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1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Endocrinologia SÍNDROME DE CUSHING E INSUFICIÊNCIA ADRENAL Introdução: As glândulas adrenais ou suprarrenais localizam-se no retroperitônio e são responsáveis pela síntese de substâncias essenciais para a vida humana, dentre as quais destaca-se o cortisol, hormônio glicocorticoide fundamental à manutenção da vida. A glândula adrenal é dividida em uma região periférica, denominada córtex, e em uma região central, denominada medula. O córtex adrenal é subdividido em 3 camadas, cada uma delas responsável pela secreção de hormônios diferentes: - Glomerulosa: secreção de mineralocorticoides, como a aldosterona. - Fasciculada: secreção de glicocorticoides, como o cortisol. - Reticular: secreção de androgênios, como a androstenediona e a deidroepiandrosterona (DHEA). A medula adrenal é responsável pela secreção das catecolaminas (adrenalina e noradrenalina). A regulação da função do córtex da glândula adrenal é mediada pelo hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), que estimula a secreção de glicocorticoides, como cortisol, e de androgênios, e pelo sistema renina- angiotensina, que estimula a secreção de aldosterona, principal mineralocorticoide. A regulação da função da medula da glândula adrenal é mediada pelo sistema nervoso autônomo simpático, que estimula diretamente, por meio dos neurônios pré- ganglionares, a secreção de adrenalina e de noradrenalina. Assim, alterações na secreção do ACTH causam alterações na secreção de glicocorticoides (cortisol) e de androgênios adrenais, mas não de mineralocorticoides (aldosterona), visto que sua secreção não é mediada por ação deste hormônio. Síndrome de Cushing: Definição: A Síndrome de Cushing é definida como o conjunto de sinais e sintomas causados por exposição crônica/prolongada a quantidades excessivas de glicocorticoides de origem exógena (farmacológica) ou endógena. Quando a Síndrome de Cushing é causada por um adenoma hipofisário secretor de ACTH, ela passa a ser denominada Doença de Cushing. Etiologia: A etiologia da Síndrome de Cushing é exógena em 99,9% dos casos. A causa mais comum da Síndrome de Cushing é o uso de glicocorticoides exógenos por tempo prolongado e em doses suprafisiológicas. É importante lembrar que não apenas as preparações de corticoides para uso sistêmico (oral ou injetável), mas também as preparações de corticoides para uso tópico (nasal, inalatório, colírio, creme, pomada) podem causar manifestações clínicas de 2 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 hipercortisolismo, dependendo da dose administrada e do tempo de exposição. A etiologia da Síndrome de Cushing é endógena em apenas 0,1% dos casos. As causas endógenas da Síndrome de Cushing podem ser classificadas em ACTH- dependentes, quando são causadas por excesso de ACTH ou de CRH e consequente hiperestimulação das glândulas adrenais, e em ACTH-independentes, quando uma ou ambas as glândulas adrenais secretam quantidades excessivas de glicocorticoides de forma autônoma, ou seja, independente do estímulo do ACTH. Entre as causas endógenas, 80% são ACTH-dependentes e 20% são ACTH-independentes. A principal causa de Síndrome de Cushing endógena é a Doença de Cushing, ou seja, o adenoma hipofisário secretor de ACTH. Em até 90% dos casos, os tumores são microadenomas hipofisários (< 10 mm de diâmetro) e, em apenas 10% dos casos, os tumores são macroadenomas (> 10 mm de diâmetro). A Doença de Cushing é muito mais comum em mulheres e a maioria dos casos desenvolve-se entre a 3ª e a 5ª décadas de vida. As principais causas da Síndrome de Cushing são: Exógenas (99,9%) Uso prolongado de corticoides sistêmicos ou tópicos Endógenas (0,1%) 1. ACTH-dependentes (80%) Adenoma de hipófise secretor de ACTH ou Doença de Cushing (80%) Síndrome do ACTH ectópico (20%): - Neoplasia de pulmão - Neoplasia brônquica - Neoplasia de pâncreas - Neoplasia de timo Secreção ectópica de CRH 2. ACTH-independentes (20%) Adenoma adrenal Carcinoma adrenal Manifestações Clínicas: As principais manifestações clínicas da Síndrome de Cushing são: - Obesidade centrípeta (95% dos casos). OBS.: O padrão de ganho de peso observado na Síndrome de Cushing é inespecífico, podendo ocorrer também na obesidade simples. O acúmulo de gordura na região supraclavicular, entretanto, é mais específico do hipercortisolismo. A deposição de gordura é maior no compartimento visceral e menor no compartimento subcutâneo. Assim, 1 a cada 500 pessoas com Síndrome Metabólica podem ter Síndrome de Cushing. - Atrofia e fraqueza muscular, principalmente proximal. - Fácies em “lua cheia” e pletora facial. - Estrias violáceas largas (largura > 1 cm). - Equimoses por fragilidade dos capilares sanguíneos. - Pele fina (atrofia cutânea), devido à redução da produção de colágeno na pele. - Hiperandrogenismo: acne, hirsutismo e alopecia. - Sintomas neuropsiquiátricos (70% dos casos): apatia, letargia, depressão, euforia e psicose. - Perda de memória, distúrbios do sono e déficits cognitivos. - Osteopenia, osteoporose e aumento do risco de fraturas. - Hipercalciúria e nefrolitíase. - Hipertensão arterial sistêmica (80% dos casos). - Intolerância à glicose ou DM tipo II (40-60% dos casos). - Acantose nigricans. - Alcalose hipocalêmica. - Dislipidemias: hipertrigliceridemia e redução do HDL-c. - Hipogonadismo hipogonadotrófico: amenorreia, infertilidade, diminuição da libido e disfunção erétil. 3 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Infecções oportunistas, principalmente infecções fúngicas como candidíase, devido à imunossupressão causada pelo excesso de glicocorticoides. Diagnóstico: O diagnóstico da Síndrome de Cushing baseia-se em achados clínicos e laboratoriais. O primeiro passo na investigação diagnóstica da Síndrome de Cushing é determinar se o paciente está em uso de qualquer tipo de corticoide (sistêmico ou tópico). Se o paciente estiver em uso prolongado de corticoides, confirma-se o diagnóstico de Síndrome de Cushing exógena, desde que o paciente apresente manifestações clínicas compatíveis, não havendo necessidade de solicitar exames laboratoriais para confirmar o diagnóstico. A Síndrome de Cushing exógena caracteriza- se por níveis séricos de cortisol reduzidos, devido à supressão das glândulas adrenais pelo uso de corticoide exógeno. Quando os achados clínicos são sugestivos de Síndrome de Cushing e o paciente não está em uso de corticoterapia exógena, deve-se realizar investigação laboratorial de Síndrome de Cushing endógena, que é dividida em 2 etapas. A primeira etapa da investigação laboratorial da Síndrome de Cushing endógena baseia- se em exames para a confirmação do hipercortisolismo endógeno. Para a confirmação do diagnóstico de Síndrome de Cushing endógena, são necessários 2 resultados alterados em momentos diferentes dos seguintes exames laboratoriais: - Cortisol sérico pós-supressão com 1 mg de dexametasona overnight (dosagem do cortisol sérico entre 8 e 9 horas da manhã após administração de dexametasona entre 23 e 24 horas da noite). - Cortisolúria de 24 horas (coletar no mínimo 2 a 3 amostras de urina, pois a especificidade aumenta quanto maior o número de amostras de urina). - Cortisol salivar à meia-noite. - Cortisol sérico à meia-noite. - Cortisol sérico ou urinário pós-supressão com 0,5 mg de dexametasona de 6/6 horas por 48 horas. OBS.: A dosagem do cortisol sérico basal não deve ser utilizada como critério diagnóstico para a Síndrome de Cushing endógena, devido à sua baixa especificidade. Exame Resultado Alterado Sensibilidade Especificidade Cortisol sérico pós-supressão com 1 mg de dexametasona overnight ≥ 1,8 µg/dL ≥ 5,0 µg/dL 95% 85% 80% 95% Cortisolúria de 24 horas > limite superior da normalidade 90-100% 50-98% Cortisol salivarà meia-noite ≥ 145 ng/dL 95-100% 93-100% Cortisol sérico à meia-noite Dormindo: ≥ 1,8 µg/dL Acordado: ≥ 7,5 µg/dL 100% 96% 20% 83-96% Cortisol sérico ou urinário pós- supressão com 0,5 mg de dexametasona de 6/6 horas por 48 horas Sérico: ≥ 1,8 µg/dL Urinário: ≥ 200 µg/24 horas 67-95% 70-100% 4 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Os principais diagnósticos diferenciais da Síndrome de Cushing endógena são distúrbios que também cursam com hipercortisolismo e, por vezes, com hiperandrogenismo: - Alcoolismo crônico. - DM descompensado. - Obesidade grau 3. - SOP. - Depressão grave. - Amenorreia hipotalâmica crônica. - Atividade física intensa crônica. - Síndrome Metabólica. Após a confirmação do diagnóstico da Síndrome de Cushing endógena, a segunda etapa da investigação laboratorial da doença baseia-se em exames para a determinação de sua etiologia. O primeiro exame que deve ser solicitado é a dosagem do ACTH, que deve ser realizada a partir de 2 ou 3 amostras diferentes coletadas entre 8 e 9 horas da manhã com intervalos de, no mínimo, 15 minutos. Dependendo do resultado do ACTH, a abordagem diagnóstica é diferente, visto que as etiologias mais prováveis da Síndrome de Cushing endógena variam: - ACTH baixo (< 5 pg/mL): Síndrome de Cushing ACTH-independente, deve-se solicitar TC de abdômen superior, pois os diagnósticos mais prováveis são adenoma de adrenal ou carcinoma de adrenal. - ACTH normal ou alto (> 5 pg/mL): Síndrome de Cushing ACTH-dependente, deve-se solicitar RM de hipófise, pois o diagnóstico mais provável é adenoma de hipófise secretor de ACTH (Doença de Cushing). Se a RM de hipófise estiver normal, deve-se investigar a secreção ectópica de ACTH, especialmente nos casos de altos níveis séricos de ACTH, pela presença de neoplasias secretoras ACTH, como carcinoma de pequenas células do pulmão, carcinoide brônquico, carcinoide de pâncreas e carcinoide de timo. Além da RM de hipófise, que nem sempre é capaz de detectar todos os adenomas hipofisários, pode-se realizar outros exames com o objetivo de diferenciar a Doença de Cushing da Síndrome do ACTH ectópico. Os exames que podem ser realizados são: - Teste do CRH ou DDAVP: dosagem do cortisol e do ACTH séricos antes e após a administração EV de CRH ou de desmopressina (DDAVP); na Doença de Cushing, há aumento significativo dos níveis séricos de cortisol e de ACTH após a administração do CRH ou do DDAVP, já na síndrome do ACTH ectópico, geralmente os níveis séricos de ACTH não se alteram. - Cateterismo bilateral de seios petrosos inferiores (exame padrão-ouro): razão da medida ACTH central/ACTH periférico > 2 confirma o diagnóstico de Doença de Cushing; razão da medida ACTH central/ACTH periférico < 2 indica produção ectópica de ACTH. Nos casos de Síndrome do ACTH ectópico, deve-se realizar TC ou RM de pescoço, tórax e abdômen com o objetivo de identificar o tumor secretor de ACTH. Por fim, se os exames de imagem não detectarem nenhum tumor de adrenal ou nenhum tumor secretor de ACTH, a etiologia da Síndrome de Cushing é desconhecida. 5 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 O cortisol salivar coletado às 9 horas da manhã pós-supressão com 1 mg de dexametasona overnight apresenta a maior especificidade para o diagnóstico da Síndrome de Cushing, possibilitando diferenciar dos valores de cortisol salivar em pacientes do grupo controle e em pacientes obesos. Tratamento: O tratamento de primeira linha da Doença de Cushing é a cirurgia transesfenoidal para a remoção do adenoma de hipófise. Nos casos refratários ao tratamento cirúrgico, pode-se realizar a radioterapia como tratamento de segunda linha. Entretanto, a radioterapia pode causar como efeito adverso a longo prazo o hipopituitarismo. O tratamento de primeira linha da Síndrome de Cushing ACTH-independente baseia-se na cirurgia de adrenalectomia unilateral (ou bilateral) videolaparoscópica para a remoção do tumor de adrenal secretor de ACTH. Na Síndrome do ACTH ectópico, deve-se realizar o tratamento específico para a doença de base, com remoção do tumor secretor de ACTH e, quando não identificado, pode-se utilizar drogas que causem inibição da secreção de cortisol pelas glândulas adrenais, como o cetoconazol, de forma a controlar as manifestações clínicas causadas pelo hipercortisolismo. Aproximadamente 8-45% dos pacientes com Doença de Cushing submetidos à adrenalectomia bilateral podem desenvolver a Síndrome de Nelson, devido à perda do feedback negativo exercido pelo cortisol sobre a secreção de ACTH pelo adenoma hipofisário. A Síndrome de Nelson caracteriza-se por crescimento do adenoma hipofisário preexistente, por aumento da secreção de ACTH (níveis séricos de ACTH > 1.000 pg/mL) e por hiperpigmentação cutânea intensa e generalizada. O tratamento baseia-se em cirurgia para a remoção do adenoma hipofisário secretor de ACTH e/ou radioterapia. Insuficiência Adrenal: A insuficiência adrenal é um distúrbio caracterizado por redução ou perda da função adrenocortical normal, causando deficiência de glicocorticoides, associada ou não à deficiência de mineralocorticoides e de androgênios. A deficiência de hormônios 6 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 adrenais é uma situação clínica que pode levar à morte. A insuficiência adrenal pode ser classificada em: - Primária: deficiência da secreção de hormônios adrenais devido à doença primária da glândula adrenal, especialmente do córtex; a causa mais comum é a Doença de Addison, que cursa com destruição autoimune da glândula bilateralmente. - Central: → Secundária: deficiência da secreção de glicocorticoides pelas adrenais secundária a doenças da hipófise que cursam com redução da secreção de ACTH. → Terciária: deficiência da secreção de glicocorticoides pelas adrenais secundária a doenças do hipotálamo que cursam com redução da secreção de CRH. OBS.: A insuficiência adrenal central também pode ser denominada insuficiência adrenal secundária, referindo-se tanto às causas hipofisárias quanto às causas hipotalâmicas de insuficiência adrenal. As principais causas de insuficiência adrenal são: Insuficiência Adrenal Primária Adrenalite autoimune → Doença de Addison Tuberculose Infecções fúngicas, como paracoccidioidomicose, blastomicose, coccidioidomicose e criptococose Histoplasmose AIDS Drogas, como cetoconazol e rifampicina Linfomas Tumores metastáticos Doenças genéticas Insuficiência Adrenal Secundária Uso crônico de glicocorticoides Neoplasias do SNC Cirurgia ou radioterapia no SNC Trauma cranioencefálico (TCE) Doenças granulomatosas, como tuberculose Hipopituitarismo (deficiência de ACTH) O uso de glicocorticoides em altas doses e por tempo prolongado resulta em deficiência de CRH e de ACTH devido ao intenso feedback negativo exercido sobre a hipófise e o hipotálamo. Assim, a suspensão abrupta da corticoterapia nestes pacientes pode causar uma crise adrenal, situação clínica com alto risco de morte caso não seja iniciado o tratamento adequado imediatamente. As principais manifestações clínicas da insuficiência adrenal são: - Cansaço. - Fadiga. - Fraqueza. - Anorexia. - Perda de peso. - Tontura. - Náuseas e vômitos. - Constipação. - Diarreia. - Dor abdominal. - Avidez por sal (na insuficiência adrenal primária, na qual há deficiência de mineralocorticoides, como a aldosterona). - Hipotensão arterial (PAS < 110 mmHg). - Hiperpigmentação da pele (na insuficiência adrenal primária, devido ao excesso de ACTH). - Vitiligo (na insuficiência adrenal primária de etiologia autoimune, como a Doença de Addison). - Dores articulares e/ou musculares. - Alterações hidroeletrolíticas, como hiponatremia e hipercalemia (na insuficiência adrenal primária, na qual há deficiência de mineralocorticoides,como a aldosterona). - Anemia. As principais características clínicas que diferenciam a insuficiência adrenal primária da insuficiência adrenal secundária são a 7 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 presença de hiperpigmentação de pele e mucosas na primária, devido ao excesso de ACTH, a presença de hipotensão arterial mais grave na primária, devido à deficiência de mineralocorticoides, como a aldosterona, a presença de distúrbios hidroeletrolíticos como hiponatremia e hipercalemia na primária, devido à deficiência de aldosterona, e a presença de deficiência de outros hormônios hipofisários, além do ACTH, na secundária, devido ao hipopituitarismo que pode estar associado a tumores hipofisários. Além disso, na insuficiência adrenal primária de etiologia autoimune, como a Doença de Addison, pode haver a associação de outras doenças autoimunes, como DM tipo I e Tireoidite de Hashimoto. O diagnóstico da insuficiência adrenal baseia-se em achados clínicos e laboratoriais. Os exames laboratoriais que podem ser solicitados para o diagnóstico da insuficiência adrenal são a dosagem do cortisol basal ou o teste do estímulo com ACTH. A dosagem do cortisol basal deve ser realizada entre 8 e 9 horas da manhã, quando ocorre o pico de cortisol sérico devido ao ciclo circadiano. O diagnóstico de insuficiência adrenal primária é confirmado por valor do cortisol sérico < 3 µg/dL. A presença de cortisol sérico > 18 µg/dL exclui o diagnóstico de insuficiência adrenal primária, já a presença de valores intermediários exige a realização do teste do estímulo com ACTH. Outros achados laboratoriais que sugerem o diagnóstico de insuficiência adrenal primária são hiponatremia, hipercalemia, ACTH alto, aldosterona sérica baixa e renina sérica alta. O diagnóstico de insuficiência adrenal secundária geralmente exige a realização do teste do estímulo com ACTH, que baseia-se na administração de ACTH sintético 250 µg EV e subsequente dosagem do cortisol basal 30 e 60 minutos depois. A presença de cortisol sérico < 18 µg/dL confirma o diagnóstico de insuficiência adrenal secundária, já a presença de cortisol sérico > 18 µg/dL exclui o diagnóstico de insuficiência adrenal secundária. Outro achado laboratorial sugestivo de insuficiência adrenal secundária é ACTH baixo. A crise adrenal é uma emergência médica, podendo ser a primeira manifestação clínica da insuficiência adrenal aguda ou podendo ser desencadeada por fatores estressores, como cirurgias, traumas, infecções e desidratação, em pacientes com insuficiência adrenal crônica. A crise adrenal é muito mais comum na insuficiência adrenal primária, especialmente na Doença de Addison. O principal determinante da crise adrenal é a deficiência de mineralocorticoides. O quadro clínico caracteriza-se por hipotensão arterial grave (choque), taquicardia, tontura, náuseas e vômitos. A hiperpigmentação cutânea é sugestiva do diagnóstico de crise adrenal, mas indica descompensação da insuficiência adrenal crônica desencadeada por algum fator estressor. O diagnóstico da crise adrenal é clínico e o tratamento deve ser iniciado imediatamente com hidratação EV, glicocorticoides EV e investigação de fatores precipitantes. O glicocorticoide de primeira escolha no tratamento da crise adrenal é a hidrocortisona 100 a 300 mg EV, seguido por uma dose de manutenção de 50 a 100 mg EV a cada 6-8 horas. A hidratação EV baseia-se no uso de soro fisiológico 0,9% associado a soro glicosado 5 ou 10% se houver hipoglicemia. O tratamento crônico (de manutenção) da insuficiência adrenal baseia-se em reposição de hormônios glicocorticoides, mineralocorticoides e, por vezes, androgênios. Todos os pacientes com insuficiência adrenal devem fazer uso contínuo de glicocorticoides, como prednisona ou dexametasona. Geralmente, utiliza-se prednisona 5 mg VO de 1 a 2 vezes ao dia. Em pacientes com insuficiência adrenal primária, na qual também há deficiência de mineralocorticoides, deve-se utilizar fludrocortisona 0,05 a 0,1 mg VO 1 vez ao dia, associado a dieta sem restrição de sal. OBS.: Nos casos de intercorrências clínicas, como cirurgias, traumas, infecções, desidratação, estresse, etc, a dose dos corticoides utilizados no tratamento de manutenção da insuficiência adrenal deve ser triplicada para prevenir crise adrenal.
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