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Formação Discursiva: Enunciado, História, Interdiscurso e os Gêneros do Discurso APRESENTAÇÃO Por que falamos o que falamos? O que nos permite atribuir um sentido e não outro? Como esses sentidos se organizam, se movimentam, se relacionam? Por que eles são possíveis? A noção de formação discursiva, trabalhada de modos diferentes por Foucault e Pêcheux, pode responder a algumas dessas perguntas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer essa noção e compreender sua relação com noções como enunciado, história e interdiscurso. Bons estudos! Ao final desta unidade, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir a noção de formação discursiva na perspectiva de cada autor trabalhado.• Relacionar, conforme as características específicas apresentadas em cada autor, a noção de formação discursiva às noções vizinhas. • Reconhecer a noção de gêneros do discurso.• DESAFIO No ano de 2011, um policial canadense, comentando sobre o aumento do número de ataques sexuais às mulheres, sugeriu que elas evitassem se vestir como vadias para não serem vítimas. Essa declaração deu início a uma série de manifestações feministas, denominadas, no Brasil, Marchas das Vadias (em inglês, Slut Walk), que reivindicam segurança e respeito às mulheres. Com base na noção de formação discursiva, o que você pode comentar sobre o uso da palavra "vadias" em ambas as situações? INFOGRÁFICO No esquema a seguir, você vai visualizar as principais características da noção de Formação Discursiva para Foucault e para Pêcheux. Destaca-se que cada autor articula noções diferentes para descrevê-la. CONTEÚDO DO LIVRO A formação discursiva é uma noção fundamental para a Análise do Discurso, que foi mobilizada de diferentes modos por Foucault e por Pêcheux. Foucault, por exemplo, pensava a formação discursiva em termos de regularidade. Pêcheux, em termos de permissão e interdição de sentidos. No trecho selecionado para sua leitura, retirado do livro Análise do discurso, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer como essa noção foi trabalhada em articulação com noções vizinhas. Boa leitura. ANÁLISE DO DISCURSO Laís Virgínia Alves Medeiros Formação discursiva: enunciado, história, Interdiscurso e os gêneros do discurso Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir a noção de formação discursiva na perspectiva de cada autor trabalhado. � Relacionar, conforme as características específicas apresentadas em cada autor, a noção de formação discursiva às noções vizinhas. � Reconhecer a noção de gêneros do discurso. Introdução Por que falamos o que falamos? O que nos permite atribuir um sentido e não outro? Como esses sentidos se organizam, se movimentam, se relacionam? Por que eles são possíveis? A noção de formação discursiva, trabalhada de modos diferentes por Foucault e Pêcheux, pode responder a algumas dessas pergun- tas. Neste texto, você vai conhecer essa noção e compreender sua relação com noções como enunciado, história e interdiscurso. Formação discursiva para Foucault: enunciado e história Em A arqueologia do saber, Foucault apresenta primeiro sua noção de for- mação discursiva para depois apresentar a de enunciado. Como uma está re- lacionada à outra, aqui você vai começar seu estudo pela noção de enunciado. Para Foucault, essa noção é pensada em comparação a outras, e é por isso que o autor apresenta uma série de negações a seu respeito. Para Foucault, o enunciado não é: � Uma unidade do mesmo gênero da frase, proposição ou ato de linguagem, pois não se apoia nos mesmos critérios. Analise_Discurso_U2_C5.indd 28 14/09/2016 16:38:56 � Uma unidade como um objeto material pode ser, pois tem seus limites e sua independência. � Uma estrutura, como um conjunto de relações entre elementos variáveis. Finalmente, o enunciado é: � Uma função de existência que pertence exclusivamente aos signos, a partir da qual é possível decidir se fazem sentido ou não, por qual regra se su- cedem ou se justapõem, de que são signos e que espécie de ato é realizado por sua formulação (seja ela oral ou escrita). � Uma função que cruza um domínio de estruturas e unidades possíveis, fa- zendo com que apareçam no tempo e no espaço com conteúdos concretos. É assim que ele afirma que: No caso em que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão, e no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as esco- lhas temáticas, se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e funcionamentos, transformações), dire- mos, por convenção, que se trata de uma formação discursiva. (FOUCAULT, 1995, p. 43, grifo nosso). Assim, você pode pensar que a noção de formação discursiva para Fou- cault está relacionada sobretudo à regularidade. Usando o exemplo de dis- ciplinas como gramática e medicina, ele questiona: o que permite identificar esses textos como pertencentes ao mesmo campo de saber? Para o autor, é esse sistema de dispersão semelhante que caracteriza os enunciados como pertencentes a uma mesma formação discursiva. Ele afirma ainda que a aparição de um objeto de discurso depende de con- dições históricas que o permitam, ou seja, o conjunto de regras que permitem formá-lo como tal. Isso quer dizer que não se pode falar sobre qualquer coisa em qualquer época e que os enunciados são regulados por um feixe complexo de relações. Essas relações são exteriores ao discurso e não definem a consti- tuição do objeto, mas, sim, o que permite a aparição desse objeto. 29Formação discursiva: enunciado, história, intercurso e os gêneros do discurso Analise_Discurso_U2_C5.indd 29 14/09/2016 16:38:56 Essas regras de aparição podem ser compreendidas através do que Foucault apre- senta sobre a ligação entre o discurso manifesto e o já-dito. Para o autor, todo discurso repousaria sobre um já-dito, manifesto não apenas como uma frase já pronunciada ou um texto já escrito, mas como “um discurso sem corpo”. Ou seja, embora não se possa apontar precisamente a localização desse já-dito, é ele que reverbera e sustenta todo discurso manifesto. Formação discursiva para Pêcheux: ideologia e interdiscurso Já em Pêcheux, a noção de permissão também está presente, mas numa nu- ance diferente. Ela é trazida para definir a formação discursiva: “aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina o que pode e deve ser dito” (PÊCHEUX, 2009, p. 147, grifos do autor). No ano de 2016, a presidenta da República, Dilma Rousseff, foi afastada de seu cargo. Esse evento foi referido, em alguns espaços, como impeachment; em outros, como golpe. Você conseguiria identificar em quais espaços circulou um sentido e em quais circulou o outro? Nos termos da Análise do Discurso, é possível dizer que “impeach- ment” é o que se pode e se deve dizer em uma dada Formação Discursiva, enquanto “golpe” é o que se pode e se deve dizer em outra. Você já viu que formação ideológica diz respeito a um conjunto com- plexo de atitudes e de representações, nem individuais nem universais, e relacionadas umas com as outras e com conflitos de classes (HAROCHE; PÊCHEUX; HENRY, 2007). O importante a destacar aqui é que uma mesma formação ideológica comporta diferentes formações discursivas, e isso dia- loga com as modalidades de identificação do sujeito: é porque há várias for- mações discursivas em contato que o sujeito pode se desidentificar de uma para se identificar com outra. Análise do discurso30 Analise_Discurso_U2_C5.indd 30 14/09/2016 16:38:56 Para entender esse movimento, é preciso entender algumas características da formação discursiva. Você pode relacioná-las à representação gráfica co- mumente adotadadesta noção, que é a seguinte: Figura 1. Representação gráfica da formação discursiva. Por essa representação, destaca-se a porosidade das bordas da formação discursiva: ela não é um domínio fechado de saberes; pelo contrário, está em contato com saberes outros que podem adentrar suas fronteiras. Daí se ressalta a heterogeneidade da formação discursiva: numa mesma formação discursiva, diversos saberes coexistem. Suas bordas porosas permitem que novos saberes adentrem, mexendo nas relações de dominância e de força que se estabelecem em seu interior, suscitando a emergência de novas posições- -sujeito e mesmo de novas formações discursivas (INDURSKY, 2008). Para compreender de onde emergem esses diferentes saberes e formações discursivas, você vai conhecer a noção de interdiscurso. Interdiscurso O interdiscurso abriga dois elementos: o pré-construído e as articulações. � O pré-construído é o “sempre-já-aí” da interpelação ideológica, impondo uma realidade, um sentido ao sujeito. � A articulação “constitui o sujeito em sua relação com o sentido” (PÊCHEUX, 2009, p. 151) em uma formação discursiva. 31Formação discursiva: enunciado, história, intercurso e os gêneros do discurso Analise_Discurso_U2_C5.indd 31 14/09/2016 16:38:56 Assim, você pode pensar que todo discurso carrega ao mesmo tempo uma presença anterior e uma manifestação atual, ou, em outras palavras, é uma relação dupla: com o outro sempre já-lá e com o próprio funcionamento. Orlandi (1999) também explica o interdiscurso como aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente. Ele disponibiliza dizeres que afetam o sujeito em dada situação discursiva, está na base do dizível e sustenta cada tomada da palavra. Ou seja, tudo que se fala num dado momento só é possível porque há dizeres anteriores que sustentam aquele dizer atual, aquela atuali- zação do interdiscurso. Nesse jogo entre anterioridade e atualidade, são fundamentais as noções de paráfrase e de polissemia. Paráfrase e polissemia Reconhecendo a dificuldade de traçar limites estreitos entre o mesmo e o diferente, Orlandi (1999) considera que “todo o funcionamento da linguagem se assenta na tensão entre processos parafrásticos e processos polissêmicos”. A autora apresenta as seguintes particularidades de cada processo: Paráfrase Polissemia Retorno aos mesmos espaços do dizer. Deslocamento. Diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado. Ruptura de processos de significação. Estabilização. Jogo com o equívoco. Produtividade. Criatividade. Matriz do sentido, pois não há sentido sem repetição. Fonte da linguagem, pois sem a multiplicidade de sentidos não haveria necessidade de dizer. Tabela 1. Particularidades dos processos de Paráfrase e Polissemia. É possível pensar que todo discurso é um movimento na rede de filiação de sentidos, mas formado por palavras já ditas (ORLANDI, 1999). É assim que esses processos são relacionados ao interdiscurso: algo fala antes, e o discurso atual pode tanto ser um retorno dessa anterioridade quanto deslizar para novos sentidos. Análise do discurso32 Analise_Discurso_U2_C5.indd 32 14/09/2016 16:38:56 Gêneros do discurso Se até agora você viu como Foucault e Pêcheux pensaram a organização dos discursos e as relações que se estabelecem entre eles, agora você vai conhecer introdutoriamente o que outro autor, Bakhtin, propôs a respeito. Bakhtin apresenta a noção de gêneros do discurso, que seriam formas padrão, relativamente estáveis e determinadas sócio-historicamente, de um enunciado. Para o autor, toda a comunicação humana, em suas diversas formas, se dá através dos gêneros do discurso. No texto “Gêneros do discurso”, você vai aprender mais sobre essa noção de Bakhtin e outras pertinentes para seu estudo, como língua, exterioridade e enunciado. 1. Sobre a formação discursiva como apresentada por Foucault, assinale a alternativa correta. a) Diz respeito à fragmentação da forma-sujeito. b) Só é mobilizável para pensar a organização dos discursos científicos. c) Tem a ver com a regularidade dos enunciados em sua ordem e em seu sistema de dispersão. d) Foi uma proposta inicial para explicar a organização dos dis- cursos, posteriormente invalidada pelos estudos de Pêcheux e de Bakhtin. e) A mesma formação discursiva será encontrada em qualquer momento histórico, dependendo apenas da regularidade do enunciado. 2. “Na realidade, afirmamos que o ‘sentido’ de uma sequência só é materialmente concebível na medida em que se concebe esta sequência como pertencente necessariamente a esta ou aquela formação discursiva (o que explica, de passagem, que ela possa ter vários sentidos”. A que se refere essa citação? a) Às funções do enunciado, con- forme descritas por Foucault. b) Ao papel da formação discursiva na atribuição do sentido, con- forme proposto por Pêcheux. c) Às diferentes formas de comu- nicação humana regidas pelos gêneros do discurso, conforme proposto por Bakhtin. d) À independência que a formação 33Formação discursiva: enunciado, história, intercurso e os gêneros do discurso Analise_Discurso_U2_C5.indd 33 14/09/2016 16:38:56 discursiva estabelece em sua relação com o interdiscurso. e) À impossibilidade de deslize dos sentidos entre formações discur- sivas distintas. 3. Sobre os processos parafrásticos e polissêmicos, assinale a alternativa correta. a) Mobilizam sentidos possibilitados pelo já-dito do interdiscurso, num movimento seja de retorno, seja de deslocamento. b) Só acontecem em formações dis- cursivas específicas, identificáveis pela análise das sequências. c) Contrariam tanto a noção de formação discursiva quanto a de interdiscurso. d) São identificáveis pela repetição regular de um mesmo conjunto de palavras. e) Instauram sentidos novos a cada manifestação. 4. “Se, em nossa sociedade, em uma época determinada, o delinquente foi psicologizado e patologizado, se a conduta transgressora pode dar lugar a toda uma série de objetos de saber, deve-se ao fato de que, no discurso psiquiátrico, foi empregado um conjunto de relações determinadas.” A que essa citação pode ser correta- mente relacionada? a) À forma-sujeito de delinquente, fragmentada em diversas posi- ções-sujeito dentro da formação discursiva da psiquiatria, pela perspectiva de Pêcheux. b) Ao interdiscurso enquanto deter- minador de relações. c) À incapacidade de a noção de gê- neros do discurso, pela perspec- tiva de Bakhtin, abarcar sujeitos classificados como delinquentes. d) Às condições históricas que determinam a regularidade de certos enunciados e, assim, a formação discursiva, pela pers- pectiva de Foucault. e) Ao sempre já-aí creditado à formação discursiva, pela pers- pectiva de Foucault. 5. Assinale a alternativa que se refere aos gêneros do discurso segundo Bakhtin. a) Os gêneros do discurso se modificam radicalmente a cada situação de comunicação, sendo impossível estabelecer qualquer regularidade a seu respeito. b) Os gêneros do discurso são res- ponsáveis por regular os sentidos dos enunciados em cada período histórico. c) Os gêneros do discurso regulam apenas as formas oralizadas de comunicação. d) Os gêneros do discurso são um termo diferente para apresentar a noção de formação discursiva, considerando a perspectiva de Pêcheux. e) Os gêneros do discurso são a base da comunicação humana e obedecem a determinações sócio-históricas. Análise do discurso34 Analise_Discurso_U2_C5.indd 34 14/09/2016 16:38:56 BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Pau- lo: Martins Fontes, 2003. p. 261-306. FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 4.ed. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. HAROCHE, C; PÊCHEUX, M; HENRY, P. A semântica e o corte saussuriano: língua, lingua- gem, discurso. Tradução de Roberto Leiser Baronas e Fábio Cesar Montanheiro. In: BA- RONAS, R. L. Análise do Discurso: apontamentospara uma história da noção-conceito de formação discursiva. São Carlos, SP: Pedro & João Editores, 2007. p. 13-32. INDURSKY, F. Unicidade, desdobramento, fragmentação: trajetória da noção de sujeito em Análise do Discurso. In: MITTMANN, S.; GRIGOLETTO, E.; CAZARIN, E. (Orgs.). Práticas discursivas e identitárias: sujeito e língua. Porto Alegre: Nova Prova, 2008. p. 9-33. ORLANDI, E. P. Análise do Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Ed. Pontes, 1999. PÊCHEUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução de Eni Puccinelli Orlandi, Lourenço Chacon Jurado Filho, Manoel Luiz Gonçalves Corrêa e Sil- vana Mabel Serrani. Campinas: Ed. Pontes, 2009. PÊCHEUX, M.; FUCHS, C. A propósito da análise automática do discurso: atualização e perspectivas. Tradução de Péricles Cunha. In: GADET, F.; HAK, T. (orgs.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 4. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2010. Leitura recomendada BARONAS, R. L. Formação discursiva: vale a pena lutar por ela. Estudos Linguísticos, v. 34, p. 732-737, 2005. Disponível em: <http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/ edicoesanteriores/4publica-estudos-2005/4publica-estudos-2005-pdfs/formacao-dis- cursiva-vale-a-pena-1670.pdf>. 35Formação discursiva: enunciado, história, intercurso e os gêneros do discurso Analise_Discurso_U2_C5.indd 35 14/09/2016 16:38:57 DICA DO PROFESSOR Neste vídeo você vai conhecer algumas considerações que Sírio Possenti apresenta sobre a noção de interdiscurso. Além de retomar essa noção na perspectiva de Pêcheux, Possenti apresenta, de forma comparativa, as perspectivas de Courtine e de Maingueneau. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Sobre a formação discursiva como apresentada por Foucault, assinale a alternativa correta. A) Diz respeito à fragmentação da forma-sujeito. B) Só é mobilizável para pensar a organização dos discursos científicos. C) Tem a ver com a regularidade dos enunciados em sua ordem e em seu sistema de dispersão. D) Foi uma proposta inicial para explicar a organização dos discursos, posteriormente invalidada pelos estudos de Pêcheux e de Bakhtin. E) A mesma formação discursiva será encontrada em qualquer momento histórico, dependendo apenas da regularidade do enunciado. “Na realidade, afirmamos que o ‘sentido’ de uma sequência só é materialmente concebível na medida em que se concebe esta sequência como pertencente necessariamente a esta ou aquela formação discursiva (o que explica, de passagem, que ela possa ter vários sentidos)”. 2) A que essa citação se refere? A) Às funções do enunciado, conforme descritas por Foucault. B) Ao papel da formação discursiva na atribuição do sentido, conforme proposto por Pêcheux. C) Às diferentes formas de comunicação humana regidas pelos gêneros do discurso, conforme proposto por Bakhtin. D) À independência que a formação discursiva estabelece em sua relação com o interdiscurso. E) À impossibilidade de deslize dos sentidos entre formações discursivas distintas. 3) Sobre os processos parafrásticos e polissêmicos, assinale a alternativa correta. A) Mobilizam sentidos possibilitados pelo já-dito do interdiscurso, em um movimento seja de retorno, seja de deslocamento. B) Só acontecem em formações discursivas específicas, identificáveis pela análise das sequências. C) Contrariam tanto a noção de formação discursiva quanto a de interdiscurso. D) São identificáveis pela repetição regular de um mesmo conjunto de palavras. E) Instauram sentidos novos a cada manifestação. “Se, em nossa sociedade, em uma época determinada, o delinquente foi psicologizado e patologizado, se a conduta transgressora pode dar lugar a toda uma série de objetos 4) de saber, deve-se ao fato de que, no discurso psiquiátrico, foi empregado um conjunto de relações determinadas”. A que essa citação pode ser corretamente relacionada? A) À forma-sujeito de delinquente, fragmentada em diversas posições-sujeito dentro da formação discursiva da psiquiatria, pela perspectiva de Pêcheux. B) Ao interdiscurso enquanto determinador de relações. C) À incapacidade da noção de gêneros do discurso, pela perspectiva de Bakhtin, abarcar sujeitos classificados como delinquentes. D) Às condições históricas que determinam a regularidade de certos enunciados e, assim, a formação discursiva, pela perspectiva de Foucault. E) Ao sempre já-aí creditado à formação discursiva, pela perspectiva de Foucault. 5) Assinale a alternativa que se refere corretamente aos gêneros do discurso segundo Bakhtin. A) Os gêneros do discurso se modificam radicalmente a cada situação de comunicação, sendo impossível estabelecer qualquer regularidade a seu respeito. B) Os gêneros do discurso são responsáveis por regular os sentidos dos enunciados em cada período histórico. C) Os gêneros do discurso regulam apenas as formas oralizadas de comunicação. D) Os gêneros do discurso são um termo diferente para apresentar a noção de formação discursiva, considerando a perspectiva de Pêcheux. E) Os gëneros do discurso são a base da comunicação humana e obedecem a determinações sócio-históricas. NA PRÁTICA Considerar as diferentes concepções de formação discursiva e as noções com as quais elas se relacionam permite que se evite tratar o texto como uma unidade acabada, independente de contexto e imune a atravessamentos. A noção de formação discursiva articulada à de interdiscurso pode ser produtiva para considerar os discursos através das relações que estabelecem entre si - de aliança, de oposição, de complementariedade... Você pode pensar, por exemplo, num texto que apresente o enunciado "modernizar a legislação trabalhista". O que significa modernizar? Ao assumir que há sempre algo que fala antes e em outro lugar, aceita-se que, mesmo que esse algo não esteja posto explicitamente no texto, ele pode reverberar em sua interpretação, trazendo sentidos nem sempre previstos. No caso do enunciado acima, inscrito numa sociedade de herança escravocrata, a memória discursiva pode apontar para sentidos como escravidão e/ou relações de trabalho abusivas, que desumanizam o trabalhador, ainda que nenhuma dessas palavras faça parte do enunciado. No entanto, são acontecimentos que permeiam a nossa história e podem retornar pelo interdiscurso a cada vez que se fala em legislação trabalhista. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Gestos interpretativos na configuração metodológica de uma FD Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Lula lá: estrutura e acontecimento Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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