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1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Cirurgia Oncológica CÂNCER GÁSTRICO Introdução: O câncer gástrico é representado principalmente por adenocarcinoma gástrico, que corresponde a aproximadamente 95% dos casos. Entretanto, há também tumores gástricos menos comuns, tais como o linfoma e o tumor carcinoide. O câncer gástrico é dividido em câncer gástrico da cárdia (proximal) e câncer gástrico não-cárdia (distal), sendo este último classificado em adenocarcinoma gástrico intestinal e adenocarcinoma gástrico difuso. Adenocarcinoma Gástrico: Introdução: Denomina-se câncer gástrico o adenocarcinoma gástrico, por representar aproximadamente 95% dos casos de câncer de estômago. No mundo, o câncer gástrico representa o quinto tipo de câncer mais comum. No Brasil, o câncer gástrico representa o quarto tipo de câncer mais prevalente em homens e o sexto tipo de câncer mais prevalente em mulheres. O câncer gástrico representa a terceira maior causa de morte por câncer no mundo, embora a incidência da neoplasia maligna esteja diminuindo principalmente nos países desenvolvidos, devido ao aumento do uso de refrigeradores para a conservação dos alimentos, diminuindo o risco de infecções por Helicobacter pylori. A doença acomete principalmente homens (2:1) e é mais frequente entre 50 e 70 anos de idade, com pico de incidência por volta dos 70 anos de idade em ambos os sexos. A sobrevida em 5 anos do adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal é de aproximadamente 30%. O desenvolvimento do câncer gástrico é multifatorial, ou seja, tem influência de fatores genéticos e ambientais. O adenocarcinoma gástrico é dividido em 2 subtipos diferentes, segundo a classificação de Lauren, o intestinal e o difuso, que diferenciam-se quanto à epidemiologia, à etiologia, à fisiopatologia, à evolução clínica e ao prognóstico. - Tipo Intestinal (70% dos casos): mais comum em homens e idosos, mais prevalente em regiões de alto risco para infecção por H. pylori e muito influenciado por fatores de risco ambientais. - Tipo Difuso (30% dos casos): igualmente frequente em ambos os sexos, mais comum em jovens e de pior prognóstico que o tipo intestinal. A diminuição da incidência de câncer gástrico no mundo deve-se à diminuição da incidência do tipo intestinal, mas não do tipo difuso. Fatores de Risco: - Definitivos: → Infecção por Helicobacter pylori: a infecção crônica pela bactéria causa inflamação crônica da mucosa gástrica, que resulta em gastrite atrófica, podendo evoluir para metaplasia intestinal, displasia e, finalmente, adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal; os principais genótipos da H. pylori associados ao câncer gástrico são cagA e vacA positivos. → Gastrite atrófica: risco de evolução para metaplasia intestinal – displasia – adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal; há dois tipos de gastrite atrófica, a associada à infecção por H. pylori e a autoimune; a gastrite atrófica autoimune associa-se com aumento do risco de câncer gástrico principalmente em pacientes com infecção por H. pylori associada. → Metaplasia intestinal da mucosa gástrica: risco de evolução para displasia – adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal; a presença de metaplasia intestinal incompleta está associada a maior risco de câncer gástrico quando comparada à metaplasia intestinal completa. OBS.: A metaplasia intestinal é classificada em completa ou tipo I, que mantém características histológicas semelhantes ao tecido gástrico normal (menos alterações da arquitetura celular/tecidual), e incompleta ou tipo II, que apresenta características histológicas mais aberrantes (mais atipias 2 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 celulares e alterações da arquitetura celular/tecidual), estando associada a maior risco de desenvolvimento de câncer gástrico. → Displasia da mucosa gástrica: risco de evolução para adenocarcinoma gástrico; a displasia da mucosa gástrica também pode ser chamada de neoplasia intraepitelial da mucosa gástrica, sendo classificada como de baixo ou alto grau. → Pólipos adenomatosos: correspondem a 10% dos pólipos gástricos, sendo os de maior risco de transformação maligna (20 a 75%); a maioria desenvolve-se no antro, mas também podem ocorrer no corpo e na cárdia; são formados por células displásicas (pré- malignas) e estão frequentemente associados à gastrite crônica com metaplasia intestinal; embora os pólipos associados com maior risco de câncer gástrico sejam aqueles > 1 cm de diâmetro, todos os pólipos adenomatosos devem ser ressecados, independentemente do tamanho, devido ao risco de câncer, e nova EDA deve ser realizada em 1 ano para seguimento. OBS.: Todos os pólipos gástricos devem, no mínimo, ser biopsiados. Quando houver múltiplos pólipos, deve-se biopsiar apenas os maiores. O tipo mais comum de pólipo gástrico é o hiperplásico, que é benigno em > 95% dos casos. Todos os pólipos adenomatosos devem ser ressecados endoscopicamente. A infecção por H. pylori, quando presente, sempre deve ser erradicada. → Tabagismo. → Cirurgia gástrica prévia: o risco de câncer gástrico aumenta após 15 a 20 anos da cirurgia; a anastomose à Billroth II (anastomose gastrojejunal), que pode causar refluxo de bile e de suco pancreático em direção ao estômago, resultando na evolução metaplasia intestinal – displasia – adenocarcinoma gástrico, está associada a maior risco de câncer gástrico. → Fatores genéticos: história familiar de câncer gástrico (pacientes com parentes de 1º grau com história de câncer gástrico têm risco 2 a 3 vezes maior de desenvolver a doença) e de pólipos adenomatosos (polipose adenomatosa familiar); casos familiares de adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal podem estar associados com o tipo de resposta imune do hospedeiro à infecção por H. pylori. - Prováveis: → Dieta rica em sal: pode causar dano à mucosa gástrica, aumentando o risco de câncer gástrico. → Obesidade: aumenta o risco quanto maior o IMC; a obesidade está associada a aumento do risco de câncer gástrico da cárdia; a associação deve-se à produção aumentada de citocinas pró-inflamatórias por pacientes com aumento da quantidade de gordura visceral, contribuindo para a carcinogênese. → Alcoolismo. → Dieta rica em nitratos e nitritos: compostos que causam lesão inflamatória à mucosa gástrica, aumentando o risco de câncer gástrico. → Baixo nível socioeconômico: risco 2 vezes maior que o da população geral devido ao maior risco de infecção por Helicobacter pylori e da evolução gastrite crônica – gastrite atrófica – metaplasia intestinal – displasia – adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal. OBS.: O uso crônico de inibidores da bomba de prótons (IBP) não é fator de risco para o desenvolvimento de câncer gástrico. Fisiopatologia: A fisiopatologia do adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal ainda não é completamente conhecida. Entretanto, sabe-se que o desenvolvimento do câncer gástrico é multifatorial, ou seja, depende de fatores ambientais e de fatores genéticos. Os principais são: - Infecção por Helicobacter pylori → gastrite crônica → gastrite atrófica → metaplasia intestinal → displasia → adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal. - Aumento da ingestão de sal (NaCl) → dano à mucosa gástrica → gastrite atrófica → metaplasia intestinal → displasia → adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal. - Efeito sinérgico entre Helicobacter pylori e NaCl. 3 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Atrofia da mucosa gástrica → perda da massa de células parietais → redução da produção de ácido gástrico (hipocloridria ou acloridria) → aumento do pH gástrico → crescimento bacteriano → aumento da conversão de nitratos e nitritos da dieta em agentes mutagênicos (nitrosação) e aumento da produção de radicais livres → mutação do DNA das células epiteliais gástricas e lesão crônica da mucosa gástrica → lesões neoplásicas pré-malignas→ lesões neoplásicas malignas (câncer gástrico). - Atrofia da mucosa gástrica → perda da massa de células parietais → redução da produção de ácido gástrico (hipocloridria ou acloridria) → aumento do pH gástrico → hipergastrinemia compensatória → indução da proliferação epitelial gástrica → lesões neoplásicas pré-malignas → lesões neoplásicas malignas (câncer gástrico). - Acúmulo de mutações genéticas no DNA das células epiteliais da mucosa gástrica → predisposição genética ao desenvolvimento de lesões neoplásicas pré-malignas e malignas. - As principais mutações associadas ao desenvolvimento de câncer gástrico envolvem os seguintes genes: → APC: gene supressor tumoral localizado no cromossomo 21; representa a alteração genética mais comum em pacientes com câncer gástrico, presente em aproximadamente 87% dos pacientes. → p53: gene supressor tumoral localizado no cromossomo 17; a inativação do gene p53 está presente em 60% dos casos de adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal e em 76% dos casos de adenocarcinoma gástrico do tipo difuso. → K-RAS: proto-oncogene localizado no cromossomo 6; mutação transforma proto- oncogene em oncogene, resultando em aumento do risco de desenvolvimento do câncer gástrico. - Tabagismo, alcoolismo e dieta rica em nitratos e nitritos → dano inflamatório à mucosa gástrica → desenvolvimento de lesões neoplásicas pré-malignas e malignas. A fisiopatologia do adenocarcinoma gástrico do tipo difuso envolve a mutação do gene que codifica a E-caderina, proteína de adesão celular que inibe o crescimento tumoral, a invasão de tecidos adjacentes e as metástases. A mutação da E-caderina, herdada de forma autossômica dominante em 25-50% dos casos, resulta em sua inativação e na perda da adesão intercelular, possibilitando que o tumor aumente o seu potencial de invasão e de geração de metástases. A mutação da E-caderina está associada a aumento de 40-67% em homens e de 60-83% em mulheres do risco de desenvolvimento de adenocarcinoma gástrico do tipo difuso, com diagnóstico, em média, aos 38 anos de idade. Assim, os pacientes portadores assintomáticos da mutação apresentam risco alto o suficiente para indicação de gastrectomia total profilática, entre 20 e 40 anos de idade. Os possíveis fatores de proteção da mucosa gástrica, que podem prevenir o desenvolvimento de câncer gástrico, são: - Alto consumo de fibras, frutas e vegetais. - Alto consumo de ácido ascórbico (vitamina C): efeito antioxidante, reduzindo a concentração de agentes mutagênicos resultantes da nitrosação e de radicais livres, resultando em efeito anti-inflamatório da mucosa gástrica. - Uso de estatinas: segundo estudos, pacientes em uso de estatinas apresentaram menor incidência de câncer gástrico quando comparados com pacientes sem uso de estatinas. Quadro Clínico: O câncer gástrico, em fases iniciais, é assintomático em 80% dos casos. Quando há manifestações clínicas, os sintomas são dispépticos, sendo confundidos com gastrite, resultando no tratamento sintomático antes de qualquer investigação diagnóstica. O câncer gástrico em fases avançadas manifesta-se clinicamente por perda de peso (60% dos casos) e dor abdominal (50% dos casos). Outros sintomas que podem estar presentes são anorexia, saciedade precoce (associada a tumores do corpo gástrico), náuseas, vômitos (associados a quadros de oclusão ou suboclusão por tumores do piloro) e disfagia (associada a tumores da cárdia). A presença de sangramento oculto 4 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 nas fezes, com ou sem anemia ferropriva, também é comum. Aproximadamente 1/3 dos casos de câncer gástrico já são metastáticos ao diagnóstico. Os locais mais comuns de metástase são o fígado e o peritônio. Além disso, também pode haver disseminação linfática, com metástases linfonodais à distância, como linfonodos periumbilicais, linfonodos supraclaviculares esquerdos e linfonodos axilares esquerdos. Em casos de câncer gástrico avançado, pode haver massa abdominal palpável ao exame físico. Em casos de metástase hepática, pode haver dor em hipocôndrio direito e icterícia. Em casos de metástase peritoneal, pode haver ascite. Além disso, no câncer gástrico, as síndromes paraneoplásicas também são comuns. As principais síndromes paraneoplásicas associadas ao câncer gástrico são Síndrome de Trousseau (tromboflebite migratória), anemia hemolítica microangiopática, nefropatia membranosa, ceratose seborreica, acantose nigricans e dermatomiosites. Algumas metástases do câncer gástrico também apresentam denominações especiais, tais como: - Linfonodo de Virchow ou Sinal de Troisier: linfonodomegalia supraclavicular esquerda. - Nódulo da Irmã Maria José: linfonodomegalia umbilical, indicativa de metástase peritoneal. - Tumor de Krukenberg: massa ovariana metastática palpável. - Prateleira de Blummer: metástase peritoneal para linfonodos do fundo de saco, palpáveis em toque retal e/ou vaginal. Classificação Histológica de Lauren: O adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal é histologicamente bem diferenciado, estando associado a lesões precursoras, como gastrite crônica por H. pylori, gastrite atrófica e metaplasia intestinal da mucosa gástrica e localizando-se principalmente na região do antro e da curvatura menor do estômago. O adenocarcinoma gástrico do tipo difuso é histologicamente pouco diferenciado ou indiferenciado, não estando associado à gastrite crônica ou a lesões precursoras e tendo origem a partir de células epiteliais da mucosa gástrica normal. O adenocarcinoma gástrico do tipo difuso pode apresentar células em “anel de sinete”. Classificação em Proximal X Distal: Diagnóstico: O diagnóstico do câncer gástrico baseia-se em EDA com biópsia. A EDA representa o método diagnóstico de primeira escolha para o câncer gástrico. O diagnóstico do adenocarcinoma gástrico do tipo difuso pode ser endoscopicamente difícil, visto que o tumor pode invadir as camadas submucosa e muscular própria resultando em biópsias falso-negativas, havendo necessidade de técnicas adicionais para aumentar a sensibilidade diagnóstica ou de outro exame de imagem, como a radiografia baritada, que pode ser superior à EDA nos casos de câncer gástrico difuso. O diagnóstico de tumores da cárdia também exige maior habilidade do examinador, visto que, para se observar a região da cárdia na EDA, deve-se realizar manobra em U com o endoscópio. Além de realizar o diagnóstico, a EDA com biópsia também possibilita iniciar o estadiamento da lesão, indicando se o tumor é precoce (invasão até a camada submucosa) ou avançado (invasão a partir 5 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 da camada muscular própria) e determinando o seu tamanho e a sua localização. Aproximadamente 60% dos tumores gástricos localizam-se em antro e piloro, aproximadamente 25% localizam-se na cárdia e aproximadamente 15% localizam-se no corpo e no fundo gástrico. A localização mais comum do câncer gástrico é a mucosa de transição entre o antro e o corpo gástrico na curvatura menor do estômago. Estadiamento: O estadiamento do câncer gástrico é realizado por meio de EDA com biópsia (exame anatomopatológico), ecoendoscopia, TC de tórax e abdômen, RM de tórax e abdômen ou PET-TC e exames laboratoriais (CA 19-9, CEA). O ecoendoscópio é muito utilizado para realizar o estadiamento dos tumores gástricos, uma vez que possibilita avaliar o grau de invasão da lesão aos tecidos adjacentes, principalmente às camadas muscular própria e serosa da parede do estômago, e aos linfonodos regionais. O estadiamento do câncer gástrico é realizado por meio do sistema TNM e baseia- se em: - Tumor Primário (T): → Tis: carcinoma in situ. → T1a: invasão da lâmina própria. → T1b: invasão da submucosa. → T2: invasão da muscular própria. → T3: invasão da serosa. → T4a: perfuração da serosa. → T4b: invasão de estruturasadjacentes. - Linfonodos Regionais (N): → N0: ausência de metástases linfonodais. → N1: 1-2 linfonodos. → N2: 3-6 linfonodos. → N3: 7-15 linfonodos. → N4: ≥ 16 linfonodos. - Metástases à distância (M): → M0: ausência de metástases à distância. → M1: presença de metástase à distância. - Estágio I: → Estágio IA: T1N0M0 → Estágio IB: T2N0M0 - Estágio II: T1N2M0 ou T2N1M0 ou T3N0M0. - Estágio III: → Estágio IIIA: T2N2M0 ou T3 N1-2 M0. → Estágio IIIB: T4 N0-1 M0. - Estágio IV: T4N2M0 ou T1-4 N0-4 M1. Tratamento: O tratamento curativo do câncer gástrico depende do estadiamento da doença, mas geralmente baseia-se em gastrectomia + linfadenectomia D2 (ressecção cirúrgica de linfonodos regionais) seguidas de quimioterapia e/ou radioterapia adjuvantes. Em pacientes com câncer gástrico metastático, realiza-se cirurgia e/ou quimiorradioterapia paliativas. A cirurgia de gastrectomia + linfadenectomia representa o único tratamento capaz de curar o paciente com câncer gástrico. A cirurgia objetiva a ressecção completa do tumor com margens livres de 5-6 cm e a ressecção de, no mínimo, 15 linfonodos regionais. Entretanto, a cirurgia está contraindicada em casos de metástases à distância. As alternativas de abordagem cirúrgica do câncer gástrico são: - Gastrectomia parcial com reconstrução à Billroth II: gastrectomia parcial + jejunostomia + anastomose gastrojejunal. - Gastrectomia parcial com reconstrução em Y de Roux: gastrectomia parcial + secção de alça duodenojejunal + anastomose gastrojejunal + anastomose jejuno-jejunal. - Gastrectomia total com reconstrução em Y de Roux: gastrectomia total + secção de alça duodenojejunal + anastomose esôfago- jejunal + anastomose jejuno-jejunal. O tratamento cirúrgico de tumores gástricos do terço distal do estômago (antro e piloro) baseia-se em gastrectomia parcial com reconstrução à Billroth II. O tratamento cirúrgico de tumores gástricos do terço médio do estômago (corpo gástrico) localizados a mais de 5-6 cm da junção 6 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 esofagogástrica baseia-se em gastrectomia parcial com reconstrução à Billroth II ou em Y de Roux. O tratamento cirúrgico de tumores gástricos do terço médio do estômago (corpo gástrico) localizados a menos de 5-6 cm da junção esofagogástrica baseia-se em gastrectomia total com reconstrução em Y de Roux. O tratamento cirúrgico de tumores gástricos do terço proximal do estômago (cárdia e fundo gástrico) baseia-se em gastrectomia total com reconstrução em Y de Roux. Em casos de tumores gástricos da cárdia, além da gastrectomia total, deve-se realizar esofagectomia distal associada à reconstrução em Y de Roux (anastomose esôfago-jejunal). Além da ressecção cirúrgica do tumor gástrico, deve-se realizar linfadenectomia, ou seja, ressecção cirúrgica dos linfonodos regionais, que classifica-se em: - Linfadenectomia D1: ressecção de linfonodos perigástricos localizados até 3 cm de distância do tumor. - Linfadenectomia D2: ressecção de linfonodos D1 e de linfonodos que acompanham as artérias mais próximas ao estômago (gástrica esquerda, esplênica e tronco celíaco). - Linfadenectomia D3: ressecção de linfonodos D2 e de linfonodos do ligamento hepatoduodenal, da cabeça do pâncreas e da raiz do mesentério do intestino delgado. Além do tratamento cirúrgico (gastrectomia + linfadenectomia D2), deve-se realizar quimioterapia e radioterapia adjuvantes com o objetivo de diminuir o risco de recidiva da doença. O tratamento do tumor gástrico precoce (restrito à camada mucosa e à camada submucosa) baseia-se em gastrectomia + linfadenectomia D2, não havendo necessidade de terapia adjuvante. O tratamento do tumor gástrico < 2 cm de diâmetro, limitado à mucosa, não ulcerado e sem invasão angiolinfática pode ser realizado por meio de ressecção endoscópica, não havendo necessidade de terapia adjuvante. A sobrevida em 5 anos do câncer gástrico precoce adequadamente tratado é de aproximadamente 85%. O tratamento paliativo do câncer gástrico objetiva alívio sintomático associado a menor morbidade possível ao paciente. As principais alternativas de tratamento paliativo são: - Quimioterapia. - Radioterapia. - Gastrectomia parcial em pacientes com baixo risco cirúrgico. 7 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Dilatação pneumática em pacientes com disfagia (tumores de cárdia) ou obstrução gástrica (tumores de antro e piloro). Prognóstico: A sobrevida em 5 anos do câncer gástrico depende do estadiamento da doença: - Estágio IA: 80-95%. - Estágio IB: 60-85%. - Estágio II: 35-55%. - Estágio IIIA: 20-35%. - Estágio IIIB: 8-10%. - Estágio IV: 7%. Além disso, o adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal apresenta melhor prognóstico e maiores chances de cura (cura em 26% dos casos) que o adenocarcinoma gástrico do tipo difuso (cura em 16% dos casos). Tumor do Estroma Gastrointestinal (GIST): O GIST que acomete o estômago origina-se de células intersticiais de Cajal, responsáveis por peristalse gástrica, e associa-se à mutação do gene C-Kit em 95% dos casos. A presença de tumor > 5 cm de diâmetro associa-se a pior prognóstico. O tratamento do GIST baseia-se em ressecção cirúrgica do tumor sem a necessidade de gastrectomia. Além disso, pode-se realizar quimioterapia-alvo com imatinibe.
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