolvidos em gerações precedentes é fundamental. [...] Quando nos referimos a negociação, estamos valorizando as trocas entre os parceiros em sala de aula, pois é nas interações que tanto o conceito científico pode ser mais detalhado pelo professor, pois passa a ser mais discutido em um processo descendente, quanto os conceitos mais cotidianos dos alunos passam a ser enriquecidos e tomam um caminho mais ascendente, pois são ampliados pelo conhecimento científico, elaborado historicamente. (MARTINS, 1997) E, assim, cada aluno com suas particularidades e habilidades se desenvolvem em contato com outros, coisa que não deixará de acontecer sem a integração dos pares, mas não necessariamente no caminho dos objetivos que devem ser alcançados pela escola. CONCLUSÃO Como vimos,as situações aqui apresentadas, embasadas através de pesquisas já anteriormente publicadas, podemos identificar que, segundo Piaget, houve aprendizado neste tempo, visto que o multiletramento foi largamente usado, mas não necessariamente os objetivos BNCC aos quais a escola deve alcançar durante o ano letivo e aos quais são exigidos para os testes de proficiência aplicados para a mensuração de dados. Vygotsky lembra que as relações sociais dentro da escola são importantes pois estas “trocas de conhecimento” entre aprendentes facilitam e auxiliam o processo como um todo. Visto desta maneira, é claro porque os alunos mais pobres tem tido maior perda, pois além de não poderem ir de forma presencial para a escola, as tarefas em papel enviadas pelos professores não são 11 suficientes para que haja esclarecimento do conteúdo a ser trabalhado, faltando também a possibilidade de buscar auxilio pedagógico ou interagir com os colegas através da internet, seja de forma total falta ou de forma reduzida, como é o caso de famílias que tem somente um aparelho smartfone para atender várias pessoas da casa, ou nem internet possuem, dependendo de outras pessoas para o compartilhamento e, em algumas regiões nem possuem, como o caso de muitos de população ribeirinha. Para tanto, voltamos com Ribeiro, G., & Lima, K. (2020) em sua experiência pessoal quando nos relata: Ainda assim, nem todas as crianças tiveram acesso a estas aulas remotas. Para elas, foram disponibilizadas atividades impressas semanalmente na escola, sendo as mesmas atividades disponibilizadas para os alunos que possuíam acesso aos canais digitais. Não foi a melhor opção, pois eles não podiam vivenciar as explicações, nem participar da interação que acontecia no grupo, e, muito menos, adquirir as correções, uma vez que a orientação era para que os materiais ficassem em posse da família até o final da pandemia para evitar a disseminação da doença. No entanto, neste cenário de isolamento social, foi a opção que se mostrou melhor. (RIBEIRO, G., & LIMA, K.2020) Desta forma, com este último relato, podemos confirmar que todos estiveram empenhados em fazer o seu melhor, mas precisaremos encarar a realidade e compreender que esta geração, que ficou o biênio 2020 /21 em casa, de quarentena, ou isolados, abatidos em seu emocional, muitos em depressão, estes, motivos reais e impeditivos de prosseguir, não tendo condições de buscar os elementos essenciais para a aprendizagem, estão tendo um retrocesso em seu desenvolvimento e portanto, na sequência, nos restará buscar auxílio nas políticas sociais governamentais e exigir que os alunos, de alguma forma tenham um olhar mais especial, garantindo a eles o nivelamento. REFERÊNCIAS Behar, P. A. (06 de 07 de 2020). O Ensino Remoto Emergencial e a Educação a Distância. disponível em UFRGS: https://www.ufrgs.br/coronavirus/base/artigo-o- ensino-remoto-emergencial-e-a-educacao-a-distancia/ Acesso em 19 de 04 de 2021 12 Constituição da República Federativa do Brasil, 1988 (1988). Fonte: Planalto: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 10 junho 2021 Edilane Carvalho Teles, A. C. (27 de 12 de 2020). O ensino remoto e os impactos nas aprendizagens. (J. J. Borges, Ed.) ComSertões - Revista de Comunicação e Cultura no Semiárido, v. 9 n. 2, 72-90. disponível em https://www.revistas.uneb.br/index.php/comsertoes/issue/view/pol%C3%ADticas%20 da%20vida%20e%20educa%C3%A7%C3%A3o%20na%20pandemia Acesso em 27 maio 2020 Enumo, S. R. (18 de 05 de 2020). Enfrentando o estresse em tempos de pandemia: proposição de uma Cartilha. Fonte: Scielo: https://www.scielo.br/j/estpsi/a/mwXhYmkmwJ5pgnDJjsJwFjk/?lang=pt Acesso: 27 maio 2020 Estudantes dos anos iniciais tiveram regressão na aprendizagem durante a pandemia, mostra avaliação. (27 de 04 de 2021). Fonte: educação.sp: https://www.educacao.sp.gov.br/estudantes-dos-anos-iniciais-tiveram-regressao-na- aprendizagem-durante-pandemia-mostra-avaliacao/ Acesso em 29 abril 2021 LEI Nº 9.394. (20 de 12 de 1996). Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasil. disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm , Acesso em 21 fev 2021 Marques, J. (29 de 04 de 2021). Brasil pode regredir duas décadas no acesso à escola. disponível em Terra: https://www.terra.com.br/noticias/educacao/brasil-pode- regredir-duas-decadas-no-acesso-a- escola,bf862924c34f23c9169d460586fe412d27jxn3u1.html Acesso em 10 abr 2021 Martins', J. C. (1997). Vygotsky e o Papel das Interações Sociais na Sala de Aula: Reconhecer e Desvendar o Mundo. Série Idéias n. 28, pp. p. 111-122. Fonte: CRE Mario Covas: disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/dea_a.php?t=002 , Acesso: 10 abr 2021 Nóvoa, António. Palestra proferida na abertura da Formação Continuada Territorial a Distância. Salvador (Bahia), abr. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wx-deAxdegE. Acesso em: 20 abr 2021. Oliveira, E. (21 de 05 de 2021). G1 Educação, disponível em Globo: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/05/02/leitura-regrediu-escrita-tambem- maes-e-alunos-falam-do-retrocesso-na-aprendizagem-identificado-em- pesquisa.ghtml , Acesso em 15 maio 2021 Oliveira, F. G. (2014). Psicologia da educaço e da aprendizagem. Indaial: Uniasselvi. Ribeiro, G., & Lima, K. (31 de 12 de 2020). Relatos de experiências de professores do ensino fundamental em tempos de pandemia: dificuldades enfrentadas em escolas públicas no município de João Pessoa. Revista Humanidades Digitais. 13 doi:DOI: 10.21814/H2D.2882, disponível em: https://revistas.uminho.pt/index.php/h2d/article/view/2882/3357 Acesso em 10 junho 2021 Samantha K Brooks, R. K. (20 de 02 de 2020). O impacto psicológico da quarentena e como reduzi-la: revisão rápida das evidências. Londres, Reino Unido. doi:https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30460-8 Silva, A. L. (s.d.). Teoria de Aprendizagem de Vygotsky. Fonte: Info Escola: https://www.infoescola.com/pedagogia/teoria-de-aprendizagem-de-vygotsky/ Acesso em 09 junho 2021 SP estima de 1 a 11 anos o tempo para recuperar aprendizagem de língua portuguesa e matemática perdida por alunos na pandemia. (27 de 04 de 2021) Fonte: educação.sp https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/04/27/sp-estima- de-1-a-11-anos-o-tempo-para-recuperar-aprendizagem-de-lingua-portuguesa-e- matematica-perdida-por-alunos-na-pandemia.ghtml. Acesso em 29 abr 2021 UNICEF alerta: situação de crianças e adolescentes se agravou consideravelmente após nove meses de pandemia. (11 de 12 de 2020). disponível em UNICEF Brasil: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/unicef- alerta-situacao-de-criancas-e-adolescentes-se-agravou-consideravelmente-apos- nove-meses-pandemia Acesso em 29 maio 2021, Yves de La Taille, M. K. (2019). Piaget, Vigotsky, Wallon: [recurso eletronico] teorias psicogênicas em discussão. São Paulo, SP, Brasil: Summus. Fonte: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/177927/epub/0?code=kZsqNi0ei mMmN4BmycE2kcG+lRbVV0mh4ZBoSr9gRQtYxQ603fvxS0N/eOfyvQKJ1gYbkhAhd rSZudtpEoOiyQ== Acesso 29 abr 2021