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1 MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS EM DOENÇAS SISTÊMICAS As manifestações cutâneas das doenças sistêmicas são tão numerosas e variadas que muitas aulas seriam necessárias para abranger todas elas. Algumas manifestações cutâneas de quadros sistêmicos importantes são abordadas aqui, com ênfase especial nas manifestações relacionadas a problemas de saúde publica tão comuns como DM e, em próximas aulas, serão abordadas as manifestações relacionadas à imunodeficiência adquirida e neoplasias. ACANTOSE NIGRICANS Espessamento papilomatoso, queratósico, hiperpigmentado, em flexuras da pele. As formas associadas a processos benignos são mais frequentes, ocorrem principalmente em indivíduos obesos, enquanto as formas associadas a doenças malignas são bastante raras. Pode ocorrer quando o DM2 associa-se à obesidade, e tem relação com a resistência periférica à insulina e à hiperinsulinemia. ACROCÓRDONS Papilomas fibroepiteliais, são lesões dermatológicas comuns na população, e estão associados ao DM, à obesidade, à resistência insulínica e à aterosclerose. São pápulas piliformes de 1 a 5 mm, da cor da pele ou castanho-escuras, localizadas principalmente no pescoço, nas pálpebras, na porção superior do tronco e nas axilas. A identificação precoce de pacientes com resistência insulínica pode ter papel preventivo primário. Síndrome da redução da mobilidade articular – Síndrome Esclerodermia-Símile Atinge 30% dos diabéticos tipo I nas duas primeiras décadas de doença. Ocorre espessamento e endurecimento da pele e do tecido conectivo periarticular, resultando em dificuldade não dolorosa da mobilidade articular, inicialmente em articulação interfalângea distal do quinto quirodáctilo e, progressivamente, todos os dedos da mãos, pés e mesmo as grandes articulações, especialmente nos diabéticos insulino-resistentes. Controle rigoroso da glicemia pode retardar esse espessamento. 2 Semiologicamente, o quadro é caracterizado pela “mão do rezador”: a aproximação das palmas das mãos revela incapacidade da plena extensão dos dedos, o que impossibilita a completa aproximação das superfícies palmares mesmo com as palmas das mãos pressionadas uma contra a outra (sinal da prece). Histopatologia: A pele espessada revela aumento do colágeno. ESCLEREDEMA Escleredema de Buschke (EB) é doença rara de tecido conjuntivo, caracterizada por endurecimento não depressível da pele. Em metade dos casos publicados de EB, há associação com DM. As características mais comuns nesses pacientes são: adultos do sexo masculino, DM de longa duração, com mal controle metabólico e presença de complicações especificas da DM. Consequências clinicas incluem: diminuição da motilidade dos ombros e comprometimento da função respiratória. O exame histopatológico revela aumento da espessura da derme, com fibras de colágeno alargadas e separadas por espaços não corados, os quais correspondem a depósitos de mucopolissacarídeos. DERMOPATIA DIABÉTICA A afecção é mais comum em homens com diabetes de longa duração, e caracteriza-se por pequenas áreas atróficas, irregulares, deprimidas, de coloração acastanhada, com 1 a 2 cm de diâmetro, assintomáticas, em membros inferiores, especialmente as regiões pré-tibiais. As lesões clareiam em 1 a 2 anos, mas outras continuam a surgir em surtos. 3 A frequência dessa alteração nos diabéticos tem sido registrada variavelmente de 20 a 40% e admite-se que a presença de dermopatia se associe a complicações maiores do diabetes, como a nefropatia. A patogenia é desconhecida, admitindo-se que se relacione à microangiopatia diabética. A histopatologia é semelhante a das purpuras pigmentosas crônicas, com extravasamento de hemácias, presença de hemossiderina, e infiltrado inflamatório linfo-histiocitário perivascular discreto. Observam-se espessamentos de arteríolas e capilares dérmicos. BULLOSIS DIABETICORUM Processo caracterizado por bolhas que surgem em doentes diabéticos cuja patogenia é desconhecida, sem historia de trauma ou infecção. Abruptamente, surgem bolhas não dolorosas e não pruriginosas nas extremidades, principalmente nos pés e no terço inferior das penas, e eventualmente, em membros superiores. As bolhas ocorrem em surtos que se curam entre 2 e 5 semanas sem deixar cicatrizes, mas que se mantêm, as vezes, por anos. Histopatologia: clivagem subepidérmica ou intraepidérmica, e a imunofluorescência direta e indireta é negativa. A diagnose é clinica, reforçada pela histopatologia e pela negatividade da imunofluorescência. Na diagnose diferencial, devem ser consideradas doenças bolhosas como penfigoide bolhoso, epidermólise bolhosa adquirida, eritema polimorfo bolhoso. 4 NECROBIOSE LIPOÍDICA Dermatose rara de etiologia desconhecida, em 2/3 dos casos, há DM associada, embora seja uma complicação rara dessa doença (3:1000 diabeticos a desenvolverem). Essa dermatopatia consiste em áreas de degeneração do colágeno com eventual deposito secundário de lipídeos. O tto do diabetes, quando presente, não altera a evolução da necrobiose lipoídica. Há uma variante, a granulomatose disciforme de Miescher na qual predomina o aspecto granulomatoso, no quadro histopatológico. DERMATOSES PERFURANTES ADQUIRIDAS Dermatoses inflamatórias adquiridas em que há extrusão de material dérmico pela epiderme. Ocorrem em adultos com DM associado à IR crônica. Pápulas pruriginosas com disposição folicular e extrafolicular encimadas por tampão queratótico, isoladas e confluentes, formando placas verrucosas; predominantemente no tronco e na face. Histopatologia: inicialmente, ocorre reação inflamatória supurativa, substituída por reação granulomatosa de tipo “corpo estranho” com eliminação de fibras colágenas e/ou elásticas através de tuneis epidérmicos. A diagnose é clinica e histopatológica. XANTOMAS ERUPTIVOS Surgem geralmente em diabéticos não tratados ou inadequadamente tratados com hipertrigliceridemia elevada. O diabetes é a causa mais comum de hipertrigliceridemia em indivíduos geneticamente predispostos, os lipídeos 5 aumentados permeiam os vasos cutâneos e acumulam-se na derme, são fagocitados por macrófagos e formam-se os xantomas. ÚLCERAS DIABÉTICAS Ocorrem predominantemente nos membros inferiores, afetam 15% dos diabéticos dos quais 10 a 20% podem chegar a amputações. Inclui-se nesse grupo o mal perfurante plantar, lesão necrótica rodeada por bordas hiperqueratósicas que decorrem da neuropatia diabética. Muitos favorecem as ulcerações: espessamentos cutâneos, diminuição da mobilidade articular, perda da sensibilidade por neuropatia, vasculopatia. É muito importante a adoção de cuidados especiais com os pés dos diabéticos: calçados de solados macios, não apertados, evitar atritos e traumas. Diante de qualquer alteração da integridade cutânea (eczemas, micoses, bolhas, alterações ungueais), procurar ocientacao medica para tto precoce. GRANULOMA ANULAR GA é uma doença granulomatosa não infecciosa da pele que pode se apresentar com uma ampla gama de morfologias. As lesões são comumente encontradas no dorso das mãos ou pés e são como pápulas eritematosas que se expandem, formando placas dispostas em configuração anular. 6 Varias associações sistêmicas com diabetes, distúrbios da tireoide, anormalidades lipídicas, malignidade e infecção são descritos na literatura, mas não comprovados. Embora os estudos pareçam não ter relatado uma associação evidente, é aconselhado para pacientes com esse diagnostico. As opções de tto atuais são divididas em terapias tópicas com corticoides potentes, e imunomoduladores sistêmicos, quando necessário, diante de quadros extensos. INFECÇÕES CUTÂNEAS EM DIABETES MELLITUS Entre os pacientes com diabetes, há um risco aumentado de desenvolver infecções, reportado em inúmerosestudos publicados. Esses pacientes também parecem ter um maior risco de mortalidade quando tais infecções ocorrem e os números aumentam se houver presença de doença cardiovascular concomitante. Essas infecções devem ser reconhecidas e tratadas precocemente. Função de defesa imunológica alterada, bem como neuropatia diabética e vasculopatia, são fatores que aumentam o risco para o desenvolvimento de infecções da pele. Este risco parece ser maior em pacientes com um pior controle metabólico e níveis mais elevados de hemoglobina glicada. Ao analisar os patógenos mais frequentemente envolvidos, infecções leves são causadas principalmente por cocos gram-positivos, com uma prevalência de Staphylococcus aureus. Para infecções moderadas, cocos gram-positivos, bem como bactérias gram-negativas, são patógenos comumente implicados. Em infecções severas a etiologia é geralmente polimicrobiana. 7 Das infecções fungicas, são clássicas a balanite por leveduras, no homem e a candidose vulvovaginal, na mulher. Além de outras formas de candidose, como a paroníquia, intertrigos candidiásicos. A dermatofitose tem sido relacionada em alguns estudos com o aumento de risco para piora clinica do pé diabético com prevalência aumentada de dermatofitoses previamente a amputações nos diabéticos. Lembrar que a dermatofitose nos pés é relatada como fator de risco, considerada porta de entrada, para infecções bacterianas em subcutâneo. INFECÇÕES IMPORTANTES COM SINAIS CUTÂNEOS E IMPORTÂNCIA DA OTORRINOLOGIA Otite externa maligna, por pseudômonas aeruginosa é uma infecção grave do ducto auditivo externo com potencial de progressão intracraniana, ocorre em doentes diabéticos idosos e traduz-se por secreção purulenta que se acompanha de edema unilateral e de perda da audição. A mortalidade é elevada (20-40%, em que cerca de 70 a 90% dos doentes são diabéticos). Infecções fungicas importantes a considerar são as mucormicoses, que afetam os seios paranasais, as quais em 70 a 80% ocorrem em diabéticos em cetoacidose. A SEGUIR, ALGUNS OUTROS QUADROS DE MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS QUE PODEM SER SINAIS DE DOENÇAS EM DIVERSOS SISTEMAS: 8 ERITEMA NODOSO (EN) É uma forma especifica de paniculite caracterizada por nódulos subcutâneos palpáveis, dolorosos, de cor vermelha ou violácea, na região anterior das pernas e, ocasionalmente, em outras localizações. Geralmente, ocorre com uma doença sistêmica de base, em particular infecção estrotocócica, sarcoidose, tuberculose e doença inflamatória intestinal. 9 SÍNDROME DE RENDU-OSLER-WEBER OU TELEANGIECTASIA HEMORRÁGICA HEREDITÁRIA Doença vascular autossoimca dominante com acometimento de múltiplos sistemas, cujo principal achado patológico é a presença de comunicações arteriovenosas anômalas. Os sinais mais comuns são teleangiectasias cutaneomucosas e epistaxe, além de sangramento pulmonar, gastrintestinal e intracerebral. PORFIRIA CUTÂNEA TARDIA (PCT) Causada pela deficiência parcial, herdada ou adquirida, da atividade enzimática da uroporfirinogênio- decarboxilase, responsável por um dos passos da produção do HEME, que resulta no acumulo de uroporfirina, e 7-carboxil porfirinogênio, principalmente no fígado. As porfirinas produzidas em excesso pelo fígado se acumulam no corpo e tornam a pele mais sensível a luz. A PCT é universal e a mais frequente das porfirias. A doença geralmente se inicia em indivíduos de meia-idade, a maioria acima dos 40 anos. No passado, predominava em homens, mas atualmente há aumento da incidência em mulheres, devido à ingestão de estrógenos e ao aumento do consumo de álcool. Na pele, apresenta vesículas e bolhas, seguidas de erosões e crostas. Ocorrem predominantemente nas áreas expostas ao sol e sujeitas a trauma, como face, dorso das mãos e dos pés. A urina adquire uma coloração vermelha a arroxeada. 10 SÍNDROME DE PEUTZ-JEGHERS Condição clinica rara caracterizada por pólipos gastrointestinais múltiplos do tipo hamartoma, pigmentação melânica mucocutânea, risco elevado de tumores malignos em múltiplos órgãos. É de herança autossômica dominante. Máculas pigmentadas ao redor da boca, olhos, mãos e região anal. PSEUDOXANTOMA ELÁSTICO (PE) Doença genética rara que apresenta uma hereditariedade autossômica recessiva, com uma prevalência estimada de 1:25000 a 1:100000 habitantes. Caracteriza-se por progressiva calcificação e fragmentação das fibras elásticas da pele, retina (membrana de Bruch) e sistema cardiovascular. As manifestações clinicas são variáveis e podem iniciar em qualquer idade, desde a infância até a idade adulta, tendo o pico de incidência na adolescência, quando as queixas são habitualmente cutâneas: manchas e/ou pápulas amarelo-alaranjadas, assintomáticas, quase sempre nas regiões cervicais laterais com posterior extensão das lesões para a região cervical posterior, axilas, regiões inguinais, poplíteas e peri-umbilical. 11 As manifestações extra-cutáneas incluem envolvimento das mucosas, com hemorragias gastro-intestinais frequentes. Com a progressão da doença, é frequente o envolvimento cardíaco com angina pectoris e hipertensão arterial. PIODERMA GANGRENOSO Dermatose crônica com características peculiares e de etiologia desconhecida. Manifesta-se através de lesões cutâneas ulceradas e dolorosas com evolução rápida e progressiva, mais comumente em membros inferiores. As ulcerações podem surgir espontaneamente ou depois de variados tipos de trauma. 12 40 a 50% dos casos ocorrem de modo idiopático, mas frequentemente há doenças sistêmicas subjacentes como doenças inflamatórias intestinais crônicas (retocolite ulcerativa e doença de Crohn) – em 20 a 30% dos doentes; artrites (artrite soronegativa, artrite reumatoide e espondilite) – estão associadas em cerca de 20% dos casos; doenças hematológicas, mielofibrose e gamopatias monoclonais particularmente IgA – 15 a 25% dos casos. FENÔMENO DE RAYNAUD (FR) O fenômeno de Raynaud (FR) caracteriza-se por episódios reversíveis de vasoespasmos de extremidades, associados a palidez, seguido por cianose e rubor de mãos e pés, que ocorrem usualmente após estresse ou exposição ao frio. O FR primário é um evento funcional benigno e não está associado a nenhuma doença ou condição subjacente. Já o FR secundário pode estar associado a uma série de condições, principalmente a doenças reumáticas autoimunes. SÍNDROME DE REITER Quadro agudo, a artrite reativa, ou síndrome de Reiter, é condição rara, de distribuição universal, que acomete preferencialmente indivíduos adultos do sexo masculino, com possível envolvimento infeccioso, genético e imunológico em sua etiopatogenia, ainda obscura. Caracteriza-se por poliartrite periférica soronegativa, com duração mais longa do que um mês, manifestando-se geralmente após quadro infeccioso . Acometimentos mucocutâneo, ungueal e ocular são comuns. 13 XANTOMAS Lesões cutâneas decorrentes de depósitos de lipídeos na pele, englobados por histiócitos, que adquirem aspecto espumoso, por alteração do metabolismo lipídico. ou mesmo com lipídeos circulantes normais, por distúrbios localizados. Podem aparecer em qualquer parte do corpo, mas especialmente nos tendões, cotovelos , joelhos, mãos, pés, glúteos e pálpebras, ou ainda de maneira disseminada no xantoma eruptivo.
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