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Cultura musical

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Katia Renner
MusicalCulturaCulturaMusical
C
ul
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M
usi
cal
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-2890-0
Cultura Musical_indd.indd 1 12/4/2012 14:46:55
Katia Renner
Cultura
Musical
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
IESDE Brasil S.A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização 
por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Crédito da imagem: Jupiter Images/DPI Images
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
_________________________________________________________________________________
R331c
Renner, Katia, 1948-
 Cultura musical / Katia Renner. - Curitiba, PR : IESDE, 2012. 
 332p. : 24 cm
 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-387-2890-0
 
 1. Instrumentos musicais. I. Título. 
 
12-1554. CDD: 784.19
 CDU: 780.6
 
14.03.12 21.03.12 033887 
_________________________________________________________________________________
Mestre em educação na área de Música pela Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Avaliação Educacional pela Fundação para 
o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH). Licenciatura em Pedagogia pela 
Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira (FFNSM). Licenciatura em Música 
pela UFRGS.
Katia Renner
Sumário
O som e suas características ....................................................9
O som ................................................................................................................................................9
O ruído .......................................................................................................................................... 21
Silêncio .......................................................................................................................................... 23
O mecanismo da audição: o som chegando ao nosso cérebro ................................ 23
Instrumentos desconhecidos: been ................................................................................... 32
A música e seus elementos básicos ................................... 35
Evolução e desenvolvimento ................................................................................................ 35
Civilização musical .................................................................................................................... 36
O que é música ........................................................................................................................... 38
Elementos básicos da música ............................................................................................... 46
As escutas do Século XX ......................................................................................................... 61
Instrumentos desconhecidos: sistro ................................................................................... 64
Notação musical ....................................................................... 67
O som ............................................................................................................................................. 67
Elementos gráficos da escrita musical ............................................................................... 69
A escrita das notas musicais .................................................................................................. 73
Instrumentos desconhecidos: harmônio ........................................................................103
Instrumentos musicais .........................................................107
Idiofones .....................................................................................................................................107
Membranofones ......................................................................................................................113
Aerofones ...................................................................................................................................116
Instrumentos musicais e seus recursos eletrônicos ....................................................126
A revolução tecnológica .......................................................................................................137
Instrumentos desconhecidos: tiorba ...............................................................................140
A orquestra e seus instrumentos ......................................143
Os sons que nos cercam .......................................................................................................143
A partitura ..................................................................................................................................184
Instrumentos musicais: serpentão ....................................................................................188
Vozes que cantam .................................................................191
A voz humana ...........................................................................................................................191
A produção da voz ..................................................................................................................197
Outros aspectos ligados ao canto .....................................................................................201
Vozes humanas e suas classificações ...............................................................................205
Instrumentos desconhecidos: koto ..................................................................................223
Gêneros, formas e estilos musicais ..................................227
Algumas formas musicais: abertura .................................................................................230
Gêneros e estilos populares ................................................................................................239
Instrumentos desconhecidos: charango ........................................................................249
A música ocidental e sua história .....................................253
Dentro da cronologia, além do tempo ............................................................................253
Instrumentos desconhecidos: cítara ................................................................................277
A música brasileira .................................................................281
Vida brasileira ...........................................................................................................................281
Os gêneros musicais do Brasil .............................................................................................289
Alguns astros de nossa música atual ................................................................................303
Instrumentos desconhecidos: senza ................................................................................308
Universo sonoro atual ...........................................................311
A orquestra, os ritmos da máquina e os ritmos da natureza ...................................315
A música na mídia e no cinema .........................................................................................317
Um novo ambiente acústico ...............................................................................................324
Instrumentos desconhecidos: adufe ................................................................................328
O som e suas características
O som
Uma aventura sonora para 
chegar à nossa percepção
Você já reparou como estamos imersos em sons proporcionados pela 
natureza – como os sons dos pássaros, de animais diversos, da chuva, do 
vento, do trovão, da cachoeira, do mar e tantos outros? Masna cidade 
também estamos cercados de sons, que se fundem, disputam espaços e 
compõem, junto com os ruídos, novas estruturas acústicas.
Inicialmente, o ser humano buscou contato com seu ambiente pro-
curando imitar os sons ouvidos, capturar seus significados, dialogar com 
esses elementos por meio do canto e dos ritmos percutidos e sonoriza-
dos em instrumentos improvisados. Era importante cantar para chamar 
a chuva ou agradecer a colheita, assim como para organizar as tarefas e 
atividades. A música associou-se à vida cotidiana, dando amplitude ao 
pensamento e se impregnando de significados.
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.
9
10
O som e suas características
Olhos de ver, ouvidos de ouvir
Diferentemente dos outros órgãos dos sentidos, nossos ouvidos estão expos-
tos e vulneráveis: os olhos podem ser fechados quando quisermos, já os ouvidos, 
não – eles estão sempre abertos. Os olhos focalizam de acordo com a nossa von-
tade, mas os ouvidos captam todos os sons em todas as direções. A experiência 
auditiva está sempre buscando identificar a natureza dos sons e de onde provêm 
os sons. Localizar é a preocupação básica das partes mais primitivas do cérebro 
auditivo. Quase toda nossa experiência auditiva se volta para identificar as coisas, 
a natureza dos sons e de que lugar eles provêm. 
O estímulo visual é diretamente percebido como, por exemplo, um raio de 
luz. Na audição, entretanto, os sons vêm de todas as direções, afunilando-se para 
dentro de um estreito canal do ouvido, todos se aproximando do tímpano pelo 
mesmo ângulo, argumenta Jourdain (1998).
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O som e suas características
11
O som que podemos ouvir
O som que podemos ouvir é resultado de uma energia que se propaga em 
ondas e é proveniente das vibrações de corpos elásticos. Esses sons são gerados 
por instrumentos que podem vibrar (movimento de vaivém) como, por exemplo, 
uma corda, uma pele de tambor, uma coluna de ar. As vibrações desses mate-
riais são transmitidas por meios elásticos, chamados assim porque se deformam 
com a passagem da onda sonora. Depois disso, eles se restauram e voltam à sua 
forma original.
Quando um objeto vibra na atmosfera, ele movimenta partículas de ar ao seu 
redor. O ar leva essas vibrações por meio de ondas sonoras, espalhando-as em 
todas as direções. As partículas de ar se espalham e vão colidir com outras que 
estão próximas, empurrando-as, e assim sucessivamente, produzindo a propa-
gação sonora. Quando chegam até nós, elas causam variações no ouvido, esti-
mulando determinados nervos a transmitirem impulsos elétricos que são inter-
pretados pelo cérebro como som. Portanto, os sons são sensações que chegam 
aos nossos ouvidos por meio de ondas sonoras.
Ao contrário, quando ouvimos sons de objetos caindo e quebrando, as vibrações 
produzem uma mistura confusa de ondas sonoras com alturas indefinidas, expres-
sas em um emaranhado, o qual definimos como ruído. No entanto, muitos instru-
mentos de percussão – como caixa-clara, pratos, tamborins e outros, que produzem 
vibrações irregulares – são importantes para a música, afirma Bennett (1987).
Ex. 1: som musical
Ex. 2: ruído
(B
EN
N
ET
T,
 1
98
7,
 p
.7
)
Ex. 1
Ex. 2
Representamos o som como uma onda, o que significa que ele ocorre no 
tempo de forma periódica e com certa frequência. O sinal do movimento de im-
pulso (partida) e de repouso (queda) passa através da matéria (elástica), modifi-
ca-a e registra rapidamente o desenho da onda, ensina-nos Wisnik (1989), como 
na figura da onda senoidal.
12
O som e suas características
Frequência
Tempo
Amplitude
(S
ER
RA
 2
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2,
 p
. 3
 –
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m
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de
.)
Imagem da onda senoidal, que serve para descrever o comporta-
mento do som. Uma onda sonora propaga-se através do espaço ou 
através de outros meios (gasoso, líquido ou sólido) em uma frequên-
cia que os sistemas auditivos podem detectar.
A forma oscilatória do registro do som sinaliza também a indicação da pausa, 
revelando que o som está permeado de silêncio, o que lhe permite começar e se 
prolongar. Mas também há som no silêncio: mesmo longe dos sons externos, em 
uma cabine à prova de sons, escutaremos no mínimo o som grave da nossa pul-
sação sanguínea e o agudo do nosso sistema nervoso, confirma Wisnik (1989).
Ondas sonoras
Forma de onda produzida por uma flauta:
Forma de onda produzida por um xilofone: 
Xilofone: no início (ataque), a onda possui mais harmônicos, que se devem 
à batida da baqueta no instrumento. Depois disso, a forma de onda é resultado 
somente da vibração da madeira.
Frequência (altura sonora) é o número de vibrações por segundo. É normal-
mente medida em Hertz (Hz). A nota Lá, por exemplo, tem 440 vibrações por 
segundo. A sua frequência, portanto, é de 440Hz. O som agudo terá maior fre- 
quência e o mais grave menor frequência.
O som e suas características
13
A amplitude, que corresponde ao tamanho das ondas, mede a distância entre 
os pontos extremos da vibração e está relacionada ao volume que ouvimos. A 
maior amplitude determina o som mais forte e a menor o som mais fraco. O 
volume do som é medido em decibéis (db).
A onda sonora obedece a um pulso, seguindo o princípio da pulsação. As 
relações do mundo sonoro com a música apresentam correspondências com os 
ritmos do nosso pulso sanguíneo, o andar e a respiração. Os andamentos (veloci-
dades) sugeridos pelos compositores nas partituras estão associados aos ritmos 
fisiológicos e psicológicos do caminhar. O termo allegro, por exemplo, indica um 
caráter animado e um andamento rápido. Andante indica uma velocidade mais 
moderada, como de quem está caminhando normalmente. Uma execução mais 
calma, vagarosa, é indicada por Adagio.
Johann Sebastian Bach 
(1685-1750)
Suíte n. 2, Baldinerie: Allegro
Faixa 1 (CD 1)
Edvard Grieg 
(1843-1907)
A Manhã de Peer Gynt: Andante
Faixa 2 (CD 1)
Sons naturais e sons mecânicos
Podemos dividir os sons que ouvimos de acordo com a sua produção, ou seja, 
aqueles provenientes da natureza, incluindo o ser humano, e aqueles resultan-
tes de meios mecânicos. É interessante ressaltar que a humanidade nem sempre 
ouviu os mesmos sons, pois quando havia um número reduzido de pessoas no 
planeta o contato com os sons da natureza era predominante e significativo. 
Com a ampliação do ambiente urbano, houve uma mudança na percepção 
sonora, levando o indivíduo a conviver e a disputar com um mundo repleto de 
novos timbres, texturas, intensidades e ruídos, que seriam os sons indesejáveis. 
14
O som e suas características
Os ruídos, quando muito fortes, podem saturar a capacidade cerebral para as 
sensações. 
Para termos um som são necessárias três condições:
um corpo que realize um movimento vibratório; �
um meio transmissor (habitualmente o ar) que propaga as ondas sonoras; �
um sujeito-receptor que através do seu ouvido capta as ondas produzidas �
e com o cérebro as interpreta, transformando-as em sensação sonora e 
significativa – esse sujeito possui fundamental importância, pois na sua 
ausência não haverá som, só movimento vibratório.
Nós não estamos em contato com o som externo, mas sim com os sinais do 
nosso cérebro, por isso interpretamos a realidade externa.
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As ondas sonoras chegando ao ouvido.
Estamos imersos em um mundo de som. Portanto, é necessário conhecê-lo 
na sua composição, como se propaga e quais são suas características e proprie-
dades acústicas.
As características básicas que distinguem os sons são elementos codificados, 
implícitos no som e no tempo.
Altura � : é a característica que expressamos quando dizemos que um som 
é mais agudo ou mais grave que o outro. Depende principalmente da fre-
quência do movimento vibratório que o origina, as frequências elevadas 
correspondem aos sons agudos e as baixas (16 a 20 000 ciclos) aos graves. 
Para termos melodia é preciso movimentar o som em diferentes altitudes 
(frequências): issoé chamado mudança de altura.
O som e suas características
15
Nos sons agudos e leves, as frequências são elevadas e as vibrações rápi- �
das. Já nos sons graves, pesados e volumosos, as frequências são baixas e 
as vibrações lentas. Os sons intermediários são chamados de médios.
Exemplos 
Som grave: trovão �
Som agudo: canto de um pássaro �
O ser humano só ouve os sons entre 20Hz e 20KHz. A medida Hertz (Hz) 
refere-se a ciclos por segundo: 20Hz = 20 ciclos por segundo, 20KHz = 20 000 
ciclos por segundo. Os sons muito graves e os muito agudos não são captados 
pelo ouvido humano – que, assim, não percebe todos os sons existentes. Apenas 
alguns animais – como o cão, o morcego e o golfinho – têm uma percepção 
sonora superior à do ouvido humano.
Duração � : é o tempo gasto pelo som para a sua emissão, sustentação e 
extinção, resultando em sons longos e curtos, basicamente.
Exemplos
Som longo: sirene de uma ambulância �
Som curto: quicar de uma bola �
Intensidade � : refere-se a um som mais forte ou mais fraco e depende da 
amplitude do movimento vibratório que a origina. É a informação sobre o 
grau de energia da fonte sonora. 
O som forte pode ser pensado como uma figura concêntrica, envolvente �
como um turbilhão, frequentemente interpretado como se oprimisse o 
ouvinte. Um som forte também pode ser caracterizado como carregando 
um grande peso em direção ao centro de gravidade.
Um som fraco está constantemente se dissolvendo, esvaecendo como ne- �
blina, escapando de si mesmo, do centro.
A música também foi gradualmente aumentada de volume ao longo da �
história. Até o período do Renascimento, com a música vocal, a percepção 
era limitada a um ciclo de frequência. Com o uso dos instrumentos musi-
16
O som e suas características
cais, houve um aumento expressivo nessa faixa. Mais tarde, os sons eletrô-
nicos provocaram uma ampliação extrema de nossa capacidade audível.
Exemplos
Som forte: liquidificador funcionando �
Som fraco: torneira pingando �
Timbre � : é a qualidade ou característica que permite diferenciar os sons de 
igual altura e intensidade, porém de diferentes procedências. Um som sem-
pre tem uma frequência de base e é acompanhado de outros sons harmô-
nicos, mais fracos e mais agudos, que contribuem para dar a sua “cor”, o seu 
timbre. Por meio do timbre, reconhecemos quem produz o som.
 É o timbre que traz a cor da individualidade à música: sem o timbre, tudo �
é uniforme, tudo é igual.
 Ele é resultado da onda senoidal, que possui seu próprio timbre (próximo �
a uma flauta-doce sintetizada), representada de forma simples e básica 
como uma onda. Mas o som real, concreto, é um complexo, um feixe de 
ondas, com frequências que se sobrepõem, interferindo umas nas outras. 
Essa complexidade dos sons caracteriza o seu aspecto timbrístico e nos 
permite identificar a sua procedência. Dessa forma, podemos distinguir 
que a mesma nota (altura) emitida por um violino é diferente do som de 
uma flauta transversa. 
 Em música, ritmo e melodia, durações e alturas se apresentam ao mesmo �
tempo, um funcionando como portador do outro. Todo som tem uma du-
ração e uma altura, por mais indefinido que possa ser.
Jacques Offenbach 
(1819-1880)
O Belle Nuit (da ópera Os Contos de Hoffmann)
Faixa 3 (CD 1)
O som e suas características
17
A ressonância, que permite ao som vibrar dentro de um corpo, emite uma 
frequência fundamental e um feixe de ondas, subdividida nos sons da série har-
mônica. Quando um timbre é rico, ele possui muitos harmônicos, que consti-
tuem a série harmônica, que por sua vez é a única escala natural resultante do 
fenômeno acústico. Tudo o mais é construção artificial em torno dessa série. O 
exemplo é a vibração da corda de um violão: ao oscilar, essa corda tem o seu 
timbre definido pela soma da frequência básica com os seus modos harmônicos 
múltiplos.
Um som musical constitui-se do som da nota principal e dos sons secundá-
rios que soam juntos, em uma intensidade bem mais fraca e quase imperceptí-
vel. O som principal denomina-se som fundamental e os que acompanham são 
os sons harmônicos. 
Representação de uma corda 
vibrando em toda a sua extensão 
e produzindo determinado som. 
Ao ser vibrada, simultaneamente, 
ela se divide em duas, três, quatro, 
cinco ou mais partes, produzindo 
sons secundários.
A série harmônica é constituída pelos sons que acompanham o som principal 
(fundamental).
Desde a Antiguidade, muitas civilizações perceberam que um corpo em vi-
bração produz sons em diferentes frequências. O filósofo e matemático Pitágo-
ras (séc. VI a.C.) constatou que ao colocar uma corda em vibração ela não apenas 
vibra em sua extensão total, mas também forma uma série de nós, que a dividem 
em seções menores, que vibram em frequências mais altas que a fundamental. 
Para facilitar a compreensão, mostra-se separadamente, mas em uma corda real, 
que todos os sons se sobrepõem, gerando um desenho complexo, semelhante à 
forma de onda do instrumento.
18
O som e suas características
As 16 primeiras notas da série harmônica:
A nota de número 1 é o som fundamental dessa série e as outras que seguem 
são seus harmônicos. Imagine um teclado de piano e a nota de número 1 é um 
Dó na região bem grave. Ela e as notas até o número 7 estão escritas com a clave 
de Fá, que é própria para o registro de sons graves. A partir da nota de número 
8, é utilizada a clave de Sol, indicando que as alturas dos sons harmônicos estão 
chegando na região média e, em seguida, passando para a região aguda.
Envoltória Sonora ou Envelope Sonoro 
Os harmônicos produzidos a partir da nota fundamental dependem das ca-
racterísticas peculiares de cada instrumento e também da forma como são ex-
traídos seus sons. Por isso, a forma da onda torna-se irregular.
Todas as frequências somadas simultaneamente resultam na forma envoltó-
ria da onda produzida, a forma da onda final. Esta está ligada diretamente ao 
timbre e pode ser manipulada pelos editores. A forma envoltória pode ser di-
vidida em quatro regiões diferentes: o ataque, que possui o volume máximo; o 
decaimento, que é a redução do volume que se segue ao ataque, a sustentação; 
pois o som se mantém constante; e o relaxamento, quando acontece a redução 
gradativa do volume até o silêncio total.
A seguir, imagens representando o envelope sonoro ou envoltória sonora em 
três instrumentos:
som da tabla, espécie de tambor da Índia; �
notas produzidas por uma trompa; �
som longo produzido pela flauta. �
O som e suas características
19
Tabla
Is
to
ck
ph
ot
o.
Trompa
Co
m
st
oc
k 
Co
m
pl
et
e.
20
O som e suas características
Flauta
Is
to
ck
ph
ot
o.
Impedância
O fenômeno da impedância está relacionado à quantidade de som que passa 
por determinado obstáculo, podendo ser medido pelo movimento da onda 
sonora exercida com certa pressão sobre esse objeto. Os obstáculos que são rí-
gidos e causam maior reflexão do som no ambiente possuem maior impedância 
que objetos menos rígidos e menos reflexivos. Por exemplo, um material rígido 
(madeira, concreto, vidro) vibra muito pouco em resposta à pressão exercida por 
um som e sua impedância acústica é muito alta. No caso de uma membrana que 
se flexiona facilmente (instrumentos de pele), sua matéria vibrará em resposta 
a esse som e sua impedância é muito menor. Resumindo: objetos de alta impe-
dância refletem mais o som, enquanto objetos de baixa impedância absorvem 
mais o som. 
Tambor: sua pele vibra muito, portanto, sua im-
pedância é menor.
Is
to
ck
ph
ot
o.
O som e suas características
21
O ruído
Uma onda complexa que possui frequências regulares, constantes e estáveis 
produz um som afinado, com altura definida. A onda com frequências irregula-
res, inconstantes, instáveis, produz barulhos e ruídos. Por exemplo, a batida do 
coração tende à constância, à continuidade do pulso; um espirro ou um trovão 
tendem à descontinuidade ruidosa.
O ruído soa como algo confuso, desordenado. 
Um som não musical e indesejado,assim como 
um som muito forte, pode ser chamado de ruído. 
Observamos que esse termo possibilita também 
um conceito subjetivo, significando que para uma 
pessoa o que soa é música; para outra, é ruído. Som 
e ruído farão parte da matéria-prima da música, e 
ambos podem ser utilizados pelos compositores 
em seus trabalhos. 
Conforme o ambiente, o contexto e a época, o grau de ruído que se ouve ad-
quire diferentes interpretações. Os conceitos de dissonância e consonância mu-
daram ao longo dos séculos. Assim como a sonoridade de uma banda de rock 
pode ser exagero para alguns ouvidos, para outros é agradável e envolvente. A 
precisa afinação de um instrumento de cordas é decisiva na execução de um 
concerto, enquanto pode ser insignificante quando usado para outros efeitos, 
como a distorção. Um grito nas brincadeiras das crianças é normal, mas pode ser 
assustador em uma biblioteca, por exemplo. 
Como ruído é o som que desorganiza outro som, em arte ele se torna um 
elemento criativo. A música procura ordenar os ruídos que estão no ambiente, 
construindo-se com elementos repetitivos, periódicos, regulares e irregulares, 
em uma representação da sociedade com sua harmonia e seus conflitos.
A música pode ser definida como a extração do som ordenado e periódico do 
ambiente de ruídos.
A cultura musical, que busca os sons afinados, faz com que esses sons dialo-
guem com o ruído, a instabilidade e a dissonância. Por meio das diversas mode-
lagens sonoras, a música se apresenta com sons sucessivos, simultâneos, contí-
nuos e descontínuos, com repetições e diferenças. 
Diversos Autores
Improviso n. 1 
Faixa 4 (CD 1)
22
O som e suas características
Os materiais sonoros – som e ruído – são concebidos e interpretados de 
acordo com as culturas que os aceitam ou rejeitam no seu desenrolar histórico, 
podendo sofrer alterações conceituais em determinadas épocas. A música con-
temporânea admite todos os materiais sonoros possíveis: o som, ruído, silêncio, 
pulso e não pulso, argumenta Wisnik (1989). 
Luiz Carlos Csekö
(1945)
Canções dos Dias Vãos Seis
Faixa 5 (CD 1)
Curiosidade
Ruído branco: no som do mar podemos ouvir diferentes e inconstantes 
durações, com alturas (frequências) oscilando entre grave e agudo. Esse tipo 
de ruído resulta da combinação simultânea de sons de todas as frequências.
O termo branco é usado por analogia com a luz branca, que possui, de 
forma combinada, todas as frequências cromáticas.
Co
re
l I
m
ag
e 
Ba
nk
.
 
O som e suas características
23
Silêncio
Para os músicos, o silêncio adquire um significado muito especial porque a 
partir dele acontece a criação musical, que é um momento sensível: com o silên-
cio, a criação musical fica protegida do ruído, relembra Wisnik (1989).
O valor do silêncio aumenta porque o estamos perdendo à medida que con-
vivemos com muitos ruídos urbanos. O compositor Anton Webern (1883-1945) 
o utilizou em suas obras. John Cage (1912-1992), também compositor, ficou em 
uma câmara à prova de som (anecoica) e constatou que o silêncio não existe, 
pois pôde ouvir o som grave da sua circulação e o som agudo do seu sistema 
nervoso em funcionamento. 
Para melhorar o nosso ambiente sonoro, é necessário pensarmos em redes-
cobrir o silêncio como um elemento positivo para silenciar a mente e ampliar a 
consciência.
O som e o tempo são as matérias-primas da música. O som, por ser um fe-
nômeno concreto, permite a lógica da estrutura que rege o discurso musical, e 
o tempo orienta as dimensões exterior e interior da sua organização. No tempo 
musical, com suas continuidades e descontinuidades, está a origem da simbo-
logia musical.
Vamos agora conhecer a fantástica aventura do ouvido humano para desfru-
tar do mundo dos sons. 
O mecanismo da audição: o som chegando ao 
nosso cérebro
O ouvido humano tem capacidade para perceber 400 mil sons diferen-
tes, podendo distinguir cada elemento sonoro individualmente mesmo em 
um conjunto de sons. Esse processo é representado, por meio de aparelhos 
específicos, em um complexo emaranhado de linhas. Quando realizamos o 
processo de escuta, em direção ao nosso ouvido há convergência de todas as 
ondas resultantes de cada evento sonoro isolado, o que resulta em uma sofis-
ticada interação de flutuações de pressão. Mesmo que a ciência acústica tenha 
dificuldade para explicar como isso acontece, o ouvido pode reconhecer indivi-
dualmente e localizar a grande maioria dos sons emitidos em um aglomerado 
de texturas sonoras.
24
O som e suas características
Como se dá o processo da audição?
O som se propaga produzindo ondas sonoras que se deslocam até atingirem 
o ouvido. O mecanismo da audição transforma essas ondas em sinais elétricos 
que são transmitidos através do nervo auditivo até o cérebro, onde essas ondas 
são interpretadas como mensagem.
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O ouvido humano é dividido em três partes anatômicas: 
ouvido externo; �
ouvido médio; �
ouvido interno. �
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S.
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.
Ouvido 
externo
Ouvido 
médio
Ouvido 
interno
O som e suas características
25
Ouvido externo
Consiste em orelha e canal auditivo, que culmina no tímpano ou membrana 
timpânica. Quando a onda sonora chega ao ouvido, uma parte é transmitida 
pelo canal auditivo e outra parte é refletida para fora do ouvido. O tímpano vibra 
a partir da pressão das ondas que chegam e são canalizadas da orelha para uma 
área bem menor – o canal auditivo. Observando a parte posterior da orelha, 
iremos verificar um aumento na área responsável pela coleta do som, onde ini-
cialmente os sons são percebidos com maior intensidade.
Enquanto os sons chegam à orelha, o ouvinte já pode localizar de 
onde eles procedem, a distância da fonte sonora, se é grave ou agudo. 
Vale ressaltar que, quanto mais agudo for o som, maior será a dificuldade 
de determinar a distância. O cérebro é capaz de analisar as diferenças de tempo 
de acordo com a direção de onde o som partiu e incidiu na orelha. Quando a 
fonte sonora não estiver diante ou diretamente atrás do ouvinte, os ouvidos cap-
tarão sinais diferentes, pois as ondas sonoras resultantes atingirão uma orelha 
antes da outra (fenômeno denominado disparidade binaural). Esse mecanismo 
de localização do som é usado pelo cérebro para a construção da imagem sonora 
espacial.
Ouvido 
interno
Tímpano
Pavilhão 
auditivo
Meato 
acústico
Ouvido 
externo
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S.
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26
O som e suas características
Ouvido médio
Externamente, é formado quase que apenas pelo tímpano. Em oposição ao 
tímpano, há a janela oval e a janela redonda, pequenas aberturas que separam 
o ouvido médio do interno. O tímpano é ligado à janela oval por uma espécie 
de alavanca formada por três ossículos – o martelo, a bigorna e o estribo (este 
último, com apenas três milímetros). Na parte traseira do ouvido médio, há o 
encontro com a garganta através da Trompa de Eustáquio, que, por suas vias, 
permite que o ar entre e saia da estrutura fisiológica do ouvido médio. É por 
meio desse canal que o corpo procura equalizar a variação de pressão no ouvido 
médio quando nele há a sensação incômoda causada pela pressão ao se descer 
uma serra ou durante uma decolagem de avião.
O ouvido médio faz a ponte entre a captação do som pelo ouvido externo e o 
processamento cerebral dos dados sonoros, tais como esses dados são comuni-
cados ao cérebro pelo ouvido interno. Portanto, o ouvido médio é encarregado 
de transmitir as vibrações sonoras para a janela oval, na entrada do ouvido in-
terno. Isso acontece porque, quando vibram, o tímpano e os ossículos martelo 
e bigorna fazem o estribo se mover para dentro e para fora da janela oval, como 
se fosse um pistão. Essa função do ouvido externo, que intervém no mecanismo 
de captação, permite que 50% dessa energia sonora possam ser transmitidos ao 
ouvido interno, o que possibilita a percepção da frequência (tom), fundamental 
para a prática musical. 
A delicadeza da estrutura do ouvido interno não permite a captação diretade uma onda sonora: ela seria refletida para fora. Quando chega ao tímpano, 
o som recebe a força da pressão do som multiplicado pela área da membrana 
timpânica. Essa força é transmitida pelos três ossículos à janela oval, que possui 
uma área 25 vezes menor do que a área do tímpano, de modo que ali a pressão 
sonora será elevada pelo fator 25. A pressão sonora é aumentada pelo fator 2 
por meio da ação de alavanca dos três ossículos, ao mesmo tempo que reduz a 
velocidade da janela oval, que acaba recebendo a pressão 50 vezes maior que a 
exercida sobre o tímpano, enquanto a velocidade de amplitude é reduzida pela 
metade. O ouvido médio, portanto, faz o papel de amplificador. 
O som e suas características
27
Tímpano
martelo bigorna estribo
Ossículos 
do ouvido 
médio
Tuba 
auditiva
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Canal que liga o ouvido médio à rinofaringe.
Sua função é manter a pressão interna do ouvido.
Tuba auditiva
28
O som e suas características
Quando ouvimos um som muito forte, um pequeno músculo no ouvido 
médio puxa o estribo para fora da janela oval, reduzindo o montante de energia 
transmitida para dentro do ouvido interno, protegendo-o. É o chamado reflexo 
acústico, assim como também piscamos de maneira instintiva quando recebe-
mos nos olhos uma luz muito forte. Essa filtragem sonora se dá para as frequên-
cias que se situem abaixo de 1 000Hz, isto é, dos componentes mais graves de 
um aglomerado sonoro. O tempo do reflexo acústico se dá logo após a chegada 
de um som forte, mas ele não pode proteger o ouvido interno de impulsos so-
noros muito rápidos, como o ruído de um tiro.
Ouvido interno
É o lugar onde as informações sobre o fenômeno sonoro são convertidas em 
sinais elétricos e enviadas ao cérebro. É conhecido como labirinto. Possui canais 
semicirculares que são responsáveis por nosso sentido de balanço e de equilí-
brio. Outra parte maior, a cóclea, é responsável por nosso sentido de escuta.
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Canais 
semicirculares
Caracol ou 
cóclea
Nervo 
auditivo
Utrículo
Sáculo
A cóclea é uma espécie de tubo de cerca de 35 milímetros de comprimento, 
em forma de concha espiralada ascendente, com duas voltas e meia. Seu inte-
rior é forrado com milhares de minúsculos fios. O tubo mede dois milímetros 
O som e suas características
29
de diâmetro e estreita-se gradualmente até sua ponta. Quando o estribo move 
a cóclea, os pequenos fios são movimentados para frente e para trás. Na base 
de cada fio existe um neurotransmissor que envia impulsos elétricos pelo nervo 
auditivo até o cérebro. Entre outras funções, a cóclea é responsável pela capaci-
dade do ouvido para perceber diferentes alturas sonoras. Sons de fraca intensi-
dade provocam pouca movimentação nos fios da cóclea, e os sons mais fortes os 
movem com maior intensidade. 
A cóclea é um aparelho membranoso formado por tubos espiralados.
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Órgão de Corti
Na cóclea, encontramos a membrana basilar, que é importante na percepção 
das alturas (grave-agudo). Sua superfície superior possui as células nervosas em 
forma de cílios, formando o órgão de Corti, que contém cerca de 30 mil fibras 
nervosas ou células ciliadas, consideradas os “cabos elétricos” que transmitem os 
sinais ou impulsos elétricos ao cérebro, que por sua vez os processa e os inter-
preta. Esses sinais correspondem a algumas linhas e movimentos que produzem 
imagens acústicas.
30
O som e suas características
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Resumindo, a percepção sonora se dá por meio do aparelho auditivo, que 
é formado de três partes distintas: ouvido externo, ouvido médio e ouvido 
interno.
Esquema da Percepção Sonora
Ouvido externo: captura e concentra as ondas sonoras. �
Ouvido médio: transmite as ondas sonoras ao nervo auditivo. �
Ouvido interno: converte as informações em sinais elétricos e os envia ao �
cérebro.
Quando entra no ouvido, o sinal acústico é filtrado e elaborado para ser aces-
sível ao cérebro, que não sente e não vê, reagindo por sinais. Os órgãos externos 
que compõem o sistema auditivo devem traduzir para o cérebro as diferentes in-
formações. Nessa passagem, há muitas células, conexões e processos químicos 
que são sensíveis e podem ser destruídos. Nosso cuidado deve ser com a música 
que decidimos ouvir, pois nesse momento estamos abertos e disponíveis. O som 
que entra chega ao cérebro estimulando nossos neurônios a perceberem uma 
escala com grande variedade de sons. São neurônios delicados e qualificados 
para identificar as mínimas percepções, com muitas cores musicais, produzindo 
muita emoção e prazer para o ouvinte. Mas também podem danificar a nossa au-
dição com o volume exagerado ou a baixa qualidade musical. Assim, se insistir-
mos em agredir nossos ouvidos, poderemos destruir as células basais acústicas, 
ensina-nos Meneghetti (2005).
O som e suas características
31
No parque próximo ao Jardim Botânico de Melbourne, Austrália, há um 
aviso:
EM MEMÓRIA DE EDWARD GEORGE HONEY (1855-1922)
Jornalista de Melbourne que, quando residia em Londres, foi o primeiro a 
sugerir a cerimônia de um minuto de silêncio.
As aranhas possuem pelos que são responsáveis pela detecção do som.
D
iig
ita
l J
ui
ce
.
O astrônomo Johannes Kepler acreditava em um sistema perfeito que 
unia a música à astronomia. Desse modo, ele calculou as alturas para cada 
um dos planetas:
Saturnus Jupiter Mars ferè Terra
Venus Mercurius Hic locum habet etiam 
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Temos a responsabilidade de fazer as melhores escolhas musicais porque a 
música nos leva a um contato com nosso mundo interior, e essa é uma conversa 
muito íntima e preciosa. 
Todos a postos: vamos abrir nossos ouvidos e descobrir o mundo curioso e 
sensível dos sons.
Textos complementares
32
O som e suas características
Instrumentos desconhecidos: been
Flauta usada por encantadores de serpentes. É feita de casca de coco ou 
cabaça e dispõe de três tubos.
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tr
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M
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en
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.
Referências
BENNETT, Roy. Elementos Básicos da Música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 
1987.
BERTULANI, C. A. Ondas Sonoras. Disponível em: <www.if.ufrj.br/teaching/fis2/
ondas2/ondas2.html>. Acesso em: 25 jan. 2008.
Na notação atual, a grafia seria esta:
Saturno Júpiter Marte Terra
Vênus Mercúrio Alternativamente
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A famosa expressão música das esferas refere-se à doutrina grega que afir-
mava a relação harmoniosa entre os planetas ao se moverem com proporção 
e regularidade. Diante da descoberta sobre a correspondência matemática 
entre as proporções dos harmônicos em uma corda posta a soar, Pitágoras 
conjecturou que os dois tipos de movimento eram expressões de uma lei 
universal perfeita que ligava música e matemática. 
O som e suas características
33
GUYTON, Arthur C. Fisiologia Humana. 5. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 
1981.
JOURDAIN, Robert. Música, Cérebro e Êxtase: como a música captura nossa 
imaginação. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.
MED, Bohumil. Teoria da Música. 4. ed. Brasília: Musimed, 1996.
MENEGHETTI, Antônio. Manual de Melolística e outras Técnicas Psicocorpó-
reas. Recanto Maestro: Ontopsicologia Editrice, 2005.
_____. Nova Fronda Virescit: em busca da alma. Recanto Maestro: Ontopsico-
logia Editrice, 2006.
MENEZES, Flo. A Acústica Musical em Palavras e Sons. Cotia: Ateliê Editorial, 
2003.
SÁ, Sérgio. Fábrica de Sons: os recursos oferecidos pela tecnologia musical. 4. 
ed. São Paulo: Editora Globo, 2003.
SCHAFER, Raymond Murray. A Afinação do Mundo. São Paulo: Editora Unesp, 
2001.
_____. O Ouvido Pensante. São Paulo: Editora Unesp, 1991.
SERRA, Fábio. Áudio Digital: a tecnologia aplicada à música e ao tratamento de 
som. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2002.
VILELA, Ana Luisa Miranda. Audição. Disponível em: <www.afh.bio.br/sentidos/
Sentidos3.asp>. Acesso em: 25 jan. 2008.
WISNIK, José Miguel. O Some o Sentido: uma outra história das músicas. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1989.
A música e seus elementos básicos
A música não é para ser ouvida. É ela que nos ouve.
José Miguel Wisnik
A música sempre esteve associada às manifestações humanas. Sendo 
assim, ela sempre foi uma maneira que os homens encontraram para ex-
pressar seus sentimentos. O homem das cavernas usava sons para se co-
municar, buscando exteriorizar seus pensamentos e emoções.
Evolução e desenvolvimento
Por meio dos materiais que estavam à sua disposição, o homem podia 
criar objetos sonoros com ossos, conchas, madeira, sementes. Com a sua 
evolução, ele procurou agrupar diferentes tipos de sons que tivessem re-
lações entre si, formando uma harmonia sonora. Assim o homem pôde 
perceber o resultado da qualidade sonora, sua função e utilidade.
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Podemos considerar a música como uma ideia organizada e possível de 
ser transmitida aos outros. Surgida há cerca de 50 mil anos com o homem 
pré-histórico, muitas narrativas contam da sua origem, sendo que, para 
35
36
A música e seus elementos básicos
alguns, a música começou com os ritmos das danças e sons dos tambores, bati-
das de pés no chão, palmas, sons dos colares e braceletes. Essas manifestações 
serviam para festejar ou estimular uma boa colheita, uma boa caçada, a fertilida-
de da terra e dos homens, estabelecer contato com a natureza por meio da imi-
tação de seus sons, comunicar-se com os deuses ou seus ancestrais. Associada 
à dança, a música assumia um caráter ritual, inclusive com funções mágicas. O 
importante é perceber que os elementos básicos da música já estavam presen-
tes na dança, como o som e o ritmo. Eles fazem parte do próprio homem porque 
os movimentos do coração e a respiração já são elementos rítmicos, assim como 
o passo. As batidas de mãos e o movimento corporal complementam as sonori-
dades naturais.
D
om
ín
io
 p
úb
lic
o.
Civilização musical
Os instrumentos primitivos eram pouco melodiosos, produzindo sonorida-
des mais roucas, barulhentas, ou apenas emitindo ruídos. A pre dominância do 
ritmo, agindo com grande poder sobre a parte física, proporcionava o movimen-
to do coletivo no seu aspecto socializante. Mesmo sendo, inicialmente, um tanto 
primitivas, essas atividades eram intensas em significado, com envolvimento da 
família e da tribo.
Temos como exemplo o litofone do período neolítico, encontrado no Vietnã 
e exposto no Musee de l’ Homme, em Paris. Também o rombo, a flauta, o apito de 
ossos, os tambores e as conchas são objetos sonoros antigos.
O canto apareceu mais tarde, talvez quando houve um maior desenvolvimen-
to cerebral e os homens puderam organizar a linguagem, buscando produzir os 
sons das vogais e os ruídos das consoantes.
A música e seus elementos básicos
37
Em uma abordagem interessante, Roland de Candé (2001) organiza uma su-
cessão hipotética de etapas evolutivas dos fenômenos musicais e as relaciona à 
evolução da espécie humana. São elas:
organização rítmica rudimentar, por batidas com bastões, percussão no �
corpo, objetos sacudidos ou entrechocados;
imitação dos ritmos ou dos ruídos da natureza, pela boca e pela laringe (o �
grito como expressão das sensações e emoções primárias);
variações na altura e no timbre da voz quando o homem busca expressar- �
-se com intenção e emoção – o homem procura cultivar a voz e se adapta 
progressivamente, tomando consciência desse recurso (50 mil a 70 mil 
anos atrás);
construção de objetos sonoros com maiores recursos e diferenciados na �
expressão artística e na imitação dos ruídos da natureza – após uma lenta 
adaptação, o homem está apto a falar e a cantar, procurando associar a ex-
pressão vocal à expressão instrumental e nesse estágio o homem adquire 
uma consciência musical (cerca de 40 mil anos atrás);
organização sistemática dos fenômenos sonoros, frente às sociedades em �
formação – o canto se distingue claramente da linguagem falada e a mú-
sica instrumental também se diferencia dos gestos, além disso o homem 
passa a refletir sobre suas ações, produzindo o nascimento das primeiras 
civilizações musicais (cerca de 9 000 a.C.). A música passa a ter importân-
cia nas funções rítmicas, mágicas, terapêuticas e políticas.
A partir desse período, com as ferramentas de pedra polida, foi possível fa-
bricar objetos sonoros afinados na altura desejada, permitindo, então, o desen-
volvimento de uma civilização musical. O resultado dessa conquista é o apa-
recimento dos instrumentos de membranas e cordas e, após, a fabricação de 
instrumentos de metal (cerca de 5 000 a.C.). De acordo com o progresso dos 
instrumentos musicais, a música também evoluiu, despertando a criatividade e 
a imaginação.
Com a possibilidade de agrupar a voz ao gesto, o canto aos instrumentos e 
os sistemas possíveis de transmissão, a música passa a ser utilizada nos rituais 
e atividades coletivas. A imagem que temos desse período é a de uma gravura 
rupreste representando um tocador de flauta ou de arco musical, localizada na 
gruta de Trois Frères, Ariège, França (cerca de 10 000 a.C.).
38
A música e seus elementos básicos
O que é música
Conceitos
Muitos conceitos existem para definir a música. Vamos conhecer alguns:
[...] Convenço-me cada vez mais que a música não é, por sua essência, algo 
que se possa colar a uma forma rigorosa e tradicional. Ela é cores e tempos 
ritmados [...]
Claude Debussy
Música é a arte de combinar os sons simultânea e sucessivamente, com 
ordem, equilíbrio e proporção dentro do tempo.
Bottumil Med
A música, em sua história, é uma longa conversa entre o som e o ruído.
José Miguel Wisnik
A música supõe um mínimo de organização e um esforço de adaptação 
dos corpos sonoros a uma finalidade prática, quando não artística.
Roland de Candé
Música é a ciência que pode fazer-nos rir, cantar e dançar.
Guillaume de Machaut 
Classificação
Vejamos algumas classificações para diferentes tipos de música:
Música clássica � – é usada para indicar qualquer música que não pertença 
às tradições folclóricas ou populares. A expressão relaciona-se principal-
mente ao classicismo vienense, entre o século XVIII e início do século XIX, 
especialmente com os compositores Haydn, Mozart e Beethoven.
A música e seus elementos básicos
39
Música das esferas � – para os pitagóricos (partidários de uma doutrina 
grega antiga), a música representa a harmonia universal, justificando a re-
lação harmoniosa entre os planetas pelas proporções entre suas órbitas 
e sua distância fixa em relação à Terra. Afirmavam eles que seu conheci-
mento é necessário para todos poderem elevar-se tanto na sabedoria e 
na ciência como também na alma, porque ela mantém os sentimentos 
nobres e justos, garantindo a estabilidade e a prosperidade do Estado, cita 
Candé (2001). Alguns compositores, como Paul Hindemith (1895-1963), 
utilizaram-na como um conceito metafórico.
Música folclórica � – expressão usada para as tradições musicais que são 
transmitidas oralmente.
Música incidental � – é a música composta para um filme, peça de teatro, 
programa de rádio ou televisão.
Música programática � – é um tipo de música que tem a função de narrar 
ou descrever objetos ou eventos.
Funções
Grandes pensadores, desde a Antiguidade, expressaram suas ideias sobre a 
função da música, observando a sua grande contribuição para o ser humano, 
por exemplo:
Para ser instruído em todas as coisas, é preciso estudar com cuidado a 
música em seus princípios naturais.
Confúcio
Mesmo que a presença e a função da música se modifiquem em alguns pe-
ríodos da história, o seu desenvolvimento esteve sempre ligado à sociedade, 
revelando aperfeiçoamento, especialização e, consequentemente, a sua evo-
lução. Aconteceram mudanças expressivas nas relações entre os que a produ-
ziam, como os compositores, editores e intérpretes, e o ouvinte. Por outro lado, 
a música, que era uma prática vivenciada por todos originalmente, passa a de-
pender de um público com característicaspróprias, exercendo pressão e agindo 
conforme suas posições políticas, sociais e históricas.
Na Grécia, onde aconteciam grandes espetáculos, surgiram as primeiras manifes-
tações de um público consciente. Com a chegada do Cristianismo, a música passou 
40
A música e seus elementos básicos
a ter a função de auxiliar o homem no seu aprimoramento e na salvação da alma, e 
já não era mais destinada ao povo. Por muitos séculos, a arte mais elaborada perma-
neceu nas mãos da Igreja e da elite social e cultural. A música erudita ficou cada vez 
mais complexa, formando um público educado musicalmente, mas passivo na sua 
manifestação. A burguesia, a nobreza e a Igreja patrocinam e desfrutam do talento 
dos grandes músicos, que assim conseguem sair do anonimato. O povo se afasta 
dessa música por considerá-la muito elaborada, podendo apenas ouvi-la nas igre-
jas, produzindo alternativamente outras formas de música com transmissão oral e 
conforme suas necessidades.
Nos séculos XVII e XVIII, com o surgimento dos teatros de ópera e dos concer-
tos públicos (para os quais, apesar do nome, os ingressos eram pagos), as pesso-
as puderam manifestar-se livremente sobre o que lhes agradava ou não.
Significados
Os sons organizados, produzidos e ouvidos expressam uma criação musical 
e o seu sentido está relacionado à compreensão que podemos ter, atribuindo- 
-lhes significados. A música, como expressão humana, diz respeito a sua função 
e posição cultural, pois precisamos localizá-la no contexto em que foi criada. O 
ouvinte é o intérprete que apreciará a música segundo sua sensibilidade, per-
cepção sonora e conhecimento adquirido.
Nosso interesse pela música provém de uma habilidade complexa que o 
nosso cérebro pode executar. Quando os sons chegam a nós, podemos classificá-
-los de acordo com suas características físicas (acústica), o modo de percebê-los 
(psicoacústica), a função e o significado (semiótica e semântica) ou, ainda, con-
forme suas qualidades emocionais ou afetivas (estética), sugere Schafer (2001). 
Ao ouvirmos uma canção ou uma peça instrumental, buscamos naturalmente 
ligar os sons para formar melodias, frases, observar a harmonia, as mudanças 
de intensidade e os diferentes ritmos que se apresentam. Quando conseguimos 
decodificar e modelar essas relações, surgem as sensações e os significados que 
iremos atribuir ao que estamos ouvindo.
Representações mentais
A arte musical é uma arte que acontece no tempo porque os sons, quando 
acabam de soar, já estão se extinguindo. Consideramos, então, a música como 
A música e seus elementos básicos
41
um fenômeno passageiro e em movimento constante, gerando uma expectativa 
daquilo que está por vir, dando sequência ao que foi ouvido antes. Para que pos-
samos dar um significado a uma obra musical, é necessário que haja elementos 
de repetição ou variação de uma ideia ou então possibilitar a criação de novas 
relações entre o que está acontecendo agora e o restante da peça. Os sons ouvi-
dos, passados alguns minutos, só poderão permanecer na mente do ouvinte por 
meio de imagens aurais, que são representações mentais dos sons.
Essas representações são as possibilidades que temos de evocar, de 
lembrar os objetos ausentes, tornando-os presentes no pensamento 
por meio de imagens e, portanto, são as interiorizações daquilo que conhece-
mos e de tudo aquilo que podemos criar. Por exemplo, quando ouvimos uma 
música, formamos imagens sobre os sons, que são imagens apoiadas na audi-
ção, chamadas imagens aurais. Essas imagens permitem que um indivíduo me-
morize e lembre as músicas conhecidas.
O compositor Ludwig van Beethoven (1770-1827) só pôde compor e escrever 
muitas obras, mesmo estando surdo, unicamente por meio das imagens aurais: 
os sons continuavam a soar em sua mente.
Ao visualizar um quadro, uma escultura ou uma obra arquitetônica, nossos 
olhos podem apreciá-los por tempo indefinido e retornar quantas vezes quiser-
mos para admirá-la. A música, no entanto, é um organismo vivo e seus elemen-
tos são de ordem temporal. Enquanto está sendo ouvida, provoca reações fisio-
lógicas no organismo e, consequentemente, desperta emoções e ativa a mente. 
Combinações sonoras
Graças às diferenças nas características sonoras (altura, duração, intensidade 
e timbre) e suas combinações, percebemos as estabilidades e instabilidades har-
mônicas, resultado do emprego dos elementos musicais em uma composição e 
relacionadas aos conceitos de consonância e dissonância. A aplicação no uso das 
regras harmônicas acompanhou os diferentes períodos da música ocidental. Ideias 
aceitáveis e válidas foram se modificando e surgiram novas formas de harmonizar. 
Vamos ouvir duas obras e compará-las entre si quanto a esses aspectos.
42
A música e seus elementos básicos
Estabilidades harmônicas:
Antonio Vivaldi 
(1678-1741) 
Concerto para Fagote n. 33 
em Dó Menor, Terceiro 
Movimento: Allegro
Faixa 6 (CD 1)
Instabilidades harmônicas:
Erich Wolfgang Korngold 
(1897-1957)
Quarteto de cordas n. 1 em Lá Maior, 
op. 16, Finale: Allegreto 
Amabile Comodo
Faixa 7 (CD 1)
O desenrolar das notas e ritmos cria movimentos intensos e suas relações 
não são neutras, mas envolvidas por atrações que polarizam em tensões e sus-
pensões como ímãs, em uma busca de organização. Não há duas peças iguais, 
assim como também as interpretações dependem das habilidades e estilos dos 
músicos. Ouça com atenção a duas gravações e veja como podem ser originais e 
interessantes os diferentes arranjos de uma mesma música.
Antônio Carlos Jobim
(1927-1994)
Águas de Março
Faixa 8 (CD 1)
Antônio Carlos Jobim
Águas de Março
Faixa 9 (CD 1)
Muitas atividades estão envolvidas na arte musical, como a criatividade do 
compositor, a elaboração e construção dos instrumentos musicais, a dedicação e o 
estudo dos intérpretes para executar as obras, a formação das orquestras, as salas 
de concerto, o ouvinte, a impressão de livros e partituras, entre outras tantas.
A música e seus elementos básicos
43
A obra musical quando realizada, isto é, posta a soar por meio da emissão 
vocal ou instrumental, torna-se audível. Por meio de registros gráficos conven-
cionais e não convencionais, podemos “ver” ou depreender a sonoridade que a 
peça musical terá quando executada. 
Sinais gráficos
A partitura registra a composição de forma detalhada, para que possa ser 
executada por diferentes pessoas, em diferentes períodos da história e em várias 
partes do mundo. 
Beethoven – Sonata para piano n. 8 "Patética", em Dó menor, 
opus 13 (1799).
44
A música e seus elementos básicos
Também vamos encontrar partituras com outras configurações e que trazem 
novas formas de grafar a música. 
A notação do século XX não é unificada, variando entre os compositores. 
Estes são alguns exemplos: 
(M
ED
, 1
99
6.
 p
. 3
90
 a
 3
92
)
nota mais 
aguda possível
nota com 
registro médio
Accelerando:
Accelerando e ritardando:
Ritardando:
Improvisar seguindo aproximadamente a trajetória dada.
Indica a duração da nota
nota mais 
grave possível
linha 
de som
som mais 
curto possível
0.30
Sinais encontrados (com certa frequência) na música contemporânea
A música e seus elementos básicos
45
Continuar tocando o mesmo modelo:
crescendo
Tocar as notas 
com a maior 
velocidade 
possível
decrescendo
Pontos sonoros
vários tipos de vibrato
Rápido crescendo no final do som
muitos 
sons
poucos 
sons
(M
ED
, 1
99
6.
 p
. 3
90
 a
 3
92
)
46
A música e seus elementos básicos
Muitas peças do século XX utilizam esse tipo de notação, deixando que o 
intérprete crie, no momento da execução, sons e suas dinâmicas segundo as 
indicações do compositor. 
Sergei Prokofiev 
(1891-1953)
Sinfonia Concertante em Mi Menor, 
op. 125, Segundo Movimento: 
Allegro Giusto
Faixa 10 (CD 1)
É importante ressaltar que nem todos usam técnicas radicais. Alguns mantêm 
seus estilos diferenciados e pessoais e, usando material tradicional, obtêm resul-
tados originais. 
AranIlych Katchaturian 
(1903-1978)
Dança com Sabres 
(do balé Gayane) 
Faixa 11 (CD 1)
A música também pode ser composta e permanecer na memória das pessoas 
por um tempo sem que haja registro escrito. Essa é a forma como muitas can-
ções são conhecidas e chegam até nós. Os exemplos são as músicas folclóricas, 
as brincadeiras e os jogos.
Elementos básicos da música
Ao ouvir uma música, podemos percebê-la como um todo, mas se aguçar-
mos o ouvido descobriremos que ela é feita de muitos detalhes que a identifi-
cam como única e especial. Do que será feita uma música?
A música e seus elementos básicos
47
Quando lemos uma história, buscamos identificar os personagens, seus 
papéis e como se relacionam. Identificamos a figura principal, que é o centro dos 
acontecimentos, conduzindo nossa atenção. É importante descobrir suas carac-
terísticas, seu estilo e conhecer seu temperamento para entender bem de quem 
se trata. Percebemos o ambiente no qual acontece, o local e a época. Captamos 
o clima de alegria ou tensão, medo, tristeza, horror e tantos outros sentimentos. 
Envolvemo-nos para compreender que intenções o autor está querendo nos 
passar. Além disso, observamos quais os recursos usados para fazer a história 
acontecer, como a forma da escrita, estilo, pontuação, detalhes nas narrativas, 
contrastes nas emoções. Verificamos se as frases são longas, curtas, com per-
guntas ou interrompidas, com expectativas para o leitor completar o seu pensa-
mento. É importante observar se o criador da história utiliza palavras simples ou 
mais complexas, se aprecia retornar aos fatos ou detalhes já narrados etc. Enfim, 
analisamos como um escritor trabalha para que palavras se transformem em 
uma história, que pode ser muito interessante ou não. Pode ser criativa, trazendo 
novidades, ou algo semelhante ao que já conhecemos. Esse é um exemplo que 
pode ser ampliado para muitas outras áreas, e assim podemos fazer o exercício 
de estar ao mesmo tempo dentro e fora de um livro, de um quadro, uma escul-
tura, uma peça teatral, uma dança, uma música etc.
Voltando à pergunta anterior (do que será feita uma música?), vamos procu-
rar descobrir os diversos elementos que a compõe. Procure ouvir todos os seus 
detalhes, acompanhando seus movimentos sonoros, os ritmos diferenciados, in-
vestigue o que o compositor está querendo dizer com a sua composição, sinta a 
harmonia e descubra como ele desenvolve as ideias musicais. Tentando simpli-
ficar, vamos separar seus elementos básicos: a melodia, o ritmo e a harmonia. É 
importante ressaltar que todos estão juntos e são interdependentes na música.
Melodia: toda melodia tem contorno, desenho, como uma linha.
A palavra melodia vem do grego melóidía. Melos significa “sucessão de sons” 
e odé refere-se a “canto”. Podemos então definir melodia como resultado de uma 
sucessão de sons isolados, mas consecutivos, mantendo a característica da can-
tabilidade, isto é, possibilidade de se cantar a linha melódica. Toda a melodia 
tem contorno, o desenho, como uma linha que podemos traçar indicando o seu 
movimento. Além disso, a melodia, em uma extensão maior, apresenta frases, 
incisos etc., semelhante à estrutura da língua. Vamos analisar uma música muito 
conhecida no nosso país.
48
A música e seus elementos básicos
Brasil, meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Ô, Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingar
Ô, Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil!... Brasil! Pra mim!... Pra mim!
Ô, abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei congo no congado...
Deixa cantar de novo o trovador
À merencória a luz da lua
Toda canção do meu amor...
Quero ver essa dona caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado
Brasil!... Brasil! Pra mim!... Pra mim!
Brasil, terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto
Ô, Brasil, verde que dá
Para o mundo admirá
Ô, Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil!... Brasil! Pra mim!... Pra mim!
Esse coqueiro que dá coco
Oi, onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar, Brasil... 
Brasil
Ô, oi, estas fontes murmurantes
Oi, onde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Ôi, esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro,
Brasil!... Brasil!
Aquarela do Brasil
Ary Barroso
A melodia faz seus movimentos ondulatórios para narrar a letra da canção. O 
pesquisador Luiz Tatit transcreveu a melodia de Aquarela do Brasil de um modo 
diferente, onde cada linha vale um semitom:
A música e seus elementos básicos
49
2
3
4
(T
AT
IT
, 2
00
2,
 p
. 9
9)
Ary Barroso 
(1903-1964)
Aquarela do Brasil
Faixa 12 (CD 1)
O compositor pode usar da repetição da melodia, com pequenas alterações, 
para evitar a monotonia. Também a imitação, quando executada por outro 
timbre ou em outra altura, produz novidade. Por exemplo, em vez de ser repetida 
50
A música e seus elementos básicos
pelo mesmo instrumento que a executou, a melodia é tocada por outro, com so-
noridade diferente. Ou então sons graves podem ser repetidos em região aguda. 
Mais ainda: a melodia cantada pode ser tocada, após, por um grupo instrumen-
tal ou vice-versa. 
O esquema da estrutura da melodia na canção pode ser repetitiva ou não 
repetitiva. O tipo repetitivo está mais frequente nas músicas populares, em que 
o texto é modificado mantendo a mesma melodia. Essa é a chamada canção com 
variação estrófica.
Por exemplo, na canção “Asa Branca” todas as estrofes do texto usam a mesma 
melodia. 
Asa Branca
Luiz Gonzaga 
Humberto Teixeira
1 Quan- do o- lhei a ter- ra ar- den- do, qual fo- guei- ra
2 Que bra- sei- ro que for- na- lha, nem um pé de
3 A- té mes- mo a a- sa bran- ca ba- teu a- sas
4 Ho- je lon- ge mui- tas lé- guas, nu- ma tris- te
5 Quan- do o- ver- de dos teus o- lhos se es- pa- lhar na
1 de São João, eu per- gun- tei, ai, a Deus do céu, ai,
2 plan- ta- ção. Por fal- ta d’á- gua per di meu ga- do,
3 do ser- tão. En- tão eu dis- se a- deus Ro- si- nha
4 so- li- dão, es- pe- ro a chu- va ca- ir- de no- vo,
5 plan- ta- ção, eu te as- se gu- ro, não cho- re não viu,
1 por- que ta- ma- nha ju- di- a- ção?
2 mor- reu de se- de meu a- la- zão.
3 guar- da con- ti- go meu co- ra- ção.
4 pra mim vol- tar — pro meu ser- tão.
5 que eu vol- ta- rei viu, meu co- ra- ção.
A música e seus elementos básicos
51
Também podemos observar uma melodia sendo “cantada” pelos instrumen-
tos. Vamos ouvir uma mesma música com dois arranjos diferentes.
Pixinguinha 
(1897-1973)
e João de Barro (Braguinha) 
(1907-2006)
Carinhoso 
Faixa 13 (CD 1)
Pixinguinha e João de Barro (Braguinha)
Carinhoso 
Faixa 14 (CD 1)
Por que algumas melodias são mais eficientes que outras? 
A música exige tons que tenham altura e duração fixas porque proporcionam 
os pontos de ancoragem entre os quais o cérebro descobre relações que vão 
compondo uma estrutura musical. A música deixa de fazer sentido para nosso 
cérebro quando contém muitos deslizamentos, pois há necessidade de uma or-
ganização para ser entendida. Por exemplo, quando as crianças bem pequenas 
cantam, geralmente não atingem com exatidão as distâncias entre os sons, dis-
torcendo (deformando) os intervalos musicais. A partir de três ou quatro anos, 
elas começam a compreender que a música é construída de degraus e durações 
precisos, sendo necessário aprender e memorizar esses elementos de forma 
mais exata. 
O reconhecimento de tons significa que já encontramos algo experimentado 
antes e que aprendemos a classificar, isto é, a localizar o que previamente tínha-
mos colocado em categorias. A categorização simplifica a memória e também a 
percepção da música. Ao ouvi-la, mantemo-nos atentos às nossas próprias cate-
gorizações de sons, enquanto já os interpretamos. Por exemplo, ao ouvir alguém 
cantando não ficamos prestando atenção às suas pequenas desafinações como 
se fosse uma música diferente, mas percebemos a canção como um todo. Com-
parativamente, um pássaro com asas grandes ou pequenascontinua classifica-
do na espécie “pássaro”. 
52
A música e seus elementos básicos
Dodecafonismo
Dentro do assunto da melodia, também podemos trazer a ideia do que seja 
um tema na música. Tema é uma ideia que o compositor utiliza de forma inteira 
ou por meio de partes na construção de um trecho musical. Assim, o músico 
pode utilizar a repetição e a variação como elementos para o trabalho temático. 
Quando aparece o tema durante uma peça, já podemos prever a sua sequência 
musical porque anteriormente já o tínhamos ouvido. 
Vale ressaltar que uma obra musical não precisa ser necessariamente temá-
tica. Esse é o exemplo das composições do século XX com Schoenberg, na sua 
fase expressionista (1908-1915). Até então, a linha melódica era essencial na 
música. A partir desse período, alguns compositores modificaram esse conceito, 
trazendo a noção do pontilhismo. Os sons e intervalos isolados passam a fazer 
parte de suas obras, estimulando-nos a ouvi-los de forma isolada, sem a neces-
sidade de ligá-los entre si. Ocorrem mudanças no uso dos intervalos musicais, 
com grandes saltos, pausas e colorido instrumental. Esse desaparecimento da 
continuidade melódica propiciou novidades na construção musical. Alguns 
dos compositores que utilizaram esse sistema são Arnold Schoenberg, Anton 
Webern, Karlheinz Stockhausen, Pierre Boulez.
O ponto de partida foi o dodecafonismo, que utiliza os 12 sons da escala cro-
mática. A música não mais se baseia na escala diatônica, formada por uma suces-
são de notas de nomes diferentes, como Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, separadas por 
intervalos de tons e semitons.
1 53 72 64 8
dó solmi siré láfá
T TS ST TT
dó
(B
EN
N
ET
, 1
98
6,
 p
. 1
5)
dó solmi
oitava
siré láfá
T
TS
S
T
T
T
dó
Escala diatônica é uma sucessão de tons (T) e semitons (S).
A seguir, temos a escala cromática, feita de semitons:
A música e seus elementos básicos
53
Dó
Si Si
Lá# Sib
Lá Lá
Sol# Láb
Sol Sol
Fá# Solb
Fá Fá
Mi Mi
Ré# Mib
Ré Ré
Dó# Réb
Dó Dó
(A
BR
A
H
ÃO
, 1
99
7,
 p
. 1
3)
O nome dodecafonismo vem do grego dódeka, que significa “doze”. É um sis-
tema atonal, significando que não tem um eixo harmônico central. No Brasil, o 
dodecafonismo chegou nos anos 1940 e permanece até os anos 1950, como um 
movimento de vanguarda. 
Anton Webern
(1883-1945)
Variações
Faixa 15 (CD 1)
A seguir, temos um exemplo do sistema dodecafônico, no qual o compositor 
Arnold Schoenberg ordena as 12 notas da escala cromática segundo sua pró-
pria escolha. Nessa sequência ele baseará sua composição. Esta série pode estar 
escrita das seguintes formas: original; retrógrada, lida de trás para frente; em in-
versão, de baixo para cima; e inversão retrógrada, que é lida de trás para frente 
e de baixo para cima. O compositor pode usar esse material para construir os 
temas, acordes, padrões rítmicos, escolher os timbres instrumentais e compor 
diferentes texturas.
54
A música e seus elementos básicos
[Original] [Retrógrada]
[Inversão]
[Inversão retrógrada]
[Original] [Retrógrada]
[Inversão]
[Inversão retrógrada]
Este é um trecho da peça Variações para Orquestra, Op. 31, de Schoenberg, 
composta a partir das séries mostradas anteriormente.
zart
(Vlns.)
II´muito tranquilo
[inversão]
Esta série criada por Alban Berg começa com intervalos de terças e termina 
por tons inteiros. O trecho ao lado é do Concerto para Violino.
tons inteir
os
tons inteiros
Ritmo
Derivado do grego rhythmos, significa “aquilo que flui”, “aquilo que se move 
e tem direção”. Também pode ser definido como encadeamento organizado de 
durações, dentro de um âmbito acessível à nossa percepção. A noção de ritmo 
A música e seus elementos básicos
55
surge a partir de descontinuidades – por exemplo, um som que não se altere não 
nos dará a noção de ritmo. Quando tivermos durações desiguais entre os sons, 
poderemos perceber um ritmo. A noção de descontinuidades associa-se à ideia 
de medida e de comparação entre os fragmentos mais longos e mais curtos.
O ritmo musical é gerado por dois fatores fundamentais, que são a duração 
e a intensidade dos sons. A sucessão dos sons permite que possamos organizá-
-los por meio de um pulso, como um batimento regular e periódico, identifi-
cando, ao mesmo tempo, suas acentuações e contratempos. Nossa percepção 
envolve, além da comparação, a medida e a noção de ordem. As descontinuida-
des precisam estar ordenadas regularmente dentro de uma periodicidade para 
que possam ser comparáveis, caso contrário provocarão a sensação de confusão, 
argumenta Kiefer (1969). 
Também podemos identificar os fluxos binários, ternários e outros mais com-
plexos. Para que possamos ter a recorrência desse movimento é preciso um 
ponto de entrada mais forte, contrastando com outro som de menor intensi-
dade, justifica Wisnik (1989). Procure perceber onde está o apoio, o acento, o 
tempo mais forte nas músicas Baião (ritmo binário – dois tempos) e Romance de 
Amor (ritmo ternário – três tempos).
Luiz Gonzaga 
(1912-1989)
Baião
Faixa 16 (CD 1)
Antonio Rovira 
Romance de Amor
Faixa 17 (CD 1)
A noção de ritmo está em muitas expressões humanas, como na pintura, na 
arquitetura, na poesia, na fala, na dança etc.
No seu sentido mais amplo, o ritmo divide o todo em partes, articulando o 
percurso. Pode haver ritmos regulares (que sugerem divisões cronológicas de 
56
A música e seus elementos básicos
acordo com o tempo do relógio, por exemplo) ou irregulares (que espicham ou 
comprimem o tempo real, dando o tempo virtual ou psicológico).
As intensidades fazem as gradações dos crescendos e diminuindos e são im-
portantes nas durações que configuram os diferentes ritmos.
Vamos ouvir um exemplo no uso contrastante das intensidades fracas e fortes, 
com crescendos e decrescendos – uma peça de Brahms.
Johannes Brahms
(1833-1897)
Danças Húngaras n. 1 para 
Orquestra em Sol Menor
Faixa 18 (CD 1)
A inspiração musical que vem do ritmo
A música se inspira em diferentes fontes para criar. As ideias rítmicas podem 
surgir pela dança, que sugere a repetição de esquemas do movimento rítmico 
do corpo, despertando-nos para a vontade de nos movimentar ritmicamente. 
Johann Strauss
(1804-1849)
Sangue Vienense
Faixa 19 (CD 1)
Os passos, com seus diferentes andamentos e estados emocionais, serviriam 
de inspiração para os ritmos de marchas militares, nupciais e fúnebres. Ao ouvir, 
por exemplo, uma banda militar, sentimos vontade de acompanhar a música 
com passos correspondentes ao seu ritmo, como soldados em marcha.
A música e seus elementos básicos
57
Edward Elgar 
(1857-1934)
Pompa e Circunstância
Faixa 20 (CD 1)
Giuseppe Verdi 
(1813-1901)
Marcha Triunfal (da ópera Aída)
Faixa 21 (CD 1)
Felix Mendelssohn 
(1808-1847)
Marcha Nupcial
Faixa 22 (CD 1)
Os ritmos do pulso, do coração e da respiração, com suas variações emocio-
nais, sempre serviram de padrão de referência para a fonte rítmica.
Johannes Brahms 
(1833-1897)
Canção de Ninar
Faixa 23 (CD 1)
Os gestos e expressões corporais, com suas imensas gradações, sugeriram 
ritmos próprios. Assim são os gestos de expansão, retração, amorosos, de apro-
ximação, agressivos, de afirmação, desalento e outros tantos.
A natureza sempre foi inspiradora para muitos compositores, que buscaram 
retratar através dos ritmos o clima, a paisagem, a descrição dos fenômenos.
58
A música e seus elementos básicos
Ludwig van Beethoven 
(1770-1827)
Sinfonia n. 6 em Fá Maior, 
Pastoral: Allegretto
Faixa 24 (CD 1)
Antonio Vivaldi
(1678-1741)
Concerto para Flauta e Orquestra em Fá Maior, 
La Tempesta di Mare: Allegro
Faixa 25 (CD 1)
Os ritmos artificiais têm uma rigidez quase mecânica, como no Barroco, 
que parece soar como artificial. Assim também os recursos eletrônicos têm 
proposto um artificialismo rítmico extremo, podendo fracionar e sobrepor o 
tempo de forma a afastar-se dos ritmos humanos e da natureza, na visão de 
Kiefer (1969).
Johann Sebastian Bach
(1685-1750)
Concerto de Brandenburgon. 3, 
Primeiro Movimento
Faixa 26 (CD 1)
Harmonia
Harmonia se refere aos acordes e às relações entre si. Lembramos que acorde 
é a emissão, ao mesmo tempo, de três ou mais sons distintos. Por esses motivos, 
a harmonia está associada à dimensão vertical na música.
A música e seus elementos básicos
59
No exemplo a seguir, os acordes são executados com a mão esquerda, no 
piano.
O que para nós é considerado consonância, em algu-
mas épocas era considerado dissonância.
Os acordes, ao longo da história, têm sido tratados em termos de consonân-
cia e dissonância, mas não existe conceituação fixa. Quando surgiu a polifonia, 
a partir do século IX, a dimensão vertical foi tão valorizada quanto a dimensão 
horizontal. Ao longo da história, os conceitos se alteraram, e o que para nós é 
considerado consonância, em algumas épocas atrás, era dissonância. As rela-
ções entre os sons e as percepções que deles temos são complexas.
Mudanças
A partir do século XV, há uma mudança na sensibilidade harmônica e no em-
prego de determinados acordes, tornando a harmonia mais doce e consistente. 
A harmonia gótica é mais oca, com uma sensação de antigravidade; a harmonia 
renascentista é mais maciça e possui gravidade, argumenta Kiefer (1969).
No período da Renascença, o acorde ainda não era conhecido como entidade 
autônoma, era o simples resultado do soar junto de várias vozes polifônicas.
60
A música e seus elementos básicos
Orlando di Lasso 
(1532-1594)
Hodie Completi Sunt
Faixa 27 (CD 1)
No Barroco, surgem muitas dissonâncias, pois neste momento é criada a 
música dramática. E isso significa que a música passa a se subordinar ao texto e 
deve expressar emoções mais intensas, o que produz um tratamento mais livre 
para as dissonâncias.
George Philipp Telemann
(1681-1767)
Orpheus: Primeiro Ato
Faixa 28 (CD 1)
A partir de Beethoven surgem certas ousadias no uso dos acordes. No Ro-
mantismo, a harmonia se enriquece e surgem elementos que já encaminham 
a dissolução da harmonia tonal. O trecho que vamos ouvir (de uma sonata de 
Bethoven) nos traz sonoridades novas para a época, como as asperezas harmô-
nicas e incomuns, arrojadas evoluções melódicas e atrevimentos rítmicos. As 
frases são inesperadas, trazendo contração, interrupção e distensão, causando 
surpresa na nossa audição.
Ludwig van Beethoven
(1770-1827)
Sonata para Violino e Piano em Lá Maior, op. 
47, Kreutzer – Primeiro Movimento: Adágio 
Sostenuto – Presto
Faixa 29 (CD 1)
A música e seus elementos básicos
61
As escutas do Século XX
A música do século XX traz a liberdade harmônica, denominada 
atonalismo, permitindo o uso livre dos acordes, que são empregados conforme 
as necessidades expressivas do compositor. Atonalidade significa a ausência 
total de tonalidade, fazendo uso das 12 notas de escala cromática, dando impor-
tância a todas as notas, sem a força da atração para o centro tônico.
Schoenberg formulou, em 1923, um princípio para substituir a tonalidade e a 
ele denominou sistema dodecafônico ou serialismo. A harmonia deixa de ser fun-
cional e não obedece mais às regras tradicionais, permitindo todos os agregados 
sonoros possíveis. Os discípulos de Schoenberg, Webern e Alan Berg adotaram o 
serialismo, mas de maneiras diferentes.
Os ruídos entram na música e são descobertas as possibilidades de criar es-
truturas artísticas baseadas unicamente nesses ruídos ou em sua combinação 
com sons musicais. A música concreta teve suas primeiras experiências em 1948 
em Paris. Ela é composta a partir de uma montagem de ruídos e sons naturais 
colhidos na rua, nas fábricas, na natureza, e, posteriormente, elaborados em es-
túdio. Esses sons eram misturados, superpostos e modificados de muitas manei-
ras – por exemplo, alterando a rotação da fita ou tocando-a no sentido inverso. 
O resultado final é uma montagem de sons armazenados que pode ser tocada 
sem a presença do “intérprete”. O compositor Pierre Schaeffer trabalhou, nessa 
época, com gravações de sons acústicos, manipulando-os e modificando-os em 
playback, construindo peças musicais a partir de séries de ruídos encadeados. 
Suas primeiras composições foram os Études.
Na música eletrônica, a produção ou modificação é feita por meios eletrônicos, 
isto é, a matéria sonora é sintetizada mediante osciladores eletrônicos – incluin-
do os sons registrados por microfones e também aqueles produzidos por gera-
dores eletrônicos de sons. O componente básico da produção sonora é o oscila-
dor. Portanto, é necessário equipamento eletrônico para que possa ser ouvida. 
Quase todos os sons, ritmos e ruídos podem ser sintetizados: praticamente 
não há limites para os geradores eletrônicos, abrindo novas possibilidades no 
mundo dos sons. As modificações eletrônicas dos sons incluem o ajustamen-
to de volume, a filtragem, a adição de vibratos (“ondeamento”), reverberações 
(“retardamento”, desaparecendo lentamente), ecos. Os sons podem ser mixados 
juntos, sobrepostos ou divididos em fragmentos. Karlheinz Stockhausen foi um 
importante compositor da música eletrônica e autor de obras como Kontakte, 
para sons eletrônicos, piano e percussão.
62
A música e seus elementos básicos
Segundo Kiefer (1969, p. 74):
[...] tanto na música eletrônica como na concreta, o con-
ceito tradicionalde harmonia perde sentido [...].
Durante os anos 1950 e 1960, foram fundados estúdios de música eletrônica 
nas principais cidades da Europa, dos Estados Unidos e do Japão. Compositores 
como Luciano Berio, Babbit, Luening e Edgard Varèse agregaram técnicas ele-
trônicas em suas obras. Também em execuções ao vivo, compositores utilizaram 
instrumentos convencionais juntamente com esses recursos, como John Cage 
em Atlas Eclipticalis (1961-62).
Quando foram desenvolvidos programas de computador que facilitavam a 
síntese digital, a manipulação, a armazenagem de informações e estruturas sobre 
os sons, as universidades de Princeton e Stanford e instituições de Paris criaram 
estúdios onde seria possível explorar a síntese computadorizada. O compositor 
Pierre Boulez produziu uma das obras mais expressivas no uso dos meios ele-
trônicos, Répons (1980), em que os sons de uma orquestra são modificados por 
análise e síntese computadorizada.
Música aleatória (do latim alea, “dado”) procura maior liberdade, com um certo 
grau de imprevisibilidade tanto no processo de composição como na execução 
da obra. O compositor fornece uma série de símbolos que informam apenas a 
ideia e o intérprete deverá contribuir livremente com algum improviso. Cage 
e Stockhausen utilizaram muitos procedimentos aleatórios em suas composi-
ções. Como exemplo, na peça Zyklus (Ciclo), de Stockhausen, destinada a um 
instrumento de percussão, o único instrumentista tem liberdade para começar 
em qualquer página da partitura, que é espiralada e pode ser lida no sentido 
anti-horário ou mesmo de cabeça para baixo.
Podemos perceber que as manifestações musicais também estão atreladas às 
percepções e experimentações sonoras que desafiam o ser humano em buscar 
novidades. Muitas obras que estão à frente de seu tempo produzem sensações 
estranhas e diferentes ao serem ouvidas e somente com o contato e a familiari-
zação poderão ser aceitas ou não pela sociedade.
A música e seus elementos básicos
63
Flo Menezes
(1962)
Colores (Phila: in Praesentia) 
Faixa 30 (CD 1)
Para Wisnik (1989), a força da música está na possibilidade de aproximar as 
áreas da mente, do corpo, do intelecto e do afetivo, atravessando as redes de-
fensivas da consciência e da linguagem cristalizada. O sentido cultural do som o 
diferencia entre os demais objetos concretos porque, por mais nítido que possa 
ser, é invisível e impalpável e nos toca com muita precisão.
Ronaldo Miranda
(1948)
Imagens (Segunda parte): Jogos 
Faixa 31 (CD 1)
Matriarcado e melodia
O desenvolvimento da música, buscando associar a voz ao gesto, foi ampliado 
quando, no início do período neolítico (1200 a 4000 a.C.), algumas tribos nôma-
des se fixaram em platôs escalonados,

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