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Jordana Lopes Dermatopolimiosite A dermatopolimiosite (DM) e a polimiosite (PM) são classificadas, junto com a Miosite por Corpúsculo de Inclusão (MCI), como miopatias inflamatórias idiopáticas. Essas doenças têm como característica o desenvolvimento inexplicável de um processo inflamatório não supurativo na musculatura esquelética, que se manifesta clinicamente por fraqueza muscular. Epidemiologia São doenças de baixa incidência na população geral (1:100.000 habitantes). A DM e a PM afetam principalmente mulheres (2:1) e distribuição bimodal (pico de incidência entre 7-15 anos e depois entre 30-50 anos). Diferenças entre PM, DM e MCI 1. a DM possui manifestações cutâneas características (heliótropo, pápulas de Gottron etc), e é mais associada a malignidades. 2. A D M e s t á a s s o c i a d a c o m d e p o s i ç ã o d e imunocomplexos em vasos na intimidade do músculo, com microangiopatia e isquemia muscular, enquanto na PM ocorre a destruição da célula muscular esquelética por lesão direta por linfócitos T CD8+ autorreativos. 3. Na MCI o início do quadro pode ser marcado por um acometimento predominantemente assimétrico da musculatura distal, com destaque para o envolvimento do quadríceps (história de quedas precoces, por instabilidade do joelho) e dos flexores dos dedos das mãos (músculos do antebraço). Pode haver fraqueza da musculatura facial, também assimétrica. Manifestações clínicas 1. Musculares - fraqueza muscular: sinal mais comum nas fases iniciais. geralmente se desenvolve progressivamente por semanas/meses antes de o paciente procurar o médico. raramente, pode ter início agudo, junto com rabdomiólise e mioglobinúria. essa fraqueza é simétrica e proximal, acometendo músculos da cintura escapular e pélvica, e vai progredindo p/ músculos proximais dos membros. uma característica importante é o comprometimento dos flexores do pescoço (pede-se p/ paciente ficar em posição supina e flexionar o pescoço, encostando o queixo na região anterior do tórax). * a musculatura ocular extrínseca é poupada! mesmo nos casos avançados. os músculos faciais também não são muito acometidos (mas pode ocorrer na MCI). queixas relacionadas à fraqueza: dificuldade em pentear os cabelos, apanhar objetos em posição alta, subir degraus e se levantar. ocorre dificuldade em elevar os braços acima do nível dos ombros. os músculos da parede posterior da faringe e do 1/3 proximal do esôfago são comprometidos com bastante frequência, gerando disfagia, que é de transferência (ou seja, ocorre dificuldade em deglutir com sincronismo o alimento). pode ocorrer engasgos frequentes e aspiração broncopulmonar (nos casos mais avançados). pode ocorrer também disfonia (acometimento dos músculos da laringe). - hipersensibilidade muscular - mialgias - atrofia e contraturas: é observado somente em casos avançados. a sensibilidade é preservada, e reflexos tendíneos também! 2. Dermatológicas ocorrem somente na DM, acompanhando ou ocorrendo antes das manifestações musculares, e há alguns achados patognomônicos: - pápulas de Gottron: formações escamosas, elevadas, de coloração violeta, simetricamente distribuídas, observadas sobre os nós dos dedos. Pode haver lesões similares nos cotovelos, joelhos e maléolos. - he l ió t ropo: é uma erupção er i tematov io lácea característica nas pálpebras superiores. pode haver edema palpebral também. - hemorragias da cutículas: são chamadas hemorragias em estilha. pode haver também eritema periungueal e eritema das extremidades digitais - “mão do mecânico”: alteração caracterizada por fissuras e lesões ásperas e escuras nas regiões lateral e palmar dos dedos das mãos. pode aparecer na PM tbm. Jordana Lopes - erupções eritematosas em face (rash malar): ao contrário do lúpus, envolve a região nasolabial, queixo e ponte nasal, pescoço, tórax ou superfície extensora das extremidades. muitas vezes ficam em forma de um “v", principalmente na região anterior do tórax. quando afetam a região posterior dos ombros e tórax, geram o sinal do xale (ou manto). * em 10% dos casos de DM essas manifestações se associam ao autoanticorpo anti-Mi-2. 3. Constitucionais - fadiga - mal-estar - febre (geralmente em pacientes jovens e crianças) - perda ponderal significativa -> rara 4. Articulares - artralgias - artrite (menos comum) - rigidez matinal o comprometimento articular segue um padrão parecido com o da artrite reumatóide, acometendo principalmente as mãos. alguns pacientes podem apresentar subluxações e deformidades importantes, mas geralmente não há erosão óssea. 5. Pulmonares - broncoaspiração: pode ser fatal - miosite do diafragma e da musculatura intercostal: prejudica uma incursão respiratória adequada e favorece um acúmulo de secreções e hipoventilação alveolar! - atelectasia e infecções respiratórias de repetição: por causa do acúmulo de secreções e hipoventilação alveolar - doença pulmonar intersticial: ocorre em 10% dos casos e pode vir antes da miopatia. na forma mais grave é caracterizada por lesão alveolar difusa. o quadro clínico é fulminante e muito parecido com a síndrome da angústia respiratória aguda. mas geralmente é uma doença arrastada, com evolução lenta para fibrose. nesse caso as queixas são de dispneia aos esforços e tosse. a ausculta pode revelar estertores bibasais (em “velcro”). * o comprometimento pulmonar intersticial está relacionado a um autoanticorpo contra uma sintetase (enzima citoplasmática envolvida na tradução do RNA em proteína), chamado anti-Jo-1. 6. Cardíacas o envolvimento cardíaco é comum mas geralmente assintomático. - distúrbios do ritmo e condução cardíacos -> palpitações e arritmias sintomáticas - distúrbios de condução intraventriculares: 30% dos pacientes. os mais comuns são o Hemibloqueio Anterior Esquerdo (HBAE) e o Bloqueio de Ramo Direito (BRD). - insuficiência cardíaca congestiva (por causa de miocardite): é incomum. Miocardite por corpúsculo de inclusão (MCI) É diferente da PM e da DM -> afeta faixa etária mais alta (>50 anos) e tem preferência pelo sexo masculino. Além disso, ocorre o aparecimento de fraqueza muscular de forma distal e assimétrica, com comprometimento seletivo do quadríceps (elevada frequência de quedas por instabilidade do joelho na posição ortostática) e dos flexores profundos dos dedos das mãos (musculatura do antebraço). O comprometimento muscular distal gera dificuldade em abotoar camisas, alterações na escrita, dificuldade em desatar nós, incapacidade de virar uma chave na fechadura etc. Fraqueza facial leve ocorre em 1/3 dos casos (e não ocorre na DM e na PM). Em 20% dos casos ocorre associação com outras doenças autoimunes ou do tecido conjuntivo. Os níveis de CK são normais ou um pouco aumentados (até 10x o valor da normalidade!). Diagnóstico: biópsia muscular. O curso da doença é lento mas contínuo (progressão por anos). É refratária à corticoterapia. Grupos específicos de doença DM e PM associadas à malignidade Pode ocorrer muito junto com o câncer! A frequência de câncer em pacientes com miosite é de 15-25%. A incidência de neoplasia em indivíduos com DM é 2-3x maior do que na população geral. O câncer pode ser identificado antes da DM ou PM, geralmente até 1 ano após o desenvolvimento de miosite. Fatores de risco: idade avançada, dano capilar na biópsia muscular, lesões necróticas em tronco e presença de vasculite leucocitoclástica. Cânceres mais comuns: câncer ovariano, de pulmão, mama, cólon e reto, estômago, pâncreas, melanoma e linfoma não Hodgkin. A presença do câncer não afeta as manifestações de miosite e não influenciam na resposta à terapia. Além disso, a erradicação do tumor não afeta a evolução da doença muscular. No momento do diagnóstico da miopatia (DM ou PM), deve ser feito um exame cuidadoso, com toque retal e avaliação ginecológica (c/ coleta de exame preventivo p/ câncer de colo de útero).Se não for encontrado nenhum indício de câncer (anemia, massa palpável abdominal, lesões em mama, massas pélvicas etc), deve-se fazer só a solicitação de um raio-x de tórax, hemograma, bioquímica, provas de função hepática, PSA e EAS. P/ mulheres -> screening mamográfico, colonoscópio e exame de imagem abdominal (p/ ver ovários), e dosagem de CA 125. Alguns autores recomendam realização de TC de tórax, abdome e pelve nos subgrupos de maior risco, como, por exemplo, no paciente idoso. Jordana Lopes DM e PM na infância A dermatomiosite juvenil (DMJ) e a polimiosite juvenil (PMJ) são doenças raras. A DMJ é 20x mais comum que a PMJ, e principalmente em meninas (2:1). Ambas acometem pacientes com menos de 16 anos (pico em 5-10 anos) Manifestações clínicas da DMJ: exuberância de sintomas e sinais sistêmicos, como febre e perda ponderal. Ocorre também vasculite de tubo digestivo. A oclusão vascular (por causa do processo inflamatório) gera dor e distensão abdominal, muitas vezes com sangramento e perfuração. Ocorre também calcinose (40% dos casos), que está relacionada com a gravidade da lesão cutânea e com a presença de vascu lopat ia e com o a t raso no reconhecimento e início da terapia. Síndromes de superposição É a associação de miopatia inflamatória com doenças do tecido conjuntivo. LES, esclerose sistêmica e polimiosite define a doença mista do tecido conjuntivo. A polimiosite é caracterizada por altos títulos de um anticorpo contra um antigeno nuclear (Anti-RNP U1), e manifestações clínicas próprias. A superposição de DM com esclerodermia gera altos níveis de um anticorpo contra um antígeno nucleolar chamado PM/Scl. Além das colagenoses, as miopatias inflamatórias podem ser associadas com desordens autoimunes (ex: cirrose biliar primária, arterite temporal, poliarterite nodosa, tireoidite de Hashimoto e doenças intestinais inflamatórias). Diagnóstico 1. Laboratório a) Autoanticorpos: - os anticorpos antinucleares (FAN) são detectados por métodos de imunofluorescência, e são positivos em até 70% dos casos de DM e PM (principalmente nas síndromes de superposição). - U1-RNP: associado com a superposição de miosite com esclerose sistêmica e LES (doença mista do tecido conjuntivo). Jordana Lopes - anti-Ro, anti-La e anti-Sm: também sugerem síndrome de superposição - autoanticorpos específicos p/ miosite: contra sintetases do RNA, outras proteínas citoplasmáticas e ribonucleoproteínas. b) Enzimas musculares - Creatina quinase (CK): os níveis dessa são os mais sensíveis p/ presença de miosite. a intensidade da fraqueza muscular correlaciona-se com o grau de elevação enzimática. em casos severos, a CK pode atingir valores 100x acima do normal! em poucos casos, a CK pode ser normal (principalmente se tiver outra doença do tecido conjuntivo). outras causas de CK com valor normal: malignidade, DM na infância e doença de longa duração com alta atrofia muscular. - Lactato desidrogenase (LDH) - aldolase - aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT) Devem ser solicitadas antes da eletroneuromiografia (o trauma provocado pela inserção da agulha eleva os níveis enzimáticos) * A CK-MB é uma isoforma da CK expressa principalmente no músculo estriado cardíaco, e até usada p/ diagnóstico de miocardite e IAM. Porém, não é um marcador 100% específico de dano p/ coração, porque também é expressa pelas fibras musculares esqueléticas em regeneração. Como fibras em regeneração são comumente encontradas nos músculos acometidos por miosite inflamatória, a CK-MB em geral está aumentada nesses pac ien tes , sem que i sso s i gn i f i que , necessariamente, que existe lesão muscular cardíaca!!! Ora, como detectar então o acometimento miocárdico nesses doentes? Uma enzima mais específica de lesão miocárdica, que não se altera em consequência ao dano muscular exclusivamente esquelético, é a Isoforma I da Troponina (TnI). 2. Eletromiografia (EMG) Registra a atividade elétrica muscular em repouso e durante esforço. Uma agulha-eletrodo é inserida no músculo. É boa p/ diferenciar doenças neurogênicas e miopáticas. O músculo em repouso é eletricamente silencioso (exceto a região da placa motora). Em indivíduos com miopatia, pode- se observar potenciais de fibrilação e ondas positivas de ponta (irritação da célula muscular). Os potenciais trifásicos, que normalmente são registrados durante a contração voluntária, dão lugar a potenciais polifásicos (mais de 4 fases), de baixa amplitude (normal de 200µV até 2mV) e de curta duração (“padrão miopático”). Nas doenças musculares ocorre também um padrão excessivo de recrutamento de unidades motoras p/ realização de uma contração voluntária. 3. Biópsia muscular É o padrão-ouro para diagnóstico de DM e PM, afastando com total segurança outras causas de miopatia. O fragmento deve ser de um músculo afetado (geralmente o deltoide ou quadríceps). Se o exame clínico não souber definir qual grupamento muscular escolher, pode-se optar por um músculo contralateral no qual tenha sido demonstrada lesão pela EMG, ou fazer a escolha pelo acometimento visto pela RNM. Grupamentos musculares atróficos e locais submetidos à EMG não devem ser biopsiados!! O procedimento geralmente é aberto, o que permite a obtenção de material adequado, além de preservar a orientação das fibras musculares. Achados histológicos da DM e PM: necrose da fibra muscular, degeneração e regeneração e infiltrado de células inflamatórias mononucleares. A DM é uma desordem mediada pela imunidade humoral, em que a lesão primária é nos vasos sanguíneos. Os componentes terminais do complemento (complexo de ataque à membrana -> C5b-9) são detectados na parede vascular antes do aparecimento de um infiltrado inflamatório rico em linfócitos B e linfócitos T CD4+, na região perivascular ou nos septos interfasciculares. O achado microscópico de atrofia perifascicular (por causa da isquemia causada pela obstrução dos capilares) é diagnóstico de DM, mesmo sem inflamação. Na PM, o infiltrado celular fica dentro do fascículo, com as células inflamatórias invadindo as fibras musculares saudáve is i nd iv idua is . Não ex is tem s ina is de compromet imen to vascu la r nem depos ição de imunocomplexos (ou seja, é uma inflamação “primária”). A lesão da PM é mediada pela imunidade celular, com os linfócitos T CD8+ reconhecendo e destruindo antígenos determinados na superfície do sarcolema. Pode haver também grande expressão do MHC classe I na superfície dos miócitos (por imunfluorescência). A biópsia de pele pode ajudar no diagnóstico, e mostra uma atrofia leve da epiderme, com alterações vacuolares na camada de queratinócitos e presença de infiltrado linfoide perivascular. A análise pela imunofluorescência revela dermatite de interface, indistinguível da encontrada no LES, e complexos de ataque na junção epiderme/derme e nas paredes dos vasos da derme. 4. Ressonância magnética e RNM com espectroscopia São métodos recentes e promissores. A RNM pode demonstrar áreas de inflamação muscular, edema com miosite em atividade, fibrose e calcificação. Por ser um exame não invasivo, a RM pode ser repetida em intervalos pré-determinados para avaliar o curso da doença e resposta à terapia. Além disso, esse exame detecta com segurança grandes áreas de comprometimento muscular, o que facilita muito a realização de biópsias de regiões acometidas. A RME avalia metabolismo muscular. Em casos de miosite, a geração de compostos de alta energia no músculo, como a fosfocreatina, encontra-se reduzida, sendo essa alteração detectada pelo exame. Jordana Lopes O diagnóstico de miopatia inflamatória idiopática deve ser dado de acordo com esses critérios acima. O diagnóstico de PM é definitivo se o paciente apresenta quadro clínico característico (preenchendo os critérios de exclusão p/ outras doenças), níveis de CK positivos e biópsia muscular positiva.O diagnóstico de DM é definitivo nas mesmas condições citadas acima, mas a presença do rash cutâneo típico indica a existência da doença mesmo em casos de biópsia muscular sem inflamação. O encontro dos autoanticorpos miosite-específicos ajuda a fortalecer o diagnóstico de miosite inflamatória idiopática. Diagnóstico diferencial Quando um indivíduo se apresenta com fraqueza muscular proximal e lesões dermatológicas características de DM, não existe praticamente nenhuma outra doença a ser considerada no diagnóstico diferencial. Diagnóstico diferencial da polimiosite (PM): 1. Miastenia gravis (MG): é uma doença autoimune adquirida, causada pela produção de anticorpos contra receptores de acet i lco l ina na placa motora. manifestações clínicas: fraqueza muscular proximal; a musculatura facial e ocular extrínseca são afetadas também. a fraqueza piora ao longo do dia, com o uso repetido da musculatura. exame complementares mostram níveis de enzimas musculares normais (fibra muscular permanece íntegra), e o achado típico na EMG é a resposta decremental dos potenciais de ação muscular, e há presença de anticorpos contra receptores da acetilcolina, que podem ser titulados no plasma. O teste do edrofônio, com administração do inibidor da acetilcolinesterase, também pode ser feito (é positivo depois da melhora dos sintomas). 2. Síndrome miastênica de Eaton-Lambert: é uma desordem paraneoplásica que ocorre em homens acima de 40 anos e ocorre pela produção de autoanticorpos também, os quais reduzem os canais de Ca2+ sensíveis a voltagem na porção terminal do neurônio motor. (normalmente, quando esses canais são ativados, o cálcio penetra no citoplasma da célula neuronal, e tem função importante na extrusão de vesículas ricas em acetilcolina). afeta principalmente os músculos proximais, principalmente os membros inferiores, e ocorre a típica melhora da força muscular com o uso repetitivo. ocorrem manifestações autonômicas também (sudorese excessiva, hipotensão, impotência, alteração de reflexos pupilares etc). achados oculares: ptose; são menos intensos e frequentes do que na MG. EMG revela potencial de amplitude muito baixo, que depois de estímulos repetitivos (10Hz) alcança níveis normais. 3. Esclerose lateral amiotrófica: é uma patologia neurológica que compromete o 1º e 2º neurônios motores. Ocorre fraqueza muscular (principalmente distal) e disfagia, e há sinais associados compatíveis c/ doença do neurônio motor superior (espasticidade, hiper-reflexia e sinal de Babinski). a EMG não demonstra um padrão miopático, e as enzimas musculares geralmente são normais, mas às vezes podem estar bem elevadas. 4. Hipotireoidismo: pode ocorrer um comprometimento muscular (principalmente proximal), principalmente em pacientes c/ doença de longa duração e de maior gravidade. Em alguns casos, uma fraqueza. muscular simétrica e proximal com elevação da CK pode se desenvolver. Nesses casos há outros sinais de hipotireoidismo -> lentificação na fase de relaxamento de reflexos tendinosos profundos, pele fria e seca, bradicardia etc. EMG normal e ausência de inflamação na biópsia. 5. Distrofias musculares: surgem lentamente ao longo de anos em vez de semanas a meses, e raramente se manifestam após 30 anos de idade. Porém, há algumas distrofias de evolução rápida (ex: distrofia muscular facioescapuloumeral, que podem até apresentar infiltrados inflamatórios precocemente). Nos casos duvidosos, pode-se fazer uma prova terapêutica com glicocorticoides. - distrofia muscular de Duchenne: é uma doença autossômica recessiva ligada ao cromossomo X, que ocorre por mutações em um gene responsável por codificar a molécula de distrofina, a qual é importante p/ estabilidade Jordana Lopes do sarcolema (membrana plasmática da célula muscular esquelética). ocorre o enfraquecimento do sarcolema e lesões em sua estrutura, o que leva a eventos intracelulares que acabam levando à necrose da fibra muscular. Afeta meninos, e o início dos sintomas é entre 3-5 anos, apesar de já haver uma CK elevada (20-100x) no nascimento. A criança sofre com quedas frequentes quando brinca, e por volta dos 5 anos já se pode ver uma fraqueza muscular no exame clínico. Ao levantar-se do chão a criança usa suas mãos para ajudá-la a erguer-se (manobra de Gower); uma postura lordótica e o caminhar nas pontas dos dedos se devem a contraturas do tornozelo e iliotibiais. O comprometimento muscular inicialmente é proximal, com predileção pelos membros inferiores, afetando também a musculatura flexora do pescoço. Em torno dos oito anos os pacientes utilizam “andadores” e aos 12 anos encontram-se restritos à cadeira de roda. A morte, por complicações respiratórias, ocorre ao fim da segunda década (18 anos). Os níveis de CK encontram-se elevados desde o nascimento, com diminuição progressiva com o agravamento da atrofia muscular. 6. Miopatias por drogas: penicilina e colchicina. Podem mimetizar uma apresentação típica de PM, com fraqueza muscular de início subagudo junto com elevação de enzimas musculares. Um início agudo e fulminante de miosite, com presença de rabdomiólise e mioglobinúria, pode seguir-se ao uso de cocaína, heroína e combinações de drogas (fibratos e inibidores da HMG-CoA redutase). 7. HIV: manifestações de fraqueza muscular podem ser de difícil interpretação. Uma miopatia inflamatória idêntica à PM pode ocorrer. Nessa situação, o tratamento envolve a administração de esteroides em doses imunossupressoras, um risco para esses pacientes. Além disso, uma miopatia pode se desenvolver com o uso de zidovudina, com o diagnóstico dessa condição sendo firmado com a biópsia muscular, que demonstra injúria mitocondrial. 8. Miofasciíte macrofágica: é uma doença que recentemente foi descrita na Europa. Os pacientes apresentam-se com mialgias difusas, fadiga e fraqueza muscular branda e a CK encontra-se elevada em metade dos casos. A cintigrafia com gálio revela captação no músculo, fáscia e áreas periarticulares, sobretudo nos membros inferiores. A biópsia revela macrófagos PAS positivos infiltrando o tecido conjuntivo em torno do músculo (epimísio, perimísio e endomísio). O envolvimento histológico é focal e em áreas de vacinação prévia, podendo esta ter ocorrido meses ou anos antes. Essa desordem tem sido correlacionada a um substrato contendo alumínio usado na preparação das vacinas. Tratamento A base do tratamento das miopatias inflamatórias idiopáticas é a asosciação de imunossupressão farmacológica + atividades físicas supervisionadas e personalizadas. 1. glicorticoides (primeira escolha!) -> prednisona oral 0,75 a 1-2mg/kg/dia por no mínimo de 4-12 semanas. Pacientes que abrem quadros fulminantes, com fraqueza da musculatura diafragmática e insuficiência ventilatória, devem ser tratados com pulsoterapia de metilprednisolona (1 g/dia IV, por três dias). * em todos os casos de tratamento prolongado com glicocorticoides deve-se fazer quimioprofilaxia contra a osteoporose -> cálcio 1,2g/dia + vitamina D 800 UI/DIA + bifosfonados em dose profilática (ex: alendronato 35mg/ semana). OBS: O uso prolongado de glicocorticoides também pode agravar a fraqueza muscular (com níveis de CK dentro da normalidade ou inalterados), condição que chamamos de miopatia induzida por esteroides. Isso geralmente ocorre em pacientes que, a princípio, estavam respondendo bem à terapia. Neste contexto, a dosagem de CK se torna muito útil para diferenciar a miopatia dos esteroides da recidiva da doença... Na presença de piora da fraqueza (após melhora inicial) com níveis enzimáticos normais ou inalterados, uma redução empírica na dose de prednisona deve ser tentada… 2. azatioprina (2mg/kd/dia) ou metotrexate (15-25mg/ semana + ácido fólico) -> segundas opções (quando o paciente não apresenta sinais de pneumopatia intersticial). Se houver pneumopatia intersticial, o tratamento deve ser iniciado com ciclosfosfamida (2 mg/kg/dia)ou ciclosporina A (3-5mg/kg/dia) ou tacrolimus (0,075 mg/kg/dia). A troca entre essas drogas também pode serefetuada na ausência de resposta satisfatória. O melhor critério de resposta clínica, que permite dar início ao desmame dos imunossupressores, é a recuperação da força muscular. Os níveis de CK e outras enzimas musculares não é tão fidedigno a ponto de orientar o tratamento, já que raros pacientes podem ter melhora da CK sem que haja qualquer indício de recuperação da força (desse modo, não devemos “perseguir” os níveis de CK como muitos médicos erroneamente fazem)... Pacientes que não apresentam qualquer sinal de melhora após 3-6 meses de tratamento com determinado imunossupressor devem ter aquele fármaco completamente desmamado, pois o mesmo não será eficaz. Em tais casos, pode-se tentar outra classe ou partir direto para terapias alternativas. Quando a doença se mostra verdadeiramente refratária, diversas estratégias podem ser empregadas. Nos pacientes sem pneumopat ia associada, pode-se combinar metotrexate com azatioprina, com alguns estudos mostrando benefício. O micofenolato também vem sendo usado em tal situação. Outra opção é o emprego de imunoglobulina humana intravenosa em altas doses, que mostrou resultados favoráveis especificamente na DM resistente à corticoterapia. É válido ressaltar, no entanto, que o benefício da imunoglobulina é temporário, sendo necessária a readministração periódica deste caríssimo hemocomponente... Por fim, a mais recente novidade no tratamento das miopatias inflamatória idiopáticas é a depleção de linfócitos B com o uso do anticorpo monoclonal anti-CD20, o rituximab. Tal droga mostrou benefício na PM e na DM refratárias… O papel de agentes anti-TNF-alfa, como o infliximab, está sendo estudado.