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MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 1 GESTÃO DA PRODUÇÃO E OPERAÇÕES Prof. MSc. Jailson Ribeiro 18 e 19.6.16 MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 2 Prezado(a)s pós-graduandos do MBA em Gestão Empresarial e Logística, É com alegria que recebemos essa missão de desenvolver a disciplina Gestão da Produção e Operações, visando alavancar competências no curso. É chegado o momento de promover a sinergia dos conhecimentos adquiridos, das habilidades desenvolvidas e das novas atitudes e formas de enxergar o mundo, o mercado e porque não dizer – as pessoas. Alguns jargões rondam as nossas mentes quando o assunto em questão é gestão da produção e operações, sobretudo porque já a partir deste conceito percebemos o lado real de que a produção acontece tanto em ambientes de manufatura quanto de serviços, e não apenas no chão de uma fábrica, então nesse módulo busca-se quebrar o paradigma de que não há produção nas escolas, nos hospitais, nas entidades educacionais, nos bancos, entre outros. Outra premissa é compreender que o ambiente produtivo envolve inúmeras operações, recursos físicos e pessoas, remetendo a uma complexidade de competências para se estruturar, onde se destacam a inovação, a qualidade e a busca da sustentabilidade. Desta forma, procura-se compilar dados e informações, bem como experiências e casos empresariais, que possam ambientar as decisões de operações, tanto em manufatura quanto em serviços. Assim, gostaria de compartilhar de vossas companhias, saberes e direcioná-los para o objetivo de otimizar os sistemas produtivos e de operações, desenvolvendo competências voltadas a eficiência, eficácia e efetividade. Sucesso para todo(a)s, Jailson Ribeiro MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 3 PLANO DE ENSINO 1. IDENTIFICAÇÃO CURSO: MBA em Gestão Empresarial DISCIPLINA: Gestão da Produção e Operações PROFESSOR: MSc. Jailson Ribeiro de Oliveira – jailsonribeiro@gmail.com PERÍODO CARGA HORÁRIA TEÓRICA PRÁTICA NÃO PRESENCIAL TOTAL 16 8 24 2. EMENTA Fluxo produtivo: Conceitos, características e objetivos; Evoluções recentes e tendências da Administração da Produção; A administração estratégica da produção; Projeto da rede e operações produtivas; Planejamento, acompanhamento e controle da produção; Papel estratégico dos sistemas de administração da produção − Qualidade total (melhoria contínua, zero defeito, sistema kanban, produção enxuta), Just-in-time, MRP II, OPT, seis sigma; Arranjo Físico e Fluxo das Operações; Planejamento e controle da Cadeia de Suprimentos; Relações do sistema de produção com outras empresas: produção em rede e parcerias; Análise do fluxo produtivo da empresa e discussão de alternativas e Sistemas de informações gerenciais na Produção. 3. OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Desenvolver as competências de analisar os sistemas produtivos, bem como diagnosticar e implementar os métodos que levem a eficiência e eficácia dos processos. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Compreender as decisões de produção; Diferenciar as operações de manufatura e serviços; Conhecer métodos para eficiência e eficácia da produção; Diagnosticar sistemas produtivos. mailto:jailsonribeiro@gmail.com MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 4 4. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Estratégia de qualidade e serviços Sistema de gestão da qualidade Estratégias de produção e serviços Fatores determinantes da competitividade 5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A metodologia de trabalho foi dividida em cinco estratégias, conforme a seguir: - Aula expositiva de conteúdos estruturantes; - Apresentação de vídeos empresariais alocados a aplicação dos conteúdos; - Leitura e discussão de estudos de casos práticos em grupos; - Vivências de situações empresariais e decisões – debate de operações; - Visita técnica. 6. ATIVIDADES DISCENTES Exercícios Resolução de casos empresariais Debates em sala 7. PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO Serão considerados os seguintes indicadores para efeito de avaliação (nota): - 20% resultante da participação (assiduidade mais contribuições); - 30% resultante dos estudos de caso presenciais e respondidos no dia; - 50% resultante da Prova ser realizado no domingo a partir das 16h20. 8. REFERÊNCIAS 11.1 REFERÊNCIAS SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JONHSTON, R. Administração da Produção. 3. ed São Paulo: Atlas, 2009. CORRÊA, C.; CORRÊA, C. Administração de Produção e Operações. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2008. 11.2 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES SINK, D. Scott. Productivity management: planning, measurement and evaluation, control and improvement. New York, John Wiley, 1985. SLACK, N.; CHAMBERS, R. JONHSTON, S. Administração de Produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 5 HECKERT, Cristiano Rocha; SILVA, Márcia Terra da. Qualidade de serviços nas organizações do terceiro setor. Produção. v.18 n.2 São Paulo 2008. SILVA, Eliciane Maria da; SANTOS, Fernando César Almada. Análise do alinhamento da estratégia de produção com a estratégia competitiva na indústria moveleira. Produção, v.15 n.2 São Paulo maio/ago. 2005 CORREIA, Luís Cláudio da Conceição. MÉLO, Maria Auxiliadora do Nascimento. MEDEIROS, Denise Dumke de. Modelo de diagnóstico e implementação de um sistema de gestão da qualidade: estudo de um caso. Produção. v.16 n.1 São Paulo jan./abr. 2006. GONZALEZ, Rodrigo Valio Dominguez; MARTINS, Manoel Fernando. Melhoria contínua no ambiente ISO 9001:2000: estudo de caso em duas empresas do setor automobilístico. Proução. vol.17, no.3, São Paulo Dez 2007. GARTNER, Ivan Ricardo; GARCIA, Fabio Gallo. Criação de valor e estratégia de operações: um estudo do setor químico e petroquímico brasileiro. Gestão da Produção. Dez 2005, vol.12, no.3, p.459-468. ISSN 0104-530X MAIA, Jonas Lucio; CERRA, Aline Lamon; ALVES FILHO, Alceu Gomes Inter- relações entre Estratégia de Operações e Gestão da Cadeia de Suprimentos: estudos de caso no segmento de motores para automóveis. Gesão e Produção. vol.12, no.3, Dez 2005. Artigos do ILOS - Instituto de Logística e Supply Chain (ex CEL - Centro de Estudos em Logística) - http://www.ilos.com.br/site/index.php Artigos da EXAME - http://portalexame.abril.com.br Artigos da HSM - http://br.hsmglobal.com/contenidos/hsmmanagement.htm Artigos da Revista Tecnologística - http://www.tecnologistica.com.br Artigos da Revista Logística – http://www.imam.com.br/logistica/revista Cases da ESPM - http://www.espm.br/ConhecaAESPM/Publicacoes/CentralDecases http://br.hsmglobal.com/contenidos/hsmmanagement http://www.tecnologistica.com.br/ http://www.imam.com.br/logistica/revista MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 6 1 ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO A Administração da Produção é uma atividade que atinge a todos os ramos de organizações (indústria, comércio e serviços); ela está em todos os setores da organização. Sua dinâmica de operacionalização ocorre através da utilização das funções básicas da administração (Planejar, Organizar, Comandar, Controlar e Coordenar), com o objetivo de promover com êxito as atividades inerentes à empresa. Administração da produção ou de operações é a função administrativa responsávelpela produção de bens e serviços. Segundo Slack (1996, p.34), a produção é a função central das organizações já que é aquela que vai se incumbir de alcançar o objetivo principal da empresa, ou seja, sua razão de existir. A função produção se preocupa principalmente com os seguintes assuntos: Estratégia de produção: as diversas formas de organizar a produção para atender a demanda e ser competitivo; Projeto de produtos e serviços: criação e melhora de produtos e serviços; Sistemas de produção: arranjo físico e fluxos produtivos; Arranjos produtivos: produção artesanal, produção em massa e produção enxuta; Ergonomia; Estudo de tempos e movimentos; Planejamento da produção: planejamento de capacidade, agregado, plano mestre de produção e sequenciamento; Planejamento e controle de projetos. O processo produtivo consiste na transformação de entradas (de materiais e serviços) em saídas (de outros materiais e serviços). A Transformação consiste no uso de recursos para mudar o estado ou condição de algo para produzir saídas. A maioria das operações produz tantos produtos como serviços. Os processos de transformação podem ser de vários tipos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Transforma%C3%A7%C3%A3o MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 7 De materiais - processam suas propriedades físicas (forma, composição, características), localização (empresas distribuidoras ou de frete) ou posse (empresas de varejo); De informações - processam a forma da informação (ex. contadores), localização (ex. empresa de telecomunicações) ou posse (ex. consultoria, serviços de notícias, etc); De consumidores – processam condições físicas (ex. médicos), de localização (acomodação: ex. hotéis), de estado psicológico (indústria do entretenimento), etc. A gerência de operações trata de operações produtivas, que tipicamente se diferem em quatro variáveis: Volume - Em sistemas de grande volume de produção (por exemplo, os sistemas da lanchonete McDonalds), há um alto grau de repetição de tarefas. Isso possibilita a especialização de trabalhadores, e a sistematização do trabalho (procedimentos-padrões estão estabelecidos em um manual, com instruções de como cada parte do trabalho deve ser feita) e de ferramentas (ex. fogões e frigideiras especializados para o McDonalds). A implicação mais importante disto é o custo unitário baixo, pois no mínimo, os custos fixos são diluídos em um grande número de produtos. Em sistemas com baixo volume de produção (por exemplo, um restaurante pequeno), há um número pequeno de funcionários, e não há grande repetição de tarefas. Isso pode ser mais gratificante para o funcionário, mas é prejudicial à sistematização. Além disso, o custo unitário é bem mais alto, pois é pouco diluído. O capital exigido, no entanto, é intensivo. Variedade- Confronta produtos ou serviços altamente padronizados (analogia: ônibus, com rotas estabelecidas) com outros produtos e serviços altamente flexíveis e customizáveis (analogia: táxi, que pode seguir infinitas rotas). O que é padronizado tem custos mais baixos e pode ter uma taxa de erros menor (e por consequência, uma qualidade maior); Variabilidade (de demanda) - Contrapõe negócios de alta variação de demanda (demanda instável – por exemplo, um resort que fica cheio na alta http://pt.wikipedia.org/wiki/McDonalds http://pt.wikipedia.org/wiki/Especializa%C3%A7%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Sistematiza%C3%A7%C3%A3o&action=edit&redlink=1 http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Custo_unit%C3%A1rio&action=edit&redlink=1 MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 8 temporada, mas vazio na baixa) com negócios de demanda estável (por exemplo, um hotel na frente de uma rodoviária movimentada). O custo unitário de primeiro caso é maior, e ele deve se adaptar para contratar funcionários temporários, etc; Visibilidade - Depende do quanto da operação é exposto para os clientes. Operações de alto contato (ex. varejo de material de construção) exigem funcionários com boas habilidades de interação com o público. Operações de baixo contato (ex. vendas por catálogo, ou via web) exigem funcionários menos qualificados, e pode ter alta taxa de utilização por isso, tem custos mais baixos. Visibilidade baixa tolera prazos de entrega mais longos, e por isso podem trabalhar com menor estoque. Há operações de visibilidade mista: algumas microoperações são de alta visibilidade, outras de baixa. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 9 2 ESTRATÉGIA DE OPERAÇÕES Diferentes denominações vêm sendo utilizadas, em momentos diferentes, na literatura sobre Estratégia de Operações (EO): inicialmente, "estratégia de manufatura", evoluindo para "estratégia de produção" e, atualmente, para "estratégia de operações". Estas expressões diferentes não decorrem, entretanto, de mudanças nos conceitos e fundamentos teóricos, tendo as duas últimas sido propostas de modo a abarcar as aplicações também na gestão de serviços, além de na gestão da manufatura. É atribuída a William Skinner a elaboração do conceito inicial sobre este assunto, por meio de seu artigo "Manufacturing – Missing Link in Corporate Strategy" (Skinner, 1969). Para o autor, a relação entre a estratégia da empresa e a manufatura não era facilmente compreendida, embora a política de produção necessitasse ser especificamente projetada para atender às necessidades definidas como estratégicas. Diversas definições para o conceito de Estratégia de Operações podem ser encontradas na literatura, cada uma enfocando um aspecto particular da gestão de operações, ou uma escola de pensamento a respeito de estratégia. Será aqui adotada a definição de Hayes et al. (2004), para os quais "a estratégia de operações é um conjunto de objetivos, políticas e restrições auto-impostas que conjuntamente descrevem como a organização se propõe a dirigir e desenvolver todos os recursos investidos nas operações, de forma a melhor executar (e possivelmente redefinir) sua missão". Na definição acima apresentada, podem ser identificadas duas orientações estratégicas distintas, porém complementares. Quando os autores comentam sobre objetivos e políticas, direcionamento de investimentos e execução da missão, estes se pautam na escola de planejamento estratégico – um processo formal e top-down que abrange o plano estratégico, tático e operacional (OLIVEIRA, 2001). MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 10 No entanto, quando tratam de restrições auto-impostas e redefinição de missão, estes se referem às competências estudadas pela visão baseada em recursos (RBV - Resource Based View). A RBV advoga que as competências e recursos intangíveis das empresas são as origens da vantagem competitiva, sendo que tais recursos e competências desenvolvidos no presente e no passado condicionarão o direcionamento estratégico do futuro (COLLIS e MONTGOMERY, 1995). Sob a ótica do planejamento estratégico, a Estratégia de Operações é uma estratégia funcional e, portanto, deve promover sustentação à estratégia competitiva. Dado o fato de os elementos que compõem o sistema produtivo terem de ser concebidos para atingir determinados fins e realizar determinadas tarefas, estratégias competitivas diferentes poderão exigir configurações distintas do sistema de produção. Neste sentido, cada tipo de estratégia demanda certas tarefas da produção e especificadeterminados objetivos, os quais são conhecidos por "prioridades competitivas" e foram inicialmente identificados por Skinner (1969) como sendo produtividade, serviço, qualidade e retorno sobre investimento. Em trabalhos subseqüentes, outros autores apresentaram diferentes combinações de prioridades como, por exemplo, custo, qualidade, confiabilidade e flexibilidade (Hayes e Wheelwright, 1984; Ward e Duray, 2000; Kathuria, 2000; Demeter, 2003). A este conjunto, Hill (2000); Slack, Chambers e Johnston (2002) adicionaram uma dimensão relativa à velocidade, e Dangayach e Deshmukh (2003) contemplaram ainda o aspecto inovação. Embora o aspecto velocidade seja aqui considerado, a inovação será tratada como agente facilitador das outras prioridades competitivas, possibilitando, por exemplo, ampliar a flexibilidade de introdução de novos produtos, reduzir custos por meio do reprojeto de processos, etc. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 11 Diante destas considerações, o modelo de prioridades aqui adotado é o de Garvin (1993), que apresenta as prioridades como sendo custo, qualidade, entrega, flexibilidade e serviço. Este modelo, com ampla aceitação na literatura, ainda desdobra as prioridades competitivas em várias subprioridades. As prioridades competitivas variam conforme as diferentes circunstâncias competitivas e a estratégia da empresa. Além disso, não há um consenso sobre quais devam ser os conjuntos delas que orientam a implementação da estratégia de operações. Segundo Nogueira (2002), um aspecto importante a ser considerado quando se projeta ou opera um sistema de produção é a necessidade da realização de trade- offs. Variáveis como custo, qualidade, flexibilidade, entrega e serviço ao cliente colocam a administração constantemente diante de situações de decisão em que escolhas (por uma ou por algumas poucas prioridades) são inevitáveis. A realização de trade- offs está associada às áreas de decisão estrutural e infra-estrutural. De acordo com Skinner (1969), o fundamental na tomada de decisão é garantir que a alternativa selecionada seja apropriada às tarefas da manufatura determinada pela estratégia competitiva da empresa. A proposição da necessidade de realização de trade-offs tem sido responsável por umas das principais controvérsias existentes na literatura relativa ao conceito de estratégia de operações. Como exemplo desta discordância, diversos autores desenvolvem e advogam suas idéias em pelo menos três diferentes correntes de pensamento: a visão tradicional, a cumulativa e a integrativa (BOYER e LEWIS, 2002). A visão tradicional de trade-offs segue a linha de pensamento de Skinner (1969), para quem as escolhas entre enfatizar uma ou outra prioridade competitiva serão inevitáveis, nas mais diversas circunstâncias. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 12 Na visão cumulativa, Ferdows e De Meyer (1990) criticam a visão tradicional a respeito de incompatibilidades entre as prioridades competitivas. Esses autores, a partir de uma pesquisa que desenvolveram na década de oitenta em empresas européias, japonesas e norte-americanas, verificaram que várias empresas estavam obtendo bons desempenhos em algumas das prioridades competitivas ao mesmo tempo. Baseados nesta pesquisa, eles puderam propor o "modelo do cone de areia", em que as capacidades poderiam ser acumuladas e "construídas" umas sobre as outras. Buscando uma combinação das duas visões anteriores, a visão integrativa prega que os elementos de ambos os pontos de vista são aplicáveis. O "modelo pivô" de Da Silveira e Slack (2001), apresentado na figura seguinte, é um exemplo de abordagem integrativa. Para estes autores, existem certas escolhas a serem realizadas entre as prioridades (como os dois extremos de uma gangorra), mas o acúmulo de competências faz com que todas as prioridades competitivas tenham seus níveis absolutos aumentados (elevando a altura do pivô da gangorra). Também adotando a visão integrativa, Hayes et al. (2004) comentam a existência de trade-offs de primeiro (impacto no presente) e segundo (impacto no futuro) graus. Desta forma, as escolhas estratégicas realizadas no presente não somente direcionarão as operações hoje, mas condicionarão as possibilidades de estratégias MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 13 no futuro, em um fenômeno conhecido como "dependência de trajetória" (do inglês, path dependence). Assim, pode-se considerar que os trade-offs continuam sendo um elemento importante na teoria a respeito da estratégia de operações, embora tenham ocorrido, nos últimos trinta anos, significativas mudanças tecnológicas, surgido novas demandas da sociedade, mudado os perfis dos consumidores e ocorrido ainda outras mudanças no ambiente que afetaram o projeto e a operação dos sistemas produtivos e, assim, a natureza e os tipos de objetivos da produção. As prioridades competitivas refletem necessidades da estratégia competitiva e apontam para determinados objetivos a serem atingidos pelo sistema produtivo. Para esses objetivos serem alcançados, é necessário o desenvolvimento de um padrão de ações relacionadas a um conjunto de áreas de decisões. Em seu trabalho inicial, Skinner (1969) exemplificou escolhas possíveis em cinco áreas de decisão: Planta e equipamento, Planejamento e controle da produção, Mão-de-obra e estrutura administrativa, Projeto do produto/engenharia, e Organização e administração. A partir da proposição de Skinner, Hayes et al. (1988) propuseram uma nova classificação, com dez áreas de decisão, agrupadas sob duas categorias: estruturais e infra-estruturais. As decisões estruturais possuem impactos a longo prazo, sendo difíceis de serem revertidas ou modificadas e exigem vultosos investimentos de capital. As decisões de natureza infra-estruturais estão relacionadas a aspectos mais operacionais do negócio, possuindo resultados tanto a curto, como a médio e a longo prazo. O corpo teórico de estratégia de operações até aqui apresentado é fortemente pautado pela teoria de planejamento estratégico. No entanto, segundo Schroeder et al. (2002), a visão baseada em recursos pode abordar várias das deficiências desta abordagem tradicional de estratégia de operações. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 14 Sob a ótica da RBV, a estratégia de operações compreende "decisões sobre, e o gerenciamento estratégico de: competências, capacidades e processos; tecnologia; recursos; e atividades táticas chave necessárias em qualquer rede de suprimentos, de forma a criar e entregar produtos ou serviços exigidos pelo consumidor. O papel estratégico envolve combinar estes 'blocos básicos' em uma ou mais arquiteturas estratégias únicas e específicas à organização" (LOWSON, 2003: 538). Neste contexto, três grandes frentes de pesquisa dentro da literatura de operações têm se amparado na RBV para buscar desenvolvimento de novas teorias (Gagnon, 1999): O papel ativo da produção na estratégia - a abordagem baseada em recursos tem sido vista como uma forma de conferir aspecto pró-ativo à produção, em lugar de meramente suportar a estratégia competitiva definida pela empresa. Para Hayes e Pisano (1996), as companhias que obtêm sucesso a longo prazo o fazem sendo capazes de desempenhar certas coisas melhor que seus competidores. Desta forma, como a maioria das competências críticas de uma companhia reside na produção, tem-se um aumento de sua importânciano desenvolvimento da estratégia competitiva; A questão dos trade-offs - a maior parte das pesquisas se concentra no caráter dinâmico das prioridades competitivas, tanto buscando explicar como capacidades e competências parecem alterar as relações de trade-off quanto tentando retratar o reflexo que as escolhas dos trade-offs terão no futuro da estratégia de operações da empresa; e A implementação das práticas de classe mundial - Hayes e Pisano (1994) destacam que a estratégia de operações não deve ceder lugar à simples implementação destas práticas, como se estas constituíssem panacéia para todos os problemas das empresas. Ao contrário, os autores defendem que tais programas e práticas devem ser implementados como passos consecutivos no caminho de uma direção estratégica desejada. Desta forma, a estratégia de operações deve buscar construir competências que serão necessárias para a empresa no futuro. Programas como TQM (Total Quality Management), JIT (Just In Time) e outros não devem ser MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 15 vistos como fins, mas como programas de melhoria da produção que desenvolverão habilidades e capacidades para a empresa distinguir-se competitivamente a longo prazo. É também importante considerar que a função operações e, conseqüentemente, a estratégia que pauta suas decisões provêem significativa contribuição aos diversos processos de negócios que existem dentro das empresas. Embora esta perspectiva de processos seja relevante também em EO, preferiu-se apresentar este aspecto na próxima seção (sobre GCS), considerando-se as limitações de espaço para este artigo e a importância ainda maior destes processos no funcionamento das cadeias de suprimentos. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 16 3 ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS E DE PRODUÇÃO No âmbito empresarial, a estratégia está relacionada à arte de utilizar adequadamente os recursos físicos, financeiros e humanos, tendo em vista a minimização dos problemas e a maximização das oportunidades do ambiente da empresa (OLIVEIRA, 1991). Porter (1985) afirma que as empresas devem buscar um posicionamento adequado para obter vantagem competitiva sobre os concorrentes. Esse posicionamento é obtido por três estratégias genéricas: Liderança no custo total, Diferenciação e Enfoque. Nesse trabalho, Porter (1985) diz que essas três estratégias diferem em algumas dimensões, tais como a exigência de diferentes recursos, habilidades, arranjos organizacionais e procedimentos de controle. Nota-se que tais dimensões abrangem áreas relativas à produção. A liderança no custo consiste em atingir vantagem competitiva por meio da transformação da empresa com a produção concentrada em menor custo do produto, o que pode proporcionar a prática de menores preços. Algumas das várias formas de se alcançar essa estratégia são: Simplificar a fabricação de produtos, Investimento de monta em equipamento atualizado, Fixação agressiva de preço e Prejuízos iniciais para consolidar uma grande parcela de mercado e acesso preferencial à matéria-prima. Já a estratégia de diferenciação resume-se em diferenciar o produto ou serviço oferecido pela empresa, criando algo que seja considerado único perante os concorrentes. Os métodos mais comuns para assumir essa estratégia são: Projeto ou imagem da marca, MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 17 Qualidade do produto, Durabilidade do produto, Assistência técnica ou Estilo do projeto. A estratégia de enfoque se caracteriza pela centralização em um determinado grupo comprador, ou em um segmento de linha de produtos, ou em um mercado geográfico. Essa estratégia possui a premissa de atender a um alvo estreito e mais efetivo, ao contrário da forma mais ampla adotada pela concorrência. Conseqüentemente, a empresa atinge a diferenciação por satisfazer melhor as necessidades do seu alvo particular, ou custos mais baixos na obtenção desse alvo, ou ambos. Os estudos e fundamentos da estratégia de produção foram introduzidos no final da década de 1960, mas se observa que o aperfeiçoamento e a implementação de técnicas ainda não se consolidaram (MILLS, PLATTS & GREGORY, 1995; ALVES FILHO & VANALLE, 1998). Segundo Voss (1995), esse assunto é discutido de forma muito ampla e sua aplicação não se tornou muito clara em razão das diferentes considerações e enfoques emergentes. Skinner (1969) descreve alguns padrões comuns para mensurar o desempenho da produção, tais como: Ciclos menores de entrega do produto, Produto com qualidade, Confiabilidade, Cumprimento da promessa de entrega, Habilidade para produzir novos produtos rapidamente, Flexibilidade para ajustar mudanças no volume e Custos baixos. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 18 Em meados da década de 1980, Hayes e Wheelwright (1984) introduzem o termo "prioridades competitivas". Estes autores delineiam quatro dimensões competitivas básicas: preço, qualidade, confiabilidade, e flexibilidade. Hill (1997) desenvolve e sintetiza um grupo de critérios vencedores de produção: Preço, que está muito associado ao baixo custo de produção; Produto com qualidade, em especial suas dimensões em conformidade com especificações e confiabilidade; Entrega rápida e confiável, o que exige habilidade para responder ao aumento da demanda. Wheelwright e Hayes (1985) dizem que a função "produção" pode oferecer contribuição ao sucesso de uma companhia e prover uma fonte principal de vantagem competitiva. A produção é freqüentemente composta de fatores que estão em diferentes níveis de desenvolvimento e que determinam o nível global da operação quando há um equilíbrio entre eles. Esses fatores também são conhecidos e classificados em duas categorias de decisão, conforme a figura descrita a seguir: a) as decisões estruturais, que são definidas pelas áreas de instalações industriais, capacidade produtiva, tecnologia e integração vertical; e b) as decisões infra-estruturais, que são definidas pelas áreas de recursos humanos, gerência da qualidade, organização e planejamento e controle da produção (PIRES, 1994). MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 19 Slack et al. (1999) afirmam que todas as macrooperações da organização são constituídas de uma hierarquia de microoperações. Fine e Hax (1985) argumentam que a estratégia de produção tanto é influenciada como influencia a estratégia corporativa. Assim, a ligação é de mão dupla. Para Slack et al. (1999), o conteúdo de uma estratégia de produção é constituído por três fatores: Definição das prioridades competitivas mais significativas nas operações; • Decisões estratégicas que determinam a estrutura da produção; • Decisões estratégicas que determinam sua infra-estrutura. Moreira (2001) destaca que não existe uma forma padronizada de um modelo de planejamento estratégico. Segundo este autor, alguns componentes fundamentais devem compor o planejamento estratégico de produção: Tecnologia do produto, Tecnologia do processo, Capacidade de instalações, Localização das instalações, Recursos humanos e MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro20 Suprimentos. Afirma-se que algumas funções constituídas por decisões estratégicas na organização são derivadas da estratégia de produção da empresa e, quase sempre, as suas respostas dependem da aprovação da alta gerência. Por exemplo, as funções de planejamento da capacidade, a localização de instalações e os projetos do produto e do processo. Barros Neto et al. (1999) defendem a necessidade da realização de trabalhos empíricos mais específicos, apresentando um modelo de formulação de estratégias de produção para pequenas empresas do ramo de construção civil que envolve as seguintes etapas: Reunião de apresentação, em que se mostra o processo de formulação detalhando cada uma de suas partes, os critérios competitivos e as categorias de decisão utilizadas; Diagnóstico estratégico da produção; Definição dos objetivos da empresa e conhecimento dos clientes e concorrentes; Desdobramento dos objetivos e desenvolvimento dos planos de ação; Cronograma e implementação. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 21 4 CRIAÇÃO DE VALOR NA ESTRATÉGIA DE OPERAÇÕES A criação de valor é o objetivo geral a ser perseguido pelas organizações por meio das estratégias de suas diversas áreas funcionais, das quais se destaca a área de operações, em função do alcance de suas atividades no âmbito organizacional. O alcance da estratégia de operações é realçado por Lowson (2001), que afirma que ela envolve a maioria das decisões sobre: O foco das competências, potencialidades e processos; Recursos; e Atividades táticas primordiais, que são necessárias em qualquer rede de suprimentos, de acordo com a criação e a entrega de produtos ou serviços e o valor desejado pelo cliente. O papel estratégico envolve a junção destes três blocos em uma ou mais arquiteturas estratégicas. As escolhas ou decisões envolvidas são menos concernentes com o dia-a-dia dos indivíduos, isto é, com as atividades táticas, e mais relacionadas ao sistema de transformações como um todo, que é parte dos recursos, competências e potencialidades necessárias à organização. Estas escolhas também representam mudanças mais amplas no ambiente competitivo no qual a empresa está envolvida. O padrão dessas decisões tende a ser de médio e longo prazo, para que possa refletir os potenciais e competências principais da organização, bem como o uso dos recursos e tecnologias para sustentar a vantagem competitiva em seu segmento de atuação (LOWSON, 2002). A sustentação da vantagem competitiva por meio da estratégia de operações é abordada por Porter (1996), quando ele sugere que a criação do valor econômico verdadeiro, isto é, o hiato entre o preço e o custo do produto, será o fundamento para sua sobrevivência ou falência. A vantagem competitiva sustentável somente pode ser encontrada ao se operar um custo mais baixo ou ao se atribuir um preço-prêmio pela diferenciação, ou em função de ambos, o que pode ser obtido da seguinte forma: MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 22 Efetividade operacional: fazer as mesmas coisas que seus competidores, mas fazendo-as melhor; e Posição estratégica: fazer coisas diferentes daquelas feitas por seus competidores, de modo que se entreguem aos clientes produtos com um tipo de valor único, exclusivo. Devido à amplitude do alcance da estratégia de operações, verifica-se a necessidade de se estabelecerem critérios e medidas para monitorar seu desempenho. Para Ahmed e Montagno (1996), o alcance da estratégia de operações deve mensurar seu impacto nos resultados globais da organização, que podem ser sintetizados em quatro grupos de fatores de desempenho: Mercado: - Participação no mercado; e - Volume de vendas. Produto: - Qualidade do produto; - Introdução de melhorias e novos produtos; - Produtividade; e - Habilidade de melhorar. Econômicos: - Resultados anuais; - Lucratividade; e - Retorno sobre o investimento. Empregados: - Melhoria na capacitação dos empregados; e - Flexibilidade dos empregados. Embora esses fatores de desempenho sejam multidimensionais, os proprietários e investidores (shareholders) concentram suas atenções na rentabilidade da empresa analisada, sem se preocuparem especificamente com o alcance da estratégia de operações, mas com a estratégia que cria riqueza. Nesse ponto, considera-se que MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 23 uma empresa é viável, quando apresentar uma taxa de rentabilidade maior do que a taxa de mínimo rendimento que é proporcionada por um investimento alternativo, em condições de risco semelhantes. Esse é o princípio do custo de oportunidade do capital, que fundamenta a teoria dos investimentos. A rentabilidade confere confiança aos investidores, resultando na valorização das ações ou quotas da empresa. Com isso, a empresa aumenta a atratividade por capitais para os investimentos, que subsidiarão suas estratégias competitivas voltadas a garantir sua sobrevivência e sustentabilidade no mercado. Portanto, a lucratividade não é somente um resultado, mas também uma fonte de saúde competitiva e de riqueza empresarial. Caso a empresa não proporcione taxas de rentabilidade favoráveis aos investidores, estes poderão transferir seus fundos para outras alternativas mais rentáveis, o que comprometeria o financiamento e a própria sobrevivência das atividades empresariais. Por esta perspectiva, os shareholders acreditam que o sucesso de uma empresa pode ser medido por meio de instrumentos como: preço da ação, valor dos dividendos e lucro econômico. O lucro econômico, que é um conceito mais refinado e complexo do que o apresentado por Porter (1996) anteriormente, é uma abordagem proposta originalmente pelo economista Alfred Marshall (1890), que defendia que o custo de oportunidade do capital deveria ser considerado nos cálculos dos lucros empresariais. Como a contabilidade tradicional não considerava essa premissa, Copeland et al. (1995) desenvolveram uma metodologia cuja principal contribuição foi incorporar o custo do capital próprio na estrutura de cálculo do lucro empresarial, o que tem auxiliado as empresas a monitorar o alcance de seu objetivo básico de maximizar a riqueza dos proprietários e investidores através da criação de valor econômico. A metodologia desenvolvida estabelece que o lucro econômico é a diferença entre o retorno sobre os investimentos e o custo médio ponderado de capital. Esse cálculo pode ser operacionalizado pela equação: MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 24 onde CI é o capital investido, que se refere ao valor dos investimentos operacionais, como capital de giro e ativos fixos, e não-operacionais; LE é o lucro econômico; ROIC é a taxa de retorno sobre os investimentos e CMPC é a taxa do custo médio ponderado de capital, que considera a estrutura de capitais da companhia. Uma forma de cálculo do lucro econômico mais adequada aos objetivos deste trabalho, é a que considera o resultado operacional da companhia, assim formulada: onde NOPLAT (Net Operating Profit Less Adjusted Taxes) é o lucro operacional líquido menos impostos ajustados. O lucro econômico (LE) apresenta uma medida de desempenho que contabiliza adequadamente as possibilidades de criação ou destruição do valor empresarial. A empresa estará criando valor quando o LE for positivo e estará destruindo valor quando o LE for negativo. O incremento no valorocorrerá quando as estratégias de operações forem alinhadas às demais estratégias empresariais, visando: Aumentar o retorno líquido sobre os ativos em função de ações de maximização da receita e minimização dos custos; e Implementar os investimentos cujo retorno líquido sobre os ativos é superior ao custo médio ponderado de capital. Portanto, verifica-se que essas formas de se incrementar o valor de uma organização transcendem os resultados da estratégia de operações da organização, concentrando-se nos resultados econômico-financeiros agregados. Conseqüentemente, é necessário estabelecer os limites de atuação e de responsabilidades da área de operações no processo, a fim de que se possam estabelecer os limiares de desempenho sob os quais ela será avaliada. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 25 5 A GESTÃO DA QUALIDADE A qualidade tem sido um tema bastante presente no campo de estudos das Ciências Sociais e Humanas e Engenharias. Originado no Japão nos anos 1950 e 1960, o movimento da Qualidade Total trouxe uma verdadeira revolução ao mundo empresarial. Nas últimas décadas, inúmeros autores desenvolveram pesquisas nessa área, gerando diversos conceitos, aplicados primeiramente na manufatura e, posteriormente, na área de serviços. As particularidades dos serviços requerem uma abordagem própria para a Gestão da Qualidade. Diversos autores têm desenvolvido conceitos de Qualidade específicos para o setor de serviços: Zeithaml et al. (1990) propõem uma definição baseada na relação entre as expectativas do cliente antes da compra do serviço e a sua percepção durante e após sua prestação. Caso a percepção do cliente supere suas expectativas, o serviço será considerado de qualidade. Gianesi e Correa (1994) corroboram com essa definição, apresentando um modelo gráfico destacado na figura descrita a seguir: MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 26 O modelo de qualidade de serviços de Zeithaml et al. (1990), conhecido como SERVQUAL, tem sido largamente empregado em diversos países (KILBOURNE et al., 2004). Seth et al. (2005), ao estudarem 19 diferentes abordagens para a qualidade de serviços destacam o papel central do SERVQUAL. Um grande número de trabalhos expande a proposta original de Zeithaml et al. (1990). Outros criticam-na. De qualquer forma, trata-se de uma referência básica para a grande maioria dos autores que abordam o tema. A definição de qualidade proposta por Zeithaml et al. (1990) trabalha com o conceito de qualidade como "adequação ao uso", proposto por Juran (1988). A qualidade de um produto (ou serviço) será tão maior, quanto maior for a capacidade daquele produto (ou serviço) em satisfazer as necessidades (ou expectativas) do seu usuário. Percebe-se que, em ambos os casos, a avaliação da qualidade depende muito mais dos valores atribuídos pelo cliente do que das características intrínsecas do produto ou serviço. Esses conceitos de qualidade, portanto, têm como referencial de avaliação o cliente (aquele que paga e recebe o serviço), e não o produto ou serviço fornecido. Tal modelo se mostra bem adequado à lógica de operação das empresas de mercado. Nelas, a lucratividade e o crescimento da organização estão diretamente relacionados com a lealdade e a satisfação dos clientes, como mostram Heskett et al. (1997). MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 27 6 GESTÃO DA QUALIDADE - ISO A International Organization for Standardization - ISO é uma organização internacional, com sede em Genebra, na Suíça, fundada em 1946, que tem como objetivo o desenvolvimento de normas técnicas para aplicação mundial, e sob a responsabilidade do Comitê Técnico TC 176 - Garantia da Qualidade - desenvolveu a primeira versão das normas da série ISO 9000 em 1987. Atualmente, após duas revisões da série, na versão de dezembro de 2000, essas normas ganharam importância à medida que aprofundaram a compreensão sobre diversas dimensões que impactam a gestão das organizações com foco na satisfação dos clientes (BRANSKY, 2004). Essas séries de normas representam o resultado do esforço de representantes de diversos países que buscaram interpretar e dar forma ao conceito de Sistema de Gestão da Qualidade. As normas da série ISO 9000:2000 indicam a necessidade de se considerar as expectativas não só dos clientes, mas também de outras partes interessadas no negócio: os "stakeholders" (a sociedade, os clientes externos, os empregados, os fornecedores e os acionistas) (RODRIGUES, 2004). Esta série é composta pelas seguintes normas: ISO 9000:2000 - Sistema de Gestão da Qualidade - Fundamentos e Vocabulários. ISO 9001:2000 - Sistema de Gestão da Qualidade - Requisitos. ISO 9004:2000 - Sistema de Gestão da Qualidade - Diretrizes para Melhoria de Desempenho. Em particular, a norma ISO 9001 é utilizada quando a organização direciona os seus esforços para o aumento da satisfação dos clientes. Além disso, pode ser utilizada na demonstração de sua capacidade em fornecer produtos que atendam aos requisitos do cliente e aqueles regulamentares aplicáveis. Essa demonstração ocorre, por exemplo, quando, após a implementação dos requisitos e a avaliação da conformidade, a organização obtém a certificação do seu Sistema de Gestão (SMITH, 2002). MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 28 É importante observar que a formulação das três normas incorpora a necessidade de que a alta direção adote, em suas práticas de gestão, oito princípios na busca da melhoria do desempenho (CHAN, 1999): Foco no cliente; Liderança; Envolvimento de pessoas; Abordagem de processo; Abordagem sistêmica; Melhoria contínua; Abordagem factual para tomada de decisão; Parceria com os fornecedores. Estes princípios também guiam os prêmios da qualidade: Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ), Malcolm Baldrige National Quality Award (MBNQA) e European Business Excellence Model (BEM), permitindo que as organizações estruturem, planejem e desenvolvam seus esforços pela qualidade (LEONARD & McADAM, 2003). A versão das normas ISO 9000:2000 trouxe um novo enfoque aos elementos que compõem o Sistema de Gestão, enfatizando, por exemplo, a abordagem de processo visando tornar as organizações mais eficientes (BRANSKY, 2004). Os requisitos da norma ISO 9004:2000 prevêem o mesmo modelo de processo (entrada saída) e princípios de gestão da qualidade, mas têm ênfase na satisfação das necessidades de todas as partes interessadas para atingir a satisfação do cliente (SMITH, 2002). A gestão da qualidade envolve as ações de planejamento, de controle e de aprimoramento, a partir de políticas e objetivos estabelecidos pela direção. Requer organização e flexibilidade para poder servir como base de avaliação e aprimoramento contínuos dos produtos e processos envolvidos (LASZLO, 1998). MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 29 O Sistema da Qualidade, segundo as normas da série ISO 9000, tem seu foco na prevenção de não-conformidades, incluindo em seus requisitos a necessidade da adoção de práticas de correção das não-conformidades - NC, ações corretivas (para evitar a repetição das mesmas) e preventivas (para evitar a sua ocorrência) (CHAN, 1999). De acordo com De Medeiros (2000), é possível diagnosticar um sistema da qualidade através de três fatores-chaves que são: a responsabilidade da administração, os recursos humanos e materiais e a estrutura do próprio sistema. Para a autora, a harmonia entre eles é uma condição necessária para a gestão da Qualidade nas empresas e, conseqüentemente, para satisfazer os clientes. De acordo com Quazi (1997), muitas empresas têm escolhido a certificação pelas normas ISO 9000 um caminho até o Total Quality Management (TQM), o que seria um passo seguro e extremamente importante na busca das melhorias provenientes do TQM. Os oito princípios na busca da melhoria do desempenho estão inseridos, especificamente, nos requisitos da norma ISO 9004:2000 - Sistema de Gestão da Qualidade - Diretrizes para Melhoria de Desempenho - de maneira mais abrangente que na norma ISO 9001:2000 - Sistema de Gestão da Qualidade - Requisitos (ABNT, 2000). Tomadas de decisão estratégicas podem ser feitas usando-se a linha do tempo para identificar seis estágios-chave para aplicação do sistema de qualidade numa empresa (como a implementação de novas iniciativas), de métodos ou de sistemas usados (como ISO 9000) e seu sucesso. Cada estágio é representado como um elemento do ciclo de vida da qualidade. São eles os seguintes: Adoção (estágio de implementação de uma nova iniciativa de qualidade), regeneração (quando a nova iniciativa de qualidade está sendo usada em conjunto com outra já existente para gerar nova energia e impacto), Energização (quando é dada à iniciativa de qualidade existente novo foco e recursos), MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 30 Maturação (quando a qualidade é estrategicamente alinhada e organizada dentro da empresa), Limitação ou estagnação (quando a qualidade não tem sido estrategicamente alinhada e organizada dentro da empresa) e Declínio (quando o sistema de gestão da qualidade não tem tido impacto, as iniciativas estão falhando e o sistema de gestão da qualidade está na expectativa de terminar) (LEONARD & McADAM, 2003). O ciclo de vida da qualidade é representado por um conjunto de ferramentas estratégicas e dinâmicas que reconhecem que a qualidade está continuamente mudando, ela é complexa e não pode ser facilmente representada de uma maneira seqüencial ou linear como um modelo corrente. O ciclo de vida da qualidade pode representar diferentes aspectos da gestão da qualidade, inclusive iniciativas como ISO 9000 (LEONARD & McADAM, 2003). Portanto, cada organização deve decidir qual o modelo adequado a ser utilizado e quais os requisitos aplicáveis ao seu Sistema da Qualidade. Essa decisão deve ser tomada levando-se em consideração o tipo de negócio, o produto, o processo e o risco envolvido. Não é obrigatória a aplicação de todos os requisitos do modelo escolhido, mas a organização precisa justificar a não aplicabilidade de qualquer requisito, em caso da busca pela certificação. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 31 7 SISTEMA DE QUALIDADE ISO 9001:2000 O primeiro passo para a busca da melhoria contínua, segundo Moura (1997), é a implementação de um Sistema da Qualidade, por meio do qual a organização obterá uma padronização de seus procedimentos, sendo o ponto de partida para a melhoria contínua. Maranhão (2001) define Sistema da Qualidade como um conjunto de regras que orienta cada função da empresa a executar corretamente e no tempo certo suas tarefas em harmonia com as demais, sendo que todas estejam visando vencer a concorrência e o lucro. O autor destaca que existem diversos sistemas que visam o controle da qualidade, porém enfatiza a norma ISO 9001, que vem sendo cada vez mais utilizada no mundo, apresentando simplicidade e eficiência. A norma ISO 9000, desde sua criação no ano de 1987, sofreu duas revisões a fim de se adequar às novas realidades organizacionais e comerciais. A primeira revisão ocorreu no ano de 1994 e a segunda, no ano de 2000. Examinando os requisitos da norma ISO 9000:1994, constata-se que a característica marcante desse sistema de gestão é o forte controle e inspeção do processo e a exigência da documentação dessas ações. Porém, não se encontram evidências quanto à melhoria contínua dos processos e quanto à qualidade do sistema de gestão. Perante essa situação, a International Organization for Standartization realizou uma nova revisão na norma, sendo denominada ISO 9001, versão 2000 (ISO 9001:2000). A nova revisão dirigiu seu foco para uma estrutura comum de sistema de gestão baseado no processo, ligado ao método de melhoria PDCA (Plan, Do, Check e Act – Planejar, Executar, Verificar e Agir), sendo necessárias demonstrações da ocorrência de melhoria contínua. A nova revisão da norma consiste em uma quebra de paradigma em relação às suas versões anteriores. Segundo Branchini (2002), partiu-se de uma abordagem voltada MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 32 para o controle, gestão das reclamações dos clientes e burocracia para uma revisão baseada na gestão por processos, considerando a satisfação dos clientes por meio da melhoria contínua. A norma ISO 9001:2000 é composta por quatro normas primárias (Tabela a seguir), apoiadas por uma série de documentos-suporte (diretrizes, cadernos, relatórios técnicos e especificações técnicas). As normas ISO 9001:2000 e ISO 9004:2000 constituem um par coerente de normas. A primeira trata dos requisitos para o sistema de gestão da qualidade da organização atingir a satisfação do cliente. A segunda fornece informações para a organização exceder os critérios exigidos pela primeira, especificamente relacionada à melhoria contínua dos processos da organização, sendo que as duas normas utilizam vocabulário comum definido na ISO 9000. Na percepção de Maranhão (2001), a versão 2000 contempla mudanças significativas, de natureza realmente estrutural e não apenas superficiais. O autor considera que houve uma mudança no "espírito" da norma. Até a versão de 1994, a norma foi elaborada sob o ponto de vista do cliente que exigia uma infinidade de comprovações, priorizando um sentimento de desconfiança perante o fornecedor e, dessa forma, tornando o cumprimento da norma carregado de burocracia. Para Terziovski e Power (2007) e Biazzo e Bernardi (2003), a nova revisão da ISO 9000 evidencia um papel crítico dos processos (Figura a seguir) e considera a satisfação dos clientes, reduz o número de requisitos por procedimentos documentados e reconhece a importância do monitoramento do desempenho dos processos, perseguindo a melhoria contínua dos mesmos. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 33 Essa nova abordagem da norma, considerando a melhoria contínua, vem justamente contrapor a cultura de "apagar incêndios", enfatizada pelas organizações pela falta de requisitos nas antigas revisões da norma que considerassem a melhoria contínua e a satisfação dos clientes. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 34 8 MELHORIA CONTÍNUA De acordo com Bessant et al. (1994), a melhoria contínua pode ser definida como um processo de inovação incremental, focada e contínua, envolvendo toda a organização. Seus pequenos passos, alta freqüência e pequenos ciclos de mudanças vistos separadamente têm pequenos impactos, mas somados podem trazer uma contribuição significativa para o desempenho da empresa. São observadas, em muitasorganizações, atividades que Juran (1990) denominou de "combate a incêndios", que visam o restabelecimento do desempenho ao nível crônico anterior, caracterizando apenas um caráter de controle de processo em um nível reativo. Contudo, as atividades de melhoramento não se restringem apenas ao controle do processo, muito pelo contrário, segundo o autor, são ações que visam à criação organizada de mudanças benéficas; a obtenção de níveis inéditos de desempenho, mais perto da perfeição como jamais havia acontecido, sendo um sinônimo de inovação. Curado (2006), Teare e Monk (2002) e Garvin (1993) destacam que, para vencer a cultura de "apagar incêndios", a organização deve desenvolver uma cultura interna que promova a aprendizagem por meio de ações que visem à melhoria contínua dos processos. Shiba et al. (1997) complementam esta classificação acerca dos tipos de melhoria contínua, considerando, além das duas abordagens destacadas por Juran (controle e reativa), um nível proativo que busca níveis de desempenho que vão além das expectativas do cliente. Este terceiro nível, destacado pelos autores, vem de encontro ao conceito que Moura (1997) apresenta para melhoria contínua, definindo-a como a busca pela excelência. O autor explica a melhoria contínua deve ser um objetivo e desenvolvida culturalmente na organização, direcionando os esforços a fim de alcançar a excelência organizacional. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 35 Bessant e Caffyn (1997), apresentando o modelo evolutivo composto de cinco níveis de maturidade quanto à prática da melhoria contínua, argumentam que as organizações que avançam neste modelo apresentam as seguintes características: objetivo comum, modelo de gestão adequado, hábito em praticar melhoria contínua, comunicação e desenvolvimento de um ambiente que favoreça a aprendizagem. Bhuiyan et al. (2006), complementando os aspectos que aumentam a maturidade em praticar a melhoria contínua, enfatizam que a autonomia cedida aos funcionários de diferentes níveis hierárquicos e o apoio oferecido pela gerência são fatores fundamentais para a sustentabilidade da melhoria contínua. Irani et al. (2004) destacam dois grupos de características essenciais para a prática da melhoria contínua, conforme quadro a seguir; O primeiro grupo refere-se às características individuais – habilidades e conduta de cada funcionário, e o segundo grupo refere-se às características organizacionais - estrutura e cultura interna à empresa que habilitam a melhoria contínua. As organizações devem focar os dois grupos de características para obtenção de êxito nas atividades de melhoria contínua. Não basta desenvolver apenas os MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 36 aspectos organizacionais ou referentes aos funcionários. É necessário atuar simultaneamente nos dois sentidos, sendo que essa ação somente é possível pela participação de todos os indivíduos. Jager et al. (2004) sugerem um modelo para a prática da melhoria contínua (conforme figura a seguir), sustentado pelo lado humano e cultural que envolve tal processo. Os autores definiram quatro pilares ou precondições necessárias para garantir a prática da melhoria contínua por todos os funcionários: Entendimento, Competências, Habilidades e Comprometimento. Inicialmente, o modelo requer o entendimento, por parte de todos os envolvidos, do "por quê" a melhoria é importante e exatamente como se dá a contribuição individual para êxito desta atividade. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 37 As pessoas necessitam possuir competências e conhecimentos para a solução de problemas que habilitem a sua participação por meio de idéias, sugestões e execuções, e, finalmente, os indivíduos devem estar motivados em colocar esforço extra para melhorar os processos. O termo competência pode assumir dois significados principais: o primeiro, num nível organizacional, refere-se às competências essenciais ou "core competences", que segundo Prahalad e Hamel (1990), são aquelas que definem a vantagem competitiva de uma empresa; e, o segundo significado, num nível individual, diz respeito à mobilização contextualizada do conhecimento e "know how" que os funcionários possuem a fim de gerar valor econômico à organização e valor social a si próprios (FLEURY; FLEURY, 2002). A criação das competências essenciais, desta forma, está condicionada à mobilização de indivíduos dotados de um pool de habilidades e conhecimentos que se desenvolvem por meio de "comunidades de prática", isto é, o contexto social, criado por pessoas com objetivos em comum, que compartilham conhecimento (BROWN; DUGUID, 2001). Assim, o primeiro passo para melhorar um processo é a insatisfação com o status quo. Shingo (1987) afirma que a insatisfação é a "mãe" da melhoria e as organizações devem considerar técnicas e desenvolvimento cultural que sustentem e estruturem a melhoria dos processos, alcançando uma completa participação por parte de seus indivíduos. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 38 9 SISTEMA DE MEDIÇÃO DE DESEMPENHO A avaliação de desempenho tem ganhado significativo interesse da comunidade dos negócios. Segundo Neely et al. (1999, p. 211), tal propositura se deve a vários motivos, onde se destacam: 1. A abordagem tradicional da contabilidade financeira, responsável pelo rateio de custos não diretamente identificados, é substituída pela abordagem dos direcionadores de custos, visando alocá-los nas atividades correspondentes a causa dos custos (MARTINS, 2003). 2. Acirramento da competitividade, fomentando a busca de diferenciação frente à concorrência, em termos de qualidade, serviço, flexibilidade para personalizar produtos, inovação e respostas rápidas e confiáveis a alterações do mercado. Com isso as organizações alinham suas medições à estratégia, correlacionando o desempenho alcançado à sobrevivência, contribuindo para o comprometimento das pessoas que fazem os processos de negócio da organização. 3. Adoção de melhorias em operações, a exemplo de desempenho em qualidade total, produção enxuta, just in time, manufatura de classe mundial, entre numerosas outras. Todas tendo em comum a necessidade de basear-se em mensuração de desempenho. 4. Demandas externas resultantes da preocupação quanto a comportamento das empresas e partes interessadas: comunidade e sociedade; força de trabalho; clientes; fornecedores; acionistas e meio ambiente. Nelly et al. (1995, p. 94 ) afirmam que medição de desempenho é o processo de quantificação da ação que leva ao desempenho. A partir desta visão, os termos eficiência e eficácia têm de ser usados com precisão. Contribuindo esse entendimento conceitual, L. Corrêa e A. Corrêa (2004, p. 159) definem: Eficácia: refere-se à extensão segundo a qual os objetivos são atingidos, ou seja, as necessidades dos clientes e outros grupos de interesse da organização (funcionários, governo, sociedade, etc) são satisfeitas. Eficiência: é a medida de quão economicamente os recursos da organização são utilizados quando promovem determinado nível de satisfação dos clientes e outros grupos de interesse. A diferenciação conceitual permite, além de identificar duas importantes dimensões de desempenho, atentar para o fato de que há razões internas MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro39 (referentes ao uso dos recursos) e externas (referentes ao nível de serviço aos clientes e outros grupos de interesse) para perseguir determinados cursos de ação. A busca por resultados de alta performance frente aos objetivos estratégicos organizacionais desafia os profissionais de gestão no mundo globalizado. L. CORRÊA e A. CORRÊA (2004, p. 169) auferem que um sistema de avaliação de desempenho é um modo sistemático de avaliar entradas, saídas, eficiências e eficácias do processo de transformação de uma operação. O nível de desempenho de uma operação é função dos níveis de eficiência e eficácia que suas ações têm. Daí, segundo os autores, cabe diferenciar: medição, medida e sistema de medição: 1. Medição de desempenho pode ser definida como o processo de quantificação da eficiência e da eficácia das ações tomadas por uma operação; 2. Medidas de desempenho podem ser definidas como as métricas usadas para quantificar a eficiência e a eficácia das ações. 3. Sistema de medição de desempenho pode ser definido como um conjunto coerente de métricas usado para quantificar ambas, a eficiência e a eficácia das ações. Ainda de acordo com os autores, os sistemas de avaliação de desempenho têm dois propósitos principais: 1. Constituem-se partes integrantes do ciclo de planejamento e controle; 2. Influenciam comportamentos desejados nas pessoas e nos sistemas de operações, buscando alinhá-los à estratégia pretendida. Martins (2003) apud Neely et al. (1999, p. 212) e L. CORRÊA e A. CORRÊA, 2004, p. 160-161) salientam que, fazendo um resgate histórico, desde a idade média, de quando se origina as técnicas contábeis contemporâneas, até o início do século XX, a área de contabilidade financeira (atualmente chamada em muitas empresas de controladoria) se incumbe de fazer a avaliação de desempenho, utilizando critérios financeiros, a priori. As medidas de desempenho passaram a ter destaque na pauta dos gestores a partir do início do século XX, uma vez que a natureza das organizações havia evoluído e mudado, levando a relativa separação entre proprietários das organizações e gestores (que passaram a ser profissionais contratados para esse fim). Como resultado, medidas de retorno sobre o investimento passaram a ser MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 40 aplicadas para que proprietários pudessem avaliar melhor o rendimento dos gestores. Desde então, a vasta maioria das medidas de desempenho utilizadas tem sido predominantemente financeira. Ainda tomando por base Corrêa e Corrêa (2004), a partir dos anos 80, as medidas de desempenho meramente financeiras não seriam mais suficientes para suportar a gestão das empresas e operações nos mercados modernos. Com clientes mais exigentes e mercados mais competitivos, veio a necessidade de habilidade melhorada (e mais rápida) de resposta, assim como a necessidade de se agregarem aspectos externos (desempenho aos olhos dos clientes, entre outros) às considerações. Muitos autores e gestores conscientizaram-se então de que, embora os sistemas de contabilidade financeira demonstrassem qual o desempenho resultante das atividades executadas por uma organização, eles forneciam, por si sós, pouca indicação de como esse desempenho foi atingido ou como poderia ser melhorado. Atribuiu-se inúmeras críticas aos STC’s, com meramente financeira, visto que estes possuem as seguintes falhas: 1. Visão míope e de curto prazo, por fazerem relatórios de desempenho trimestrais, por exemplo, incentivando os executivos a, por exemplo, postergar investimentos em capital (renovação do parque fabril, aquisição de equipamentos de tecnologia mais avançada), pois este tipo de investimento requereria tempos mais longos de retorno, favorecendo a alocação de recursos em iniciativas mais voláteis, mais fáceis e de retorno mais rápido, como promoções e publicidade, mas que em termos de desempenho no longo prazo podem ser piores ou não ser suficientes para garantir sucesso; 2. Não têm relação direta com a estratégia de operações definida para a organização. Não avaliam, por exemplo, o desempenho em termos de qualidade, flexibilidade, satisfação de clientes, pontualidade ou velocidade de atendimento; 3. Encorajariam otimizações locais mais do que a otimização do todo. É comum se encontrarem empresas que produzem altos níveis de estoques com a justificativa de que assim os equipamentos e as pessoas nunca vão parar por falta de material e os índices de utilização das máquinas (e, portanto, o retorno sobre o capital empregado) ficarão altos; 4. Encorajariam os gestores a procurar minimizar as variações em relação a metas de desempenho mais do que procurar melhoramentos contínuos; MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 41 5. Falhariam em prover informação sobre como os clientes vêem o desempenho da organização e como essa visão compara-se com o desempenho da concorrência; 6. Não auxiliariam a explicar as razões do desempenho financeiro, pelo menos do ponto de vista da gestão de operações. A partir dos anos 90, disparou-se uma verdadeira corrida, tanto nas empresas como na academia, no sentido de corrigir essas falhas identificadas (NEELY, 1999). Sink e Tuttle (1993) inserem a medição de desempenho como instrumento vital para as empresas. Para os autores, a essência do gerenciamento é a medição do desempenho. A medição deve ser encarada como parte integrante do processo gerencial que é necessário para melhorar a performance de um sistema organizacional. Nesse contexto, a produtividade é situada como instrumento importante para o gerenciamento, pois se constitui num dos critérios de avaliação da performance de uma organização. Para Sink e Tuttle (1993), quando se mede, efetivamente, aprende-se sobre eficácia, eficiência e qualidade, conjuntamente. Este constructo posiciona a medição como base para o diagnóstico organizacional, fundamentado no sistema de indicadores, desde que a medição seja estruturada em princípios alinhados à estratégia de negócios e de planejamento da melhoria da performance, os quais, segue: 1. A medição não pode ser usada para impulsionar a melhoria de performance – o impulso deve vir da estratégia de negócios e do plano de melhoria de performance. 2. A aceitação do processo de medição é essencial ao seu sucesso como ferramenta para melhoria de performance. 3. Medir o que é importante – não o que é fácil de medir. 4. Adotar uma abordagem experimental ao desenvolvimento de sistemas de medição para melhoria. 5. Eliminar o uso de metas numéricas, padrões de trabalho e quotas. 6. O que se precisa não é de um conjunto padrão de medidas criado por especialistas e imposto às organizações, mas sim um método pelo qual as equipes gerenciais e suas diversas clientelas possam criar sistemas de medição de performance adequados às suas próprias necessidades e circunstâncias especiais. MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 42 7. Quanto maior for a participação no processo de criação de um sistema de medição de performance, tanto maior será a mudança de performance resultante, e maior a facilidade de implantação de futuras mudanças baseadas na medição de performance. 8. Qualquer sistema deve ter como resultado um vetor de medidas de performance, não se tentando obter uma única medida. Grande parte das controvérsias e da falta de aceitação se deve a tentativas de fazer um problema muito complexo para muito simples. 9. Um sistema de performance não deve ser visto pelas pessoas envolvidas simplesmente como um capricho passageiro. 10. O sistema de medição deve se enquadrar claramenteno processo gerencial e ser reconhecido como um apoio à tomada de decisões e à solução de problemas. 11. As conseqüências comportamentais, não intencionais e potencialmente disfuncionais da medição de performance devem ser previstas e refletidas no projeto do sistema. 12. Um sistema útil deve ser visto, por aqueles cujo comportamento está sendo avaliado, como algo não sujeito a manipulações ou truques. 13. Um sistema de medição eficaz deve ser baseado em definições operacionais coerentes e bem compreendidas para os sete critérios de performance. 14. A unidade de análise/sistema alvo deve ser claramente definida e delimitada, para que a medição seja bem sucedida. Uma análise de input/output é um pré- requisito necessário. 15. Devemos criar visibilidade e noção de propriedade para os sistemas de medição resultantes, para garantir uma utilização eficaz a mais longo prazo. 16. Devemos separar claramente o processo de medição do processo de avaliação. A diferença entre um diagrama de controle e especificações/requisitos e padrões deve ser compreendida. Constitui-se uma premissa, a cerca da literatura de produtividade, que desde sua medição à análise de suas causas, além de utilizá-las para análise econômica, em geral, são empregadas para julgar a eficiência da gestão das fábricas, firmas, ou de suas unidades constituintes (FOURASTIÉ, 1990, p. 47). MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 43 No cerne desta afirmação está o fundamento da abrangência da produtividade enquanto medida: O entendimento de sua relação intrínseca com a eficiência e a eficácia organizacional. Esta combinação torna o conceito e a medição da produtividade abrangente. Pois, trabalhar com produtividade somente sob a ótica da eficiência pode levar a organização a cometer erros de avaliação. Por exemplo, ela pode aumentar sua produtividade e estar descumprindo algum requisito de qualidade percebido pelo cliente. Por outro lado, sob a ótica exclusiva da eficácia, uma organização poderá estar atingindo a sua meta ou o seu objetivo, e estar gerando desperdício. A figura 02 mostra uma representação do significado da produtividade para um processo organizacional, considerando a eficiência e a eficácia neste processo. Figura 02 – Produtividade relacionada a eficiência e eficácia Fonte: Sink e Tuttle (1993, p. 186) 9.1 INDICADORES E MEDIDAS DE DESEMPENHO Os sistemas de medição empregando indicadores são o meio mais utilizado pelas organizações, para a divulgação dos resultados das atividades realizadas, dos recursos empregados, da quantificação das melhorias implementadas e da comparação do desempenho de sua atividade com as existentes em empresas de seu ramo e outros ramos. INPUT PRODUTIVIDADE = Output Input OUTPUT PROCESSO Eficiência Alcançado Esperado Eficácia MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 44 Esta comunicação deve ser facilmente compreendida por qualquer pessoa dentro e fora da organização, demonstrada através de relatórios e gráficos. Desta forma, o instrumento do sistema de medição é o indicador. Os indicadores possibilitam o estabelecimento de metas quantificadas e o seu desdobramento na organização, bem como a análise crítica do desempenho organizacional, para as tomadas de decisões. São formas de representação quantificáveis das características de produtos e processos. E o seu acompanhamento, deve demonstrar níveis, tendências e comparações (TAKASHINA; FLORES, 1996) Visando evitar equívocos conceituais e diferenciar o termo indicador do termo medida, Moreira (2002, p. 15) aufere que: a medida é um atributo, qualitativo ou quantitativo, usado para verificar ou avaliar algum produto por meio de comparação com um padrão (grandeza de referência)”; enquanto que indicador é “o resultado de uma ou mais medidas que tornam possível a compreensão da evolução do que se pretende avaliar a partir dos limites (referências ou metas) estabelecidos. Para Hronec (1994, p. 5-6), indicadores, chamados de medidas de desempenho, são “a quantificação de quão bem as atividades, dentro de um processo ou de seu output, atingem a meta específica”, sendo considerados como “sinais vitais da organização”. Neely et al. (1997) lança mão de alguns conceitos-chave de medidas de desempenho, descrevendo os componentes de referências para definição das medidas e, logo após, apresentando-as, de forma simplificada, através do check-list no quadro 03. medida: o título da métrica deve ser claro e específico, tanto quanto possível auto-explicativo, evitando jargões; propósito: se a medida não tem propósito bem definido não deveria existir; este item deve contemplar a razão que justifica a existência da medida. Por exemplo: permitir o controle da taxa de melhoramento dos esforços para redução de tempos de preparação de equipamentos e com isso se tornar mais flexíveis para alterar o mix de produtos; refere-se a: procura explicitar a relação entre a medida de desempenho e a prioridade competitiva estratégica da operação, coerente, portanto, com a MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 45 intenção estratégica da organização. Esta é a ligação mais importante entre o sistema de avaliação de desempenho e a estratégia de operação; meta: o estabelecimento de metas deve ser precedido pela questão “com que padrões se comparará o desempenho medido?” padrões comparativos: padrões históricos (ex.: superar o desempenho do mesmo mês do ano anterior em pelo menos 10%); padrões arbitrários (ex.: manter o custo de mão-de-obra terceirizada em menos do que R$ 100.000,00 em maio); padrões definidos pelo desempenho qualificador da concorrência (ex.: prazo médio de entrega deve ser pelo menos 10% menor que o prazo de entrega do concorrente X); padrões absolutos – derivados das lógicas japonês e/ou de classe mundial: (exs.: zero defeitos, tamanho de lote unitário, entre outros). fórmula: este é um dos mais complexos aspectos da definição de uma medida de desempenho, pois a fórmula – como a medida de desempenho é de fato quantificada – afeta como as pessoas se comportam. Levando em conta que as pessoas comportam-se não de acordo com o “esperado”, mas de acordo com o que é “medido” (já que normalmente se amarram as recompensas, bônus, remuneração variável, entre outros aspectos de remuneração no resultado da fórmula), é importante que se gaste tempo suficiente elaborando sobre como definir a fórmula de cálculo, para que os envolvidos não desenvolvam comportamentos que maximizem o resultado da fórmula em detrimento do desempenho da operação. Tome-se, por exemplo, um funcionário, caixa de um supermercado, que tenha seu desempenho medido por “itens checados na hora”. A fórmula parece fazer sentido, pois está relacionada com os tempos médios de atendimento de clientes e por conseguinte com a manutenção de filas menores nos caixas. Entretanto, esse funcionário percebeu que, quando um cliente chega com um pacote de 12 latas de refrigerante, se ele registra um pacote, sua métrica contará um item. Por outro lado, se registrar as 12 latas unitariamente, sua métrica melhorará, pois serão 12 itens checados. Ou seja, o funcionário desfaz os pacotes de 12 para registrar os itens individualmente, elevando assim o tempo de atendimento, que era o propósito básico inicial da própria métrica! MBA em Gestão Empresarial Módulo: Gestão da Produção e Operações – Elaboração: Prof. M.Sc. Jailson Ribeiro 46 Entretanto, em vez de esse aspecto ser considerado como problema das medidas de desempenho, deve ser visto como
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