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MIOPATIAS AUTOIMUNES SISTÊMICAS SUMÁRIO CLASSIFICAÇÃO E NOVOS CRITÉRIOS CLASSIFICATÓRIOS ............................................................................ 3 Enzimas Musculares (CPK=CK e Aldose) ....................................................................................................... 5 CPK ............................................................................................................................................................ 5 Aldolase .................................................................................................................................................... 5 CAUSAS PARA AUMENTO DE CPK ............................................................................................................. 5 Autoanticorpos e MII’s ................................................................................................................................. 6 Fatores de risco ambientais e genéticos ...................................................................................................... 6 Fisiopatogênese ............................................................................................................................................ 7 EPIDEMIOLOGIA ........................................................................................................................................... 7 ETIOLOGIA .................................................................................................................................................... 7 PATOGENIA ................................................................................................................................................... 7 QUADRO CLÍNICO ......................................................................................................................................... 8 EXAMES COMPLEMENTARES ........................................................................................................................ 9 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ....................................................................................................................... 10 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................................. 10 TRATAMENTO ............................................................................................................................................. 10 PROGNÓSTICO ............................................................................................................................................ 11 EPIDEMIOLOGIA ......................................................................................................................................... 11 ETIOLOGIA E PATOGENIA ........................................................................................................................... 11 QUADRO CLÍNICO ....................................................................................................................................... 13 EXAMES COMPLEMENTARES ...................................................................................................................... 14 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ....................................................................................................................... 15 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................................. 16 TRATAMENTO ............................................................................................................................................. 16 EPIDEMIOLOGIA ......................................................................................................................................... 17 EXAMES COMPLEMENTARES ...................................................................................................................... 18 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ....................................................................................................................... 18 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................................. 18 TRATAMENTO ............................................................................................................................................. 18 Manifestação clínica clássica: fraqueza proximal dos MMII e distal dos MMSS. Exame físico: hipo/atrofia de quadríceps e déficit na flexão profunda dos dedos. Quadro evolutivo insidioso. Biópsia indispensável. Não há achados patognomônicos histológicos que definem a doença. .......... 19 EPIDEMIOLOGIA ......................................................................................................................................... 19 ETIOLOGIA E PATOGENIA ........................................................................................................................... 19 QUADRO CLÍNICO ....................................................................................................................................... 19 EXAMES COMPLEMENTARES ...................................................................................................................... 20 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ....................................................................................................................... 20 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................................. 20 CLASSIFICAÇÃO ........................................................................................................................................... 21 Definida .................................................................................................................................................. 21 Possível ................................................................................................................................................... 21 TRATAMENTO ............................................................................................................................................. 21 PROGNÓSTICO ............................................................................................................................................ 22 EPIDEMIOLOGIA ......................................................................................................................................... 22 ETIOLOGIA .................................................................................................................................................. 22 PATOGÊNESE .............................................................................................................................................. 23 QUADRO CLÍNICO ....................................................................................................................................... 23 EXAMES COMPLEMENTARES ...................................................................................................................... 23 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ....................................................................................................................... 24 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................................. 25 TRATAMENTO ............................................................................................................................................. 25 PROGNÓSTICO ............................................................................................................................................ 25 Considerações finais ...................................................................................................................................27 Glicogenoses ............................................................................................................................................... 30 MIOPATIAS AUTOIMUNES SISTÊMICAS Miopatias autoimunes sistêmicas (ou miopatias inflamatórias idiopáticas) são um grupo diferenciado de doenças sistêmicas raras que acometem primariamente a musculatura esquelética. No entanto, envolvimento cutâneo, pulmonar, cardíaco e/ou do trato gastrintestinal pode ocorrer. Com a melhor compreensão da fisiopatogênese, melhor caracterização fenotípica e descoberta de novos autoanticorpos, o termo “idiopático” passou a ser inapropriado. Da mesma forma, a sentença “miopatias inflamatórias” ou simplesmente “miosites” passou a ser inadequada, pois não abrangeria as “miopatias necrosantes imunomediadas”. CLASSIFICAÇÃO E NOVOS CRITÉRIOS CLASSIFICATÓRIOS De um modo geral, dependendo dos dados demográficos, clínicos, histológicos, laboratoriais e evolutivos, as miopatias autoimunes sistêmicas podem ser subdivididas em dermatomiosite (DM), polimiosite (PM), miosite por corpos de inclusão (MCI), miopatia necrosante imunomediada (MNIM), síndrome antissintetase (SAS), miopatias associadas a outras doenças autoimunes sistêmicas, associadas a neoplasias, entre outras. Novos critérios de 2017 propostos por EULAR/ACR 2017 têm como finalidade inicialmente avaliar a probabilidade de um paciente ser classificado como tendo uma miopatia autoimune, por meio de pontuações. Posteriormente, os pacientes são subclassificados em subtipos de miopatias autoimunes. N esses novos critérios foi excluída a utilização de aldolase e eletroneuromiografia, assim como não se incluiu o uso de ressonância magnética dos músculos, embora esse último instrumento tenha sido de grande valia na prática diária. Também não foi incluída a classificação da síndrome antissintetase. ENZIMAS MUSCULARES (CPK=CK E ALDOSE) CPK: enzima presente na parte interna da membrana mitocondrial nas miofibrilas e no citoplasma da fibra muscular. CPK é um dímero - 3 tipos identificados na eletroforese: CK-MM (tecido muscular), CKMB (tecido cardíaco), CK-BB (tecido cerebral). Tecido muscular é o que tem maior concentração de CPK: 99% CK-MM e 1% CK-MB ALDOLASE: Presente em todos os tecidos, predominantemente no músculo esquelético, fígado e cérebro. Menos sensível e menos específica que CK. 10% dos casos da MIIs tem aldolase elevada e CK normal => por isso sempre pedir os dois na suspeita de MIIs. CAUSAS PARA AUMENTO DE CPK AUTOANTICORPOS E MII’S FATORES DE RISCO AMBIENTAIS E GENÉTICOS • Agentes infecciosos: vírus Coxsackie B, CMV e Toxoplasma gondii • Exposição ocupacional: cola de sílica, cianoacrilato, luz ultravioleta, quimerismo, doença enxerto vs hospedeiro • Medicamentos: d-penicilamina, fibratos, inibidores da 3-hidróxi-3- metilglutaril-coenzima A (HMG-CoA) redutase (estatinas), hidroxiureia, triptofano, toxina ciguatera • Fatores genéticos: alelos HLA do cromossomo 6 (HLA-DQA1*0501 e HLADQB1*0301) FISIOPATOGÊNESE Ambas vias imunes adaptativa e inata Mecanismos imunes inatos: citocinas pró-inflamatórias (IL-1-alfa, IFN tipo 1 e TNF-alfa) Suprarregulação antígenos MHC I em resposta ao IFN tipo 1=> fibras musculares se tornam alvo para células T citotóxicas CD8+=> destruição POLIMIOSITE A polimiosite (PM) é uma miopatia autoimune sistêmica caracterizada por fraqueza muscular simétrica e predominantemente proximal dos membros. Apresenta caráter insidioso e progressivo. EPIDEMIOLOGIA A PM é considerada uma doença rara, e há poucos estudos avaliando sua epidemiologia. Em um estudo de base populacional e um de banco de dados, a incidência e a prevalência da PM foram estimadas, respectivamente, entre 4,2 e 7,8 pessoas/ano e 9,5 e 32,5/100.000 habitantes. Outra dificuldade para a avaliação da epidemiologia da PM é a heterogeneidade de seus critérios diagnósticos. Em um estudo que utilizou biópsia muscular como critério diagnóstico, apenas quatro pacientes permaneceram com diagnóstico de PM após dez anos de acompanhamento. Além disso, a maioria dos pacientes com diagnóstico inicial de PM evoluiu com quadro de miosite por corpos de inclusão ou doença difusa do tecido conjuntivo. A PM acomete indivíduos entre 45 e 55 anos, com uma distribuição de 2 mulheres para 1 homem. Biópsia é indispensável: diferencial com MCI, distrofias musculares, miopatias metabólicas, miopatias necrosantes imunomediadas etc. Não há achados patognomônicos histológicos que definem a doença ETIOLOGIA Acredita-se que em indivíduos geneticamente predispostos, fatores ambientais (p. ex.: drogas e infecções) atuam como desencadeantes da doença. Em relação à predisposição genética, estudos prévios já demonstraram associação com o complexo de histocompatibilidade principal (HLA), principalmente no haplótipo 8.1, em todas as miopatias autoimunes sistêmicas. Em um estudo recente, demonstrou-se que a associação com PTPN22 ocorreu predominantemente na PM, corroborando a patogênese distinta das miopatias autoimunes sistêmicas. Entre as drogas descritas como potenciais desencadeantes de PM estão D-penicilamina, agentes anti-TNF, como o etanercepte, e antirretrovirais (p. ex.: AZT). Entre as infecções virais, foi demonstrado que a infecção pelo HIV, HTLV-1 e vírus da hepatite C pode desencadear quadro clínico e patológico similar ao da PM. PATOGENIA O mecanismo imunológico da PM envolve exposição de moléculas de HLA classe I na membrana da fibra muscular e presença de infiltrados inflamatórios endomisiais compostos por linfócitos CD8. Na PM, linfócitos T CD8 com receptores de linfócitos T específicos sofrem expansão clonal e invadem o tecido muscular. Por sua vez, as fibras musculares, que normalmente não expressam moléculas de adesão ou de HLA classe I ou II, na PM expressam moléculas de HLA classe I na sua superfície. Acredita-se que as moléculas de HLA classe I na superfície das fibras musculares atuem como apresentadoras de antígenos para linfócitos T CD8 com receptores específicos. Ocorre então a sinapse imunológica entre a molécula de HLA classe I na superfície da fibra muscular com o linfócito T CD8 via seu receptor específico. Após essa ligação, o linfócito T CD8 é ativado e desencadeia os mecanismos da doença. Estes incluem principalmente citotoxicidade celular direta. Como resultado da ligação entre a molécula de HLA classe I e o receptor de linfócito T, há também ativação de mecanismos de imunidade humoral, com estímulo para a síntese de citocinas e quimiocinas. QUADRO CLÍNICO A PM se caracteriza basicamente por fraqueza muscular proximal (acometendo principalmente deltoides, bíceps, glúteos e quadríceps) de início insidioso, entre 6 e 16 semanas. Na história clínica, o paciente se queixa de diminuição de força para levantar objetos, sentar-se e levantar-se, caminhar, entrar e sair de veículos. É comum também a disfagia (alta) de condução e fraqueza das musculares cervicais. Os músculos cervicais extensores são mais acometidos do que os flexores, o que resulta na dificuldade para estender o pescoço ou manter a cabeça ereta. A fraqueza dos músculos da faringe pode ocasionar broncoaspiração e pneumonia aspirativa. O diafragma e os músculos intercostais mais raramente podem ser acometidos, causando dificuldades respiratórias. Caracteristicamente, nem os músculos da face nem os oculomotores são acometidos. Não há, portanto, alterações na mímica facial e nos movimentos oculares. Os músculos distais, como dos antebraços, pernas, mãos e pés, geralmente não são acometidos ou são acometidos apenas em fases muito tardias da doença. Os pacientes podem se queixar de fadiga, porém, outros sintomas sistêmicos geralmente estão ausentes. Como manifestações extramusculares, o paciente pode apresentar pneumopatiaintersticial difusa, artralgias ou artrites. Estas são mais comuns em pacientes que apresentam anticorpos miosite-específicos, tais como antiJo1 e outros anticorpos antissintetase e antiPM/Scl. A pneumopatia intersticial difusa geralmente é do tipo pneumopatia não usual. A artrite é não erosiva e pode acometer grandes ou pequenas articulações e também é mais comum em pacientes com anticorpos antissintetase. EXAMES COMPLEMENTARES Entre os exames complementares utilizados para o diagnóstico da PM estão exames laboratoriais, incluindo a concentração sérica de enzimas musculares, a eletroneuromiografia, ressonância magnética muscular e a biópsia muscular. O fator antinuclear geralmente não é positivo e não deve ser solicitado de rotina. As enzimas musculares incluem a creatinofosfoquinase (CPK), aldolase, desidrogenase láctica (DHL), alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST). A elevação da concentração sérica de CPK é de 5 a 50 vezes o valor da normalidade. É importante lembrar que as transaminases também são enzimas musculares, pois, na prática, é comum a solicitação de avaliação hepática, incluindo, em muitas vezes, a biópsia hepática em pacientes com PM com elevação dessas enzimas. Com relação à eletroneuromiografia, as alterações características são: a) atividade espontânea na inserção das agulhas, com fibrilação, ondas positivas e ocasionalmente complexos repetitivos; b) potenciais de ação motora de curta duração e baixa amplitude; e c) potenciais de ação motora de recrutamento precoce. A ressonância magnética muscular é um exame que vem sendo utilizado mais recentemente nas miopatias autoimunes sistêmicas. Idealmente, deve ser feito o exame de corpo inteiro, com difusão e sequências com supressão de gordura. Entretanto, na prática e na impossibilidade de se realizar o exame de corpo inteiro, pode-se solicitar exames de musculatura proximal, como de braços e coxas. Dentro do contexto histórico e clínico, a presença de edema denota atividade inflamatória ativa, e a presença de substituição gordurosa denota a cronicidade, com substituição de músculo por gordura. Nos pacientes com PM, demonstrou-se que a extensão do edema foi menor do que a dos pacientes com dermatomiosite. Eventualmente, a localização de áreas com presença de edema na ressonância magnética pode guiar a seleção do músculo para ser submetido à biópsia. Como o diagnóstico diferencial da PM é amplo, a biópsia muscular está indicada na maioria dos casos. O achado histopatológico característico é a presença de infiltrados inflamatórios linfocitários endomisiais focais. Outros achados são a expressão aumentada de moléculas de HLA classe I nas fibras musculares e a invasão celular parcial. Esta última consiste na invasão de uma fibra muscular não necrótica por um linfócito T citotóxico. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico diferencial da PM é amplo. Diversas condições metabólicas, neurológicas, congênitas e outras miopatias podem apresentar quadro clínico e histológico idêntico ao da PM. Os principais diagnósticos diferenciais da PM são a miopatia necrosante imunomediada e a miosite por corpos de inclusão. Na miopatia necrosante imunomediada, a fraqueza muscular e a elevação de enzimas musculares são mais intensas. A miosite por corpos de inclusão pode ter quadro clínico inicial semelhante ao da PM, com fraqueza muscular proximal de início subagudo. A evolução da miosite por corpos de inclusão é mais insidiosa e cursa com acometimento de musculatura distal. Entre as condições endócrinas que são diagnósticos diferenciais da PM estão o hipotireoidismo e a síndrome de Cushing. O hipotireoidismo pode se manifestar apenas com elevação do hormônio tireoestimulante ou pode cursar com outros sintomas, como bradicardia, constipação intestinal e outros. A síndrome de Cushing cursa com infecções oportunísticas e alterações na distribuição da gordura corporal. Entre as doenças neurológicas estão a miastenia GRAVIS e a esclerose lateral amiotrófica. Ambas não cursam com elevação de enzimas musculares; a miastenia GRAVIS frequentemente acomete os músculos da face, e a esclerose lateral amiotrófica cursa com sintomas neurológicos e fraqueza distal. As distrofias musculares (p. ex.: disferlinopatas, calpainopatias) podem cursar com quadro idêntico ao da PM; o diagnóstico diferencial se faz na biópsia muscular, por meio da imuno-histoquímica. A distrofia fascículo-umeral caracteriza-se pelo início na idade mais jovem e acometimento preferencial de músculos dos membros superiores e escápulas. Entre as doenças congênitas estão as glicogenoses, principalmente a deficiência da miofosforilase ou doença de McArdle, e a deficiência da maltase ácida ou doença de Pompe. A característica diferencial das glicogenoses é a fatigabilidade ou a fraqueza muscular desencadeada pelo esforço e a possível melhora com restrição de carboidratos e dieta. As principais doenças mitocondriais são a síndrome de Kearns-Sayre e a síndrome de MELAS (mitocondriopatia, encefalopatia, acidose lática e isquemia cerebral), acompanhadas de sintomas neurológicos, mioclonias e que podem melhorar com a reposição de coenzima Q. DIAGNÓSTICO Recentemente, o American College of Rheumatology/European League Against Rheumatism (ACR/EULAR) definiram novos critérios de miopatias autoimunes sistêmicas. Nesse contexto, a classificação da PM é considerada mais provável na presença de início após os 16 anos de idade, fraqueza muscular proximal, fraqueza de músculos cervicais extensores e de músculos faríngeos proximais, ausência de lesões cutâneas, presença de elevação de enzimas musculares ou alterações características na biópsia muscular. TRATAMENTO O tratamento da PM se faz com corticosteroides e imunossupressores. No tratamento inicial, a associação de imunossupressores não foi superior ao tratamento com corticosteroides isoladamente. No entanto, de acordo com a experiência clínica, acredita-se que a associação de imunossupressores pode ajudar na suspensão dos corticosteroides. Atualmente, recomenda-se que o tratamento inicial seja com prednisona na dose de 1 mg/kg/dia por 4 semanas associada a um imunossupressor, preferencialmente o metotrexato ou a azatioprina. Após 4 semanas, a dose da prednisona é reduzida gradualmente até a suspensão completa. Os imunossupressores podem ser mantidos por 6 meses a 2 anos, ou, a critério clínico, por períodos mais prolongados. A pneumopatia intersticial difusa associada à PM pode ser tratada com azatioprina ou, em casos graves, com ciclofosfamida. Nos casos graves, pode-se realizar pulsoterapia com metilprednisolona 1 g/dia por 3 dias consecutivos e posteriormente com prednisona 1 mg/kg/dia. Em casos refratários a glicocorticoides e imunossupressores, pulsoterapia com metilprednisolona 1 g/dia por 3 dias consecutivos e/ou a imunoglobulina humana intravenosa 2 g/kg (divididos em 2 a 5 dias) são indicadas. Outra opção é a indicação de imunobiológico, como o rituximabe. O uso de anti-TNF não foi eficaz no tratamento de PM, enquanto a abatacepte melhorou qualidade de vida e força muscular em um estudo prospectivo. PROGNÓSTICO A maioria dos pacientes apresenta algum grau de melhora na fraqueza muscular com o uso de corticosteroides e imunossupressores. A sobrevivência em 10 anos foi estimada em 77 a 81% em diferentes estudos. A principal causa de mortalidade foi associada à presença de pneumopatia intersticial. Outras causas de mortalidade foram pneumopatia por broncoaspiração, neoplasias, infecções, toxicidade por medicamentos e raramente miocardite. Assim, sabe-se que o tratamento da PM atualmente é eficaz no controle da doença. No entanto, terapias mais eficazes são necessárias para que se alcance remissão completa da doença e melhora na sobrevivência. O diagnóstico diferencial correto e diagnóstico precoce de complicações como neoplasiaoculta e doença intersticial pulmonar são mandatórios. DERMATOMIOSITE A dermatomiosite (DM) é uma doença autoimune sistêmica rara caracterizada por fraqueza muscular simétrica e predominantemente proximal dos membros, associada às lesões cutâneas típicas, tais como o heliótropo e as pápulas de Gottron. EPIDEMIOLOGIA Estima-se que a incidência anual varie de 0,5 a 8,4 casos/milhão de habitantes, sendo que a idade dos doentes no início da doença segue uma distribuição bimodal (5 a 15 anos, e 40 a 55 anos de idade), com acometimento de 2 mulheres para 1 homem. ETIOLOGIA E PATOGENIA A causa da DM é desconhecida, mas acredita-se ser multifatorial, envolvendo interação de fatores genéticos e ambientais. Nesse sentido, infecções (tratos respiratório e gastrointestinal), imunodeficiências e outros fatores ambientais (medicamentos, agentes biológicos – vacinas, citocinas, hormônios, exposição ocupacional) atuariam em indivíduos geneticamente predispostos, favorecendo alterações nos mecanismos imunorreguladores responsáveis pelas manifestações da DM. A presença de linfócitos no tecido muscular da maioria dos pacientes, autoanticorpos miosite-específicos ou miosite-associados na circulação ou nas células endoteliais de vasos sanguíneos, detectados nas biópsias musculares, sugerem fortemente o envolvimento de processos imunológicos na patogênese da DM comprometendo a função muscular. QUADRO CLÍNICO No início da doença, sintomas constitucionais estão presentes em cerca de metade dos pacientes. A presença de fraqueza muscular é sintoma importante, caracterizado por caráter insidioso (2 a 6 meses), fraqueza simétrica e proximal dos membros (superiores e/ou inferiores). Com a progressão da doença, os pacientes evoluem com dificuldade para realizar as atividades diárias e, na ocasião do diagnóstico, cerca de 20% dos pacientes já se encontram acamados e 50% com quadro de disfagia de condução. 80% cursa com a forma clássica, enquanto, aproximadamente 20% dos pacientes podem não estar cursando com comprometimento muscular, caracterizando-se uma DM SINE miosite ou amiopática ou hipomiopática. A musculatura da faringe em DM pode ser acometida, causando disfagia superior, manifestada como disfonia, regurgitação nasal ou dificuldade de deglutição. Manifestações extraesqueléticas também podem estar presentes. A articular manifesta-se principalmente como poliartrite simétrica de pequenas articulações, transitória, não erosiva e não deformante. O acometimento pulmonar afeta até 50% dos pacientes, sendo o espectro de gravidade amplo, desde um quadro de dispneia, tosse, dor torácica, diminuição da tolerância aos exercícios físicos à insuficiência respiratória. Forte associação com anti-MDA-5, pneumopatia intersticial, lesões cutâneas (úlceras e ulcerações) = avaliação pulmonar na fase inicial e no seguimento da doença Imagens radiológicas podem revelar doença pulmonar intersticial, achados em “vidro-fosco”, consolidações, opacidades lineares e/ou micronódulos pulmonares. Na evolução da doença, mais de 50% dos pacientes apresentam algum grau de disfunção cardíaca. Entretanto, a imensa maioria destes é assintomática, sendo caracterizada principalmente pela presença de distúrbio de condução encontrada em eletrocardiograma. Em contrapartida, uma minoria dos pacientes apresenta-se sintomática (p. ex.: insuficiência cardíaca congestiva). O comprometimento cutâneo é característico em DM, sendo o heliotropo e as pápulas/sinais de Gottron as lesões típicas que a definem. Além destas, podem ocorrer outras lesões secundárias, tais como fissuras da região radial dos dedos e das palmas das mãos, lembrando as “mãos de mecânico”, presença de RASH em face, pescoço e tórax anterior (sinal do “V” de decote), em ombros e dorso (sinal do “xale”), hipertrofia das cutículas e eritemas periungueais. Heliótropo - Manchas eritematosas ou violáceas peripalpebrais, podendo cursar com edema local Sinais/pápulas de Gottron. Pápulas violáceas nas superfícies extensoras das interfalângicas e metacarpofalângicas Sinal de “V” do decote Outro achado é a calcinose, que ocorre em 40% das DM juvenis, não sendo tão frequente em DM de adultos. Pode ocorrer na região cutânea, subcutânea, fáscia e intramuscular. O fenômeno de Raynaud pode estar presente em 10 a 15% dos pacientes. Úlceras e vasculites cutâneas, além de serem possíveis sinais da gravidade da doença, são áreas de infecções secundárias. EXAMES COMPLEMENTARES O hemograma pode demonstrar anemia de doença crônica. No entanto, sobretudo na DM, as anemias devem ser cuidadosamente investigadas, pois podem sinalizar presença de neoplasia oculta. A creatinofosfoquinase (CPK) sérica é a enzima muscular mais sensível e específica, útil tanto no diagnóstico como na monitoração do tratamento, uma vez que diminui antes da melhora clínica e, na reativação da doença, seu aumento precede, na maioria das vezes, a fraqueza muscular. Na maioria dos casos, atinge de 5 a 100 vezes o limite superior da normalidade. Entretanto, aumentos superiores ou inferiores podem colocar o diagnóstico em questão, devendo-se fazer diagnóstico diferencial com outras miopatias, como rabdomiólise, miopatia por hipotireoidismo ou por uso de estatinas. O nível de aldolase, desidrogenase láctica (DHL), alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST) séricos é ainda menos específico, mas pode também auxiliar no monitoramento da atividade muscular. Os autoanticorpos miosite-específicos e/ou associados estão presentes em 50 a 90% dos pacientes DM com possíveis associações com o quadro clínico. A eletroneuromiografia é um exame sensível e, na investigação de uma fraqueza muscular, ajuda a diferenciar alterações neuropáticas de miopáticas. Pode mostrar padrão miopático característico nas doenças musculares inflamatórias: potenciais de unidade motora polifásicos de baixa amplitude e de curta duração; fibrilações, mesmo em repouso; descargas de formato bizarro e repetitivas. A ressonância magnética auxilia na detecção da inflamação muscular, além da avaliação do grau de hipotrofia ou atrofia muscular, extensão de área de fibrose e substituição gordurosa. Pode guiar a melhor localização da biópsia a ser realizada. Tem papel importante também na avaliação de pacientes com DM clinicamente amiopática. Sinal do “xale” Hipertrofia cuticular e hiperemia periungueal. A capilaroscopia periungueal (CPU) é um exame simples, prático e não invasivo para avaliação da microcirculação periférica, sendo marcada pela presença de capilares dilatados, em forma de “arbustos” e micro-hemorragias. Serve não só como ferramenta para auxílio diagnóstico, mas também para avaliação de atividade de doença, por meio da contagem do número de capilares, micro-hemorragias, capilares dilatados, neovascularização e desvascularização focal. A biópsia muscular é um exame complementar para definir o caráter inflamatório da doença, auxiliando na interpretação dos dados clínicos dos pacientes, sendo o principal achado histológico a presença de infiltrado predominantemente de células CD4+ e linfócitos B na região perivascular, além de fibras musculares necróticas, em fagocitose ou com aspecto regenerativo, e tendência às fibras musculares atróficas principalmente na periferia dos fascículos (atrofia perifascicular). A biópsia muscular pode não ser necessária, principalmente quando há presença de lesões cutâneas típicas (heliótropo e/ou pápulas de Gottron) associadas à fraqueza muscular proximal dos membros, aumento sérico de enzimas musculares, presença de fraqueza e com eletromiografia evidenciando miopatia inflamatória. Outros exames laboratoriais devem ser solicitados para diagnóstico diferencial com miopatias infecciosas (sorologia para toxoplasmose, HIV, HTLV-1, vírus das hepatites B e C)e metabólicas (TSH, T4 livre, PTH intacto quando cálcio sérico anormal). Havendo a possibilidade de envolvimento pulmonar e podendo este ser inicialmente assintomático, sugere-se, na abertura do quadro da DM para o diagnóstico precoce, a tomografia de tórax de cortes finos, prova de função pulmonar completa, eletrocardiograma e ecocardiograma, devendo-se repeti-los a critério clínico. NEOPLASIAS O risco de desenvolvimento de neoplasias é maior do que na população em geral, principalmente nos primeiros anos após diagnóstico da DM. Os fatores de risco descritos na literatura são: manifestações cutâneas atípicas, velocidade de hemossedimentação persistentemente elevada, refratariedade ao tratamento em pacientes idosos, progressão rápida da fraqueza muscular, presença de autoanticorpos miosite-específicos (p. ex.: anti-TIF-1gama e anti-NXP-2), necrose cutânea ou eritema periungueal, presença de disfagia, ausência de acometimento pulmonar, sexo e idade tardia no momento do diagnóstico da doença. No nosso meio, na DM recém-diagnosticada, a idade tardia ao diagnóstico, principalmente no sexo feminino, foi o principal fator preditor de malignidade. Para o rastreamento, sugere-se a investigação de acordo com sinais e sintomas de neoplasia: para os pacientes sem achados clínicos sugestivos, a investigação para neoplasia oculta de acordo com o esperado para idade; os com alto risco de neoplasia associada, a ultrassonografia transvaginal (preferencialmente com doppler), mamografia, pesquisa de sangue oculto nas fezes, Ca-125 e tomografia computadorizada de tórax e abdome. A incidência de neoplasias em DM ocorre principalmente nos primeiros 5 anos de doença. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico deve ser realizado após exclusão de outras doenças, sendo que as principais relacionadas são os processos infecciosos, as endocrinopatias, com destaque às tireoidopatias, distrofias musculares, doenças do neurônio motor, miopatias metabólicas, miosite por corpos de inclusão, miastenia GRAVIS e as induzidas por drogas. Em casos de dúvida, a biópsia muscular, com técnicas e colorações especiais, pode ser necessária para o diagnóstico definitivo. DIAGNÓSTICO Os novos critérios classificatórios das miopatias autoimunes sistêmicas que estão sendo propostos por EULAR/ACR 2017 têm como finalidade inicialmente avaliar a probabilidade de um paciente ser classificado como tendo uma miopatia autoimune, por meio de pontuações. TRATAMENTO Preconiza-se o glicocorticoide como escolha inicial no tratamento. Pacientes com disfagia, risco de broncoaspiração, doença pulmonar, insuficiência respiratória, acamados, vasculite cutânea, que são considerados graves, devem receber pulsoterapia com metilprednisolona 1 g, 1 vez ao dia, por 3 a 5 dias. Após, utiliza-se a prednisona, via oral, 0,5 a 1,0 mg/kg/dia. O esquema de desmame é realizado caso a caso, considerando-se as comorbidades, resposta ao tratamento medicamentoso inicial proposto e gravidade à abertura do quadro miopático. O uso de imunossupressores está indicado desde o início do tratamento em pacientes com fatores de mau prognóstico, naqueles em que não há resposta ao glicocorticoide e em recidivas da doença. Entre as opções, as de maior evidência e utilizadas são: azatioprina, metotrexato, ciclosporina, assim como de leflunomida e micofenolato de mofetila e nos casos refratários e graves o rituximabe. Outros tratamentos Para pacientes com infecção secundária e a depender da refratariedade à terapia inicialmente instituída, advoga-se a administração precoce de imunoglobulina intravenosa humana, na dose de 2 g/kg dividida em 2 a 5 dias, havendo restrições naqueles com deficiência seletiva de IgA e insuficiência renal. Sugerindo-se que exercício possa exercer efeito anti-inflamatório sistêmico e local, são de extrema importância a reabilitação e mobilização monitorizadas precoces do paciente ao diagnóstico, evitando-se, assim, retrações e atrofias musculares maiores. O tratamento precoce da síndrome metabólica faz-se imperativo para redução de morbimortalidade neste grupo de pacientes. Por fim, é de suma importância prevenção de osteoporose nesses pacientes, com uso de bisfosfonatos, carbonato de cálcio (1.000-1.500 mg/dia) e vitamina D (800-1.200 UI/dia), principalmente naqueles que se utilizam cronicamente de glicocorticoide. PROGNÓSTICO São considerados fatores de mau prognóstico a idade tardia na ocasião do diagnóstico, retardo no início do tratamento, cadeirantes ou acamados, acometimento cardíaco e/ou pulmonar, presença de autoanticorpos antissintetases, anti-HMGCR, anti-SRP, anti-MDA-5, história pessoal ou familiar de neoplasias, presença de calcinose, vasculites, ulcerações cutâneas e disfagia de condução. SÍNDROME ANTISSINTETASE A síndrome antissintetase é uma enfermidade rara que faz parte das miopatias autoimunes sistêmicas. Caracteriza-se clinicamente pela presença de miopatia inflamatória, acometimento articular, doença pulmonar intersticial, além de, menos comumente, febre, fenômeno de Raynaud e/ou “mãos de mecânico”. Laboratorialmente, identificam-se autoanticorpos anti- aminoacil-tRNA sintetases. Eventualmente, na abertura da doença, os pacientes podem apenas apresentar quadro muscular, articular e/ou pulmonar associado aos autoanticorpos anti-aminoacil-tRNA sintetases. Com a evolução da doença, podem surgir outras manifestações, definindo-a como completa. EPIDEMIOLOGIA A incidência ainda é desconhecida na população geral, acometendo indivíduos principalmente na faixa etária entre 40 e 55 anos e na razão de 2 mulheres para 1 homem QUADRO CLÍNICO Sintomas constitucionais: comuns no início da doença e nas recidivas, podendo ser confundidos com quadro infeccioso ou neoplásico. Miopatia inflamatória: em cerca de 90% dos pacientes, com fraqueza muscular simétrica e predominantemente proximal dos membros, associada à mialgia em 50% dos casos. A miosite geralmente precede ou é concomitante com o acometimento pulmonar, sendo que um terço dos pacientes pode evoluir também com quadro de disfagia de transferência. Acometimento articular: em cerca de metade dos casos. Pode cursar com quadro de artralgia, artrite não erosiva de pequenas articulações (mais comum), artropatia de Jaccoud ou poliartrite simétrica erosiva (incomum), fazendo diagnóstico diferencial com a artrite reumatoide. Doença pulmonar intersticial: acomete cerca de 90% dos pacientes, relacionando-se ao prognóstico e a maior morbimortalidade. A evolução do quadro pulmonar tem sido descrita de forma diversa, desde um quadro gradual de dispneia, tosse, dor torácica, visto na metade dos pacientes, até um quadro de síndrome do desconforto respiratório aguda. Radiologicamente, o padrão mais encontrado foi pneumonia intersticial não específica. Acometimento cutâneo: o mais comum é conhecido como “mãos de mecânico”, em que acontece um espessamento, dando uma aparência escamosa, hiperqueratótica, eritematosa e fissurada na borda lateral dos dedos e palma da mão. Essa manifestação pode ser a chave para o diagnóstico em casos de intersticiopatia. Fenômeno de Raynaud acomete cerca de 90% dos pacientes e pode preceder o quadro muscular. EXAMES COMPLEMENTARES É fundamental a avaliação pulmonar (radiografia simples, tomografia computadorizada de tórax e espirometria com difusão de monóxido de carbono). Da parte cardiológica, ecocardiograma transtorácico para avaliar possível presença de hipertensão arterial pulmonar. Em relação ao acometimento muscular, eletroneuromiografia, dosagem de enzimas musculares do soro e biópsia muscular. Laboratorialmente, avalia-se a presença de autoanticorpos anti-aminoacil-tRNA sintetases, que catalisam a ligação dependente de ATP de um único aminoácido ao seu tRNA específico durante a síntese de proteínas. Uma série de autoanticorpos já foi caracterizada,sendo o mais comum o anti-Jo-1. Os demais relacionados à síndrome, em menor proporção, são anti-PL-7, PL- 12, KS, OJ, EJ, Zo e Ha, sendo que os dois primeiros estão associados com doenças pulmonares intersticiais mais graves. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Na abertura da doença e nas recidivas, em razão da presença de sintomas constitucionais, afastam-se quadros infecciosos e/ou neoplásicos. A síndrome antissintetase também faz diagnóstico diferencial com outras doenças autoimunes, como artrite reumatoide, doença mista do tecido conjuntivo, conectopatia indiferenciada e outras miopatias autoimunes sistêmicas. Além disso, pneumonia intersticial idiopática, amiloidose, entre outras devem ser investigadas. DIAGNÓSTICO Até o presente momento, não há um critério definido para estabelecer a síndrome antissintetase. Em geral, a doença pode ser caracterizada quando há presença de um quadro de miopatia inflamatória, acometimento articular, febre, doença pulmonar intersticial, fenômeno de Raynaud e/ou “mãos de mecânico”. Fortalece a possibilidade da síndrome antissintetase a presença de um dos autoanticorpos anti-aminoacil-tRNA sintetases. TRATAMENTO Apesar disso, de um modo geral, as manifestações melhoram com glicocorticoide, sendo que a intersticiopatia costuma ser mais refratária e recidivante. Agentes usados com relato de sucesso são ciclofosfamida, azatioprina, micofenolato de mofetila, ciclosporina, tacrolimo, imunoglobulina intravenosa humana e, para casos mais graves e refratários, o rituximabe. PROGNÓSTICO O prognóstico da doença tem sido variável, sendo o acometimento pulmonar o mais grave. A idade de início da doença, a presença de Raynaud associado com intersticiopatia, presença de malignidade e ferritina elevada foram correlacionadas com um pior prognóstico. A mortalidade difere entre os estudos na literatura: os índices variam de 11 a 25%. Miosite e intersticiopatia têm sido relacionados ao aumento de mortalidade, não havendo diferença estatística entre a análise dos diferentes tipos de autoanticorpos. MIOSITE POR CORPOS DE INCLUSÃO MANIFESTAÇÃO CLÍNICA CLÁSSICA: FRAQUEZA PROXIMAL DOS MMII E DISTAL DOS MMSS. EXAME FÍSICO: HIPO/ATROFIA DE QUADRÍCEPS E DÉFICIT NA FLEXÃO PROFUNDA DOS DEDOS. QUADRO EVOLUTIVO INSIDIOSO. BIÓPSIA INDISPENSÁVEL. NÃO HÁ ACHADOS PATOGNOMÔNICOS HISTOLÓGICOS QUE DEFINEM A DOENÇA. EPIDEMIOLOGIA Estima-se que a incidência anual varie de 4 a 9 casos por milhão de habitantes, com pico de incidência observado aos 50 anos de idade, com acometimento de 2 homens para 1 mulher. ETIOLOGIA E PATOGENIA A causa da MCI ainda se mostra incerta, mas a disfunção mitocondrial tem sido cada vez mais relacionada à patogênese da doença, com base no achado às biópsias nesses pacientes de “fibras vermelhas rasgadas” (RAGGED RED FIBERS), um marcador de toxicidade mitocondrial. Mais recentemente, demonstrou-se reatividade altamente elevada de autoanticorpos anti- cN1A, não apresentando, porém, correlação com idade, duração dos sintomas, fraqueza e/ou outros autoanticorpos. MCI apresenta invasão das miofibrilas por células T citotóxicas, preservando de forma relativa os vasos. Células T CD4+, macrófagos e células dendríticas também podem ser encontrados, principalmente nas áreas perimisiais; porém, ao contrário da DM, as células B raramente são observadas. QUADRO CLÍNICO Diferentemente de pacientes com dermatomiosite (DM) e polimiosite (PM), os indivíduos com MCI apresentam algumas peculiaridades. A doença acomete mais homens, em uma faixa etária caracteristicamente superior a 50 anos de idade, evolui com fraqueza muscular tanto proximal como distal dos membros e é tipicamente refratária ao tratamento com glicocorticoides e/ou imunossupressores, habitualmente utilizados em DM e PM. Flutuações na força muscular são menos dramáticas na MCI. Classicamente, apresenta hipotrofia ou atrofia do antebraço associada à fraqueza dos músculos extensores e/ou flexores dos dedos, além de hipotrofia ou atrofia do quadríceps femoral. A musculatura faríngea pode ser acometida, causando disfagia de condução, manifestada como dificuldade de início de deglutição, regurgitação nasal ou disfonia; a disfunção cricofaríngea também pode resultar em disfagia. Apesar de alguns relatos de casos, a relação entre MCI e malignidade não é tão bem estabelecida quanto para outras miopatias. EXAMES COMPLEMENTARES Na MCI, o aumento de creatinofosfoquinase (CPK) sérica é discreto, normalmente menor que 12 vezes o limite superior da normalidade. A eletroneuromiografia pode mostrar padrão miopático característico nas doenças musculares inflamatórias: potenciais de unidade motora polifásicos de baixa amplitude e de curta duração; fibrilações, mesmo em repouso; descargas de formato bizarro e repetitivas. Porém, pode estar associada a padrão neuropático concomitante em cerca de um terço dos casos. A biópsia muscular deve ser realizada precocemente em todos os pacientes com diagnóstico sugestivo, principalmente por causa de diagnósticos diferenciais (p. ex.: distrofias musculares). O local da biópsia deve ser escolhido por meio da eletroneuromiografia ou ressonância magnética dos músculos. Em geral, evita-se realizar a biópsia dos locais mais gravemente afetados, pois estes podem estar excessivamente necróticos ou fibróticos, prejudicando a correta interpretação histopatológica. Na MCI são encontradas, além do infiltrado inflamatório, inclusões circulares avermelhadas e marginadas dentro de vacúolos subsarcolemais (RIMMED VACUOLES). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico deve ser realizado após exclusão de outras doenças, sendo que as principais relacionadas são os processos infecciosos (HIV, HTLV-1, vírus das hepatites B e C), tireoidopatias, distrofias musculares, doenças do neurônio motor, miopatias metabólicas, miastenia GRAVIS, miopatias induzidas por drogas e outras miopatias autoimunes sistêmicas. DIAGNÓSTICO Em razão da manifestação clínica ser lenta e insidiosa, há um atraso, em média, de 2 a 5 anos entre o início dos sintomas e o diagnóstico adequado. CLASSIFICAÇÃO DEFINIDA O paciente deve exibir todos os aspectos de biópsia muscular, incluindo a invasão de fibras não necróticas por células mononucleares, fibras musculares vacuolizadas e depósitos de amiloide intracelular (junto às fibras musculares) ou tubulofilamentos de 15 a 18 nm. Nenhum dos outros aspectos clínicos ou laboratoriais é obrigatório, se os achados da biópsia de músculo forem diagnósticos. POSSÍVEL Se a biópsia muscular mostrar apenas a existência de inflamação (invasão de fibras musculares não necróticas por células mononucleares), sem outros aspectos patológicos associados à MCI, então pode ser estabelecido o diagnóstico de MCI possível, desde que o paciente apresente as características clínicas (1, 2, 3) e os achados laboratoriais (1 e 3). TRATAMENTO Em razão da escassez de ensaios clínicos, o tratamento de MCI é empírico e varia consideravelmente entre os diversos centros. Alguns relatos e séries de casos afirmam boa resposta, principalmente nas fases iniciais da doença, de resposta a corticosteroide, doses de prednisona, via oral, que não ultrapassam 1 mg/kg/dia. O esquema de desmame é realizado caso a caso, considerando-se as comorbidades, resposta ao tratamento medicamentoso inicial proposto e gravidade à abertura do quadro miopático. O uso de imunossupressores é bastante controverso, sendo os descritos a azatioprina, metotrexato, ciclosporina, micofenolato de mofetila, além de imunoglobulina humana intravenosa. Entre os biológicos, alemtuzumabe. Sugerindo-se que exercício possa exercer efeito anti-inflamatório sistêmico e local, é de extrema importância a reabilitação e mobilização monitorizada precoce do paciente com MCI ao diagnóstico, retardando-se, assim, retrações e atrofias musculares maiores.PROGNÓSTICO São considerados pacientes que evolutivamente apresentam mau prognóstico do ponto funcional, com perda lenta e progressiva da força muscular. Apresentam, porém, uma boa sobrevida pela ausência de envolvimento visceral. MIOPATIA NECROSANTE IMUNOMEDIADA A miopatia necrosante imunomediada (MNIM) é um subgrupo de miopatias autoimunes sistêmicas caracterizado, histologicamente, pela presença de fibras musculares necróticas e pela ausência ou presença mínima de infiltrado de células inflamatórias. Clinicamente é marcada pela instalação (sub)aguda de fraqueza muscular proximal significativa dos membros. Laboratorialmente, caracteriza-se pela elevação significante nas concentrações séricas de enzimas musculares, além da presença de autoanticorpos anti-SRP (partícula reconhecedora de sinal) ou anti-HMGCR (3-hidroxi-3-metil-glutaril-coenzima A reductase). Pacientes anti- HMGCR(+) 2/3 associados a estatinas. EPIDEMIOLOGIA Há poucos estudos epidemiológicos, e os resultados da prevalência são discrepantes. Por exemplo, em um estudo retrospectivo e em um registro multicêntrico, a MNIM correspondeu, respectivamente, a 20% e 1% de todas as miopatias autoimunes sistêmicas. A MNIM acomete principalmente adultos, mulheres, com pico entre 40 e 50 anos. ETIOLOGIA Acredita-se que a MNIM é resultante da interação de fatores ambientais em indivíduos geneticamente predispostos. Genes relacionados ao complexo de histocompatibilidade principal (HLA) foram relacionados. O HLA DR*11:01 foi associado a um aumento de 11,7 vezes no risco de desenvolver anticorpos anti-HMGCR em brancos e 26,4 vezes em negros. Outros alelos HLA foram associados ao anticorpo anti-SRP. A MNIM pode ocorrer isoladamente, associada aos anticorpos anti-SRP ou anti-HMGCR. Acredita-se que, na forma associada ao autoanticorpo anti-HMGCR, há exposição da enzima HMGCR na membrana celular, funcionando como antígeno para o anti-HMGCR. A exposição da HMGCR é desencadeada mais frequentemente pela exposição às estatinas. No entanto, há casos não relacionados ao uso de estatinas, em que a exposição do antígeno é desencadeada por outros fatores. Em relação às formas associadas ao autoanticorpo anti-SRP, demonstrou-se a lise celular dependente do anticorpo e de ativação do complemento. PATOGÊNESE Diferentemente da polimiosite e da miosite por corpos de inclusão, nas biópsias musculares de pacientes com MNIM, o infiltrado linfocitário é ausente ou discreto, e a expressão de moléculas HLA classe I ocorre em menor intensidade. A presença de moléculas do sistema complemento e principalmente da fração C5b9 do complemento em microvasos e no endomísio é frequente. Há também presença de macrófagos e abundantes células em regeneração. Acredita-se que, diferentemente da polimiosite, a MNIM é uma doença mediada principalmente por imunidade inata, com ativação de macrófagos e lise celular dependente de complemento. QUADRO CLÍNICO A MNIM se caracteriza por fraqueza muscular proximal dos membros, com início insidioso ou (sub)agudo. Nas formas com início insidioso, a apresentação pode ser similar à da polimiosite, com fraqueza muscular proximal. Nas formas (sub)agudas, o paciente desenvolve fraqueza muscular rapidamente progressiva, com rápida evolução para a incapacidade física e graus menores de força muscular. Quando comparada com outras miopatias autoimunes sistêmicas, na MNIM é mais frequente o acometimento de músculos estriados da faringe (causando disfagia e broncoaspiração), fraqueza de extensores do pescoço e mialgias. A fraqueza muscular é mais intensa nos músculos proximais dos membros inferiores do que nos membros superiores. Aparentemente, a MNIM relacionada ao autoanticorpo anti-HMGCR tem curso clínico diferente da forma associada ao anti-SRP. Quando associada a anti-HMGCR, a doença cursa com início subagudo de fraqueza muscular grave em jovens não expostos às estatinas ou em idosos expostos a estatinas, com os sintomas persistindo mesmo após a suspensão da medicação. Geralmente há ausência de manifestações extramusculares. A exposição às estatinas variou de 15 a 100% em diferentes populações, sendo maior em indivíduos mais idosos. A disfagia é frequente e ocorre em 24 a 63% dos pacientes. Nas MNIM associadas ao anti-SRP, o início geralmente é agudo e com fraqueza muscular mais grave. O início da forma associada ao anti-SRP é mais frequente em indivíduos mais jovens, abaixo de 40 anos de idade. Outro aspecto diferente é que pode haver pneumopatia intersticial difusa em até 25% dos pacientes. A miocardite pode ocorrer como alterações de motilidade na parede do ventrículo esquerdo. Há evidências de que a doença é mais grave em negros, homens e indivíduos mais jovens. EXAMES COMPLEMENTARES Na avaliação laboratorial, há aumento das concentrações séricas das enzimas musculares, com creatinofosfoquinase geralmente acima de 10.000 U/L ou > 50 vezes o valor da normalidade. Os demais exames laboratoriais não exibem alterações significativas, e os reagentes de fase aguda geralmente são normais. Os anticorpos anti-SRP ou anti-HMGCR estão positivos na maioria dos casos. No entanto, as formas não associadas aos anticorpos podem ocorrer. Mais raramente, podem estar presentes autoanticorpos antissintetases, como anti-Jo-1, anti-PL-7, anti-PL-12, entre outros. Na eletroneuromiografia, é frequentemente encontrado o padrão miopático semelhante ao da polimiosite, com atividade insercional espontânea e presença de potenciais de ação motora de baixa amplitude e alta frequência. A ressonância magnética muscular é um exame que vem ganhando importância na abordagem da MNIM. A ressonância magnética com sequências em T2 e com supressão de gordura pode evidenciar a atividade da doença, localizar os músculos acometidos, ajudar no diagnóstico diferencial com outras miopatias e doenças musculares e avaliar a resposta ao tratamento. Em sequências em T1, é possível deparar com áreas de lipossubstituição. A biópsia muscular foi definida pelo European Neuromuscular Center como critério diagnóstico necessário para a MNIM. Os achados histopatológicos que definem a doença segundo esse critério são: abundantes fibras musculares necróticas, pouco ou nenhum infiltrado inflamatório, deposição de moléculas de ataque à membrana do sistema complemento em pequenos vasos ou capilares na microscopia eletrônica. Pode ocorrer aumento da expressão de moléculas de HLA classe I. São critérios de exclusão: a atrofia perifascicular, os infiltrados inflamatórios perimisiais, vacúolos, células vermelhas ou células citocromo oxidase negativas. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Os principais diagnósticos diferenciais da MNIM são a polimiosite e outras doenças musculares, principalmente as distrofias musculares. O quadro clínico da polimiosite pode ser muito semelhante ao da MNIM, com fraqueza muscular insidiosa, fraqueza de músculos cervicais e disfagia. A polimiosite, no entanto, geralmente não cursa com as concentrações séricas de creatinofosfoquinase > 10.000 U/L. Um quadro clínico mais grave e agudo também é mais típico da MNIM. Na ressonância magnética muscular, as áreas de edema são muito mais extensas na MNIM do que em polimiosite. Na biópsia muscular, a polimiosite cursa com infiltrados inflamatórios endomisiais. Entre as distrofias musculares, a distrofia fascículo-umeral pode cursar com elevação muito significativa de enzimas musculares e fraqueza muscular grave. O início da doença, no entanto, é mais precoce, e há acometimento mais frequente de musculatura dos ombros. Outros diagnósticos diferenciais são as (para)neoplasias e as infecções. DIAGNÓSTICO A classificação de MNIM pode se basear no critério estabelecido pelo European Neuromuscular Center (2018). TRATAMENTO Não há ainda estudos prospectivos randomizados para a definição do tratamento da MNIM. No entanto, sabe-se que, de formadiversa das outras miopatias autoimunes sistêmicas, na MNIM dificilmente há melhora com o tratamento feito exclusivamente com corticosteroides. A resposta aos imunossupressores é mais demorada, e a refratariedade é mais frequente. Em geral, o tratamento inicial é com prednisona 1 mg/kg/dia associado a um ou mais imunossupressores. A azatioprina é o imunossupressor de primeira escolha, na dose de 2 a 3 mg/kg/dia. O metotrexato em associação com a azatioprina ou isoladamente na dose de 20 a 25 mg/semana é uma alternativa. Alguns autores sugerem que, em casos graves, há indicação de pulsoterapia com metilprednisolona 1 g/dia por 3 a 5 dias, e/ou com imunoglobulina humana intravenosa na dose de 2 g/kg dividida em 2 a 5 dias. Em casos refratários, preconiza-se o início rápido de imunoglobulina intravenosa humana. Há relatos de melhora também com o rituximabe. PROGNÓSTICO No entanto, acredita-se que se trata da miopatia autoimune sistêmica com pior prognóstico. Sabe-se, a refratariedade ao tratamento e a presença de fraqueza muscular residual são frequentes. Os fatores de mau prognóstico incluem idade mais jovem no início da doença, resistência ao tratamento, associação com câncer e títulos mais altos de autoanticorpos (principalmente o anti-SRP) e presença de edema mais extensa na ressonância magnética muscular. Nos pacientes com anti-HMGCR, a ausência de exposição às estatinas está associada à persistência da fraqueza muscular. Ainda não há estudos de sobrevivência a longo prazo e fatores de predição de mortalidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS • Em DM é fundamental o rastreio neoplásico, pp > 50 anos • Se quadro sugestivo de PM ou PM-like é indispensável a biópsia muscular • Reabilitação é de extrema importância e deve ser iniciada no diagnóstico para evitar retrações e atrofias musculares maiores => mobilização monitorizada precoce do paciente => exercício exerce efeito anti-inflamatório sistêmico e local no musculoesquelético exercitado • Prevenção de Osteoporose: bisfosfonatos, CACO3 1.000 mg/dia e vit.D 1.000 UI/dia, pp em usuários de CE Tratamento não farmacológico DISTROFIAS MUSCULARES • São doenças caracterizadas por fraqueza muscular de evolução lenta, gravidade variável, de causa genética e sem tratamento curativo • Histologicamente, costuma-se encontrar grande variabilidade no tamanho das fibras musculares, necrose e regeneração de fibras e presença significativa de tecido conjuntivo de permeio. Entretanto, algumas formas de distrofia muscular não apresentam tal padrão na biópsia, podendo haver, inclusive, focos de inflamação, o que se torna uma armadilha na diferenciação com as miopatias inflamatórias. • As principais distrofias musculares com comprometimento proximal na prática clínica são as distrofinopatias (distrofia de Duchenne e distrofia de Becker), as distrofias musculares de cinturas e a distrofia fácio-escápulo-umeral DISTROFINOPATIAS • São doenças de herança recessiva ligada ao X, causadas por mutações no gene que codifica a distrofina (DMD) • É a miopatia mais comum na infância e adolescência, acometendo crianças do sexo masculino • Os músculos proximais são os mais comprometidos, associados ao aumento da panturrilha (pseudo-hipertrofia) • O levantar é típico, em que o indivíduo necessita escalar os próprios membros inferiores para se colocar de pé, conhecido como levantar de Gowers • A creatinoquinase (CK) encontra-se bastante elevada, geralmente acima de 10 vezes o limite superior da normalidade e a presença de miocardiopatia dilatada é frequente e importante causa de morbimortalidade • Duas formas de apresentação são conhecidas: distrofia muscular de Duchenne (DMD) e distrofia muscular de Becker (DMB) • Na DMD ocorre ausência completa na expressão da distrofina e, portanto, um início mais precoce, por volta dos 4 anos de idade, com perda de deambulação por volta dos 9 anos • Na DMB, a deficiência da distrofina é parcial, o que leva a um quadro mais leve, de início mais tardio, em média aos 10 anos de idade, com perda da deambulação após a adolescência • O quadro de DMB pode se confundir com as miopatias inflamatórias, por causa do significativo aumento da CK e manifestações clínicas se iniciado próximo da idade adulta. Entretanto, a pseudohipertrofia de panturrilhas, a marcada atrofia proximal e o comprometimento cardíaco são pistas que direcionam ao diagnóstico de distrofinopatia • O diagnóstico é feito por estudo do gene DMD ou através de biópsia muscular, que revela um padrão distrófico com diminuição na marcação da disfrofina, por meio de análises imuno-histoquímicas DISTROFIA MUSCULAR DE CINTURAS • Conhecida pela sigla LGMD (do inglês, limb-girdle muscular dystrophy), compreende um grupo heterogêneo de miopatias, cuja principal característica é a fraqueza e atrofia de cinturas pélvica e escapular, de caráter progressivo • A idade de início é variável e a CK geralmente está aumentada • Este é o subgrupo que mais se confunde com as miopatias inflamatórias, pois alguns casos de LGMD podem se manifestar com evolução subaguda e, inclusive, com focos de inflamação na biópsia muscular • Dezenas de subtipos são descritos, dependendo do defeito proteico apresentado, sendo as formas mais comuns aquelas causadas por deficiência das proteínas calpaína, disferlina e sarcoglicanas • Dessas, a distrofia de cinturas por deficiência de disferlina é frequentemente confundida com polimiosite, por apresentar instalação mais rápida, CPK muito elevada e biópsia com focos de inflamação • A biópsia muscular com imuno-histoquímica é capaz de fazer essa diferenciação, ao encontrar deficiência na expressão da proteína disferlina no músculo • Nas distrofias musculares de cinturas, a biópsia muscular revela alterações distróficas, sendo possível a identificação da deficiência proteica, em alguns casos, através da imuno-histoquímica. • O diagnóstico definitivo do tipo de LGMD é feito por meio de estudo genético DISTROFIA FÁSCIO-ESCÁPULO-UMERAL (DFSU) • É uma miopatia com quadro clínico muito característico, envolvendo de forma marcadamente assimétrica a musculatura da cintura escapular, da face, dos músculos umerais e menos frequentemente dos músculos tibiais anteriores • Ao exame nota-se a escápula alada e assimétrica, atrofia de bíceps e tríceps, com preservação relativa de deltoide e antebraço, atrofia peitoral, fraqueza da musculatura abdominal com hiperlordose lombar e, eventualmente, pé caído • A CK é normal a levemente aumentada, não costumando ultrapassar 2-3 vezes o limite superior da normalidade • A biópsia muscular não ajuda, podendo inclusive ser motivo de erro diagnóstico, pois focos de inflamação podem estar presentes no músculo, confundindo-se com polimiosite. A dica diagnóstica está no exame físico e CK, pois o fenótipo da DFSU é muito típico, sem haver aumento significativo da CK, como ocorre nas miopatias inflamatórias. • O diagnóstico é feito pela pesquisa de uma deleção de um fragmento de DNA no gene D4Z4 MIOPATIAS METABÓLICAS • São um grupo heterogêneo de doenças musculares nas quais os defeitos se encontram nas vias bioquímicas responsáveis pela produção de energia: via glicolítica, via lipídica e cadeia respiratória mitocondrial • São classificadas em glicogenoses, lipidoses e doenças mitocondriais; as glicogenoses formam o subgrupo mais frequentemente encontrado na prática clínica • As miopatias metabólicas podem se manifestar de duas formas 1. Grupo de pacientes que apresentam sintomas intermitentes, como intolerância a exercícios, câimbras, contraturas musculares e mioglobinúria ao realizar atividade física, podendo ocorrer episódios graves de rabdomiólise. 2. Grupo de pacientes em que se manifesta com fraqueza muscular progressiva e aumento da CK. • Ambosos quadros podem se confundir com miopatias inflamatórias GLICOGENOSES • As glicogenoses (GSD) são defeitos no metabolismo do glicogênio • Diversas enzimas da via glicolítica são implicadas como causadoras dessas condições. As mais comuns são a deficiência da miofosforilase (GSD tipo V), denominada doença de McArdle e a deficiência da maltase ácida (GSD tipo II), conhecida como doença de Pompe
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