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DESCRIÇÃO A compreensão dos transtornos mentais mais evidentes no processo de educação inclusiva. PROPÓSITO Reconhecer aspectos e necessidades de pessoas com transtornos mentais é importante para que a equipe pedagógica possa incluir os alunos por meio de práticas pedagógicas adequadas. O objetivo é promover a qualidade de sua inclusão social e garantir os direitos constitucionais e sua dignidade humana. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer aspectos dos transtornos mentais e seu impacto na educação. MÓDULO 2 Listar os principais transtornos e os aspectos de sua inclusão na educação. MÓDULO 3 Caracterizar os transtornos do neurodesenvolvimento, reconhecendo a importância das práticas pedagógicas na educação de alunos com transtorno do espectro autista (TEA). INTRODUÇÃO Como fazer a inclusão de alguém com um transtorno mental? Você está precisando urgentemente se surpreender, descobrir que os velhos preconceitos, se ainda não foram, devem ser superados. A perspectiva inclusiva para aqueles que necessitam de cuidados específicos de sua saúde mental deve servir de reflexão para todos nós. Mas a melhor forma de entender esse tema é repensar seus olhares e, como educador, aprender os caminhos para a inclusão. TRANSTORNOS, EDUCAÇÃO E INCLUSÃO Vamos conhecer um pouco mais do assunto e ficar em sintonia com a questão conversando com a professora Nelma Pintor. MÓDULO 1 Reconhecer alguns aspectos dos transtornos mentais e seu impacto na educação FRAGMENTOS DA SAÚDE MENTAL NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE Imagem: FlickreviewR 2/Wikimedia commons/CC BY-SA 2.0 Transparência , por Francis Picabia. Em toda a história da humanidade as diferenças entre os homens foram utilizadas como condição para categorizá-los e agrupá-los, inaugurando os procedimentos de inclusão e exclusão social. Na Grécia Antiga, era valorizado o corpo são e a força do homem para lutar nos exércitos reais. Aqueles que se apresentavam fracos de corpo e mente ou eram exterminados ou serviam de bobos da Corte nos festejos dos reis. Em sua mitologia, há referências acerca das forças e fraquezas dos deuses e deusas, bem como das fraquezas dos humanos; os deuses e deusas podiam habitar o Olimpo e aos humanos cabia viver na terra. Na Antiguidade, os indivíduos deformados, malformados ou insanos eram tidos como possuídos pelo demônio, alvo de bruxarias e feitiçarias. A história da loucura, um dos focos dos estudos e pesquisas de Foucault (1984), mostra o louco como alvo de obsessão por suas condutas mórbidas e perversões sobrenaturais. Nos hospitais da Idade Média, os loucos eram aprisionados e acorrentados, ou mesmo enjaulados, como no Hospital Geral de Bicêtre e em La Salpêtrière, na França, no século XVII. “A exclusão a que são condenados está na razão direta desta incapacidade e indica o aparecimento no mundo moderno de um corte que não existia antes” (FOUCAULT, 1984, p. 79). Uma separação com uma segregação no espaço social dos considerados sãos e dos considerados insanos. Reconhecer a loucura é reconhecer a doença; cada cultura será mais ou menos tolerante com a doença mental. Imagem: Snotty/Wikimedia commons/Domínio Público No Hospício , gravura de William Hogarth (1735). Com a evolução da psiquiatria, a psicopatologia, “o ramo da patologia que estuda a descrição, a classificação e os mecanismos de evolução das psicopatias, ou seja, dos transtornos mentais” (FACION, 2002, p. 11), assume a centralidade dos estudos. Segundo o autor, ao longo do tempo o assunto teve muitas terminologias – doença, distúrbios, perturbações, transtornos –, cada uma descrevendo diferentes abordagens conceituais por seus autores, e também servindo para classificar os indivíduos por suas semelhanças e diferenças. A loucura se expandiu dos séculos XVIII, XIX e XX até os nossos dias sendo associada com a criminalidade, os defeitos morais e as questões religiosas, antes de ser entendida como uma questão médica e enquadrada nos estudos de doença mental e passar a ser tratada do ponto de vista psicológico. Foi a partir do século XIX que os médicos começaram a compreender que a doença se caracterizava por “desvios” em relação à normalidade. Segundo Hegenberg (1998), o doente era o indivíduo que se afasta do normal. Ou seja, forças psicológicas também seriam capazes de provocar importantes alterações orgânicas. Surge, assim, o realce em relação à questão da saúde mental. Foto: Cavarrone/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0 Franco Basaglia em 1969. Diante do crescimento do contingente dos mais diferentes tipos de indivíduos nos asilos e hospitais, surge, com Francis Galton (1822- 1911), a eugenia, um estudo que visava ao controle social para a melhoria da raça das futuras gerações. Esse movimento, de acordo com Facion (2002), gerou a adesão de muitos psiquiatras interessados no estudo da saúde mental. Outros movimentos psiquiátricos se seguiram dando origem ao movimento da desinstitucionalização psiquiátrica, cujo mais eloquente foi o liderado por Franco Basaglia (1924-1980), na Itália, conhecido como psiquiatria democrática, e que influenciou de forma ativa os adeptos da psiquiatria no Brasil no século XX. ALGUMAS ABORDAGENS HISTÓRICAS DA PSICOPATOLOGIA NO BRASIL Imagem: Esalq/Wikimedia commons/Domínio Público Hospício D Pedro II por volta de 1860. Antes do Brasil colônia não há relatos sobre o tratamento dos “loucos”, segundo Facion (2002). Importa destacar que, com a colonização, todo trabalho era executado pela mão de obra escravizada, enquanto o “homem livre” considerava qualquer ocupação como forma de indignidade e atividade preconceituosa. A assistência aos doentes mentais começou a emergir no Brasil no final do século XVIII e início do XIX. Os hospitais da Irmandade da Santa Casa, por exemplo, prestavam acolhimento àqueles com poder aquisitivo, pessoas importantes. Aos mais pobres restavam os cuidados por curandeiros, charlatães, e mesmo os missionários da Companhia de Jesus (MIRANDA-SÁ JÚNIOR, 2007). A fundação do primeiro hospício psiquiátrico no Brasil ocorreu em 1852, o Hospício Dom Pedro II. Quando o médico psiquiatra baiano Juliano Moreira assume a direção do Hospício Nacional do Rio de Janeiro, em 1903, também é promulgada a primeira lei federal de assistência aos alienados (FACION, 2002), tendo início o desenvolvimento da psiquiatria no Brasil. Durante as décadas de 1920 e 1930, acompanhando o crescimento das camadas sociais desfavorecidas, houve também o crescimento de instituições para alienados mentais e anormais de todo gênero. O atendimento era precário, atestado pelo alto índice de mortalidade e pelas denúncias de maus-tratos por parte dos médicos higienistas. A vadiagem passou a ser considerada característica da loucura. Em uma sociedade pouco organizada, era precária a assistência aos doentes e muito menos aos considerados loucos. Durante o período da ditadura militar, de 1964 a 1987, o número e o tempo de internações aumentaram, resultando em instalação e cronificação das doenças mentais. As violações dos direitos humanos passaram a ser questionados a partir da promulgação da anistia política, em 1979, promovendo um ambiente propício para a formulação da Reforma Psiquiátrica, que culminou com a implantação da desinstitucionalização psiquiátrica. Tal movimento foi consolidado pela Lei nº 10.216/2001, que “Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo de assistência em saúde mental”. Imagem: Centro Cultural Ministério da Saúde/CCS.saude.gov.br/Domínio Público Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, comparado por Franco Basaglia aos campos de concentração nazistas, após uma visita em 1979. EDUCAÇÃO E SAÚDE MENTAL DA INFÂNCIA NO BRASIL In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10811/arthur-bispo-do-rosario>. Acesso em: 03 de Mai. 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7 Manto de Apresentação , de Arthur Bispo do Rosário. Até o século XIX não havia a organização e estruturação de cuidados e de atenção específicos para a saúde mental infantil no Brasil. A primeira iniciativa de intervenção ocorreu com a criação do Hospício Dom Pedro II, em 1852, na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra25217/vinte-e-um- veleiros>. Acesso em: 03 de Mai. 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7 VINTE e Um Veleiros , de Arthur Bispo do Rosário. Anexo a esse hospício os médicos Juliano Moreira e Fernandes Figueira fundaram o Pavilhão Bourneville, criado com o objetivo de tratar e de educar os pequenos alienados que viviam nas piores condições de degradação em meio aos adultos loucos que se encontravam internados na Praia Vermelha. O pavilhão atendia crianças oriundas de classes sociais desfavorecidas. “Não havia ainda estudos específicos sobre as doenças mentais infantis nem uma classificação que diferenciasse as formas e manifestações da morbidade no adulto e na criança” (RIBEIRO, 2006, p. 33). O Pavilhão Bourneville teve funcionamento de 1904 até 1942, quando “passou ao Hospital Neuropsiquiátrico Infantil, nos terrenos da antiga colônia de Gustavo Riedel, em Engenho de Dentro” (JANNUZZI, 2004, p. 37). Importa destacar que em 1923 o psiquiatra Gustavo Riedel fundou a Liga Brasileira de Higiene Mental, cujo objetivo era prestar assistência aos doentes mentais (FACION, 2002). A educação da infância com transtornos mentais e com deficiência no Brasil teve forte influência dos pensamentos oriundos dos intelectuais franceses, que desde o século XVII já haviam criado instituições especializadas para a surdez, a cegueira e o retardo mental. Foram fortes as influências destes profissionais: Clique nas setas para ver o conteúdo. Objeto com interação. Foto: Wiki05/Wikimedia commons/Domínio Público Do pedagogo Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) em sua escola em Yverdon, que acolhia crianças pobres e órfãs, criando o método Pestalozzi de educação; Johann Heinrich Pestalozzi. Foto: Pataki Márta/Wikimedia commons/Domínio Público Do médico Jean Marc Gaspard Itard (1774-1838), que tratou da educação do “menino selvagem” Victor de Aveyron, iniciando uma proposta pedagógica de educação especial para deficiência mental; Jean Itard. Foto: Cientista material/Wikimedia commons/Domínio Público Do médico e educador Édouard Séguin (1812-1880), seguidor de Itard, preocupado com a educação de crianças com deficiência intelectual; Désiré-Magloire Bourneville. Foto: Cientista material/Wikimedia commons/Domínio Público E do médico Desiré-Magloire Bourneville (1840-1909), que trabalhou com as condições de instrução para crianças com deficiência mental; entre outros (FACION, 2002; JANNUZZI, 2004). Désiré-Magloire Bourneville. As primeiras décadas do século XX foram promissoras no surgimento de diferentes estudos e de obras referentes ao cuidado e interesse sobre a infância, citadas por Facion (2002), Jannuzzi (2004) e Ribeiro (2006): Em 1900, a monografia de Carlos Eiras, Tratamento dos idiotas , destina-se ao estudo da deficiência mental ou idiotia; Em 1903, Juliano Moreira e Antônio Fernandes Figueira inauguram o Pavilhão Bourneville, anexo ao Hospital Psiquiátrico para Crianças com Insanidades Mentais; Em 1913, Basílide de Magalhães publicou o Tratamento e educação das crianças anormais designação utilizada à época; Em 1917, Vieira de Mello publicou Débeis mentais na escola pública; Em 1920, Clemente Quaglio tem uma série de estudos publicados sobre psicologia infantil; Em 1921, Franco da Rocha criou em São Paulo o primeiro pavilhão infantil no Hospital do Juqueri, dirigido por Vicente Batista; Em 1925, em Recife (PE), Ulysses Pernambucano criou vários serviços para o atendimento ao doente mental, entre eles o Instituto de Psicologia; Em 1929, em Minas Gerais, a psicóloga russa Helena Antipoff implanta o Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico, onde realiza pesquisas sobre o desenvolvimento mental de crianças; Em 1929, foi criada a Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte, que contou com a participação de três educadores europeus: Theorore Simon, Artur Perrelet e Léon Walter; Em 1932, a Associação Pestalozzi e, em 1935, o Instituto Pestalozzi foram criados por Helena Antipoff para o atendimento de crianças com qualquer deficiência ou distúrbio mental; Em 1933, foi criada no Rio de Janeiro a Seção de Ortofrenia e Higiene Mental do Departamento de Educação do Distrito Federal, cuja direção foi atribuída ao médico alagoano e grande entusiasta da psicanálise Arthur Ramos, considerado precursor da psicanálise da criança no Brasil; Em 1938, foi criada a Clínica de Orientação Infantil do Departamento de Educação do Estado de São Paulo sob a coordenação de Durval Marcondes, discípulo de Franco da Rocha e adepto da psicanálise, que teve por finalidade promover assistência ao escolar deficitário; Na década de 1940, Stanislau Krynski e seus estudos contribuíram para a criação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São Paulo; Em 1942, no Rio de Janeiro, foi inaugurado o Hospital Neuropsiquiátrico da Infância, no bairro do Engenho de Dentro; Em 1953, foi criada a Clínica de Orientação Infantil vinculada ao Instituto de Psiquiatria da Faculdade Nacional de Medicina da então Universidade do Brasil; Em 1956, em São Paulo, o pediatra Pedro de Alcântara Marcondes Machado criou o Serviço de Higiene Mental e Psiquiatria Infantil no Hospital das Clínicas; Em 1963, em Porto Alegre, foi criada a Unidade de Psiquiatria Infantil do Hospital São Pedro, que ficou sob a responsabilidade de Emília Farias e Beatriz Piccoli, esta última psicanalista da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre; Em 1965, em Porto Alegre, foi fundada a Comunidade Terapêutica de Crianças Léo Kanner, capitaneada por Luiz Carlos Osório, primeira instituição do gênero criada no Brasil com a finalidade de atender crianças autistas, psicóticas, neuróticas graves e casos de distúrbios de conduta; Em 1967, foi fundada, por iniciativa de Stanislau Krynski e Antônio Lefévre, a Associação Brasileira de Neuropsiquiatria Infantil (ABENEPI). A associação surge como um elemento integrador de forma a congregar várias ações que vinham sendo desenvolvidas de maneira isolada em diferentes contextos no país. Do ponto de vista político-social, a psiquiatria infantil busca se estruturar e consolidar amparada pelos movimentos demandados pela sociedade a fim de garantir o atendimento de crianças com transtornos mentais, sobretudo prioritariamente para as camadas sociais mais vulneráveis e empobrecidas da população. Os médicos psiquiátricos, mesmo burlando as barreiras ideológicas impetradas pelo golpe militar que instituiu a ditadura no país e que se estendeu de 1964 até os anos finais da década de 1970, conseguem difundir as novas concepções científicas da área e criar instituições e associações em diversos estados da federação. Ao final da década de 1970, o movimento de redemocratização do país começa a difundir os ideais da Reforma Psiquiátrica almejada por grupos majoritários que pretendiam a abolição do modelo de institucionalização dos doentes mentais, defendendo a extinção dos aprisionamentos e maus-tratos dos internos nos manicômios psiquiátricos. O movimento tem como filosofia os princípios declarados na luta antimanicomial proferidos pelo médico psiquiatra italiano Franco Basaglia e a promulgação da Lei nº 180, de sua autoria, na Itália. No Brasil, o movimento é fortalecido com a inauguração do Movimento de Trabalhadores em SaúdeMental, em 1978, seguido da criação do Movimento Antimanicomial, cujo ápice é a aprovação da Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. A promulgação da Constituição Brasileira de 1988 é considerada um marco sem precedentes na história do país, ancorada no resgate dos direitos civis individuais e coletivos da população e, em face disso, tem sido denominada Constituição Cidadã. Todos os dispositivos infraconstitucionais buscaram referendar os direitos humanos nela estabelecidos, como os direitos à educação e à saúde. Desde essa época, o caminho tem sido o de “construção de um novo ‘lugar social’ para as pessoas em sofrimento mental ” (AMARANTE, 2007, p. 12). A promulgação da Lei nº 10.216/2001 no Brasil, provavelmente, enquanto Estado membro da Organização Mundial da Saúde (OMS), atendeu às solicitações contidas na publicação do Relatório sobre a saúde no mundo (WHO, 2002). Entre as dez recomendações para o planejamento da oferta de serviços na área da saúde mental, destacamos parte da recomendação 4 (educar o público): DEVEM SER LANÇADAS, EM TODOS OS PAÍSES, CAMPANHAS DE EDUCAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO DO PÚBLICO SOBRE A SAÚDE MENTAL. A META PRINCIPAL É REDUZIR OS OBSTÁCULOS AO TRATAMENTO E AOS CUIDADOS, AUMENTANDO A CONSCIÊNCIA SOBRE A FREQUÊNCIA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS, A SUA SUSCEPTIBILIDADE AO TRATAMENTO, O PROCESSO DE RECUPERAÇÃO E O RESPEITO PELOS DIREITOS HUMANOS DAS PESSOAS COM TAIS PERTURBAÇÕES. (...) UMA CAMPANHA DE SENSIBILIZAÇÃO E EDUCAÇÃO DO PÚBLICO BEM PLANEADA PODE REDUZIR O ESTIGMA E A DISCRIMINAÇÃO, FOMENTAR A UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL E CONSEGUIR UMA APROXIMAÇÃO MAIOR ENTRE A SAÚDE MENTAL E A SAÚDE FÍSICA (PANORAMA GERAL XVII). (WHO, 2002, p. 14) Os estudos e as pesquisas na área da saúde mental continuam crescendo de forma que, a despeito da resistência em incluir crianças, jovens e adultos com sofrimento mental nos diferentes espaços sociais e, lamentavelmente, a permanência do preconceito contra eles, é possível observar a luta de famílias, estudiosos e profissionais por reconhecimento e a garantia de seus direitos individuais e coletivos como condição inalienável de todo ser humano. Foto: Shutterstock.com VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL REVELA AS CONDIÇÕES DE EXCLUSÃO SOCIAL DE HOMENS, MULHERES E CRIANÇAS CONSIDERADOS LOUCOS POR MEIO DO ACOLHIMENTO NOS HOSPITAIS DOS LOUCOS. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CORRETAMENTE INDICA O SURGIMENTO DO MOVIMENTO DA DESINSTITUCIONALIZAÇÃO PSIQUIÁTRICA. A) O medo da população dos comportamentos imorais e pervertidos dos loucos. B) A compreensão de que a loucura era causada por fenômenos sobrenaturais C) O descobrimento da etiologia da loucura atribuído aos estudos de Hipócrates. D) O surgimento das denúncias da população contra os tratamentos desumanos dispensados aos doentes mentais nos hospitais psiquiátricos. E) A expansão dos estudos científicos no campo da psicopatologia associando loucura à criminalidade fez surgir o movimento social que aceitava que o tratamento deveria ser dispensado nos presídios psiquiátricos. 2. A EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA COM TRANSTORNOS MENTAIS NO BRASIL OCUPA LUGAR DE GRANDE INTERESSE NO CAMPO DA PSIQUIATRIA INFANTIL. INDIQUE A AFIRMATIVA CORRETA E COERENTE COM OS INTERESSES DA PSIQUIATRIA INFANTIL. A) Os movimentos sociais contribuíram para consolidar uma psiquiatria infantil visando a atender as crianças com transtornos mentais mais pobres e vulneráveis da população. B) Os médicos psiquiatras, atendendo às imposições ideológicas do golpe militar de 1964, no Brasil, passaram a oferecer assistência médica exclusiva às crianças com transtornos mentais das camadas mais favorecidas da população C) A psiquiatria infantil começa a se estruturar como um campo independente da influência da neurologia, da psicologia e da psicanálise. D) No Brasil, a assistência aos transtornos mentais na infância foi influenciado pelo modelo norte-americano, importando teorias e práticas e implantando-as em todo o território nacional. E) Desde a época do império, no Brasil, já eram observadas práticas pedagógicas associadas ao tratamento de crianças com transtornos mentais. Por isso, foram criados o Instituto de Meninos Cegos e o Instituto dos Surdos Mudos por d. Pedro II . GABARITO 1. A história da saúde mental revela as condições de exclusão social de homens, mulheres e crianças considerados loucos por meio do acolhimento nos Hospitais dos Loucos. Assinale a alternativa que corretamente indica o surgimento do movimento da desinstitucionalização psiquiátrica. A alternativa "D " está correta. A questão de perceber o processo não mais por meio de marcas, mas como uma doença que poderia ser tratada, amenizada e cuidada, em uma crítica às visões da época, inicia-se no debate sobre o crime, mas abre os campos de estudos médico-científicos. 2. A educação da infância com transtornos mentais no Brasil ocupa lugar de grande interesse no campo da psiquiatria infantil. Indique a afirmativa correta e coerente com os interesses da psiquiatria infantil. A alternativa "A " está correta. O longo trajeto, não linear, de suporte no Brasil só se consolida na redemocratização, e tem como marco a portaria n. 3.088, de 23 e dezembro de 2011, por pressão de movimentos sociais. MÓDULO 2 Listar os principais transtornos e os aspectos de sua inclusão na educação TRANSTORNOS INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO (TID) Foto: Michael Begak/Wikiart/Domínio Público Os solitários , por Edvard Munch (1835). Os TID apresentam alterações em três áreas: no comportamento, na comunicação e na área social. Os comprometimentos são singulares e específicos a cada condição clínica. Normalmente são identificados: o transtorno do espectro autista (TEA), o transtorno de Rett (SR), o transtorno invasivo do desenvolvimento (TDI) e o transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação (TID-SOE) (FACION, 2007). Os transtornos do espectro do autismo serão abordados no módulo 3. Aqui serão abordados, em perspectiva, os outros TID, pois requerem uma análise e um diagnóstico específicos por parte dos especialistas no campo da psiquiatria. TRANSTORNO DE RETT (SR) Identificado em 1966 pelo pediatra alemão Andreas Rett, SR é um transtorno que se manifesta exclusivamente em meninas e apresenta características muito semelhante ao autismo. Ao nascer, a criança tem desenvolvimento normal até que a doença começa a se manifestar. Etapa Idade Prejuízo/alteração Estagnação precoce Dos 6 aos 18 meses Estagnação do desenvolvimento, desaceleração do crescimento do perímetro cefálico e tendência ao isolamento social. Rapidamente destrutiva Entre o 1º e o 3º ano de vida Regressão motora, choro imotivado, irritabilidade, perda da fala adquirida, movimentos estereotipados das mãos, respiração irregular (apneia), epilepsia. Pseudoestacionária Do 2º ao 10º ano de idade Melhora de alguns sinais, inclusive no contato social. Dificuldades motoras como ataxia e apraxia, espasticidade, escoliose e bruxismo estão presentes. Deterioração motora tardia Por volta dos 10 anos Lenta progressão de prejuízos motores, pela ocorrência de escoliose e desvio cognitivo grave. Legenda: Etapas e características da manifestação do SR. Fonte: Adaptação própria com base nos autores. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Vamos entender um pouco sobre dificuldades/sintomas da SR: As praxias se referem à organização de um movimento aprendido e automatizado. É a aprendizagem motora de um padrão de atividade, como andar. As ataxia se definem “pela desorganização dos movimentos aprendidos” (AZCOAGA; DERMAN; IGLESIAS, 1979, p. 32). javascript:void(0) A escoliose envolve um desvio da coluna vertebral para um dos lados do corpo. O bruxismo é uma desordem funcional das arcadas dentárias em que a pessoa range os dentes pressionando com força, geralmente durante o sono. O bruxismopode deformar os dentes e provocar alteração temporomandibular (ATM). A ataxia é uma alteração da coordenação motora causada por alterações no sistema nervoso central, mas não envolve uma paralisia (GEARHEART, 1978). ATAXIA São patologias que diminuem as capacidades motoras de utilização de objetos ou atos motores cotidianos. Normalmente, são provocadas por lesões cerebrais. Fonte: Autor/Shutterstock São patologias que diminuem as capacidades motoras de utilização de objetos ou atos motores cotidianos. Normalmente, são provocadas por lesões cerebrais. TRANSTORNOS INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO (TID- SOE) Os autores concordam que, na observação do TID-SOE, o diagnóstico é feito por exclusão de sintomas, pois não possui regras específicas para a elaboração do diagnóstico. Facion (2007, p. 71) afirma que “a formulação diagnóstica só é dada em situação quando há suspeita sobre um possível TID, porém os critérios para confirmá- la não são satisfeitos”. Ou seja, os sintomas que o paciente apresenta não são suficientes para estabelecer um diagnóstico. Os transtornos invasivos do desenvolvimento requerem cuidadosa atenção pedagógica por parte dos professores e de todo o quadro técnico profissional da escola e da comunidade escolar, oferecendo acesso, participação e aprendizagem, respeitando as condições peculiares de cada caso. São casos em que os pais e a escola devem andar de mãos dadas com os especialistas da área de saúde. As abordagens educacionais exigem um projeto pedagógico voltado a priorizar uma flexibilização curricular desde a formulação dos objetivos, dos conteúdos, da metodologia empregada e dos modelos de avaliação. A organização da escola e dos ambientes, as salas de aula, sala de recursos, espaço de tecnologias, refeitório, pátio de recreação, espaço de descanso, toda a estrutura física e acadêmica – enfim, tudo necessita de um olhar criterioso para proporcionar a inclusão e a aprendizagem desse alunado. Esse aparato deve ter como princípio básico o estabelecimento de relações interpessoais afetivas e respeitosas com o aluno e sua família. ATENÇÃO Merece atenção o fato de que, com tamanha diversidade conceitual em relação aos TID, as abordagens educacionais são elaboradas em função dos casos presentes na escola. Portanto, não há um plano padronizado de atendimento. Por isso, na maioria das vezes, há a necessidade da elaboração de um Plano Educacional Individualizado (PEI) para um aluno específico. Essa ação denota o respeito ao direito à educação de cada ser humano. TRANSTORNOS DE COMPORTAMENTO DISRUPTIVO (TCD) Foto: xennex/Wikiart/Domínio Público Trabalhadores a caminho de casa , por Edvard Munch (1915). Os TCD tendem a demonstrar seus sintomas no início da infância ou na adolescência e ocorrem com mais frequência no sexo masculino que no sexo feminino. Os TCD geralmente descritos na literatura são: o transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), o transtorno de conduta (TC) e o transtorno desafiador opositivo (TDO). Entretanto, o DSM-5 (APA, 2014) apresente vários outros tipos de transtornos disruptivos, todos apresentando problemas de autocontrole, de regulação de emoções e de comportamentos. TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE Foi descrito pela primeira vez pelo pediatra inglês George Still, em 1902, e já recebeu diversas denominações desde então, como disfunção cerebral mínima, lesão cerebral mínima, entre outras (FACION, 2007). Entretanto, as causas do TDAH ainda permanecem em discussão entre alguns autores. É um transtorno que se manifesta com mais evidência com a entrada na escola, embora os pais acreditem que, pelos sintomas apresentados desde o nascimento, se trate apenas de uma “criança levada e ativa”. As dificuldades de atenção, concentração, agitação e impulsividade surgem na infância. Os sintomas devem ser evidentes antes dos 12 anos, mas podem se prolongar pela adolescência e idade adulta, causando importantes dificuldades no relacionamento social. Portanto, a criança com TDAH deve ser tratada como tendo um problema sério, e não como uma criança “malcriada”. Foto: xennex/Wikiart/Domínio Público O cavalo galopante , por Edvard Munch (1912). Desatenção Hiperatividade- impulsividade Desatenção aos detalhes ou comete erros por descuido nas tarefas escolares Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira Dificuldade de manter atenção em tarefas ou atividades lúdicas Levanta-se constantemente da cadeira quando deveria permanecer sentado por algum tempo Dificuldade em responder ao ser chamado Corre constantemente ou sobe em coisas inapropriadas, inquietude exagerada Não segue instruções até o fim, não consegue concluir deveres ou tarefas no local de trabalho; perde o foco e o rumo Incapacidade de brincar ou se envolver em atividades que exigem calma e tranquilidade Desorganização, desleixo, mal gerenciamento do tempo, dificuldade em cumprir prazos Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado” Não gosta ou reluta em participar de atividades que exijam esforço mental prolongado Apresenta loquacidade exagerada, fala demais. É comum perder coisas necessárias aos trabalhos escolares ou profissionais Dificuldade de conseguir aguardar a vez de falar Facilmente se distrai com estímulos externos Com frequência interrompe ou se intromete em conversas, jogos e atividades de outras pessoas Facilmente se esquece de realizar atividades cotidianas Dificuldade de esperar a sua vez em uma fila, por exemplo Legenda: Sintomas de desatenção e/ou hiperatividade – impulsividade descritos no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). A criança deve apresentar seis ou mais desses sintomas frequente ou persistentemente. Fonte: APA (2014, p. 59-60). Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Em relação ao tratamento do TDAH, Facion (2007) e Holmes (1997) indicam que as abordagens mais utilizadas são as psicológicas, como a psicoterapia, as terapias comportamentais, os treinos de autoinstrução e a orientação a pais e professores. As abordagens fisiológicas envolvem as alternativas farmacológicas e a dieta livre de fosfato. . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra11547/sem-titulo>. Acesso em: 03 de Mai. 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979- 060-7 Sem título , obra de Fernando Diniz. TDAH: ORIENTAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA Uma das principais orientações aos pais e familiares de uma criança com TDAH é que a hiperatividade, impulsividade e dificuldades apresentadas não são intencionais, nem porque a criança é desobediente, malcriada ou teimosa. Acontece que a criança não consegue por si só dominar e inibir os estímulos internos e externos ao seu redor. ATENÇÃO Diante dos primeiros sinais de desordem motora, desatenção e impulsividade, os pais devem procurar o apoio de profissional especializado para estabelecer o diagnóstico e receber orientações adequadas para, assim, favorecer o enfrentamento dos comportamentos inadequados e garantir a compreensão e harmonia familiar. A organização da rotina no dia a dia no contexto doméstico é fundamental para a criança com TDAH que funciona melhor quando os ambientes estão devidamente estruturados, há disciplina na execução das atividades diárias e os pais, conjuntamente (pai e mãe), estabelecem limites, levando a criança a compreender, por meio do diálogo e de estímulos positivos e recompensas, quais condutas são aceitáveis e quais não são. O importante é que os pais saibam equilibrar permissividade com liberdade. Foto: Shutterstock.com As crianças e os adolescentes precisam ter suas condutas positivas reforçadas com elogios em vez de ser punidos por comportamentos inadequados– punição não surte efeito no controle do deficit de atenção e hiperatividade. Portanto, pais, familiares e cuidadores precisam ser orientados a não desistir da criança nos momentos de dúvidas e incertezas sobre como agir com a criança e ao adolescente com TDAH. Alunos com TDAH devem frequentar a escola inclusiva, organizada para acolher e ajudar a criança a enfrentar suas dificuldades. Entretanto, o TDAH continua sendo um grande desafio para professores que não estão qualificados para esse atendimento educacional. Programas de formação contínua em serviço são imprescindíveis para a orientação dos educadores. A escola também precisa buscar articulação com os profissionais de saúde para, a partir dos estudos dos casos, formular as estratégias necessárias para promoção da aprendizagem dos alunos com TDAH. O planejamento das estratégias pedagógicas que visam a favorecer o aprendizado dos alunos precisa estar em sintonia e ser compartilhado com os familiares e cuidadores. Como o ambiente familiar, o ambiente escolar precisa ser controlado, já que é um ambiente com excesso de sonoridade (barulhos) e estímulos visuais, principalmente dentro do espaço da sala de aula, com excesso de exposição de cartazes e imagens, por exemplo. Amenizar o impacto visual e auditivo favorece o controle da atenção do aluno. Foto: Zaragoza.es/Wikiart/Domínio Público Nina Kandinsky , por Wassily Kandinsky (1917). Durante as atividades escolares, deve-se evitar que o aluno com TDAH tenha à sua frente diversos materiais escolares, como lápis, lápis de cor, borrachas, canetas, estojos, apontadores etc. Tudo isso pode provocar distração. O aluno precisa ter em mãos apenas o necessário para a execução da tarefa escolar, tanto em casa como na escola. É preciso também organizar a distribuição dos acentos, colocando o aluno com TDAH em frente à mesa do professor, de modo a controlar e evitar a desatenção ou movimentação e o deslocamento constante. Os elogios para sempre que ele demonstrar atenção e bom comportamento servem para elevar a autoestima do aluno, que se percebe compreendido e aceito em suas dificuldades. Imagem: Laíza Cabral. ATENÇÃO A conduta do professor tem papel fundamental no sucesso do aluno para enfrentar as dificuldades causadas pelo TDAH e facilitar as relações interpessoais com os colegas na escola, que também deverão ser orientados para colaborar e entender as dificuldades de quem apresenta esse transtorno. Os comportamentos frequentemente observados em crianças com TDO, segundo Holmes (1997) e Facion (2007), tendem a ser de negativismo, desafio, argumentação e hostilidade. Elas tendem a discutir e argumentar com os adultos, contrapondo-se intencionalmente a fazer o que lhe é pedido, com o firme propósito de incomodar e irritar os outros. Segundo Teixeira (2006, p. 18), “estudos americanos atribuem esse diagnóstico a 16% das crianças em idade escolar, e geralmente o transtorno tem seu início por volta dos sete anos de idade, sendo mais prevalente entre meninos do que em meninas”. Imagem: xennex/Wikiart/Domínio Público Menino em um colete vermelho , por Paul Cézanne (1888). Humor raivoso/irritável Comportamento questionador/desafiante Índole vingativa Com frequência perde a calma. Frequentemente questiona figuras de autoridade ou, no caso de crianças e adolescentes, adultos. Foi malvado ou vingativo pelo menos duas vezes nos últimos seis meses. Com frequência é sensível ou facilmente incomodado. Frequentemente desafia acintosamente ou se recusa a obedecer a regras ou pedidos de figuras de autoridade. Com frequência é raivoso e ressentido. Frequentemente incomoda deliberadamente outras pessoas. Frequentemente culpa outros por seus erros ou mau comportamento. Legenda: Características inseridas nos critérios de diagnóstico que cabe ao especialista médico emitir. Fonte: APA (2014, p. 462-463). Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Cabe destacar que o TOD causa sofrimento para o indivíduo e para as pessoas em seu ambiente social imediato (p. ex., família, grupo de pares, colegas de trabalho) ou impactos negativos no funcionamento social, educacional, profissional e outras áreas importantes da vida do indivíduo (APA, p. 462). Muitas crianças apresentam os sintomas do TDO no contexto da casa, geralmente em relação às regras e ordens impostas pelos pais; entretanto, quando o comportamento se mostra desafiador e opositivo também em outros contextos, como na escola, na igreja, em clubes etc., isso indica a gravidade do problema. Quanto maior o número de ambientes onde se manifesta o comportamento desafiante, maior o prejuízo no funcionamento e no estabelecimento de relações sociais. Em todos os casos, desde as primeiras manifestações dos comportamentos desafiadores opositivos, deve-se estar atento às formas de abordagem e tratamento. Imagem: xennex/Wikiart/Domínio Público Menino em um colete vermelho II , por Paul Cézanne (1890). Os comportamentos comuns de “raiva”, de “birra”, de “malcriação”, muito comuns em crianças pequenas em casa e na escola, nem sempre devem ser rotulados de TDO. Podem ter outras causas a ser investigadas e compreendidas por pais e professores. O diagnóstico de TDO indicado pelo DSM-5 (APA, 2014) é de que quatro sintomas ou mais devem ser observados durante os seis meses precedentes de forma frequente ou persistente. Geralmente, as crianças e os adolescentes que sofrem de TDO possuem baixa autoestima, humor deprimido, rancor contra os outros a quem culpam pelos seus fracassos e erros, e podem ser vingativos. Se não tratado adequadamente, o TDO pode evoluir e se tornar um transtorno de conduta na adolescência (TEIXEIRA, 2006; FACION, 2007; APA, 2014). Entre as causas para o desenvolvimento do TDO descritas por pesquisas estão as que se referem a dificuldades temperamentais associadas a problemas de regulação emocional nos quais a criança reage com fortes reações à imposição de regras e de controle, além de apresentarem baixa tolerância a frustrações. Em relação às causas ambientais, Facion (2007) e Teixeira (2006) são unânimes em apontar a desestruturação familiar como base. Lares problemáticos, com violência doméstica e uso de álcool e drogas, pais excessivamente permissivos e libertinos ou, ao contrário, agressivos, tiranos e punitivos, com imposição excessiva de controle e normas rígidas, tendem a comprometer o desenvolvimento emocional e moral da criança e do adolescente. Teixeira (2006) indica a hipótese de que o comportamento desafiador opositivo pode ser aprendido e reforçado de forma que a criança aprenda a exercer o seu controle sobre as figuras de autoridade, como pais e professores. Lares afetuosos, compreensivos, em que pais e filhos dialogam, nos quais há o estabelecimento de limites e de disciplina, cujas regras são estabelecidas com a participação das crianças e dos adolescentes, trazem sensação de acolhimento e segurança para os filhos. ATENÇÃO Pais responsivos, que acompanham o desenvolvimento, os sucessos e os desafios dos filhos, que estão em constante interação com a escola, com os professores e com os amigos dos filhos, e são mais presentes, são pais que oferecem apoio e segurança no enfrentamento das dificuldades vividas no dia a dia por crianças e adolescentes. TRANSTORNOS DE CONDUTA (TC) O TC é caracterizado por um conjunto de alterações do comportamento que de forma repetitiva e persistente violam os direitos básicos de outras pessoas ou de normas e regras de convivência social (APA, 2014; FACION, 2007; TEIXEIRA, 2006; HOLMES, 1997). Este transtorno é mais comum no sexo masculino (de 8% a 9%) do que no feminino (aproximadamente 4%). O diagnóstico é feito em crianças a partir dos 10-11 anos ou no início da adolescência. Segundo o DSM-5 (APA, 2014, p. 470), o diagnóstico deve indicar se o comportamento é “manifestado pela presença deao menos três dos quinze critérios seguintes, nos últimos doze meses, de qualquer uma das categorias adiante, com ao menos um critério presente nos últimos seis meses”. Veja o quadro dos sintomas a seguir: Foto: xennex/Wikiart/Domínio Público Pierrot e Arlequim (Mardi Gras) , por Paul Cézanne (1888). Clique nas barras para ver as informações. Objeto com interação. FALSIDADE OU FURTO Invadiu a casa, o edifício ou o carro de outra pessoa. Com frequência mente para obter bens materiais ou favores ou para evitar obrigações (i.e., “trapaceia”). Furtou itens de valores consideráveis sem confrontar a vítima (p. ex., furto em lojas, mas sem invadir ou forçar a entrada; falsificação). DESTRUIÇÃO DE PROPRIEDADE Envolveu-se deliberadamente na provocação de incêndios com a intenção de causar danos graves. Destruiu deliberadamente propriedade de outras pessoas (excluindo provocação de incêndios). AGRESSÃO A PESSOAS E ANIMAIS Frequentemente provoca, ameaça ou intimida outros. Frequentemente inicia brigas físicas. Usou alguma arma que pode causar danos físicos graves a outros (p. ex., bastão, tijolo, garrafa quebrada, faca, arma de fogo). Foi fisicamente cruel com pessoas. Foi fisicamente cruel com animais. Roubou durante o confronto com uma vítima (p. ex., assalto, roubo de bolsa, extorsão, roubo à mão armada). Forçou alguém a praticar atividade sexual. VIOLAÇÕES GRAVES DE REGRAS Frequentemente fica fora de casa à noite, apesar da proibição dos pais, com início antes dos 13 anos de idade. Fugiu de casa, passando a noite fora, pelo menos duas vezes enquanto morando com os pais ou em lar substituto, ou uma vez sem retornar por um longo período. Com frequência falta às aulas, com início antes dos 13 anos de idade. Fonte: APA (2014, p. 470). [adaptado] ATENÇÃO Diferentemente das travessuras infantis ou da rebeldia observada comumente na adolescência, o TC se manifesta de forma persistente e intensa por um período mínimo de seis meses (FACION, 2007). Como todas as alterações comportamentais, quanto mais precocemente observadas e tratadas, melhor o desfecho de controle dos sintomas visando à readaptação social. Entretanto, quanto mais precoce, durante da infância, forem manifestados os sinais de TC, pior será o prognóstico e maior será o risco de o indivíduo também apresentar o problema na vida adulta, evoluindo para a criminalidade e o uso de substâncias como álcool e drogas. Os comportamentos normalmente iniciam por manifestações de agressividade contra outras pessoas – provocações, ameaças e intimidações, como o bullying , muito comum no ambiente escolar ou em redes sociais (APA, 2014). Foto: xennex/Wikiart/Domínio Público Arlequim , por Paul Cézanne (1890). Por um lado, tais comportamentos resultam em prejuízos nas relações sociais, como no afastamento dos amigos e na exclusão da convivência com o grupo. Por outro lado, o adolescente com TC pode se aproximar de gangues que comungam das mesmas violações e transgressões, sentindo-se, dessa forma, aceito por iguais. É comum os transtornos desafiadores opositivos não tratados evoluírem para transtornos de conduta que “variam de acordo com a idade à medida que o indivíduo desenvolve força física, capacidades cognitivas e maturidade sexual” (APA, 2014, p. 473). Também podem estar associados TDAH, transtornos do humor, transtornos de ansiedade ou mesmo deficiência intelectual leve. O que se observa é que não há uma única causa para o TC. Diversas causa, em conjunto, agem de maneira inter-relacionada no diagnóstico e prognóstico de cada caso. Da mesma forma, não há um padrão típico de tratamento; as intervenções, como indicam Teixeira (2006) e Facion (2007), devem incidir sobre a criança, o adolescente, a família e a escola. Abordagens interdisciplinares envolvendo psicologia, terapias ocupacional, psicoterapias e esportes, por exemplo, são recursos de orientação e apoio no acompanhamento dos casos. Normalmente, surtem efeitos positivos a utilização de treinamento de habilidades sociais e técnicas cognitivo-comportamentais, além do uso de medicamentos para controle da agressividade, da impulsividade e do equilíbrio do humor (TEIXEIRA, 2006). TRANSTORNOS INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO (TID) Agora assista a um vídeo que resume os pontos principais do módulo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AO LISTAR OS TID, O PAPEL MAIS IMPORTANTE DO DOCENTE E DA EQUIPE PEDAGÓGICA É: A) Diagnosticar o aluno e comunicar à família. B) Fazer o acompanhamento individual para que o aluno possa se desenvolver. C) Indicar que o aluno procure uma escola especializada D) Reduzir e preparar os colegas para receber o aluno. E) Considerar no planejamento formas de permitir o desenvolvimento do aluno 2. SÃO TRANSTORNOS INVASIVOS DE DESENVOLVIMENTO: I. SURDEZ II. TDAH III. DEFICIÊNCIA MENTAL IV. AUTISMO V. TC ESTÃO CORRETAMENTE IDENTIFICADOS: A) I e II. B) I e III. C) I e IV. D) II e IV. E) II e V. GABARITO 1. Ao listar os TID, o papel mais importante do docente e da equipe pedagógica é: A alternativa "E " está correta. O professor não faz diagnóstico. A equipe pedagógica dialoga com a família caso detecte algo e não seja comunicada, apoia a família e o aluno, para que ele possa desenvolver sua aprendizagem. 2. São transtornos invasivos de desenvolvimento: I. Surdez II. TDAH III. Deficiência mental IV. Autismo V. TC Estão corretamente identificados: A alternativa "E " está correta. Na lista apresentada, o autismo pode suscitar dúvida. No entanto, tem classificações específicas. A surdez tem outra natureza e a deficiência mental é um termo genérico. Sendo assim, é correto assinalar TDAH e TC. MÓDULO 3 Caracterizar os transtornos do neurodesenvolvimento reconhecendo a importância das práticas pedagógicas na educação de alunos com TEA. TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO (TGD) O autismo está inserido na categoria de transtornos globais do desenvolvimento (TGD), cujos indivíduos fazem parte do grupo identificado como público da educação especial, sob a ótica da educação inclusiva. O contexto deste estudo estará diretamente direcionado para o campo da educação no qual professores e profissionais do ensino relatam significativa dificuldade para enfrentar as diferentes demandas apresentadas por crianças, jovens e adultos com transtornos mentais, secundários aos transtornos do neurodesenvolvimento, com ênfase no transtorno do espectro autista (TEA). Como vimos no módulo anterior, há uma trajetória de sofrimento social vivida por pessoas com deficiência e transtornos mentais ao longo da história da humanidade. Os direitos humanos começam a ser pensados, discutidos e efetivamente inseridos em políticas públicas, a partir do início do século XX, com destaque ao direito à educação e saúde. Foto: xennex/Wikiart/Domínio Público Retrato do filho do artista , por Paul Cézanne (1878). O QUE ENTENDEMOS POR TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO Os transtornos do neurodesenvolvimento que incluem o autismo são, atualmente, a preocupação de profissionais de diversos campos de conhecimento – como educação, saúde, trabalho e tecnologias – e das próprias famílias, que vivem expectativas quanto ao futuro dos filhos e filhas com autismo. Foto: TaeJung46/Wikimedia commons/Domínio Público Luz do sol no quarto azul, por Anna Ancher (1891). Apesar do crescimento de pesquisas e da literatura especializada no assunto, há muito ainda a ser descortinado sobre as causas e formas de atendimento e tratamento dos sintomas, tendo em vista as variadas características do espectro. Importa destacar que Leo Kanner não “criou” o autismo como uma nova síndrome. Ele descreveu crianças que apresentavam uma atipia de comportamento, diferente das deficiências comumente observadas, e denominou o quadro de autismo precoce infantil. Quadros de crianças observadas por Hans Asperger tinham as mesmas características, mas apresentavamfala e podiam se comunicar. ATENÇÃO Que fique claro que o diagnóstico do autismo compete exclusivamente aos profissionais de saúde; e que os profissionais de educação devem estabelecer atuações em parcerias intersetoriais para o encaminhamento visando buscar a melhor indicação de atendimento para a inclusão educacional. Em qualquer espaço social onde haja a inclusão de uma pessoa com algum tipo de transtorno do espectro autista convém saber identificar suas características e singularidades para promover uma inclusão efetiva. Vejamos um pouco mais desses quadros inseridos nos transtornos do neurodesenvolvimento. Transtorno mental Transtorno do neurodesenvolvimento Transtorno do espectro autista “Um transtorno mental é uma síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação “Compõe um grupo de condições com início no período do desenvolvimento. Os transtornos tipicamente se manifestam cedo (...), em geral antes de a criança ingressar na escola, sendo “O transtorno do espectro autista caracteriza-se por deficit persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental. Transtornos mentais estão frequentemente associados a sofrimento ou incapacidade significativos que afetam atividades sociais, profissionais ou outras atividades importantes [...]” caracterizados por deficit no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. Os deficit de desenvolvimento variam desde limitações muito específicas na aprendizagem ou no controle de funções executivas até prejuízos globais em habilidades sociais ou inteligência” (APA, 2014, p. 31). contextos, incluindo deficit na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos. Além dos deficit na comunicação social, o diagnóstico do transtorno do espectro autista requer a presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, (APA, 2014, p. 20). interesses ou atividades” (APA, 2014, p. 31). Fonte: Construção própria com base no DSM-5 (APA, 2014). Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal AMPLIANDO A COMPREENSÃO DO TEA COM BASE NO DSM-5 QUANTO AO DIAGNÓSTICO Mesmo reconhecendo que os sintomas podem se manifestar desde o nascimento, devemos considerar que eles podem mudar com o desenvolvimento ou por efeito de intervenções externas educativas, psicológicas, fonoaudiológicas, entre outras. A identificação diagnóstica deve investigar com que idade ocorre o surgimento dos primeiros sintomas e quais habilidades estão comprometidas e com que gravidade, bem como sintomas – autismo com ou sem comprometimento intelectual, com ou sem comprometimento da linguagem – e comorbidades – problemas médicos, genéticos ou ambientais. Quanto à predisposição genética, os dados de pesquisas com indivíduos de diferentes graus de parentesco, como irmãos monozigóticos, dizigóticos, não gêmeos e pais indicam uma influência no autismo das bases genéticas. Entretanto, não se chegou, ainda, a um acordo universal sobre esses dados (SURIAN, 2010). Foto: xennex/Wikimedia commons/Domínio Público Jean and Jacques , Marie Bashkirtseff (1883). COMORBIDADE: ALGUNS INDICADORES O transtorno do espectro autista é frequentemente associado com comprometimento intelectual e transtorno estrutural da linguagem (i.e., incapacidade de compreender e construir frases gramaticalmente corretas). Pode estar presente o transtorno do deficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Pode haver mudanças no sono ou na alimentação e um aumento no comportamento desafiante. Transtorno alimentar restritivo/evitativo é uma característica que se apresenta com bastante frequência no transtorno do espectro autista. Preferências alimentares extremas e reduzidas podem persistir (APA, 2014, p. 58-59). ATRASO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO Condição relacionada à pessoa que fracassa nos diversos níveis de desenvolvimento intelectual esperados para a idade, sobretudo nos primeiros cinco anos de vida, cujo funcionamento não permite a avaliação com base em testes padronizados. javascript:void(0) O atraso global deve ser reavaliado após a pessoa ser submetida a intervenções pedagógicas ou outras. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Deficiência intelectual é o termo de uso comum por médicos, educadores e outros, além de pelo público leigo e grupos de defesa dos direitos (APA, 2014, p. 33). Clique nas barras para ver as informações. Objeto com interação. ALTERAÇÕES DE COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM variam de ausência total da fala passando por atrasos na linguagem, compreensão reduzida da fala, fala em eco até linguagem explicitamente literal ou afetada; deficit verbais e não verbais na comunicação social. DEFICIT NA RECIPROCIDADE SOCIOEMOCIONAL Relacionado à deficiência da capacidade de envolvimento com outros e compartilhamento de ideias e sentimentos: variam de ausência total da fala passando por atrasos na linguagem, compreensão reduzida da fala, fala em eco até linguagem explicitamente literal ou afetada; deficit verbais e não verbais na comunicação social. pequena ou nenhuma capacidade de iniciar interações sociais e de compartilhar emoções; capacidade de imitação reduzida ou ausente do comportamento de outros; uso reduzido, ausente ou atípico de contato visual (relativo a normas culturais), gestos, expressões faciais, orientação corporal ou entonação da fala; deficit para desenvolver, manter e compreender as relações; pode haver interesse social ausente, reduzido ou atípico, manifestado por rejeição de outros; conduta de passividade ou abordagens inadequadas que pareçam agressivas ou disruptivas. PADRÕES RESTRITOS E REPETITIVOS DE COMPORTAMENTO, INTERESSES OU ATIVIDADES estereotipias motoras simples (p. ex., abanar as mãos, estalar os dedos); uso repetitivo de objetos (p. ex., girar moedas, enfileirar objetos); fala repetitiva (p. ex., ecolalia, repetição atrasada ou imediata de palavras ouvidas, uso de “tu” ao referir-se a si mesmo, uso estereotipado de palavras, frases ou padrões de prosódia); adesão excessiva a rotinas e padrões restritos de comportamento podem ser manifestados por resistência a mudanças (p. ex., sofrimento relativo a mudanças aparentemente pequenas, como embalagem de um alimento favorito; insistência em aderir a regras; rigidez de pensamento); padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., perguntas repetitivas, percorrer um perímetro); interesses altamente limitados e fixos, no transtorno do espectro autista, tendem a ser anormais em intensidade ou foco (p. ex., criança pequena muito apegada a uma panela; criança preocupada com aspiradores de pó; adulto que gasta horas escrevendo tabelas com horário); aparente hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais, manifestada por meio de respostas extremadas a sons e texturas específicos, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, encantamento por luzes ou objetos giratórios; algumas vezes, aparente indiferença ao calor, frio ou dor; reações extremas ou rituais envolvendo gosto, cheiro, textura ou aparência da comida ou excesso de restrições alimentares são comuns, podendo constituir a forma de apresentação do transtorno do espectro autista. CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF) E O TEA Para a CIF, são determinados fatores sociais e físicos do ambiente que colaboram para o surgimento de deficiências, incapacidades e limitações. Esses fatores também estão fortemente relacionados com a cultura. Clique nas barras para ver as informações. Objeto com interação. ALTERAÇÕESDE COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM variam de ausência total da fala passando por atrasos na linguagem, compreensão reduzida da fala, fala em eco até linguagem explicitamente literal ou afetada; deficit verbais e não verbais na comunicação social. DEFICIT NA RECIPROCIDADE SOCIOEMOCIONAL Relacionado à deficiência da capacidade de envolvimento com outros e compartilhamento de ideias e sentimentos: variam de ausência total da fala passando por atrasos na linguagem, compreensão reduzida da fala, fala em eco até linguagem explicitamente literal ou afetada; deficit verbais e não verbais na comunicação social. pequena ou nenhuma capacidade de iniciar interações sociais e de compartilhar emoções; capacidade de imitação reduzida ou ausente do comportamento de outros; uso reduzido, ausente ou atípico de contato visual (relativo a normas culturais), gestos, expressões faciais, orientação corporal ou entonação da fala; deficit para desenvolver, manter e compreender as relações; pode haver interesse social ausente, reduzido ou atípico, manifestado por rejeição de outros; conduta de passividade ou abordagens inadequadas que pareçam agressivas ou disruptivas. PADRÕES RESTRITOS E REPETITIVOS DE COMPORTAMENTO, INTERESSES OU ATIVIDADES estereotipias motoras simples (p. ex., abanar as mãos, estalar os dedos); uso repetitivo de objetos (p. ex., girar moedas, enfileirar objetos); fala repetitiva (p. ex., ecolalia, repetição atrasada ou imediata de palavras ouvidas, uso de “tu” ao referir-se a si mesmo, uso estereotipado de palavras, frases ou padrões de prosódia); adesão excessiva a rotinas e padrões restritos de comportamento podem ser manifestados por resistência a mudanças (p. ex., sofrimento relativo a mudanças aparentemente pequenas, como embalagem de um alimento favorito; insistência em aderir a regras; rigidez de pensamento); padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., perguntas repetitivas, percorrer um perímetro); interesses altamente limitados e fixos, no transtorno do espectro autista, tendem a ser anormais em intensidade ou foco (p. ex., criança pequena muito apegada a uma panela; criança preocupada com aspiradores de pó; adulto que gasta horas escrevendo tabelas com horário); aparente hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais, manifestada por meio de respostas extremadas a sons e texturas específicos, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, encantamento por luzes ou objetos giratórios; algumas vezes, aparente indiferença ao calor, frio ou dor; reações extremas ou rituais envolvendo gosto, cheiro, textura ou aparência da comida ou excesso de restrições alimentares são comuns, podendo constituir a forma de apresentação do transtorno do espectro autista. Proident sit Utilizando a terminologia da CIF (OMS, 2003), entendemos por “funcionalidade” os aspectos positivos da interação entre um indivíduo (com uma condição de saúde) e os seus fatores contextuais (ambientais e pessoais). Incapacidade Entende-se por “incapacidade” – as deficiências – as limitações de atividade e restrições na participação social típica. Isso indica aspectos negativos da interação entre um indivíduo (com uma condição de saúde) e seus fatores contextuais (ambientais e pessoais). Deficiência Considera-se “deficiência” uma perda ou anormalidade de uma estrutura do corpo ou de uma função fisiológica (incluindo funções mentais). O modelo proposto pela CIF traz uma articulação entre a abordagem médica e a abordagem social da deficiência, assumindo um foco biopsicossocial, que integra várias dimensões de saúde – a biológica, a individual e a social (SAMPAIO; LUZ, 2009). Os conceitos e terminologias usados na CIF, segundo Farias e Buchalla (2005), de acordo com componentes de funções e estruturas do corpo, da atividade, da participação e de fatores ambientais, são descritos da seguinte forma: Funções do corpo se referem às funções fisiológicas dos sistemas do corpo, incluindo as funções mentais. Atividade está relacionada à execução de tarefas realizadas no dia a dia de um indivíduo. Participação refere-se ao envolvimento numa situação da vida social. Fatores ambientais compreendem os fatores externos do meio ambiente em que a pessoa vive. No contexto educacional, a CIF pode ser utilizada como instrumento para investigar as condições de inclusão escolar de alunos com autismo e com outras deficiências, visando a identificar o nível de funcionamento das funções mentais necessárias para as aprendizagens, bem como para identificar as demandas e formular suportes educacionais que favoreçam a inclusão educacional e social dos alunos. ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO/TRATAMENTO DO TEA As estratégias de atendimento/tratamento de pessoas com TEA são planejadas e executadas com base em algumas variáveis, como a especialidade do profissional (professor, psicólogo, fonoaudiólogo ou outro terapeuta) e as características e demandas da criança, do jovem ou do adulto com TEA, bem como a família responsável. Os atendimentos mais utilizados são os seguintes: Clique nas setas para ver o conteúdo. Objeto com interação. Atendimento clínico com enfoque psicanalítico. Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavior Analysis – ABA) – Prática de prestação de serviço por analistas do comportamento, envolve um campo de estudo sobre análise do comportamento e, como filosofia, está baseada no behaviorismo radical de Skinner (SELLA; RIBEIRO, 2018). Tratamento e educação para crianças com autismo e com distúrbios correlatos da comunicação (Treatment and Education of Autistic and related Communication handicapped Children – TEACCH) – Tem como base a organização do ambiente físico a partir de rotinas e sistemas de trabalho, de forma a adaptar o ambiente para tornar mais fácil para a criança compreendê-lo, assim como compreender o que se espera dela, visando a desenvolver a independência da criança de modo que ela necessite do professor para o aprendizado, mas que possa também passar grande parte de seu tempo ocupando-se de modo independente (MELO, 2007). Comunicação suplementar e alternativa (CSA) – De acordo com a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), CSA é uma área de conhecimento interdisciplinar que engloba o uso de símbolos, recursos, estratégias e serviços para garantir a ampliação da comunicação e interação de crianças, jovens, adultos e idosos com deficiência e/ou TEA e necessidade complexa de comunicação. Integração sensorial – Jean Ayres (1972, p. 11), terapeuta ocupacional com formação avançada em neurociência e psicologia educacional, define integração sensorial como "o processo neurológico que organiza as sensações do próprio corpo e do meio ambiente e possibilita o uso eficaz do corpo no meio". A teoria é usada para explicar a relação entre o cérebro e o comportamento e explica por que os indivíduos respondem de determinada maneira à entrada sensorial e como isso afeta o comportamento. ATENÇÃO Convém ressaltar que essas estratégias exigem critérios éticos a ser respeitados no que se refere ao conhecimento especializado do programa selecionado para aplicação no ambiente escolar. É imensa a responsabilidade dos que cuidam de crianças, jovens e adultos com autismo ou qualquer outro transtorno global do desenvolvimento. Intervenções aleatórias e sem rigorosa fundamentação teórica prática podem resultar em prejuízos para essas pessoas e suas famílias, além de “manchar” a imagem do profissional. ABORDAGEM EDUCACIONAL PARA O TEA A educação se constitui um direito humano subjetivo e inalienável. Amparada por legislações nacionais e internacionais, entre as quais destacamos a Declaração de Salamanca, de 1997, e suas linhas de ação sobre necessidades educativas espaciais. Foto: xennex/Wikimedia commons/Domínio Público Os quatro filhos do Dr. Linde, por Edvard Munch (1903). Essa declaração resultou da Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, ocorridana Espanha, em 1994. Ela proclama que os projetos e programas aplicados nos sistemas educativos devem considerar todas as diferenças e necessidades do alunado, mantendo como prioridade o princípio orientador “de que as escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras” (BRASIL, 1997, p. 17). Sabemos que alunos com e sem deficiência se beneficiam da educação inclusiva. Aos alunos com autismo (TEA), a educação inclusiva proporciona a oportunidade de socialização e construção de amizades ampliadas com a entrada para a escola comum, o que contribui para o estabelecimento de novos relacionamentos que os levarão a se sentirem aceitos como pessoa. A educação inclusiva promove o direito de participação em um ambiente rico em diversidade humana, sem discriminações, ou seja, o direito de ser recebido e ensinado no mesmo espaço (turma) que todos os demais educandos. Aqui serão tratadas algumas abordagens gerais para o atendimento educacional inclusivo de crianças, jovens e adultos com TEA, embora a defesa incontestável da importância da intervenção o mais precocemente possível seja a que oferece melhor e maior probabilidade de desenvolvimento e de aprendizagem do indivíduo. O avançado progresso no estudo do autismo e as variadas estratégias de estimulação e de intervenção atestam, atualmente, que não há cura para o autismo; os procedimentos visam sobretudo a garantir uma melhor qualidade de vida pessoal com a inserção em todos os espaços da vida social. As estratégias de intervenção devem levar em consideração a tríade de características do TEA: os comprometimentos na comunicação, na interação social (socialização) e no repertório repetitivo, ritualístico e estereotipado de atividades. A inclusão educacional deve iniciar desde a entrada na creche e se estender ao longo da vida. Outras formas de intervenção são bem-vindas, paralelamente à atuação na escola comum – a musicoterapia e a terapia com animais têm demonstrado efeitos positivos para a aprendizagem das funções de comunicação e interação social dos alunos. Inicialmente, como educadores, devemos ter em mente que os deficit na linguagem e comunicação, nas interações sociais e nos interesses restritos e os comportamentos repetitivos não se manifestam de maneira estanque, isolados um dos outros. Eles se intersectam, dependendo dos estímulos do ambiente e das condições individuais de cada autista. Compete à escola se organizar para acolher o aluno, conhecer suas singularidades e demandas, bem como informar e sensibilizar todos da comunidade da escola (gestores, professores e profissionais de ensino e de serviços gerais) sobre como incluir o aluno e sua família. Foto: xennex/Wikimedia commons/Domínio Público Garota tocando o bandolim, por Berthe Morisot (1890). Para os educadores é muito importante conhecer as funções executivas (FE) e a teoria da mente (TM), influem no desenvolvimento escolar do aluno com TEA. As FE são poderosas habilidades para a aprendizagem humana, intimamente relacionadas com o funcionamento cognitivo. Ao nascer, as crianças trazem o potencial para desenvolver as habilidades; porém, elas precisam ser estimuladas pelos educadores ao oferecer possibilidades de interações e de experiências com o meio ambiente. ATENÇÃO As crianças que possuem integridade cognitiva são capazes de – se estimuladas adequadamente – desenvolver habilidades de planejar uma atividade para atingir uma meta ou um objetivo. A FE, portanto, está relacionada com a “capacidade de antecipar, planificar, controlar impulsos, inibir respostas inadequadas, flexibilizar pensamento e ação” (BELISÁRIO FILHO; CUNHA, 2010, p. 17). Entretanto, as pessoas com TEA podem ter as habilidades de memória de trabalho (manter a atenção nos objetivos para atingir a meta); a capacidade de inibição (inibir outros impulsos); e a habilidade para criar novas soluções – todas ou individualmente podem estar mais ou menos comprometidas, como indica Surian (2010, p. 84). Dias e Seabra (2013) afirmam que as FE se referem a um conjunto de habilidades que atuam controlando e regulando outros processos comportamentais, como a cognição e a emoção. As FE são fundamentais para o funcionamento adaptativo no dia a dia. Quando a criança está inserida em uma nova atividade e não apresenta comportamentos adequados e automatizados para responder positivamente, se for solicitada a resolver novos problemas ou estabelecer novos objetivos ela vai precisar das FE. Por isso, as funções de memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva devem agir de forma integrada. Por exemplo, na inibição, a criança controla comportamentos inapropriados; a memória de trabalho refere-se à capacidade de manter uma informação na mente por determinado tempo; enquanto a “flexibilidade cognitiva (...) permite ao indivíduo adaptar-se às demandas do ambiente e adequar seu comportamento a novas regras” (DIAS; SEABRA, 2013, p. 207). Para Belisário Filho e Cunha (2010, p. 18), “há evidências suficientemente consistentes para supor deficit da FE nas pessoas com autismo”. Essa função também tem relação com TM, que se refere à capacidade do ser humano para compreender os estados mentais de si próprio e dos outros ao seu redor. Foto: xennex/Wikimedia commons/Domínio Público Duas crianças , por Berthe Morisot (1893). Os estados mentais envolvem sentimentos, crenças, desejos e intenções, segundo Jou e Sperb (1999), e que estão presentes nas interações sociais e pessoais possibilitando explicar, interpretar e antecipar ações e reações emotivas (SURIAN, 2010). A maioria das crianças com TEA apresenta deficit persistentes e severos em adquirir a TM (SURIAN, 2010) e sérias dificuldades em compreender as emoções dos outros e de interpretar seus próprios sentimentos. É comum demonstrar insensibilidade à reação emocional alheia e dificuldades na capacidade de estabelecer empatia. Camargo Junior (2002, p. 65) descreve os processos de desenvolvimento da TM, mostrando que ela é elaborada com base em três ordens: 1ª ordem = crença Durante o primeiro ano de vida a criança desenvolve a capacidade de representação de nível primário por meio da percepção do objeto. Durante o segundo semestre desenvolve o processo de atenção compartilhada, e por volta dos 18 meses ela começa a diferenciar o real do “faz de conta”, quando é capaz de representar um objeto na ausência dele. 2ª ordem = crença sobre crença Em torno dos 4 anos a criança sem deficiência é capaz de atribuir estados mentais a outras pessoas; ou seja, ela compreende que o outro também pensa ou tem uma crença. 3ª ordem = crença sobre crença sobre crença Apenas crianças sem deficiência alcançam este nível, por volta dos 5 anos, quando estabelecem a crença do outro sobre a minha crença; ou seja, a criança pensa que o outro tem uma crença sobre a crença dela. ORGANIZANDO O AMBIENTE DA SALA DE AULA É importante a organização da sala de aula física e emocionalmente, levando os alunos da turma a entender sobre o autismo e estar cientes de como agir com o novo colega de classe. Essa estratégia prévia é fundamental para evitar a discriminação e o bullying na escola. A organização física da sala deve ser planejada para evitar as mudanças, tão resistentes pelo autista. Toda mudança deverá ser antecipadamente informada e combinada com o aluno com TEA. Desde os aspectos físicos da sala, equipamentos, materiais didáticos, jogos e livros, tudo deve ser pensado e estar à disposição do professor, a fim de facilitar o processo de ensino. Deve-se evitar a poluição visual nas paredes com excesso de material exposto por tempo indeterminado e substituir os desenhos e folhas de exercícios, antecipando a mudança para o aluno com TEA. O mobiliário precisa respeitar a idade e as condições físicas do aluno, se se trata de criança, jovem ou adulto. Fatorescomo luminosidade, sonoridade e ventilação, quando atendidos adequadamente, de acordo com as características de cada aluno com TEA, promovem segurança e bem-estar. Dê preferência a colocar o aluno sentado perto ou em frente à mesa do professor, que deve falar dirigindo-se ao aluno, olhando nos olhos, com tom firme e seguro, mas evitar voz alta e gritos que perturbam os autistas com hipersensibilidade ao som. PLANEJANDO O ENSINO Existem condições para que a inclusão educacional do aluno com TEA seja bem-sucedida, de acordo com Conceição (2019): fazer um estudo de caso da criança, conhecer e estudar as características de pessoas com TEA e da própria criança em situação de inclusão; definir a forma de atendimento educacional que deve ser feita com o aluno; desenvolver estratégias adequadas de atuação pedagógica em sala de aula, correspondendo às necessidades educacionais especiais de alunos com autismo, as quais devem ser avaliadas sistemicamente. Imediatamente após a inclusão por meio da matrícula, a escola deve proceder à indicação de um professor de apoio, tendo por base o respeito à determinação da Lei nº 12.764/2012 (Lei Berenice Piana). Em parceria com o professor regente, deverá participar do estudo do caso e em todas as atividades relativas à vida acadêmica do aluno. Em todas as ocasiões, desde a entrevista inicial, é preciso estabelecer uma parceria com a família, algo imprescindível — a família deverá ter conhecimento dos procedimentos escolares para lhes dar continuidade no ambiente doméstico. ATENÇÃO Aspecto importante a ser considerado é a promoção de ação intersetorial em que as relações com os outros profissionais do campo da saúde (psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, assistência social, neurologia, entre outros) somam informações relevantes para o desenvolvimento e a aprendizagem do aluno com TEA. De posse das diversas informações colhidas com as parcerias profissionais, a escola deve descrever as flexibilizações curriculares a ser realizadas para promover a aprendizagem e a promoção escolar – em outras palavras, identificar quais condições de acessibilidade ao currículo serão necessárias para atender às diferentes demandas do aluno. ORGANIZANDO A METODOLOGIA DE ENSINO A metodologia do ensino para alunos com TEA varia em relação a como organizar a turma e os grupos de estudo, e em relação às técnicas e estratégias didáticas selecionadas para o ensino. É uma condição fundamental no planejamento do professor que só terá sucesso se estiver atrelada a uma forte base teórica. Sem o conhecimento teórico, a técnica permanece esvaziada e sem o rigor científico imprescindível. Por isso, a formação acadêmica e profissional se constitui condição indispensável ao educador e profissional de ensino. A organização da metodologia deve levar em consideração as características e o nível de desenvolvimento em que se encontra o aluno. Uns apresentam autismo associado à deficiência intelectual em graus variados ou com ausência de comunicação verbal e não verbal; outros apresentam melhor capacidade intelectual e de linguagem – são os chamados autistas com alto funcionamento. Aqueles com maiores comprometimentos vão precisar de apoio intensivo de um professor, e os com melhores níveis de desempenho se beneficiam de ambientes mais flexíveis e demonstram mais interações com seus pares e educadores. Entre as estratégias utilizadas para o ensino do TEA dispostas na literatura sobre o assunto, veremos a seguir algumas mais citadas e utilizadas pelos educadores: Montar um quadro de rotinas visuais com o aluno, a fim de que seja informado com antecedência sobre as mudanças previstas, como saída para hora do recreio, para ir ao banheiro, para a hora do lanche, para o encerramento da aula etc. É fundamental que o professor reforce positivamente com elogios ou formas de aprovação os comportamentos aprendidos pelo aluno. Oferecer informações de forma mais visual e concreta do que unicamente de modo oral, verbal. São úteis o uso de desenhos, filmes, vídeos e objetos concretos. Utilizar o modelo multissensorial de dar a informação, em que o aluno pode ver, escutar, cheirar e apalpar um tipo específico de material. Sequenciar ordens e atividades a ser seguidas pelo aluno, partindo das mais simples para as mais complexas. Estimular a aprendizagem por imitação, demonstrando como executar a ação ou levando o aluno a imitar o colega. Favorecer a participação do aluno em todas as atividades destinadas à sua turma, garantindo seu direito de inclusão. Possibilitar ao aluno com TEA executar sua tarefa em pequenos grupos ou em pares, favorecendo o desenvolvimento de interações interpessoais. Planejar uma avaliação, com base nos objetivos do Plano Educacional Individualizado (PEI), que seja flexível e criativa, optando por respostas visuais e táteis ou demonstrações práticas em vez de unicamente respostas escritas. Essas e demais estratégias para o ensino do aluno com TEA devem ser criteriosamente revistas e avaliadas a fim de verificar o êxito e a aprendizagem esperados pelo professor. Os educadores devem estar abertos a modificações, evitando o autojulgamento pelos eventuais insucessos ocorridos. A firme crença no potencial do aluno é o motivo do seu empenho como educador. Para além do apontado, a política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, com TEA e com altas habilidades/superdotação, bem como orientar os sistemas de ensino para garantir o acesso de todos os alunos ao ensino. ATENÇÃO É importante destacar que são considerados alunos com deficiência aqueles que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, e interação com diversas barreiras que possam restringir sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo e síndromes do espectro do autismo. Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Há de se considerar, por fim, que as pessoas se modificam continuamente, transformando o contexto no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, enfatizando a importância de ambientes heterogêneos que promovam a aprendizagem de todos os alunos. Essa diretriz é explícita na política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. TRANSTORNOS GLOBAIS DE DESENVOLVIMENTO Agora assista a um vídeo que resume os pontos principais do módulo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ANALISE AS SEGUINTES AFIRMATIVAS E INDIQUE A CORRETA. A) O Brasil é considerado um país com um grande acervo legislativo, mas, para além das políticas públicas, é necessária uma atuação docente e da equipe pedagógica na construção de planejamentos adequados. B) Os estudos de Kanner sobre o autismo mostraram que as crianças eram profundamente lesadas e com incapacidade de estabelecer relações com outras pessoas desde o nascimento. Já as crianças estudadas por Asperger apresentavam melhor nível de inteligência e de comunicação. Essas diferenças justificam o fato de serem categorias diferentes e não estarem incluídas como TEA. C) Dependendo do instrumento utilizado para o diagnóstico do autismo é possível considerar que o TEA (CID-10) refere-se à mesma categoria diagnosticada como TGD (CID- 11), em que o professor deve atuar no diagnóstico. D) Estudos do neurodesenvolvimento demonstram que os sinais do autismo só se manifestam a partir da entrada para a escola, quando
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