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DOCÊNCIA EM SAÚDE CLÍNICA CIRÚRGICA EM PEQUENOS ANIMAIS 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842c Clínica cirurgica em pequenos animais / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 283p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-279-4 1. Cirurgia veterinária. 2. Cirurgia – Pequenos animais. I. Portal Educação. II. Título. CDD 636.0897 2 SUMÁRIO 1 MATERIAL CIRÚRGICO ............................................................................................................ 7 1.1 Arrumação da mesa de cirurgia .............................................................................................. 7 1.2 Instrumentos Cirúrgicos .......................................................................................................... 8 1.3 Fios de Sutura .......................................................................................................................... 18 2 AVALIAÇÃO, PREPARAÇÃO E ANESTESIAS ....................................................................... 24 2.1 Avaliação do paciente ............................................................................................................. 24 2.2 Preparação do paciente .......................................................................................................... 25 2.3 Programa para o procedimento anestésico .......................................................................... 26 2.4 Procedimentos antes da anestesia ........................................................................................ 26 2.5 Monitorização do paciente durante a anestesia .................................................................. 27 2.6 Parâmetros monitorizados habitualmente e causas potenciais de respostas anormais ............................................................................................................................................. 28 2.7 Técnicas, Anestésicos em Felinos e Caninos....................................................................... 29 3 INFECÇÕES CIRÚRGICAS ...................................................................................................... 53 3.1 Controle da infecção ............................................................................................................... 53 3.2 Classificação da possibilidade de infecção intraoperatória ................................................ 57 3.3 Fatores da ferida podem influenciar as infecções ................................................................ 57 4 CICATRIZAÇÃO ....................................................................................................................... 59 4.1 Conceitos Gerais ..................................................................................................................... 59 4.2 Fases da Cicatrização ............................................................................................................. 59 4.3 Tipos de cicatrização .............................................................................................................. 60 4.4 Tecido de granulação .............................................................................................................. 61 4.5 Fatores de crescimento importantes na cicatrização .......................................................... 62 3 4.6 Fatores que afetam a cicatrização ......................................................................................... 62 4.7 Fatores que podem ser controlados pelo cirurgião ............................................................. 63 4.8 Conceitos importantes ............................................................................................................ 63 5 ANTIBIOTICOTERAPIA ............................................................................................................ 65 6 CIRURGIAS ESTÉTICAS MUTILANTES EM PEQUENOS ANIMAIS ...................................... 67 6.1 Caudectomia ............................................................................................................................ 67 6.2 Conchectomia .......................................................................................................................... 69 6.3 Otohematoma .......................................................................................................................... 71 6.4 Entrópio .................................................................................................................................... 73 6.5 Ectrópio .................................................................................................................................... 76 7 APARELHO REPRODUTOR FEMININO .................................................................................. 78 7.1 Ovário-histerectomia ............................................................................................................... 78 7.2 Piometra ................................................................................................................................... 85 7.3 Hiperplasia Vaginal.................................................................................................................. 89 7.4 Neoplasias da glândula mamária ........................................................................................... 92 8 APARELHO REPRODUTOR MASCULINO ............................................................................ 102 8.1 Orquiectomia .......................................................................................................................... 102 8.2 Criptorquidismo ..................................................................................................................... 105 8.3 Tratamento Cirúrgico da Prostatopatia ............................................................................... 107 9 SISTEMA URINÁRIO ............................................................................................................... 113 9.1 Cálculos na bexiga ................................................................................................................. 113 9.2 Hidropropulsão retrógrada .................................................................................................... 115 9.3 Cistotomia ............................................................................................................................... 115 9.4 Uretrostomia ........................................................................................................................... 119 9.5 Tratamento da Obstrução Uretral no Gato .......................................................................... 126 10 HÉRNIAS ................................................................................................................................. 132 4 10.1 Considerações gerais ............................................................................................................ 132 10. Hérnia umbilical ......................................................................................................................134 10.3 Hérnia inguinal ........................................................................................................................ 137 10.4 Hérnia diafragmática .............................................................................................................. 142 10.5 Hérnia perineal ........................................................................................................................ 149 11 PATOLOGIAS ORTOPÉDICAS .............................................................................................. 162 11.1 Ostectomia ou ablação da cabeça e colofemoral ................................................................ 162 11.2 Luxação patelar ...................................................................................................................... 162 11.3 Osteocondrite dissecante ...................................................................................................... 172 12 EMERGÊNCIAS OFTÁLMICAS............................................................................................... 176 12.1 Trauma Ocular em Cães e Gatos.......................................................................................... 176 12.2 Enucleação do globo ocular .................................................................................................. 180 13 APARELHO REPRODUTOR FEMININO ................................................................................. 184 13.1 Parto Distócico ....................................................................................................................... 184 13.2 Cesarianas .............................................................................................................................. 193 14 EMERGÊNCIAS GASTROINTESTINAIS ................................................................................ 201 14.1 Vólvulo Gástrico .................................................................................................................... 201 14.2 Corpo estranho Linear .......................................................................................................... 209 15 ESPLENECTOMIA ................................................................................................................... 213 16 TÓRAX ..................................................................................................................................... 217 16.1 Pneumotórax .......................................................................................................................... 217 16.2 Toracocentese ........................................................................................................................ 220 17 PATOLOGIAS ORTOPÉDICAS ............................................................................................... 223 17.1 Fraturas ................................................................................................................................... 223 18 VIDEOCIRURGIA ..................................................................................................................... 237 5 18.1 Definição ................................................................................................................................. 237 18.2 Introdução ............................................................................................................................... 237 18.3 Indicações ............................................................................................................................... 238 19 TRANSPLANTE RENAL .......................................................................................................... 246 19.1 Indicações para transplante renal ........................................................................................ 246 19.2 Candidatos para transplante renal ....................................................................................... 247 19.3 Pré-operatório ......................................................................................................................... 248 19.4 Exames pré-operatórios ......................................................................................................... 249 19.5 Seleção do Doador ................................................................................................................ 250 19.6 Receptor .................................................................................................................................. 251 19.7 Protocolo Anestésico ............................................................................................................. 252 19.8 Técnica cirúrgica .................................................................................................................... 252 19.9 Pós-operatório ....................................................................................................................... 259 20 PRÓTESE TOTAL DE QUADRIL ............................................................................................ 261 20.1 Particularidades ..................................................................................................................... 261 20.2 Vantagens na substituição da articulação coxofemoral ..................................................... 262 20.3 Objetivo ................................................................................................................................... 262 20.4 Cão candidato ........................................................................................................................ 262 20.5 Prótese .................................................................................................................................... 263 20.6 Treinamento da equipe cirúrgica ......................................................................................... 265 20.7 Indicações ............................................................................................................................... 265 20.8 Contraindicação ..................................................................................................................... 266 20.9 Preparação do animal ............................................................................................................ 266 20.10 Pré-operatório ......................................................................................................................... 266 20.11 Anestesia ................................................................................................................................. 267 20.12 Acesso cirúrgico .................................................................................................................... 267 6 20.13 Técnica cirúrgica .................................................................................................................... 269 20.14 Tempo cirúrgico ..................................................................................................................... 272 20.15 Pós-operatório ........................................................................................................................ 272 20.16 Avaliação pós-operatória ....................................................................................................... 273 20.17 Complicações ......................................................................................................................... 273 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 275 ANEXO I ............................................................................................................................................. 2827 1 MATERIAL CIRÚRGICO 1.1 Arrumação da mesa de cirurgia Para arrumação básica de uma mesa cirúrgica devem estar presentes materiais cirúrgicos previamente autoclavados e dispostos de forma sequencial obedecendo à ordem de necessidade para um procedimento cirúrgico, ou seja, dispostos da esquerda para direita e de cima para baixo da seguinte forma: corte, hemostasia, síntese e acessórios, podendo haver algumas modificações nesta disposição. 1- Corte - Lâmina de bisturi, cabo de bisturi, tesouras cirúrgicas de Metzenbaum ponta fina-fina e ponta romba-romba. 2 - Hemostasia - pinças hemostáticas mosquito de Hausted, pinça hemostática de Kelly, pinça crile e pinça hemostática de Ochsner reta. 3 – Síntese – porta agulhas e fio de sutura 4 – Auxiliares – compressas de algodão, cuba para colocação de iodo povidona, pinças Backaus, afastador de Farabeuf e pinças Allis. 8 Fig.1 – Arrumação do material a ser usado na cirurgia. 1.2 Instrumentos Cirúrgicos A seguir será descrito de forma simplificada características dos instrumentos cirúrgicos mais comumente utilizados na clínica médica e cirúrgica de pequenos animais. 1- Cabos e Lâminas de Bisturis Encontram-se disponíveis cabos de bisturis com lâminas destacáveis ou na forma de unidades descartáveis com lâminas acopladas. O cabo nº 3 e 4 de Bard-Parker pode receber várias lâminas. O cuidado é essencial ao se acoplar ou remover as lâminas desses cabos. Com o tempo, a corrosão pode alterar a ranhura que permite que as lâminas deslizem e se acoplem. As lâminas podem grudar e não deslizar facilmente, e os dedos do cirurgião podem ficar profundamente lacerados. Embora a utilização de porta-agulhas possa impedir o escorregamento, as lâminas podem se quebrar se forem forçadas. 9 Fonte: arquivo pessoal. Fig. 2 - A – diferentes tamanhos de cabos de bisturi número; B - modo correto da empunhadura do Bisturi em contato com o tecido no momento de incisá-lo. Tesouras Encontram-se disponíveis muitos tipos, tamanhos e formas diferentes de tesouras cirúrgicas para todas as aplicações. A maioria é classificada pela configuração de suas extremidades. As tesouras devem ser conferidas regularmente para se certificar que estejam funcionando apropriadamente. As tesouras cirúrgicas de Mayo e dissecadoras de Metzenbaum, que não cortam adequadamente nas extremidades de suas lâminas, podem frustrar o uso, bem como traumatizar excessivamente o tecido. As lâminas devem deslizar facilmente, indicando uma tensão apropriada do cabo e lâminas lisas e apropriadamente encaixada. Todas as tesouras cirúrgicas de Mayo e de Metzenbaum devem ser capazes de cortar quatro camadas de gaze na extremidade das lâminas. As tesouras menores com menos de 10 cm de comprimento devem cortar pelo menos duas camadas. A ação deve ser firme, mas não muito frouxa ou muito rigorosa. As extremidades devem se encontrar quando a tesoura estiver fechada. As tesouras devem ser utilizadas para seu propósito pretendido. Se as tesouras dissecadoras (tais como as de Metzenbaum finas) forem utilizadas para cortar suturas fortes (tais como o categute cromado), as lâminas ficarão cegas, frouxas e separadas. As tesouras perderão sua efetividade. Uma tesoura de Mayo reta e forte de 15 cm deve ser destinada como tesoura de corte de sutura em todas as caixas de cirurgia (Fig. 3). A B 10 Fonte: arquivo pessoal. Fig.3 – A -Tesouras de Mayo com diferentes tipos de ponta: à esquerda ponta romba e fina à direita; B- Modo correto de segurar a tesoura. A tesoura dissecadora de Mayo (Fig. 3) encontra-se disponível em comprimentos que variam de 13,75 a 22,5cm, em configurações curvas ou retas. A Mayo é uma tesoura forte, que pode ser utilizada para a dissecção do tecido conjuntivo e dos planos faciais resistentes. A tesoura dissecadora de Metzenbaum (Fig. 4) é mais delicada e deve ser reservada para uma dissecção mais fina e um trabalho mais complicado. Por exemplo, é inapropriado o uso de uma Metzenbaum fina para abrir a linha alba. Fonte: arquivo pessoal. Fig.4. Tesouras de Mayo e Metzembaun. Pinças Hemostáticas A B 11 A danificação de uma pinça de alta qualidade é mais frequentemente o resultado direto de maus-tratos. À medida que a superfície de apreensão da pinça fica sobrecarregada, as suas lâminas se tornam desalinhadas e a tensão nos cabos diminui, impedindo que o instrumento segure o tecido firmemente. A atividade excessiva no pino também causa um desalinhamento das lâminas. O uso contínuo do instrumento acelera a deterioração e leva á quebra. As pinças teciduais e hemostáticas podem ser conferidas quanto ao alinhamento das lâminas, a tensão dos cabos e o uso da catraca. O exame visual do instrumento em uma posição próxima pode revelar uma sobreposição de lâminas ou um não-encaixe nos dentes de apreensão. A pinça hemostática mosquito de Halsted (Fig.5) se encontra disponível nos comprimentos delicado de 8,75cm e padrão de 12,5cm, com lâminas curvas ou retas. O uso primário desses instrumentos é no controle de pontos de hemorragia. Esses instrumentos são muito delicados para a ligação de cotos ou pedículos maiores, nos quais frequentemente se inclui um tecido adicional na ligadura. Se um mosquito estiver em boa condição de trabalho e for utilizada apropriadamente para o propósito correto (somente para pontos de hemorragia), essa força de apreensão extra não deve ser necessária. Fonte: arquivo pessoal Fig. 5. Pinça mosquito curva e reta 12 As pinças hemostáticas de Kelly e Crile (Fig.6) são semelhantes em designer e uso. São mais fortes que as pinças mosquito de Halsted e podem suportar um uso mais agressivo. Os instrumentos possuem 13,75cm de comprimento e apresentam lâminas retas ou curvas. A Kelly apresenta ranhuras transversais na metade distal da sua superfície de apreensão, enquanto que a Crile apresenta ranhuras transversais por toda a superfície de sua lâmina. Fonte: arquivo pessoal Fig.6- Pinça de Kelly Pinças teciduais Encontram-se disponíveis pinças teciduais de vários tamanhos e formas para vários usos. Muitas têm encontrado um uso extenso na cirurgia de pequenos animais. A popular pinça tecidual de Allis apresenta um plano de apreensão perpendicular à direção do esforço. Encontra- se disponível em comprimentos de 15 a 25cm (Fig.7 e 8), e o número de dentes presente na superfície de apreensão do instrumento também varia. Como a pinça tecidual de Allis é forte, ela pode ser traumatizante para o tecido e deve ser aplicada somente em tecido conjuntivo ou planos faciais. Nunca deve ser utilizada na pele ou para segurar órgãos ocos, tais como o estômago. Fig.7 e 8 – Pinça de Allis para tecidos 13 Fig.9 – Pinça de Babcock para uso em tecidos. Fonte: arquivo pessoal. A pinça intestinal de Doyen (Fig.10) é construída com lâminas finas e curvas. As extremidades das lâminas se encontram quando se prende o primeiro dente da catraca, dando ao instrumento uma apreensão delicada e não-traumatizante. As ranhuras na superfície de apreensão são geralmente longitudinais. O instrumento se encontra disponível nos comprimentos de 16,25 a 22,5cm. A Doyen é mais frequentemente utilizada na cirurgia do estômago (gastrectomia distal) e pode ser utilizada em ressecções intestinais. Disponível em: <www.gooogle.com.br>. Acesso em: 12 dez.2006. Fig.10-pinça Doyen Pinças de Polegar 14 As pinças de polegar são assim denominadas por serem geralmente seguras entre o polegar e o primeiro dedo. São usadas para várias tarefas envolvendo trabalho delicado. A pinça tecidual de Adson é provavelmente a mais comum das pinças de polegar utilizadas na cirurgia veterinária. A extremidade em dente-de-rato (l x 2) nalâmina proporciona uma apreensão segura, porém delicada, nos tecidos. Ela é apropriada para o uso na sutura de pele e de planos faciais (Fig.11 e 12). Embora as pinças de polegar não sejam construídas para prender agulhas de sutura, muitos cirurgiões, ao passar uma agulha através de um tecido com um porta-agulhas, prendem a extremidade da agulha com pinças de polegar para puxá-la o resto do trajeto através do tecido. A configuração em dente-de-rato da pinça de Adson não permite uma superfície de apreensão segura e frequentemente leva à danificação do instrumento. Fig.11 Pinça dente de rato. Fig.12-modo correto de segurar a pinça Fonte: arquivo pessoal Pinças de Campo As pinças de campo são projetadas para prender panos à pele. Como as extremidades de uma pinça de campo penetram realmente na pele, elas devem ser afiadas e sem rebarbas ou lascas. As pinças de campo também são usadas para prender tubos de sucção, cabos de eletrocautérios e cabos de equipamentos de força aos panos. 15 As pinças de campo de Backaus (Fig.13) de 8,75cm e de 13.75cm são utilizadas mais frequentemente em cirurgia veterinária. Fonte arquivo pessoal Fig. 13 - Pinças de Campo Backaus. Porta-agulhas Nenhum instrumento cirúrgico recebe maior uso ou maus-tratos que o porta-agulha. É o único instrumento envolvido em contato metal com metal constante. Além de serem utilizados, de forma indevida, para torcer e dobrar pinos ou até para tartarectomia. Para verificar se está precisando de reparo, testar quanto ao desalinhamento ou uso, escolha uma agulha de tamanho apropriado e aperte-a nas lâminas do instrumento. Feche o porta-agulhas no segundo dente da catraca. Caso possa rodar manualmente a agulha, necessita-se de reparo. Um porta-agulhas deve ser capaz de segurar a agulha quando fechado no primeiro dente da catraca. Inspecione também a borda da superfície de apreensão. À medida que é usada, a borda se torna afiada e pode cortar o material de sutura enquanto usado como instrumento para dar nós. O Mayo Hegar (Fig. 14) é o porta-agulha mais comumente utilizado na cirurgia veterinária. Encontra-se disponível em muitos tamanhos, variando de 12,5 a 30cm de comprimento. Os porta-agulhas menores são mais apropriados para a cirurgia de pequenos 16 animais. Deve-se escolher uma agulha de tamanho apropriado para o porta-agulha. Uma agulha muito grande para um porta-agulha delicado pode resultar na quebra ou na danificação do pino ou do cabo se o instrumento estiver firmemente fechado. Os porta-agulhas grandes podem danificar as agulhas pequenas e são frequentemente difíceis de controlar e de manusear quando realizam suturas delicadas. Fig.14- Porta-agulhas de Mayo. Afastadores Encontram-se disponíveis muitos tipos de afastadores de campo ou retratores. Eles funcionam no sentido de afastar os tecidos para que o cirurgião possa visualizar mais adequadamente o campo cirúrgico. A útil classificação dos afastadores utilizada por muitos fabricantes consiste em digitais, manuais e autoajustáveis. Os afastadores digitais e manuais não são vantajosos na cirurgia veterinária, pois se exige um assistente para afastar manualmente o tecido para segurar o afastador. Em muitas salas de operação veterinárias não se encontram disponíveis assistentes cirúrgicos adicionais. Afastadores Digitais O afastador de Farabeuf (Fig. 15) possui lâminas chatas e mais profundas em ambas as extremidades. Eles permitem o afastamento de mais tecido em orifícios mais profundos. 17 Fonte arquivo pessoal. Fig. 15– Afastador de Farabeuf Afastadores Autoajustáveis O cirurgião que opera sozinho ou que realiza um extenso trabalho abdominal ou torácico tem que confiar fortemente em afastadores autoajustáveis. Esses instrumentos cirúrgicos possuem vários mecanismos de trava que mantêm as lâminas e as hastes abertas enquanto estão sendo empregados, eliminando a necessidade de um assistente para segurar o afastador. O afastador de Weitlaner (Fig. 16) se encontra disponível em mais tamanhos (10 a 23,75cm). As pontas múltiplas (2 x 3 ou 3 x 4) na lâmina podem ser pontudas ou cegas. Também se encontra disponível um Weitlaner de lâmina sólida. Ambos os afastadores possuem mecanismos de trava de apreensão para manter as lâminas na posição de afastamento. A cirurgia abdominal requer um afastamento da parede abdominal para uma visualização adequada durante a mesma. O afastamento manual é muito cansativo e o Gelpi e o Weitlaner são inadequados e pesados, mas o afastador abdominal autoajustável de Balfour funciona bem nesse propósito. Encontram-se disponíveis um afastamento-padrão de 17,5cm ou um expandido de 25 cm com lâminas laterais fenestradas ou sólidas e uma lâmina central sólida profunda. O afastador de Gosset (Fig. 17) possui tamanho médio, com um afastamento de 10 a 13,75cm. As lâminas laterais alcançam 3,75 ou 6,25cm de profundidade. O afastador não tem uma lâmina central. 18 A manutenção da exposição da cavidade torácica requer afastadores autoajustáveis fortes para manter as costelas separadas. O afastador de costelas de Finochietto (Fig. 18) é grande e se encontra disponível com um afastamento de 15 a 30cm, com braços retos ou curvos. Fig.16-Afast. Weitlaner Fig.17- Afast. Gosset Fig.18 – Afast.Finochieto Fonte arquivo pessoal. 1.3 Fios de Sutura Os fios podem ser classificados de acordo com o seu comportamento no tecido (absorvível ou não-absorvível), estrutura (monofilamentar ou multifilamentar), ou suas origens (sintético, orgânico ou metálico). Fios monofilamentos são feitos por um único filamento de 19 material. Eles têm menos resistência tecidual que fios multifilamentar e não possuem interstício que podem abrigar bactérias. Cuidado deve ser tomado ao se manipular o fio monofilamentar porque eles marcam ou danificam quando portadores de agulha o que enfraquece possibilitando sua quebra. Fios multifilamentar consistem em muitos trançados de fios que são enroscados ou trançados juntos. Fios multifilamentar são geralmente mais flexíveis que os monofilamentares. Fios de sutura absorvíveis – Sofrem degradação e uma rápida perda na força tênsil dentro de 60 dias, sendo fagocitados ou hidrolisados. Catgut: É feito com submucosa de intestino de ovelha ou serosa do intestino bovino, contendo aproximadamente 90% de colágeno. Este fio é fagocitado e promove uma reação inflamatória marcante. Possui a característica de ser removido rapidamente de locais infectados ou áreas onde está exposto às enzimas digestivas sendo velozmente degradados. Fios não-absorvíveis – São removidos geralmente por hidrólise. O ácido poliglicólico (Dexon) é trançado a partir de filamentos extraídos do ácido glicólico e começa a perder sua força tênsil em 14 dias. A Poliglactina 910 (Vicryl) é multifilamentar, revestido de estearato de cálcio. A Polidioxanona (PDS) e o Poligliconato (Maxon) são monofilamentares e mantém a força tênsil mais tempo que o poliglicólico ou poliglactina 910. O PDS perde apenas 31% da força tênsil em 42 dias, com completa absorção em seis meses (podendo causar calcinose circunscrita). O ácido poliglicólico e a poliglactina 910 são mais rapidamente hidrolisados em ambientes alcalinos, mas relativamente estáveis em locais contaminados. O ácido poliglicólico pode ser rapidamente degradado em urina infectada. A reação tecidual é mínima com este tipo de fio. A infecção ou exposição a enzimas digestivas não influenciam a taxa de absorção de fios absorvíveis sintéticos. Fios Orgânicos – O fio Seda é o mais comumente usado. É multifilamentar. Apresenta- se de fácil manipulação e é muito usado em procedimentos cardiovasculares,entretanto não mantém uma força tênsil após seis meses e por isso é contraindicado para enxertos vasculares. Deve ser evitado em locais contaminados. Fios Sintéticos – São multifilamentar ou monofilamentar. São fortes e induzem uma reação inflamatória mínima. 20 Fios Metálicos – O aço inoxidável é o fio mais comumente usado. É disponível tanto multi como monofilamentar. A reação geralmente é mínima, entretanto o nó provoca reação inflamatória. Podem fragmentar e migrar. É estável em feridas contaminadas. Diferentes tipos de fios de sutura Maior Diâmetro Absorvível Não-absorvível 3 2 1 0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0 11.0 12.0 21 Menor diâmetro Fonte arquivo pessoal. Tabela 1 – demonstração dos tipos e diâmetros dos diferentes fios absorvíveis e não-absorvíveis. Seleção do fio de acordo com tecido Fechamento abdominal – recomenda-se sutura com fio monofilamentar para evitar transporte capilar de bactérias, e fios não-absorvíveis sintéticos, que apresentam uma boa segurança ao nó. Suturas absorvíveis podem ser usadas na pele e subcutâneo, mas na pele devem ser removidos porque a absorção requer contato com fluidos corporais. Músculo e Tendão – Fios absorvíveis ou não podem ser usados, e devem ser colocados paralelamente às fibras. No tendão o fio deve ser forte, não-absorvível e com mínima reação, com agulha fina, comprida e afunilada. Órgãos parenquimatosos e vasos – Fígado, baço ou rim são geralmente suturados com fios monofilamentares absorvíveis. Evitar fios multifilamentar como vicryl e dexon. Fios não-absorvíveis podem ser usados para enxertos vasculares. Órgãos ocos – Recomendam-se fios absorvíveis para prevenir retenção de material estranho na cicatrização da ferida. Adicionalmente fios não-absorvíveis podem formar cálculos quando usados na bexiga urinária ou vesícula biliar. O dexon dissolve rapidamente em urina estéril (seis dias) e urina contaminada (três dias). Feridas contaminadas ou infectadas – Evitam-se suturas em feridas contaminadas. Deve-se evitar fio não-absorvível multifilamentar porque potencializam a infecção e podem fistular. Fios absorvíveis são preferidos, entretanto o catgut deve ser evitado porque sua absorção em tecidos contaminados é imprevisível. Em alguns estudos, o náilon monofilamentar ou o polipropileno promovem menos infecção em tecidos contaminados que fios metálicos. 22 Tamanho da sutura e recomendações de usos gerais na cirurgia de pequenos animais Tecido Tamanho da Sutura Materiais de Sutura Classes Pele 3-0 a 4-0 Não-absorvível monofilamentar Tecido subcutâneo 2-0 a 4-0 Absorvível Fáscia 1 a 3-0 Absorvível sintético (degradação prolongada) ou não- absorvível sintético Músculo 0 a 3-0 Esquelético- absorvível ou não absorvível sintético Cardíaco - não-absorvível sintético Órgão parenquimatoso 2-0 a 4-0 Absorvível Órgão visceral oco 2-0 a 5-0 Absorvível ou não-absorvível monofilamentar Tendão, ligamento 0 a 3-0 Não-absorvível monofilamentar, absorvível sintético (degradação prolongada) Nervo 5-0 a 7-0 Não-absorvível monofilamentar Córnea 8-0 a 10-0 Absorvível sintético, não-absorvível não- metálico Pálpebra 4-0 a 6-0 Absorvível sintético, não- absorvível não-metálico 23 Conjuntiva Palpebral 4-0 a 5-0 Absorvível Ligadura vascular 3-0 a 4-0 Absorvível Reparo vascular 5-0 a 7-0 Não-absorvível monofilamentar Tabela 2 - Modificado de Bojrab, 1996. 24 2 AVALIAÇÃO, PREPARAÇÃO E ANESTESIAS EM CÃES E GATOS 2.1 Avaliação do paciente 1- Identificação do paciente: espécie, raça, idade, sexo e peso. 2- Anamnese: duração e gravidade da enfermidade, sintomas ou enfermidades concomitantes (vômitos, diarreia, hemorragia, epilepsia, insuficiência cardíaca, insuficiência hepática, etc.), nível de atividade, hora da última alimentação, utilização de algum outro fármaco, história anestésica anterior e reações. 3- Exploração física A - Estado corporal geral: obesidade, caquexia, gestação, hidratação, temperatura, tranquilo ou excitado, nervoso ou inquieto. B - Sistema cardiovascular: frequência cardíaca, pressão arterial e qualidade do pulso, tempo de preenchimento capilar (deve ser < 1,5 segundos) e auscultação (ruídos cardíacos). C - Sistema respiratório: frequência e profundidade respiratória, membranas mucosas, auscultação (ruídos respiratórios), obstrução das vias respiratórias superiores e percussão. D - Função hepática: icterícia e coagulopatias. E - Função renal: oligúria, anúria, poliúria e polidipsia. F - Função gastrointestinal: parasitos, distenção, vômitos e diarreia. G - Sistema nervoso e órgãos sensoriais: glaucoma, coma, desmaios e convulsões. 25 H - Função metabólica e endócrina: temperatura, hipo e hipertireoidismo, hipo e hiperadrenocol1icismo, e diabetes. I - Aspecto geral: hidratação, neoplasias (metástase pulmonar), enfisema subcutâneo (fratura de costelas), parasitos (anemias), perda de pelo, queimaduras e traumatismo, massa muscular (% de gordura), debilidade, desequilíbrio hidroeletrolítico, deambulação e fraturas. 4 - Diagnóstico laboratorial Deve ser feito antes de qualquer procedimento cirúrgico. A - avaliação mínima laboratorial: Proteínas plasmáticas; Hematócrito e Hemoglobina. B - outras provas laboratoriais: Gasometria, albumina e hemostasia; Bioquímica sanguínea: creatinina, sais biliares, fosfatase alcalina, glicose, eletrólitos, AST e ALT. Urinálise: densidade, bioquímica (pH, proteínas, corpos cetônicos, bilirrubina e sangue), pesquisa de sedimentos (cilindros, hemácias, leucócitos, bactérias, células epiteliais e cristais). Eletrocardiografia: pacientes com traumatismo e ritmo cardíaco irregular. Radiologia: tórax e abdômen. C - distúrbio de coagulação - hemorragias 2.2 Preparação do paciente 26 A - Restrição de alimentos: os alimentos devem ser retirados algumas horas antes do procedimento anestésico e cirúrgico, de acordo com a espécie. Em animais neonatos, esse período deve ser menor. B - Corrigir ou compensar desordens: como a desidratação ou hipovolemia, anemia, perda de sangue, alterações hidroeletrolíticas e ácido básico, alterações na função cardíaca e/ou respiratória, etc. C - Preparação programada de acordo com o tipo de paciente e de procedimento cirúrgico Animais jovens e velhos são mais sensíveis à anestesia devido à maior dificuldade de metabolização dos fármacos anestésicos. D - outras considerações: necessidade de líquidos durante a anestesia, medicamentos especiais como antiarrítmicos, duração da cirurgia e necessidades do cirurgião. 2.3 Programa para o procedimento anestésico Formulação de um protocolo anestésico relacionado com o tempo de duração da cirurgia, tipo de cirurgia, administração de analgésicos, manutenção da via aérea, cateterização de uma veia, preparação de fármacos e equipe de emergência. 2.4 Procedimentos antes da anestesia 27 Jejum: Cães e gatos - 12 horas de jejum alimentar e 06 horas de jejum hídrico; O jejum é importante para que não ocorra refluxo do conteúdo estomacal e aspiração do mesmo no sistema respiratório, uma vez que o animal sob efeito sedativo e anestésico perde a capacidade de controlar fechamento e abertura de válvulas e esfíncteres. Em cirurgias gastrintestinais devem-se reduzir ainda mais o material digestivo, fazendo-se um jejum alimentar de 24 horas e jejum hídrico de 12 horas. Em cirurgias de cólon, pode-se fazer 02 a 03 enemas durante as 12 horas que antecedem o ato cirúrgico. 2.5 Monitorização do paciente durante a anestesia A fisiologia e a homeostasia do paciente mostram-se alteradas por fármacos utilizados durante a anestesiae pelo processo fisiopatológico da enfermidade, por isso se faz necessário que durante o período de anestesia, o paciente seja monitorado. Monitorizar as funções dos sistemas corporais sensíveis às alterações; Monitorizar mais de um sistema corporal e mais de um parâmetro por sistema corporal; Utilizar técnicas que sejam específicas, exatas e complementares; Comparação das técnicas não-invasivas (indiretas) com as invasivas (diretas). Considerações fisiológicas Sistema nervoso central (SNC) – observar a atividade reflexa para monitorizar o grau de depressão do SNC. 28 Sistema respiratório - frequência respiratória, padrão respiratório, volume corrente, oximetria, etc. Sistema cardiovascular - frequência cardíaca, perfusão capilar e pressão arterial. Sistema musculoesquelético - qualidade dos reflexos, tonicidade, etc. Termorregulação 2.6 Parâmetros monitorizados habitualmente e causas para respostas anormais Frequência cardíaca 1- Taquicardia - dor, hipotensão, hipoxemia, isquemia, reações anafilactoides, anemia, efeitos farmacológicos (tiobarbitúricos, ketamina) e febre. 2- Bradicardia- hipertensão, hipotermia, efeitos farmacológicos (xilazina, narcóticos) Frequência respiratória. 3 - Taquipneia - dor, hipoxemia , hipertermia, efeitos farmacológicos (doxapram) 4 - Apneia - hipotermia, paralisia musculoesquelética, hiperventilação, efeitos farmacológicos (propofol, tiobarbitúricos, ketamina) 5 - Pressão arterial: Hipotensão – hipovolemia, efeitos farmacológicos (tiobarbitúricos, anestesia inalatória), sepsis, choque; Hipertensão - dor, febre, efeitos farmacológicos (ketamina). 6 - Reflexos corneais: Hiperativos, dor, hipotensão, efeitos farmacológicos (ketamina) 29 2.7 Técnicas de Anestésicos em Felinos e Caninos Técnicas anestésicas em Gatos Medicação pré-anestésica (MPA) Em felinos, a MPA normalmente recomendada são as fenotiazinas e, entre elas, a levomepromazina e clorpromazina são as mais comumente usadas, na dose de 0,5 a 1 mg/kg por via intramuscular profunda, ou a acepromazina a 0,2%, na dose de 0,1 mg/kg pela mesma via em felinos, a via intravenosa nem sempre é recomendada, pois considerando sua agressividade, põe em risco a mão do manipulador, além de outros dissabores como fugas. Anestesia barbitúrica Anestesia barbitúrica tem sido usada em gatos, mas o grande inconveniente é o de que, se o animal não for dócil, utilizam-se vias alternativas para a aplicação, tais como intraperitoneal ou intrapleural. Estas vias nem sempre são eficientes, pois pode haver complicações acidentais e resultados inadequados, tais como anestesias insatisfatórias por subdoses. O ideal é que se aplique o pentobarbital sódico, na dose de 30 mg/kg, por via intravenosa, dando-se metade da dose de maneira rápida, a fim de se evitar a fase de excitação ou delírio e complementando-se gradativamente, até desaparecerem os reflexos interdigital, palpebral e laringotraqueal. 30 No gato, os reflexos de deglutição e o laríngeo desaparecem no 2º plano do estágio III, o que leva a basearmo-nos no reflexo interdigital como principal parâmetro indicativo de anestesia. A miose no felino é transversal e, quando ocorre, indica plano profundo 3º plano do estágio III, o que requererá cuidados maiores. Caso de animais que tenham recebido MPA, a dose do barbitúrico deve ser reduzida em 40-50%. Empregando-se a mesma técnica de aplicação anteriormente descrita. Este tipo de anestesia proporcionará um tempo anestésico hábil de até uma hora, enquanto que, o paciente que não recebeu MPA, o tempo será de até duas horas. Caso se requeira uma anestesia de duração ultracurta, poder-se-ão empregar os tiobarbituratos, na concentração de 2,5 e na dose de 25 mg/kg (empregando-se a mesma técnica de aplicação do pentobarbital sódico), ou na dose de 12,5 mg/kg, caso se tenha empregado MPA. Anestesia volátil Sem dúvida alguma, a anestesia volátil representa o que há de mais seguro em termos de anestesia felina. As técnicas empregadas em gatos são várias, entretanto, para facilitar, serão citadas as usadas rotineiramente. Na rotina anestesiológica, a indução é feita com 15 mg/kg IM de quetamina na região glútea e, após 10 a 15 minutos, manutenção por um agente volátil, administrado por meio de circuito fechado ou semifechado com máscara de borracha. As concentrações de anestésicos voláteis em gatos variam conforme o agente indutor aplicado, o estado do animal ou até a MPA aplicada. O reflexo pupilar em gatos é um sinal importante para se saber o plano anestésico, mas este poderá ser mascarado caso se tenha usado atropina na MPA, o que, forçosamente, 31 obrigará a observação de outros reflexos, tais como o interdigital, o palpebral, o corneano e mesmo o tipo de respiração que normalmente, no gato, é costoabdominal. Não convém, em anestesia volátil por qualquer agente, deixar que o animal permaneça sem discreto reflexo palpebral ou laringotraqueal, pois, nessa espécie animal, esses reflexos desaparecem apenas do 2º para o 3º planos do estágio lII de Guedel, daí se justifica a dificuldade da colocação da sonda endotraqueal ou o início da depressão bulbar súbita. As concentrações recomendadas variam de acordo com o tipo de intervenção. Caso se requeira a recuperação rápida em caso de depressão respiratória após a cirurgia, pode aplicar o cloridrato de doxapram, na dose de 0,5 a 1,0 mg/kg por via intravenosa. Anestesia volátil, com respiração controlada (Silveira, 1977) Jejum alimentar de 12 horas; MPA com clorpromazina, na dose de 1 a 2 mg/kg. Associada à atropina, na dose de 0,05 mg/kg, ambos os fármacos da mesma seringa por via intramuscular. Induzir com tiopental a 1,25 a 2,5% por via intravenosa, até a perda do reflexo oculopalpebral. Intubar e adaptar a sonda à respiração controlada, empregando como fluxo diluente o ar ambiente ou, se necessário, enriquecer a mistura com O2, empregando-se como agente anestésico o éter dietílico. Esta técnica é contraindicada em gatos portadores de nefropatias ou cardiopatopatias ou em cirurgias em que se usará bisturi elétrico, sugerindo-se trocar o anestésico por outro, de preferência um halogenado. Vantagem: apresenta recuperação anestésica satisfatória, pouca alteração da frequência respiratória e boa margem de segurança. 32 Anestesia dissociativa e suas associações A grande vantagem da anestesia dissociativa é a de que permite, por meio de injeção intramuscular, conter e prostrar os felinos sem muitos efeitos colaterais. De posse desta contenção, poderão ser usadas associações que facilitem qualquer intervenção cirúrgica. A anestesia dissociativa em felinos apresenta as seguintes vantagens: Estado cataleptoide, que permite manipulações; A via é intramuscular; Analgesia cutânea, muscular e óssea; Permite explorações radiológicas e semiológicas; Funciona como agente indutor para manutenções com outros agentes anestésicos voláteis; Presença dos reflexos protetores (faríngeo e palpebral). Desvantagens: Eleva a pressão arterial, a frequência cardíaca e a respiratória; Libera catecolaminas; Não permitir cirurgias abdominais ou torácicas (a menos que a dose seja elevada acima de 80 mg/kg, o que, além de encarecer a anestesia, a tomaria arriscada); Não permitir intubação laringotraqueal. A dose de quetamina para gatos é de 2 a 6 mg/kg por via intravenosa, para se obter uma anestesia dissociativa de duração ultracurta, e de 15 a 20 mg/kg por via intramuscular, para se obter uma anestesia de 20 a 30 minutos, com período de latência de sete a 10 minutos. Associação quetamina e xilazina 33 Para anestesias cuja duração cirúrgica não ultrapasse 50 minutos, pode-se empregar a associação de quetamina,na dose de 10 a 15 mg/kg, e cloridrato de xilazina, na dose de 0,5 a 1 mg/kg, ambas na mesma seringa e aplicadas por via intramuscular profunda. Convém lembrar que, em razão à ação parassimpatomimética de xilazina, que se superpõe à ação simpática da quetamina após 30 minutos de anestesia, deverá tratar-se o animal, 10 a 15 minutos antes da anestesia, com sulfato de atropina, na dose de 0,044 mg/kg por via subcutânea. Caso haja necessidade de se prolongar o tempo anestésico, poder-se-á aplicar metade da dose mãe, obtendo-se, assim, mais 20 a 30 minutos de anestesia. A anestesia obtida com essa associação permite efetuar, em gatos, intervenções a nível abdominal. Entretanto, dever- se-á tomar cuidado em experimentos que envolvam estudos hemodinâmicos, pois a atropina poderá interferir nos dados obtidos. Ambos os fármacos por via intramuscular e na mesma seringa. Se houver necessidade de complementação, dar 0,6 ml de quetamina e 0,1 ml de xilazina pela mesma via. Entretanto, ressalte-se que, em felinos, essa anestesia apresenta um período de recuperação maior do que o observado na espécie canina. Associação tiletamina e zolazepam Esta associação tem dado bons resultados em pequenos animais, pois as ações ansiolítica, anticonvulsivante e miorrelaxante do zolazepam, associadas à ação analgésica potente de tiletamina, causam um sinergismo por potenciação adequado, levando a uma anestesia dissociativa de boa qualidade e que permite intervenções cirúrgicas em cabeça, tronco e membros, desde que não se intervenha em pleura ou peritônio, pois para este fim as doses deveriam ser maiores do que as costumeiramente usadas, ou então recorrer a outros fármacos (associações anestésicas ou anestesia volátil). 34 Em felinos, a dose varia de 7 a 10 mg/kg pela via intramuscular ou 5 mg / kg pela via intravenosa para procedimentos cirúrgicos mais fugazes, o que serviria até como agente indutor da anestesia volátil. No comércio, esta associação é encontrada em frascos-ampolas nos quais, após a reconstituição (princípio ativo + 5 ml de água destilada), cada ml conterá 50 mg. Anestesia local Dificilmente se usam anestesias infiltrativas em felinos para intervenções cutâneas, pois tanto a quetamina e suas associações ou a associação tiletamina e zolazepam resolvem facilmente esse problema. Entretanto, pode-se requerer uma anestesia no trem posterior obtida por meio da anestesia peridural lombossacra. A dose máxima permitida de cloridrato de lidocaína não deve superar 7 mg/kg, tomando-se o cuidado de se observar sempre o volume a ser injetado e o tempo anestésico requerido. As concentrações podem variar de 0,5 a 2%, tomando-se o cuidado de imobilizar bem o animal, aplicando-se sempre uma MPA ou anestesia dissociativa para se evitarem acidentes, tais como mordeduras, unhadas ou lesões espinhais. Esse tipo de anestesia é requerido quando o estado do animal não permite outros tratamentos anestésicos, ou pela interferência que esses fármacos teriam sobre o modelo experimental. Técnicas Anestésicas em Cães Ao se optar por uma técnica anestésica, é necessário que se avalie inicialmente qual o tipo da intervenção ou manipulação e sua duração, bem como o tipo de temperamento (dócil, indócil, nervoso) ou estado (gravidez, obesidade, cardíaco ou chocado). 35 Normalmente, ao se optar até por uma tranquilização, devem-se evitar aplicações medicamentosas desnecessárias, ou insuficientes para mera manipulação. Medicação pré-anestésica e tranquilizações Estas tranquilizações, na espécie canina, se fazem necessárias com frequência em várias situações, tais como viagens longas, exames clínicos e radiológicos, manipulações ortopédicas, coadjuvante da anestesia local e indução anestésica. A - Viagem longa Quando se exige uma quietude duradoura em animais não acostumados a viagens, ou nos quais as mesmas provocam vômito, existem algumas sugestões: Clorpromazina, 1 mg/kg IM, 30 a 40 minutos antes; levomepromazina, 1 mg/ kg IM, 30 a 40 minutos antes; acepromazina, 0,1 mg/kg IM, 30 a 40 minutos antes. Os mesmos produtos, caso se requeira uma tranquilização mais potente, podem ser associados ao midazolam, na dose de 0,2 mg/kg IM, na mesma seringa. A clorpromazina é a mais indicada, pois é a fenotiazina cuja ação antiemética é tida como a mais eficiente sobre as demais. Por outro lado, aconselha-se não exceder a dose indicada de midazolam, a fim de se evitar o efeito paradoxal (contraturas e ganidos). Para tanto, coloca-se na mesma seringa que contém a fenotiazina apenas uma quantidade mínima do midazolam, suficiente para "contaminar" o outro fármaco. O diazepam não pode ser colocado na mesma seringa, apesar de ser uma benzodiazepina, pois precipitará imediatamente, tomando a solução leitosa. 36 Caso se use a associação de fenotiazina e benzodiazepina, o período hábil de tranquilização se estenderá por mais de 8 horas, devido à ação do midazolam. B - Exames clínicos, radiológicos e manipulações ortopédicas. Geralmente, a aplicação das fenotiazinas anteriormente citadas nas mesmas doses. Quando se requer um efeito imediato desses fármacos, pode-se recorrer à via intravenosa e o efeito máximo será obtido a partir de 15 minutos, exceção feita para a associação com o midazolam, que é imediata e recomendada para explorações radiológicas, nas quais o miorrelaxamento muitas vezes é requerido por ser indispensável. C - Coadjuvante da anestesia local Técnica é análoga àquela empregada para viagens longas. Considerando-se que não existe sinergismo digno de nota entre os anestésicos locais e a MPA, esta última poderá ser feita empregando-se desde a simples tranquilização até a mais potente. Entretanto, o grande cuidado a ser tomado é nos casos em que o animal está chocado (brigas ou quedas com dilacerações), quando a MPA deverá ser suprimida ou reduzida em até 75%. MPA para indução anestésica Técnica. Análoga àquela empregada para viagens longas. 37 Geralmente, ao se aplicar uma fenotiazina, na MPA a potencialização prevista com o uso posterior de um barbitúrico é de 40 a 60%. O que evita sobremaneira o risco de excitação (estágio II de Guedel). Entretanto, o cuidado a ser tomado é com o uso da associação das benzodiazepinas na indução barbitúrica, pois ocorre uma potencialização exacerbada, cujo sinergismo acarreta apneias de difícil controle. Face à boa tranquilização obtida com a associação de clorpromazina ou levomepromazina e midazolam, com certa habilidade e de maneira suave, consegue-se induzir diretamente com uma máscara anestésica, desde que se dê um anestésico volátil halogenado de odor agradável (halotano, isofluorano, enfluorano e sevofluorano) em concentrações baixas e posteriormente crescentes. Administrar atropina, na dose de 0,044mg/Kg, toda vez que se empregar um fármaco parassimpatomimético, como é o caso da xilazina, ou mesmo um fármaco de ação simpática que provoque sialorreia abundante. Sugere-se não ultrapassar, em cães de grande porte, a dose total de 1 a 1,5 mg e em casos excepcionais 2 mg. Induções anestésicas - modalidades Consistem na aplicação de um fármaco que permite toda e qualquer manipulação prévia antes da manutenção (acomodação na mesa cirúrgica, preparos cirúrgicos cruentos, intubação endotraqueal) e, em geral, são realizadas com fármacos de ação anestésica ultracurta, como os tiobarbituratos ou fármacos afins (quetamina, etomidato). Desaconselha-se, tecnicamente, nessas induções, a manutenção pelo próprio agente indutor. Pois, se é prático para o profissional, é desconfortável para o paciente, porque, pelo fator cumulativo, ocasiona recuperações tardias. Primeira técnica: Jejum prévio, com aplicação de tiopental a 2,5% IV, 25 mg/kg, administrando metade da dose total rapidamente e o restolentamente, até o desaparecimento dos reflexos interdigital e palpebral. 38 Essa indução usada isoladamente é desaconselhável em animais idosos, cardiopatas, nefropatas, Hepatopatas, em choque e submetidos à cesariana. Permite um tempo hábil anestésico de 15 a 20 minutos, possibilitando efetuar: Retiradas de pontos em animais agressivos; Pequenas cirurgias (retirada de glândula de Harder, excisões tumorais e retiradas de cistos), Tártaro dentário, extrações dentárias, biópsias, retirada de dedos supranumerários e suturas de pele; Retirada de pinos ou fios intramedulares; Retirada de espinhos de ouriço; Curativos cruentos; Explorações bucais; Esofagoscopia e traqueoscopias. Segunda técnica Jejum prévio, administração de MPA (qualquer citada para viagens longas), aguardando o período adequado, e tiopental a 2,5% IV, 12,5 mg/kg, a dose total sendo injetada lentamente, até o desaparecimento dos reflexos interdigital e palpebral. Essa indução anestésica é, sem dúvida, a mais empregada na rotina anestésica por sua segurança, face à redução de 50 a 60% do agente barbitúrico, o que a torna indispensável, especialmente em animais nos quais a indução requer cautela. Sugere-se não exceder uma complementação anestésica, a qual deverá ser aplicada na dose suficiente para fazer desaparecer novamente os reflexos, interdigital e palpebral. Essa indução é desaconselhada em: Cesariana, quando há inviabilidade fetal e a mãe está em estado toxêmico; Animais chocados; Pacientes de alto risco. 39 É, entretanto, aconselhada em todas as cirurgias que requeiram, após a indução, manutenção prolongada, paciente de risco moderado, pequenas intervenções que não excedam 10 a 15 minutos e intubação endotraqueal. Terceira técnica MPA aguardando 15 minutos se IV e 30 a 45 minutos se IM, logo após quetamina (2 a 4 mg/kg IV) lentamente ou 10 a 15 mg/kg IM. A vantagem dessa indução é a de que dispensa o jejum prévio, sendo, portanto, indicada nos casos de urgência, em que o paciente tenha ingerido alimento. Esse tipo de indução não causa emese, permanecendo os reflexos protetores (palpebrais e laringotraqueal), não permitindo, assim, aspirações de conteúdos gástricos, se ocorressem acidentalmente. Apesar da boa analgesia e da ausência de efeitos extrapiramidais, essa indução não permitirá a intubação endotraqueal, que poderá ser apenas conseguida caso se aplique uma máscara bem vedada e adaptada a circuito com filtro circular com anestésico volátil até o desaparecimento do reflexo laringotraqueal, permitindo, assim, a introdução da sonda. Essa indução não permite laparotomia ou toracotomia e é aconselhável em induções em: Animais que necessitem de cirurgia com extrema urgência e que se tenham alimentado; animais agressivos, nos quais a via IM se faz necessária; Pacientes de alto risco, desde que se reduza a MPA a em 50%; Cesarianas em que haja inviabilidade fetal e a mãe esteja com toxemia severa. É desaconselhável em animais idosos ou hipertensos. Quarta técnica 40 Jejum não é a condição mais importante nesta associação, que é realizada da seguinte maneira: midazolam na dose de 0,2 a 0,5 mg/kg; clorpromazina ou levomepromazina, 1 mg/kg; quetamina, 1 a 2 mg/kg, os três produtos injetados pela via intravenosa e na mesma seringa. Esta associação, farmacologicamente, é uma das melhores associações e permite, com cuidado, até efetuar a intubação endotraqueal. Dispensa, em casos de extrema urgência, até o jejum prévio, pois ao aplicá-la nunca se notou vômito. Outra vantagem desta associação é que, em animais arredios, a associação pode ser aplicada pela via intramuscular, ocorrendo à prostração em 5 a 7 minutos. Quinta técnica Aplicação de MPA pela via intravenosa com qualquer fenotiazina:(acepromazina, clorpromazina ou levomepromazina) nas doses citadas para viagens longas e 10 minutos após aplicar pela via intramuscular associação zolazepam mais zoletil na dose de 7 a 10 mg/kg permite, em 5 minutos, obter uma prostração suficiente para manipular o animal, bem como introduzir a sonda endotraqueal. A vantagem desta associação é que ela pode ser aplicada em animais que não permitem a manipulação pelo seu temperamento, bastando à aplicação intramuscular para causar a prostração do animal, sem estresses desnecessários. Manutenções As manutenções em rotina anestésica com anestésicos voláteis nunca são efetuadas de maneira direta, mas sim com o auxílio, no mínimo, de MPA, por várias razões: Custo operacional torna-se oneroso; A insubmissão do animal ao se colocar a máscara para a indução; Poluição ambiental com halogenados (carcinogênicos); Concentrações altas de anestésicos voláteis halogenados (halotano e enfluorano) levam à sensibilização do miocárdio, com consequente fibrilação cardíaca; A poluição ambiental com éter torna o ambiente sujeito à explosão por faíscas elétricas (tomadas). 41 Os anestésicos voláteis comumente utilizados em máscaras bem vedadas ou em sondas endotraqueais e em cães tranquilizados são Halotano enfluorano isofluorano sevofluorano. A evolução do ato cirúrgico e plano anestésico desejado vão variarem de acordo com o paciente e tipo de cirurgia. As potencializações ocorrem com outros fármacos como barbitúricos, succinilcolina e fármacos usados em MPA. Taquipneia geralmente surge na anestesia volátil com o halotano em altas concentrações, que causa a sensibilização dos receptores de elastância do pulmão. A administração de meperidina resolverá o problema. No caso de persistência, teremos então o diagnóstico diferencial com acidose respiratória. Condutas anestésicas em anestesia geral e dissociativa Primeira conduta :Sem MPA e com jejum prévio. Indução: tiopental a 2,5%, 25 mg/kg, IV. Ou Tiamilal a 2,0% a 20 mg/kg, IV, ou metohexital a 2.5%, 12.5 mg/kg, IV. Metade da dose rapidamente e o resto até atingir o desaparecimento do reflexo laringotraqueal e interdigital. Intubação endotraqueal Manutenção: halotano, enfluorano, isofluorano, ou sevofluorano. Essa conduta só é permissível quando não se dispõe de tranquilizantes, pois a taquicardia observada por bloqueio vagal causado pelo tiobarbiturato poderá ser agravada caso se use, na manutenção, halotano que em altas concentrações causa sensibilização do miocárdio ou o próprio éter anestésico que, apesar de liberar noradrenalina, não chega a causar alterações cardíacas dignas de nota, resultando em estimulação simpática. O período hábil anestésico é indeterminado e o de recuperação de 10 a 20 minutos. 42 Segunda conduta Jejum prévio. MPA: clorpromazina, 1mg/kg IV ou IM, ou levomepromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou acepromazina a 0,2%, 1 mg/kg IV ou IM. Aguardar 15 minutos na aplicação IV e 30 a 45 minutos na aplicação IM. Indução: tiopental a 2,5%, 12,5 mg/kg, ou tiamilal a 2,5%, 10,5 mg/kg, ou metohexital a 2,5%,6,5 mg/kg, metade da dose rapidamente e o resto até o desaparecimento dos reflexos Interdigital e laringotraqueal. Introduzir a sonda endotraqueal e conectar ao aparelho de anestesia. Essa conduta é a mais aconselhada para a rotina anestésica por sua segurança, tranquilidade e discreta alteração dos parâmetros fisiológicos (temperatura retal, pulso arterial e frequência respiratória). Ressalte-se que a grande vantagem dessa técnica consiste na ação tranquilizante e especialmente adrenalítica que a MPA oferece, tão desejada na manipulação pré-operatória (sondagens ou tricotomias) ou na interação com outros fármacos (barbitúricos, halotano, enfluorano e éter). O período hábil anestésico é indeterminado e o de recuperação leva 5 a 15 minutos. Terceira conduta O jejum não é condição obrigatória. MPA: levomepromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou clorpromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou Acepromazina a 0,2%,0,1 mg/kgIV ou IM. Aguardar 15 minutos se a aplicação for IV e 30 a 45 minutos se a aplicação for IM. Indução: quetamina, 2 a 4 mg/kg IV lentamente ou 10 a 15 mg/kg IM. 43 Manutenção: por não desaparecerem os reflexos protetores (laringotraqueal e palpebral), aplicar máscara facial vedada com coaptação imediata ao aparelho de anestesia volátil, caso se tenha usado quetamina por via intravenosa, e até cinco a 10 minutos após, ao se empregar a via intramuscular profunda. Ao atingirem os planos anestésicos desejados se procederão à intubação endotraqueal, pois a quetamina não abole os reflexos protetores, mesmo em doses elevadas. Essa conduta anestésica é mais utilizada em casos de extrema urgência, em que o animal já se tenha alimentado. Sugere-se, entretanto, a vigilância em eventos de mímicas de emese, colocando-se a sonda endotraqueal logo que o animal perca o reflexo laringotraqueal, o que ocorre alguns minutos após a aplicação da máscara facial vedada. É desaconselhável em animais hipertensos ou acidoses por sua ação predominantemente simpática, apesar de que o emprego da MPA atenua essa resposta por sua ação adrenalítica. Recomenda-se a técnica em todas as cirurgias que requeiram laparotomias e por sua segurança em cesarianas, quando os fetos são inviáveis e a mãe está em estado toxêmico. Recomenda-se, para tanto, o enfluorano como agente de manutenção. Com o paciente chocado, recomenda-se a redução da MPA em 50 a 75%. O período hábil anestésico é indeterminado e o período de recuperação dura 5 a 15 minutos. Quarta conduta Jejum. Levomepromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou clorpromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou acepromazina a 0,2%, 0,1 mg/kg IV ou associadas ao flunitrazepam, 0,005 mg/kg ou 0,2 mg/kg de midazolam IV ou IM na mesma seringa. Aguardar 15 minutos na aplicação IV ou 30 a 45 minutos na aplicação IM. 44 Dispensar a indução e adaptar a máscara para a devida manutenção com anestesia volátil. Intubar o animal quando perder o reflexo laringotraqueal. Esta conduta é recomendada em animais agressivos em que a injeção intravenosa se torna impraticável ou em paciente cuja indução barbitúrica se torna inviável (animais idosos, cardíacos ou portadores de nefropatias ou hepatopatias). A grande vantagem é que a prostração é tão severa que com a aplicação dos anestésicos halogenados, ministrados por máscara, os animais não reagem, permitindo assim a indução e manutenção suave sem necessidade de elevar as doses do anestésico volátil. O período hábil anestésico é indeterminado e a recuperação tardia, face ao uso de flunitrazepam (três a quatro horas). Quinta conduta Jejum. Pentobarbital sódico a 3%, 30 mg/kg IV. Aplicar metade da dose rapidamente e complementar lentamente até o desaparecimento dos reflexos palpebral, laringotraqueal e interdigital. Essa técnica anestésica, outrora defendida e empregada, está hoje restrita apenas aos ensaios de técnicas cirúrgicas ou experimentais, pelos inconvenientes que a mesma oferece, tais como limitações em pacientes não-hígidos ou mesmo pela recuperação desconfortável. Essa técnica não é recomendada para delineamentos experimentais que visem ao fluxo renal ou estudos hemodinâmicos, pela sua grande interferência nesses sistemas, ou mesmo estudos eletrocorticográficos, em virtude da acentuada depressão no SNC. Sua aplicação é recomendada apenas em animais sadios e no caso de inexistência de fármacos tranquilizantes e qualquer outro anestésico geral. 45 O período hábil anestésico é de 60 a 120 minutos e o de recuperação de quatro a seis horas. Sexta conduta Jejum. MPA: levomepromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou clorpromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou Acepromazina a 0,2%,0,1 mg/kg IV ou IM. Aguardar 15 minutos se a aplicação for IV e 30 a 45 minutos se for IM. Pentobarbital sódico a 3%, 15 mg/kg (0,5 ml) IV, metade da dose rapidamente e, quando sobrevier a prostração, aplicar lentamente o resto até desaparecerem os reflexos interdigital, laringotraqueal e palpebral. Ao se aplicar esse anestésico, devem-se levar em consideração as mesmas ponderações feitas na técnica anterior. A grande vantagem, porém, é a potencialização de 40 a 60% que ocorre, reduzindo o tempo anestésico face ao sinergismo apresentado. O cuidado a ser tomado é ao se anestesiar animais adiposos, pois neles a administração deve ser feita mais lentamente e com grande cautela. O período hábil anestésico é de 40 a 60 minutos e o de recuperação, uma a três horas. Dieta pós-anestésica: no dia da intervenção, apenas dieta líquida (água ou leite); alimentação pastosa no dia seguinte e sólida no outro. A dieta pós-anestésica deverá respeitar o tipo de intervenção, pois, se for intervenção de trato gastroentérico, a dieta será mais rigorosa. Sétima conduta Jejum. Atropina, 0,044 mg/kg, via subcutânea. Aguardar 10 a 15 minutos (até que se estabeleça discreta taquicardia). 46 Xilazina, 1 mg/kg, e quetamina, 15 mg/kg, ambos os fármacos na mesma seringa e aplicados por via intramuscular profunda. Aguardar no mínimo cinco minutos de latência para o início da intervenção cirúrgica. Essa conduta anestésica é reconhecidamente a mais prática, pois, por meio de uma simples aplicação intramuscular, consegue-se uma anestesia de 40 a 50 minutos. Ela é segura, desde que se pré-trate o animal com atropina, a fim de se evitarem os efeitos parassimpatomiméticos da xilazina, tais como bradicardia com arritmia e até bloqueios atrioventriculares de segundo grau. Caso se requeira uma prorrogação do tempo anestésico, é só complementar com metade da dose-mãe (de ambos os fármacos), não sendo necessária complementação com atropina, pois seu tempo hábil é de até uma hora. Convém lembrar que toda complementação acarreta, seguramente, uma demora crescente na recuperação, por causa do efeito cumulativo, o que não é recomendado em certas situações, mesmo porque a anestesia torna-se onerosa. Essa conduta é desaconselhada em animais idosos ou toxêmicos, em choque ou com distúrbios cardiocirculatórios. É aconselhável, entretanto, em animais hígidos que requeiram intervenções no abdômen, incluindo cesariana, desde que não haja histórico de toxêmia. Acidentalmente, em animais que não receberam atropina na MPA, podem ocorrer convulsões com duração de segundos. O período de latência da associação de xilazina e quetamina é de cinco a sete minutos, seu período hábil anestésico de 40 a 50 minutos e o período de recuperação de 50 a 60 minutos. Oitava conduta Jejum. MPA: levomepromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou clorpromazina, 1 mg/kg IV ou IM , ou acepromazina a 0,2%,0,1 mg/kg IV ou IM. Aguardar 15 ou 30 minutos, na dependência da via de aplicação. 47 Indução: tiopental a 2,5%, 12,5 mg/kg IV ou tiamilal a 2,0%, 10,5 mg/kg IV ou metohexital a 2,5%,6,5 mg/kg IV, ou quetamina, 15,0 mg/kg IM ou 2 a 6 mg/Kg IV. Manutenção: óxido nitroso 50 a 70%; oxigênio 50 a 30%. Reduzir os anestésicos voláteis em 30 a 40%. Essa conduta é vantajosa quando se dispõe de óxido nitroso, pois, por ser anestésico inerte, não é metabolizado pelo organismo, sendo eliminado totalmente pela própria expiração. Convém, nessa conduta, evitar associações do tipo quetamina e éter, pois ambas apresentam características simpatomiméticas, alterando severamente os parâmetros cardiocirculatórios. O período hábil anestésico é indeterminado e o de recuperação dura cinco a 15 minutos. Nona conduta Jejum. MPA, indução anestésica e manutenção análoga à segunda técnica. Aplicação intravenosa depois de decorridos cinco minutos de manutenção anestésica, ou quando se fizer necessário o miorrelaxamento com galamina, 0,5 a 0,8 mg/kg (não- despolarizante), ou succinilcolina, 0,3 a 0,5 mg/kg (despolarizante), ou fazadínio, 1,0 mg/kg (não- despolarizante), ou atracurônio, 0,4 mg/kg (não-despolarizante). Conectarao paciente o aparelho de respiração controlada. Evitar a hiperoxia por meio da administração excessiva de oxigênio puro, pois poderá sobrevir apneia provocada não pelo miorrelaxante, mas sim por desequilíbrio da relação O2 e CO2. Periodicamente e por poucos segundos, retirar a respiração controlada, repetindo a manobra até que o paciente volte a respirar espontaneamente. 48 Essa conduta anestésica sempre se faz presente em intervenções a nível torácico, ou quando, em pacientes de alto risco, se requer tal tipo de respiração. Convém lembrar que a administração excessiva de O2 acarreta apneia que, com certa habilidade, pode ser contornada, mediante o controle da administração de menos 02. Uma das maneiras de se fazer o diagnóstico diferencial entre bloqueio central ou periférico é por meio da administração de 1 mg/kg de doxapram por via intravenosa. Se o bloqueio for de ação central, imediatamente notar-se-á aumento da amplitude e da frequência respiratória. Se a apneia persistir, é sinal de que o bloqueio é periférico, o que vale dizer que é causado pelo bloqueador neuromuscular. O fármaco antagonista para reverter o bloqueio dos agentes não-despolarizantes é a neostigmina, na dose de 0,04 a 0,07 mg/kg IV. Observação Em todas as técnicas de anestesia geral propostas, após o ato cirúrgico, é aconselhável acomodar os animais em recintos com controle de temperatura, destituídos de barulho ou que tenham luz excessiva. A dieta administrada, de modo geral, no dia da intervenção, desde que o paciente tenha recuperado a consciência, baseia-se apenas em água ou leite, deixando-se a dieta sólida para o dia seguinte, desde que a intervenção não tenha sido no trato gastroentérico, pois esta dieta dependerá de prescrição do cirurgião. Anestesias peridural ou epidural Geralmente, essa anestesia, de fácil aplicação e baixo custo, é de extrema valia em pacientes de alto risco ou que, por qualquer motivo (alimentação, cesariana, problema hepático ou renal, idade), não possam ser submetidos à anestesia geral. Os pontos eletivos para a anestesia peridural são entre L7 e S1 (lombo-sacra), S8 e C1 (sacrococcígea) ou intercoccígea. 49 A técnica é desenvolvida da seguinte maneira: Tranquilizar o animal. Tricotomia e antissepsia rigorosa do local (de preferência depilar uma boa área). Palpar as tuberosidades ilíacas com os dedos, indicador e polegar. Com o indicador 2 a 3 cm caudalmente, sentir o espaço lombossacro. Colocar o animal em decúbito esternal (posição de esfinge ou com os membros fora da mesa). Introduzir uma agulha (de preferência com mandril) 40 x 7 ou 50 x 8, na dependência do tamanho do animal. Perfurar a pele e fazer um botão anestésico, pois facilita futuras manipulações. Atravessar o ligamento interespinhoso (ruído característico de ranger). Atravessar o ligamento amarelo (ligamentun flavum). Retirar o mandril e observar se há ruído de sucção (pressão negativa peridural) que imediatamente poderá ser comprovada depositando-se uma gota do anestésico local, observando-se a sucção da mesma. Caso isso não aconteça, com outra seringa vazia, injetar 5 ml de ar e, com o dorso da mão sobre a pele do animal (região lombar), perceber-se-á a infiltração do ar a nível subcutâneo. Se a agulha estiver na posição correta. Injetar gradativamente e de forma suave (a fim de não alterar bruscamente a pressão no espaço peridural) o anestésico local escolhido, de acordo com a conveniência, observando-se sempre as doses máximas permitidas. A dose recomendada, apesar de existirem correlações entre dimensões de colunas vertebrais, gira em tomo da dose máxima permitida, da velocidade de aplicação e da eficácia da droga, face ao seu posicionamento correto no espaço peridural. Convém lembrar, como exemplificado, que, se for empregada lidocaína a 1%, cada ml da droga terá 10 mg de princípio ativo e, para um cão de 10 kg, não se poderão exceder 70 mg ou 7 ml. Caso, agora, se use a mesma lidocaína a 2%, o volume não poderá exceder 3,5 ml. 50 Em cães, especialmente, não se pode levar em consideração apenas a dimensão da coluna vertebral, face às diferenças anatômicas verificadas nas diferentes raças, pois os animais longilíneos e baixos (bassethound, dachshund, pequinês, ...) estarão sempre sujeitos às intoxicações, caso não se observe as doses máximas permitidas. Ao se depositar o anestésico no espaço peridural observar-se-á imediatamente queda da cauda, relaxamento do esfíncter anal com emissão de gases ou até exteriorização de fezes, posição característica (paralisia de posteriores) e eventual incontinência urinária. Convém manter o animal na posição de esfinge por cinco a 10 minutos, pois, embora a lidocaína cause anestesia local quase que imediata, convém aguardar uma melhor embebição tissular pelo anestésico de forma equitativa (lados direito e esquerdo), dando assim uma anestesia bilateral uniforme, já que, em decúbito lateral, por gravidade, causará apenas anestesia local unilateral. Fig. 19 - demonstração da agulha sendo colocada na região lombossacra; B: seringa conectada para injeção do agente anestésico. Fonte arquivo pessoal. Essa anestesia permite executar, pelo período hábil de 60 a 80 minutos, qualquer intervenção retroumbilical, não permitindo, entretanto, trações viscerais altas, como no caso de cesarianas ou ovário-histerectomias (ligamentos suspensor e uterovárico). O mesmo pode ser dito quanto às intervenções intestinais, pois a manipulação suave é indolor, mas sua simples tração torna a intervenção cruenta, requerendo uma anestesia geral. A B 51 Caso se requeira uma prorrogação da anestesia peridural pode-se recorrer à anestesia peridural contínua que permite a injeção constante do anestésico, à medida que o mesmo é requerido, podendo ser executada entre L5-L6 ou L6-L7 a anestesia peridural em cães permite efetuar as seguintes cirurgias: Caudectomias em animais adultos; Retiradas de glândulas do saco anal; Hérnias perineais; Cirurgias proctológicas; Vulvoplastias; Orquiectomias; Cirurgias ortopédicas em membros posteriores; Excisões tumorais vaginais; Fecalomas. Anestesia subaracnoide (raquianestesia) Este tipo de anestesia é de grande valia, mas, por se tratar de uma anestesia de técnica mais apurada e pelo espaço subaracnoide em cães ser de poucos milímetros, é raramente empregada. Igualmente, se executada sem a devida assepsia, pode causar meningites com resoluções fatais. Seu procedimento é feito da seguinte maneira: Jejum. Tranquilização por via intravenosa e tricotomia da região lombar. Aguardar 15 minutos. Aplicação de um barbiturato de duração ultracurta, metade da dose (por ex., 12,5 mg/kg de tiopental sódico), pois o animal deve permanecer imóvel, mas com reflexo interdigital presente. 52 Decúbito dorsal com os membros anteriores entre os posteriores, a fim de aumentar o espaço intervertebral. Introdução de uma agulha 70 x 80 com mandril entre L3-L4, L4 – L5, L5 - L6 ou L6-L7. Após a retirada do mandril, observar-se-á a saída do liquor. Aspirar suavemente com uma seringa e homogeneizar o conteúdo com o anestésico. Injetando lentamente e sem resistência de 0,5 a 1,5 ml. Manter previamente a cabeça do animal ligeiramente elevada. Técnica possui uma vantagem maior sobre a anestesia peridural, pois o seu relaxamento é maior por agir diretamente em nível de raízes nervosas espinhais. Qualquer intervenção pré-retroumbilical de duração máxima de 50 a 60 minutos. 53 3 INFECÇÕES CIRÚRGICAS 3.1 Controle da infecção Informações gerais Nas infecções que ocorrem no pós-operatório têm-se dois fatores inter-relacionados, trauma tecidual e infecção cirúrgica, que são sem dúvida de extrema importância pelo sucesso ou não das mesmas. Em qualquer
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