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Resumo Completo Rinite Alérgica

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1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 
Alergia e Imunologia 
RINITE ALÉRGICA 
Introdução: 
A rinite é definida como a inflamação da 
mucosa nasal, sendo caracterizada por 
manifestações clínicas como rinorreia, 
congestão/obstrução nasal, espirros e 
prurido nasal. As rinites são classificadas, 
quanto à sua etiologia, em: 
- Rinite infecciosa: rinite aguda e 
autolimitada geralmente causada por vírus e, 
menos frequentemente, por bactérias; os 
resfriados causam quadros de rinite 
infecciosa/viral. 
- Rinite alérgica: forma clínica mais comum 
de rinite, causada por inalação de alérgenos 
em indivíduos com sensibilização a tais 
alérgenos; reação de hipersensibilidade tipo 
I, mediada por anticorpos IgE alérgeno-
específicos. 
- Rinite não alérgica e não infecciosa: 
rinite não associada a sinais e/ou sintomas 
de infecção nem de inflamação alérgica 
mediada por anticorpos IgE; os principais 
exemplos são rinite induzida por drogas, 
rinite induzida por exercício, rinite da 
gestação, rinite do idoso, rinite ocupacional 
não alérgica, rinite gustatória e rinite 
idiopática. 
- Rinite mista: rinite crônica que apresenta 
mais de um agente etiológico, conhecido ou 
não. 
Rinite Alérgica: 
A rinite alérgica é definida como a inflamação 
da mucosa nasal caracterizada por 1 ou mais 
dos seguintes sintomas: 
- Rinorreia. 
- Congestão nasal. 
- Espirros. 
- Prurido nasal. 
Além de inflamação da mucosa nasal, a rinite 
alérgica também causa inflamação da 
conjuntiva (rinoconjuntivite alérgica), da tuba 
auditiva (canal que liga o ouvido médio à 
faringe), dos seios paranasais (rinossinusite 
alérgica), do ouvido médio e da faringe. O 
nariz está sempre envolvido, entretanto as 
demais estruturas localizadas próximas ao 
nariz podem ou não estar envolvidas na 
inflamação alérgica que caracteriza a rinite. 
As manifestações clínicas da rinite alérgica 
resultam da inflamação mediada por 
anticorpos IgE que se seguem à exposição a 
determinado alérgeno. 
A rinite alérgica apresenta prevalência 
mundial de 10-25%. A prevalência da doença 
em crianças e adolescentes no Brasil é de 
aproximadamente 38%. A rinite alérgica 
acomete indivíduos atópicos. A atopia é 
definida como a predisposição ao 
desenvolvimento de doenças alérgicas, 
como rinite alérgica, conjuntivite alérgica, 
asma e dermatite atópica, e depende de 
fatores ambientais e genéticos. 
Os principais fatores ambientais associados 
ao desenvolvimento de fenótipo atópico são 
sensibilização a vários alérgenos ambientais 
devido à menor exposição a diferentes 
antígenos no início da vida, uso de 
antibióticos durante os primeiros anos de 
vida, ausência de aleitamento materno 
exclusivo no início da vida, vacinação, etc. 
Os principais fatores genéticos associados 
ao desenvolvimento de fenótipo atópico são 
história familiar de doenças alérgicas, como 
rinite alérgica, asma e dermatite atópica, 
presença de marcadores genéticos 
específicos, como HLA, polimorfismos 
genéticos que causam alteração dos 
mecanismos imunológicos associados à 
inflamação alérgica mediada por linfócitos 
TH2, etc. 
Além da predisposição ambiental e 
familiar/genética ao desenvolvimento de 
doenças alérgicas (atopia), a presença de 
alterações da imunidade na pele, no trato 
gastrointestinal e no trato respiratório, como 
hiper-responsividade das vias aéreas a 
diferentes estímulos, e de exposição a 
diferentes gatilhos, como infecções, 
exposição a alérgenos inalatórios e/ou 
alimentares, exposição ao tabagismo e/ou à 
poluição do ar, etc, causam inflamação 
alérgica mediada por linfócitos TH2 e 
anticorpos IgE. 
Os principais alérgenos ambientais que 
desencadeiam a rinite alérgica são: 
- Ácaros. 
 
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- Fungos. 
- Baratas. 
- Pólens. 
- Pelos de animais (cães, gatos, etc). 
- Poeira. 
A exposição do indivíduo atópico a estes 
alérgenos resulta em ativação dos seguintes 
mecanismos imunológicos: 
- Reconhecimento do alérgeno por célula 
apresentadora de antígeno (ex. célula 
dendrítica). 
- Apresentação do alérgeno ao linfócito TH2. 
- Ativação do linfócito TH2 e secreção das 
citocinas IL-4, IL-5 e IL-13. 
- A IL-4 estimula a produção de anticorpos 
IgE alérgeno-específicos pelos linfócitos B. 
- Os anticorpos IgE alérgeno-específicos 
ligam-se a receptores específicos na 
superfície celular de mastócitos e basófilos. 
- A ligação do alérgeno ao anticorpo IgE 
alérgeno-específico na superfície celular do 
mastócito e/ou do basófilo resulta em sua 
ativação e consequente degranulação. 
- A degranulação de mediadores 
inflamatórios, principalmente de histamina, 
resulta em inflamação da mucosa nasal e em 
manifestações clínicas de rinite alérgica 
imediatamente após a exposição ao 
alérgeno, como espirros, prurido nasal, 
rinorreia e congestão nasal. 
- A IL-5 estimula o recrutamento e a ativação 
de eosinófilos, resultando na degranulação 
de mediadores inflamatórios responsáveis 
por causar manifestações clínicas tardias de 
rinite alérgica, associadas à lesão da mucosa 
nasal, como obstrução nasal e perda do 
olfato. 
A resposta aguda ou imediata à exposição 
aos alérgenos que desencadeiam a rinite 
alérgica inicia em 5-30 minutos após a 
exposição ao alérgeno e caracteriza-se por 
liberação de mediadores inflamatórios que 
causam aumento da atividade secretora da 
mucosa nasal, resultando em rinorreia, 
vasodilatação e edema da mucosa nasal, 
resultando em congestão nasal, e irritação 
de nervos do nariz, resultando em espirros e 
prurido nasal. 
A resposta tardia à exposição aos alérgenos 
que desencadeiam a rinite alérgica inicia em 
2-8 horas após a exposição ao alérgeno e 
caracteriza-se por recrutamento e ativação 
de células inflamatórias (eosinófilos, 
neutrófilos, basófilos, macrófagos e linfócitos 
T CD4+) na mucosa nasal, com persistência 
da congestão nasal e do edema da mucosa 
nasal, mas com espessamento da secreção 
nasal e diminuição dos espirros e do prurido 
nasal. 
Sinais e Sintomas de Rinite Alérgica 
Imediatos (0-4 horas) Tardios (4-10 horas) 
Rinorreia Rinorreia 
Espirros Edema da mucosa nasal 
Prurido nasal 
Congestão/obstrução 
nasal 
Hiperemia da mucosa 
nasal 
Palidez da mucosa nasal 
 
Outras manifestações clínicas menos 
frequentes de rinite alérgica são hiperemia 
da conjuntiva, prurido ocular e 
lacrimejamento, quando há conjuntivite 
alérgica associada, prurido no palato e na 
rinofaringe, tosse e secreção nasal purulenta 
em idosos. Outras características clínicas do 
paciente com rinite alérgica são saudação 
nasal, respiração oral, olheiras, presença de 
dupla prega infrapalpebral (Sinal de Dennie 
Morgan), etc. A rinite alérgica apresenta 2 
fenótipos clínicos principais: 
- Tipo I (não hipersecretor): predomínio de 
espirros e prurido nasal; geralmente não se 
associa a infecções. 
- Tipo II (hipersecretor): predomínio de 
rinorreia e congestão/obstrução nasal; 
geralmente associa-se a infecções virais e 
bacterianas, à sinusite e à otite média. 
A rinite alérgica classifica-se em intermitente 
ou persistente e ainda em leve ou 
moderada/grave. O diagnóstico de rinite 
alérgica é clínico e baseia-se em anamnese 
e exame físico. Uma vez confirmado o 
diagnóstico de rinite alérgica, realiza-se 
exames complementares para a 
investigação das causas da doença. Os 
principais exames complementares 
solicitados são o teste cutâneo (in vivo) e a 
dosagem de anticorpos IgE específicos 
 
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(teste in vitro), que identificam os alérgenos 
ambientais que desencadeiam as crises de 
rinite alérgica. 
 
Os principais diagnósticos diferenciais de 
rinite alérgica são: 
- Rinite infecciosa, geralmente causada por 
infecções virais. 
- Rinite não alérgica. 
- Rinite da gestação. 
- Rinite medicamentosa. 
- Rinite vasomotora. 
- Rinite idiopática. 
Aproximadamente 80% dos pacientes que 
têm asma também têm rinite alérgica. Ambas 
as doenças compartilham processo 
inflamatório comum e a rinite alérgica pode 
complicaro manejo da asma. 
O tratamento da rinite alérgica baseia-se em 
evitar a exposição aos alérgenos que 
desencadeiam as crises de rinite alérgica, 
usar anti-histamínicos orais para o 
tratamento das crises de rinite alérgica e de 
corticoesteroides intranasais para o 
tratamento de manutenção da rinite alérgica. 
Outras alternativas são o uso de 
antileucotrienos e a imunoterapia. 
 
 
Os principais medicamentos orais usados 
para o tratamento da rinite alérgica são: 
- Anti-histamínicos de 1ª geração: cetotifeno, 
clemastina, dexclorfeniramina, hidroxizina e 
prometazina. 
- Anti-histamínicos de 2ª geração: bilastina, 
cetirizina, desloratadina, ebastina, 
fexofenadina, levocetirizina e loratadina. 
- Antileucotrienos: montelucaste. 
- Corticoesteroides: prednisona, 
prednisolona e dexametasona. 
Os principais medicamentos tópicos usados 
para o tratamento da rinite alérgica são: 
- Corticoesteroides intranasais: 
beclometasona (Beclosol, Clenil), 
budesonida (Budesonid), fluticasona 
(Avamys, Plurair) e mometasona (Nasonex). 
- Anti-histamínicos intranasais: azelastina. 
- Cromonas (estabilizadores de mastócitos) 
intranasais: cromoglicato. 
O uso dos medicamentos intranasais baseia-
se na aplicação do jato em direção à parede 
lateral da narina, nunca em direção à parede 
medial da narina. 
Além do uso de medicamentos orais e 
intranasais/tópicos, outra alternativa para o 
tratamento da rinite alérgica é a 
imunoterapia, que pode ser utilizada para o 
tratamento da asma e da rinite alérgica. As 
principais indicações de imunoterapia para 
pacientes que apresentam rinite alérgica 
são: 
- Rinite alérgica associada à asma. 
 
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- Ausência de resposta ou baixa resposta ao 
tratamento medicamentoso e/ou ao 
afastamento dos alérgenos. 
- Efeitos adversos intoleráveis aos 
medicamentos. 
- Desejo de evitar farmacoterapia prolongada 
e de reduzir os custos dos medicamentos. 
- Possibilidade de prevenção do 
desenvolvimento de asma em crianças. 
As principais comorbidades associadas à 
rinite alérgica são conjuntivite alérgica, 
sinusite viral ou bacteriana, otite média, 
IVAS, polipose nasal, asma e distúrbios 
obstrutivos do sono.

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