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ESTEROIDOGÊNESE, DESENVOLVIMENTO PUBERAL NORMAL E CICLO MENSTRUAL ESTEROIDOGÊNESE: O colesterol representa a matéria-prima da esteroidogênese. Excetuando-se a placenta, todos os órgãos produtores de esteroides são capazes de produzir colesterol no retículo endoplasmático liso a partir de radicais acetatos. No entanto, essa produção não é suficiente, e a maior parte desse precursor usado na esteroidogênese é de origem sérica. O colesterol é transportado na circulação sanguínea por lipoproteínas de baixa densidade (LDL), as quais são ligadas a receptores de membrana específicos nas células dos órgãos esteroidopoéticos, o que possibilita a entrada do colesterol na célula. Etapas da Esteroidogênese: 1ª Reação: após sua entrada na célula, o colesterol tem sua cadeia lateral quebrada em C20-C22 por ação da desmolase oxidante, dando origem à pregnenolona. 2ª Reação: a pregnenolona sofre ação da enzima 3β-desidrogenase- delta-5-isomerase, convertendo-a em progesterona após oxidação da hidroxila em C3 e mudança da ligação dupla para C4-C5. A pregnenolona e a progesterona passam, então, a seguir em vias paralelas - delta 5 e delta 4, respectivamente. As reações imediatas são comuns às duas sequências, originando produtos diferentes. 3ª Reação: tanto a pregnenolona quanto a progesterona sofrerão ação da 17-α-hidroxilase, dando origem à 17-hidroxipregnenolona e à 17- hidroxiprogesterona, respectivamente. Esses produtos poderão, então, seguir a via que dará origem aos androgênios e estrogênios ou aquela que dará origem aos hormônios do córtex da suprarrenal. 4ª Reação: a 17- hidroxipregnenolona e a 17-hidroxiprogesterona sob a ação da enzima 17-20- carbono-carbono-liase (anteriormente nomeada desmolase) darão origem à desidroepiandrosterona (DHEA) e androstenediona, respectivamente. 5ª Reação: a desidroepiandrosterona e androstenediona, por ação da 17-β-hidroxiesteroide-desidrogenase, se transformarão em androstenediol e testosterona, que são androgênios terminais. 6ª Reação: a testosterona sofre a ação de um conjunto de reações enzimáticas denominado aromatização e origina a estrona e o estradiol. 7ª, 8ª, 9ª e 10ª Reações: a progesterona e a 17-hidroxiprogesterona podem, sob o efeito da 21- hidroxilase, transformar-se em 11- desoxicorticosterona e 11-desoxicortisol que, sob ação da 11- hidroxilase, darão origem à corticosterona e ao cortisol, respectivamente. A esteroidogênese se processa mediante uma cascara esteroide na suprarrenal, no ovário e nos tecidos periféricos, processo que é controlado parcialmente pela ação do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e do hormônio luteinizante (FH). No ovário, a testosterona e a androstenediona apresentam produção máxima no meio do ciclo, sendo produzidas pelo folículo, pelas células estromais e, em menor quantidade, pelo corpo lúteo. A impregnação androgênica resultante, em uma criança do sexo feminino, conduz ao aparecimento de sinais característicos, como adrenarca, virilização da genitália externa, acne, odor corporal típico de adultos e aceleração da maturação óssea. Vias Intracelulares da Esteroidogênese: O colesterol plasmático penetra na célula ao mesmo tempo que é sintetizado no retículo endoplasmático liso a partir de radicais acetatos. A clivagem do colesterol acontece em nível mitocondrial, originando a pregnenolona, a qual desencadeia no retículo endoplasmático liso a síntese de hormônios esteroides, segundo a diferenciação dos órgãos secretores. Inicialmente são formados a progesterona, os androgênios e os estrogênios. No entanto, a síntese dos principais corticoides impõe o retorno dos precursores às mitocôndrias para a síntese de cortisol, corticosterona e aldosterona. Esteroidogênese Placentária: A esteroidogênese placentária depende completamente do colesterol materno, já que não é capaz de sintetizar os esteroides femininos a partir do acetato. Compõe-se de duas etapas independentes, uma vez que não dispõe da 17-α-hidroxilase para realizar a transposição do C- 21 para C-19. A placenta pode realizar a esteroidogênese até a obtenção da progesterona, sendo essa metabolizada na gestante e no feto e servindo como substrato para a síntese dos hormônios do córtex da suprarrenal. No entanto, não é capaz de sintetizar androgênios, apesar de metabolizá-los sempre que nela penetrem. Essa peculiaridade parece representar um mecanismo de proteção fetal contra a influência de esteroides sexuais externos. O DHEAS, de origem materna e fetal, é convertido em androstenediona e testosterona e esses, por sua vez, em estrona e estradiol. respectivamente. Esses quatro hormônios se elevam na gestação. O aspecto mais significativo da esteroidogênese placentária corresponde à concepção de uma via particular de síntese do estriol, utilizando como substrato o DHEAS de origem fetal sob a influência da gonadotrofina coriônica e do ACTH. Esteroidogênese Ovariana: A formação dos hormônios esteroides é dada a partir do estímulo das gonadotrofinas, o FSH e o LH. A esteroidogênese ovariana acontece no córtex, mais especificamente nas células da teca e da granulosa, que exercem papéis complementares, formando o “sistema de duas células”. 1. Esteroidogênese na Fase Folicular: os folículos primários armazenados no ovário desde o período intrauterino iniciam seu desenvolvimento independente da ação hormonal até o estágio pré- natal. No início de cada ciclo é iniciada a produção hormonal estimulada pelo FSH, que possibilita o desenvolvimento folicular. As células da teca contêm apenas receptores para o LH. Quando o LH se liga a esses receptores, esse hormônio passa a ativar, via AMPc, o complexo enzimático responsável pela conversão do colesterol em androstenediona e testosterona. Esses hormônios passam, então, por difusão, para a célula da granulosa, onde servirão de substrato para a produção de estrogênios. Nos folículos pré-antrais (ou seja, folículos primários multilaminares), os androgênios nas células da granulosa também contribuem para a ativação do complexo de aromatização. Nas células da granulosa, o FSH, também via AMPc, ativa o complexo enzimático denominada aromatização. A partir de uma cadeia de reações enzimáticas, a androsterona e a testosterona são convertidas em estrona e estradiol. No folículo pré-natal (folículo primário multilaminar), a produção de estrogênio estimula a proliferação das células da granulosa e é verificado aumento do líquido folicular, formando uma cavidade no folículo e transformando-o em folículo antral (folículo secundário). Os folículos antrais (folículos secundários) sob a influência do FSH, mantém seu crescimento e produção crescente de estrogênio e determinarão a diminuição da secreção de FSH pela hipófise, causando a redução da atividade da aromatase e consequentemente a androgenização intrafolicular e a atresia. Entretanto, um dos folículos recrutados não sofre ação da queda do FSH, passando por transformações que permitem o seu crescimento, e passa a apresentar receptores para LH nas células da granulosa, evento fundamental para que ocorra a ovulação. A inibina é outra substância, de natureza proteica, produzida nos ovários e que age sinergicamente ao estrogênio inibindo principalmente a secreção de FSH e, consequentemente, aumentando a ação do LH sobre a síntese de estrogênios nas células da teca. Portanto, essas células convertem, com eficiência, androgênios em estrogênios, principalmente emestradiol, que é um estrogênio potente. Já a ativina exerce importante atividade autócrina, aumentando a ação do FSH e diminuindo a do LH a partir do crescimento da produção de seus receptores. 2. Esteroidogênese na Fase Lútea: após a ovulação, o folículo roto passa por uma série de transformações estruturais, bioquímicas e hormonais, transformando-se em corpo lúteo. Na fase lútea, as células da granulosase tornam mais proeminentes do que as da teca. Assim, passam a produzir estradiol e progesterona sob o estímulo de LH, mesmo em baixas doses. Apesar do sistema de duas células continuar existindo, o papel do FSH no estímulo à produção de estradiol passa a ser substituído pelo do LH. No corpo lúteo, a secreção de estradiol e progesterona ocorre de modo intermitente, acompanhando os pulsos de LH. Para que a produção hormonal na fase lútea seja adequada é preciso que a fase folicular tenha ocorrido normalmente. O acúmulo de receptores de LH nas células da granulosa na fase folicular garante a luteinização do folículo roto e, portanto, a adequada esteroidogênese do corpo lúteo. Um dos importantes papéis do LH na fase lútea inicial é estimular a produção de receptores de membrana para LDL no corpo lúteo. Esses receptores garantem a entrada, nas células, do colesterol, substrato para a produção de estradiol e progesterona. As células do corpo lúteo também produzem sob o efeito do LH, a inibina A que em associação com o estradiol e a progesterona, será responsável por inibir a liberação de FSH, consequentemente impedirão um novo desenvolvimento folicular. Com a luteinização aumentam as concentrações da desmolase da 17-hidroxidesidrogenase, ampliando, assim, a produção de estrogênio e progesterona, com a progesterona apresentando seu pico máximo cerca de 8 dias após o pico de LH. Após 14 dias, o corpo lúteo deve continuar sendo estimulado pela gonadotrofina coriônica humana (HCG), que contém uma molécula muito semelhante à do LH e, portanto, ocupa seus receptores. Caso isso não se verifique, o corpo lúteo se degenera, transformando-se em corpo albicans. DESENVOLVIMENTO PUBERAL NORMAL: A puberdade é a transição da infância para a fase adulta, caracterizada por um sequência de eventos que culminam com o desenvolvimento da capacidade reprodutiva. Entre as modificações observadas nesse período, destacam-se o aparecimento dos caracteres sexuais secundários (mamas e pelos pubianos), a aceleração da velocidade de crescimento (estirão do crescimento linear), profundas mudanças psicológicas e produção de gametas maduros. O eixo hipotálamo-hipófise-ovariano (HHO) se torna funcional antes do nascimento. Na 10ª semana de vida embrionária, o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) é produzido. As concentrações hipofisárias dos hormônios FSH e LH aumentam progressivamente, atingindo o pico entre a 20ª semana e a 24ª semana e diminuindo nas últimas semanas de gestação – por retroalimentação negativa de estrogênio e progesterona. Após o nascimento, com a perda dos esteroides sexuais maternoplacentários, ocorre liberação de GnRH e as concentrações plasmáticas das gonadotrofinas aumentam. A puberdade normal consiste numa progressão, em sequência ordenada, de processos, sendo eles: crescimento somático acelerado, maturação dos caracteres sexuais primários (gônadas e genitais), aparecimento dos caracteres sexuais secundários, menarca. Estágios de Tanner: P1 – fase de pré-adolescência (não há pelugem). P2 (9-14 anos) – presença de pelos longos, macios e ligeiramente pigmentados ao longo dos grandes lábios. P3 (10-14,5 anos) – pelos mais escuros e ásperos sobre o púbis. P4 (11-15 anos) – pelugem do tipo adulto, mas a área coberta é consideravelmente menor que a do adulto. P5 (12-16,5 anos) – pelugem do tipo adulto, cobrindo todo o púbis e a virilha. Telarca Precoce: A telarca pode se iniciar antes dos 8 anos e é encontrada com maior frequência em meninas com menos de 2 anos. Essa maturação prematura da mama é chamada telarca precoce. Suspeita-se de telarca precoce quando durante a consulta de acompanhamento se observa crescimento de tecido mamário ou maturação do mamilo mínimos, mas a estatura da menina mantém-se dentro do percentil estabelecido. O monitoramento do crescimento corporal e das alterações mamárias pode ser suficiente, mas, para aquelas com aumento de estatura ou de peso, ou com outras alterações puberais, recomendam-se exames adicionais para puberdade precoce. A telarca precoce é indicada por idade óssea sincrônica e até 1 ano da idade cronológica. No entanto, se a idade óssea estiver avançada em dois ou mais anos, a puberdade terá se iniciado e recomenda-se investigação para puberdade precoce. Naquelas com telarca prematura isolada, os níveis séricos de estradiol podem estar levemente elevados, o que é encontrado mais comumente em lactentes com peso muito baixo ao nascer. Além disso, os níveis séricos de gonadotrofina estão baixos. Na maioria dos casos, o desenvolvimento prematuro das mamas regride ou se estabiliza, e o tratamento consiste em tranquilização com vigilância cuidadosa buscando por outros sinais de puberdade precoce. Pubarca Precoce: Para as meninas, a puberdade precoce historicamente foi definida como desenvolvimento de mamas ou de pelos pubianos em idade inferior a 8 anos. Pubarca Precoce Central (gonadotrofina-dependente): a ativação precoce do eixo hipotálamo-hipófise-ovário leva à secreção de GnRH, a aumento da síntese de gonadotrofina e, consequentemente, a aumento dos níveis dos esteroides sexuais gonadais. A causa mais comum de puberdade precoce central é idiopática, entretanto lesões do sistema nervoso central devem ser excluídas. Os sintomas de puberdade precoce central são similares àqueles da puberdade normal, com desenvolvimento das mamas, pelos pubianos, crescimento rápido e menstruações eventuais – contudo, em idade precoce. Nas meninas afetadas, observa-se maturação óssea avançada. Além disso, os níveis séricos de FSH, LH e estradiol encontram-se aumentados para a idade cronológica e caracteristicamente estão na faixa esperada para a puberdade. Entretanto, no início do processo os níveis de FSH e LH possivelmente só estejam elevados à noite, e o teste de estimulação com GnRH talvez seja útil. A puberdade precoce central é confirmada quando há elevação dos níveis séricos de LH após a infusão. Por outro lado, a ausência de elevação do nível de LH e FSH após a infusão de GnRH sugere puberdade precoce periférica. Os objetivos do tratamento são prevenir baixa estatura na idade adulta e limitar os efeitos psicológicos do desenvolvimento puberal precoce. A fusão das epífises é um processo estrogênio-dependente. Portanto, as meninas com puberdade precoce têm risco aumentado de fechamento precoce da placa de crescimento e baixa estatura na idade adulta. O tratamento é feito com administração de um agonista do GnRH, que serve para infrarregular os gonadotrofos da hipófise e inibir a liberação de FSH e LH. Os níveis de estrogênio caem e, em geral, há regressão acentuada do tamanho das mamas e do útero. Se o tratamento for instituído após a menarca, as menstruações serão suspensas. A oportunidade para a suspensão do tratamento com GnRH e retomada do desenvolvimento puberal é determinada pelos objetivos da terapia primária: maximizar a estatura, sincronizar a puberdade com os pares e reduzir o estresse psicológico. A partir de uma revisão feita com diversos artigos, concluiu-se que a média de idade para suspensão do tratamento foi de aproximadamente 11 anos. Pubarca Precoce Periférica (gonadotrofina-independente): mais raramente, os níveis elevados de estrogênio podem ter origem em fonte periférica, como um cisto ovariano. Denominado puberdade precoce periférica, esse quadro é caracterizado por ausência de liberação pulsátil de GnRH, níveis baixos de gonadotrofinas hipofisárias e, ainda assim, aumenta das concentrações séricas de estrogênio. A síndrome de McCune-Albright é caracterizada por displasia fibrosa poliostótica, manchas café com leite irregulares e endocrinopatias. A puberdade precoce é um achado frequente e resulta da produção de estrogênio nos cistos ovarianos, que são comuns nessas meninas. Nas meninas com puberdadeprecoce periférica, os níveis de estrogênio caracteristicamente estão elevados e os níveis séricos de LH e FSH estão reduzidos. A determinação da idade óssea demonstra idade avançada, e a estimulação do GnRH não apresenta elevação nos níveis séricos de LH. O tratamento da puberdade precoce periférica consiste na eliminação do estrogênio. Para pacientes com exposição exógena, a suspensão da fonte de estrogênio, como pílulas ou cremes hormonais, é suficiente. Se for encontrado tumor ovariano ou suprarrenal secretores de estrogênio haverá indicação de excisão cirúrgica; o hipotireoidismo é tratado com reposição do hormônio da tireoide. O excesso de androgênio com sinais de virilização é raro na infância. Denominada puberdade precoce heterossexual, essa condição costuma ser causada por aumento da secreção de androgênio pela glândula suprarrenal ou pelo ovário. Entre as causas estão tumores ovarianos ou suprarrenais secretores de androgênio, hiperplasia suprarrenal congênita, síndrome de Cushing e exposição exógena a androgênios. O tratamento deve ser direcionado à correção da etiologia subjacente. Pubarca Tardia: a puberdade é considerada tardia se nenhuma característica sexual secundária estiver presente aos 13 anos de idade, o que é mais do que dois desvios-padrão da média de idade, ou se as menstruações não tiverem sido iniciadas aos 16 anos de idade. O retardo constitucional é a forma mais comum de puberdade tardia, e essas adolescentes não apresentam características sexuais secundárias nem estirão de crescimento em torno dos 13 anos de idade. A causa provável é retardo na reativação do sistema gerador de pulso de GnRH. As pacientes podem ser tratadas com dose baixa de estrogênio até que haja evolução da puberdade, momento em que o estrogênio pode ser suspenso. Durante o tratamento com dose baixa de estrogênio, não é necessário introduzir progesterona, uma vez que, na puberdade precoce, há um longo período similar de estrogênio sem oposição antes dos ciclos ovulatórios. CICLO MENSTRUAL: O ciclo menstrual pode ser definido como o conjunto de eventos endócrinos interdependentes do eixo hipotálamo-hipófise-ovário (HHO) e as consequentes modificações fisiológicas no organismo, visando à preparação para a ovulação e para uma futura gravidez. Durante cada ciclo menstrual, dois processos reprodutivos principais ocorrem: 1º) Maturação folicular por estímulo hormonal e liberação de um óvulo a partir de um dos ovários e 2º) Preparação do útero para receber o embrião, caso ocorra fertilização. Por convenção, o 1º dia da menstruação é considerado o 1º dia do ciclo. A duração do ciclo normal varia de 21 a 35 dias (média de 28 dias). O fluxo menstrual dura aproximadamente dois a seis dias, com uma perda sanguínea de 20 a 60ml. Eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovário (HHO): O eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovário (HHO) é o cerne do estudo do ciclo menstrual. Mediante hormônios específicos secretados por cada compartimento e sob a influência de mecanismos de retroalimentação positivos ou negativos, o ciclo menstrual se completa. O ciclo menstrual normal ocorre devido à perfeita interação entre os diversos compartimentos do organismo feminino, principalmente entre hipotálamo, hipófise, ovários e os órgãos efetores, útero e endométrio. O útero, portanto, não entra diretamente nessa interação. Apesar de sua fundamental importância na concepção, desempenha um papel eminentemente passivo. Hipotálamo: desempenha um papel central na iniciação do ciclo menstrual, mas não atua de forma independente. O Hormônio Liberador de Gonadotrofinas (GnRH) constitui um dos principais produtos de liberação do hipotálamo. É um decapeptídeo secretado de forma pulsátil pela porção do hipotálamo conhecida como núcleo arqueado ou infundibular. Esse hormônio é captado e transportado pelo plexo capilar até a circulação porta-hipofisária. O GnRH é único entre os hormônios de liberação porque controla simultaneamente a secreção de dois hormônios (gonadotrofinas) pelas células gonadotróficas basofílicas da hipófise anterior (adeno hipófise), que correspondem ao Hormônio Folículo Estimulante (FSH) e Hormônio Luteinizante (LH). Os pulsos de GnRH são modulados pelo sistema supra-hipotalâmico norepinefrina-dopamina, com influência estimuladora da norepinefrina e inibidora da dopamina. A secreção do GnRH varia em frequência e amplitude em todo o ciclo menstrual, o que é imprescindível para um ciclo normal. A fase folicular se caracteriza por pulsos frequentes e de pequena amplitude. Na fase folicular tardia, há um aumento da frequência e na amplitude destes pulsos. Durante a fase lútea, há um aumento gradativo do intervalo entre os pulsos, ou seja, há uma diminuição progressiva da frequência dos pulsos. A amplitude nessa fase é maior do que na fase folicular, mas diminui progressivamente no transcorrer de duas semanas. Assim, há uma redução progressiva da amplitude dos pulsos na fase lútea, mas estes apresentam amplitude maior do que na fase folicular. A modificação na frequência de pulso do GnRH permite a variação do FSH e do LH durante todo o ciclo menstrual. O hipotálamo é responsável pela secreção de outros fatores de liberação hipofisários, além do GnRH, como a Dopamina, que inibe a síntese de prolactina, considerada o fator de inibição da secreção de Prolactina (PRL). O Hormônio Tireotrófico (TRH) é considerado o maior estimulador da síntese de PRL. Adeno-Hipófise: sabe-se que o GnRH, originário do hipotálamo, age diretamente sobre as células gonadotróficas basofílicas da hipófise anterior, estimulando-as a secretar o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo estimulante (FSH) na circulação. A adeno-hipófise é também responsável pela secreção de outros hormônios reguladores, tais como: TSH, ACTH, GH e prolactina. Neuro-Hipófise: o hipotálamo é a fonte de toda a produção hormonal da neuro-hipófise. E os dois hormônios secretados por ela são a ocitocina e a vasopressina, a qual é também denominada de Hormônio Antidiurético – ADH. Mecanismos de Retrocontrole: corresponde à influência dos hormônios ovarianos sobre as gonadotrofinas hipofisárias e hipotalâmicas. Na maior parte do ciclo menstrual, o retrocontrole é inibitório, ou seja, os hormônios ovarianos inibem a síntese e liberação das gonadotrofinas hipofisárias (FSH e LH), evitando o desenvolvimento de múltiplos folículos gonadais. A retroação pode ser de alça longa (ovário-hipotálamo), curta (ovário-hipófise; hipófise-hipotálamo) ou ultracurta (hipotálamo, hipófise e ovário sobre as próprias secreções). No feedback negativo ocorre o bloqueio da secreção hipofisária e/ou hipotalâmica pelos hormônios esteroides (estradiol e progesterona) e não esteroides (inibina), isto é, ocorre a inibição do eixo HHO. Já o feedback positivo caracteriza-se pelo aumento da liberação de gonadotrofinas mediada pelos hormônios ovarianos. Este tipo de retroação é observado no período puberal: o estradiol produzido pelos ovários é capaz de estimular a síntese de LH. No meio do ciclo menstrual (14º dia), há pico de estradiol (rápida elevação plasmática), que culmina por elevar os níveis sanguíneos de LH, resultando na ovulação propriamente dita. Quando os níveis de estrogênio estão baixos, há estímulo à secreção de gonadotrofinas hipofisárias para estimularem mais intensamente o ovário. Ciclo Menstrual Normal: A divisão do ciclo menstrual dá-se por: (a) Ciclo Ovariano, que pode ser subdividido em três fases – folicular, ovulatória e lútea; a fase folicular se estende do 1º dia da menstruação até o dia do pico de LH (no meio do ciclo). A fase ovulatória inclui três fenômenos principais: recomeço da meiose I (do oócito no estágio de diplóteno) após o pico de LH; pequeno aumento na produção de progesterona 12 a 24 horas antes da ovulação (luteinização); erotura folicular propriamente dita. Já a fase lútea compreende o período da ovulação até o aparecimento da menstruação. No entanto, há referências que incluem apenas duas fases (folicular e lútea). Neste caso, a fase folicular consistirá no período em que o folículo dominante é selecionado e desenvolvido até se tornar um folículo maduro. Já a fase lútea compreenderá o período da ovulação até o aparecimento da menstruação; e (b) Ciclo Uterino, que também pode ser subdividido em três fases – proliferativa, menstrual e secretora. No entanto, de forma análoga ao que acontece no ciclo ovariano, alguns autores consideram apenas duas fases (proliferativa e secretora). Ciclo Ovariano: o desenvolvimento folicular é um processo contínuo e dinâmico que só se interrompe quando a reserva ovariana termina, isto é, os folículos crescem e entram em atresia continuamente, mesmo durante a infância pré-puberal, gestação, ciclos anovulatórios, uso de anticoncepcional oral e perimenopausa. Fase Folicular: é a primeira do ciclo menstrual. Nessa fase, acontece uma sequência ordenada de eventos, que assegura o recrutamento de uma nova coorte de folículos para a seleção do folículo dominante. Nela, o folículo destinado à ovulação passa pelos estágios de folículo primordial, folículo primário, folículo pré-antral, antral e pré- ovulatório. O resultado desse desenvolvimento folicular é, comumente, um único folículo maduro viável. Este processo dura cerca de 10 a 14 dias. Vale lembrar que a duração do ciclo menstrual é determinada pela variação na duração da fase folicular, ou seja, o tempo necessário para que o folículo se desenvolva e atinja sua maturidade. O aumento do FSH é o sinal para o recrutamento folicular. O FSH aumenta a produção estrogênica, promovendo o crescimento da granulosa e estimulando a atividade da aromatase. Ao longo desse processo, o FSH e o estrogênio aumentam a quantidade de receptores para FSH. O FSH promove uma multiplicação das células cuboides da granulosa e uma diferenciação das células estromais circunjacentes em camadas celulares concêntricas denominadas de teca interna e teca externa. As células da teca produzem androstenediona e testosterona sob efeito do LH. As células da granulosa produzem estradiol a partir dos androgênios, sob estímulo da aromatase (dependente de FSH). O folículo dominante caracteriza-se por uma maior atividade da enzima aromatase (que lhe permite uma maior produção de estradiol), um maior número de receptores de FSH e por uma expressão de receptores de LH também nas células da granulosa. Fase Ovulatória: a ovulação acontece como resultado da ação simultânea de diversos mecanismos que ocorrem no folículo dominante, que estimulam a sua maturação e induzem a rotura folicular. Somente o folículo que atinge seu estágio final de maturação é capaz de se romper. O marcador fisiológico mais importante da aproximação da ovulação é o pico de LH do meio do ciclo, o qual é precedido por aumento acelerado do nível de estradiol. Sabidamente, o folículo pré-ovulatório produz, com a síntese crescente de estradiol, seu próprio estímulo ovulatório. O pico de estradiol estimula o pico de LH e, consequentemente, a ovulação. No momento da ovulação, dentro do microambiente do folículo dominante, ocorrem três fenômenos principais: (1) Recomeço da Meiose; (2) Luteinização e (3) Ovulação, ou seja, o pico de LH faz o oócito reassumir a meiose, estimula a síntese de prostaglandinas e luteiniza as células da granulosa que, por sua vez, sintetizam a progesterona. Fase Lútea: sua duração é normalmente fixa e é de 14 dias. O aumento dos níveis de progesterona de forma aguda caracteriza esta fase. O pico máximo ocorre em torno do oitavo dia após a ovulação, coincidentemente com os maiores níveis estrogênicos e com a maior vascularização do endométrio. Uma vez liberado o oócito, a estrutura dominante passa a ser chamada de corpo lúteo ou corpo amarelo. Antes da ruptura do folículo e liberação do óvulo, as células da granulosa começam a aumentar de tamanho e assumem um aspecto caracteristicamente vacuolado, associado ao acúmulo de pigmento amarelo, a luteína. O fator determinante da nomenclatura desta fase e do corpo amarelo é o acúmulo desse pigmento amarelado, a luteína, nas células da granulosa. O funcionamento lúteo normal requer um desenvolvimento folicular pré-ovulatório adequado, sobretudo um estímulo apropriado de FSH e um ininterrupto apoio tônico do LH, o que resulta em síntese e secreção adequada de estradiol e progesterona. Sabe-se da necessidade de estrogênio para a síntese de receptores de progesterona no endométrio. O estrogênio da fase lútea é necessário para que ocorram as alterações induzidas pela progesterona no endométrio após a ovulação. A cada pulso de LH existe um aumento na concentração de progesterona. A progesterona atua tanto centralmente quanto no interior do ovário, na supressão de novos crescimentos foliculares. Estes pulsos de LH são maiores no início da fase lútea e diminuem gradativamente até valores baixos na fase lútea tardia, que favorece a atuação de fatores que levam à luteólise, caso a gravidez não se concretize, esse mecanismo faz com que o corpo lúteo regrida. Logo após a luteólise, o suprimento de sangue do corpo lúteo diminui, secreção de progesterona e estrogênio reduz-se bastante, e as células lúteas sofrem apoptose e se tornam fibróticas. Assim é formado o corpo albicans (corpo branco). Se ocorrer gravidez, a hCG produzida no início da gestação “salva” o corpo lúteo da atresia ligando-se e ativando o receptor de LH nas células lúteas. A esteroidogênese do corpo lúteo, estimulada pela hCG, mantém a estabilidade endometrial até que a produção de esteroides placentários seja suficiente para assumir essa função no final do primeiro trimestre. Portanto, quando são consideradas apenas duas fases do ciclo ovariano, a fase lútea compreende o período da ovulação até o aparecimento da menstruação. Quando são consideradas três fases, a fase lútea consiste no período em que o folículo ovulatório se converte em corpo lúteo. O aumento dos níveis de progesterona de forma aguda caracteriza este período do ciclo menstrual. Ciclo Uterino: em um ciclo menstrual ovulatório, ocorrem alterações anatômicas e funcionais específicas nos componentes glandulares, vasculares e estromais do endométrio para implantação. Essas alterações endometriais definem o ciclo uterino e espelham a atividade do estradiol e da progesterona. O estroma endometrial é constituído de uma matriz de tecido conectivo dispersa entre fibras colágenas e elásticas. Histologicamente, há três camadas no endométrio: (a) Profunda ou Basal, não responde funcionalmente aos hormônios ovarianos, inclui os fundos de saco glandulares; (b) Média ou Esponjosa, ocupa a maior parte da espessura do endométrio e reage intensamente aos estímulos hormonais; e (c) Superficial ou Compacta, inclui a região do colo das glândulas bem como o epitélio superficial. O ciclo uterino também é dividido em fases histológicas, sendo elas determinadas pelos diferentes estímulos dos hormônios produzidos pelos ovários: endométrio menstrual, endométrio proliferativo, endométrio secretor. Resumindo: O fluxo menstrual é considerado como o início de um novo ciclo (1º dia da menstruação = 1º dia do ciclo). No entanto, já no final do ciclo anterior (período pré-menstrual) há elevação do FSH. Isto é explicado pelo fato de haver diminuição nas concentrações sanguíneas de estrogênio e progesterona o que determinaria retrocontrole positivo sobre as gonadotrofinas hipofisárias, mormente sobre o FSH. Esta diminuição dos esteroides ovarianos resultaria em descamação endometrial e consequente fluxo menstrual. O FSH atua nos folículos recrutados aumentando a concentração de receptores de FSH e LH. Aproximadamenteno 6-8º dia do ciclo há elevação lenta do estradiol havendo retrocontrole negativo sobre o FSH. Mesmo com a leve queda nos níveis de FSH, os folículos continuam a se desenvolver, ou seja, o mais sensível ao FSH (o que tiver mais receptores) chegará à dominância enquanto os outros sofrerão atresia. O estradiol também aumenta o número de receptores para o FSH. Na fase ovulatória há dois fenômenos importantíssimos: pico de estradiol (24h antes do pico de LH) e pico de LH (12h antes da ovulação). O pico de estradiol determina retrocontrole positivo sobre a liberação de LH e posterior ovulação. Para que o pico de estradiol seja eficaz são necessários dois requisitos: concentração de 200 pg/ml e duração mínima de 24 a 36h. O folículo dominante (aquele com maior concentração de receptores) torna-se luteinizado após a ovulação. Entramos na fase lútea onde há desenvolvimento do corpo lúteo e produção de progesterona para manter uma possível gravidez. Caso não haja concepção, após ± 14 dias, há regressão do corpo amarelo, diminuição dos esteroides ovarianos e descamação endometrial com início da menstruação e outro ciclo menstrual. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: • Joseph I. Schaffer, Barbara L. Hoffman, John O. Schorge. Ginecologia de Williams. 2ª. Edição, Editora Artmed, 2014. a. Capítulo - 14 - páginas 391 (Telarca precoce) e 393 a 395 (Puberdade precoce e tardia). b. Capítulo – 15 - páginas 400 a 417 e 423 a 435. • Desenvolvimento Puberal de Tanner [Internet]. [place unknown]; [S.I.]. Desenvolvimento Puberal de Tanner: Desenvolvimento Puberal de Tanner para meninas; [revised 2022 Feb 12; cited 2022 Feb 12]; Available from: https://www.sbp.com.br/departamentos- cientificos/endocrinologia/desenvolvimento-puberal-de-tanner/. • Meneses Celise, et al. Estagiamento de Tanner: um estudo de confiabilidade entre o referido e o observado. Adolescência & Saúde. 2008 outrubro;5(3):54-56. • Resumos da Med: https://www.passeidireto.com/lista/96116421- ginecologia/arquivo/96116543-esteroidogenese-desenvolvimento- puberal-e-ciclo-menstrual https://www.sbp.com.br/departamentos-cientificos/endocrinologia/desenvolvimento-puberal-de-tanner/ https://www.sbp.com.br/departamentos-cientificos/endocrinologia/desenvolvimento-puberal-de-tanner/ https://www.passeidireto.com/lista/96116421-ginecologia/arquivo/96116543-esteroidogenese-desenvolvimento-puberal-e-ciclo-menstrual https://www.passeidireto.com/lista/96116421-ginecologia/arquivo/96116543-esteroidogenese-desenvolvimento-puberal-e-ciclo-menstrual https://www.passeidireto.com/lista/96116421-ginecologia/arquivo/96116543-esteroidogenese-desenvolvimento-puberal-e-ciclo-menstrual
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