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Resumo Completo Abdome Agudo

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1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 
Cirurgia Geral 
ABDOME AGUDO 
Definição: 
O abdome agudo é definido como a 
síndrome dolorosa aguda de intensidade 
variável que acomete estrutura da cavidade 
abdominal, associada ou não a outros sinais 
e sintomas, havendo necessidade de 
tratamento clínico e/ou cirúrgico imediato. 
A ausência de tratamento resulta em 
evolução do quadro, com piora progressiva 
dos sinais e sintomas e do estado geral do 
paciente. O diagnóstico geralmente baseia-
se apenas em anamnese e exame físico, não 
havendo necessidade de exames 
complementares. As condições clínicas que 
simulam o quadro de abdome agudo devem 
ser excluídas antes do início do tratamento. 
Avaliação Diagnóstica: 
A avaliação diagnóstica do abdome agudo 
geralmente é realizada no setor de 
emergência e baseia-se em exame clínico 
detalhado (anamnese e exame físico) e em 
exames complementares, se necessário. 
Na anamnese, deve-se avaliar o início e as 
características dos sintomas relatados pelo 
paciente, como dor, febre, náuseas, vômitos, 
distensão abdominal, ruídos hidroaéreos 
intestinais, hematêmese, melena, etc. 
O principal sintoma do abdome agudo é a dor 
abdominal. Assim, a avaliação das 
características da dor geralmente possibilita 
determinar a causa mais provável do 
abdome agudo. A dor abdominal pode ser 
classificada em: 
- Visceral: dor abdominal difusa e mal 
localizada causada por distensão ou 
estiramento de órgãos intra-abdominais; 
manifesta-se principalmente no abdome 
agudo inflamatório. 
- Somática: dor abdominal bem localizada, 
com irradiação local, causada por lesão de 
estruturas abdominais superficiais 
(músculos, tecido celular subcutâneo, pele) 
devido à ativação de nociceptores 
superficiais. 
- Referida: dor visceral que manifesta-se à 
distância causada devido à ativação de 
nociceptores comuns entre pele e vísceras 
localizados à distância, resultando em dor 
referida superficial. 
Tipos de Dor do Abdome Agudo 
Abdome Agudo Tipo de Dor 
Inflamatório Insidiosa e progressiva 
Obstrutivo Cólica 
Perfurativo 
Súbita e de difusão 
precoce 
Hemorrágico Súbita e difusa 
Isquêmico ou Vascular 
Súbita, progressiva ou 
anginosa 
 
No exame físico, deve-se realizar inspeção, 
ausculta, palpação e percussão abdominal. 
A presença de cicatrizes abdominais à 
inspeção sugere a causa da obstrução 
intestinal, como aderências intestinais 
(bridas). A ausculta dos ruídos hidroaéreos 
intestinais também é importante na avaliação 
da obstrução intestinal. A palpação é 
considerada a parte mais importante do 
exame físico abdominal, pois permite 
diferenciar a peritonite localizada 
(apendicite, colecistite) da peritonite difusa 
(úlcera perfurada), que caracteriza-se pela 
presença de contração involuntária da 
musculatura abdominal à palpação. A 
presença de dor à descompressão abrupta 
representa o principal sinal clínico de 
peritonite. A percussão abdominal auxilia na 
avaliação de obstrução e de perfuração 
intestinal. 
Quanto aos exames complementares que 
podem ser solicitados para a avaliação 
diagnóstica do abdome agudo, os principais 
exames laboratoriais que podem ser 
solicitados são: 
- Hemograma. 
- Amilase. 
- Lipase. 
- Creatinina. 
- Eletrólitos. 
- Enzimas hepáticas: TGO, TGP, GGT e 
fosfatase alcalina. 
 
2 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 
- Gasometria arterial. 
- EQU. 
- β-hCG (mulheres na menacme). 
Os principais exames de imagem que 
podem ser solicitados são: 
- Radiografia de abdome agudo: 
radiografia de abdome AP em ortostatismo 
(raios horizontais), radiografia de abdome AP 
em decúbito dorsal (raios verticais) e 
radiografia de tórax em PA. 
→ Útil para o diagnóstico de abdome agudo 
obstrutivo e de abdome agudo perfurativo. 
→ Útil para o diagnóstico diferencial de 
abdome agudo. 
- Ecografia/ultrassonografia abdominal. 
→ Útil para o diagnóstico de abdome agudo 
inflamatório. 
- TC de abdome. 
→ Útil para o diagnóstico da maioria dos 
casos de abdome agudo. 
Além dos exames laboratoriais e de imagem, 
a endoscopia digestiva alta (EDA), a 
endoscopia digestiva baixa/colonoscopia e a 
videolaparoscopia também são exames 
diagnósticos e terapêuticos em 
determinados casos de abdome agudo. 
Diagnóstico Diferencial: 
As principais doenças que podem cursar 
com dor abdominal e mimetizar o quadro de 
abdome agudo são: 
- Síndrome coronariana aguda. 
- Porfiria aguda. 
- Doenças reumatológicas. 
- Cetoacidose diabética. 
- Uremia aguda. 
- Herpes-zóster. 
Classificação: 
O abdome agudo pode ser classificado em: 
- Inflamatório. 
- Obstrutivo. 
- Perfurativo. 
- Hemorrágico. 
- Isquêmico ou Vascular. 
As principais causas de abdome agudo 
cirúrgico são: 
- Abdome agudo inflamatório: 
→ Apendicite. 
→ Colecistite. 
→ Diverticulite de Meckel. 
→ Abcesso hepático. 
→ Abcesso diverticular. 
→ Abcesso do músculo psoas. 
- Abdome agudo obstrutivo: 
→ Obstrução secundária à aderência de 
intestino delgado ou de intestino grosso. 
→ Volvo de ceco. 
→ Volvo de cólon sigmoide. 
→ Hérnia encarcerada. 
→ Doença inflamatória intestinal. 
→ Neoplasia maligna do TGI. 
→ Intussuscepção intestinal. 
- Abdome agudo perfurativo: 
→ Úlcera gastrointestinal perfurada. 
→ Tumor gastrointestinal perfurado. 
→ Síndrome de Boerhaave. 
→ Divertículo perfurado. 
- Abdome agudo hemorrágico: 
→ Trauma de órgão sólido. 
→ Aneurisma arterial roto. 
→ Gestação ectópica rota. 
→ Hemorragia diverticular. 
→ Malformação arteriovenosa ou do TGI. 
→ Úlcera intestinal. 
→ Fístula aortoduodenal após enxerto 
endovascular aórtico. 
→ Pancreatite hemorrágica. 
→ Síndrome de Mallory-Weiss. 
→ Ruptura esplênica espontânea. 
- Abdome agudo isquêmico ou vascular: 
→ Doença de Buerger. 
→ Trombose ou embolia mesentérica. 
→ Torção ovariana. 
 
3 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 
→ Torção testicular. 
→ Colite isquêmica. 
→ Hérnia estrangulada. 
Abdome Agudo Inflamatório: 
O abdome agudo inflamatório caracteriza-se 
por quadro de dor abdominal aguda 
resultante de peritonite secundária a 
processo infeccioso ou inflamatório de 
órgãos intra-abdominais. 
Geralmente, o abdome agudo inflamatório 
caracteriza-se por dor abdominal de início 
insidioso/lento e de evolução progressiva, 
com longo intervalo de tempo entre o início 
dos sinais e sintomas e a procura por 
atendimento médico. Além da dor abdominal, 
o quadro clínico também caracteriza-se por 
náuseas, vômitos, febre, queda do estado 
geral e sinais de irritação peritoneal, como 
defesa abdominal localizada ou generalizada 
à palpação. 
As principais causas de abdome agudo 
inflamatório são apendicite aguda, colecistite 
aguda, diverticulite aguda, pancreatite 
aguda, colangite aguda, doença inflamatória 
pélvica (DIP) e diverticulite de Meckel. Na 
suspeita de abdome agudo inflamatório, os 
exames complementares que devem ser 
solicitados são: 
- Hemograma. 
- EQU. 
- Amilase. 
- β-hCG. 
- Radiografia de abdome agudo. 
- Ecografia/ultrassonografia abdominal, se 
necessário. 
Apendicite Aguda: 
A apendicite aguda é a principal causa de 
abdome agudo e a apendicectomia é a 
principal cirurgia abdominal de urgência. A 
maioria dos casos de apendicite são 
causados por obstrução da luz do apêndice 
por fecalito, tecidos linfoides hiperplásicos, 
cálculos ou parasitas. A obstrução da luz 
apendicular causa aumento da pressão 
intraluminal, resultando em isquemia e em 
desenvolvimento de processo inflamatório 
do apêndice, com posterior infecção 
bacteriana secundária, geralmente causada 
por Escherichia coli ou Bacteroides fragilis, 
podendo evoluir para gangrena e perfuração 
intestinal. 
O diagnóstico de apendicite aguda é clínico. 
O quadro clínico clássico caracteriza-se por 
dor abdominal inicialmente periumbilical que 
migra para a fossa ilíaca direita, associada a 
anorexia, náuseas, vômitos e febre baixa. A 
dor torna-se cada vez mais localizada, 
sugerindo irritação peritoneal local. Na 
ausculta abdominal, os ruídos hidroaéreosintestinais podem estar diminuídos ou 
ausentes. 
Na palpação abdominal, há dor à palpação 
do ponto de McBurney, localizado no terço 
lateral da linha imaginária traçada entre 
cicatriz umbilical e espinha ilíaca 
anterossuperior, o Sinal de Blumberg é 
positivo, ou seja, há dor à descompressão 
abrupta da fossa ilíaca direita no ponto de 
McBurney, o Sinal de Rovsing pode ser 
positivo, ou seja, há dor na fossa ilíaca direita 
após a compressão da fossa ilíaca esquerda. 
Outros sinais semiológicos que podem estar 
presentes na apendicite aguda são Sinal do 
Psoas, Sinal do Obturador, Sinal de Lapinski, 
Sinal de Dunphy, Sinal de Lennander, etc. 
Alguns pacientes com apendicite aguda 
podem apresentar manifestações clínicas 
atípicas, como pacientes 
imunocomprometidos, imunossuprimidos e 
gestantes, dificultando o diagnóstico. As 
mulheres em idade fértil também apresentam 
diagnóstico dificultado devido a maior 
possibilidade de diagnósticos diferenciais. A 
Escala de Alvarado pode auxiliar no 
diagnóstico de apendicite aguda. A presença 
de pontuação ≥ 5 indica a realização de 
exame de imagem para investigação 
adicional de apendicite aguda. 
Escala de Alvarado 
Sintomas 
Migração da dor 
abdominal 
1 ponto 
Anorexia 1 ponto 
Náuseas e/ou 
vômitos 
1 ponto 
Sinais 
Defesa 
abdominal à 
palpação da 
fossa ilíaca 
direita 
2 pontos 
 
4 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 
Sinais 
Dor à palpação 
abdominal 
1 ponto 
Febre 1 ponto 
Exames 
Laboratoriais 
Leucocitose 2 pontos 
Desvio à 
esquerda 
1 ponto 
Total 10 pontos 
 
Os exames laboratoriais são inespecíficos, 
mas o principal achado laboratorial na 
apendicite aguda é a leucocitose com desvio 
à esquerda. Quanto aos exames de imagem, 
a radiografia de abdome agudo pode 
apresentar borramento da linha do músculo 
psoas, alça de íleo sentinela próxima à fossa 
ilíaca direita e fecalito em quadrante inferior 
direito. A ultrassonografia abdominal 
apresenta sensibilidade de 75-90%, 
especificidade de 86-100% e acurácia geral 
de 90-98% para apendicite aguda. A TC de 
abdome é o método de imagem padrão-ouro 
para o diagnóstico de apendicite aguda. 
Além disso, pode-se realizar 
videolaparoscopia tanto para o diagnóstico 
quanto para o tratamento da apendicite 
aguda, sendo especialmente realizada em 
gestantes, obesos e pacientes nos quais há 
dúvida diagnóstica. 
O tratamento da apendicite aguda é cirúrgico 
e baseia-se em apendicectomia. A 
apendicectomia pode ser realizada por 
cirurgia aberta ou por videolaparoscopia. Na 
cirurgia aberta, geralmente realiza-se a 
incisão de McBurney, identifica-se o 
apêndice cecal, realiza-se a ligadura dos 
vasos sanguíneos do mesoapêndice, 
seguida da ligadura e da secção do apêndice 
na base, realiza-se a invaginação do coto 
cecal geralmente por meio da técnica de 
Ochsner ou “bolsa de tabaqueiro”. Na 
videolaparoscopia, pode-se grampear o 
apêndice cecal sem invaginar o coto cecal. 
Nos casos de apêndice normal, indica-se sua 
remoção mesmo assim. A videolaparoscopia 
possibilita investigação mais ampla de 
diagnósticos diferenciais de apendicite 
aguda e está associada a menor tempo de 
internação hospitalar e à recuperação mais 
rápida do paciente. Além do tratamento 
cirúrgico, também deve-se realizar 
antibioticoterapia perioperatória. 
 
Os principais diagnósticos diferenciais de 
apendicite aguda são: 
- Doença inflamatória pélvica (DIP). 
- Torção ovariana. 
- Cisto ovariano roto. 
- Gastroenterite. 
- Infecção do trato urinário (ITU). 
- Gestação ectópica rota. 
- Diverticulite de Meckel. 
- Adenite mesentérica. 
Colecistite Aguda: 
A colecistite aguda, em 95% dos casos, está 
associada à colelitíase, ou seja, à presença 
de cálculos biliares. A colecistite é causada 
por obstrução do ducto cístico por cálculo 
biliar impactado no infundíbulo, resultando 
em distensão e em inflamação da vesícula 
biliar. A colecistite alitiásica é rara (5% dos 
casos) e desenvolve-se principalmente em 
pacientes graves internados em UTI, 
diabéticos e em nutrição parenteral total. Os 
principais fatores associados à colecistite 
aguda são sexo feminino, idade > 40 anos, 
obesidade e multiparidade. 
O quadro clínico caracteriza-se por dor 
abdominal persistente em hipocôndrio 
direito, associada a náuseas e vômitos. Ao 
exame físico, há defesa abdominal à 
palpação do hipocôndrio direito e Sinal de 
Murphy positivo, ou seja, interrupção da 
inspiração profunda à compressão do 
hipocôndrio direito, sendo altamente 
sugestivo de colecistite aguda. 
Os principais achados laboratoriais são 
leucocitose, com ou sem desvio à esquerda, 
aumento de bilirrubinas total e direta e 
aumento de enzimas canaliculares (GGT e 
fosfatase alcalina). A ultrassonografia 
 
5 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 
abdominal é o exame de imagem padrão-
ouro para o diagnóstico de colecistite aguda 
e indica espessamento da parede da 
vesícula biliar, presença de ar e/ou líquido 
perivesicular e presença de cálculos biliares 
impactados no infundíbulo. 
O tratamento da colecistite aguda é cirúrgico 
e o padrão-ouro é a colecistectomia 
videolaparoscópica. 
A colangite aguda é definida como a 
inflamação das vias biliares, podendo ser 
causada por obstrução dos ductos biliares 
por cálculos. O diagnóstico é clínico e 
baseia-se na presença da Tríade de Charcot 
(dor abdominal, febre e icterícia) ou da 
Pêntade de Reynolds (Tríade de Charcot + 
hipotensão arterial + confusão mental). Os 
principais achados laboratoriais são 
leucocitose com desvio à esquerda, aumento 
de bilirrubinas total e direta e aumento de 
enzimas canaliculares (GGT e fosfatase 
alcalina). O tratamento baseia-se em 
hidratação, antibioticoterapia e 
colangiopancreatografia retrógada 
endoscópica (CPRE). 
Pancreatite Aguda: 
A pancreatite aguda é definida como a 
inflamação aguda do pâncreas, geralmente 
associada à liberação de enzimas 
pancreáticas que causam a autodigestão da 
glândula. As principais causas de pancreatite 
aguda são a litíase biliar (causa mais 
comum), o alcoolismo/etilismo agudo e a 
hipertrigliceridemia. 
O quadro clínico caracteriza-se por dor 
abdominal, geralmente dor em faixa no 
abdômen superior, associada a náuseas 
e/ou vômitos. A presença de febre ou de 
alterações da circulação sanguínea, como 
hemorragia e trombose, indicam doença 
avançada. Os principais achados do exame 
físico, além da presença de dor à palpação 
abdominal, são a presença de sinais 
semiológicos, como Sinal de Cullen 
(equimose periumbilical) e Sinal de Grey 
Turner (equimoses em flancos), que são 
indicativos de pancreatite hemorrágica. 
Os principais achados laboratoriais de 
pancreatite aguda são aumento de amilase e 
lipase séricas. As medidas de amilase e 
lipase sérica são qualitativas, ou seja, não 
são indicativas da gravidade da doença. A 
ultrassonografia abdominal pode confirmar a 
etiologia biliar da pancreatite aguda. A TC de 
abdome é indicada apenas em casos graves 
para a avaliação de complicações, como a 
presença de coleções peripancreáticas e de 
necrose pancreática. 
Para avaliar a gravidade do quadro de 
pancreatite aguda, pode-se utilizar os 
critérios de Ranson, os critérios de APACHE-
II e os critérios de Atlanta. Aos pacientes 
submetidos à TC de abdome, pode-se 
aplicar os critérios de Balthazar para a 
avaliação da gravidade da pancreatite 
aguda. 
O tratamento da pancreatite aguda leve é 
clínico e baseia-se em NPO, hidratação EV e 
analgesia EV. Nos casos de pancreatite 
aguda biliar, recomenda-se a realização de 
colecistectomia videolaparoscópica para 
prevenir novos episódios de pancreatite 
aguda. Nos casos de pancreatite aguda 
grave, recomenda-se NPO, hidratação EV, 
analgesia EV e antibioticoterapia EV, 
especialmente nos casos de necrose 
infectada ou de ar peripancreático observado 
na TC de abdome. O tratamento cirúrgico é 
de exceção, sendo indicado apenas nos 
casos de necrose infectada. 
Diverticulite Aguda: 
A diverticulite aguda é definida como o 
processo inflamatórioagudo dos divertículos 
resultante da ação erosiva de fecalitos ou do 
aumento excessivo da pressão intraluminal 
com consequente perfuração intestinal e 
peritonite. A diverticulite aguda pode ser 
classificada, segundo a Classificação de 
Hinchey, em 4 estágios: 
- Estágio I: abcesso pericólico. 
- Estágio II: peritonite localizada. 
- Estágio III: peritonite purulenta 
generalizada. 
- Estágio IV: peritonite fecal generalizada. 
O quadro clínico caracteriza-se por dor 
abdominal em fossa ilíaca esquerda e febre. 
Ao exame físico, os pacientes apresentam 
defesa abdominal à palpação da fossa ilíaca 
esquerda. A complicação mais comum é a 
fístula colovesical, que cursa com 
pneumatúria e ITU. O principal achado 
 
6 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 
laboratorial é a leucocitose com desvio à 
esquerda. 
O exame de imagem padrão-ouro para o 
diagnóstico de diverticulite aguda é a TC de 
abdome e pelve. A colonoscopia e o enema 
opaco são contraindicados na fase aguda, 
devido ao risco de perfuração intestinal. 
O tratamento da diverticulite aguda depende 
da Classificação de Hinchey: 
- Estágio I: NPO, hidratação EV, analgésicos 
EV e antibioticoterapia EV. 
- Estágio II: drenagem da coleção peritoneal 
por cirurgia ou por radiologia 
intervencionista. 
- Estágio III: tratamento cirúrgico. 
- Estágio IV: tratamento cirúrgico. 
O tratamento cirúrgico também está 
indicado, independentemente da 
Classificação de Hinchey, nos casos de 
episódios de diverticulite aguda recorrente, 
de complicações, como fístula, perfuração ou 
hemorragia, em pacientes imunodeprimidos 
ou na impossibilidade de exclusão de câncer 
do TGI. 
Abdome Agudo Perfurativo: 
O abdome agudo perfurativo resulta de 
peritonite secundária à perfuração de víscera 
oca com extravasamento de material na 
cavidade abdominal. A principal causa de 
perfuração gástrica e duodenal é a úlcera 
péptica perfurada. A perfuração de intestino 
delgado é rara e deve aumentar a suspeita 
de ingestão de corpo estranho. As principais 
causas de perfuração de intestino grosso são 
a apendicite, a diverticulite e os tumores 
perfurados. Algumas doenças infecciosas, 
como CMV e tuberculose, podem causar 
perfuração intestinal em pacientes 
imunodeprimidos. 
O quadro clínico do abdome agudo 
perfurativo é caracterizado por dor 
abdominal de início abrupto, forte 
intensidade e difusão precoce. A rápida 
difusão da dor abdominal deve-se à rápida 
disseminação de ar e de líquido 
gastrointestinal na cavidade abdominal, que 
são altamente irritantes ao peritônio, 
resultando em peritonite difusa/generalizada. 
Às vezes, os pacientes podem relatar dor 
irradiada no ombro e no pescoço, devido à 
irritação do nervo frênico. Ao exame físico, 
os pacientes apresentam defesa abdominal 
generalizada à palpação (abdome “em 
tábua”). O Sinal de Jobert (timpanismo à 
percussão do hipocôndrio direito, com perda 
da macicez hepática) pode estar presente, 
indicando a interposição de ar/gás entre a 
parede abdominal e o fígado. A evolução do 
quadro de abdome agudo perfurativo sem 
tratamento resulta em sepse. 
O diagnóstico do abdome agudo perfurativo 
pode ser confirmado por meio da radiografia 
de abdome agudo ou da TC de abdome, que 
indicam a presença de pneumoperitônio 
(presença de ar livre na cavidade peritoneal). 
O tratamento do abdome agudo perfurativo é 
sempre cirúrgico e baseia-se em laparotomia 
exploratória. 
 
Abdome Agudo Obstrutivo: 
A obstrução intestinal é a segunda principal 
causa de abdome agudo. A obstrução de 
intestino delgado é mais comum do que a 
obstrução de intestino grosso. As obstruções 
intestinais podem ser classificadas em altas 
(acima da válvula ileocecal) ou baixas 
(abaixo da válvula ileocecal), mecânicas ou 
funcionais e simples ou complicadas 
(quando há sofrimento vascular). 
As principais causas de obstrução intestinal 
mecânica são: 
- Aderências ou bridas intestinais pós-
operatórias. 
- Hérnias abdominais. 
- Tumores abdominais. 
- Volvos. 
- Intussuscepção intestinal. 
- Divertículo de Meckel. 
- Corpos estranhos. 
 
7 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 
- Íleo biliar. 
- Doença inflamatória intestinal. 
- Estenoses isquêmicas. 
- Bolo de Ascaris lumbricoides. 
- Hematomas intramurais. 
As principais causas de obstrução intestinal 
em crianças são hérnia abdominal, 
divertículo de Meckel e intussuscepção 
intestinal, em adultos jovens são hérnia 
abdominal e aderências/bridas, e em idosos, 
são aderências/bridas, íleo biliar, hérnias 
abdominais e tumores abdominais. 
A obstrução intestinal funcional é 
denominada íleo adinâmico ou íleo paralítico. 
As principais causas de íleo adinâmico são 
doenças primárias do peritônio, doenças de 
órgãos intraperitoneais e doenças extra-
abdominais e sistêmicas. As infecções, os 
desequilíbrios hidroeletrolíticos e todas as 
outras doenças sistêmicas clinicamente 
significativas podem causar obstrução 
intestinal funcional. O uso de opioides e de 
algumas outras drogas também podem 
causar íleo adinâmico. 
O quadro clínico caracteriza-se por dor 
abdominal em cólica, associada a distensão 
abdominal, vômitos e história de parada de 
eliminação de flatos e fezes. A distensão 
abdominal e a frequência de vômitos 
dependem da altura da obstrução intestinal. 
Quanto mais baixa a obstrução intestinal, 
maior a distensão abdominal e menor a 
frequência de vômitos, que são mais comuns 
nas obstruções altas, com vômitos 
alimentares ou biliosos. Na obstrução baixa, 
pode haver vômitos fecaloides. 
Ao exame físico, há distensão abdominal à 
inspeção estática e dinâmica e à palpação, 
os ruídos hidroaéreos intestinais geralmente 
estão aumentados nas fases iniciais da 
obstrução intestinal e diminuídos ou 
ausentes nas fases avançadas da obstrução 
intestinal. A presença de febre, dor 
abdominal contínua e taquicardia sugerem 
sofrimento de alça intestinal. 
Os principais achados laboratoriais são 
leucocitose e distúrbios do equilíbrio ácido-
básico. Na obstrução intestinal alta, há 
alcalose metabólica hipocalêmica e 
hipoclorêmica, e na obstrução intestinal 
baixa, há acidose metabólica. 
Quanto aos exames de imagem, realiza-se 
radiografia de abdome agudo ou TC de 
abdome, que indicam a presença de 
dilatação das alças intestinais e de níveis 
hidroaéreos. A presença de dilatação de 
alças intestinais de localização central e o 
sinal do “empilhamento de moedas” são 
característicos de obstrução do intestino 
delgado. A presença de dilatação de alças 
intestinais de localização periférica e de 
haustrações e a ausência de gás na ampola 
retal são característicos de obstrução do 
intestino grosso. Nos casos de obstrução 
intestinal funcional (íleo adinâmico), a 
distribuição de gás no estômago, no intestino 
delgado, no intestino grosso e no reto é 
uniforme. A TC de abdome apresenta maior 
acurácia para a determinação da etiologia da 
obstrução intestinal. 
 
O tratamento do abdome agudo obstrutivo 
nos casos de aderências/bridas é 
inicialmente clínico. O tratamento cirúrgico 
deve ser indicado apenas nos casos que não 
respondem ao tratamento clínico e nos casos 
de obstrução intestinal mecânica. 
A obstrução intestinal deve ser diferenciada 
da semiobstrução intestinal, que é uma 
condição clínica relativamente comum após 
cirurgias pélvicas e ortopédicas. A 
semioclusão intestinal é do tipo funcional e o 
tratamento baseia-se no uso de neostigmina 
(anticolinesterásico) e/ou na realização de 
colonoscopia descompressiva. 
Abdome Agudo Hemorrágico: 
O abdome agudo hemorrágico é definido 
como o quadro de dor abdominal associada 
a choque hipovolêmico resultante de 
 
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sangramento intra-abdominal. As principais 
causas de abdome agudo hemorrágico são 
gravidez ectópica rota e aneurisma roto de 
aorta abdominal. Outras causas são ruptura 
de cisto ovariano, ruptura espontânea do 
baço e traumas (vísceras sólidas, vísceras 
ocas, etc). 
O quadro clínico do abdome agudo 
hemorrágico caracteriza-sepor dor 
abdominal de início abrupto e 
difusa/generalizada, associada à 
instabilidade hemodinâmica, com 
taquicardia, hipotensão arterial, palidez, 
sudorese fria e agitação. Ao exame físico, às 
vezes, pode-se observar o Sinal de Cullen e 
o Sinal de Grey Turner, que são indicativos 
de hemorragia retroperitoneal. 
Os achados laboratoriais são inespecíficos. 
Entretanto, em toda mulher com hipótese 
diagnóstica de abdome agudo hemorrágico e 
em idade fértil admitida na Emergência, 
deve-se solicitar dosagem de β-hCG para 
confirmar ou excluir o diagnóstico de 
gravidez ectópica rota, principal causa de 
abdome agudo hemorrágico em mulheres. 
Os pacientes estáveis hemodinamicamente 
devem realizar exame de imagem para 
investigar a etiologia e, assim, iniciar o 
tratamento específico da hemorragia intra-
abdominal. A ultrassonografia abdominal é 
capaz de diagnosticar as 2 principais causas 
de abdome agudo hemorrágico (gravidez 
ectópica rota e aneurisma roto de aorta 
abdominal). A TC de abdome possibilita 
melhor avaliação dos casos de aneurisma 
roto de aorta abdominal. 
O tratamento inicial do abdome agudo 
hemorrágico, independentemente da 
etiologia, baseia-se em estabilização 
hemodinâmica do paciente, por meio da 
administração de solução cristaloide (soro 
fisiológico 0,9% ou ringer lactato) e, às 
vezes, de transfusão sanguínea. 
O tratamento da gravidez ectópica rota é 
cirúrgico e varia desde anexectomia 
unilateral até histerectomia total, 
dependendo da origem do sangramento. O 
tratamento do aneurisma roto de aorta 
abdominal pode ser realizado por cirurgia ou 
por via intravascular. O tratamento cirúrgico 
geralmente baseia-se na implantação de 
prótese endovascular. 
Abdome Agudo Isquêmico ou Vascular: 
O abdome agudo isquêmico ou vascular é 
definido como a insuficiência vascular 
intestinal aguda (infarto intestinal) e 
representa um dos quadros mais graves de 
abdome agudo, com mortalidade de 46-
100%. 
As principais causas de abdome agudo 
isquêmico ou vascular são: 
- Embolia da artéria mesentérica superior 
(causa mais comum). 
- Isquemia mesentérica não oclusiva. 
- Trombose arterial mesentérica. 
- Trombose venosa mesentérica. 
O quadro clínico do abdome agudo vascular 
depende do grau de obstrução arterial e 
caracteriza-se por dor abdominal em aperto 
de forte intensidade e de difícil localização. A 
principal característica clínica do abdome 
agudo vascular é a dissociação entre a dor 
abdominal, geralmente de forte intensidade, 
relatada pelo paciente e o exame físico, 
geralmente normal (sem sinais de peritonite). 
Ao exame físico, às vezes, há ausência de 
ruídos hidroaéreos intestinais na ausculta 
abdominal. 
Os pacientes com quadro de abdome agudo 
vascular geralmente têm história de angina 
abdominal, ou seja, isquemia intestinal 
crônica, que caracteriza-se por episódios de 
dor abdominal, geralmente pós-prandiais, 
que melhoram espontaneamente, mas 
aumentam progressivamente em frequência 
e intensidade. Além disso, é comum a 
história de IAM prévio, AVC prévio, doença 
arterial obstrutiva periférica e arritmias 
cardíacas (fibrilação atrial). 
Os principais achados laboratoriais são 
acidose metabólica e aumento de DHL, 
fosfatase alcalina, amilase e CPK, que são 
inespecíficos. A radiografia de abdome 
agudo, a ultrassonografia abdominal e a TC 
de abdome geralmente apresentam achados 
inespecíficos. O exame de imagem padrão-
ouro para o diagnóstico é a arteriografia, que 
permite diferenciar a isquemia intestinal 
oclusiva da isquemia intestinal não oclusiva, 
identificando a localização e a etiologia da 
obstrução. 
 
9 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 
O tratamento do abdome agudo isquêmico 
ou vascular depende de sua etiologia. 
Entretanto, na prática, é muito comum a 
realização de laparotomia exploratória, na 
qual o cirurgião identifica necrose de alças 
intestinais sem mais nenhuma possibilidade 
terapêutica, devido ao diagnóstico tardio. 
Nestes casos, geralmente realiza-se 
ressecção do intestino necrótico, com 
anastomose das alças intestinais 
remanescentes, podendo resultar em 
complicações como síndrome do intestino 
curto. Assim, o prognóstico é diretamente 
proporcional à precocidade do diagnóstico e 
do tratamento.

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