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1 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Alimentação e Amamentação Bases fisiológicas da alimentação e nutrição do lactente Importante lembrar que o lactente possui uma imaturidade do trato gastrointestinal, rins, fígado e sistema imune. Nesse contexto, ao nascer há sucção pelo reflexo da procura e até o 4º mês, surge o reflexo da protrusão, onde há uma exteriorização de qualquer alimentação sólido colocado na boca do bebe. Já a mastigação surge entre o 6-7º mês, onde há um controle maior dos lábios. Com 7-8 meses urgem os reflexos mandíbulo-linguais, 12-18 meses há surgimento dos movimentos mais completos de mastigação rotatória e apenas com 2 anos é que há o controle eficiente da mastigação. Lactentes até os 6 meses: Possuem uma capacidade digestiva limitada, de modo que: - Proteínas: capacidade diminuída pelo alto pH gástrico; - Gorduras: funções pancreáticas e hepáticas não estão totalmente desenvolvidas; Carboidratos: a amilase pancreática possui uma atividade baixa durantes os primeiros 6 meses. - Há uma imaturidade funcional dos rins, onde temos uma baixa velocidade de filtração glomerular e concentração urinária. Por isso precisa-se ter cuidado com sobrecarga de solutos, como proteinas, sódio, cloro, potássio e fósforo. A partir de 2-3 meses a capacidade urinária melhora, de modo que o risco de Hipernatremia reduz significativamente e apenas com 2 anos a função renal torna-se desenvolvida. Padrão alimentar 0-6 meses: Nesse período temos o momento de aleitamento materno exclusivo. De modo que, o leite de vaca integral não é recomendado no primeiro ano de vida, por conta de: - Inadequação de macronutrientes; - Maior teor proteico que o leite materno; - Maior teor de sódio; - Deficiência de ácido linoleico, o qual é responsável pela mielinização do SNC; - Risco de alergia alimentar: APLV: alergia a proteína do leite da vaca; - Predisposição à deficiência de micronutrientes; - Menor quantidade de zinco, ferro, cálcio, vitamina D, E, C e niacina; - Apesar da quantidade semelhante de ferro, a biodisponibilidade do leite materno é maior que o leite de vaca. 6-8 meses: Nesse período há uma progressão motora, bem como uma evolução da preensão palmar. Nesse sentido, podemos dar inicio a alimentação complementar, chamada assim, pois devemos manter o aleitamento materno, que segue até os 2 anos ou mais preferencialmente. - Água: A partir da interrupção do aleitamento materno exclusivo e introdução da alimentação complementar é importante oferecer água nos intervalos. Recomenda-se de 0-6 meses: 700 mL, 7-12 meses 800 mL e de 1-3 anos: 1300 mL. Iremos ofertar as frutas da estação na forma de papas (amassadas ou raspadas) ou sucos (mais natural, evitando adição de açúcar). - Introduzir uma nova fruta a cada 2-3 dias, analisando se há alguma reação; - Sucos preferencialmente após as refeições principais, tendo dose máximo de 100 mL/dia. - A criança amamentada deve receber 3 refeições por dia: 2 papas e 1 fruta, já a criança em aleitamento artificial deve receber 6 refeições por dia: 2 papas, 2 frutas e 2 leite. Idade Recomendação Até 6 meses Aleitamento materno exclusivo 6 meses Frutas Primeira Papa 6-7 meses Segunda papa 9 meses Aumentar progressivamente a consistência dos alimentos 10-12 meses Alimentação da família - Primeira papa: composta de: Cereais ou tubérculos, legumes e hortaliças: Arroz, milho, macarrão, batata, inhame, etc 2 porções; Feijão, soja, ervilha, lentilha, grão de bico 1 porção; Hortaliças: verduras e legumes 1 porção. 2 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Carne: carne, frango, peixe, vísceras, em especial fígado e ovo cozida 1 porção; É uma fonte de ferro e zinco; Recomendado 70-100 gramas por dia 2 colheres de sopa. Óleo vegetal; Sal: preferencialmente não usar ou usar com moderação; Não usar mel: só é recomendado o uso de mel após os 12 meses pelo risco de botulismo. OBS: A papa pode ser conservada na geladeira por 24 horas, no freezer por até 3 meses e no freezer do congelador por até 15 dias. 9-12 meses: Nessa fase há uma progressão motora, com a vedação do lábio no copo, bem como uma mastigação mais eficiente. Logo, teremos: - 6-7 meses: consistência da papa em purê; - 8-9 meses: consistência da papa ligeiramente amassada; - > 10 meses: consistência da papa em pequenos pedaços. A partir de 1 ano: Nessa fase podemos utilizar o cardápio da família e as refeições da família, importante se atentar para evitar temperos artificiais. Iremos oferecer os alimentos inteiros, promovendo a construção de hábitos alimentares saudáveis, bem como promover uma maior autonomia da criança na alimentação. Suplementações Vitamina Recomendação Vitamina K 0,5-1 mg IM nos RN’s Vitamina D Iniciar na primeira semana de vida: - Até 1 ano: 400 UI/dia; - 1-2 anos: 600 UI/dia. Vitamina A Iremos oferecer a população de risco, de modo que recomenda- se suplementar a cada 4-6 meses: - < 6 meses e amamentados: 50.000 UI; - 6-12 meses: 100.000 UI; - 12-72 meses: 200.000 UI. Ferro: - No RN a termo, com peso adequado para IG em aleitamento materno exclusivo ou não, ou em uso de menos de 500 mL de fórmula infantil por dia 1 mg de ferro elementar/kg de peso/dia, a partir do 3º mês de vida até 24º mês. - No RN a termo com peso inferior a 2500 g ou entre 2500-1500 g 2 mg/kg de peso/dia, a partir de 30 dias durante 1 ano. Após esse período, retornamos para 1 mg/kg/dia por mais 1 ano. - RN pré-termo com peso entre 1500-1000 g 3 mg/kg de peso/dia, a partir de 30 dias durante 1 ano e após esse período retornamos para 1 mg/kg/dia por mais 1 ano; - No RN pré-termo com peso inferior 1000 g 4 mg/kg de peso/dia, a partir de 30 dias durante 1 ano. Após esse período, retornar a 1 mg/kg/dia por mais 1 ano. 10 passos para alimentação saudável segundo OMS 1- Dar somente leite materno até 6 meses de vida, sem oferecer água, chás ou qualquer outro alimento; 2- A partir dos 6 meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os 2 anos ou mais; 3- Após 6 meses, dar alimentos complementares 3x por dia se a criança receber leite materno e 5x ao dia se estiver desmamada; 4- A alimentação complementar deve ser oferecida sem rigidez de horário, respeitando a vontade da criança; 5- A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida em colher, iniciando com consistência pastosa e gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família; 3 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP 6- Oferecer à criança diferentes alimentos ao longo do dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida; 7- Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições; 8- Evitar açúcar, café, enlatados, salgadinhos, frituras, refrigerantes nos primeiros anos de vida. E usar sal com moderação; 9- Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos, garantindo seu armazenamento e conservação adequados; 10- Estimular a criança doente, convalescente a se alimentar oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando sua aceitação. Exemplo - Cardápio: Desjejum- leite materno; Lanche- fruta; Almoço- papa principal; Lanche- leite materno ou fruta; Jantar- papa secundária; Ceia- leite materno. - Se não estivesse amamentando: Desjejum- fórmula de seguimento; Lanche- fruta; Almoço- papa principal; Lanche- fruta; Jantar- papa secundária; Ceia – fórmula infantil. Aleitamento Materno Introdução: O aleitamento materno exclusivo é recomendado nos primeiros 6 meses de vida e a partir disso complementado com alimentação, de modo que o aleitamento materno seja mantido até2 anos ou mais. Importante salientar que a alimentação complementar não é recomendada através de derivados do leite, como de vaca, de soja, de cabra, industrializado, etc. Vantagens do aleitamento materno: - Para a criança: Alimento completo do lactente até os 6 meses; Menor incidência de doenças diarreicas e quando as adquire estas são de menor gravidade; Sofre menos com infecções do trato respiratório inferior, otite média, meningite bacteriana, etc; Diminui a probabilidade de maus tratos; Maior vínculo afetivo com a mãe. - Para a mãe: Diminui o risco de câncer de mama, ovário e endométrio; É mais barato, limpo e prático; Favorece a involução uterina, a perda de peso e diminui a hemorragia pós-parto. Fisiologia da lactação: O estímulo da sucção na mama, ativa as vias nervosas aferentes que agem no hipotálamo. A partir disso, a hipófise anterior passa a produzir prolactina que, na mama, vai estimular a produção de leite. Já na hipófise posterior há liberação de ocitocina no sangue, a qual promove a ejeção láctea. O período que inicia a produção do leite é chamado de apojadura, o qual acontece em torno de 48-72 horas após o parto. Nesse momento, a mama aumenta de tamanho e temperatura, tornando-se dolorosa por um período médio de 3-4 dias. - Ocitocina: é um hormônio liberado pela hipófise posterior, que atua sobre as células mioepiteliais, determinando sua contração e consequente expulsão do leite para os ductos. A ocitocina é considerada o hormônio galactopoeitico mais potente, pois através da sua ação, há esvaziamento de leite da glândula. Além disso, pesquisas vêm demonstrando que a ocitocina é o hormônio do vinculo. Galactopoiese: é a etapa da lactogênese, na qual se mantém a produção láctea. Tipos de aleitamento materno: - Aleitamento materno exclusivo: ocorre quando a criança recebe somente leite materno, direto ou ordenhado ou leite humano de outra fonte. Importante não ter outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos; - Aleitamento materno predominante: ocorre quando a criança recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água, sucos de fruta, etc; - Aleitamento materno complementado: ocorre quando a criança recebe, além do leite materno, outro tipo de leite, mas este não é considerado alimento complementar; - Aleitamento materno misto: quando a criança recebe leite materno total ou parcial, além de outros tipos de leite. Técnicas de amamentação: Inicialmente precisamos lembrar que é indicado iniciar a amamentação na sala de parto e que o leite materno deve ser ofertado a livre demanda. - O RN deve sugar a mama até esvazia-la, uma vez que o leite materno posterior é 2-3x mais rico em lipídeos que o leite anterior, isto permite que o lactente fique mais saciado, aumente o intervalo das mamas e chore menos. - Nos primeiros dias de vida, o colostro não sacia o RN como o leite maduro, logo as mamadas são mais frequentes e de curta duração. - A pega correta: Boca do bebe em forma de boca de peixe; 4 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Lábios evertidos; Grande parte da aréola na boca do bebe e não apenas o mamilo; Nariz não encosta no seio, para o bebe respirar livremente; Queixo encostado no seio; Barriga e tronco do bebe voltados para a mãe; A bochecha enche quando suga o leite. - Reflexos do bebe: Reflexo da busca e apreensão: ocorre quando algo toca o lábio e o bebe abre a boca, põe a língua para baixo e para fora; Reflexo da sucção: ocorre quando alguma coisa toca no palato e o bebe suga; Reflexo da deglutição: ocorre quando a boca está cheia de leite e a partir disso o bebe engole. - Tipos de mamilos: importante avalia-los para poder orientar a mãe, uma vez que os mamilos planos e invertidos apresentam maiores dificuldades para a amamentação. - Afecções da mama: Ingurgitamento mamário: ocorre congestão vascular, promovendo uma quantidade de leite retina na mama. Quadro clínico: mamas quentes, dolorosas, brilhantes e pode ocorrer febre; Orientação: orientar a mãe a fazer massagem e ordenha, além de compressas frias. Fissuras mamilares: é causada por má posição, higiene desnecessária e principalmente técnica incorreta de sucção. Prevenções: orientar a mãe quanto a uma boa pega e um posicionamento adequado, expor os mamilos ao sol e aumentar a frequência das mamadas. Mastite: representa um processo inflamatório de um ou mais segmentos da mama, quando infecciosa é causada principalmente pelo S. aureus. Contraindicação da amamentação: - HIV e HTLV; - Uso de drogas: antineoplásicas, imunossupressoras, substâncias radioativas, lítio; - Mães com limitações temporárias; - Galactossemia. Leite Materno: Inicialmente precisamos saber que o leite materno não é uniforme na sua constituição e cada mãe produz um leite especial para seu filho. Além disso, o conteúdo de gordura é maior no final da mamada, sendo fundamental para o ganho calórico do lactente. - Constituição: IgA secretória: não é digerido pelas secreções gástrica e intestinal. Atua contra patógenos os quais a mãe é exposta e que será transferida para o RN; Fator bífido: é um carboidrato nitrogenado que compõem a flora intestinal predominantemente em crianças amamentadas exclusivamente ao peito. Impedem a proliferação de microrganismos patogênicos; Lisozima: é produzida por macrófagos e neutrófilos e age através da lise da parede celular de bactérias gram negativas e positivas; Lactoferrina: é uma proteína carreadora de ferro. - Leite materno x leite de vaca x fórmulas: - Fases da produção láctea: Colostro: é secretado nos primeiros 5 dias após o parto. O colostro apresenta maior conteúdo de eletrólitos, proteinas e vitaminas lipossolúveis. Facilita a eliminação do mecônio nos primeiros dias de vida e permite a proliferação de Lactobacillus bifidus na luz intestinal. Leite de transição: é produzido aproximadamente entre o 6º dia até a segunda semana pós-parto. É intermediário entre o colostro e o leite maduro. Leite maduro: é produzido a partir da 2ª quinzena pós-parto. Possui maior teor lipídico e de lactose, porém menor quantidade de proteinas. O leite anterior é ralo e doce; O leite posterior possui grande quantidade de gordura e é necessário para saciar o lactente.
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