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Saúde do Adulto I 1 Gastroenterologia INTRODUÇÃO Afecção crônica secundária ao refluxo patológico de parte do conteúdo gástrico para o esôfago e/ou órgãos adjacentes (faringe, laringe, árvore traqueobrônquica), acarretando um espectro variável de sinais e sintomas esofágicos e/ou extra esofágicos que podem ser acompanhados ou não de lesões teciduais O refluxo do conteúdo gástrico causa sintomas que afetam o bem-estar do paciente e/ou complicações EPIDEMIOLOGIA Distúrbio mais comum do trato gastrointestinal 75% das esofagopatias Pirose: 20% da população Pode aparecer em qualquer faixa etária Aumenta com a idade Mais frequentes e intensos: obesidade e gestação FISIOPATOLOGIA Multifatorial Falha na barreira antirrefluxo: esfíncter interno do esôfago e esfíncter externo Mecanismo fisiopatológico principal: relaxamento transitório do EIE na ausência de deglutição, responsável por 63-74% dos episódios de RGE Pacientes com DRGE mais leve Hipotonia permanente do EIE Geralmente evolui para uma DRGE mais agressivo Hérnia de hiato: dissociação entre o esfíncter externo e interno Mecanismo de depuração intraluminal: peristaltismo do esôfago, fluxo salivar Resistência intrínseca do epitélio: defesa pré-epitelial (composta por muco, bicarbonato e água), defesa epitelial (junções intercelulares firmes dificultando a retrodifusão dos íons), defesa pós epitelial (suprimento sanguíneo) Retardo do esvaziamento gástrico, aumento da secreção gástrica Fatores agressivos > fatores de defesa da mucosa: esofagite (erosões, edema, úlcera, fibrose, estenose...) QUADRO CLÍNICO Pirose retroesternal, regurgitação Manifestações atípicas: dor torácica não coronariana (50% das dores torácicas não coronarianas são de origem esofágica), pulmonares (tosse, asma, fibrose pulmonar, pneumonias aspirativas), otorrinolaringológicas (rouquidão, globus, roncos, pigarro, laringite crônica, sinusite), erosões dentárias Manifestações de alarme: odinofagia, disfagia, sangramento, anemia, emagrecimento Saúde do Adulto I 2 DIAGNÓSTICO Na maioria parte das vezes o diagnóstico de DRGE pode ser feito somente pela anamnese Endoscopia digestiva alta: identificar as complicações da DRGE, estenose péptica, esôfago de Barrett e adenocarcinoma A classificação de Los Angeles é a mais utilizada na atualidade para estadiar a gravidade da esofagite de refluxo pHmetria de 24:Trata-se do método padrão-ouro para confirmação diagnóstica de DRGE (sensibilidade e especificidade acima de 90%) Esofagomanometria: Este exame não serve para diagnosticar a DRGE, já que não confirma a ocorrência de refluxo em si, contudo, tem o importante papel de auxiliar no planejamento cirúrgico, ajudando a selecionar o tipo de fundoplicatura que deverá ser realizada Esofagografia baritada: O paciente deglute contraste baritado e são obtidas imagens radiológicas que revelam a anatomia do esôfago. O principal papel da esofagografia é na caracterização das hérnias de hiato COMPLICAÇÕES Estenose Péptica do Esôfago: 5% dos portadores de esofagite erosiva, devido a uma cicatrização intensamente fibróticadas lesões Terço inferior do órgão, assumindo, com o passar dos anos, um padrão “ascendente” Tratamento é feito com dilatação endoscópica por balão (até se obter um diâmetro luminal de 13-17 mm, o que costuma ser suficiente para aliviar a disfagia). O número de sessões é variável, dependo do grau de fibrose Manter esses pacientes com IBP em longo prazo Úlcera esofágica: Dor ao deglutir (odinofagia) e têm hemorragia digestiva oculta (anemia ferropriva) Os principais diagnósticos diferenciais são: a síndrome de Zollinger-Ellison (gastrinoma) e as úlceras induzidas por comprimidos OBS: síndrome de Zollinger-Ellison O paciente apresenta múltiplas ulcerações em esôfago, estômago e duodeno, cursando Saúde do Adulto I 3 com hipergastrinemia nos exames laboratoriais OBS: úlceras induzidas por comprimidos A lesão geralmente se localiza na altura da carina, local onde o lúmen esofagiano é naturalmente mais estreito, devido à compressão exercida por aquela estrutura (e justamente onde um comprimido qualquer pode ficar impactado, causando lesão química da mucosa esofagiana) Asma relacionada à DRGE: O refluxo pode ser a única causa para o broncoespasmo O próprio tratamento da asma (pelo uso de agonistas beta-adrenérgicos, que relaxam o EEI) também pode induzir refluxo Esôfago de Barret: Quando o refluxo gastroesofágico é acompanhado por esofagite erosiva, a cicatrização das áreas lesadas pode se dar pela substituição do epitélio escamoso normal por um epitélio colunar de padrão intestinal, altamente resistente ao pH ácido (metaplasia intestinal) Encontrado em 10-15% dos pacientes submetidos à EDA devido a sintomas de refluxo Homens brancos, e sua prevalência aumenta com a idade até um pico entre 45- 60 anos A dificuldade no diagnóstico é justificada pela ausência de queixas específicas: os sintomas, quando presentes, são oriundos da DRGE subjacente, e muitos pacientes são oligo ou mesmo assintomáticos O diagnóstico é suspeitado pela inspeção do endoscopista, que visualiza no terço inferior do órgão as típicas “línguas” de coloração vermelho-salmão O grande problema do EB é que ele representa uma lesão precursora do Adenocarcinoma (AC) de esôfago TRATAMENTO Medidas antirrefluxo: Tratamento farmacológico: Bloqueadores H2: Bloqueiam os receptores H2 de histamina nas células parietais gástricas, inibindo umas das três vias de estímulo neuroendócrino à secreção ácida Menos eficazes que os IBPS Inibidores da Bomba de Prótons: Inibem a H+ /K+ ATPase (“bomba de prótons”) bloqueando a via final para a secreção de ácido pelas células parietais do estômago Drogas de escolha quando o paciente é muito sintomático, e também quando apresenta esofagite ou outras complicações da DRGE Melhora da pirose é observada em 80- 90% dos pacientes, desaparecendo por completo em cerca de 50% Antiácidos: Saúde do Adulto I 4 Neutralizam diretamente a acidez do suco gástrico, sem interferir na secreção cloridropéptica das células parietais NÃO são úteis no tratamento prolongado da DRGE, pois seu efeito é de curta duração Cirurgia antirreflexo: Visa restabelecer a competência do EEI, circundando a extremidade inferior do esôfago com um manguito (ou válvula) formado pelo fundo gástrico – a chamada Fundoplicatura Fundoplicatura de Nissen, ou completa (360o): Realizada através de acesso abdominal, com preferência pela videolaparoscopia. Se houver hérnia de hiato, deve-se dissecar o pilar esquerdo do diafragma a fim de realizar sua redução. Confecciona-se uma válvula com o fundo gástrico “abraçando” toda a circunferência do esôfago. Consiste no procedimento de escolha, sendo o de maior eficácia Fundoplicaturas Parciais (180- 270oC): Indicadas na vigência de dismotilidade esofagiana (menos de 60% das ondas peristálticas são completas e/ou a pressão das ondas peristálticas é inferior a 30 mmHg), pelo maior risco de acalásia iatrogênica com a fundoplicatura de Nissen. As válvulas são parciais, variando entre 180º e 270º, podendo ser anteriores (como nas técnicas de Dor) ou posteriores (como na cirurgia de Toupet). Em todas, o acesso é abdominal. O acesso transtorácico esquerdo era utilizado na técnica de Belsey- -Mark IV (abandonada nos dias de hoje), onde era confeccionada uma válvula gástrica posterior parcial de 240º
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