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CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS A cirurgia é uma especialidade médica que envolve procedimentos invasivos para fins terapêuticos e/ou diagnósticos. A cirurgia terapêutica consiste no tratamento de doenças ou deformidades. Possibilita a preservação da vida e o reestabelecimento da função normal ou remoção de tecidos lesados. A cirurgia diagnóstica é fundamental no auxílio ou definição do diagnóstico. Na maioria das vezes a cirurgia é terapêutica e pode-se ter concomitante o diagnóstico. Dificilmente a cirurgia é realizada apenas como diagnóstico (como nas vídeo-cirurgias). Etapas cirúrgicas A técnica cirúrgica está relacionada ao tipo de cirurgia escolhida, a técnica propriamente dita. As manobras cirúrgicasestão relacionadas as etapas para a realização da técnica (diérese, hemostasia e síntese). O pré-operatório consiste em todas as etapas antes de iniciar a cirurgia, envolve a escolha das técnicas, o planejamento cirúrgico, anamnese do paciente. O transoperatório corresponde ao período de execução da cirurgia. O pós-operatório relaciona-se com a recuperação anestésica e toda a terapia realizada após o ato cirúrgico. Tempo nobre cirúrgico, diz respeito ao momento de alcance do objetivo da cirurgia (a remoção do ovário, por exemplo, numa castração de fêmea). Classificação da cirurgia 1. Quanto ao campo de ação Cirurgia geral: abertura de abdômen, celiotomia exploratória Cirurgia especial: procedimentos específicos relacionada a especialidades (oftálmica, ortopédica). 2. Quanto ao porte Pequeno: pequenas suturas Médio: castração, descorna Grande: celiotomia exploratória, osteotomia 3. Quanto a presença de microrganismos Asséptica: cirurgias eletivas Séptica (contaminada): fraturas Potencialmenteséptica (contaminada): não tem um foco propriamente dito de infecção, mas apresenta uma microbiota natural (TGI, TGU, TR). 4. Quanto ao risco de morte Leve: cirurgias eletivas, procedimentos menores Moderado: cirurgias que apresentam um risco maior em relação as leves. Grave: procedimentos emergenciais, relacionado ao quadro do paciente, risco de hemorragias, etc. 5. Quanto as estruturas anatômicas envolvidas/ instrumental cirúrgico necessário. Simples (elementar): envolve apenas uma estrutura/ instrumentais básicos. Complicada, composta, complexa, combinada: envolve várias estruturas/requer instrumentais especiais. 6. Quanto a existência de hemorragia Incruenta (seca): orquiectomia (pouco cruenta). Todo procedimento cirúrgico envolve certa perda de sangue. Cruenta (úmida): descorna (grande perda de sangue). 7. Quanto a técnica utilizada Regrada (clássica): segue um padrão já existente. Não regrada (gênio): segue uma técnica própria ou uma modificação da técnica clássica. 8. Quanto a eficiência no tratamento cirúrgico ou prognóstico Radical: indicada visando tratar o paciente. Paliativa: visa dar conforto e sobrevida ao paciente. 9. Quanto ao tempo para a realização Programada (eletiva) Urgente (não tem risco iminente de morte, mas pode se agravar em poucas horas) Emergência (apresenta risco de morte em minutos). 10. Quanto a necessidade da cirurgia Necessária: se não fizer o paciente corre risco de morte ou sequelas. Estética reconstrutiva: reconstrução por conta de tumores, lesões etc. Estética, eletiva, fantasia, conveniência ou desnecessária: atualmente não é permitida, a exemplo da conchectomia, caudectomia (permitida em algumas espécies como utilidade zootécnica, px. suínos) Utilidade zootécnica: orquiectomia,discornas, caudectomia (suínos), normalmente visando melhoria do manejo. Pré-operatório É o momento que antecede o procedimento cirúrgico. Apresenta como objetivos: Avaliar o paciente; Diminuir o risco cirúrgico; Decidir o melhor momento para intervir; Tipo d intervenção a realizar. O momento cirúrgico ideal é dado pela conveniência operatória, a qual está relacionada ao risco cirúrgico, que é classificada em: Imediato: o procedimento é de urgência absoluta ou situações emergenciais como cólica e cesarianas. Mediato: compreende os procedimentos eletivos, ou as urgências relativas (hérnias). A avaliação de risco é pautada no Sistema Manchester de Classificação de Risco (1997). A avaliação do paciente cirúrgico deve ser completa, fazendo-se necessário realizar uma consulta pré-operatória coletando informações do histórico do paciente, realizar anamnese completa, exame físico, exame específico e complementares. Comunicação com o tutor do animal é importante! Após avaliação completa do paciente, tendo localizado o sistema acometido e/ou identificada a localização da lesão, parte-se para o planejamento cirúrgico. Lembrar sempre da anatomia topográfica, referências anatômicas, localização e estruturas anatômicas. Divisão da região abdominal para abordagem cirúrgica. Posicionamento do paciente vai depender da abordagem a ser realizada: Quadrupedal Decúbito o Lateral (D ou E) o Dorsal o Esternal O acesso cirúrgico/ abordagem cirúrgica irá por sua vez, depender do local da cirurgia: Toracotomia o Intercostal: atentar a artéria, veia e nervos que estão caudal a costela. Sempre pensar no meio do espaço intercostal, ou mais cranial. o Mediana o Transesternal Celiotomia o Mediana (pré-umbilical, retro-umbilical, pré-retro-umbilical) o Paramediana o Paracostal o Oblíqua: ângulo de 45° o Pelo flanco (laparotomia): ruminotomia, cesária o Combinada (mediana + paracostal): em hérnia inguinoescrotal, criptorquidismo. o Paramamária Guturotomia A disponibilidade de pessoal dependerá de vários fatores(tipo de cirurgia/intervenção, porte da cirurgia, duração anestésica ou cirúrgica, pessoal disponível, local e equipamento de anestesia e cirurgia, técnica anestésica ou cirúrgica). Preparação do paciente Jejum hídrico de 12hs e sólidos de 12-24hs para equinos. Em ruminantes de 24-48hs (jejum sólidos). Realização da tricotomia Uso de medicação (MPA, anti-inflamatório) Transoperatório Manter a estabilização do paciente Deve-se ter domínio da técnica Deve-se estar preparado para possíveis intercorrências, evitando surpresas. Pós-operatório Imediato: compreende o retorno da consciência/ recuperação anestésica. Mediato: corresponde ao período inicial/ mais precoce pós retorno. É uma fase crítica. Tardio: período que vai da fase de convalescência até a alta médica. Tipos de pós-operatório Baixa complexidade: cirurgias eletivas Média complexidade: cirurgias terapêuticas/ urgências. Alta complexidade: cirurgias terapêuticas de emergência. Requer manutenção na UTI. Medicações no pós operatório: antibiótico, anti-inflamatório, analgésico, protetor de mucosa gástrica, soro antitetânico, realização de curativos locais. Complicações do pós-operatório: Imediato o Dor, hipotensão, hipotermia, edema de cabeça, hemorragia. A laminite é uma das principais complicações do pós-operatório. Mediato o Dor, deiscência de sutura, contaminação da ferida cirúrgica, infecções pós- operatórias, aderências, hemorragias e sepse. O pós-operatório requer acompanhamento, seguir o tratamento com o uso das medicações conforme prescrições. Alguns procedimentos, afecções ou mesmo erro de manejo, podem deixar sequelas, o que permite definir o prognóstico do paciente e o momento da alta. FLUIDOTERAPIA EM GRANDES ANIMAIS Distribuição da água corpórea e eletrólitos Um adulto apresenta 60% de seu peso vivo composto por água. No caso de um equino de 500kg, 300kg representa água. Os neonatos apresentam 80% de água. Existem líquidos intracelulares (LIC) e líquidos extracelulares (LEC). Esses líquidos são distribuídos eestão em constante movimento entre os espaços IC e EC. O LIC corresponde a 40% ou 2/3 da água corpórea. Um equino que tenha 500kg, sendo 300kg de água, possui 200kg de LIC. O LEC compreende 20% ou 1/3 da água corpórea. Considerando o mesmo animal citado acima, este possui 10kg de LEC. O compartimento EC é dividido em: Compartimento plasmática, correspondente a 5% Compartimento intersticial, representado por 14%. Compartimento transcelular (entre as células), representado por 1-6%, onde circulam todos os líquidos corporais. Os líquidos trancelular compreendem: líquor, líquido pleural, líquido sinovial, humor aquoso, líquido peritoneal, humor vítreo, líquido pericárdico, líquidos das vias digestivas e urinária. Os líquidos corporais são compostos por: Íons (compreendem 95% dos solutos presentes nos líquidos corporais). Sódio (presente em maior concentração no LEC, sendo responsável pela osmolaridade. Potássio (presente em grande concentração no LIC, importante para o potencial de membrana. Ânions (cloreto, bicarbonato, fosfato, íons inorgânicos e proteínas polivalentes) Os eletrólitos são importantes por diversas funções no organismo. Na teoria a composição dos líquidos quanto aos cátions e ânions é igual em cada compartimento, tornando esses líquidos eletricamente neutros. No entanto, nem todo momento esses líquidos serão neutros. Mas o que se preconiza é que a diferença entre eles seja o mínimo possível. Causas de desidratação Uma das principais e mais simples de se resolver é a indisponibilidade de acesso a água pelos animais. Importante a presença de bebedouros com água limpa para os animais 24hs por dia. Além do não fornecimento, também está associada a condições patológicas que impedem a ingestão de água (animais em tetania, px.). Em neonatos, especialmente, é comum a diarréia como causa de desidratação. E nesses animais, cuja composição corpórea é de 80% de água, há a possibilidades de ocorrência de choque hipovolêmico por perda de água pelo quadro diarréico. Adultos também podem apresentar desidratação por diarréia (salmonelose, px.). As cólicas abdominais também são importantes causas de desidratação em equídeos quando apresenta refluxo, principalmente. Equinos com cólica, mesmo que não apresente sinais visíveis de desidratação, indica-se iniciar a fluidoterapia, partindo do grau mais leve. Exercícios prolongados, especialmente em equídeos de trabalho ou esporte, faz com que esses animais percam muita água através do suor (hipertônico) e urina. Além de água, perdem eletrólitos e albumina através do suor. Sinais clínicos da desidratação Normalmente inicia com aumento do TPC e diminuição do turgor cutâneo, associado ao ressecamento das mucosas. À medida que se agrava o quadro de desidratação os parâmetros se alteram ainda mais. A taquicardia deve ser avaliada com cuidado, pois é um parâmetro mais variável, considerando o ambiente onde o animal estar, o estresse com a manipulação, mudança de ambiente, etc. À medida que se agrava ainda mais, observa-se diminuição da produção de urina e diminuição da temperatura das extremidades (orelha, cascos), por conta da vasoconstrição periférica promovida, em condição de hipovolemia, de forma a direcionar o que há de volume para os órgãos essenciais (cérebro, coração e pulmão). A depressão já se observa na proximidade do choque. Avaliação do Grau de Desidratação Acima de 12-15% de desidratação considera-se em choque hipovolêmico. A viscosidade da saliva também é um parâmetro importante para avaliação da desidratação. TPC prolongado indica algum prejuízo hemodinâmico Enoftalmia (olhos fundos) Urina concentrada A avaliação de turgor e TPC já são importantes para avaliação da desidratação. A disponibilidade de exame para avaliar Ht e PT, vai auxiliar ainda mais na confirmação do quadro. Na dúvida de classificar como leve ou moderada, em grandes animais pode iniciar como moderado, visto que esses animais podem receber um pouco mais de fluido, sem prejuízos. Uma desidratação de até 5% não será detectada, na dúvida, o ideal é iniciar a fluidoterapia, ao invés de aguardar o agravamento do quadro, considerando o quadro patológico do animal. Após 1-2 horas, reavaliar e corrigir caso necessário. Animais mais velhos apresentam uma quantidade menor de colágeno e um ressecamento natural da pele, onde pode-se ter uma avaliação errônea de desidratação pelo turgor de pele aumentado. Por isso, nunca se utiliza apenas um parâmetro para avaliação de desidratação. No choque, o animal não consegue manter o DC. Qual fluido utilizar? São comumente usadas as soluções parenterais: Colóides (expansores plasmáticos – ocupam espaço) usados nos casos de reposição de proteínas, nos casos de hipoproteinemia, especialmente por perda de albumina. Indicados no caso em que haja uma [albumina] ≤ 2 g/dL. Promove a manutenção dos fluidos no leito vascular. A hipoproteinemia tende a promover os quadros de ascite. Em paciente em choque, indica-se o uso de colóide, visando manter o líquido no leito vascular, e depois usa-se um cristalóide para repor volume e eletrólitos. Os colóides mais utilizados: albumina 20%, hidroxietil-amido (Haes-steril), dextran 40 e 70, gelatinas (Hetastarcht, Haemacel e Hisocela 3,5%). No entanto, esses compostos são caros, dificilmente acessíveis aos proprietários. Cristalóides são utilizados para correção de alterações de volume, eletrólitos, níveis de energia, equilíbrio ácido-base). Os cristalóides mais utilizados: solução salina a 0,9% (NaCl 0,9%), ringer simples, ringer lactato, soro glicosado a 5%, solução hipertônica 7,5%. Quando não se tem colóides pode-se usar a solução hipertônica (sódio “puxa” a água para o leito vascular, porém é um efeito fugaz de ~ 40 min) e em seguida faz o cristalóide para repor volume. Vias de administração de fluido Via enteral (oral) – via sonda nasogástrica para equídeos, esofagostomia (evita o comprometimento do esôfago - equídeos com tétano, obstrução esofágica) e oro-ruminal para ruminantes. Via parenteral: compreende a via subcutânea, intravenosa, intraperitoneal, intraóssea. Qual a via de escolha? Vai depender do estado do animal e da condição patológica. Indicação do uso da via enteral (oral) o Manutenção ou desidratação leve o Presença de motilidade o Ausência de refluxo o Dose: 5 litros a cada 40 min. Dosagens mais agressivas (10 litros/30 min) pode ser utilizada em casos de compactação. Ter cuidado e atenção para evitar ruptura de estômago. A opção de manter a sonda aberta pode ser útil no caso de refluxo, entretanto, tende a promover entrada de ar. Esses soros são diluídos em água, podendo ser fornecidos um pouco aquecidos, em dias mais amenos. Fonte de energia: açúcar, dextrose e propilenoglicol. Indicação do uso das vias parenterais o Desidratação moderada a severa o Impedimento de absorção gastrointestinal o Ausência de motilidade o Endotoxemia o Doença renal aguda *Em ruminantes pode ser acessado o vaso na orelha para fluidoterapia no caso da jugular apresentar difícil acesso. Cálculo da quantidade a ser administrada Reposição ou déficit (VR) = % desidratação x peso (kg) Perdas atuais (VPA)= volume estimado das perdas (vômito, refluxo, diarréia) ou 50-70 ml/kg/dia. Manutenção diária (VDM) = necessidade diária de ingestão de água ou 50- 100ml/kg/dia *Para neonato considerar a manutenção de 100ml/kg/dia. Reposição deve ser realizada entre 2-4hs (preferencialmente em 2 horas a depender do quadro do paciente). Perdas e manutenção devem ser realizadas em torno de 12-24hs (dividir a fluido dentro desse período). Se fez a reposição em 24hs, faz as perdas + manutenção nas 20hs restantes, por exemplo. Exemplo: equino de 400kg com 8% de desidratação. Reposição (VR) = % desidratação x peso (kg)VR = 0,08 x 400 = 32 litros Manutenção (VDM) = 50-100ml/kg/dia VDM = 400 (peso) x 70 ml (taxa escolhida) = 28.000 ml 28 litros Quantidade total a ser administrada para esse animal = 32 + 28 = 60 litros. Velocidade de administração Via intravenosa (realizada em duas fases): o Rápida: de 2-4 horas (reposição) o Contínua: de 12-24 horas (manutenção e perdas) Via enteral o Equinos: 5-10 litros a cada 40 minutos. Para aumentar a fluido dentro do tempo necessário, canular duas veias. Muito cuidado com altos volumes em curto tempo!! Casos clínicos *5-10 litros a cada 40 min. Dados importantes Caso 2: Peso: 230 kg % desidratação: 8-9% Quantidade a ser administrada o VR = 18,4 - 20,7 litros o VPA = 11,5 -16,1 litros o VMD =11,5 - 23 litros Via de administração: IV (desidratação moderada) Velocidade de administração o Rápida: 19 l em 1-2 horas o Contínua: restante em 12-24 horas o Reavaliar!! *Na velocidade rápida, é ideal fazer metade da dose em pelo menos 1h. *Equipo macrogotas: 20 gotas = 1 ml; Equipo microgotas: 60 gotas = 1 ml. *Rápida: 19 l : 2 h = 9,5 l/h ou 9500 ml/h 9500 ml : 60 min = 158,3 ml/min x 20 gotas = 3166,7 gotas/min : 60 seg = ~53 gotas/seg. Nesses casos de volumes muito grandes, avalia a possibilidade que mensurar a quantidade em 5-10 min, considerando que são 158 ml/min. Nesse exemplo, daria 790 ml em 5 min ou 1,580 l em 10 min (~1,5 l em 10 min). *Contínua (apenas manutenção): 12 l : 24 hs = 0,5 l/h ou 500 ml/h 500ml : 60 min = 8,4 ml/min 8,4 ml x 20 gotas = 168 gotas/min : 60 seg = 3 gotas/seg. Dados importantes Caso 3: Peso: 450 kg % desidratação: 5-7% Quantidade a ser administrada o VR = 22,5-31,5 litros o VPA = sem perdas o VMD = 22,5 - 45 litros Via de administração: IV (baixa motilidade, via enteral não é boa escolha) Velocidade de administração o Rápida: 22,5 l em 2 horas (escolher qualquer volume dentro da faixa) ou 11,25 l em 1h (metade da dose) o Contínua: 45 l em 22 horas o Reavaliar!!! Rápida: 22,5 l : 2hs = 11,25 l/h ou 11250 ml/h : 60 min = 187,5 ml/min x 20 gotas = 3.750 gotas/min : 60 seg = 62,5 gotas/seg. Contínua: 45 l : 22 hs = 2,04 l/h ou 2045 ml/h : 60 min = 34,08 ml/min x 20 gotas = 681 gotas/min : 60 seg = ~10 gotas/seg No caso desse paciente, em decorrência da redução da motilidade, indica-se a transfaunação ruminal. Dados importantes Caso 4: Peso: 290 kg % desidratação: 8-9% (escolher a taxa) Quantidade a ser administrada o VR = 23,2-26,1 litros (na prova, escolher um valor dentro desse intervalo) o VMD = 14,5 - 29 litros Via de administração: IV Velocidade de administração o Rápida: 23,2 l em 2 horas o Contínua: restante em 22 horas o Reavaliar!!! Rápida: 23,2 l : 2hs = 11,6 l/h ou 11600 ml/h : 60 min = 193,3 ml/min x 20 gotas = 3866 gotas/min : 60 seg = 64,4 gotas/seg 64 gotas, considerando que 20 gotas é 1ml, vai dar 3,2 ml/seg. Contínua: 20,3 l : 22hs = 0,92 l/h ou 922 ml/h : 60 min = 15,36 ml/min x 20 gotas = 307 gotas/min : 60 = 5 gotas/seg Para quadro, indica-se realizar a terapia para rabdomiólise (exercício extenuante), para tanto, faz-se necessário aumentar a fluido até que a urina esteja mais diluída. DISTROFIAS CIRÚRGICAS São alterações em diferentes tecidos, decorrentes de perturbações nutricionais graves, devido a ações exógenas débeis e persistentes. Refere-se a um transtorno no metabolismo dos tecidos, reflexo de irritação constante sobre as células com inflamação crônica. Como sequela cicatricial estabelece a fibrose. São consideradas distrofias cirúrgicas: anquilose, higroma, úlceras, gangrena, fístula. Infecções cirúrgicas Infecção é o conjunto de manifestações locais e gerais que se desenvolvem pela presença e multiplicação de microrganismos nos tecidos. Ou seja, a infecção reflete uma resposta inflamatória a uma invasão por microrganismos. As infecções cirúrgicas podem ser do tipo: Bacteremia: presença de bactérias na circulação sistêmica. Normalmente vista só em cultura. o Não é toda infecção que terá bacteremia, pois nem toda infecção é causada por bactéria. Septicemia: termo usado anteriormente para dizer que o paciente tinha uma infecção generalizada. Refere-se a uma resposta sistêmica a infecção grave. Sepse x SIRS x Choque séptico x toxemia: são condições que se diferenciam de acordo ao estado em que se encontra o paciente. o Na sepse grave ocorre o comprometimento funcional de um ou mais órgãos, como resultado da hipoperfusão e hipotensão. o Nas condições de SIRS (Síndrome da resposta inflamatória sistêmica) pelo menos duas das condições abaixo serão observadas: Hipertermia ou hipotermia Taquicardia Taquipneia Baixa PaCO2 (Pressão de CO2) Leucocitose ou leucopenia ou aumento > 10% de formas jovens *FC e FR são parâmetros variáveis (estresse, ambiente novo), por isso, deve-se reavaliar em torno de meia hora após a chegada do paciente. O choque séptico é caracterizado por hipotensão não responsiva a fluidoterapia intravenosa, cursando com anormalidades de perfusão. Pacientes com Síndrome da disfunção orgânica múltipla apresentam função orgânica alterada e processo de homeostase comprometida. Geralmente cursa com óbito. Fatores de risco para instalar uma infecção Fatores relacionado ao paciente o resposta imune individual (paciente hígido) em contato com um patógeno = debelação da infecção o idade (atenção aos jovens e idosos) o infecções concomitantes o fêmeas em cirurgia ortopédica (predisposição maior por condições hormonais) o estado corporal (equinos maiores de 300kg tem risco aumentado de hérnia incisional e contaminação de ferida). o falha da imunidade passiva. o uso de corticóides (impede a diapedese para os leucócitos chegarem ao foco). Fatores relacionados ao microrganismos o quantidade de bactérias (105 bactéria/g de tecido) o local da infecção: local mais irrigado x pouco irrigado o virulência o capacidade de evasão do sistema imune Fatores relacionados a cirurgia o Se eletiva ou de emergência o Duração da cirurgia (exposição prolongada do campo operatório) o Quanto maior a lesão tecidual, maior o campo de infecção o Os tipos de fios de sutura que absorvem água propiciam maior possibilidade de infecção o Mecanismos de supressão de defesas, como a perda de sangue. o Higienização prévia do paciente o Tricotomia ampla, imediatamente antes do procedimento o Uso de antissépticos o Uso da técnica operatória correta (técnica, instrumental, incisão, fios adequados o Tempo de hospitalização (quanto maior o tempo, maior a possibilidade de infecção). ABCESSOS Processo de natureza purulenta circunscrita e cujo conteúdo encontra-se em uma cavidade neoformada, recoberta por uma membrana de tecido inflamatório (membrana piogênica). Localiza-se em qualquer tecido, exceto dentário, ósseo e cartilaginoso. O abcesso é uma forma que o organismo tem de isolar algo que não seja próprio e conter uma infecção, a partir do encapsulamento do agente infeccioso. O abcesso está ligado a agentes piogênicos, sendo mais comuns Staphylococcus, Streptococcus, Corynebacterium. Penetram através de macro ou micro traumas das mais variadas formas, contudo, seu desenvolvimento está relacionado com: estado geral do hospedeiro, idade, virulência e presença de corpo estranho. Nesse sentido, o objetivo da formação do abcesso é a eliminação do agente etiológico (normalmente bactérias piogênicas de origem infecciosa e corpo estranho). Os abcessos são classificados: Quanto ao tipo: A – agudo ou quente B – crônico ou frio Quanto a localização: A - Superficial B –Profundo (pode necessitar de equipamentos para localização) Quanto a evolução: A – Maduros (em ponto de flutuação) B - Imaturos *Processos agudosnormalmente não são levados imediatamente para cirurgia, a não ser que comprometa a função orgânica do indivíduo. O ideal é aguardar a maturação (fase de flutuação) para drenar ou remover. *Pode haver alopecia na região dos abcessos, em decorrência da maturação do mesmo. Abscesso fistulado significa que o organismo está tentando expulsar o agente causador. Sintomas Variam conforme a fase, mas normalmente podem ser observados aumento de volume (tumoração), edema, dor/calor/rubor, febre, anorexia, sepse. A fístula pode ou não estar presente. Abscessos se diferenciam de empiema (coleção de pus no interior de uma cavidade corpórea, diferente do abscesso que provém de uma cavidade não formada, mas é se forma durante o processo de resposta a infecção). Diagnóstico Consiste na avaliação da localização, se superficial ou profundo, visualização da área afetada, palpação (pode perceber flutuação que é um sinal de maturação, indicando a possibilidade de ser drenado ou removido), achados clínicos gerais e locais. Pode-se realizar USG, punção asséptica (cultura), necropsia (pós mortem), celiotomia exploratória. Tratamento clínico Consiste na terapia de suporte com uso de antibióticos, AINEs, compresas quentes ou pomadas iodetadas para acelerar a maturação do abcesso, e drenagem. No entanto, boa parte dos antibióticos não é capaz de penetrar na cápsula formada no abcesso, mas pode ser utilizado como profilático para evitar outros abcessos Após a drenagem indica-se a retirada da cápsula (curetagem da cápsula) para impedir a formação de novos abcessos. Tratamento cirúrgico Consiste na remoção cirúrgica do abcesso. Realiza uma incisão em forma elíptica, drena e realiza a curetagem, ou realiza exérese do abcesso sem romper a cápsula/membrana piogênica. A cicatrização do abcesso deve se dar de dentro pra fora, isso é favorecido pela incisão elíptica, ao contrário da incisão retilínea, que promove a cicatrização superficial primeiro. Uso de agentes antissépticos (produtos a base de iodo são mais indicados). Antibioticoterapia, dependendo da gravidade e localização. Complicações: Sepse Prognóstico: em geral é bom, porém, depende do local e da evolução do caso. FLEGMÃO Processo infeccioso de teciso conjuntivo sem a tendência a circunscrever-se. Estão presentes nesse processo, pus e tecido necrótico. Não se encontra delimitado por uma cavidade. Está associado a agentes bacterianos de natureza piogênica (abcessos) + fatores predisponentes. Sinais Clínicos Aumento de volume local Presença de secreção purulenta Hiperemia/ rubor/ calor Edema dor Sintomas Pele túrgida Edemaciação (superfície brilhante) Calor Aumento da sensibilidade (pode ocorrer linfagites e adenites) Claudicação Diagnóstico Clínico: a partir da visualização da área afetada Punção Raio-X Tratamento Remoção cirúrgica: consiste no debridamento cirúrgico do tecido afetado em forma de V. Usa-se torniquete (até 40 min) para reduzir hemorragia, e anestesia de Bier. No pós-operatório realizar curativo compressivo, agentes antissépticos, e terapia de suporte com AINEs e antibióticos. Complicações: necrose tissular extensa que resulta em sepse. Prognóstico: é variável, irá depender da extensão da lesão, bem como do comprometimento, podendo levar o animal ao óbito. Diferenciar!! Abcesso: coleção de pus em cavidade neoformada por necrose liquefativa em uma inflamação purulenta. Flegmão: difusão do exsudato purulento infiltrando-se no tecido conjuntivo frouxo adjacente ao local inflamado do tecido sem formação de cavidade. Empiema: acúmulo de pus em cavidades naturais do corpo (ex. piometra – acúmulo de pus em útero). ANQUILOSE Consiste na diminuição ou impossibilidade absoluta de movimentos de uma articulação naturalmente móvel. Pode ser completa ou parcial. É oriunda da inflamação das estruturas musculares ou tendinosas fora da articulação ou dos tecidos da própria articulação. Anquilose X Artrodese Artrodese compreende a fusão cirúrgica de uma articulação com a finalidade de formar uma anquilose rígida (a artrodese é uma anquilose provocada cirurgicamente). Articulação normal Articulação com anquilose HIGROMA Refere-se ao espessamento da cápsula de bolsas serosas com alteração do líquido contido em seu interior. São considerados como pseudocistos pois não possuem revestimento epitelial ou sinovial. O líquido que consta no interior é similar ao transudado sérico. Sintomas Aumento de volume na região, flutuante e indolor. Tratamento Tratar a causa primária (piso, stress). Realizar a remoção cirúrgica. Punção e administração de corticoide (por ser uma inflamação crônca). ÚLCERAS Compreende uma solução de continuidade superficial, típica de epitélios de revestimento (pele e mucosas). Gera degeneração, descamação epitelial e necrose profunda com perda de substância que não evoluem para a cicatrização, tendendo a persistir ou progredir. Úlceras da mucosa ao atingir a submucosa ocasionam hemorragias. É causada por fatores: Predisponentes (geral): decorre de debilidade orgânica/ tecidual. Ex: anemia, desnutrição, doenças infecciosas, estresse, uremia, infecções e parasitas, tumores, etc. Determinantes (local): irritações, agressões constantes ao tecido (mecânicas ou químicas), atrito, arreios, roçar sobre superfícies ásperas, compressão tecidual resultado de decúbito prolongado, associado ao peso dos animais, e agentesquímicos. Sinais clínicos Afeta as funções a depender da localização (membros, boca). Diagnóstico É dado a partir da queixa principal e achados clínicos; Visualização da lesão ulcerativa; Endoscopia. Tratamento clínico Consiste na remoção da causa primária (uso de antisséptico local, antibioticoterapia, anti- inflamatório. Tratamento cirúrgico Debridamento cirúrgico – curetar e debridar o tecido necrosado. Complicações: Está relacionada ao local afetado e a extensão da lesão. Prognóstico: Geralmente bom. GANGRENA Consiste na interferência no suprimento sanguíneo em um determinado local, o que pode decorrer de pressão externa ou edema grave da pele, ou ainda de lesão por toxinas bacterianas. A pressão externa não se refere apenas a trauma, mas toda vez que se faz um garrote, há interferência do suprimento sanguíneo na região. No entanto, essa interferência ocorre por um espaço curto de tempo (ideal de 40 min a 1 hora, mas prezar sempre pelo menor tempo), e sob uma pressão suficiente apenas para conter possíveis hemorragias durante um procedimento cirúrgico. Dessa forma, quando se tem um trauma e desenvolve a gangrena, essa interferência no suprimento sanguíneo ocorreu por um tempo muito longo ou a pressão foi intensa. Consiste num processo necrosante, haja vista que a ausência de suprimento sanguíneo leva a morte celular por apoptose por falta de oxigênio e nutrientes. Caracteriza-se, portanto, pela perda de vitalidade dos tecidos, podendo ou não, sofrer infecção, acarretando em putrefação. Sintomas gerais Hipertermia Taquicardia Efeitos tóxicos/ sépticos Edema (a depender da localização) *Na veterinária é mais comum a gangrena gasosa (contaminação de áreas de administração de medicamentos sem a devida antissepsia; trauma por arame farpado sem o devido cuidado). Diagnóstico Clínico Visibilização das lesões Alteração da coloração Resfriamento Ausência de sensibilidade na área acometida. Tratamento clínico: consiste em tratar a causa primária, uso de antibioticoterapia, limpeza do local com antissépticos e água oxigenada (considerando que normalmente a causa está relacionada a microrganismos que se proliferam na ausência de oxigênio – anaeróbios), e aterapia de suporte para seguir para a cirurgia. Tratamento cirúrgico: realizar o debridamento cirúrgico do tecido necrosado e desvitalizado, ou pode haver necessidade de amputação de órgão/ membro. Prognóstico: é bom, se a lesão estiver limitada apenas à pele e subcutâneo, sendo de pequena extensão. Quando se trata de lesões gangrenosas em extremidades (membros) que requerem a amputação, tem-se um prognóstico reservado a desfavorável, pois envolve questões de manejo, custo do procedimento e manutenção de um animal debilitado. FÍSTULAS Consiste no trajeto acidental que permite a passagem de líquidos fisiológicos (fístulas secretórias/excretórias – saliva, leite, urina, etc) ou patológicos (fístulas purulentas – pus), impedindo a cicatrização. As fístulas secretórias são formadas a partir de feridas ou inflamações de condutos ou glândulas, determinando a passagem de líquidos fisiológicos por trajeto acidental. Já as fistulas purulentas indicam a presença de corpos estranhos na intimidade dos tecidos, determinando a infecção e impedindo a cicatrização. Muitos abcessos que criam um caminho para o ambiente externo, evoluem para fístulas. As fístulas são compostas por: Orifício ou borda: geralmente circular com bordos endurecidos por onde flui os líquidos. Trajeto: caminho de tecido conjuntivo que se epidermiza após a fase inflamatória, podendo ser reto ou sinuoso. Fundo: extremidade do trajeto. Geralmente onde se encontra o corpo estranho ou abcesso. Sinais clínicos: vão depender da localização e da origem. Pode-se observar secreção fluindo de um orifício não natural. Diagnóstico: presença de orifício ou regiões próximas permanentemente umedecido, sondagem (sonda uretral), fistulografia (raio-x com contraste), USG, cultura e antibiograma. Em cavalos as fistulas paranasais estão associadas a abcessos dentários em mais de 50% dos casos. Tratamento cirúrgico Fístulas secretórias (fisiológicas): buscar remover a causa primária, restabelecer o acesso normal da secreção, e abolir a função glandular, quando esta não é mais necessária ou quando já se tentou o restabelecimento, e não alcançou a cura da fístula. A mastectomia é uma opção ou uso de produtos cáusticos como iodo, formol, sulfato de cobre. Fistulas purulentas(patológicas): remoção da causa com ressecção do trajeto, remoção do corpo estranho se houver, uso de antissépticos e antibióticos para evitar recorrência. Incisão em elipse, divulsão romba de todo o trajeto da fístula até o fundo, onde realiza a remoção em bloco. Complicações: infecção nos casos de fístulas patológicas, saída da atividade mesmo que temporária, recorrência da fístula, cuidados odontológicos no caso de fístulas dentárias. As complicações cirúrgicas são variáveis, a depender do caso. Prognóstico: fístulas superficiais costumam ter prognóstico bom. Fístulas abdominais associadas a abcessos apresentam prognóstico reservado (peritonite, sepse) PARATOPIAS EM GRANDES ANIMAIS Diz respeito a qualquer deslocação de órgão ou membro do seu local de origem. As principais paratopias que acometem os grandes animais são: EVENTRAÇÃO: consiste de ampla abertura da parede abdominal com a saída de vísceras da cavidade. São normalmente recobertas por pele ou peritônio. Desconfia-se de eventração quando se tem aumento de volume em região abdominal. No entanto, esta deve ser diferenciada das hérnias, as quais possuem características peculiares (os elementos que a compõem). EVISCERAÇÃO: consiste na exposição de vísceras decorrente da deiscência de suturas, alterações em pós operatório ou por ferida perfurante (chifres, estacas, instrumentos perfuro- cortantes). A evisceração deve ser diferenciada de prolapso, que constitui a saída de vísceras por meio de orifícios naturais. HÉRNIA: compreende a saída ou projeção de um órgão ou parte dele, de sua cavidade natural através de abertura congênita ou adquirida. O conteúdo herniário não tem contato com exterior. A ocorrência dessa paratopia gira em torno de 10%. São classificadas quanto a: 1. Localização anatômica o Umbilical o Inguinal/inguino-escrotal o Perineal o Diafragmática o Abdominal o Incisional Hérnia abdominal Hérnia inguino-escrotal 2. Conforme a estrutura o A hérnia é composta por anel, saco e conteúdo herniários. o Não é hérnia quando falta algum desses elementos. 3. Conforme alteração funcional o Hérnia redutíveis o conteúdo pode ser reposto à cavidade de origemvpor compressão. A cirurgia é feita apenas para fechar o anel herniário. o Hérnias irredutíveis aderências, dilatação, encarceramento ou inflamação de conteúdo. Não se consegue a reposição sem a cirurgia. Hérnia estrangulada: compreende um quadro grave. Ocorre uma constrição sobre as vísceras herniadas, o que compromete a irrigação sanguínea. Apresenta as fases de inflamação, congestão e grangrena. O anel herniário começa a fazer constrição do tecido que compõe a hérnia. As hérnias em equídeos são mais agudas (desenvolvimento mais rápido) do que em ruminantes. Etiologia das hérnias Provém de um defeito que associado a fatores predisponentes, como espécie, raça, idade, promovem a hérnia. Regiões anatomicamente frágeis: umbigo, fundo da pelve, anéis inguinais externos, diafragma Em grandes animais, a maior casuística é de hérnia umbilical e inguino-escrotal. O Mangalarga machador tem uma predisposição as hérnias perineiais. Essas também são mais comuns em animais mais velhos. Animais em idade reprodutiva são mais predispostos as inguino-escrotais. Os fatores predisponentes variam conforme gênero (algumas hérnias acometem apenas machos); tipo da atividade realizada pelo animal; fatores hereditários (filhos de animais que tiveram hérnia, podem desenvolver), além do aumento da pressão abdominal (tosse, tenesmo, prenhez, cobertura, trabalhos pesados, ascite). Sinais clínicos Consiste em sinais de dor abdominal, que podem se confundir com cólica, a depender da localização; apatia; depressão; dificuldade respiratória; hipertermia; aumento de uma bolsa escrotal, com alteração de temperatura. Diagnóstico Inspeção: normalmente observa-se aparecimento lento ou brusco, com aumento de volume em região anatomicamente conhecida como fraca. Pode ser de aparecimento intermitente. Palpação: pesquisar os elementos de formação da hérnia (anel, saco e conteúdo herniários). Auscultação de borborigmos. A ausência de borborigmos associado a região fria, são sinais de falta de vitalidade das estruturas localizadas no saco herniário. Exames de imagem: radiografia e ultrassonografia. Evitar punção!! Prognóstico Varia de bom a reservado, a depender do quadro (tempo de evolução, características locais e da própria hérnia). Sempre é possível ocorrer complicações! As hérnias inguinais e as inguino-escrotais podem estar mais associadas a questões genéticas. Hérnia inguino-escrotal em potros é comum, e é de auto-resolução, sendo realizada a correção somente se avaliar necessidade. Para as hérnias hereditárias, indica-se castração para não perpetuação da paratopia. Tratamento É de ordem emergencial a partir da reposição hidroeletrolítica, terapia antimicrobiana, terapia de choque, e realizar a cirurgia imediata, assim que possível. O tratamento visa a redução dos órgãos herniados e manutenção definitiva destes na cavidade de origem (reconstituição do defeito). O tratamento conservativo consiste no uso de bandagens e faixas elásticas, no entanto, possui pouca eficácia. O tratamento cirúrgico necessita do jejum prévio, tricotomia ampla, antissepsia, analgesia geral e local. No tratamento de hérnias diafragmáticas é indicada a anestesia geral inalatória. Técnica de Herniorrafia com técnica de sobreposição de Mayo (imbricação lateral oujaquetão) em grandes animais 1. Incisão e divulsão do saco herniário Incisão cutânea em elipse ou meia lua (para defeitos menores). Divulsão do saco herniário até o anel, quando não redutíveis. Cuidado para não romper as vísceras dentro do saco. 2. Redução do saco herniário Para as hérnias redutíveis, a redução pode ser realizada de forma aberta ou fechada. No caso de redução fechada, devolve o conteúdo para o local de origem e fecha o anel herniário. A redução aberta é normalmente realizada em casos de complicações. Deve-se realizar a inspeção/avaliação das vísceras herniadas. Procedimento realizado com anestesia geral. Hérnia inguino-escrotal em garanhão, sempre fazer aberta! Nos casos de hérnias estranguladas, deve-se ter cuidado com os órgãos necrosados para que não se tenha rupturas, devido a liberação de radicais livres e outros produtos tóxicos, resultando em um quadro de endotoxemia. 3. Fechamento do anel herniário Algumas literaturas indicam a retirada da parte fibrosa do anel herniário antes da rafia, para evitar recidiva. Outras literaturas indicam a manutenção da parte fibrosa, sendo mais seguro para fazer a rafia. Antes do fechamento do anel, faz-se a reconstituição da cavidade, após isso, o fechamento se dá com padrão de sutura de sobreposição d Mayo ou Jaquetão com fio inabsorvível. 4. Sutura de pele Faz redução do espaço morto com padrão zigue-zague com fio inabsorvível. Sutura de subcutâneo com fio absorvível (poliglactina 910). E fecha a pele com sutura simples separada com fio inabsorvível (poliamida/nylon). Uso de telas Existem telas absorvíveis e inabsorvíveis de diferentes materiais e tamanhos. Para grandes animais há dificuldade quanto a tamanho muito grandes, uma vez que são adaptadas as telas de uso humano, e muitos defeitos podem ser maiores. São indicadas em hérnias incisionais, defeito herniário muito grande e hérnias recorrentes. Em equinos, a técnica de ancoragem da tela a musculatura externa é a mais indicada, dá mais segurança se houver deiscência de sutura. Pós-operatório O uso de bandagem é questionável, usada mais para proteção da ferida cirúrgica, mas não no intuito de reduzir pressão abdominal. Requer repouso para evitar deiscência de sutura e evisceração, e o paciente será liberado para atividade somente após 60 dias. Uso de tela pode causar edema maior, pela presença de um corpo estranho. Curativo local diário com limpeza com soro fisiológico e gaze. Uso de flunixin meglumine (AINE) 1,1mg/kg (equinos)/ 2,2 mg/kg (ruminantes). Antibioticoterapia Terapia de suporte (fluidoterapia). Remoção dos pontos após 10 dias. TRAUMATOLOGIA EM GRANDES ANIMAIS Traumatismo é o mesmo que ferida. Consiste numa lesão ou ferida mais ou menos extensa, produzida por ação violenta, de natureza física ou química, externa ao organismo. O traumatismo se caracteriza como uma solução de continuidade produzida por ação traumática, podendo ser acidental, deliberada (próprio homem causa, tem a intensão) ou cirúrgica (correção/ tratamento cirúrgico). Cicatrização de feridas Corresponde a necessidade de reestabelecer a continuidade do tecido afetado. Nas imagens observa-se retração da ferida no sentido de reduzir a aérea lesionada e reepitelização (caracterizada pelo tecido mais rosinha pálido). Classificação de feridas (Livro Cirurgia Equina) a. Quanto aos planos Superficiais/ simples: envolvem apenas as camadas mais superficiais. Profundas/ compostas: envolvem camadas mais profundas (tendão, ligamentos mais profundos, músculos, exposição de ossos). b. Quanto ao grau de contaminação Limpas: são normalmente as feridas cirúrgicas, desde que não envolvam a abertura de sistemas respiratório, genito-urinário, digestório e orofaringe, sem falhas nas técnicas de assepsia. Essas feridas apresentam uma taxa de infecção de 1-5%. Limpas contaminadas: são aquelas que ocorreram a menos de 4 horas (ou até 6 horas), sem sujidades, ou cirúrgicas que envolvam sistemas respiratório, genito-urinário e digestório. A taxa de infecção dessas feridas é de 3-11%. Contaminadas: aquelas que ocorreram a mais de 4 horas, ou que decorreram de falhas nas técnicas de assepsia, ou extravasamento de conteúdo digestório. Se fere a traumas recentes, sem presença de inflamação purulenta, e há sujidades (área, material de cama, fezes ou urina). *A taxa de infecção nessas categorias é de até 1 x 105 bactérias/g/tecido. Infectadas/ Sujas: decorridas mais de 12 horas, com evidente foco de infecção bacteriana aguda, supuração. Decorre de traumas com presença de tecido desvitalizado, pode ser observado corpo estranho local, pode haver contaminação fecal. As mordidas de cães se enquadram nessa categoria, mesmo que recentes. A taxa de infecção é alta. *A taxa de infecção nessa categoria é acima de 1 x 105 bactérias/g/tecido. c. Quanto a apresentação clínico-cirúrgica Fechada: compreende uma ferida contusa. A pele e mucosa estão lesionadas, mas com aparente integridade. Ex: hematomas. Aberta: são feridas penetrantes, perfurantes ou punctórias; incisas ou laceradas. Outras envolvem feridas por acidente por animais peçonhentos (ofídico) e feridas de arma de fogo. Ocorre exposição de tecido e/ou órgãos. o Ferida aberta penetrante: normalmente se observa uma solução de continuidade da pele e tecidos adjacentes. Pode alcançar cavidades, perfuração de vísceras, provocando evisceração. o Ferida aberta punctória: provocada por objetos perfurantes como pregos, cravos, espetos. Pode ser uma ferida profunda com uma pequena abertura superficial. o Ferida aberta incisa: ferida linear com bordas regulares, provocada por objetos cortantes (faca, facão, bisturi). o Ferida aberta lacerada: bordas irregulares, pode haver avulsão (arame liso promove avulsão), causada por objetos pontiagudos cortantes. Cicatrização de lesões A cicatrização é o processo de cura de lesões teciduais e pode ocorrer por regeneração ou reparação. Regeneração: o tecido morto é substituído por outro morfologicamente idêntico. Reparação: um tecido neoformado, originado do estroma (conjuntivo ou glia), substitui o tecido perdido. Na reparação ocorre perda de função (tendões são comuns sofrerem reparação quando lesados, havendo fibrose e perda da elasticidade natural). Objetivo da cicatrização Completar a cicatrização dos tecidos lesionados, se possível, sem qualquer sequela estética ou funcional. Fases da cicatrização 1ª fase: FASE AGUDA DA INFLAMAÇÃO: ocorre o recrutamento de células inflamatórias e mediadores químicos, os sinais de inflamação (calor, rubor, dor, edema). Os neutrófilos são os primeiros a chegar, depois observa-se a migração de monócitos macrófagos. Perdura por até 3 dias. 2ª fase: FASE PROLIFERATIVA: inicia em torno de 24-48hs e perdura por3 a 14 dias. Caracteriza- se pela síntese de colágeno a partir dos fibroblastos e proliferação do tecido de granulação. Nota-se a reepitelização, neoangiogênese. Predomínio de fibroblastos e macrófagos. O tecido de granulação exuberante é um problema para feridas em equinos, pois tendem a formar muito tecido de granulação. 3ª fase: FASE DE REMODELAMENTO: inicia com 7-10 dias. Marcada pelo decréscimo da síntese de colágeno, mas aumento de sua densidade promovendo o aumento da força tênsil. Observa-se redução da neoangiogênese, ocorre epitelização e contração da ferida. A depender do tecido afetado, a terceira fase por durar mais de 1 ano. Tipos de cicatrização Cicatrização por 1ª intenção: se dá a partir da realização de suturas (rafia de pele), no intuito de reduzir o tempo de cicatrização com o menor dano possível. A cicatrização por 1ª intenção deve ser realizada em feridas não infectadas, feridas cirúrgicas, comprogresso de até 4 horas. Cicatrização por 2ª intenção: feridas que não são suturadas, por ser contaminadas, com progressão de mais de 4 horas, ou feridas cirúrgicas que desenvolveram necrose ou deiscência de sutura. A exceção é para situações de exposição de órgãos e tecidos que não podem ficar expostos ou que apresentam cicatrização difícil (periósteo, tendões, bainhas de nervos). Cicatrização por 3ª intenção: mantém a cicatrização primária por 2ª intenção e posteriormente sutura, em casos que a cicatrização aberta não foi totalmente possível pela extensão, ou mesmo pela impossibilidade de manter a ferida aberta. Fatores que interferem na cicatrização Regiões de muita movimentação, como as articulações; Presença de infecção/infestação; Presença de corpo estranho; Tecido necrosado; Áreas de diminuição do suprimento sanguíneo e oxigenação; Idade (redução de fatores de cicatrização e de síntese de colágeno); Formação de granulação excessiva (inviabiliza a fase final da cicatrização); Presença de hematomas (sangue é ambiente propicio para infecção). Ocorrência As feridas são muito frequente na clínica de grandes animais, principalmente em equinos. Afeta ambos os gêneros, sendo mais comum em animais com até 2 anos. Cerca de 49% apresentam lesões com mais de 7 dias. As feridas mais frequentes são em membros, principalmente os torácicos, sendo mais comum os acidentes com arame farpado ou liso. Tratamento Objetivos básicos: Tornar a ferida limpa Remover tecidos desvitalizados e sujidades Orientar a cicatrização (dar as melhores condições para que o organismo consiga completar a cicatrização). Medidas gerais: Contenção adequada para segurança do paciente e de quem irá manipular. Se necessário realizar tranquilização/ sedação/ anestesiar (se possível) Uso de analgésicos e anestésicos locais, pois pode haver muita dor. Uso de bloqueios regionais é bastante eficiente, especialmente em membros. Realizar a manipulação adequada, visando minimizar os riscos. Controle da hemorragia Tricotomia ampla Lavagem da ferida (ferida cirúrgica sempre limpar com solução estéril. Já feridas contaminadas podem ser limpas com água potável e sabão neutro). Explorar a ferida para identificação de estruturas acometidas e viabilidade das mesmas. Debridamento com remoção completa de tecidos desvitalizados, no intuito de combater ou prevenir infecções. Irrigação em jatos (inferior a 75%) promove a limpeza mecânica. Fase 3 da cicatrização, com presença de reepitelização na parte superior da ferida (mais clarinha). Fechamento da ferida Transcorreu-se + 4 horas suturar Transcorridas 4-12 horas suturar e colocar dreno Feridas sujas combater a infecção (uso de açúcar a cada 6-12hs) e tratar como ferida por 2ª intenção. Tratamento por 1ª intenção Faz-se a rafia das estruturas acometidas, com uso de fios (calibre e tipos) adequados. O padrão de sutura vai depender do local/ órgão. A bandagem é opcional, mas configura como uma forma de comprimir a ferida, evitando formação de seroma, além de agir como proteção da ferida. Os materiais comumente utilizados são: agulhas de sutura ou fios agulhados (0 em diante), poliglactina 910, mononylon, supramid, grampos e colas. Tratamento por 2ª intenção Lavagem abundante da ferida com Ringer lactato ou NaCl 0,9% Clorexidine; Líquido de Dakin (água + água sanitária) algumas literaturas não indicam, mas pode ser útil em feridas purulentas. Água Oxigenada para feridas profundas que podem desenvolver bactérias anaeróbias. Debridamento com remoção completa de tecidos desvitalizados, no intuito de combater ou prevenir infecções. Manter protegido de moscas e insetos. Bandagem compressiva ou para proteção. Pomadas e soluções tópicas (não colocar diretamente na ferida, e sim, ao redor, exceto nos casos de infecção ou desidratação da ferida) – furanil. alantol, vetaglos, nebacetin. Nivelamento da ferida (o conteúdo da ferida não pode ultrapassar o nível das bordas da ferida Em casos de feridas profundas, aplicar açúcar ou infravermelho. Em casos de tecido exuberante discreto, usa-se: solução quelante, licor de vilate, sulfato de cobre, albocresil. Sulfato de cobre é uma opção mais eficiente em lesão com muito tecido de granulação. Proteger sempre os tecidos sadios e usar bandagem compressiva. O manejo cirúrgico consiste na remoção da massa formada, uso de criocirurgia (nitrogênio líquido) ou cauterização por ferro quente. Para evitar nova formação de tecido de granulação, fazer bandagens compressivas e usar produtos quelantes. Tratamento por 3ª intenção O fechamento primário ocorre de forma tardio por conta de edemas e/ou infecção. Curativos Deve-se ter cuidado com a frequência de troca de curativos para evitar propagação bacteriana. O tipo de curativo vai variar conforme a ferida. No curativo úmido deve ser feita a troca frequente, para evitar a proliferação bacteriana. Outros curativos podem ser trocados em até 2 dias, ou pelo menos uma vez ao dia. A bandagem pode ser utilizada sempre que a região permita, como proteção contra contaminação e para compressão em determinadas feridas. Quando não usar bandagem, aplicar repelente em torno da ferida para evitar miíase. Não esfregar a ferida para evitar abrasão e formação de tecido de granulação, a não ser que seja o objetivo. A gaze deve ser pressionada e retirada, nunca esfregada. Os enxertos em forma de “ilha” não são eficientes em grandes animais, como em pequenos ou humanos. Nesses enxertos a cicatrização é por segunda intenção. Uso de membranas em equinos nem sempre se tem sucesso. As membranas podem ser biológicas: pericárdio bovino em glicerina; membrana amniótica em glicerina. Membranas sintéticas: hidrogel, quitosana Não pode haver infecção da ferida para uso de membranas, mesmo que estas tenham antibiótico, pois pode haver resistência bacteriana. Terapias complementares USG terapêutico Laserterapia Shock-wave Ozônio (trabalha com infecção também, as demais atuam no edema, cicatrização). Estudos apontam que pomadas e soluções na ferida, retardam a cicatrização. Não deve colocar nada em cima da ferida. O segredo é manter a ferida sempre limpa. Antibioticoterapia parenteral É dispensável em feridas limpas. Profilático nos casos de ferida limpa contaminada. Terapêutico nos casos de feridas contaminadas. Fazer cultura e antibiograma. Uso de soro antitetânico. Diagnóstico diferencial: feridas com tecido de granulação exuberante. Habronemose, ptiose, sarcoide e CCE. CONTUSÃO Compreende uma lesão produzida por golpe ou impacto, sem causar dilaceração ou ruptura da pele. Geralmente ocorre ruptura estruturas vasculares e presença de hematomas. ENTORSE Consiste em lesão dos ligamentos articulares devido à distensão ou torção brusca, sem deslocamento das superfícies articulares. Quando se tem o deslocamento das superfícies articulares trata-se de luxação. É causada por fatores predisponentes associados à causas determinantes. Fatores predisponentes Idade (animais mais jovens ou muito velhos têm frouxidão dos ligamentos) Temperamento do animal (animais arrepios, que não toleram manuseio). Hipoproteinemia (causa falhas de síntese proteica, fechamento de epífise) Fatores determinantes Exercícios em locais acidentados, facilitam a ocorrência de lesão. Contrações ou pressões bruscas da articulação (transporte) Sinais clínicos Instabilidade da articulação, normalmente variável de acordo com o grau da lesão. Graus 1° grau: Lesão mínima, estiramento. 2° grau: Lesão muito grande, ruptura parcial de ligamentos. 3° grau: Lesão grave, ruptura total de um ou mais ligamentos. Diagnóstico Se dá a partir da queixa principal, associada ao histórico,anamnese, exame físico, e exames complementares como raio-x e ultrassom (principalmente,por se tratar de estruturas de tecidos moles). O diagnóstico diferencial se dá para luxação e subluxação. Tratamento clínico: depende do grau da lesão, e pode ser usado anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e analgésicos por cerca de 3-5 dias, imobilização (10-30 dias) e repouso. Reavaliação. Tratamento cirúrgico: pacientes em grau 2 ou 3. Realiza-se artrocentese(procedimento asséptico, mas pode ser realizado na clínica), cartilografia (raio-x constratado da articulação), tenorrafia e desmorrafia (procedimentos cirúrgicos propriamente dito). A tenorrafia consiste na manobra de sutura de tendões, é feita em padrão de sutura loop-loop (duas voltas), sendo que técnica de escolha (imagem). O fio é normalmente inabsorvível. Pós operatório: consiste no uso de AINEs, analgésicos, imobilização, repouso, fisioterapia (infinidade de técnicas adequadas às lesões em grandes animais) e antibioticoterapia (local e/ou sistêmica quando se tratar de lesões abertas associadas com foco de infecção). Complicações: podem ocorrer sempre e são variáveis de acordo com o grau da lesão Prognóstico: grau 1, normalmente é bom. Nas de grau 3 prognóstico é alta. LUXAÇÃO Consiste na perda total do contato entre as superfícies articulares. Existe a subluxação que consiste na perda parcial do contato, onde a progressão desta resulta na luxação. No entanto, a depender da literatura, pode-se considerar qualquer perda de contato como uma luxação. Os fatores predisponentes envolvem instabilidade da articulação (pode ter predisposição genética), e a ação da relaxina em fêmeas, principalmente na fase pré-parto, promovendo o relaxamento dos ligamentos da articulação.O entorse em qualquer grau já predispõe a luxação. *Ideal, em raças predisponentes, fazer uso de estabilizadores articulares como medida preventiva. Já os fatores determinantes consistem em qualquer trauma agudo. A luxação apresenta como causa uma lesão ou ruptura de cápsula articular com perda de contato total ou parcial das superfícies articulares. Sinais clínicos É variável, mas normalmente se observa edema em região articular acometida e claudicação (não necessariamente por dor, mas pela própria instabilidade articular). Diagnóstico Se dar a partir da queixa principal, associada ao histórico, anamnese, exame físico, palpação da articulação acometida, raio-x e ultrassom (avaliação de tecidos moles acometidos). O diagnóstico diferencial se dá para fraturas intrarticulares e periarticulares, que se apresentam com sinais semelhantes. Tratamento clínico Anestesia geral para reposicionamento, quando ocorrer logo e se certificar que não é uma fratura; imobilização por 10-30 dias. Após esse período reavalia. Tratamento cirúrgico Consiste na abertura da cápsula, seguida da recondução/ reposicionamento da articulação, reconstrução da cápsula e rafia de ligamentos e tendões. *Para entorses e luxações crônicas em articulações de movimento restrito, indica-se a artrodese. Pós-operatório Uso de AINEs, analgésicos, imobilização, repouso, fisioterapia e antibioticoterapia (durante a manipulação articular sistêmica e intra articular, podendo associar a antibioticoterapia sistêmica pós-operatória), eliminando a possibilidade de haver infecção. Complicações: são comuns, especialmente em pacientes cirúrgicos, que são mais severas, pela manipulação articular, podendo causar infecção local (artrite séptica). Prognóstico É variável a depender do tempo do trauma e do grau de lesão, podendo ser desfavorável, nos casos mais graves de ruptura da cápsula articular, ruptura dos ligamentos colaterais e tendões, sendo um quadro de recuperação complicada. FRATURA Trata-se de uma solução de continuidade/ perda da continuidade do osso. É uma afecção bastante comum na clínica cirúrgica de grandes animais, podendo ser de grande complexidade. Para diagnóstico requer exame ortopédico completo, avaliação do estado geral (dor?), posição (consegue se manter em estação ou não, está em decúbito?), comportamento do paciente (a agitação é comum após um episódio traumático que incorra em fratura), assimetria (avaliar o membro contralateral a lesão, normalmente se percebe a assimetria), alterações de forma e tamanho da estrutura óssea acometida, e a locomoção que deve estar apresentando claudicação, a qual é variável, mas na maioria das vezes é classificada como de grau 5, onde o animal não consegue apoiar o membro no chão, ou quando apóia, não é da forma devida. A maioria das fraturas é diagnosticada no exame físico ortopédico, uma vez que elas possuem a característica de crepitarem, na maioria das vezes. As fraturas decorrem de fatores predisponentes (idade – jovens são mais predispostos, pois não apresentam a completa mineralização óssea, de forma similar, os mais velhos tendem a perder os fatores de mineralização óssea, assim como vacas e lactação (perde cálcio dos ossos), também predispondo a fratura) e fatores determinantes como o trauma/injúria abrupta (em neonatos ocorre por pisoteio materno ou muitos animais em baias pequenas; jovens, devido a brigas, atropelamentos e buracos; adultos,em trabalho ou esporte). Sinais clínicos Aumento de volume local Claudicação Dor intensa Lesão exposta ou fechada Considerações Quando tratar ou eutanasiar? Essa é uma questão a qual normalmente se deparam os clínicos de grandes animais. O primeiro passo para definir a tomada de decisão por parte do tutor, é avaliar o paciente, identificar o tipo de fratura, as opções de tratamento ou não, e ser bem claro ao informar ao tutor sobre as condições, possibilidades e complicações no quadro do paciente, e principalmente o custo (o que é bastante considerado por ser elevado). Outro ponto, trata-se do manejo inicial, o qual consiste em evitar a movimentação do paciente, pois pode piorar o quadro, sendo necessária a imobilização para o transporte, a qual será definitiva do sucesso tanto antes do procedimento quanto no pós-operatório. Nunca se deve reduzir a fratura, sem ter as condições mínimas para realizar o procedimento (anestesia, confirmação por exame de imagem – raio-x) e reduzir as chances de complicações. Imobilizar sempre que possível uma articulação acima e abaixo da fratura. Imobilização A correta imobilização configura o sucesso na terapia do paciente. Ela pode ser feita com ouso de bandagem (não possui estrutura estabilizadora), tala (compreende uma estrutura estabilizadora), gesso (confere uma camada rígida externa), ou bandagem Robert Jones (bandagem com tala macia que consiste em muitas camadas de material macio enroladas em uma articulação ou extremidade). Na bandagem Robert Jones, a superfície imobilizadora deve ser posicionada, de acordo com o local lesionado. Lesões do terço médio a distais do metacarpo (MT), a superfície imobilizadora deve ser posicionada cranialmente. Quando se tratar de lesões em membros pélvicos, a estrutura imobilizadora deve ser posicionada cranialmente. Cuidado ao fazer bandagens, para evitar o garroteamento do membro. Sequência de material para imobilização: malha tubular, generosa camada algodão ortopédico, atadura de crepom, superfície imobilizante (cano de PVC cortado ao meio e aquecido para moldar ao membro, fita de alta fixação para fixar o cano, mais uma camada de algodão e/ou atadura de crepom. Finaliza com fita impermeabilizante. Cada área do membro requer um tipo de imobilização que garanta o sucesso, impossibilitando a movimentação da articulação. Diagnóstico Se dá a partir do histórico, anamnese, exame físico (palpação, avaliar locomoção), raio-x, ultrassom, cintiligrafia (teste de imagem do sistema esquelético usado para diagnosticar problemas metabólicos dos ossosusando raios-X. Serve para diagnóstico de doenças relacionadas à saúde do esqueleto, de fraturas, de osteonecrose e artrite, bem como de metástases, pela presença de tumores no esqueleto, consequência de cânceres em outros órgãos), artroscopia (procedimento cirúrgico endoscópio, minimamente invasivo para reparar uma articulação ou outros problemas do osso), tomografia e ressonância magnética. Por classificação das fraturas: Quanto a apresentação Fechadas Abertas (presença de ferida contaminante. Quanto a extensão Completas Incompletas Quanto a localização Articulares o Parciais o Totais Extra-articulares o Epífise o Metáfise o Diálise o Placa epifisária Quanto a orientação da linha de fratura (associadas a ação das cargas sobre o osso) Mediante o tipo de carga exercida sobre o osso, terá como resultado a orientação das linhas de fraturas: Transversa (sofre tensão) Oblíqua (sofre compressão) Espiral (ocorre uma torção do osso) Cominutiva(força combinada – torção, compressão, tensão, flexão, torsão) Múltipla ou segmentar(sofre flexão) Avulsão (seria por tensão??) Diagnóstico diferencial se dá para a ruptura dos ligamentos suspensório e tendões flexores digitais superficial e profundo, visto que as deformidades a olho nu podem se assemelhar a uma fratura. Tratamento Clínico x Cirúrgico? Essa conduta segue os Guidelines. As fraturas jovens, desde que alinhadas, basicamente necessitam de imobilização, na maioria das vezes, seguida de repouso, para que haja a consolidação da linha de fratura e formação de calo ósseo. Vai acompanhando com radiografias a cada 15 dias. Algumas fraturas realmente só se resolvem com a imobilização. Os casos cirúrgicos estão relacionados a fraturas mais antigas, ou que não houve formação de calo ósseo com a imobilização, ou que não há um alinhamento da linha de fratura. A redução e a fixação devem ser realizadas o mais precoce possível, visto que a recuperação vai depender do tempo entre a ocorrência da fratura e a intervenção. No entanto, não se deve fazê-las se não houver recursos disponíveis (radiografia e anestesia geral) e condições de fratura favoráveis (fraturas alinhadas). Quanto tempo esperar? O tempo é crucial na tomada de decisão, por isso, o ideal não esperar, imobilizar e encaminhar imediatamente para um serviço especializado. No processo de cicatrização, vai haver a formação do calo ósseo, sendo assim, uma resposta circulatória. Toda vez que se tem uma lesão em osso, ocorre a formação de hematoma, que irá formar o calo primário (pobre em mineralização), no intuito de preencher a região acometida, recuperando a continuidade óssea. O objetivo da recuperação da continuidade óssea é reconstruir a cortical óssea original perdida. Isso só irá ocorrer se houver a correta imobilização com estabilidade, o que equivalente ao animal apoiar o membro afetado. No contexto da clínica de grandes, isso não é tão fácil como em pequenos animais e humanos. O calo inicial se forma com 5 dias. Em ossos longos a cicatrização se dá em 4 meses. Para ocorrer a cicatrização é necessário que haja redução adequada da fratura, fixação rígida = imobilização e suprimento sanguíneo suficiente para que ocorra as etapas da cicatrização. Tipos de cicatrização o Primária ou direta: reparo por contato direto (um osso sobre outro, promovendo a formação do hematoma, seguido do calo primário e posteriormente, o secundário) até a consolidação. o Secundária ou indireta: não há uma aposição entre as estruturas ósseas de forma correta, em decorrência da falta de imobilização correta, ou quando se tem fragmentos distantes entre si. A matriz óssea será responsável por promover a formação óssea endocondral, de forma que a consolidação ocorraq de forma secundária. Fases de cicatrização óssea o Inflamatória: dura de 2-3 semanas. Caracteriza-se por formação de calo ósseo primário, a partir da síntese de colágeno tipo 3. A função desse calo é promover a ligação entre os fragmentos ósseos a partir de deposição de matriz óssea. o Reparação: ocorre de 2 semanas a 12 meses. Caracteriza-se por mineralização do calo ósseo primário, transformando-se em calo ósseo secundário com a atuação do colágeno tipo I (mais rígido). Nessa fase se objetiva alcançar a rigidez óssea necessária. o Remodelamento (2-3 meses após fratura): se inicia por ação dos osteoclastos no remodelamento do calo ósseo, e consiste na fase mais longa. O tratamento clínico é conservativo. Consiste na redução da fratura com reposicionamento e coaptação externa, imobilização e repouso em baia. O tratamento cirúrgico vai depender do tipo de osso acometido, tipo de fratura, o tipo de intervenção, e principalmente o custo do procedimento, que consiste num fator limitante. Pode ser realizada a fixação externa com pinos percutâneos, ou fixador híbrido externo; ou fixação interna com parafusos e placas. A cirurgia apresenta complicações envolvendo a recuperação anestésica e a ocorrência de laminite, por sobrecarga dos membros não acometidos. Um ponto de atenção se dá pelo tempo de evolução, normalmente os animais já chegam ao atendimento depois de algum tempo, já com cicatrização secundária, o que tende a promover um retardo no processo cicatricial e de reuperação. Slin de Anderson – evita a sobrecarga dos membros, prevenindo a laminite. Pós-operatório Consiste na antibioticoterapia, manejo da dor, terapia de suporte, repouso absoluto, acompanhamento radiográfico e fisioterapia. Manejo da dor: AINE’s (fenilbutazona); analgésicos (butorfanol e tramadol. Terapia complementar: US terapeutico; laserterapia, shok-wave, ozônioterapia. Como complicações, cita-se, infecções (osteomielite), falência da fixação, demora de realizar o reparo ósseo; não união (mais comum e problemático); laminite em adultos; deformidade angular em potros, embolismo (principalmente em fraturas de ossos longos).
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