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relacoes_sociais_e_conflitos_na_escola (1)

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Código Logístico
59729
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6722-0
9 7 8 8 5 3 8 7 6 7 2 2 0
RELA
Ç
Õ
ES SO
C
IA
IS E C
O
N
FLITO
S N
A
 ESC
O
LA
A
LESSA
N
D
RA
 A
PA
REC
ID
A
 PEREIRA
 C
H
A
V
ES
Relações sociais e 
conflitos na escola
Alessandra Aparecida Pereira Chaves
IESDE BRASIL 
2021
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
© 2021 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Irenaphoto/Photographer Owl/Shutterstock
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
C438r
Chaves, Alessandra Aparecida Pereira
Relações sociais e con litos na escola / Alessandra Aparecida Pereira 
Chaves. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021.
102 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6722-0
1. Educação - Aspectos sociais. 2. Administração de conflitos. 3. Media-
ção. 4. Ambiente escolar. I. Título.
20-67084 CDD: 371.4
CDU: 37.064
Alessandra Aparecida 
Pereira Chaves
Doutora em Tecnologia e Sociedade e mestra em 
Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do 
Paraná (UTFPR). Bacharela e licenciada em Filosofia 
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Licenciada 
em Pedagogia pelo Centro Universitário Campos de 
Andrade (Uniandrade). Pedagoga da Rede Municipal de 
Ensino de Curitiba.
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
SUMÁRIO
1 Relações sociais e conflitos 9
1.1 Conflitos humanos ao longo da história 9
1.2 Organizações sociais na mediação das relações humanas 14
1.3 Relações de poder e conflitos latentes 18
2 Desenvolvimento biopsicossocial humano 27
2.1 Fases do desenvolvimento humano 27
2.2 Influências socioambientais na formação humana 33
2.3 Transtornos, relacionamentos e negligências 36
3 A escola do século XXI 44
3.1 Popularização e inclusão no ensino formal 44
3.2 Escola do século XXI, estrutura do século XX 49
3.3 Legislações, direitos, deveres e responsabilidades 53
4 Escola: espaço de aprendizagem e socialização 60
4.1 Ensinar conteúdos ou educar para a vida? 61
4.2 Tecnologias, redes sociais e novos modos de relacionamentos 66
4.3 Identificação e avaliação de conflitos 70
5 Ambiente escolar e respeito 77
5.1 Construção coletiva de regras de convivência 77
5.2 Prevenção de conflitos escolares 82
5.3 Construindo a cultura de paz 87
 Gabarito 94
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a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
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gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
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Os conflitos escolares têm sido objeto de estudo e debate 
na busca pela compreensão desse fenômeno que assola 
profissionais da educação em todo o mundo. Embora situações 
de conflitos façam parte das relações humanas, ainda é insipiente 
o entendimento sobre suas causas e consequências. Neste livro 
procuramos instigar a reflexão sobre os conflitos humanos, suas 
prováveis causas, consequências, desdobramentos e possíveis 
encaminhamentos para a busca por soluções. Não há um 
caminho único para resolver os conflitos, mas existem caminhos 
trilháveis que possibilitam chegar a consensos que respeitem e 
considerem os envolvidos. 
De início, traçamos uma síntese sobre os conflitos que 
ocorreram ao longo da história por disputa de poder, de território 
ou por hegemonia política. Desses acontecimentos foram criadas 
instituições importantes como a ONU, com o objetivo de mediar 
conflitos entre os povos e estabelecer a paz mundial. Nem sempre 
essas instituições obtêm sucesso, pois, por vezes, prevalecem as 
relações de poder e os interesses econômicos em detrimento 
dos direitos humanos.
Compreender os conflitos como algo que faz parte das 
relações humanas e que necessita ser trabalhado no cotidiano das 
instituições escolares é um passo importante para a instauração 
da cultura de paz. Para tanto, abordamos na sequência as fases 
do desenvolvimento humano e como as pessoas tendem a se 
comportar em cada uma delas, considerando as influências 
socioambientais que podem se interpor nos modos de 
comportamento. Além disso, é importante considerar que os 
seres humanos são plurais e carregam suas trajetórias, culturas e 
vivências, podendo também serem acometidos por negligências 
e acidentes no percurso de suas vidas. 
Além disso, refletimos sobre a escola do século XXI que precisa 
lidar com essa diversidade diariamente, necessitando atualizar-se 
para que a construção do conhecimento ocorra em um ambiente 
em que todos possam se manifestar de acordo com suas 
APRESENTAÇÃOVídeo
8 Relações sociais e conflitos na escola
vivências, mas respeitando-se mutuamente. Os processos de inclusão escolar, 
de todos os modos, colaboram para que os estudantes possam vivenciar, na 
realidade, a variedade de possibilidades sociais, ultrapassando preconceitos 
estruturais. Embora existam normas e legislações que estabeleçam deveres, 
direitos e responsabilidades, as mudanças nos comportamentos precisam ser 
reforçadas diariamente, por meio do exemplo e do estabelecimento de ações 
de cooperação, acolhimento, colaboração, empatia e alteridade. 
Em seguida, propomos uma reflexão sobre a importância de os conteúdos 
escolares serem trabalhados conectados à realidade vivida pelos estudantes 
de modo a suscitar o interesse pela aprendizagem de qualidade. Os novos 
modelos de relacionamentos sociais que se dão pelo uso das tecnologias 
atuais também estão presentes nas instituições escolares e influenciam as 
relações entre estudantes e entre eles e os profissionais da educação. Esses 
modelos aproximam mais as pessoas, mas, se não forem bem trabalhados, 
estabelecendo-se limites, podem gerar conflitos que, se não mediados, 
podem se agravar. É importante que os profissionais da educação saibam 
identificar e avaliar os conflitos, seus disparadores e suas consequências 
para o clima da instituição. 
Finalizamos o livro abordando a construção coletiva de regras de 
convivência como uma possibilidade para reduzir as ocorrências de indisciplina 
e conflitos escolares. O envolvimento do coletivo nas tomadas de decisões e 
no estabelecimento de regras permite que todos possam se manifestar e ser 
ouvidos. Dessa forma, há uma tendência maior ao cumprimento das normas 
que devem estar em consonância com a missão e os objetivos da instituição. 
Além disso, é importante atuar na prevenção dos conflitos, identificando seus 
disparadores, os envolvidos e como pequenas alterações no ambiente escolar 
podem influenciar na mudança de comportamento, de modo a colaborar para 
a construção da cultura de paz. 
Essa cultura deve ser vivenciada no cotidiano escolar, não se restringindo 
a eventos ou ações esporádicas, e possibilitando que todos se sintam 
partícipes das mudanças que tornam o ambiente melhor para todos. O livro 
busca estabelecer o diálogo entre todos que convivem no ambiente escolar 
para que reflitam sobre suas ações e possam agir respeitando as regras de 
convivência. É preciso que haja colaboração de cada um para conviver em um 
ambiente mais harmonioso e saudável, que respeite as diferenças e considere 
a pluralidade social.Relações sociais e conflitos 9
1
Relações sociais e conflitos
Devido à grande circulação de informações, na atualidade, 
pode-se entender que as situações violentas estão ocorrendo 
mais do que em outros tempos, mas, infelizmente, elas fazem 
parte da história do ser humano e trazem consequências que 
podem durar por gerações e mudar culturas, dizimar comu-
nidades, perpetuar rancores e alterar fronteiras. É da nature-
za humana refletir, discutir, reivindicar, discordar e persistir. 
Ocorre que há comportamentos que podem desencadear con-
flitos e guerras, pois a concordância e a tolerância nem sempre 
prevalecem.
Neste capítulo abordaremos os principais conflitos mun-
diais, os motivos que os desencadearam e suas consequências. 
Desses conflitos, ou guerras, surgiram entidades e movimen-
tos que buscaram a paz mundial, o acordo entre líderes po-
líticos e a tolerância religiosa e cultural. Além disso, também 
será abordado o papel fundamental de personalidades que se 
dedicaram a lutar pela paz e pela igualdade de direitos.
1.1 Conflitos humanos ao longo da história 
Vídeo Ao longo da história da humanidade muitos impérios conquis-
taram povos e territórios por meio da guerra e lançaram mão de 
vários motivos para entrar em confrontos: religiosos, territoriais, 
étnicos e econômicos. “Há confronto não somente entre nações/
estados em guerra, mas também entre classes sociais, entre os 
homens e a natureza, e no próprio indivíduo, que não consegue 
resolver seus conflitos internos, psicoemocionais” (D’AMBROSIO , 
2010, p. 47).
10 Relações sociais e conflitos na escola
Figura 1
Estátuas de Platão e 
Sócrates, em Atenas
Ki
ril
l S
ko
ro
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ga
tk
o/
Sh
ut
te
rs
to
ck
Os confrontos podem ser traumáticos para quem os vivencia, 
mas as gerações posteriorestambém são afetadas pelos conflitos 
que, muitas vezes, permeiam o imaginário social, como o caso da 
Guerra de Troia.
São muitos os mistérios que rondam essa guerra, ocorrida entre 
os povos que habitavam a Grécia Antiga e o território da atual Tur-
quia. Estima-se que o conflito, que ocorreu entre 1300 e 1200 a. C., 
tenha durado 10 anos. O fato que o teria desencadeado foi o rapto 
da princesa Helena de Troia, esposa do rei Menelau, por Páris – o 
qual teria ido em missão diplomática a Esparta e apaixonou-se por 
Helena. O rei Menelau teria enviado mais de mil navios para Troia.
A guerra só terminou quando Odisseu presenteou os troianos 
com um cavalo de madeira, o famoso Cavalo de Troia, com a falsa 
promessa de selar a paz. Dentro do enorme cavalo havia centenas 
de soldados gregos que atacaram a cidade de Troia e a destruíram. 
Há historiadores que acreditam que a guerra de fato ocorreu, mas 
seu verdadeiro motivo seria as rotas comerciais e não uma história 
de amor.
De acordo com a lenda amplamente divulgada, o descobri-
dor da verdadeira Troia foi Heinrich Schliemann. E, depois de 
tantas considerações, estudos e investigação, sozinho, conse-
guiu achar a cidade, outrora um mito, de Troia, em Hisarlik, 
Turquia. Seu interesse nos sítios e eventos da Ilíada criaram 
uma crença bem difundida na real existência física desse 
lugar. (AMBONI, 2016)
Os conflitos podem se dar também no campo das ideias, como 
o caso de Sócrates (399 a. C), que foi condenado por não recuar de 
suas convicções. “Sócrates foi julgado, 
acusado de não acreditar nos deuses 
e de corromper os jovens da cida-
de. […] Foi considerado culpado e 
condenado a morrer toman-
do cicuta, uma erva tóxi-
ca que paralisa o sistema 
nervoso” (FURTADO, 2009, 
p. 49). O pensador foi um 
dos responsáveis pelo de-
senvolvimento da filosofia 
O filme Tróia conta a 
história da famosa guerra 
entre os Aqueus das ci-
dades-estados da Grécia 
contra Tróia. Uma batalha 
sangrenta que durou 
mais de uma década.
Direção: Wolfgang Petersen. EUA, 
Warner Bros, 2004.
Filme
https://www.google.com/search?rlz=1C1GCEA_enBR796BR796&q=Wolfgang+Petersen&stick=H4sIAAAAAAAAAOPgE-LUz9U3MCwrt8hW4gAxLYxK4rXEspOt9NMyc3LBhFVKZlFqckl-0SJWwfD8nLT0xLx0hYDUktSi4tS8HayMAHE4C-ZGAAAA&sa=X&ved=2ahUKEwjqtrbV1d_rAhXLDrkGHfFqDNcQmxMoATAjegQIERAD
Relações sociais e conflitos 11
ocidental. Platão, seu discípulo, deu continuidade aos seus debates, 
materializando-os na obra Diálogos.
Conflitos e desavenças podem ocorrer por motivos religiosos, 
contrapondo-se à paz e sabedoria pregadas em muitos livros sagra-
dos. Pode-se citar como exemplo as Cruzadas. A primeira Cruzada 
ocorreu por volta de 1095 e teve como motivação a reconquista da 
cidade de Jerusalém, que estava sob o comando dos muçulmanos. 
Os integrantes dessa empreitada carregavam cruzes vermelhas para 
indicar a motivação religiosa. As Cruzadas possibilitaram melhorar 
a navegação no Mediterrâneo, além da modernização das relações 
comerciais de sua época.
Se por um lado aprofundaram a hostilidade entre o cristianismo 
e o Islã, por outro estimularam os contatos econômicos e cultu-
rais para benefício permanente da civilização europeia. O comér-
cio entre a Europa e a Ásia Menor aumentou consideravelmente 
e a Europa conheceu novos produtos, em especial, o açúcar e 
o algodão. Os contatos culturais que se estabeleceram entre a 
Europa e o Oriente tiveram um efeito estimulante no conheci-
mento ocidental e, até certo ponto, prepararam o caminho para 
o Renascimento (AS CRUZADAS, 2020).
Não foram somente os cristãos que entraram em combates, mas 
também os muçulmanos que, no ano de 661, se dividiram entre sunitas 
e xiitas. Devido à expansão do califado 2 , o dinheiro arrecadado nos 
territórios não estava sendo dividido igualmente entre seus membros. 
“Para muitos muçulmanos, a mensagem do islamismo estava sendo 
esquecida enquanto árabes brigavam pelos despojos do império” 
(FURTADO, 2009, p. 127).
Os maiores e mais conhecidos conflitos humanos foram a Primeira 
e a Segunda Guerra Mundial. A Primeira Grande Guerra ocorreu na Eu-
ropa, entre os anos de 1914 e 1918, e foi desencadeada pelo assassina-
to do príncipe do império austro-húngaro, Francisco Ferdinando. Nesse 
período havia forte concorrência comercial e armamentista entre os 
países da Europa, e foram utilizadas novas tecnologias da época, como 
os tanques de guerra e os aviões. O fim dessa guerra, que gerou cerca 
de 10 milhões de mortos, foi marcado pela entrada dos Estados Unidos 
da América no conflito.
O mundo mal havia se recuperado das consequências da Primeira 
Guerra, quando em 1939 teve início a Segunda Guerra Mundial, envol-
O Renascimento é considerado 
o movimento que deflagrou a 
transição da Idade Média para 
a Moderna e trouxe mudanças 
fundamentais para a arte, a 
cultura e a ciência. 
Saiba mais
A palavra califado tem origem 
árabe e significa sucessão 
em um regime em que um 
sucessor é “legitimado por 
diferentes meios para governar 
os muçulmanos após a morte 
do Profeta Muhammad, pois 
este nunca criou um ‘estado’ 
ou meio de ascensão ao poder 
por assim dizer. A autoridade 
máxima dentro de um califado 
é a do califa, que possui poderes 
seculares legislativos, porém não 
teocráticos” (O QUE..., 2020).
2
A Cruzada conta a história 
do ferreiro Bailan, que 
perdera o gosto pela vida 
após a morte de sua es-
posa e filho. Porém, tudo 
muda ao reencontrar 
seu pai. Quando, então, 
Bailan se junta a ele em 
sua sagrada missão. O 
ferreiro torna-se um ca-
valeiro e continua a saga 
de seu pai em busca da 
paz entre judeus, cristãos 
e muçulmanos na cidade.
Direção: Ridley Scott. EUA, Reino 
Unido, Espanha e Alemanha, Fox 
Film do Brasil., 2005. 
Filme
http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-258/
12 Relações sociais e conflitos na escola
vendo 72 nações e deixando mais de 52 milhões de mortos. A Primeira 
Guerra deveria ter se constituído em ensinamentos para a humanidade 
– que sofreu seus efeitos devastadores –, no entanto, não foi suficiente 
para promover a cultura de paz pautada no diálogo e na compreensão.
Outro conflito mundial foi a Guerra Fria que iniciou logo após a Se-
gunda Guerra, em 1945, e envolveu os EstadosUnidos e a União So-
viética, que disputavam a hegemonia política e econômica e o domínio 
militar. As duas potências mundiais tinham visões políticas e econômi-
cas diferentes e possuíam armas nucleares. A União Soviética queria 
implantar o socialismo, sob o pretexto de expandir a igualdade social e 
um partido único. Os Estados Unidos defendiam o sistema capitalista, a 
economia de mercado, a propriedade privada e o sistema democrático. 
A guerra só terminou quando 22 países europeus firmaram o Tratado 
de Forças Convencionais.
Com o objetivo de minimizar os impactos da Guerra Fria e im-
pedir que as nações envolvidas utilizassem armas nucleares em 
um possível confronto, foi criado o grupo Pugwash Conferences on 
Science and World Affairs 3 . O grupo reúne “cientistas, estudiosos e 
figuras públicas influentes que visam à redução do risco de conflitos 
armados e à cooperação e à busca de soluções para problemas glo-
bais” (D’AMBROSIO, 2010, p. 46).
Desde o início da era nuclear, muitos cientistas envolvidos nas 
descobertas que conduziram ao conhecimento atômico perce-
beram o potencial destrutivo advindo destas extraordinárias 
conquistas científicas. […] O período que se seguiu ao fim da Se-
gunda Guerra Mundial – Guerra Fria – assistiu a uma intensa e 
perigosa competição armamentista entre dois blocos antagôni-
cos liderados por Estados Unidos e União Soviética. O acirramen-
to das disputas geopolíticas e ideológicas conduziu, na década de 
1950, ao aumento do risco de uso das armas de poder destrutivo 
cada vez maior. (HISTÓRIA..., 2019)
O grupo Pugwash, desde 1957, promove seminários, encontros e deba-
tes para discutir os perigos das armas de destruição em massa (químicas, 
nucleares, biológicas) para a humanidade. Seu grande objetivo é reduzir a 
ameaça de conflitos armados e buscar soluções para a segurança global.
Em 11 de setembro de 2001 ocorreu um dos acontecimentos mais 
marcantes da vida moderna. A Al-Qaeda organizou ataques às torres 
gêmeas do World Trade Center e ao Pentágono, nos Estados Unidos. 
Terroristas sequestraram aviões e os arremessaram contra os edifícios.
Conferências Pugwash sobre 
Ciência e Negócios Mundiais.
3
Relações sociais e conflitos 13
As investigações apontaram que o líder da Al-Qaeda, Osama bin 
Laden teria sido um dos responsáveis por arquitetar os ataques. O mo-
tivo seria a presença de tropas militares dos Estados Unidos no Oriente 
Médio. O governo norte-americano reagiu e determinou a invasão do 
Afeganistão com o objetivo de derrubar o governo Talibã, o qual havia 
apoiado a Al-Qaeda. Embora seu governo tenha sido derrubado, ainda 
hoje, o grupo Talibã tenta recuperar seu poder.
Outro evento que desencadeou atos violentos foi o conflito cha-
mado Primavera Árabe. Constituiu-se de várias revoltas populares que 
ocorreram em países árabes do Oriente Médio e do norte da África, 
tendo início na Tunísia. Os motivos disparadores dos acontecimentos 
foram o desemprego, condições precárias de vida das populações mais 
pobres, corrupção e regimes totalitários de governo.
O estopim do movimento, até então limitado à Tunísia, ocorreu 
quando o comerciante local Mohammed Bouazizi ateou fogo no 
próprio corpo após ser ultrajado pela polícia. Responsável por 
uma família de oito pessoas, havia colocado à venda seu carri-
nho de mão. Membros do governo pediram propina para que 
vendesse seu instrumento de trabalho e Mohammed se negou. 
Foi colocado em um carro, agredido e todos os seus produtos 
foram roubados. Após o suicídio do comerciante, a população 
da Tunísia se revoltou contra a corrupção e políticas repressivas 
do governo de Ali. O então presidente foi forçado a deixar o país 
em 14 de janeiro de 2011, o que inspirou revoltas similares em 
países próximos. (LUZ, 2017)
Com os protestos, algumas nações promoveram mudanças e avan-
çaram na garantia dos direitos humanos, reduziram a corrupção e 
estão sendo mais tolerantes com a liberdade de expressão, contudo 
ainda predominam hábitos e culturas ditatoriais, instabilidades políti-
cas e desigualdades socioeconômicas.
Como podemos observar, nos mais diversos espaços sociais ocorrem 
discordâncias e conflitos, pois cada parte busca prevalecer em suas opi-
niões e sobra pouco espaço para o equilíbrio, o acordo, o argumento e, 
por vezes, o respeito. Contudo, o conflito não pode ser sinônimo de vio-
lência, guerra e intolerância. Em todo o mundo, personalidades se desta-
caram por ações, muitas vezes solitárias, na busca pela paz, pelo respeito 
às suas crenças e culturas e pela igualdade social. Algumas dessas pes-
soas foram perseguidas, perderam seus direitos políticos, tiveram seus 
O texto da BBC News 
Brasil Primavera Árabe: 
dez consequências que 
ninguém conseguiu prever, 
mostra que, após os 
protestos que ficaram 
conhecidos como Prima-
vera Árabe, há situações 
sociais que não sofreram 
mudanças. Muitos 
regimes de governos 
autoritários continuam e 
a população mais pobre 
continua sofrendo de 
vulnerabilidade social.
Disponível em: https://
www.bbc.com/portuguese/
noticias/2013/12/131213_
primavera_
arabe_10consequencias_dg. 
Acesso em: 15 out. 2020. 
Leitura
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/12/111217_bouazizi_primavera_arabe_bg
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/12/131213_primavera_arabe_10consequencias_dg
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/12/131213_primavera_arabe_10consequencias_dg
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/12/131213_primavera_arabe_10consequencias_dg
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/12/131213_primavera_arabe_10consequencias_dg
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/12/131213_primavera_arabe_10consequencias_dg
14 Relações sociais e conflitos na escola
bens confiscados e sofreram atentados ou foram assassinadas, mas con-
seguiram deixar grandes legados para a humanidade.
1.2 Organizações sociais na mediação 
das relações humanas Vídeo
No fim da Segunda Guerra, em 1945, foi criada a Organização das 
Nações Unidas (ONU), como sucessora da Liga das Nações. A criação 
da ONU teve como objetivo instaurar a cultura de paz entre os povos 
da Terra, promover a segurança internacional e empregar mecanismos 
para alcançar o progresso socioeconômico. As propostas iniciais foram 
aceitas pelos 50 países que assinaram a Carta das Nações Unidas.
Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gera-
ções vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço 
da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a rea-
firmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e 
no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das 
mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a esta-
belecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações 
decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional 
possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores 
condições de vida dentro de uma liberdade ampla. (ONU, 2020)
A carta é considerada o documento mais importante da ONU e foi 
assinada em 26 de junho de 1945, na cidade de São Francisco. A primeira 
Assembleia Geral da ONU contou com a presença de 224 delegados e 51 
países representados. Em 1949, a ONU passou a ter uma sede em Nova 
York. “Para que a Organização pudesse atender seus múltiplos manda-
tos, a Carta da ONU estabeleceu seis órgãos principais: a Assembleia Ge-
ral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho 
de Tutela, a Corte Internacional de Justiça e o Secretariado” (ONU, 2020).
Com o objetivo de encorajar o desenvolvimento de relações amisto-
sas entre os países de todo o mundo e salvaguardar a paz e os direitos 
dos seres humanos, fora escrita a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, que evidenciou o respeito universal, o direito à educação e 
à igualdade de direitos entre homens e mulheres. Na declaração está 
estabelecido que todos têm direito à liberdade de crença, de voto, de 
participação em grupos sociais e que compete às nações “promovero 
reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a 
https://nacoesunidas.org/carta/
Relações sociais e conflitos 15
fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do 
bem-estar numa sociedade democrática” (ONU, 1948).
A referida declaração englobou direitos civis, políticos, econômicos 
e sociais, endossando a interdependência e a inter-relação desses di-
reitos, compreendendo o ser humano como um ser integral e enfati-
zando a universalidade e indivisibilidade dos direitos. Essa declaração é 
um marco para o direito internacional, pois a partir dela surgem vários 
tratados internacionais para a proteção cidadã.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a 
Cultura (Unesco) foi fundada em 1945, em Paris, e tem como missão a 
construção da paz e da segurança por meio da cooperação entre as na-
ções. No preâmbulo de sua constituição consta que “como as guerras 
se iniciam nas mentes dos homens, é na mente dos homens que as de-
fesas da paz devem ser construídas” (NOLETO, 2010, p. 11). A educação, 
a ciência e a cultura são os pilares para a promoção “do respeito univer-
sal à justiça, ao estado de direito e aos direitos humanos e liberdades 
fundamentais” (NOLETO, 2010, p. 11), pautadas na solidariedade moral 
e intelectual da humanidade.
Em 1993, foi divulgada a Declaração de Viena, que buscou enfatizar 
o direito ao desenvolvimento como um direito universal e inalienável, 
reconhecendo a interdependência entre democracia, desenvolvimento 
e direitos humanos. Na referida declaração consta que:
15. O respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais, 
sem distinções de qualquer espécie, é uma norma fundamental 
do direito internacional na área dos direitos humanos. A elimi-
nação rápida e abrangente de todas as formas de racismo, de 
discriminação racial, de xenofobia e de intolerância associadas 
a esses comportamentos deve ser uma tarefa prioritária para 
a comunidade internacional. Os Governos devem tomar me-
didas eficazes para preveni-las e combatê-las. Grupos, institui-
ções, organizações intergovernamentais e não-governamentais 
e indivíduos de modo geral devem intensificar seus esforços de 
cooperação e coordenação de atividades contra esses males. 
(DECLARAÇÃO..., 1993)
Em 1997, a ONU proclamou o ano 2000 como o Ano Internacional 
da Cultura de Paz, com o objetivo de mobilizar o mundo para transfor-
mar os princípios que norteiam a cultura de paz em ações concretas. 
Essas ações visam a instaurar uma cultura de respeito aos direitos indi-
16 Relações sociais e conflitos na escola
viduais, assegurando liberdade de expressão e prevenção de conflitos. 
Além disso, entram em pauta as ameaças para a segurança, exclusão, 
pobreza e degradação. A resolução dos conflitos deve ocorrer por meio 
do diálogo e da mediação.
Na atualidade, continuamos com inúmeros conflitos armados 
e lutas civis, que sacrificam vidas humanas em mais de 40 paí-
ses. Outras fontes de tensão têm sua origem na deterioração do 
meio ambiente, no excesso de população, na competição por 
recursos de água doce, cada vez mais escassos, na desnutrição 
e na flagrante desigualdade econômica e social não só entre os 
países, como também internamente a estes, devido a modelos 
de desenvolvimento concentradores de renda e excludentes. 
Substituir a secular cultura de guerra por uma cultura de paz 
requer um esforço educativo prolongado para modificar as rea-
ções à adversidade e construir um modelo de desenvolvimento 
que possa suprimir as causas de conflito. (NOLETO, 2010, p. 12)
A cultura de paz exige que os valores essenciais para a vida demo-
crática, como igualdade de direitos, respeito aos direitos humanos 
fundamentais e à dignidade humana, diversidade cultural, justiça, liber-
dade, tolerância, capacidade de diálogo, solidariedade e justiça social, 
possam permear as aspirações de prosperidade de todos os povos.
O autor indiano Sen (2010), ao escrever sobre o desenvolvimento 
como liberdade, observa que as principais fontes de privação de liber-
dade são a “pobreza, tirania, carência de oportunidades econômicas e 
destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e into-
lerância ou interferência excessiva de Estados repressivos” (SEN, 2010, 
p. 16-17). Para o autor, quando os direitos fundamentais dos cidadãos 
não são garantidos, as pessoas estão perdendo mais do que acesso e 
fruição dos direitos, estão perdendo sua liberdade.
Para alcançar a paz não se pode esperar homogeneidade nas re-
lações, pois o ser humano é dotado de pluralismo de culturas, reli-
giões, crenças e experiências, mas a tolerância deve ser comum a 
toda e qualquer cultura. Há organizações não governamentais (ONGs), 
associações e entidades que buscam desenvolver culturas de paz. Elas 
agem de acordo com as culturas locais e planejam e executam estraté-
gias respeitando suas realidades. Essas organizações, para promover 
ações de cultura de paz, necessitam de recursos humanos e financei-
ros. Quanto mais integrados forem os movimentos e as organizações, 
maior a chance de obtenção de sucesso.
Relações sociais e conflitos 17
Em cada país, em cada cidade e em cada bairro, a cultura de paz 
pode ser instituída de diferentes maneiras, trabalhando para 
erradicar as profundas causas culturais da violência e da guerra, 
tais como a pobreza, a exclusão, a ignorância ou a exploração. Os 
diversos grupos e organizações sociais, ao trabalharem no nível 
local e em domínios específicos (como a proteção ambiental ou a 
promoção da diversidade cultural), nem sempre têm consciência 
de que estão ajudando a estabelecer a cultura de paz em escala 
global. Tomando parte no movimento mundial pela cultura de 
paz, estes evitam o isolamento e ganham maior reconhecimento 
de suas ações, o que estimula outros indivíduos a se juntarem a 
eles. (NOLETO, 2010, p. 16)
No Brasil existem diversas iniciativas de mobilizações pela paz, e o 
Instituto Sou da Paz se destaca por suas ações pelo desarmamento e 
pela mobilização da sociedade para o debate sobre a violência. Outra 
entidade é o Viva Rio, que desenvolve ações que têm por objetivo in-
cluir socialmente os jovens que se encontram em vulnerabilidade so-
cial. Ainda no Rio de Janeiro, a Central Única das Favelas (Cufa) busca 
possibilitar aos jovens inclusão social por meio de atividades esporti-
vas, lazer e cultura. Em Porto Alegre, o projeto Justiça para o Século XXI, 
da Associação de Juízes do Rio Grande do Sul, está trabalhando para 
mediar os conflitos gerados por adolescentes em conflito com a lei, por 
meio da justiça restaurativa.
O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania 
(Pronasci), do Ministério da Justiça, desde seu início buscou articular 
políticas de segurança e ações sociais, valorizando os profissionais da 
segurança pública e apontando novas perspectivas para os jovens bra-
sileiros que já estiveram em conflito com a lei.
No ano de 1999, a ONU deu início ao Programa de Ação para uma 
cultura de paz, apresentando eixos e objetivos para estabelecer a 
paz. O documento oficial do programa afirma que a cultura de paz se 
constitui de “valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos 
de vida” (ONU, 1999), que devem ser a base para o diálogo, respeito à 
vida e a cooperação.
Durante a celebração do 50º aniversário da Declaração Universal 
dos Direitos Humanos, foi divulgado o Manifesto 2000 por uma Cultura 
de Paz e Não Violência, com o objetivo de estabelecer um compromisso 
entre os cidadãos do mundo para que assumissem seis princípios: “1) 
respeitar a vida; 2) rejeitar a violência; 3) ser generoso; 4) ouvir para 
18 Relações sociais e conflitos na escola
compreender; 5) preservar o planeta e 6) redescobrir a solidariedade” 
(NOLETO, 2010, p. 17).
A ONU proclamou os anos de 2001 a 2010 como a “Década Interna-
cional para a Promoção de uma Cultura de Paz e Não Violência em be-
nefício para as Crianças do Mundo”, sob responsabilidade da Unesco, 
buscando desenvolver ações para apaz, envolvendo os mais diferentes 
segmentos da sociedade e seus agentes sociais e lideranças comuni-
tárias, com o objetivo de capacitar os voluntários para desenvolverem 
ações referentes à cultura de paz em seus espaços de atuação.
A cultura de paz deve ser considerada nas políticas públicas e nos 
acordos internacionais, levando em consideração a situação política 
e econômica, além dos aspectos sociais e culturais de cada região ou 
país. É importante destacar que a cultura de paz deve ser aprendida e 
vivenciada, ultrapassando as fronteiras do discurso. A paz não deve ser 
compreendida somente como ausência de guerra ou de conflitos. Ela 
passa pela democracia, pelo acesso à educação, tecnologias e à saúde, 
liberdades política, religiosa e cultural, tolerância, solidariedade e res-
peito às diferentes formas de viver.
1.3 Relações de poder e conflitos latentes 
Vídeo As relações de poder podem se estabelecer por meio da utilização 
da força, do dinheiro, do saber ou conhecimento, das diferenças entre 
homens e mulheres e da política. Outro fator pode ser a religião em 
nações em que se mesclam Estado com religião, em que não há Estado 
laico, levando a adoção de dogmas e morais incontestáveis e, assim, 
inviabilizando o pluralismo e a democracia.
As diferenças sociais e econômicas também estabelecem relações 
de superioridade e poder. Em todo o mundo existe uma parcela míni-
ma da população que concentra a maioria da renda mundial, enquanto 
os mais pobres fazem manobras para sobreviver com poucos recursos. 
Essas assimetrias sociais desencadeiam grandes diferenças socioeco-
nômicas e podem colocar as pessoas mais desfavorecidas em relação 
de submissão e passividade frente à ganância e perversidade huma-
nas, aprofundando a pobreza e a exclusão social e, consequentemente, 
aumentar o poder daqueles que o detêm.
Relações sociais e conflitos 19
Nas relações de poder que são estabelecidas, principalmente, 
pela superioridade econômica, há pessoas que têm sua força de 
trabalho explorada de forma análoga à escravidão; ocorrem mais 
tensões sociais; a violência acaba se naturalizando; e há pouco es-
paço para vivenciar a democracia. A fim de reinstaurar a ordem, 
os detentores do poder criam mecanismos para disciplinar os 
cidadãos.
Por vezes, esses mecanismos não são percebidos por grande 
parte da população. Eles podem estar presentes em legislações, no 
crédito facilitado e na expansão do consumo, no lazer, na cultura 
de massa, nas relações de trabalho mais flexíveis e no acesso à 
tecnologia. Além disso, esses mecanismos mantêm os conflitos sob 
latência, aguardando algum fato desencadeador que pode escapar 
do controle, como o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras 
Importam, traduzido do inglês). Embora o movimento tenha inicia-
do em 2013, o estopim, em 2020, foi a morte, causada por policiais, 
de um homem negro norte-americano, George Floyd. O movimento 
teve desdobramentos em todo o mundo e a população foi às ruas 
se manifestar e pedir o fim das mortes violentas contra a popula-
ção negra.
Esses movimentos se tornam obstáculos para aqueles que bus-
cam manter uma pseudo ordem, pois ameaçam o controle pensa-
do aos moldes da penitenciária idealizada por Jeremy Bentham, na 
qual um único policial poderia controlar toda a prisão. O denomi-
nado panóptico é transposto por Foucault (1999) para analisar a 
sociedade moderna em que a disciplina e o controle do comporta-
mento ocorrem por meio da vigilância
Foucault (1999) compreende que os detentores do poder desen-
volvem mecanismos para enquadrar a existência dos indivíduos, 
de modo a parecer que a ação é harmoniosa, mas que na verdade 
está vigiando o cotidiano das pessoas em todas as suas atividades, 
seus gestos, corpos e até mesmo suas formas de agir diante das 
mais diferentes situações. Esse novo modelo de relação de poder 
que, muitas vezes, dispensa o uso da força, das armas e da guerra 
pode resultar em decisões arbitrárias, negligentes e em desrespei-
to aos direitos humanos fundamentais.
Leia a matéria intitulada 
Campanha lança manifes-
to ‘Vidas Negras Importam’ 
e propõe 10 metas para 
reduzir impacto do 
racismo, publicada pelo 
G1, e conheça ações que 
podem possibilitar à po-
pulação negra melhores 
condições de acesso à 
educação e renda, além 
do combate ao precon-
ceito e à discriminação.
Disponível em: https://
g1.globo.com/sp/sao-paulo/
noticia/2020/06/30/
campanha-lanca-manifesto-vidas-
negras-importam-e-propoe-10-
metas-para-reduzir-impacto-
do-racismo.ghtml. Acesso em: 15 
out. 2020. 
Leitura
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/06/30/campanha-lanca-manifesto-vidas-
negras-importam-e-propoe-10-metas-para-reduzir-impacto-do-racismo.ghtml
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/06/30/campanha-lanca-manifesto-vidas-
negras-importam-e-propoe-10-metas-para-reduzir-impacto-do-racismo.ghtml
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/06/30/campanha-lanca-manifesto-vidas-
negras-importam-e-propoe-10-metas-para-reduzir-impacto-do-racismo.ghtml
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/06/30/campanha-lanca-manifesto-vidas-
negras-importam-e-propoe-10-metas-para-reduzir-impacto-do-racismo.ghtml
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/06/30/campanha-lanca-manifesto-vidas-
negras-importam-e-propoe-10-metas-para-reduzir-impacto-do-racismo.ghtml
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/06/30/campanha-lanca-manifesto-vidas-
negras-importam-e-propoe-10-metas-para-reduzir-impacto-do-racismo.ghtml
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/06/30/campanha-lanca-manifesto-vidas-
negras-importam-e-propoe-10-metas-para-reduzir-impacto-do-racismo.ghtml
20 Relações sociais e conflitos na escola
Figura 2
Mahatma Gandhi
Elliot & Fry/Wikimedia COmmons
Importa estabelecer as presenças e as ausências, saber onde e 
como encontrar os indivíduos, instaurar as comunicações úteis, 
interromper as outras, poder a cada instante vigiar o comporta-
mento de cada um, apreciá-lo, sancioná-lo, medir as qualidades 
ou os méritos. Procedimento, portanto, para conhecer, dominar 
e utilizar. (FOUCAULT, 1999, p. 169)
Desse modo, as pessoas vão sendo disciplinadas e novos indivíduos 
vão se constituindo. “A disciplina ‘fabrica’ indivíduos; ela é a técnica es-
pecífica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como 
objetos e como instrumentos de seu exercício da soberania ou aos 
grandes aparelhos do Estado” (FOUCAULT, 1999, p. 195). Essa discipli-
na adquire sucesso pelo uso de instrumentos simples, como o olhar 
hierárquico e a sanção normalizadora.
Podemos dizer que esses mecanismos são utilizados em todo o 
mundo. Há sociedades mais esclarecidas que conseguem romper mais 
facilmente com essas estratégias, devido a seu poder aquisitivo e nível 
de escolaridade. Contudo, há regimes de governos totalitários que se 
perpetuam no poder e fazem prevalecer a exploração e submissão de 
seus cidadãos. Algumas personalidades mundiais se destacaram por 
não aceitar os despotismos de alguns governos que insistiam em man-
ter desigualdades sociais, de gênero, escravidão, exploração e arbitra-
riedades. Muitos foram considerados rebeldes ou dissidentes, porém 
foram perseverantes em suas lutas e alguns, inclusive, morreram ou 
foram assassinados por não se curvarem a determinadas pressões.
Mahatma Gandhi (1869-1943) foi um líder pacifista indiano 
que lutou pela independência da Índia, ficando conhecido 
pela política de desobediência civil e pelo projeto de não vio-
lência. Gandhi em suas peregrinações pela paz disse “não 
quero que minha casa seja cercada de muros por todos os 
lados e que minhas janelas estejam tapadas. Quero que 
a cultura de todos os povos ande pela minha casa com o 
máximo de liberdade possível” (GANDHI apud FARIA; INO-
JOSA, 2010, p. 73).
Gandhi acreditava na resolução pacífica dos conflitos 
pautando-se na força do amor e na força da alma. “A força 
do homem – a força espiritual – não pode, por si mesma, 
opor-se de forma eficaz à força da injustiça que mata oshomens. […] A verdade não seria coerciva àquele que fecha 
Relações sociais e conflitos 21
sua inteligência para dar liberdade de ação a seu desejo de violência” 
(MULLER, 2010, p. 80).
O termo não violência foi cunhado por Gandhi, em 1920, quando 
ele traduziu a palavra sânscrita ahimsa para a língua inglesa. A não vio-
lência é um princípio que pode ser compreendido como atitudes be-
nevolentes e bondosas dirigidas aos seres humanos. “A não violência 
perfeita é a total ausência de animosidade em relação a tudo que vive” 
(GANDHI apud MULLER, 2010, p. 80).
Outra personalidade que lutou por direitos foi Martin Luther King 
Jr. (1929-1968). Suas lutas se concentravam em atos não violentos para 
chamar a atenção para a discriminação racial que ocorria nos Estados 
Unidos. As manifestações lideradas por ele chegaram a atrair mais de 
250 mil manifestantes à Washington, DC, local em que ele pronunciou 
o seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”.
Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima 
dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estare-
mos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga 
da viagem, não puderem ter hospedagem nos motéis das estra-
das e hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquan-
to um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova 
Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, 
nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até 
que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma po-
derosa correnteza. […] Eu digo a você hoje, meus amigos, que 
embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, eu 
ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado 
no sonho americano. Eu tenho um sonho que um dia esta nação 
se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença nós 
celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que 
os homens são criados iguais. (KING, 1963)
Seus ideais perpassavam pela igualdade de direitos para todas as 
pessoas, independentemente da cor de sua pele, e resultaram na cria-
ção da Lei de Direitos Civis (1964) e da Lei de Direitos Eleitorais (1965), 
nos Estados Unidos. Em 1964, Martin recebeu o Prêmio Nobel da Paz 
por sua luta antirracista.
Nelson Mandela (1918-2013) foi um dos líderes políticos mais im-
portantes do século XX. Na África do Sul lutou contra o sistema de apar-
theid – um regime de segregação racial no qual a minoria de pessoas 
brancas controlava o poder. Ele ficou preso entre as décadas de 1960 
Eu Tenho um Sonho é o 
nome popular dado ao 
histórico discurso público 
feito pelo ativista político 
americano, o pastor Mar-
tin Luther King, no qual 
falava da necessidade de 
união e coexistência har-
moniosa entre negros e 
brancos no futuro. Veja o 
vídeo Eu tenho um sonho: 
discurso de Martin Luther 
King legendado, publicado 
pelo canal O Tempo, que 
mostra cenas originais do 
discurso do líder norte-a-
mericano e as reações de 
seus apoiadores.
Disponível em: https://youtu.
be/aWlhPFHOl-Y. Acesso em: 15 
out. 2020.
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Figura 3
Martin Luther King, Jr.
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https://youtu.be/aWlhPFHOl-Y
https://youtu.be/aWlhPFHOl-Y
22 Relações sociais e conflitos na escola
Figura 4
Nelson Mandela
Alessia Pierdomenico/Shutterstock
e 1990 e, após sua libertação, em 1993, recebeu o Prêmio Nobel da 
Paz por sua luta pelo fim da segregação racial, tornando-se o primeiro 
presidente negro da África do Sul. Mandela era formado em direito e 
fez parte do Congresso Nacional Africano.
Em seu processo de julgamento, no qual foi sentenciado à pri-
são perpétua, Mandela declarou: 
lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação 
negra. Eu nutri o ideal de uma sociedade democrática e livre, na 
qual todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com opor-
tunidades iguais. É um ideal que eu espero viver para alcançar. 
Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado 
para morrer. (DEFENSORES..., 2020)
Após décadas preso, Mandela ganhou liberdade 
e intensificou sua luta, sendo eleito presidente da 
África do Sul, coordenando a transição do governo 
de minorias para um regime mais democrático e 
inclusivo.
Outro nome de destaque é o da ativista paquistanesa Malala 
Yousafzai (1997-), que se tornou conhecida por lutar pelo direito 
das meninas terem acesso à educação no Paquistão, em uma região 
dominada pelo Talibã. Em 2012, quando voltava da escola, Malala 
foi vítima de um ataque, baleada na cabeça, aos 15 anos de idade. 
Meses após sua recuperação, a jovem se manifestou e chamou a 
atenção do mundo para permitir que as crianças tenham acesso à 
educação.
Em 2008, o líder talibã local emitiu uma determinação exigin-
do que todas as escolas interrompessem as aulas dadas às 
meninas por um mês. Na época, ela tinha 11 anos. Seu pai, 
que era dono da escola onde ela estudava, e sempre incenti-
vou sua educação, pediu ajuda aos militares locais para per-
manecer dando aulas às meninas. Entretanto, a situação era 
tensa. Naquela época, um jornalista local da BBC perguntou 
ao pai de Malala se alguns jovens estariam dispostos a falar 
sobre sua visão do problema. Foi quando a menina começou a 
escrever um blog, “Diário de uma Estudante Paquistanesa”, no 
qual falava sobre sua paixão pelos estudos e as dificuldades 
enfrentadas no Paquistão sob domínio do talibã. […] Ela deu 
entrevistas a diversos canais de TV e jornais, participou de um 
documentário e foi indicada ao Prêmio Internacional da Paz da 
Infância em 2011 (SAIBA..., 2014).
Relações sociais e conflitos 23
Aos 17 anos, Malala foi a pessoa mais jovem a ganhar o Nobel da 
Paz, em 2014. Em 2020, ela se formou em Filosofia, Política e Econo-
mia na Universidade de Oxford, na Inglaterra. A jovem é considera-
da uma das pessoas mais influentes do mundo e suas opiniões 
sobre educação e direitos das meninas e mulheres são muito 
respeitadas. O Fundo Malala desenvolve ações nos países em 
desenvolvimento e “defende - em nível local, nacional e inter-
nacional - recursos e mudanças nas políticas que melhorem o 
acesso à educação para meninas” (MALALA FUND, 2020). Além 
disso, o Fundo Malala apoia, no Brasil, as ações da ativista dos 
direitos humanos Denise Carreira, que coordena a organiza-
ção Ação Educativa, a qual atua pela garantia de direitos 
sobre igualdade de gênero e educação, além do fortale-
cimento dos coletivos juvenis (CONHEÇA..., 2018).
Na concepção de Sen (2010), a educação é condição 
primeira para a participação coletiva nas tomadas de decisões. 
A educação requer conhecimentos e um grau de instrução bási-
co, negar a oportunidade da educação escolar a qualquer grupo 
– por exemplo, às meninas – é imediatamente contrário às condi-
ções fundamentais de liberdade participativa. (SEN, 2010, p. 51)
Por fim, outra ativista de destaque é a sueca Greta Thunberg (2003-
), que ganhou notoriedade no cenário mundial por apresentar uma 
queixa formal à ONU exigindo que as nações desenvolvam ações para 
proteção das crianças dos efeitos das mudanças climáticas. Em 2018, 
aos 15 anos, ela passou a faltar às aulas para protestar, em frente ao 
Parlamento Sueco, sobre as mudanças climáticas que assolam o mun-
do. Outros jovens foram se unindo a ela e o movimento ganhou noto-
riedade. A jovem foi convidada para proferir discursos “no encontro 
do clima das Nações Unidas, realizado na Polônia, e no Fórum Mundial 
Econômico, em Davos. Sua fala forte chamou ainda mais atenção das 
lideranças globais. [...] Em 2019, Greta Thunberg foi indicada ao Prêmio 
Nobel da Paz” (GRETA..., 2020).
Outras personalidades podem ser reconhecidas como defenso-
ras dos direitos humanos e da não violência. Aqui, buscou-se apenas 
exemplificar apresentando pessoas que sofreram algum tipo de violên-
cia ou injustiça por defender direitos fundamentais dos seres huma-
nos. Suas causas e lutas mostram o quão longo é o caminho para que a 
humanidade possa vivenciar a cultura de paz. Esse processo passa pela 
Eu sou Malala:o livro 
conta a história de Malala 
Yousafzai, que sofreu 
um atentado terrorista 
por defender a educação 
para as meninas em 
uma região dominada 
pelo regime Talibã. A 
jovem fala sobre suas 
dificuldades e suas lutas 
após o ataque e o exílio 
com sua família no Reino 
Unido, onde se tratou e 
se fortaleceu para dar 
continuidade à sua luta 
pelo direito à educação 
para as meninas
YOUSAFZAI, M. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2013. 
Livro
Figura 5
Malala Yousafzai
Simon Davis/DFID | Agência Brasil
24 Relações sociais e conflitos na escola
educação, em especial, das gerações mais jovens, as quais possuem 
maiores condições para construir relações mais harmoniosas e tole-
rantes entre as pessoas, ultrapassando as barreiras da perpetuação de 
regimes totalitários de poder, além dos conflitos latentes na sociedade 
que precisam ser superados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatamos, neste capítulo, que o conflito faz parte da história da 
humanidade. Contudo, nem todos foram solucionados pacificamente. 
Muitos se tornaram guerras e atingiram drasticamente a vida de milhões 
de pessoas. Todavia, compreende-se, ao analisar os fatos históricos, que 
os acontecimentos mais violentos da história dos seres humanos provo-
caram grandes consequências, mas não o suficiente para a implantação 
de uma cultura de paz.
Aqueles que se rebelaram contra injustiças, intolerâncias, desrespeito 
aos direitos humanos fundamentais e regimes totalitários de governos, 
sofreram atentados, foram perseguidos, exilados e até mesmo assassina-
dos. Muitos desses acontecimentos não causaram impactos substancial-
mente importantes ao ponto de a sociedade se mobilizar para a mudança.
O caminho para a consolidação de uma sociedade mais justa, equita-
tiva e não violenta é longo e requer esforços de todos os segmentos da 
sociedade. Para alcançar a tão almejada cultura de paz, é necessária uma 
nova mentalidade social, menos gananciosa, prepotente e egoísta, abrin-
do espaço para o altruísmo, a coletividade e a solidariedade.
ATIVIDADES
1. Na atualidade são muitos os conflitos que acontecem em todo o 
mundo. Eles podem ocorrer em forma de guerras, crime organizado, 
ataques terroristas e invasões. De acordo com o texto, como esses 
conflitos poderiam ser minimizados ou erradicados?
2. Há entidades e organizações que buscam garantir a paz mundial e o 
respeito e cumprimento dos direitos humanos universais. De acordo 
com o texto, como as nações de todo o mundo estão se organizando 
para discutir temas que são comuns a todas, como a paz mundial?
3. Algumas pessoas se destacam por suas ações, que refletem em 
mudanças para a humanidade. Como ativistas têm se destacado pela 
busca da garantia do bem comum?
Relações sociais e conflitos 25
REFERÊNCIAS
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Disponível em: https://socientifica.com.br/heinrich-schliemann-e-a-descoberta-de-troia/. 
Acesso em: 15 out. 2020.
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cruzadas/p4.php. Acesso em: 15 out. 2020.
CONHEÇA o trabalho de três ativistas pela educação no Brasil que serão apoiadas por 
Malala. GZH, Porto Alegre, 11 jul. 2018. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.
br/educacao-e-emprego/noticia/2018/07/conheca-o-trabalho-de-tres-ativistas-pela-
educacao-no-brasil-que-serao-apoiadas-por-malala-cjjh7jtku0qhl01qobf9akufk.html. 
Acesso em: 15 out. 2020.
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26 Relações sociais e conflitos na escola
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Desenvolvimento biopsicossocial humano 27
2
Desenvolvimento 
biopsicossocial humano
Ao estudarmos a história, podemos observar que o ser humano 
está em constante transformação e, ao longo de sua jornada pela 
Terra, vem se adaptando às mais variadas situações do cotidiano. 
Para que fosse possível chegarmos ao nível de evolução e moder-
nidade no qual nos encontramos, foram necessárias pesquisas, 
tentativas, acertos e erros, além do exercício constante da nossa 
capacidade de socialização.
O processo de socialização humana perdura durante toda a 
vida e o sujeito carrega referências de comportamentos adquiridos 
tanto na estrutura familiar quanto na sociedade. Essas referências 
podem se manifestar por meio de atitudes, costumes, crenças, 
ideias, valores e concepções de mundo. Além disso, cada fase do 
desenvolvimento humano tem características peculiares que po-
dem se manifestar de modos diferentes a depender do meio, da 
cultura e dos estímulos recebidos.
Neste capítulo, abordaremos características das fases do de-
senvolvimento humano, fatores socioambientais que influenciam 
seus comportamentos e atitudes, bem como alguns dos possíveis 
transtornos mentais que podem acometer as pessoas, em especial, 
crianças e adolescentes. Reconhecer esses aspectos pode colaborar 
para a compreensão de determinadas atitudes e comportamentos 
e, assim, estabelecer convívios mais harmoniosos entre as pessoas.
2.1 Fases do desenvolvimento humano 
Cada ser humano é diferente e age de maneira distinta perante 
os acontecimentos do cotidiano. Os modos como reagimos diante de 
qualquer ameaça estão diretamente ligados à maneira com que fomos 
educados, pelos desafios que nos foram colocados, o que nos foi per-
mitido fazer e os recursos que tínhamos.
Vídeo
28 Relações sociais e conflitos na escola
O fato é que nascemos, crescemos e construímos nossas identida-
des de acordo com nossas relações sociais e experiências de vida. Há 
fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (ambientais), como alimen-
tação, saúde, higiene, moradia e cultura, que influenciam o desenvol-
vimento humano e colaboram para a composição daquilo que cada 
ser se torna. Os psicólogos Santos, Neto e Koller (2014, p. 17) trazem 
a seguinte composição para as fases do ciclo vital humano: “infância 
(período gestacional, primeira infância, segunda infância); adolescên-
cia (puberdade, adolescência média e final); adultez (jovem, maduro 
e final) e velhice”. Essa composição permite compreender os desafios 
teórico-práticos sobre as fases que cada indivíduo está vivendo.
No século XX, o biólogo Jean Piaget (1896-1980) desenvolveu uma 
teoria denominada epistemologia genética, na qual buscou compreen-
der o desenvolvimento humano. Em sua teoria, integrou o materialismo 
mecanicista e o idealismo com a finalidade de entender como a pessoa 
se constitui como sujeito cognitivo, ou seja, como aprende, desde o nas-
cimento até o falecimento. Sua teoria interacionista considera que o 
conhecimento é construído pelos sujeitos com base em suas interações 
com o meio social, no qual aprendem regras, leis que regem a socieda-
de, como funcionam os sistemas sociais, seus valores e suas morais.
Pode-se dizer que o “sujeito epistêmico” protagoniza o papel 
central do modelo piagetiano, pois a grande preocupação da 
teoria é desvendar os mecanismos processuais do pensamento 
do homem, desde o início da sua vida até a idade adulta. Nesse 
sentido, a compreensão dos mecanismos de constituição do co-
nhecimento, na concepção de Piaget, equivale à compreensão 
dos mecanismos envolvidos na formação do pensamento lógico, 
matemático. (TERRA, 2020)
Nas teorias de Piaget, os sujeitos aprendem com a interação com 
o meio físico e social. Nesse sentido, é no meio em que o sujeito vive 
que ele aprende a se comunicar, a se mover, a se alimentar e a reagir 
diante dos acontecimentos da vida. Aqui é importante destacar que há 
uma linha da filosofia que defende que existem conhecimentos que 
nascem com as pessoas, denominada apriorismo 1 . Para Kant (2005), 
há conhecimentos que se iniciam na experiência, contudo, se originam 
a priori. Podemos citar os exemplos de um bebê recém-nascido que, ao 
ser colocado no seio de sua mãe começa a mamar, ou uma criança que 
engatinha em linha reta para alcançar mais rapidamente um objeto. 
Essas ações precedem à experiência.
Apriorismo é a “doutrina ou prin-
cípio que atribui papel central” 
àquilo que acontece a priori, ou 
seja, “que é logicamente anterior 
à experiência e dela independe” 
(JAPIASSU; MARCONDES, 2008, 
p. 15).
1
Desenvolvimento biopsicossocial humano 29
Por conhecimento a priori entenderemos não os que ocorrem 
de modo independente desta ou daquela experiência, mas abso-
lutamente independente de toda a experiência. A eles são con-
trapostos ou aqueles que são possíveis apenas a posteriori, isto 
é, por experiência. Dos conhecimentos a priori denominam-se 
puros aqueles aos quais nada de empírico está mesclado. (KANT, 
2005, p. 54)
Na concepção de Piaget, o ser humano tem uma estrutura biológica 
que permite desenvolver a cognição, mas que necessita da interação 
com outros sujeitos e com os objetos de conhecimento. Para o biólo-
go, existe uma conjuntura de relações que são interdependentes e que 
ocorre entre o sujeito conhecedor e o objeto a ser conhecido. Esses 
fatores se complementam e “envolvem mecanismos bastante comple-
xos e intrincados que englobam o entrelaçamento de fatores que são 
complementares, tais como: o processo de maturação do organismo, a 
experiência com objetos, a vivência social e, sobretudo, a equilibração 2 
do organismo ao meio” (TERRA, 2020).
Para Piaget, os sujeitos se adaptam (processo dinâmico e contínuo) 
e se organizam (após a adaptação) por meio de invariantes funcionais, 
ou seja, que estão presentes no funcionamento cognitivohumano. Se-
gundo o biólogo, as pessoas nascem com estruturas biológicas – sen-
soriais e neurológicas –, que permitirão o surgimento de estruturas 
mentais. Logo, é por meio da interação com o meio que o sujeito cons-
trói sua inteligência. Entretanto, nesse processo de interação com o 
meio e com outros sujeitos, podem ocorrer desequilíbrios que exigirão 
mais esforços para a adaptação. Assim, nesse processo de adaptação, 
dois mecanismos distintos e fundamentais são colocados em funciona-
mento: a assimilação e a acomodação.
O artigo Jean Piaget e os estudos sobre o desenvolvimento humano, da autora 
Maria Angela B. Carneiro, aborda as fases dos desenvolvimento humano na 
perspectiva de Piaget, dando ênfase aos tipos de estruturas que caracteri-
zam os jogos infantis: o exercício, o símbolo e a regra. É uma boa leitura para 
ampliar os conhecimentos sobre as teorias de Jean Piaget e compreender, 
sob sua ótica, como o ser humano se desenvolve e desenvolve sua raciona-
lidade.
Acesso em: 28 out. 2020.
http://www4.pucsp.br/educacao/brinquedoteca/downloads/artigo-jean-piaget-e-os-estudos.pdf
Artigo
Fenômeno de caráter universal, 
que ocorre “para todos os indi-
víduos da espécie humana, mas 
que pode sofrer variações em 
função de conteúdos culturais 
do meio em que o indivíduo está 
inserido” (TERRA, 2020).
2
30 Relações sociais e conflitos na escola
No processo de assimilação ocorre a incorporação do objeto aos 
esquemas que o sujeito já construiu. A assimilação permite a interpre-
tação e a compreensão da realidade, contudo, depende de esquemas 
práticos e conceituais que o sujeito já experimentou. Na acomodação 
acontece um processo lento de ajuste do sujeito ao objeto novo que 
determina o avanço do conhecimento. Isso se dá por toda a vida dos 
sujeitos, mas Piaget divide os modos de o ser humano se relacionar 
com a realidade em quatro períodos ou estágios.
 1º período: sensório-motor (0 a 2 anos).
 2º período: pré-operatório (2 a 7 anos).
 3º período: operações concretas (7 a 11 ou 12 anos).
 4º período: operações formais (11 ou 12 anos em diante).
Em cada fase, o ser humano age diferente frente à realidade que 
se apresenta. O início, o término e os modos como cada um vive-
rá cada um viverá essas fases dependem da estrutura biológica de 
cada um e dos estímulos que cada um receberá em seu meio, a de-
pender de seu contexto.
No período sensório-motor (0 a 2 anos), a criança aprende com 
aquilo que a circunda imediatamente, por meio da percepção e dos 
movimentos. Com o passar do tempo, ela vai aperfeiçoando os mo-
vimentos e adquire novas habilidades. Nessa fase, a criança ainda 
não tem noções de limites, regras e normas, pois estas vão sendo 
construídas por meio da interação com o meio em que ela vive.
Nesse período, é importante que os adultos responsáveis pelo cui-
dado e educação da criança organizem o espaço que ela explorará, ti-
rando objetos perigosos de seu alcance e colocando estímulos para que 
ela tenha interesse em engatinhar e até mesmo andar, por exemplo. As 
primeiras regras devem ser transmitidas carinhosamente, permitindo 
à criança se sentir mais segura em suas conquistas do cotidiano. Quan-
do o espaço é adaptado para a educação da criança, o processo de cui-
dar e educar se torna mais prazeroso para os adultos e para a criança, 
pois evitam-se sustos, gritos e movimentos bruscos para tirar algo de 
suas mãos, por exemplo.
Desenvolvimento biopsicossocial humano 31
No período pré-operatório (2 a 7 anos), surge a função simbólica 
e a linguagem é considerada condição necessária para o desenvolvi-
mento. Nesse período, o desenvolvimento da linguagem depende do 
desenvolvimento da inteligência. A linguagem permite interações inte-
rindividuais, possibilitando atribuir significados à realidade. Essa é ain-
da uma fase de egocentrismo, em que a criança se vê como o centro do 
universo e isso explica o motivo pelo qual ela quer o brinquedo só para 
si, ou por que a brincadeira deve ser como ela imaginou. Além disso, a 
criança não aceita ser contrariada diante daquilo que deseja.
Nessa fase, o diálogo e a introdução de regras e limites vão se tor-
nando mais maduros conforme o crescimento da criança. Se, inicial-
mente, os adultos tendem a contar uma história para explicar o motivo 
pelo qual não se deve tomar determinada atitude, com o passar dos 
anos a linguagem pode ser mais madura e a criança vai adquirindo 
condições de compreender as consequências de seus atos.
No período das operações concretas (7 a 12 anos), a criança ainda 
apresenta incapacidade de se colocar no lugar do outro, mas isso vai 
dando lugar a possibilidades de pontos de vistas diferentes. Outro as-
pecto dessa fase é a capacidade de começar a realizar operações men-
talmente, não necessitando mais de objetos físicos.
Nessa fase acontece a diminuição do egocentrismo, a criança ini-
cia o desenvolvimento da autonomia e consegue trabalhar em grupos, 
harmonizando seu ponto de vista com os demais participantes. É um 
período em que é mais fácil compreender normas, regras e senso de 
justiça; também é comum que quando ocorra algum conflito entre as 
crianças, elas lutem para mostrar que foram injustiçadas diante de al-
guma situação. Esse pode ser um bom momento para conversar sobre 
regras que já foram impostas e sobre a criação de regras das quais ela 
pode participar ativamente.
É comum nessa fase aparecer o sociocentrismo – quando a criança, 
agora já adolescente, se sente o centro das atenções, podendo agir autori-
tariamente, o que pode atrapalhar novas possibilidades de pensar e agir.
No período das operações formais (a partir dos 12 anos), o adoles-
cente já é capaz de raciocinar por meio de hipóteses e adquire capacida-
de de criticar acontecimentos sociais, propor mudanças, discutir valores 
morais, bem como adquire mais autonomia. Terra (2020) observa que, 
para Piaget, o desenvolvimento da moral acontece por etapas e consis-
32 Relações sociais e conflitos na escola
te em um “sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser 
procurada no respeito que o indivíduo adquire por estas regras”.
A moral necessita de inteligência e “implica pensar o racional, em 3 
dimensões: a) regras: que são formulações verbais concretas, explíci-
tas, b) princípios: que representam o espírito das regras; c) valores: que 
dão respostas aos deveres e aos sentidos da vida” (TERRA, 2020). Essas 
dimensões permitem entender os princípios das regras já consolidadas 
na sociedade e que devem ser seguidas.
La Taille (1999), ao discorrer sobre a moral, observa que a moral 
heterônoma baseia-se no respeito unilateral, ou seja, as regras não 
correspondem a um acordo firmado entre as partes interessadas, mas 
é algo imposto e imutável. Já na moral autônoma é necessário respeito 
mútuo, é preciso respeitar e ser respeitado.
O que Piaget descobriu é que a criança entra no mundo da moral 
através da heteronomia, e não da autonomia. Suas pesquisas, e 
várias outras, mostram que crianças de 4 a 7 anos sempre inter-
pretam a moral em referência ao prestígio e à autoridade dos mais 
velhos, notadamente dos pais e demais educadores. […] por um 
lado, a criança tende a ver os adultos como superiores, oniscientes 
e dotados de poderes ainda inatingíveis para ela, e, por outro, está 
submetida a suas ordens, a suas vontades, a suas punições. Essa 
mistura de admiração, dependência e medo, decorrentes da re-
lação assimétrica que a liga aos pais, explica o surgimento de um 
novo sentimento, o respeito. (LA TAILLE, 1999, p. 92)
O respeito é algo almejado pelos adultos que estão envolvidos com 
o cuidado e com a educação da criança. Para muitos deles, o descum-
primento de regras demonstra falta de respeito com aqueles que as 
impuseram ou que são responsáveis pelas crianças. Por outro lado, 
aquele que descumpre as regras nem sempre se reconhece como al-
guém desobediente ou desrespeitoso. Por vezes, as regras não são 
compreendidas ou não fazem sentido para quem deve obedecê-las.
Nesse embatepodem surgir conflitos e ambas as partes precisam 
ser mediadas pelo diálogo e pela compreensão. Para melhor dialogar, 
é necessário entender as fases do desenvolvimento que foram apre-
sentadas aqui, reconhecer suas características e compreender que há 
comportamentos típicos de cada idade. Esse processo de reconheci-
mento e compreensão das fases do desenvolvimento humano possibi-
lita relações sociais mais harmoniosas e saudáveis.
A heteronomia refere-se à 
“condição de um indivíduo 
ou de um grupo social que 
recebe de fora, de um outro, a 
lei à qual obedece” . Enquanto 
a “moral diz respeito aos 
costumes, valores e normas de 
conduta específicos de uma 
sociedade ou cultura” (JAPIASSÚ; 
MARCONDES, p. 131; 193). Na 
moral heterônoma as ações são 
governadas por leis externas aos 
sujeitos, impostas por outras 
pessoas ou sistemas. Enquanto 
o sujeito não desenvolve a moral 
autônoma, ele segue as regras 
impostas por outros por medo 
das possíveis punições ou das 
perdas que podem ocorrer.
Saiba mais
Desenvolvimento biopsicossocial humano 33
2.2 Influências socioambientais 
na formação humana 
 A expectativa de vida das pessoas vem aumentando e po-
de-se afirmar que há vários fatores que estão contribuindo 
para esse processo como as mudanças nos modos de trabalho, 
maior conforto e facilidade para desenvolver atividades do co-
tidiano, acesso a remédios e vacinas e maior esclarecimento 
quanto aos cuidados com a saúde. Essas alterações de hábitos 
têm influenciado no modo com a infância e a adolescência são 
compreendidas e vividas. Mesmo com essas mudanças, a in-
fância e a adolescência são fases importantes do desenvolvi-
mento humano que exigem uma interação de qualidade com o 
meio para o aprimoramento do desenvolvimento intelectual, 
que acontece de maneira contínua.
A ciência tem permitido aumentar a expectativa de vida das 
pessoas e isso vem mudando os modos com que as crianças 
são educadas. Se antes as crianças eram vistas como minia-
dultos; na atualidade, há famílias que buscam estender esse 
período mantendo as crianças mais tempo sob sua tutela, o 
mesmo verifica-se com a adolescência. Muitos adultos da 
atualidade lembram de sua adolescência vivida em um tempo 
no qual os jovens começavam a trabalhar bem cedo para com-
prar objetos de desejo ou até mesmo para colaborar para o 
sustento da família; outros, precisavam cuidar dos irmãos mais 
novos para que os pais pudessem trabalhar. Isso exigia mais 
responsabilidades dos jovens e um amadurecimento precoce.
Esses modos diferentes de viver cada fase da vida de-
pendem do contexto em que a pessoa está inserida e de 
fatores que podem influenciar seu desenvolvimento, como 
a hereditariedade definida pela carga genética; o cresci-
mento orgânico, que está atrelado aos aspectos físicos; a 
maturação neurofisiológica, que permite certos padrões 
de comportamento; e o meio que irá promover influências 
e estímulos ambientais.
Contudo, de acordo com o tempo histórico em que vi-
vemos nossa infância e adolescência, sofremos influências 
O vídeo Fases de mudança 
e aprendizado, publicado 
no site da Holiste, apre-
senta possibilidades para 
pais e professores se utili-
zarem da arte para ajudar 
crianças e adolescentes 
a superarem dificuldades 
das transformações que 
ocorrem durante seu 
crescimento ou para 
aqueles que sofrem com 
algum tipo de transtorno.
Disponível em: https://www.
holiste.com.br/saude-mental-
infancia-adolescencia-video/. 
Acesso em: 25 set. 2020.
Vídeo
Vídeo
https://www.holiste.com.br/saude-mental-infancia-adolescencia-video/
https://www.holiste.com.br/saude-mental-infancia-adolescencia-video/
https://www.holiste.com.br/saude-mental-infancia-adolescencia-video/
34 Relações sociais e conflitos na escola
da família, da economia, dos meios de comunicação de massa, do 
consumo, da tecnologia, dos amigos, da escola, da igreja, enfim, de 
tudo que nos circunda, direta ou indiretamente. Isso permite com-
preender que o ser humano pertence a diversos grupos: familiar, do 
condomínio, da rua e do bairro em que mora, da escola, do trabalho, 
da igreja, entre tantos outros. Nesses grupos, as pessoas interagem, 
influenciam e são influenciadas por eles.
Todos esses processos sucedem durante toda a vida do indiví-
duo, por meio de interações com o meio em que vive, colaborando 
para seu desenvolvimento afetivo, cognitivo, social e físico.
O contexto cultural no qual a pessoa está inserida influencia seu 
desenvolvimento, pois ela participa de regras sociais e hábitos de 
pessoas próximas a ela, além disso, os elementos naturais, os não 
naturais e os ideológicos também influenciam o desenvolvimento 
humano. Outra influência possível é o atendimento às expectativas 
que as pessoas colocam umas sobre as outras. Há pessoas que são 
mais suscetíveis às opiniões alheias e àquilo que esperam delas.
A sociedade estabelece as categorias que classificam as 
pessoas segundo padrões de normalidade e de estranheza. 
Nas interações cotidianas existe certa expectativa em rela-
ção ao “outro” com quem estabelecemos uma interlocução. 
Associamos as pessoas ao ambiente no qual interagimos, assi-
milamos algumas impressões iniciais que partem de nossas 
projeções e então criamos, rapidamente, uma espécie de mo-
delo do que seria a conduta daquele tipo de indivíduo naquele 
tipo de situação. (SANTIBANEZ, 2013, p. 89-90)
Dessa forma, aquele que destoa do que foi pensado como nor-
mal, pode ser estigmatizado. Isso pode verificar-se em diversos 
contextos, como na escola. Estudantes que se recusam a usar o 
uniforme ou que acrescentam adereços a eles podem ser estig-
matizados como transgressores de regras e desobedientes. San-
tibanez (2013) apresenta estudos sobre o que leva à transgressão 
de regras. Segundo o autor, quanto mais complexa for uma so-
ciedade, mais regras e mais detalhamentos haverá. Nesse caso, 
há possibilidades maiores de se burlar as regras, uma vez que 
quanto mais diversos forem os grupos sociais, mais as regras de-
sagradam à diversidade de compreensão da realidade.
A imposição de regras envolve um conjunto complexo de situa-
ções. Não são premissas dadas naturalmente que determinam 
Desenvolvimento biopsicossocial humano 35
a existência de regras na sociedade. As normas são construí-
das socialmente, são provocadas; isso, a partir de relações so-
ciais concretas. Parte geralmente da iniciativa de um grupo ou 
até mesmo de um indivíduo, com intenções pessoais ou inte-
resses coletivos, a fim de padronizar e estabelecer como legí-
tima uma determinada conduta. (SANTIBANEZ, 2013, p. 86-87)
As regras podem emergir para atender a interesses de grupos 
específicos, e aqueles que querem participar de determinado gru-
po devem, necessariamente, respeitar suas regras. Regras podem 
ser construídas e impostas em qualquer situação, como nos lares, 
para manter um mínimo de organização e harmonia familiar; no 
trabalho, a fim de garantir respeito e produtividade; nos espaços 
públicos, objetivando estabelecer a ordem social; na escola, com 
a finalidade de garantir um convívio saudável entre os estudantes 
e a aprendizagem; e para situações específicas, como uma reu-
nião, um culto religioso e até mesmo uma brincadeira infantil.
A construção de regras leva em consideração valores éticos, 
culturais, legais, religiosos, institucionais, além de objetivos a se-
rem atingidos. Ao colaborar para o desenvolvimento de regras, 
a pessoa também está participando da construção de uma nova 
cultura, pois, à medida que participa, toma decisões e promove 
novas interpretações da realidade.
Nesse processo de construção e reconstrução da realidade acon-
tecem conflitos, visto que as pessoas já habituadas aos processos 
arraigados na sociedade têm dificuldades para lidar com o novo. 
Disso depreendem-se conflitos geracionais, religiosos, sociais, polí-
ticos, entre professor e aluno, entre patrão e empregado, entre pais 
e filhos, de gênero etc. Nem sempre o conflito se dá por desobe-
diência, mas, em muitos casos,

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