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Unidade 4 Aspectos Culturais e Artísticos Maria Inês Custódio Estética e História da Arte Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autora MARIA INÊS CUSTÓDIO A AUTORA Maria Inês Custódio Olá! Meu nome é Iria Helena Duarte. Sou formada em Pedagogia, Especialista em Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Estrangeira com uma experiência técnico-profissional na área de ensino híbrido há mais de 10 anos. Concluinte em Psicopedagogia e especialização em Língua Espanhola. Iniciei minha carreira como docente em diversas escolas do Estado de São Paulo, Estado do Paraná e de Santa Catarina na área da Educação Infantil e Ensino Fundamental I. Em 2008 fui convidada por uma empresa em expansão em EAD a participar do departamento Pedagógico como Coordenadora Pedagógica em EAD e depois como professora conteudista na área da Pedagogia e ensino de Línguas. Também trabalhei para algumas faculdades, para a elaboração de trabalhos e materiais didáticos e preparatórios como ENADE. Atualmente sou sócia de uma escola EAD de ensino de cursos técnicos, profissionalizantes e idiomas e também atuo como mediadora do curso de Pedagogia e tutora virtual da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Amo a minha profissão e sou apaixonada pelo meu trabalho. Estou sempre em busca de novos conhecimentos porque acredito no poder da educação e da reciclagem. Adoro poder transmitir minha experiência para todos que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte sempre comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Aspectos culturais e artísticos ...............................................................10 A Arte no Tempo: cultura e propósitos artísticos ..................................................... 10 História da arte: saberes e método ......................................................13 A Arte Renascentista ..................................................................................21 O significado social do vestuário .........................................................................................23 A Arte Barroca ....................................................................................................................................24 Expressões culturais e artísticas e os tempos históricos ..........32 Pré-História .........................................................................................................................................32 Idade antiga .......................................................................................................................................33 Idade moderna ..................................................................................................................................37 Idade Contemporânea ...............................................................................................................37 Estética e História da Arte 7 ASPECTOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS UNIDADE 04 Estética e História da Arte8 INTRODUÇÃO Caro estudante, seja muito bem-vindo a Unidade 4 - Aspectos Culturais e Artísticos da disciplina História da Arte. Nesta unidade iremos aprender o significado da Arte nas suas diferentes formas culturais e artísticas nas mais variadas sociedades em seus tempos históricos. Trataremos de questões fundamentais sobre as primeiras formas de expressões humanas contextualizadas na historiografia discutindo os conceitos de estética, percepção e finalidade da obra e seu impacto na vida das pessoas. Compreenderemos que a ideia de arte não é única e vêm assumindo muitas formas ao longo do processo de emancipação do homem de acordo com a mentalidade de cada época. É importante perceber como a arte e a estética estão vivas em nosso cotidiano, assim como de nossos ancestrais, sempre buscando identificar e notar as particularidades e as linguagens educativas-culturais. Em diversas culturas há o questionamento do que era pretendido como arte, originando o conceito de arte hoje, considerando a arte e a vida no mesmo palco, esclarecendo divergências entre artista, público e obra. Nessa linha, o início do século XX, apresenta transformações sobre o universo do estilo e da obra rompendo com a dominação de uma produção artística tradicional e anunciando a arte relacionada à ideia de liberdade. Estética e História da Arte 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo. Nosso objetivo nesta Unidade 4 - Aspectos Culturais e Artísticos é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Refletir sobre o conceito de estética e suas relações com a arte; 2. Perceber as diferenças estéticas entre as culturas e suas relações com a identidade dos grupos humanos; 3. Compreender como uma cultura pode se disseminar, influenciar e transformar outras por meio da arte; 4. Compreender como a arte transforma-se na relação com o pensamento dos artistas e com o contexto histórico e cultural. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Estética e História da Arte10 Aspectos culturais e artísticos A Arte no Tempo: cultura e propósitos artísticos “A arte não reproduz o que vemos. Ela faz-nos ver.” Paul Klee. A história cultural francesa tem por finalidade a investigação das relações entre arte, história e história da arte, ponderando os objetivos culturais como aparelhagem de produção de representações, elaborando sentidos, proporcionando diferentes interpretações sobre o que se vê. A história científica dos objetos culturais vem cultivando o interesse dos historiadores em direção a uma tendência identificada em nações europeias e americanas baseadas em outras disciplinas como: a antropologia, a sociologia, a teoria literária, a linguística, etc., estruturadas e ordenadas em ideias de conhecimento e objetos culturais com os quais os historiadores consolidam suas narrativas. Figura 1: Interdisciplinaridade Fonte: ©Freepik Estética e História da Arte 11 No entanto, os estudiosos do assunto vêm demonstrando cuidado com as traduções sobre as representações do real, identificadas pelas sociedades e com o modo de leitura das imagens hipotéticas, pro exemplo: registros históricos, textos literários, lendas, etc., materiais condicionantes para a execução do ofício do historiador. Convencionalmente, algumas linhas historiográficas pesaram essas interpretações como reflexo da sociedade que as corporificou, nutrindo a ideia de que os objetos culturais eram frutos da mentalidade e do comportamentodos grupos que os construíram. De outro lado, os objetos culturais não são meros retratos da sociedade, são produtos coletivos estruturados a partir do mundo social. A história da arte aponta para a necessidade de reflexão sobre a inscrição social das obras e funções artísticas, como: tramas sociais imprevistas: recepção das obras; os artistas, suas profissões e suas carreiras; as formas sociais de aprovação; as fundações artísticas; o negócio de pareceres e juízos de valor e os regimes culturais. Figura 2: Belle Époque Fonte: @Commons Estética e História da Arte12 Nessa linha, a intenção é chamar a atenção também de historiadores e sociólogos da cultura, buscando superar a tradicional distância entre um questionamento estético da obra realizada por especialistas, e uma aproximação singularizada por profissionais artísticos. Dessa forma, as abordagens e métodos de análise negavam as possibilidades de diálogo sobre o tema da arte entre os historiadores e historiadores da arte. Em se tratando de objetos usuais, a história da arte, por um lado, validava a noção de fluxo crescente de escolas e estilos, e os historiadores analisavam as imagens fictícias acordadas com sua formação teórica. Assim, deu-se uma aproximação produtiva relacionada a um programa de renovação dos estudos históricos no ensino e prática da arte apoiada por historiadores da cultura. REFLITA: “A arte é a expressão da sociedade no seu conjunto: crenças, ideias que faz de si e do mundo. Diz tanto quanto os textos do seu tempo, às vezes até mais”. (GEORGES DUBY). Estética e História da Arte 13 História da arte: saberes e método “Não existe meio mais seguro para fugir do mundo do que a arte, e não há forma mais segura de se unir a ele do que a arte. Johann Goethe. A história da arte é uma disciplina autônoma, composta por seus estudos, ferramentas e usos, definidos rigorosamente por critérios de formação e de competência, reconhecendo-se de maneira analítica avaliativa frente às obras consideradas particulares e não unificadas. O entendimento da arte como maneira de conhecimento é o aprender, é ir além de descobrir artistas e obras de arte. A construção do saber pelo aluno acontece no crescimento de um pensamento reflexivo abrangendo a competência de associar os conteúdos da arte com as outras situações da vivência humana. Assim explica Freire (1996, p.15), quando diz que Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, à perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir conhecimento. A disciplina desenvolveu-se no cenário da história convencional alicerçada em um rol de obras, artistas e imprevistos, calendarizada e organizada de forma particular alheia a qualquer abordagem conceitual. A crítica, oposta, entende a obra de arte como um objeto a-histórico, imbuído da premissa absoluta do belo. A história tradicional da arte é uma disciplina consolidada ao longo do tempo por sua importância na educação. Suas funções estabelecem: a descrição das obras; a narração da vida dos artistas; a autoria e a data das obras de indícios exteriores (documentos, assinaturas, etc.) e interiores (concretude do objeto). Além dessas atribuições, a arte deve ser entendida como uma atividade própria da humanidade, supondo que todo homem seja https://www.pensador.com/autor/johann_goethe/ Estética e História da Arte14 naturalmente fazedor de arte, assentado nos critérios de referência e reconhecimento admitidos pelos artistas. Assim, a tarefa do historiador deve transitar além da compatibilidade artista/obra, por exemplo: firmando os objetos artísticos em seu tempo e espaço; comprovando a capacidade de criar do artista; a habilidade estética do objeto; o processo de validação como obra de arte. A datar do século XVI a organização e a decodificação simbólica das imagens artísticas foram transformando-se à luz da reflexão dos aspectos gerais da cultura da sociedade. Sob o prisma do século XIX, com o advento da iconografia (conjunto de ilustrações) como prática científica foi introduzido no campo das investigações históricas o benefício de testemunhos figurativos como fontes de pesquisa. Figura 3: Iconográfico Warburg, (historiador de arte alemão) analisou a produção dos artistas do Renascimento a partir do movimento dos corpos, buscando compreender o significado que a arte da antiguidade possuía para os pintores. O Renascimento nasceu na Itália em meados do século XIV. Foi um movimento intelectivo e cultural conclusivo do vínculo comercial entre Estética e História da Arte 15 italianos e bizantinos, que em pouco espaço de tempo tomou a Europa como um todo. O Renascimento representava a cultura da Antiguidade Clássica greco-romana, o apogeu da civilização ocidental. Os renascentistas ao conhecerem o racionalismo grego, cortaram os laços com a doutrina religiosa e mística da Idade Medieval. Sobre os humanistas Sevcenko (1985, p.15) descreve que: Eram todos cristãos e apenas desejavam reinterpretar a mensagem do Evangelho à luz da experiência e os valores da Antiguidade. Valores esses que exaltavam o indivíduo, os feitos históricos, a vontade e a capacidade de ação do homem, sua liberdade de atuação e de participação na vida das cidades. A crença de que o homem é a fonte de energias criativas ilimitadas, possuindo uma disposição inata para a ação, a virtude e a glória. Assim, o único motivo do movimento renascentista era a compreensão do humano em sua essência, fundado nas concepções das ciências, da política, das artes, da religião e ética enaltecendo o indivíduo no centro de suas pesquisas. Nascia o antropocentrismo (doutrina focada no ser humano como centro do universo). Quanto à arte, o renascimento a descreveu num tripé: desenvolvimento das técnicas de panorama e profundidade; o estupendo realismo das obras e; a amplificação das técnicas de ensombramento com luz e sombra. Portanto, as representações da gravura humana contraíram consistência, pompa e poder, refletindo o contentamento e a autoconfiança de uma sociedade soberba e complexa, dividida em categorias sociais, ascendente da decadência da cultura burguesa da sociedade medieval. Nesse cenário, o teórico baseou seus estudos em: testamentos, cartas de mercadores, tapeçarias, etc. e como resultado da investigação, a compreensão das atitudes fundamentais da civilização renascentista. Estética e História da Arte16 REFLITA: “Na Idade Média, os artistas não tinham a preocupação de retratar a realidade como tal, mas sim cenas cheias de simbolismos. Técnicas de interpretação não eram aplicadas nas obras medievais”. Nessa linha, o conhecimento elaborado pelo historiador apontou para duas vertentes: de um lado, uma identificação dos gêneros e expressões figurativas renascentistas e, de outro, a hipótese histórica de aceite dos elementos antropológicos daquele meio, como por exemplo: moedas, esculturas, pinturas de catacumbas, etc. para desvendar o modo de viver das sociedades do passado, por meio de uma análise da arte e da cultura. Figura 3: Pintura renascentista Fonte: @Commons Estética e História da Arte 17 Dois seguidores da “escola warburguiana” sobressaíram-se, Erwin Panofsky (crítico e historiador da arte alemão) e Ernst Hans Josef Gombrich (historiador da arte do século XX), por meio de uma série de reflexões posteriores no campo da história da arte. Para Panofsky, a obra de arte é uma evidência do estado de uma civilização, desenvolvendo a partir dessa concepção uma ordem de abordagem e interpretação das obras, firmando um estilo. Realizou também os conceitos iconográficos para atingir a autorrevelaçãoda obra, situada no seu tempo inerente à cultura de cada povo e de cada comunidade. Em cada etapa de sua metodologia, a descrição pressupõe interpretação somadas às condições e referências acumuladas pelo observador. Ao perceber dessa forma as imagens, pinturas e alegorias, as definiu como valores simbólicos, cerne do seu método, a iconologia (estudo do simbolismo em arte). Para o crítico, as gravuras são parte de uma cultura e, para serem compreendidas, deve-se internalizá-las. Dessa forma, a ilustração pode expressar não somente uma ideia, mas uma compilação do universo incorporando os retratos num documento histórico. Estética e História da Arte18 As obras de Arte e suas imagens são consideradas como documentos que, adicionados à outras fontes, tornam-se material de análise histórica, podendo ser aplicada à imagens de áreas afins, em especial, Ciências. A rigor, a iconografia trata sobre o tema ou assunto, enquanto a iconologia observa o significado do objeto. Panofsky (2007, p. 47), define Iconografia como o ramo da história da Arte que trata do tema ou mensagem das obras de Arte em oposição a sua forma. Em seguida, prossegue sobre a iconologia, uma iconografia que se torna interpretativa e, desse modo, converte-se em parte integral do estudo da Arte, em vez de ficar limitada ao papel do exame estatístico preliminar. Em ambas as definições, há de se discernir o assunto e o formato. A aparência de uma pintura de Arte é o seu aspecto visível, enunciado por meio da cor, linha, dimensão, entre outras expressões. Para Gombrich (1999, p.15) faz-se necessário a preservação da análise particular de cada obra de arte, jamais identificando-a no contexto das combinações estilísticas de um determinado período histórico. Nada existe realmente a que se possa dar o nome Arte. Existem somente artistas. […] Não prejudica ninguém dar o nome de arte a todas essas atividades, desde que se conserve em mente que tal palavra pode significar coisas muito diversas, em tempos e lugares diferentes, e que Arte com A maiúsculo não existe (GOMBRICH, 1999, p. 15). Para esse autor, o espectador compreende a imagem a partir da mensagem que seu conhecimento de mundo o permitiu, e argumenta que o vocábulo “arte” não é definitivo, pode ter significados diferentes para culturas diversas, em tempos e espaços distintos. Ernest Gombrich é respeitado como um historiador da área da psicologia da arte, baseando suas proposições a partir do que o indivíduo conhece e não no que ele vê. Teoricamente, desvia-se das meditações abstratas ou vagas, pautando-se em exemplificações, em análises Estética e História da Arte 19 acuradíssimas e empíricas. Para esse mesmo autor é inaceitável a análise de uma obra apoiada em critérios como deduções imediatas sobre estados de espírito, sentimentos, da mesma forma alguns estudiosos obstavam aos artistas medievais formatos de aderência a determinados esquemas. Trata-se de uma conduta interpretativa supostamente mais sofisticada, mas na verdade análoga a uma atitude de quem interpreta o afastamento do realismo na arte como um desmembramento do mundo, compreendendo a excelência da arte medieval como uma reação imediata da posição confessa diante da transcendência da filosofia da época. Nessa linha, abandonar às generalizações sociológicas vigentes em cada período histórico sobre a obra à luz de um estilo artístico predominante em uma pintura soberba e realizada por um extraordinário artista, segundo Gombrich (1999)um resíduo da filosofia lírica da história como um modelo pleno expressivo. O teórico abre campo de observação sobre a mentalidade de cada tempo histórico, em que a arte e os artistas opõem-se aos valores predominantes contrários às suas convicções e, de certa maneira tecendo o estilo artístico como um índice negativo das transmutações sócio- culturais, refutando discursos de caráter expressionista artístico num tempo passado e, contestando o método dos testemunhos imaginários como fonte para a restauração histórica geral. REFLITA: “Nada existe a que se possa dar o nome Arte. Existem somente artistas.” (Gombrich). Por sua vez os estudos warburguianos exprimem uma preocupação, à questão da interpretação das obras. De um lado, a história da arte revelada como uma linguagem, identificando os sinais artísticos sustentados por similitudes. De outro lado, associada a uma análise por meio das expressões, desejos e sentimentos inconscientes, ao jeito da interpretação. Warburg transformou o modo de compreender as imagens. Estética e História da Arte20 Ele é para a história da arte o equivalente ao que Freud (...) foi para a psicologia: incorporou questões radicalmente novas para a compreensão da arte, e em particular a de memória inconsciente (DIDI-HUBERMANN, 2010). Warburg pensou a história da arte de maneira alongada, ampla, se comparada à história acadêmica tradicional. Não acreditava na contribuição científica do modelo impressionista, estetizante, estético das obras de arte. Suas pesquisas apresentavam duas linhas contributivas para o conhecimento na área: era preciso considerar as obras de arte à luz de testemunhos históricos, independente de tipologia e grau, buscando justificativas sobre a sua gênese e significado; a própria obra de arte e as figurações deveriam ser interpretadas como uma fonte ímpar para a recomposição histórica. Sua dileta apreciação pelos moldes iconográficos, sugestionou as obras de arte do Renascimento e do Barroco, até então tidas como naturalistas (movimento artístico e literário baseando na observação fiel da realidade). Figura 4: Pintura naturalista Fonte: @Commons O estilo Barroco (XVI-XVIII) foi um prosseguimento do Renascimento (XV-XVI) ambos nutriam uma intensa admiração pela Antiguidade Clássica, mesmo que, interpretando-a contrariamente. Estética e História da Arte 21 A Arte Renascentista “A finalidade da arte é, simplesmente, criar um estudo da alma.” Oscar Wilde. O berço da arte da Renascença foi à Itália em meados de 1300 e 1650. Para o cenário sócio-político-religioso da data histórica a doutrina católica apostólica romana matinha sob sua égide o destino das artes. Assim, desenhava–se o período do Renascimento, renovador, palco de contemplação em que os artistas refletiam e ilustravam o mundo, o indivíduo e a natureza. Os renascentistas nas Grécia e Roma bebiam nas fontes da filosofia, ciência e literatura. A arte renascentista foi o ápice do fim da Idade Média e início da Era Moderna. O Renascimento surgiu na cidade de Toscana, difundindo-se posteriormente por toda Europa. Apesar do poder da igreja, os artistas eram contrários a seus preceitos, apoiados pelos mecenatos (pessoas com poder econômico, patrocinadores dos artistas e literatos). A arte renascentista primava pela natureza e considerava o homem como centro do universo. A criação de suas obras atendiam ao rigor científico, ao espetáculo humano, a racionalidade e à concórdia da harmonia e da perfeição. Valorizava a exultação espiritual em sintonia com o material e, reproduzia a realidade de maneira fiel com o cultivo da liberdade de escolha. O historiador Chistopher (1993, p.136) diz que criou Sua própria escola com o objetivo de não só formar meninos em determinadas artes, como ainda de proporciona-lhes uma educação bem mais ampla que a que em geral lhes era oferecida. Equipou um local, um jardim entre o Palazzo Medici e San Marco; contratou um mestre, seu velho amigo Bertoldo di Giovanni, ex discípulo de Donatello; e emprestou à escola numerosos quadros, bustos antigos e estátuas para serem colocadas no ateliê e no jardim. https://www.pensador.com/autor/oscar_wilde/ Estética e História da Arte22 Um dos destaques na pintura foi Leonardo da Vinci (1452-1519) consagrado por suas produções em obras artísticas, mas também, estudioso da ciência, música, poesia, matemática,engenharia, escultura e pintura. Famoso, principalmente por duas obras de arte renascentistas, a “Última Ceia” e a “Monalisa”. Figura 5: A última ceia Fonte: @Commons O homem perseguia o propósito de compreender a arte racionalmente, acompanhando as condições e noções de cada idade histórica, ora sistematizadas, ora redutoras, ora trivializadas. Desse modo, as categorias estabelecidas racionalmente terminavam por bloquear o entendimento dos fenômenos artísticos. Esse impedimento foi possível por meio das configurações artísticas pertencentes ao campo do irracional, a obra abrange juntamente o território do intuitivo, do espontâneo, da transgressão no tocante às normas estabelecidas, tornando-se inviável compreendê-la em sua totalidade, em sua particularidade, dada a ausência conceitual. Nessa linha, qualquer modelo de racionalização era avaliado histórico. Lembrando que, as interpretações sobre a mesma obra advindas de diversas culturas produzem resultados diferentes arraigadas nos espaços e tempos definidos na historiografia sobre um mesmo objeto de estudo. Assim, nenhum conceito investigatório se torna completo Estética e História da Arte 23 na aplicabilidade da História da Arte e, jamais, artista algum, poderá enquadrar-se no exemplar de excelência de sua sociedade. É sabido que toda obra de arte é fabricação de sua época, da cultura contextual e, de artistas individuais, este é o cenário ideal para a tessitura dos modelos elucidativos para a compreensão do feitio artístico. Mesmo limitadores, os conceitos são essenciais para a concretização da atenção sistematizada sobre o episódio artístico. A história da cultura renascentista nos remete a um dinamismo de edificação cultural do homem moderno e da sociedade contemporânea, contemplando o individualismo e o racionalismo, comportamentos inerentes ao nosso tempo histórico. O Renascimento imprimiu a transição da mentalidade medieval para moderna, traduzindo novas concepções sobre o humanismo, buscando redefinir o novo papel do indivíduo no universo. O significado social do vestuário “O vestuário designa todas as categorias sociais, é um verdadeiro uniforme. Levar vestuário de uma condição diferente da sua é cometer o pecado da ambição ou da degradação. O pannous (o indigente vestido de farrapos), é desprezado... As regras monásticas (relativo aos monges, os que vivem nos mosteiros) fixam cuidadosamente o hábito dos seus membros – mais por respeito pela ordem que ela preocupação de evitar o luxo.” (LE GOFF, 1984, p.88). O movimento renascentista consagrou a razão abstrata, braço da cultura moderna, no rigor das matemáticas, controlando dessa forma, o tempo, o espaço, o trabalho e o arbítrio da natureza. Em decorrência dessa nova etapa histórica, transformações socioeconômicas fortaleciam-se, substituindo, por exemplo, as pequenas oficinas de artesãos por fábricas e as ferramentas simples trocadas por máquinas. Na linha de produção de conhecimento, os cientistas durante o movimento renascentista, optaram pelos métodos empíricos para estudar Estética e História da Arte24 as relações da natureza e do universo, inseridos no bojo de manifestações artísticas, filosóficas e literárias. A erudição renascentista era burguesa e sábia, de estilo urbano, cultura laica (avessa aos valores religiosos). A crença vivia um novo momento, a da verdade por meio da experimentação e da razão, movimentos lentos, mas, consistentes apontavam para um progresso social europeu. A pirâmide social hierárquica na Itália formava-se a partir da posição financeira do indivíduo, assim, realizava-se a compra dos títulos de nobreza, a afeição pública era um fator decisivo. Nesta época, alguns homens de antecedentes irrelevantes alcançaram destaque no período renascentista: Bocaccio, Leonardo Da Vinci e Erasmo compunham esse painel. A Renascença enalteceu especialistas como escritores, advogados, mestres de universidades, artistas e médicos por meio de reconhecimento profissional equivalente ao status alcançado na Idade Moderna. A Arte Barroca A Era Barroca aconteceu entre a Renascença e a Era Moderna, meados dos séculos XVII e XVIII. O Barroco apresentava afinidades com a arte da renascença, estilos semelhantes na arquitetura, na escultura, padrões de alto e baixo relevos. Seu público alvo compunha o clero, a corte e a aristocracia. Na escultura, às figuras de espessura natural; na pintura, assuntos bíblicos; na arquitetura, palacetes, igrejas, altares, mausoléus e jardins. A sociabilidade da Arte Barroca aconteceu na representatividade de parcos trabalhos representados em pequeninas estatuetas, assuntos cotidianos e natureza opaca. Os figurinos elucidavam temáticas bíblicas e mitológicas. A arquitetura, valorava o aspecto visual, os planejamentos urbanos extensivos às paisagens das cidades em expansão. Na escultura, à arte consentia os bustos e estátuas atinentes a momentos gloriosos de inesquecíveis. A decoração de interiores surgia acompanhada de um Estética e História da Arte 25 design estilístico, trazendo no panorama artístico cultural – a porcelana, produto da arte oriental. O Barroco também apresentava à sociedade, ao mundo, uma complexidade de estilo, enaltecendo o dramático, às texturas, o jogo de luz e sombra, ora sobressaindo-se figuras sóbrias, ora coloridas, sugestionando outras tendências. Ao mesmo tempo, absorvia as artes trazidas pelas expedições marítimas, retroalimentando-se a outros gêneros. No século XIX, o Barroco como Arte expressou um tom pejorativo, depreciado pelas formas de exagero. Barroco, para a língua portuguesa, era nome atribuído às pérolas de formato irregular (feito de barro). Nas culturas italiana e francesa do século XVI traduzia uma tendência sinuosa. O estilo reconhecia-se como contraponto ao Clássico, suas dimensões eram rígidas, enquanto no estilo barroco as regras de proporção não eram percebidas, estando à obra a critério do artista. Nesse contexto, o único país que conviveu com o Barroco como arte e não como deturpação do classicismo, foi à Alemanha. No século XIX, os estudiosos alemães acreditavam na nova arte como respeitável. Os demais países europeus ainda não aceitavam o Barroco/Rococó como uma arte plena. Ao longo do processo de maturação artística, em meados da II Guerra Mundial (1939-1945), a Inglaterra aceitou o estilo. Após esse período, o Barroco foi considerado como uma escola de arte. Deu-se um movimento, cujo teor propõe que a partir de então, a arte fosse reconhecida meritocraticamente e não por juízo calcado em moldes estéticos teóricos e abstratos. Nessa nova arte, o Barroco rompe vínculos com a igreja católica e seu maniqueísmo em relação à produção artística, fortalecendo a natureza profissional com seus artistas, rumando ao pensamento moderno. A natureza da Arte Barroca naturalmente atende os preceitos da doutrina católica, tornando-se menos influenciável em países que professam outra religião. A França, por exemplo, abominava a prática do catolicismo. Na Alemanha, houve apoio e expansão da arte em tela. Estética e História da Arte26 Enquanto a Inglaterra e a França intercalavam–se nos padrões refinados e mundanos, como o Rococó e o Neo - Classicismo. Figura 6: Madame-Seriziat Jacques-Louis-David 1795 Fonte: ©Wikimedia Commons Para a classe política e os mecenas, a arte Barroca não servia como instrumento de barganha para alçar uma posição social na comunidade. Nesse sentido, os artistas apresentavam-se divulgando seus talentos à aristocracia em residências, mansões, ocasiões célebres, festas, casas, jardins, túmulos dentre outros. A Arte Barroca reproduzia um bem estar artístico pautado nas imagens do belo e real, prestando seus serviços tanto no âmbito particular Estética e História da Arte 27 como público, em instâncias de pequeno, médio e grande portes. Até a metade dos séculos XVIIe XVIII, a Igreja Católica tratava as obras de maneira rudimentar. Somente na segunda metade do século XVII, as autoridades eclesiásticas aceitaram o estilo barroco adentrar ao universo santo, oferecendo esplendorosos altares, interiores espetaculosos das igrejas, abadias suntuosas por meio da técnica do dourado, cada vez mais apossando-se do mundo artístico, provocando júbilo na sociedade do século XVIII pelo estupendo impacto no cotidiano dos indivíduos. Uma das mais notáveis foi à obra de Bernini, O Êxtase de Santa Tereza, que Geese (2004, p.286) faz a seguinte narrativa: Elevada por uma nuvem, a Santa, cujo corpo se encontra totalmente envolto em manto drapeado, à exceção da mão e do pé esquerdos, aguarda a seta que o anjo empunha na sua direção com a mão direita. A fusão da luz natural que entra por uma janela não visível, com luz sobrenatural dos feixes luminosos dourados, transpõe a Santa para um espaço visionário irreal, liberto da força da gravidade. O estilo Barroco foi uma reação ao Classicismo Renascentista que se desenvolveu ao longo do processo de produção renascentista do Clássico. Não houve decadência (Clássico) de um padrão em detrimento da ascensão do outro (Barroco). O Barroco conquistou seu espaço artístico por meio do talento de artistas de um período anterior a 1600, como Leonardo da Vinci, Michelângelo, Rafael, Ticiano e Dürer. Num período póstumo, sobressaíram-se: Bernini, Poussim, Rembrandt, Rubens, Tiepolo e Velasques. O grupo precedente inspirou-se na antiguidade clássica romana, talhando o Neoclássico no período renascentista. O grupo decorrente inspirou-se também na mesma fonte, criando o Barroco. Às mudanças abrangeram também a decoração de ambiente, permitindo obras expostas e suntuosas, em que o luxo compunha a figura, a pintura, o quadro como um todo. A linguagem rebuscada e o registro das impressões palpáveis eram atributos da poesia barroca. Essa nova expressão das artes e do conhecimento exaltava à forma, a erudição, uso de comparações e símbolos. No Brasil, o Barroco foi introduzido pelo povo português. As características essenciais do estilo barroco eram: a tensão e a associação do antigo com o novo, conflito entre a razão e a fé, questionamento dos Estética e História da Arte28 valores sagrados e das convicções da vida terrena. O poeta Bento Teixeira foi o grande representante brasileiro do padrão Barroco. De um modo geral, a poesia barroca contestou o papel da igreja num período histórico em que o mundo apresentava-se de forma dinamizada, e o homem barroco era alvo de uma mudança de mentalidade e comportamento. Nessa linha humanizada, os escritores barrocos trabalhavam a sua arte trazendo à vida temas como: solidão, agonia, finitude, amor, ódio, o belo, o feio, crenças e descrenças etc. O Barroco foi palco das contradições de diversos binômios: espírito e carne; alma e corpo; morte e vida; luz e sombra, e muitos outros. Esses duetos causadores de aflição constante e dúvidas sobre o ser e o ter na sociedade de novos tempos eram frutos de duas tendências opostas entre os pensadores da época. De um lado, a corrente teocêntrica medieval (Deus como o centro de tudo), de outro, o antropocentrismo renascentista (O homem deve permanecer no centro do entendimento dos humanos). Na arte barroca o vocabulário era rebuscado permeado de hipérboles (expressão de linguagem que exprime exagero) e metáforas (expressão de linguagem com sentido figurado). Fonte: ©Wikimedia Commons Estética e História da Arte 29 O barroco alcançou diversas localidades em que se desenvolveu. A personalidade forte de alguns artistas do período foi um agravante para dar vazão à subjetividade nas interpretações dos quadros e pinturas, por meio da teatralidade das obras, do dinamismo, e o forte apelo emocional. Na busca pela emoção, para chamar a atenção do observador, o artista excedia-se na verossimilhança das cenas descritas em suas aparições e obras, assim o fazia também na observação da natureza. Para o artesão, em busca de atingir efeitos propostos na concepção da obra, lançava mão de cores, texturas, jogos de luz e sombra, diagonais e curvas, no tocante aos temas místicos e os extraídos da vida real, eram corriqueiros nas amostras. Embora entrecruzadas, o quesito harmonia era de importância diferenciada no barroco e no renascimento. Para o renascentista, a harmonia do todo era garantida em cada pormenor da obra, em total sintonia, cada minúcia vista separadamente num todo harmônico. Para o barroco, a harmonia do conjunto era de mais valia, a conexão equilibrada dos diferentes elementos de um trabalho. A harmonia individual poderia sesacrificar em nome da simetria total. Podemos ver essa união nas grandes catedrais, em que os três elementos: arquitetura, escultura e pintura, são presentes e entrelaçados, garantindo a unidade estética. Ressalvado esse detalhe significativo, no mais, o Barroco é indiscutivelmente um clássico insubordinado. Costumamos dizer que vivíamos o estilo renascentista de construção, por exemplo, quase até o Século XX, com a entrada em cena do modernismo. O barroco (conhecido como extravagante, ridículo) inspirou-se, de certa maneira, na arquitetura clássica, irreverente, desrespeitou a técnicas, normas e combinações dos gregos e romanos, utilizando apenas as formas naturalistas. Igualmente, não foi considerado uma continuação do renascimento. Estética e História da Arte30 REFLITA: “De acordo com as conclusões do Concílio de Trento, realizado entre 1545 e 1563 (Século XVI), a função da arte religiosa era ensinar e inspirar os fiéis, ao mesmo tempo divulgava a doutrina da Igreja Católica Romana, de maneira inteligível e realista, ao mesmo tempo, estimulando o sentimento emocional e religioso.” No período classicista, o artista era solitário, assessorado por poucos servos na realização de seu produto. No Barroco, o artista desenvolvia várias habilidades, diferentes produções, e era assistido por inúmeros auxiliares artesãos de ofícios, fundidores e pedreiros. Assim, o tempo Barroco indicou uma nova era artística territorialmente ilimitado. Figura 7: Afresco do teto barroco da catedral de Ljubljana, Eslovenia Fonte: @Commons No campo da educação e do ensino, o Barroco manifestou seu encanto, demonstrando o seu enfadonho concretismo e sua admirável Estética e História da Arte 31 conformidade com o real, reconhecendo um sincronismo com o cognitivo por meio de emoções, como o choro, o riso, o medo, à alegria etc. O Barroco tornou-se a realidade cotidiana por 300 anos, anunciou os valores de toda uma sociedade ajustada no cristianismo e cimentada numa profundidade ética e estética, caminhando moderadamente para o efetivo aparato da arte educação moderna. SAIBA MAIS: SUGESTÃO DE FILME: O AUTO DA COMPADECIDA. Direção: GUEL ARRAES. BRASIL, 2000. (104 min). Estética e História da Arte32 Expressões culturais e artísticas e os tempos históricos “O fim da arte inferior é agradar, o fim da arte média é elevar, o fim da arte superior é libertar.” Fernando Pessoa. Uma das definições para a História da Arte é incorporá-la em um mote de conhecimentos aceitáveis aos propósitos estéticos, elaborados pelo homem desde os primórdios de sua existência. O ordenamento dessa disciplina constitui-se numa trama de máculas e deformidades na sua fabricação objetivando um efeito estético sublime inatingível pela capacidade humana. Mas, em se tratando de limites, o empreendimento por parte dos historiadores, antropólogos, arqueólogos, artistas, filósofos, linguistas e outros estudiosos consistem no aprendizado da esfera artística que a humanidade desfruta até a atualidade. No decorrer da História da Arte, a arte sagazmente transformou socialmente e culturalmente gerações externando manifestações, pensamentos, opiniões, comportamentos, criatividade. Ao longo do processo civilizatório, o homem selecionou e organizouos conteúdos de saberes e práticas referentes à produção dessa Ciência dividindo-a em intervalos temporais na historiografia. Cronologicamente, os períodos da História da Arte são: Pré- História; Antiguidade; Idade Medieval; Moderna e Contemporânea. Pré-História A pré-história inscreveu os primeiros experimentos artísticos da humanidade. O homem não havia desenvolvido noção de tempo e espaço, nem tampouco, inspiração para a pintura. Sobrevivia rusticamente da caça, pesca, alimentando-se do que a natureza provinha. https://www.pensador.com/autor/fernando_pessoa/ Estética e História da Arte 33 Também conhecido como homem das cavernas, as expressões artísticas desse tempo eram as pinturas rupestres. São os indícios das primeiras atividades de arte localizadas regionalmente em vários territórios da terra, denominados sítios arqueológicos. O homem pré-histórico gravou nas paredes das grutas sua vivência e maneira de ver o mundo por meio de rabiscos, desenhos de animais, episódios cotidianos, do mesmo modo fabricou esculturas e artefatos feitos em osso, pedra ou madeira. Conjuntamente, sinalizou seu relacionamento com o grupo, marcou suas crenças, similarmente sua combinação com a natureza e registrou vestígios históricos. REFLITA: “Um mesmo elemento químico une os desenhos a carvão da arte rupestre de milhares de anos, e nossos desenhos a grafite: o carbono. Ele é um dos elementos químicos mais comuns que existem. Está presente em mais de 10 milhões de compostos, com características muito distintas, desde o super-resistente diamante ao comum grafite dos lápis, assim como o carvão. Estas diferenças se devem às variadas formas como as estruturas dos elementos podem se combinar. Uma das variações do carbono, o carbono-14, é responsável por uma das técnicas mais eficazes de datação arqueológica. Sua quantidade nos tecidos orgânicos mortos diminui a um ritmo constante com o passar do tempo, permitindo sua medição em um objeto antigo e o cálculo dos anos decorridos desde sua morte.” (FRENDA, 2013, p.14). Idade antiga Na idade antiga o feito foi a descoberta da escrita. Os egípcios criaram os símbolos e sinais hieróglifos e, provaram diversas habilidades referenciadas nas tumbas faraônicas, nas estátuas de divindades, e outros artefatos de seu cotidiano. Os gregos eram talentosos em pinturas, monumentos e edificações, consideravam como o centro da perfeição - o homem. Os romanos eram mestres na arquitetura, erguiam suntuosas Estética e História da Arte34 construções, e as artes Paleocristã (calcada na doutrina cristã) e Bizantina (manifestações artísticas do Império Bizantino - séculos V e XV) eram fontes de inspiração. Mas, o efeito religioso era incalculável, impulsionando outras expressões artísticas: Celtas, Góticos e Romanos. A arte Celta (Idade do Bronze – Idade Média –século V a. C ao século I d. C.) foi desenvolvida em metal operando o alumínio, o ouro, a prata e o bronze. A produção era voltada para diversos segmentos da sociedade, a bélicas (escudos, armaduras), religiosas (pinturas, esculturas, amuletos), domésticas e estéticas (adereços pessoais) e a técnica era de origem abstrata e geométrica. A ascendência da cultura celta foi trazida dos ornamentos medievais e do Noroeste Europeu. O estilo Gótico (Baixa Idade Média século XII) foi intitulado “gótico” por representar uma obra de valor depreciado, persistiu até o Renascimento. Sob forte domínio do povo bárbaro que invadiu e saqueou Roma, em 410, daí o motivo da rejeição a esse gênero artístico, passado algum tempo conseguiu amenizar a condição desonrosa alinhando-se à arquitetura dos arcos curvilíneos. Os grupos dominavam a geometrização e a matemática. A arquitetura foi a substancial relevância da arte gótica, totalmente atrelada à pintura e à escultura. Revisaram o conceito das paredes, proporcionando leveza e espessuras mais finas, introduziram luz no espaço, assim como, um maior número de janelas e, abertura para um espaço mais livre e luminoso. A luminosidade mística idealizava a transcendência e a condução para a introspecção com o sobrenatural. A mandala (símbolo da harmonia) substitui o horizontalismo românico pela verticalidade gótica. Estética e História da Arte 35 Figura 8: Mandala Fonte: ©Wikimedia Commons Também designada de arte das catedrais, reagiu ao estilo românico entrando em choque com os mosteiros e basílicas da época, período de ascensão econômica e do crescimento das cidades. Antes, a vida da população concentrava-se no campo e os mosteiros nas regiões voltadas ao engrandecimento intelectual e artístico. O historiador Burke (1999, p.64) diz que Para as artes visuais florescerem no Renascimento era preciso um ambiente urbano. Nos séculos XV e XVI, as regiões mais altamente urbanizadas da Europa Ocidental localizavam-se na Estética e História da Arte36 Itália e nos Países Baixos, e essas foram as regiões de onde veio grande parte dos artistas. Como exemplo, entre os anos de 1137 e 1144, foi edificada a basílica de personalidade gótica, com fachada de três portais e acesso às três naves dentro da igreja. Contudo, a Arte Gótica se aproximou do reconhecimento comercial e urbano e desenvolvimento das rotas comerciais, consequentemente a ampliação das cidades após a consolidação das monarquias juntamente com o amparo dos fiéis (burguesia) que contribuíam para a concretude das magníficas obras. De outro lado, a Igreja satisfeita com as construções das catedrais e com as doações da mesocracia batizou a arte gótica como o “triunfo das cidades”, exaltando a graça suprema subsidiada pela religiosidade. A arte romana (Antiga Roma séculos VIII a. C.- IV d. C) ressaltou sua importância na arquitetura por meio de edificações grandiosas. Se preocupavam intensamente com aspectos sobre a utilidade, a funcionalidade e a praticidade de suas obras artísticas. Influenciada pela cultura e pelas crenças gregas, em especial a mitologia grega. Na arquitetura se sobressaiu em suas edificações magníficas, estruturadas em bases circulares e no uso de pseudos arcos e colunas na fase de ornamentos. Os aquedutos, as entradas e as muralhas concentram a arte da civilização romana, evidenciando para o mundo sua majestade. Paralelamente, o interior funcional de sua arquitetura acordava harmoniosamente com o belo instalado nas edificações romanas, como: teatros, basílicas, templos religiosos, palácios, estradas e pontes que facilitavam o trânsito de pessoas e o tráfego comercial. SAIBA MAIS: Para conhecer um pouco mais da arte barroca, assista ao filme A caverna dos sonhos esquecidos. Nele você verá Estética e História da Arte 37 Idade moderna A Idade Moderna foi o período das descobertas geográficas. As obras artísticas assentavam-se na natureza. O Renascimento reviveu a arte greco-romana com a pintura. O Barroco valorizou sentimentos e emoções, o estilo sofreu influência da Reforma Protestante e contrarreforma. O Rococó foi a fase de predileção dos traços decorativos para a decoração e ornamentação dos ambientes. Idade Contemporânea A Idade Contemporânea presenciou sérios conflitos como a Revolução Francesa (1789-1799 ); Primeira Guerra Mundial (1914-1918); Segunda Guerra (1939-1945); Guerra Fria (1947-1953). Momento histórico em que os artistas soltaram a voz em movimentos como: Neoclassicismo (manifestação artística oriunda da Europa Ocidental por volta do século XVIII - XIX); Romantismo (movimento artístico, político surgido na Europa em meados do século XVIII-XIX); Realismo (movimento artístico surgido na Europa no final do século XIX); Impressionismo (movimento artístico surgido no século XIX) ressignificando a arte do século XX. A Arte do século XX nasceu com fortes tendências culturais como: Expressionismo: movimento artístico oriundo da Alemanha entrosou-se na arquitetura, artes plásticas, literatura, música, cinema,teatro, dança e fotografia; SAIBA MAIS: Para conhecer um pouco mais sobre a Arte Contemporânea, assista ao filme O que é arte contemporânea? Estética e História da Arte38 Fauvismo: ou fovismo, movimento artístico oriundo da França só foi reconhecido em 1905. Suas peculiaridades são: representação do mundo, cores vibrantes; minimização na linguagem da pintura; forma pincelada. Figura 9: Círculo cromático Fonte: ©Pixabay Cubismo: movimento artístico oriundo da França. Enfático nas artes plásticas, literatura e poesia. Sua fundação deve-se aos célebres Pablo Picasso e Georges Braque. Futurismo: movimento artístico iniciado em 1909 com a divulgação do Manifesto Futurista, pelo poeta italiano Filippo Marinetti, no jornal francês Le Fígaro. Suas características: distinção entre arte e design; marketing e comunicação. Estética e História da Arte 39 Abstracionismo: movimento artístico vinculado às vanguardas europeias. Suas características: ruptura artística com os arquétipos renascentistas; conectados à arte greco-romana; forma de arte que não representa objetos reais; prioriza cores, linhas e superfícies.; Dadaísmo: movimento artístico oriundo da Suíça, conhecido também como dadá. Suas particularidades: obras visuais e literárias fundadas no acaso, no caos; inverso à arte tradicional. Assim, como a “Receita para fazer uma poesia dadaísta” (TZARA, 1963). TESTANDO: Que tal você praticar um pouco? Vamos lá? Vamos fazer... Prepare alguns materiais, como: • um jornal. • uma tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. • Recorte o artigo. • Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. • Agite suavemente. • Tire em seguida cada pedaço um após outro. • Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público. Surrealismo: um movimento artístico oriundo de Paris. Suas particularidades: crença no inconsciente, do instinto e do desejo; ênfase nos valores morais, éticos, estéticos, políticos, científicos e filosóficos. Esses movimentos presentearam o mundo com esplendorosos artistas e obras notórias, reconhecendo na História da Arte um processo contínuo, inacabado e infinito. A cada instante, uma ideia nova, a cada Estética e História da Arte40 tempo novas concepções, novos manifestos ou novas entonações artísticas, afinal História é vida. “Nós afirmamos que a magnificência do mundo foi enriquecida por uma nova beleza: a beleza da velocidade: Um carro de corrida cuja capota é adornada com grandes canos, como serpentes de respirações explosivas de um carro bravejante que parece correr na metralha é mais bonito do que a Vitória da Samotrácia.” (LE FIGARO, 1909). SAIBA MAIS: Assista ao filme Meia noite em Paris. RESUMINDO: Neste capítulo, compreendemos como a arte transforma- se na relação com o pensamento dos artistas e com o contexto histórico e cultural. Conhecemos as suas expressões culturais e artísticas e a dinâmica mutacional pela qual passam, e a relação com o tempo e o espaço em que surgem. Estética e História da Arte 41 REFERÊNCIAS ARGAN, Giulio Carlo. Guia de história da arte. 1ª edição. Editorial Estampa. 1994. BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2008. BAYER, Raymond. História da estética. 1ª edição. Editora Estampa. 1979. GOMBRICH, Ernst. A História da Arte. 18ª edição. Editora LTC. 2000. COMPLEMENTAR: BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação: conflitos acertos. São Paulo: Max Limonad,1985. DANTO, A. C. Após o Fim da Arte. São Paulo: Odisseus/Edusp, 2006. DEBORD, Guy. (1967) A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro, Ed. Contraponto, 1985. ... - Veja mais em https://gvcult.blogosfera.uol.com. br/2016/09/21/por-que-e-irrelevante-entender-a-arte-do-nosso- tempo-va-as-compras/?cmpid=copiaecola DIDI-HUBERMAN, Georges. Ante el tiempo. Historia del arte o anacronismo de lasimagenes. Trad.: Oscar Antonio Oviedo Funes. Buenos Aires, Adriana Hidalgo editora, 2006. DIDI-HUBERMANN, Georges. ATLAS ¿Cómo llevar el mundo a cuestas? Madri: T.F. 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Estética e História da Arte Daniela Cunha Blanco Aspectos culturais e artísticos A Arte no Tempo: cultura e propósitos artísticos História da arte: saberes e método A Arte Renascentista O significado social do vestuário A Arte Barroca Expressões culturais e artísticas e os tempos históricos Pré-História Idade antiga Idade moderna Idade Contemporânea
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