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Esteroidogênese, Desenvolvimento Puberal e Ciclo Menstrual

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ESTEROIDOGÊNESE, DESENVOLVIMENTO PUBERAL NORMAL E CICLO MENSTRUAL 
ESTEROIDOGÊNESE: 
O colesterol representa a matéria-prima da esteroidogênese. 
Excetuando-se a placenta, todos os órgãos produtores de esteroides 
são capazes de produzir colesterol no retículo endoplasmático liso a 
partir de radicais acetatos. No entanto, essa produção não é suficiente, 
e a maior parte desse precursor usado na esteroidogênese é de origem 
sérica. O colesterol é transportado na circulação sanguínea por 
lipoproteínas de baixa densidade (LDL), as quais são ligadas a 
receptores de membrana específicos nas células dos órgãos 
esteroidopoéticos, o que possibilita a entrada do colesterol na célula. 
Etapas da Esteroidogênese: 
1ª Reação: após sua entrada na célula, o colesterol tem sua cadeia 
lateral quebrada em C20-C22 por ação da desmolase oxidante, dando 
origem à pregnenolona. 
2ª Reação: a pregnenolona sofre ação da enzima 3β-desidrogenase-
delta-5-isomerase, convertendo-a em progesterona após oxidação da 
hidroxila em C3 e mudança da ligação dupla para C4-C5. A 
pregnenolona e a progesterona passam, então, a seguir em vias 
paralelas - delta 5 e delta 4, respectivamente. As reações imediatas são 
comuns às duas sequências, originando produtos diferentes. 
3ª Reação: tanto a pregnenolona quanto a progesterona sofrerão ação 
da 17-α-hidroxilase, dando origem à 17-hidroxipregnenolona e à 17-
hidroxiprogesterona, respectivamente. Esses produtos poderão, então, 
seguir a via que dará origem aos androgênios e estrogênios ou aquela 
que dará origem aos hormônios do córtex da suprarrenal. 
4ª Reação: a 17- hidroxipregnenolona e a 17-hidroxiprogesterona sob 
a ação da enzima 17-20- carbono-carbono-liase (anteriormente 
nomeada desmolase) darão origem à desidroepiandrosterona (DHEA) 
e androstenediona, respectivamente. 
5ª Reação: a desidroepiandrosterona e androstenediona, por ação da 
17-β-hidroxiesteroide-desidrogenase, se transformarão em 
androstenediol e testosterona, que são androgênios terminais. 
6ª Reação: a testosterona sofre a ação de um conjunto de reações 
enzimáticas denominado aromatização e origina a estrona e o 
estradiol. 
7ª, 8ª, 9ª e 10ª Reações: a progesterona e a 17-hidroxiprogesterona 
podem, sob o efeito da 21- hidroxilase, transformar-se em 11-
desoxicorticosterona e 11-desoxicortisol que, sob ação da 11- 
hidroxilase, darão origem à corticosterona e ao cortisol, 
respectivamente. 
A esteroidogênese se processa mediante uma cascara esteroide na 
suprarrenal, no ovário e nos tecidos periféricos, processo que é 
controlado parcialmente pela ação do hormônio adrenocorticotrófico 
(ACTH) e do hormônio luteinizante (FH). 
No ovário, a testosterona e a androstenediona apresentam produção 
máxima no meio do ciclo, sendo produzidas pelo folículo, pelas 
células estromais e, em menor quantidade, pelo corpo lúteo. 
A impregnação androgênica resultante, em uma criança do sexo 
feminino, conduz ao aparecimento de sinais característicos, como 
adrenarca, virilização da genitália externa, acne, odor corporal típico 
de adultos e aceleração da maturação óssea. 
Vias Intracelulares da Esteroidogênese: 
O colesterol plasmático penetra na célula ao mesmo tempo que é 
sintetizado no retículo endoplasmático liso a partir de radicais 
acetatos. A clivagem do colesterol acontece em nível mitocondrial, 
originando a pregnenolona, a qual desencadeia no retículo 
endoplasmático liso a síntese de hormônios esteroides, segundo a 
diferenciação dos órgãos secretores. Inicialmente são formados a 
progesterona, os androgênios e os estrogênios. No entanto, a síntese 
dos principais corticoides impõe o retorno dos precursores às 
mitocôndrias para a síntese de cortisol, corticosterona e aldosterona. 
Esteroidogênese Placentária: 
A esteroidogênese placentária depende completamente do colesterol 
materno, já que não é capaz de sintetizar os esteroides femininos a 
partir do acetato. Compõe-se de duas etapas independentes, uma vez 
que não dispõe da 17-α-hidroxilase para realizar a transposição do C-
21 para C-19. 
A placenta pode realizar a esteroidogênese até a obtenção da 
progesterona, sendo essa metabolizada na gestante e no feto e 
servindo como substrato para a síntese dos hormônios do córtex da 
suprarrenal. No entanto, não é capaz de sintetizar androgênios, apesar 
de metabolizá-los sempre que nela penetrem. Essa peculiaridade 
parece representar um mecanismo de proteção fetal contra a influência 
de esteroides sexuais externos. O DHEAS, de origem materna e fetal, 
é convertido em androstenediona e testosterona e esses, por sua vez, 
em estrona e estradiol. respectivamente. Esses quatro hormônios se 
elevam na gestação. 
O aspecto mais significativo da esteroidogênese placentária 
corresponde à concepção de uma via particular de síntese do estriol, 
utilizando como substrato o DHEAS de origem fetal sob a influência 
da gonadotrofina coriônica e do ACTH. 
Esteroidogênese Ovariana: 
A formação dos hormônios esteroides é dada a partir do estímulo das 
gonadotrofinas, o FSH e o LH. A esteroidogênese ovariana acontece 
no córtex, mais especificamente nas células da teca e da granulosa, 
que exercem papéis complementares, formando o “sistema de duas 
células”. 
1. Esteroidogênese na Fase Folicular: os folículos primários 
armazenados no ovário desde o período intrauterino iniciam seu 
desenvolvimento independente da ação hormonal até o estágio pré-
natal. No início de cada ciclo é iniciada a produção hormonal 
estimulada pelo FSH, que possibilita o desenvolvimento folicular. As 
células da teca contêm apenas receptores para o LH. Quando o LH se 
liga a esses receptores, esse hormônio passa a ativar, via AMPc, o 
complexo enzimático responsável pela conversão do colesterol em 
androstenediona e testosterona. Esses hormônios passam, então, por 
difusão, para a célula da granulosa, onde servirão de substrato para a 
produção de estrogênios. Nos folículos pré-antrais (ou seja, folículos 
primários multilaminares), os androgênios nas células da granulosa 
também contribuem para a ativação do complexo de aromatização. 
Nas células da granulosa, o FSH, também via AMPc, ativa o 
complexo enzimático denominada aromatização. A partir de uma 
cadeia de reações enzimáticas, a androsterona e a testosterona são 
convertidas em estrona e estradiol. No folículo pré-natal (folículo 
primário multilaminar), a produção de estrogênio estimula a 
proliferação das células da granulosa e é verificado aumento do 
líquido folicular, formando uma cavidade no folículo e 
transformando-o em folículo antral (folículo secundário). Os folículos 
antrais (folículos secundários) sob a influência do FSH, mantém seu 
crescimento e produção crescente de estrogênio e determinarão a 
diminuição da secreção de FSH pela hipófise, causando a redução da 
atividade da aromatase e consequentemente a androgenização 
intrafolicular e a atresia. Entretanto, um dos folículos recrutados não 
sofre ação da queda do FSH, passando por transformações que 
permitem o seu crescimento, e passa a apresentar receptores para LH 
nas células da granulosa, evento fundamental para que ocorra a 
ovulação. A inibina é outra substância, de natureza proteica, 
produzida nos ovários e que age sinergicamente ao estrogênio 
inibindo principalmente a secreção de FSH e, consequentemente, 
aumentando a ação do LH sobre a síntese de estrogênios nas células 
da teca. Portanto, essas células convertem, com eficiência, 
androgênios em estrogênios, principalmente emestradiol, que é um 
estrogênio potente. Já a ativina exerce importante atividade autócrina, 
aumentando a ação do FSH e diminuindo a do LH a partir do 
crescimento da produção de seus receptores. 
2. Esteroidogênese na Fase Lútea: após a ovulação, o folículo roto 
passa por uma série de transformações estruturais, bioquímicas e 
hormonais, transformando-se em corpo lúteo. Na fase lútea, as células 
da granulosase tornam mais proeminentes do que as da teca. Assim, 
passam a produzir estradiol e progesterona sob o estímulo de LH, 
mesmo em baixas doses. Apesar do sistema de duas células continuar 
existindo, o papel do FSH no estímulo à produção de estradiol passa 
a ser substituído pelo do LH. No corpo lúteo, a secreção de estradiol 
e progesterona ocorre de modo intermitente, acompanhando os pulsos 
de LH. Para que a produção hormonal na fase lútea seja adequada é 
preciso que a fase folicular tenha ocorrido normalmente. O acúmulo 
de receptores de LH nas células da granulosa na fase folicular garante 
a luteinização do folículo roto e, portanto, a adequada esteroidogênese 
do corpo lúteo. Um dos importantes papéis do LH na fase lútea inicial 
é estimular a produção de receptores de membrana para LDL no corpo 
lúteo. Esses receptores garantem a entrada, nas células, do colesterol, 
substrato para a produção de estradiol e progesterona. As células do 
corpo lúteo também produzem sob o efeito do LH, a inibina A que em 
associação com o estradiol e a progesterona, será responsável por 
inibir a liberação de FSH, consequentemente impedirão um novo 
desenvolvimento folicular. Com a luteinização aumentam as 
concentrações da desmolase da 17-hidroxidesidrogenase, ampliando, 
assim, a produção de estrogênio e progesterona, com a progesterona 
apresentando seu pico máximo cerca de 8 dias após o pico de LH. 
Após 14 dias, o corpo lúteo deve continuar sendo estimulado pela 
gonadotrofina coriônica humana (HCG), que contém uma molécula 
muito semelhante à do LH e, portanto, ocupa seus receptores. Caso 
isso não se verifique, o corpo lúteo se degenera, transformando-se em 
corpo albicans. 
DESENVOLVIMENTO PUBERAL NORMAL: 
A puberdade é a transição da infância para a fase adulta, caracterizada 
por um sequência de eventos que culminam com o desenvolvimento 
da capacidade reprodutiva. Entre as modificações observadas nesse 
período, destacam-se o aparecimento dos caracteres sexuais 
secundários (mamas e pelos pubianos), a aceleração da velocidade de 
crescimento (estirão do crescimento linear), profundas mudanças 
psicológicas e produção de gametas maduros. 
O eixo hipotálamo-hipófise-ovariano (HHO) se torna funcional antes 
do nascimento. Na 10ª semana de vida embrionária, o hormônio 
liberador de gonadotrofinas (GnRH) é produzido. As concentrações 
hipofisárias dos hormônios FSH e LH aumentam progressivamente, 
atingindo o pico entre a 20ª semana e a 24ª semana e diminuindo nas 
últimas semanas de gestação – por retroalimentação negativa de 
estrogênio e progesterona. Após o nascimento, com a perda dos 
esteroides sexuais maternoplacentários, ocorre liberação de GnRH e 
as concentrações plasmáticas das gonadotrofinas aumentam. 
A puberdade normal consiste numa progressão, em sequência 
ordenada, de processos, sendo eles: crescimento somático acelerado, 
maturação dos caracteres sexuais primários (gônadas e genitais), 
aparecimento dos caracteres sexuais secundários, menarca. 
Estágios de Tanner: 
P1 – fase de pré-adolescência (não há pelugem). 
P2 (9-14 anos) – presença de pelos longos, macios e ligeiramente 
pigmentados ao longo dos grandes lábios. 
P3 (10-14,5 anos) – pelos mais escuros e ásperos sobre o púbis. 
P4 (11-15 anos) – pelugem do tipo adulto, mas a área coberta é 
consideravelmente menor que a do adulto. 
P5 (12-16,5 anos) – pelugem do tipo adulto, cobrindo todo o púbis e 
a virilha. 
Telarca Precoce: 
A telarca pode se iniciar antes dos 8 anos e é encontrada com maior 
frequência em meninas com menos de 2 anos. Essa maturação 
prematura da mama é chamada telarca precoce. Suspeita-se de telarca 
precoce quando durante a consulta de acompanhamento se observa 
crescimento de tecido mamário ou maturação do mamilo mínimos, 
mas a estatura da menina mantém-se dentro do percentil estabelecido. 
O monitoramento do crescimento corporal e das alterações mamárias 
pode ser suficiente, mas, para aquelas com aumento de estatura ou de 
peso, ou com outras alterações puberais, recomendam-se exames 
adicionais para puberdade precoce. 
A telarca precoce é indicada por idade óssea sincrônica e até 1 ano da 
idade cronológica. No entanto, se a idade óssea estiver avançada em 
dois ou mais anos, a puberdade terá se iniciado e recomenda-se 
investigação para puberdade precoce. Naquelas com telarca 
prematura isolada, os níveis séricos de estradiol podem estar 
levemente elevados, o que é encontrado mais comumente em lactentes 
com peso muito baixo ao nascer. Além disso, os níveis séricos de 
gonadotrofina estão baixos. Na maioria dos casos, o desenvolvimento 
prematuro das mamas regride ou se estabiliza, e o tratamento consiste 
em tranquilização com vigilância cuidadosa buscando por outros 
sinais de puberdade precoce. 
 
Pubarca Precoce: 
Para as meninas, a puberdade precoce historicamente foi definida 
como desenvolvimento de mamas ou de pelos pubianos em idade 
inferior a 8 anos. 
Pubarca Precoce Central (gonadotrofina-dependente): a ativação 
precoce do eixo hipotálamo-hipófise-ovário leva à secreção de GnRH, 
a aumento da síntese de gonadotrofina e, consequentemente, a 
aumento dos níveis dos esteroides sexuais gonadais. A causa mais 
comum de puberdade precoce central é idiopática, entretanto lesões 
do sistema nervoso central devem ser excluídas. Os sintomas de 
puberdade precoce central são similares àqueles da puberdade normal, 
com desenvolvimento das mamas, pelos pubianos, crescimento rápido 
e menstruações eventuais – contudo, em idade precoce. Nas meninas 
afetadas, observa-se maturação óssea avançada. Além disso, os níveis 
séricos de FSH, LH e estradiol encontram-se aumentados para a idade 
cronológica e caracteristicamente estão na faixa esperada para a 
puberdade. Entretanto, no início do processo os níveis de FSH e LH 
possivelmente só estejam elevados à noite, e o teste de estimulação 
com GnRH talvez seja útil. A puberdade precoce central é confirmada 
quando há elevação dos níveis séricos de LH após a infusão. Por outro 
lado, a ausência de elevação do nível de LH e FSH após a infusão de 
GnRH sugere puberdade precoce periférica. Os objetivos do 
tratamento são prevenir baixa estatura na idade adulta e limitar os 
efeitos psicológicos do desenvolvimento puberal precoce. A fusão das 
epífises é um processo estrogênio-dependente. Portanto, as meninas 
com puberdade precoce têm risco aumentado de fechamento precoce 
da placa de crescimento e baixa estatura na idade adulta. O tratamento 
é feito com administração de um agonista do GnRH, que serve para 
infrarregular os gonadotrofos da hipófise e inibir a liberação de FSH 
e LH. Os níveis de estrogênio caem e, em geral, há regressão 
acentuada do tamanho das mamas e do útero. Se o tratamento for 
instituído após a menarca, as menstruações serão suspensas. A 
oportunidade para a suspensão do tratamento com GnRH e retomada 
do desenvolvimento puberal é determinada pelos objetivos da terapia 
primária: maximizar a estatura, sincronizar a puberdade com os pares 
e reduzir o estresse psicológico. A partir de uma revisão feita com 
diversos artigos, concluiu-se que a média de idade para suspensão do 
tratamento foi de aproximadamente 11 anos. 
Pubarca Precoce Periférica (gonadotrofina-independente): mais 
raramente, os níveis elevados de estrogênio podem ter origem em 
fonte periférica, como um cisto ovariano. Denominado puberdade 
precoce periférica, esse quadro é caracterizado por ausência de 
liberação pulsátil de GnRH, níveis baixos de gonadotrofinas 
hipofisárias e, ainda assim, aumenta das concentrações séricas de 
estrogênio. A síndrome de McCune-Albright é caracterizada por 
displasia fibrosa poliostótica, manchas café com leite irregulares e 
endocrinopatias. A puberdade precoce é um achado frequente e 
resulta da produção de estrogênio nos cistos ovarianos, que são 
comuns nessas meninas. Nas meninas com puberdadeprecoce 
periférica, os níveis de estrogênio caracteristicamente estão elevados 
e os níveis séricos de LH e FSH estão reduzidos. A determinação da 
idade óssea demonstra idade avançada, e a estimulação do GnRH não 
apresenta elevação nos níveis séricos de LH. O tratamento da 
puberdade precoce periférica consiste na eliminação do estrogênio. 
Para pacientes com exposição exógena, a suspensão da fonte de 
estrogênio, como pílulas ou cremes hormonais, é suficiente. Se for 
encontrado tumor ovariano ou suprarrenal secretores de estrogênio 
haverá indicação de excisão cirúrgica; o hipotireoidismo é tratado 
com reposição do hormônio da tireoide. O excesso de androgênio com 
sinais de virilização é raro na infância. Denominada puberdade 
precoce heterossexual, essa condição costuma ser causada por 
aumento da secreção de androgênio pela glândula suprarrenal ou pelo 
ovário. Entre as causas estão tumores ovarianos ou suprarrenais 
secretores de androgênio, hiperplasia suprarrenal congênita, síndrome 
de Cushing e exposição exógena a androgênios. O tratamento deve ser 
direcionado à correção da etiologia subjacente. 
Pubarca Tardia: a puberdade é considerada tardia se nenhuma 
característica sexual secundária estiver presente aos 13 anos de idade, 
o que é mais do que dois desvios-padrão da média de idade, ou se as 
menstruações não tiverem sido iniciadas aos 16 anos de idade. O 
retardo constitucional é a forma mais comum de puberdade tardia, e 
essas adolescentes não apresentam características sexuais secundárias 
nem estirão de crescimento em torno dos 13 anos de idade. A causa 
provável é retardo na reativação do sistema gerador de pulso de 
GnRH. As pacientes podem ser tratadas com dose baixa de estrogênio 
até que haja evolução da puberdade, momento em que o estrogênio 
pode ser suspenso. Durante o tratamento com dose baixa de 
estrogênio, não é necessário introduzir progesterona, uma vez que, na 
puberdade precoce, há um longo período similar de estrogênio sem 
oposição antes dos ciclos ovulatórios. 
CICLO MENSTRUAL: 
O ciclo menstrual pode ser definido como o conjunto de eventos 
endócrinos interdependentes do eixo hipotálamo-hipófise-ovário 
(HHO) e as consequentes modificações fisiológicas no organismo, 
visando à preparação para a ovulação e para uma futura gravidez. 
Durante cada ciclo menstrual, dois processos reprodutivos principais 
ocorrem: 1º) Maturação folicular por estímulo hormonal e liberação 
de um óvulo a partir de um dos ovários e 2º) Preparação do útero para 
receber o embrião, caso ocorra fertilização. 
Por convenção, o 1º dia da menstruação é considerado o 1º dia do 
ciclo. A duração do ciclo normal varia de 21 a 35 dias (média de 28 
dias). O fluxo menstrual dura aproximadamente dois a seis dias, com 
uma perda sanguínea de 20 a 60ml. 
Eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovário (HHO): 
O eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovário (HHO) é o cerne do estudo do 
ciclo menstrual. Mediante hormônios específicos secretados por cada 
compartimento e sob a influência de mecanismos de retroalimentação 
positivos ou negativos, o ciclo menstrual se completa. 
O ciclo menstrual normal ocorre devido à perfeita interação entre os 
diversos compartimentos do organismo feminino, principalmente 
entre hipotálamo, hipófise, ovários e os órgãos efetores, útero e 
endométrio. O útero, portanto, não entra diretamente nessa interação. 
Apesar de sua fundamental importância na concepção, desempenha 
um papel eminentemente passivo. 
Hipotálamo: desempenha um papel central na iniciação do ciclo 
menstrual, mas não atua de forma independente. O Hormônio 
Liberador de Gonadotrofinas (GnRH) constitui um dos principais 
produtos de liberação do hipotálamo. É um decapeptídeo secretado de 
forma pulsátil pela porção do hipotálamo conhecida como núcleo 
arqueado ou infundibular. Esse hormônio é captado e transportado 
pelo plexo capilar até a circulação porta-hipofisária. O GnRH é único 
entre os hormônios de liberação porque controla simultaneamente a 
secreção de dois hormônios (gonadotrofinas) pelas células 
gonadotróficas basofílicas da hipófise anterior (adeno hipófise), que 
correspondem ao Hormônio Folículo Estimulante (FSH) e Hormônio 
Luteinizante (LH). Os pulsos de GnRH são modulados pelo sistema 
supra-hipotalâmico norepinefrina-dopamina, com influência 
estimuladora da norepinefrina e inibidora da dopamina. A secreção do 
GnRH varia em frequência e amplitude em todo o ciclo menstrual, o 
que é imprescindível para um ciclo normal. A fase folicular se 
caracteriza por pulsos frequentes e de pequena amplitude. Na fase 
folicular tardia, há um aumento da frequência e na amplitude destes 
pulsos. Durante a fase lútea, há um aumento gradativo do intervalo 
entre os pulsos, ou seja, há uma diminuição progressiva da frequência 
dos pulsos. A amplitude nessa fase é maior do que na fase folicular, 
mas diminui progressivamente no transcorrer de duas semanas. 
Assim, há uma redução progressiva da amplitude dos pulsos na fase 
lútea, mas estes apresentam amplitude maior do que na fase folicular. 
A modificação na frequência de pulso do GnRH permite a variação 
do FSH e do LH durante todo o ciclo menstrual. O hipotálamo é 
responsável pela secreção de outros fatores de liberação hipofisários, 
além do GnRH, como a Dopamina, que inibe a síntese de prolactina, 
considerada o fator de inibição da secreção de Prolactina (PRL). O 
Hormônio Tireotrófico (TRH) é considerado o maior estimulador da 
síntese de PRL. 
Adeno-Hipófise: sabe-se que o GnRH, originário do hipotálamo, age 
diretamente sobre as células gonadotróficas basofílicas da hipófise 
anterior, estimulando-as a secretar o hormônio luteinizante (LH) e o 
hormônio folículo estimulante (FSH) na circulação. A adeno-hipófise 
é também responsável pela secreção de outros hormônios reguladores, 
tais como: TSH, ACTH, GH e prolactina. 
Neuro-Hipófise: o hipotálamo é a fonte de toda a produção hormonal 
da neuro-hipófise. E os dois hormônios secretados por ela são a 
ocitocina e a vasopressina, a qual é também denominada de Hormônio 
Antidiurético – ADH. 
Mecanismos de Retrocontrole: corresponde à influência dos 
hormônios ovarianos sobre as gonadotrofinas hipofisárias e 
hipotalâmicas. Na maior parte do ciclo menstrual, o retrocontrole é 
inibitório, ou seja, os hormônios ovarianos inibem a síntese e 
liberação das gonadotrofinas hipofisárias (FSH e LH), evitando o 
desenvolvimento de múltiplos folículos gonadais. A retroação pode 
ser de alça longa (ovário-hipotálamo), curta (ovário-hipófise; 
hipófise-hipotálamo) ou ultracurta (hipotálamo, hipófise e ovário 
sobre as próprias secreções). No 
feedback negativo ocorre o bloqueio 
da secreção hipofisária e/ou 
hipotalâmica pelos hormônios 
esteroides (estradiol e progesterona) 
e não esteroides (inibina), isto é, 
ocorre a inibição do eixo HHO. Já o 
feedback positivo caracteriza-se pelo 
aumento da liberação de 
gonadotrofinas mediada pelos 
hormônios ovarianos. Este tipo de 
retroação é observado no período 
puberal: o estradiol produzido pelos ovários é capaz de estimular a 
síntese de LH. No meio do ciclo menstrual (14º dia), há pico de 
estradiol (rápida elevação plasmática), que culmina por elevar os 
níveis sanguíneos de LH, resultando na ovulação propriamente dita. 
Quando os níveis de estrogênio estão baixos, há estímulo à secreção 
de gonadotrofinas hipofisárias para estimularem mais intensamente o 
ovário. 
Ciclo Menstrual Normal: 
A divisão do ciclo menstrual dá-se por: (a) Ciclo Ovariano, que pode 
ser subdividido em três fases – folicular, ovulatória e lútea; a fase 
folicular se estende do 1º dia da menstruação até o dia do pico de LH 
(no meio do ciclo). A fase ovulatória inclui três fenômenos principais: 
recomeço da meiose I (do oócito no estágio de diplóteno) após o pico 
de LH; pequeno aumento na produção de progesterona 12 a 24 horas 
antes da ovulação (luteinização); erotura folicular propriamente dita. 
Já a fase lútea compreende o período da ovulação até o aparecimento 
da menstruação. No entanto, há referências que incluem apenas duas 
fases (folicular e lútea). Neste caso, a fase folicular consistirá no 
período em que o folículo dominante é selecionado e desenvolvido até 
se tornar um folículo maduro. Já a fase lútea compreenderá o período 
da ovulação até o aparecimento da menstruação; e (b) Ciclo Uterino, 
que também pode ser subdividido em três fases – proliferativa, 
menstrual e secretora. No entanto, de forma análoga ao que acontece 
no ciclo ovariano, alguns autores consideram apenas duas fases 
(proliferativa e secretora). 
Ciclo Ovariano: o desenvolvimento folicular é um processo contínuo 
e dinâmico que só se interrompe quando a reserva ovariana termina, 
isto é, os folículos crescem e entram em atresia continuamente, 
mesmo durante a infância pré-puberal, gestação, ciclos anovulatórios, 
uso de anticoncepcional oral e perimenopausa. 
Fase Folicular: é a primeira do ciclo menstrual. Nessa fase, acontece 
uma sequência ordenada de eventos, que assegura o recrutamento de 
uma nova coorte de folículos para a seleção do folículo dominante. 
Nela, o folículo destinado à ovulação passa pelos estágios de folículo 
primordial, folículo primário, folículo pré-antral, antral e pré-
ovulatório. O resultado desse desenvolvimento folicular é, 
comumente, um único folículo maduro viável. Este processo dura 
cerca de 10 a 14 dias. Vale lembrar que a duração do ciclo menstrual 
é determinada pela variação na duração da fase folicular, ou seja, o 
tempo necessário para que o folículo se desenvolva e atinja sua 
maturidade. O aumento do FSH é o sinal para o recrutamento 
folicular. O FSH aumenta a produção estrogênica, promovendo o 
crescimento da granulosa e estimulando a atividade da aromatase. Ao 
longo desse processo, o FSH e o estrogênio aumentam a quantidade 
de receptores para FSH. O FSH promove uma multiplicação das 
células cuboides da granulosa e uma diferenciação das células 
estromais circunjacentes em camadas celulares concêntricas 
denominadas de teca interna e teca externa. As células da teca 
produzem androstenediona e testosterona sob efeito do LH. As células 
da granulosa produzem estradiol a partir dos androgênios, sob 
estímulo da aromatase (dependente de FSH). O folículo dominante 
caracteriza-se por uma maior atividade da enzima aromatase (que lhe 
permite uma maior produção de estradiol), um maior número de 
receptores de FSH e por uma expressão de receptores de LH também 
nas células da granulosa. 
Fase Ovulatória: a ovulação acontece como resultado da ação 
simultânea de diversos mecanismos que ocorrem no folículo 
dominante, que estimulam a sua maturação e induzem a rotura 
folicular. Somente o folículo que atinge seu estágio final de maturação 
é capaz de se romper. O marcador fisiológico mais importante da 
aproximação da ovulação é o pico de LH do meio do ciclo, o qual é 
precedido por aumento acelerado do nível de estradiol. Sabidamente, 
o folículo pré-ovulatório produz, com a síntese crescente de estradiol, 
seu próprio estímulo ovulatório. O pico de estradiol estimula o pico 
de LH e, consequentemente, a ovulação. No momento da ovulação, 
dentro do microambiente do folículo dominante, ocorrem três 
fenômenos principais: (1) Recomeço da Meiose; (2) Luteinização e 
(3) Ovulação, ou seja, o pico de LH faz o oócito reassumir a meiose, 
estimula a síntese de prostaglandinas e luteiniza as células da 
granulosa que, por sua vez, sintetizam a progesterona. 
Fase Lútea: sua duração é normalmente fixa e é de 14 dias. O 
aumento dos níveis de progesterona de forma aguda caracteriza esta 
fase. O pico máximo ocorre em torno do oitavo dia após a ovulação, 
coincidentemente com os maiores níveis estrogênicos e com a maior 
vascularização do endométrio. Uma vez liberado o oócito, a estrutura 
dominante passa a ser chamada de corpo lúteo ou corpo amarelo. 
Antes da ruptura do folículo e liberação do óvulo, as células da 
granulosa começam a aumentar de tamanho e assumem um aspecto 
caracteristicamente vacuolado, associado ao acúmulo de pigmento 
amarelo, a luteína. O fator determinante da nomenclatura desta fase e 
do corpo amarelo é o acúmulo desse pigmento amarelado, a luteína, 
nas células da granulosa. O funcionamento lúteo normal requer um 
desenvolvimento folicular pré-ovulatório adequado, sobretudo um 
estímulo apropriado de FSH e um ininterrupto apoio tônico do LH, o 
que resulta em síntese e secreção adequada de estradiol e 
progesterona. Sabe-se da necessidade de estrogênio para a síntese de 
receptores de progesterona no endométrio. O estrogênio da fase lútea 
é necessário para que ocorram as alterações induzidas pela 
progesterona no endométrio após a ovulação. A cada pulso de LH 
existe um aumento na concentração de progesterona. A progesterona 
atua tanto centralmente quanto no interior do ovário, na supressão de 
novos crescimentos foliculares. Estes pulsos de LH são maiores no 
início da fase lútea e diminuem gradativamente até valores baixos na 
fase lútea tardia, que favorece a atuação de fatores que levam à 
luteólise, caso a gravidez não se concretize, esse mecanismo faz com 
que o corpo lúteo regrida. Logo após a luteólise, o suprimento de 
sangue do corpo lúteo diminui, secreção de progesterona e estrogênio 
reduz-se bastante, e as células lúteas sofrem apoptose e se tornam 
fibróticas. Assim é formado o corpo albicans (corpo branco). Se 
ocorrer gravidez, a hCG produzida no início da gestação “salva” o 
corpo lúteo da atresia ligando-se e ativando o receptor de LH nas 
células lúteas. A esteroidogênese do corpo lúteo, estimulada pela 
hCG, mantém a estabilidade endometrial até que a produção de 
esteroides placentários seja suficiente para assumir essa função no 
final do primeiro trimestre. 
Portanto, quando são consideradas 
apenas duas fases do ciclo 
ovariano, a fase lútea compreende 
o período da ovulação até o 
aparecimento da menstruação. 
Quando são consideradas três 
fases, a fase lútea consiste no 
período em que o folículo 
ovulatório se converte em corpo lúteo. O aumento dos níveis de 
progesterona de forma aguda caracteriza este período do ciclo 
menstrual. 
Ciclo Uterino: em um ciclo menstrual ovulatório, ocorrem alterações 
anatômicas e funcionais específicas nos componentes glandulares, 
vasculares e estromais do endométrio para implantação. Essas 
alterações endometriais definem o ciclo uterino e espelham a 
atividade do estradiol e da progesterona. O estroma endometrial é 
constituído de uma matriz de tecido conectivo dispersa entre fibras 
colágenas e elásticas. Histologicamente, há três camadas no 
endométrio: (a) Profunda ou Basal, não responde funcionalmente aos 
hormônios ovarianos, inclui os fundos de saco glandulares; (b) Média 
ou Esponjosa, ocupa a maior parte da espessura do endométrio e reage 
intensamente aos estímulos hormonais; e (c) Superficial ou Compacta, 
inclui a região do colo das glândulas bem como o epitélio superficial. 
O ciclo uterino também é dividido em fases histológicas, sendo elas 
determinadas pelos diferentes estímulos dos hormônios produzidos 
pelos ovários: endométrio menstrual, endométrio proliferativo, 
endométrio secretor. 
 
Resumindo: 
O fluxo menstrual é considerado como o início de um novo ciclo (1º 
dia da menstruação = 1º dia do ciclo). No entanto, já no final do ciclo 
anterior (período pré-menstrual) há elevação do FSH. Isto é explicado 
pelo fato de haver diminuição nas concentrações sanguíneas de 
estrogênio e progesterona o que determinaria retrocontrole positivo 
sobre as gonadotrofinas hipofisárias, mormente sobre o FSH. 
Esta diminuição dos esteroides ovarianos resultaria em descamação 
endometrial e consequente fluxo menstrual. O FSH atua nos folículos 
recrutados aumentando a concentração de receptores de FSH e LH. 
Aproximadamenteno 6-8º dia do ciclo há elevação lenta do estradiol 
havendo retrocontrole negativo sobre o FSH. Mesmo com a leve 
queda nos níveis de FSH, os folículos continuam a se desenvolver, ou 
seja, o mais sensível ao FSH (o que tiver mais receptores) chegará à 
dominância enquanto os outros sofrerão atresia. O estradiol também 
aumenta o número de receptores para o FSH. 
Na fase ovulatória há dois fenômenos importantíssimos: pico de 
estradiol (24h antes do pico de LH) e pico de LH (12h antes da 
ovulação). O pico de estradiol determina retrocontrole positivo sobre 
a liberação de LH e posterior ovulação. Para que o pico de estradiol 
seja eficaz são necessários dois requisitos: concentração de 200 pg/ml 
e duração mínima de 24 a 36h. 
O folículo dominante (aquele com maior concentração de receptores) 
torna-se luteinizado após a ovulação. Entramos na fase lútea onde há 
desenvolvimento do corpo lúteo e produção de progesterona para 
manter uma possível gravidez. Caso não haja concepção, após ± 14 
dias, há regressão do corpo amarelo, diminuição dos esteroides 
ovarianos e descamação endometrial com início da menstruação e 
outro ciclo menstrual. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
• Joseph I. Schaffer, Barbara L. Hoffman, John O. Schorge. 
Ginecologia de Williams. 2ª. Edição, Editora Artmed, 2014. a. 
Capítulo - 14 - páginas 391 (Telarca precoce) e 393 a 395 (Puberdade 
precoce e tardia). b. Capítulo – 15 - páginas 400 a 417 e 423 a 435. 
• Desenvolvimento Puberal de Tanner [Internet]. [place unknown]; 
[S.I.]. Desenvolvimento Puberal de Tanner: Desenvolvimento 
Puberal de Tanner para meninas; [revised 2022 Feb 12; cited 2022 
Feb 12]; Available from: https://www.sbp.com.br/departamentos-
cientificos/endocrinologia/desenvolvimento-puberal-de-tanner/. 
• Meneses Celise, et al. Estagiamento de Tanner: um estudo de 
confiabilidade entre o referido e o observado. Adolescência & Saúde. 
2008 outrubro;5(3):54-56. 
• Resumos da Med: https://www.passeidireto.com/lista/96116421-
ginecologia/arquivo/96116543-esteroidogenese-desenvolvimento-
puberal-e-ciclo-menstrual 
 
https://www.sbp.com.br/departamentos-cientificos/endocrinologia/desenvolvimento-puberal-de-tanner/
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