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2021.2 – MED UNIFTC Laís Sena Turma A | TUT 04 | 5º Semestre Fisiologia hepática o O fígado adulto normal pesa de 1.400 a 1.600g. Ele possui suprimento sanguíneo duplo, com a veia porta fornecendo 60-70% do fluxo sanguíneo hepático e a artéria hepática fornecendo 30-40% restantes. Elas entram no fígado através do hilo e lá no interior do fígado vão se ramificando, juntamento com os ductos biliares, para formar os tratos portais. o A unidade funcional do fígado são os hepatócitos. São funções desempenhadas por essas células: Produção dos fatores de coagulação; produção de albumina e colágeno (proteínas estruturais que fazem parte das células); síntese de colesterol, glicogênio, sais biliares; detoxificação de álcool, drogas e toxinas, amônia; excreção de sais biliares; estocagem de carboidratos, vitaminas, lipidios, Fe++, Cu++. • Microarquitetura lobular o A terminologia mais comum se baseia no modelo lobular, no qual a unidade estrutural básica é o lóbulo hepático, representado como um hexágono e seus vértices são o trato portal (ramos da artéria hepática, da veia porta e canalículos biliares). O centro é a veia centro lobular. o Dentro do lóbulo, os hepatócitos são organizados em lâminas ou “placas” anastomosantes, que se estendem dos tratos portais até as veias hepáticas terminais. Entre as placas trabeculares de hepatócitos estão os sinusoides vasculares. O sangue atravessa os sinusoides e passa para as veias hepáticas terminais por meios de fenestrações (numerosos orifícios na parede da veia). Os hepatócitos são, dessa maneira, banhados nos dois lados por sangue venoso portal (com substâncias absorvidas do TGI) e arterial hepático. Os sinusóides são revestidos por células endoteliais fenestradas. o Abaixo das células endoteliais, está localizado o espaço de Disse, que é um espaço virtual no qual são encontradas as células estreladas. • Células estreladas o Na sua forma de repouso (quiescente), ela é uma célula que armazena lipídio (vitamina A). No entanto, em várias formas de lesão aguda e crônica, independente da etiologia, elas podem ser ativadas e convertidas em miofibroblastos altamente fibrogênicos. o Na sua forma ativada, tem a função de: estimular a produção de fatores inibidores, colágeno e prometaloproteases o que contribui para o estímulo da fibrólise. Explicando a imagem: A ativação da célula de Kupffer leva à secreção de diversas citocinas, dentre elas o fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e o fator de necrose tumoral (TNF) que ativam as células estreladas, bem como a contração delas por meio da endotelina-1 (ET-1) A fibrose é estimulada pelo fator transformante do crescimento-beta (TGF-beta). o Com a ativação dessas células, o processo de fibrogênese se torna muito mais volumoso do que o processo de fibrólise. Quando ativada mudam sua conformação, como demonstrado na imagem anterior. o Se a lesão persistir, a formação da cicatriz é iniciada, sobretudo no espaço de Disse. Dessa forma, ele deixa de ser um espaço virtual e passa a ser um espaço com deposição de matriz extracelular (MEC) por conta da produção de colágeno e de produtos da ativação das células estreladas. o Ela possui longas extensões citoplasmáticas que podem regular o fluxo sanguíneo (porque com a deposição da MEC no espaço de Disse há fechamento dos sinusóides fenestrados) e a hipertensão portal. o A matriz fibrilar acumula-se no espaço subendotelial, com perda da microvilosidade dos hepatócitos, perda das fenestrações e menor acesso de substâncias carreadas por proteínas aos hepatócitos. Gastroenterologia Gastroenterologia Cirrose hepática Note a diferença no espaço de Disse entre a primeira e a segunda imagem. Definição Representa a via final comum de uma lesão hepática crônica e persistente, num indivíduo geneticamente predisposto e que, independentemente da etiologia da lesão, acarretará fibrose e formação nodular difusa, com desorganização da arquitetura lobular e vascular do órgão. Observação Existem condições que ocasionam fibrose hepática e não são chamadas de cirrose por não promoverem essa desorganização estrutural. Ex.: Esquistossomose hepática – desenvolve fibrose e alteração do espaço periportal, mas não desenvolve a desorganização da arquitetura. o Prevalência variável na dependência de fatores causais. o 10ª-12ª causa de morte no Brasil Etiologias o A grande causa de cirrose no mundo é a hepatite C, tem também a esteato-hepatite não alcoolica que é uma das principais causas nos EUA e tende a ser do mundo. Patogênese o Os principais achados morfológicos da cirrose hepática incluem fibrose difusa, nódulos regenerativos, arquitetura lobular alterada e estabelecimento de derivações vasculares intra-hepáticas. Outras características relevantes são capilarização dos sinusoides e fibrose perissinusoidal, trombose vascular e lesões obliterativas no trato portal e veias hepáticas. Juntas, essas alterações são responsáveis pelo desenvolvimento de hipertensão portal e suas complicações. o Há a deposição de colágeno I e II no espaço de Disse e perda das fenestrações dos sinusóides (capilarização dos sinusóides – gera alteração nas substâncias que chegam nas células hepáticas e muitos hepatócitos não vão sobreviver a essa alteração). A regeneração dos hepatócitos sobreviventes resulta em nódulos de regeneração. Observação: Lembram que a definição de cirrose envolve alteração vascular e lobular? Na patogênese podemos notar como essas alterações são formadas e quem são elas: o Alteração vascular: Capilarização dos sinusóides o Alteração lobular: Formação de nódulos de regeneração • Fibrose hepática e fibrogênese o A fibrose representa o acúmulo relativo e absoluto dos componentes da matriz extracelular, em detrimento do componente celular. Esse acúmulo de tecido conjuntivo no fígado decorre de uma maior síntese e/ou menor degradação desses componentes. o Os mecanismos que determinam a reparação do tecido ou sua progressão para a fibrose são mediados pelas citocinas decorrentes da necrose e da inflamação local, liberadas pelos linfócitos e monócitos/macrófagos, que podem efetivamente estimular ou inibir a proliferação, a síntese proteica e a movimentação das células responsáveis pela síntese do tecido fibroso (fibrogênese) e de sua degradação (fibrólise). o As células efetoras do processo são os miofibroblastos que regulam tanto a fibrogênese como a fibrólise. Esses miofibroblastos são originados primariamente pela ativação das células estreladas dos sinusoides ou dos fibroblastos portais, das células derivadas da medula óssea e também da transição epitelial mesenquimal. o Além de sintetizar as proteínas da matriz extracelular, as células estreladas estão diretamente associadas à degradação da matriz. Essa fibrólise depende da ativação das enzimas metaloproteases, como as colagenases. A atividade dessas enzimas é regulada por um sistema em que a ação das substâncias ativadoras das prometaloproteases é contrabalanceada pela ação de substâncias que poderiam inibir sua liberação ou bloquear diretamente sua atividade. o Dessa maneira, no caso de uma lesão hepática crônica, a progressão para a fibrose hepática ou para a reparação do tecido dependerá do tipo de estímulo desencadeado pela lesão e da genética do indivíduo. o Outros mecanismos fibrogênicos, além daquele mediado pelas citocinas, também podem ocorrer. Atualmente, tem sido estudado o papel do sistema de estresse oxidativo (EOx) hepático e da reduzida produção do oxido nítrico (ON), potente agente vasodilatador, na circulação porto- esplênica. Ambos teriam participação direta no processo fibrogênico, bem como na disfunção endotelial hepática que acompanha a progressão da doença até o estabelecimento da cirrose e da hipertensão portal (HP). ComplicaçõesAntes de falarmos do quadro clínico, é importante sabermos as complicações que esse paciente pode ter, pois muitas vezes ele apresenta essas complicações e por isso busca ajuda médica. São elas: o Insuficiência hepática (lesão celular): ® Irá comprometer as funções dos hepatócitos, gerando: Hipoalbuminemia (anasarca), icterícia (pode haver compressão dos canalículos biliares), fenômenos hemorrágicos (disfunção no papel do fígado na produção de proteínas de coagulação), síndrome hepatopulmonar e síndrome hepatorenal. o Hiperestrogenismo/hipoandrogenismo (já nas fases iniciais de cirrose): Hormônios advindos do colesterol serão comprometidos pois os hepatócitos produzem ele; o Carcinoma hepatocelular (CHC); o Obstrução das vias biliares: pela alteração da arquitetura; o Hipertensão hepática; o Encefalopatia hepática. • Hipertensão do sistema porta: ® A veia porta possui 5cm e é composta da junção das veias mesentérica superior, inferior e esplênica. Ela entra no fígado levando as substâncias absorvidas no TGI e os componentes devolvidos pelo baço para a circulação sistêmica. ® A hipertensão portal é uma síndrome clínica caracterizada pelo aumento da pressão no sistema porta (íntima relação com a alteração dos sinusóides hepáticos) com consequentes alterações hemodinâmicas, esplânicas e sistêmicas: ® Esplenomegalia congestiva; ® Varizes gastroesofágicas; ® Circulação colateral visível. o Definição técnica: Pressão na veia porta maior que 10mmHg (VR: 5-10 mmHg). o Para termos hipertensão portal temos que ter uma obstrução, ela pode ser pré-hepática, intra-hepática ou pós-hepática.Em qualquer uma dessas alterações há aumento do tônus vascular intra-hepático, o que leva a formação de derivações portossistêmicas. o Derivações portossistêmicas: Com a elevação da pressão no sistema porta, o fluxo é invertido da circulação portal para a sistêmica pela dilatação de vasos colaterais e pelo desenvolvimento de novos vasos. Os principais pontos são: ® As veias ao redor e no interior do reto (manifestados como hemorroidas), na junção gastroesofágica (produzindo varizes), no retroperitônio e no ligamento falciforme do fígado (envolvendo colaterais periumbilicais e da parede abdominal). Observação Lembrar que a circulação colateral pode ser visível ou invisível, já que a VP é formada por outras três veias que também serão afetadas por essa hipertensão. o Quando se tem derivação porto-sistêmica, necessariamente há vasodilatação esplâncnica por conta do mecanismo de obstrução a montante (antes da obstrução há engurgitamento para tentar vencer a obstrução). ® A vasodilatação arterial na circulação esplâncnica tende a reduzir a pressão arterial. Com o agravamento da vasodilatação, a frequência cardíaca e o débito cardíaco não conseguem manter a PA. Isso desencadeia a ativação de vasoconstritores, incluindo o sistema renina- angiotensina, e também aumenta a secreção do hormônio antidiurético. A combinação de HP, vasodilatação e retenção de sódio e água aumenta a pressão de perfusão dos capilares intersticiais, causando extravasamento de líquido para a cavidade abdominal. o Quadro clínico: Ascite, peritonite bacteriana espontânea (o líquido era inicialmente estéril, mas onde tem estase tem translocação de bactérias), hemorragia digestiva, encefalopatia hepática, esplenomegalia, síndrome hepatorenal e hepatopulmonar. Com relação a formação das veias colaterais, temos a síndrome Cruveilhier Baumgarten ou cabeça de medusa, na qual a formação ocorre nas veias esôfago-gástrica, retais e paraumbilicais. Na circulação hiperdinâmica, há aumento da volemia, aumento do débito cardíaco, queda PA o que repercute muito sistemicamente na perfusão renal, cardíaca com comprometimentos com achados de alteração de eletrólitos, alterações de função renal, entre outros. o Ascite: Consiste no acúmulo de líquido na cavidade peritoneal. É o resultado do processo de alteração hemodinâmica sistêmica, pois há alteração do volume de débito cardíaco que chega até os órgãos centrais, o que resulta em uma transudação do plasma. ® Manejo: Primeiro temos que identificar o GASA (gradiente albumina soro - albumina ascite). Todo paciente que chega com HP, independente da etiologia, e com ascite deve ser estudada essa ascite pois ele fala a favor ou contra determinadas patologias. Então faz a paracentese (5ml é suficiente), manda para a análise e também colhemos a análise do sangue para ver a quantidade de albumina no soro. Quando chegarem os resultados deve- se diminuir o valor da albumina do sangue da albumina do liquido ascítico, dependendo do valor pode-se inferir se a ascite é de causa hepática ou não hepática. OBS.: Tabela 2 está com valor errado, a peritonite bacteriana espontânea é ATÉ 250 células PMF e a secundária é acima de 250 células. ! PBE é ascite de causa HEPÁTICA. PBS é ascite de causas NÃO-HEPÁTICAS. Paciente com ascite tem mais risco de sangramento (circulações colaterais) e de fazer PBE. o Método diagnóstico de escolha: USG de abdome superior com doppler de vasos portais, no caso do paciente não se apresentar com os sintomas citados acima. • Encefalopatia hepática o Conjunto de manifestações psíquicas e neurológicas em hepatopatias crônicas, excluídas outras causas. o Diagnóstico diferencial para AVC, tumoração e intoxicação exógena, pois podem gerar o mesmo quadro clínico. o Teoria: Acúmulo de substâncias nitrogenadas (amônia) de origem intestinal (ação de bactérias, subprodutos protéicos) afetariam a função cerebral (é considerado um distúrbio de neurotransmissão no SNC). A amônia também vai interferir nos músculos, rins ... o Classificação de West – Haven o Tratamento: Dieta zero + lactulose (laxante osmótico para lavar o trato digestivo e tentar diminuir a capacidade absortiva das substâncias nitrogenadas do intestino) + metronidazol ou eritromicina VO (para ação local, diminuirá quantidade de bactérias da flora intestinal pois muitas vezes são elas que produzem amônia como subproduto do seu processo de nutrição intestinal). A melhora do paciente é ao longo de alguns dias. ® Muitas vezes usamos a sonda nasogástrica para fazer essas coisas no paciente. Diagnóstico o O diagnóstico da cirrose é, antes de tudo, anatomopatológico; o A forma mais correta de fazê-lo seria por meio da biópsia do fígado, com agulha. ® Entretanto, em decorrência das alterações da coagulação que esses pacientes apresentam e pelas alterações vasculares hepáticas e peri-hepáticas, há elevado risco de complicações desse procedimento. o Em alguns pacientes, alterações encontradas no exame físico, e/ou nos exames de imagem e endoscópicos tornam a biópsia desnecessária. Nesses casos, apenas uma dúvida etiológica poderia justificar o emprego de uma biópsia por via laparoscópica ou transjugular. ® Exames físico: hepatoesplenomegalia, com fígado nodular, sinais periféricos de insuficiência hepática. ® Exame de imagem: alteração da ecogenicidade e retração do parênquima com superfície nodular e os sinais de hipertensão portal. ® Exame endoscópico: Varizes esofágicas o 45% dos casos é feito por exames clínicos ou complementares solicitados em decorrência de sintoma não relacionado à hepatopatia (investigação de causa aleatória); como exemplos: ® Elevação da aminotransferase sérica e plaquetopenia em exames rotineiros; ® Varizes esofagianas encontradas em EDA para pesquisa dispépticas; ® Sinais de hepatopatia em exames ultrassonográficos ou topográficos, solicitado para investigar outras lesões abdominais ou na propedêutica de dor abdominal; o O quadro clássico não está presente na maioria das pessoas. o De acordo com as formas clínicas de apresentação, os pacientes cirróticos podem ser classificados em compensados ou descompensados (presença de ascite, encefalopatiae/ou icterícia) ou, ainda, por meio de critérios clínicos e laboratoriais. o A classificação denominada MELD isolada ou associado à concentração sérica de sódio plasmático é considerado o melhor preditor de sobrevida nesses pacientes e tem sido adotado mundialmente como critério de alocação de órgãos para transplante hepático. (Tem calculadora para ele) • Marcadores não invasivos o Em função dos riscos da biópsia, vários marcadores não invasivos têm sido empregados no estudo dos pacientes hepatopatas, e é exatamente nos cirróticos que eles têm encontrado sua melhor aplicação. ® Biomarcadores diretos: aqueles envolvidos com a síntese e a degradação da matriz extracelular, como ácido hialurônico (sérico), pró-colágeno tipo III, metaloproteases etc. ® Biomarcadores indiretos: compostos por parâmetros não diretamente relacionados à matriz, mas que refletem as alterações bioquímicas da fibrose, como a relação AST/ALT >1; Indice APRI > 2 (AST e plaquetas); Fibrotest (haptoglobina, bilirrubinas, GGT, alfa2 macroglobulina e apolipotn A1); US Fibroscan(elastograma) que é um tipo de ultrassom que nos fornece a informação de fibrose e permite que se identifique precocemente de cirrose hepática. • Exames laboratoriais: o AST e ALT geralmente normais ou moderadamente elevadas e a relação AST/ALT>2 sugere hepatite de etiológia alcólica; o FAL e GGT aumentam nas doenças hepáticas colestáticas e são normais nas lesões hepatocelulares. o Bilirrubinas tem valores elevados, pela fração direta -> mau prognóstico. o Albumina é uma proteína sintetizada exclusivamente no fígado, sendo sua dosagem importante na definição da gravidade da cirrose. o O tempo de protombina evidencia grau de disfunção na sítese hepáticas. o Hipergamaglobunemia, pois o shunt de sangue venoso portal no intestino estimula a produção de imunoglobulinas, especialmente de IgG para proteger o organismo que está sofrendo com aquela restruturação lobular. o Pancitopenia devido ao hiperesplenismo secundário (baixa de leucócitos e plaquetas) e anemia multifatoral (baixa de folato e álcool, sangramentos). Tratamento o Tratamento da doença de base ® hepatites virais e hepatite autoimune sem hipertensão portal e sem retração tem chance reversibilidade da cirrose. o Em caso de sangramento digestivo, fazer tratamento próprio da causa do sangramento. (VIDE RESUMO SOBRE HEMORRAGIA DIGESTIVA) o Não há droga antifibrogênica: alguns recomendam antioxidantes (vit. E, metionina sulfatada), mas sem comprovação científica.
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