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Material 03_Construção de Escalas Testes

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TESTES REFERENTES A 
CONSTRUTO
Teoria e 
Modelo de Construção
Prof. Dr. Ricardo Neves Couto
INTRODUÇÃO
O modelo de construção e o método de validação de
um teste referente a construto pode ser dividido em 3
etapas:
-Etapa teórica, onde se escolhe o construto e busca sua
definição na literatura existente;
-Etapa empírica, onde a coleta dos dados de uma amostra é
realizada de maneira sistemática e planejada;
-Etapa analítica, onde os dados serão analisados, buscando
reconhecer a validade e a fidedignidade do teste.
Para melhor entendimento, as etapas do processo seguirão a 
mesma ordem que Pasquali (2010) utilizou.
A etapa teórica divide-se em 2 fases:
a)Teoria, que constitui a escolha do construto e da sua
posição na taxonomia dos construtos psicológicos;
b)Construção do instrumento, fase de operacionalização
do construto, onde deve tornar-se mensurável.
A etapa teórica divide-se em 2 fases:
a)Teoria, que constitui a escolha do construto e da sua
posição na taxonomia dos construtos psicológicos;
b)Construção do instrumento, fase de operacionalização
do construto, onde deve tornar-se mensurável.
O sistema psicológico representa o objeto de interesse,
chamado também de objeto psicológico.
A Psicometria enfoca como seu objeto específico as
estruturas latentes, os traços psíquicos ou processos
mentais.
Nesta fase, o pesquisador deve escolher o sistema
psicológico que vai utilizar para a construção do teste, ou
seja, seu objeto psicológico.
Assim, pode-se escolher, por exemplo, inteligência,
desenvolvimento cognitivo, ansiedade, valores, bem-estar,
ou qualquer outro construto psicológico que seja
interessante.
Enfim, o problema a ser resolvido neste passo consiste em
se ter uma ideia, um tema, um assunto para pesquisar.
A esse tema chamamos de objeto psicológico, que
representa o produto esperado deste passo na elaboração do
instrumento.
Não se pode contemplar um sistema psicológico completo
sem considerar o fato de que ele possui muitos atributos.
Por exemplo...
Uma flor (sistema) possui as propriedades aroma, cor,
peso, largura, altura, e muitas outras (atributos).
Logo, se um pesquisador quiser estudar uma flor, ele deverá
recorrer às suas propriedades.
Da mesma maneira, a inteligência (sistema) é ampla e
possui inteligência cognitiva, inteligência motora,
inteligência verbal, dentre muitas outras (atributos).
Se um pesquisador quiser estudar inteligência, ele deverá
considerar seus atributos para contemplá-la de uma maneira
sistemática e integral.
O que se está afirmando é que é preciso partir com
conceituações e definições claras e precisas, bem como
delimitadas, uma vez que a capacidade de conhecimento
humano não é abrangente.
Portanto, escolhido o sistema psicológico (objeto de
estudo), devo traçar seus atributos e, dentre eles, escolher
quais irei contemplar no instrumento que estou criando.
Por exemplo...
Supomos que eu queira medir inteligência.
Logo, tenho um sistema psicológico amplo (inteligência),
que necessita de atributos. Com base em estudos,
considero as inteligências verbal, cognitiva e motora como
sendo atributos de inteligência.
Em função de sua complexidade, parece inviável construir
um questionário que pretenda avaliar integralmente
inteligência e, por isso, escolho medir somente o construto
inteligência cognitiva (atributo de inteligência).
Porém, será que inteligência cognitiva é unidimensional?
Pesquisando um pouco mais, percebeu-se que se poderia
entendê-la como capacidade de percepção e capacidade
de interpretação.
Logo, o passo da dimensionalidade é justamente perceber
quais dimensões (fatores) definem o atributo que
escolhemos medir.
A dimensionalidade é justamente o processo de indicar as
dimensões (fatores) de um atributo (construto) específico.
Inteligência
Inteligência Verbal
Inteligência Motora
Inteligência Cognitiva
Capacidade de percepção
Capacidade de interpretação
Sistema Psicológico Atributos (construtos) Dimensões (fatores)
Após ter situado o construto a ser medido em uma
taxonomia, é fundamental que se defina cada atributo e
fator.
Nesta direção, vale ressaltar os dois tipos de definição em
construtos psicológicos: a constitutiva e a operacional.
Por definição constitutiva, entende-se por ser uma
definição baseada em construtos, em conceitos abstratos e
em definições já existentes.
Por exemplo, a definição constitutiva de inteligência
cognitiva é a capacidade de perceber e interpretar. Ora,
“ percepção ” e “ interpretação ” são construtos, e
“capacidade de...” já é um termo que por si só necessita de
definição.
No entanto, a partir da definição constitutiva do construto,
extrai-se a sua definição operacional.
Por definição operacional, entende-se uma definição por
operações concretas e comportamentos.
Por exemplo, a definição operacional de “capacidade de
perceber” pode ser relatar aquilo que vê, descrever a
sensação de algo, etc.
Ou seja, a definição operacional é um conjunto de
comportamentos que procuram definir, da melhor maneira
possível, uma dimensão do atributo (construto).
Estes comportamentos poderão vir a ser os próprios itens
do questionário.
Inteligência
Inteligência Verbal
Inteligência Motora
Inteligência 
Cognitiva
Capacidade de 
percepção
Relatar aquilo que está 
vendo
Descrever a sensação 
de algo
Outros comportamentos que 
complementem a definição
Cap. de interpretação
Sistema 
Psicológico
Atributos 
(construtos)
Dimensões (fatores)
Definições operacionais 
(comportamentos)
Saúde
Saúde física
Saúde mental
Ansiedade
Perde o sono por excesso 
de preocupações
Está constantemente 
agoniado e tenso
Outros comportamentos que 
complementem a definição
Depressão
Sistema 
Psicológico
Atributos (construtos) Dimensões (fatores)
Definições operacionais 
(comportamentos)
Perfil das 
Pessoas
Valores
Personalidade
Abertura à mudanças
Gosta de refletir, brincar com 
as ideias.
Tem uma imaginação fértil.
Outros comportamentos que 
complementem a definição.
Conscienciosidade
Extroversão
Amabilidade
Neuroticismo
Sistema 
Psicológico
Atributos 
(construtos)
Dimensões (fatores)
Definições operacionais 
(comportamentos)
Vale mencionar algo que já deve ter sido percebido por
meio dos exemplos: a taxonomia do construto é fruto de
um contexto.
Assim, o que é atributo para uns, pode ser sistema ou fator
para outros. Tudo depende da teoria psicológica em que o
pesquisador se apóia.
A operacionalização diz respeito à criação dos itens do
questionários.
Está claro que os itens não são inventados à mercê da
criatividade do pesquisador (face validity), mas construídos
para representar comportamentalmente o construto de
interesse, a partir dos comportamentos que o definem
operacionalmente.
A seguir, serão elencadas algumas regras básicas para a
construção de itens.
1. Critério comportamental: o item deve expressar um
comportamento, e não uma abstração ou construto.
2. Critério da simplicidade: um item deve expressar uma
única ideia, de forma clara e explícita.
3. Critérios da clareza e da credibilidade: o item deve ser
inteligível para a camada mais baixa e, ao mesmo tempo, de
uma maneira que não pareça ridícula à camada mais alta da
população meta.
4. Critérios da relevância e da precisão: o item deve
possuir um lugar preciso e fundamental na definição do
construto.
5. Critério da amplitude e do equilíbrio: os itens devem
contemplar o máximo o possível da definição do construto,
e cada item deve oferecer proporcionalmente toda a
intensidade cabível (fraco – moderado – forte, por exemplo).
6. Princípio da parcimônia: o pesquisador deve se
contentar apenas à quantidade mínima e realmente
necessária de itens que contemple o máximo de definição
daquele construto.
Para concluir a etapa teórica (conceituação dos construtos e
criação do instrumento), deve-se, ainda, pôr os itens em
análise, a saber:
a)Análise semântica; e
b)Análisede juízes.
A análise semântica consiste em convocar algumas pessoas
do estrato mais baixo da população meta e questioná-los
sobre se entenderam de maneira clara o vocabulário e a
semântica de todos os termos do questionário.
Caso haja dificuldade comum sobre um termo, deve-se
alterá-lo conforme o entendimento das pessoas convocadas.
A análise de juízes consiste na avaliação dos itens por
peritos no construto. Os peritos avaliarão se os itens
realmente definem aquele construto de maneira adequada e
completa.
Após este último procedimento, parte-se para a 2ª etapa da
construção e validação de um teste referente a construto: a
etapa experimental.
A etapa experimental compreende apenas uma parte do
processo de validação, que se estende até à etapa analítica.
Validar um instrumento é comprovar cientificamente que
ele mede o construto que se propõe a medir.
No planejamento da aplicação, deve-se atentar para a
constituição da amostra e de como será a sistemática da
coleta.
Sendo assim, cuidados com a seleção da amostra devem
existir, assim como com a padronização da coleta.
O passo 8 diz respeito, naturalmente, à aplicação e à coleta.
Tudo que for necessário para a coleta deve ser discutido
previamente no planejamento da aplicação.
A etapa analítica será abordada de maneira breve, pois não
cabe, nesta ocasião, explicar como ocorrem as análises
estatísticas realizadas para a validação.
Esta última etapa do processo de construção do teste
compreende, também, parte do processo de validação.
A par da quantidade de dimensões (fatores) que o construto
possa ter em teoria, faz-se necessário analisar quantas foram
empiricamente observáveis.
Para isso, realiza-se uma análise fatorial, que dividirá os
itens em dimensões, em função dos padrões de respostas
adquiridos com a coleta.
Para a validação, outras técnicas são competentes além da
Análise Fatorial.
São algumas delas:
- Validação convergente-discriminante;
- Correlação com outros testes; e
- Intervenção experimental.
O 10º passo é voltado para questionários que se baseiam na
tecnologia da Teoria de Resposta ao Item (TRI), que não
convém aprofundar aqui.
A saber, se propõe a analisar a dificuldade dos itens, o seu
poder discriminativo e a probabilidade de acerto ao acaso.
A validade de um teste está geralmente ligada à sua precisão.
Ora, a validade é confirmada quando um teste mede aquilo
que se propõe a medir.
Pois a precisão (fidedignidade) é confirmada quando ele
mede acuradamente aquilo que se propõe a medir.
Existem várias técnicas estatísticas para se medir a precisão
(fidedignidade) de um teste.
Dentre elas, estão:
a)Teste-reteste;
b)Formas paralelas; e
c)Consistência interna.
O teste-reteste consiste em reaplicar o teste na mesma
amostra depois de um período pré-determinado, e avaliar a
correlação entre os dois conjuntos de escores obtidos.
A maturação dos respondentes é um dos fatores que mais
causam problemas na verificação da precisão do teste.
A técnica de formas paralelas é pouco utilizada por ser
pouco parcimoniosa, e consiste no desenvolvimento de
testes similares, cuja aplicação deve se proceder ao mesmo
tempo que o teste que está sendo validado.
Os resultados são correlacionados e avaliados se medem
precisamente o mesmo construto.
A avaliação da consistência interna por meio do alfa (α) de
Cronbach é uma das mais utilizadas técnicas para se avaliar
a precisão do teste, pois independe de uma segunda
aplicação, simultânea à primeira ou não.
O valor α varia entre 0 e 1, sendo que quanto maior, mais
consistente o teste é. Por convenção, o ponto de corte para
uma consistência interna satisfatória é de 0,7.
Quanto mais consistente é o teste, mais seus itens medem a
mesma coisa. Logo, mais apontam para a mesma direção e,
portanto, mais preciso será o teste.
A normatização é um procedimento utilizando apenas
para fins clínicos. Resumidamente, consiste em padronizar
os resultados para que possam ser comparados entre os
casos.
Por fim, deve-se concluir o processo de construção e
validação do questionário. Isso implica em criar instruções
que padronizem sua aplicação, indicando regras e políticas
de manuseio.

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